Memória da eletricidade
62
Por Lívia Cunha
A evolução das
instalações
Em cerca de meio século, os modos
de fazer projetos e instalações
elétricas para baixa tensão no Brasil
mudaram consideravelmente, puxados
pela evolução normativa e pelo
desenvolvimento tecnológico
O Setor Elétrico / Abril de 2010
63
O Setor Elétrico / Abril de 2010
Em um passado não muito distante, a rotina
de trabalho de projetistas e instaladores que
no período em que não existiam computadores,
softwares e dispositivos eletrônicos sofisticados,
atuavam no Brasil era muito diferente da atual.
e quando as normas técnicas que diziam
Há 50 anos, elaborar projetos de engenharia
respeito às instalações elétricas brasileiras eram
tanto civil quanto elétrica e depois executá-los
insuficientes para as necessidades nacionais.
no País era uma tarefa minuciosa, detalhista e
Para entendermos como aconteceu esse processo
demorada. Muito demorada, se analisada sob
de evolução dos projetos e da sua execução,
os nossos padrões atuais de tempo, afinal, com
precisamos retornar pelo menos 50 anos na
o desenvolvimento de áreas como informática
história das instalações elétricas brasileiras.
e eletrônica e, ainda, com o aprimoramento e a
difusão da internet, as noções contemporâneas
Evolução pelas normas
de tempo e de espaço se alteraram de maneira
drástica.
de projetos e da execução das instalações
Mas há meio século não era assim. Isso
O ponto de partida na história da elaboração
porque, no período, os profissionais que
elétricas no Brasil é o ano de 1941, quando
trabalhavam com instalações prediais não
foi publicada a primeira versão de uma norma
contavam com ferramentas otimizadoras
elétrica no País. Era a Norma Brasileira para
do tempo, como computadores, softwares
Execução de Instalações Elétricas, baseada no
e sofisticadas calculadoras. As contas eram
Código de Instalações Elétricas, de 1914, da
manuais ou mentais. O processo era mais lento e
antiga Inspetoria Geral de Iluminação. Voltada
dependente somente do conhecimento humano.
para as instalações elétricas prediais de baixa
Por esses fatores, os projetos e as instalações
tensão, era uma norma simplista para um
estavam mais sujeitos a erros – alguns dos
período em que a eletricidade começava a se
quais, hoje, podem ser corrigidos facilmente pelo
difundir, mas sem ainda atender à maior parte
computador ou por softwares específicos.
da população brasileira. Era comum ainda que
muitos profissionais das áreas de instalações
Os desenhos dos projetos eram feitos a
mão, o envio de informações dependia, muitas
elétricas adotassem normas estrangeiras, como
vezes, do serviço dos correios – um sistema de
as americanas, para projetar, dimensionar e
comunicação que tem perdido espaço nessa área
executar suas obras.
com a popularização do correio eletrônico, o hoje
tão popular e-mail. Essas mudanças impactaram
NB-3, que era a terceira norma brasileira da
todas as etapas de elaboração de projetos e
série NB, que determinava procedimentos de
execução de obras de instalação elétrica no
projeto e execução, e a segunda norma brasileira
Brasil.
de instalações elétricas. Ela era baseada no
National Electrical Code (NEC), o código elétrico
A transmissão de documentos de engenharia,
Esta foi substituída 19 anos depois pela
como um projeto elétrico de uma instalação
norte-americano, que define os padrões de
predial, de um engenheiro para um arquiteto,
segurança de uma instalação elétrica. Este, por
por exemplo, 50 anos atrás, poderia levar
sua vez, faz parte dos Códigos Nacionais de
semanas, quiçá meses. Hoje, ela é realizada em
Prevenção a Incêndios, em inglês, National Fire
poucos minutos, que é o tempo necessário para
Codes, publicados pela Associação Nacional de
adicionar o arquivo do projeto em um Servidor
Proteção a Incêndios, a National Fire Protection
FTP e encaminhá-lo através de um Protocolo
Association (NFPA). A adaptação brasileira do
de Transferência de Arquivos (do inglês, File
NEC, que deu origem às instalações elétricas de
Transfer Protocol) aos diversos usuários que
baixa tensão, foi publicada em 1960, mas, ainda
precisam verificar o projeto e poderão acessá-lo
assim, não agradou muitos profissionais da área
de seus computadores por meio da internet.
elétrica daqui.
Mas para chegar ao estágio tecnológico
Há cerca de 40 anos, o engenheiro eletricista
atual, que permite essa facilidade e rapidez de
José Carlos Passerini trabalha elaborando
trabalho, projetistas e instaladores precisaram
projetos de instalações elétricas no Brasil. Já
dominar bem as especificidades de cada atividade
foram cerca de 3.500 trabalhos nessas quatro
Memória da eletricidade
64
O Setor Elétrico / Abril de 2010
décadas à frente da J. C. Passerini, sua empresa
quando foi publicada a primeira versão da
de engenharia de projetos. Ele conta que a norma
NBR 5410, a norma brasileira de instalações
de 1960, a NB-3, era uma “receita de bolo”, bem
elétricas de baixa tensão, baseada na IEC 60364
simples e que praticamente engessava a obra.
– Electrical Instalation of Buildings. Neste
Isso porque ela não trazia muitas variáveis e
momento histórico, houve uma importante
dava uma receita, que, se seguida à risca, não
mudança nos padrões adotados no Brasil para
teria erro, a instalação sairia correta.
elaboração de instalações elétricas. Até a NB-
3, de 1960, os profissionais da área elétrica
O que para uns poderia ser visto como
positivo, porque mais pessoas compreendiam
dispunham de normas influenciadas pela forma
as regras definidas pelo norma, por outros,
construtiva norte-americana. É importante
como Passerini, era visto com receio. Isso
lembrar que as primeiras grandes empresas
porque pessoas inadvertidas sobre os perigos da
exploradoras de serviços de eletricidade no
eletricidade poderiam fazer instalações, seguindo
Brasil tinham origem americana e canadense
o que era proposto pela NB-3, pela simplicidade
(Amforp e Light) e, por isso, era esperado que
da norma. Hoje, contrapõe Passerini, só quem
elas trouxessem junto os padrões de instalações
estuda e conhece entende a norma. Além disso, o
utilizados em seus países.
documento não considerava variações existentes
no Brasil e não trazia importantes questões sobre
modelo seguido foi alterado. Hoje utilizamos as
proteção elétrica, como o aterramento. A norma
normas elaboradas pela Associação Brasileira de
levava em consideração as particularidades das
Normalização Técnica (ABNT), que, para a área
instalações americanas, para a qual tinha sido
elétrica, são baseadas nas normas internacionais
elaborada.
da Comissão Eletrotécnica Internacional (IEC,
Um exemplo disso é o dimensionamento
Nas duas décadas seguintes, entretanto, o
na sigla em inglês). Estas, por sua vez, tiveram
de cabos para a elaboração de circuitos de
inspiração nas normas francesas. Neste período,
instalações elétricas. Como o Brasil adota
o Brasil deixou de seguir normativamente
o Sistema Internacional de Unidades (SI),
os documentos americanos para adotar os
antigamente chamado de sistema métrico
internacionais, comumente chamados de
decimal, de origem francesa, utilizam-se no País
europeus, por terem sido os países daquele
as medidas de seção de cabos em milímetros
continente os primeiros a adotá-los.
quadrados (mm²). Enquanto isso, os Estados
Unidos utilizam a medida de padrão de cabos
engenheiro eletricista Hilton Moreno, aconteceu
Essa mudança, conta o consultor e
americanos, o AWG, do inglês American Wire
no Brasil, no fim de 1970 e início de 1980, no
Gauge. Essa unidade pertence ao sistema
âmbito da ABNT, com a participação do governo,
consetudinário de medidas (Costumary System),
representado pela Inmetro, em uma visão
que engloba ainda unidades como milhas, pés,
estratégica do País para a área de normalização
polegadas e libras. O problema é que a conversão
como um todo e com objetivo de inserir o Brasil
não é direta e nem equivalente. Então, tinha-se
no mercado global.
a definição de áreas dos projetos em metros e o
dimensionamento de condutores em AWG, uma
mudar uma lei, uma regra ou uma norma, o
medida não familiarizada pelos brasileiros.
processo é relativamente rápido se comparado
ao tempo gasto para conseguir uma mudança
Além disso, conta Passerini, “a tabela nº 2
É preciso levar em consideração que, para
da página 35 da NB-3 fornece as capacidades de
cultural e comportamental por parte dos
corrente dos cabos supondo que o condutor está
usuários. Ou seja, essas mudanças não se deram
instalado em eletrodutos ou ao ar livre, que nem
instantaneamente. “Não houve uma coisa de
sempre era a forma de instalação utilizada no
‘larga essa e usa esta’. Foi um processo gradual
Brasil”. Outros problemas da norma apontados
em que os profissionais foram vendo que, aos
pelo engenheiro eram a ligação de fio terra e os
poucos, a especificação de dispositivos elétricos
esquemas de proteção, que a norma de 1960 não
e outras coisas começaram aparecer nas normas
abrangia.
brasileiras. Eram pontos que faltavam. Daí, aos
poucos, a gente começou a se referir a elas nos
Esta norma vigorou por 20 anos, até 1980,
Memória da eletricidade
66
O Setor Elétrico / Abril de 2010
projetos e nas instalações” conta o eletricista
Grandes
engenheiro Potirene Ubirajara, que há 37 anos
obras
trabalha com projetos de instalações na Enit
Projetos e Consultoria.
Os projetos e a execução de instalações prediais se desenvolveram,
sobretudo, quando começaram a ser realizadas grandes obras de engenharia civil
instalações de baixa tensão, como também é
e elétrica, como grandes edifícios comerciais, centros de produções televisivas,
conhecida a ABNT NBR 5410, se adequar à
shoppings centers, estádios de futebol, agências bancárias, entre outros.
realidade brasileira e se tornar mais completa
Nesses projetos, era necessário pensar em instalações específicas para
para o trabalho com eletricidade, ela passou
cada projeto. O engenheiro eletricista Potirene Ubirajara, da Enit Projetos e
por mais três revisões: uma em 1990, outra em
Consultoria, relata que a empresa, criada em 1968 pelo engenheiro Moshé
1997 e a última em 2004. Essas alterações foram
Gruberger, especializou-se em desenvolver projetos grandes e pioneiros. Mas não
sentidas também no tamanho das normas. Da
começou assim. “Começamos com projetos pequenos e médios, como agências do
NB-3, de 1960, ressalta Passerini, até a ABNT
Banco do Brasil, projetos executivos, prédio para as antigas Telemig e Telebrás.
NBR 5410, de 2004, a norma cresceu muito. Foi
O primeiro projeto grande foram centros de treinamentos para a Telebrás
de cerca de 50 páginas de uma A5 (metade da
feitos em Recife, Brasília e outras cidades. Mas como ninguém estava fazendo,
folha A4) para 207 páginas em folhas A4.
praticamente tivemos que desenvolver nossa tecnologia”, conta.
Em seguida, foram elaborados o Projeto Jacarepaguá (Projac), que abriga
Neste período intermediário, era muito comum
que as empresas usassem normas de outros países
o centro de produção da Rede Globo, iniciado em 1988 e que eles dão
para dimensionar suas instalações elétricas.
continuidade até hoje, e o BH Shopping, realizado em 1979. Quando eles
Potirene conta que, quando a Enit começou, em
começaram a fazer shoppings, conta Potirene, “não havia projetos de instalação
1968, e quando ele entrou nela, em 1973, a norma
brasileiros de shoppings centers, por isso, fomos ler literatura americana sobre o
brasileira em vigência – a NB-3 – era insuficiente
assunto, mas tivemos de adaptar tudo”.
Antes da existência da “norma-mãe” das
para dar conta das necessidades dos projetistas e
Um problema enfrentado neste início era que não existia regulamentação a
instaladores brasileiros. Assim, “nós tivemos que
respeito de como seria a cobrança de energia elétrica das lojas desses shoppings.
trabalhar da seguinte forma: como a NB-3 não
Se seria cobrado da edificação como um todo e a administradora repassaria
tratava sobre aterramento, tudo que era relativo
os valores para as lojas ou se a concessionária cobraria de cada lojista como
a aterramento, sistemas de proteção contra
uma unidade consumidora independente. Por fim, explica o engenheiro, “ficou
descargas atmosféricas, usávamos as normas
definido pela Aneel que fica a cargo do empreendedor, do projetista, se a
britânicas, do British Standard (BS). Para a parte
concessionária mede o empreendimento todo, ou se o shoppping mede de cada
elétrica, seguíamos o NEC americano e a NFPA
loja separadamente”.
Divulgação Enit
para incêndio. Para iluminação, como a norma
brasileira era muito deficiente, a gente usava o
manual de iluminação americano, do Illuminating
Engineering Society (IES)”.
Esse relato representa bem como os
profissionais de instalações elétricas para baixa
tensão faziam para trabalhar com mais respaldo
e segurança no País, sobretudo antes de 1980.
Isso porque, como conta o engenheiro eletricista
e civil Eurico Freitas Marques, “sem as normas
técnicas não se fazia nada, nem projeto, nem
instalação”. E como a NB-3 era insuficiente,
cada área encontrava seu modo de fazer. Mas a
situação mudou com a ABNT NBR 5410 e com as
suas derivadas.
Hoje, “além das centenas de normas de
produtos, há duas normas específicas de
instalações, que chamamos carinhosamente de
Fachada do Shopping Diamond Mall, em Belo Horizonte (MG), um dos projetos de grandes
obras de engenharia elétrica e civil da Enit
‘filhotes da NBR 5410’”, comenta Moreno. São
elas: a ABNT NBR 13570:1996 - Instalações
67
O Setor Elétrico / Abril de 2010
elétricas em locais de afluência de público
de instalação antes da informatização dessa área
- Requisitos específicos; e a ABNT NBR
elétrica. Contam que os projetos eram feitos em
13534:2008 - Instalações elétricas de baixa
papel vegetal, nos quais os desenhistas faziam
tensão - Requisitos específicos para instalação
a planta elétrica da instalação predial. Primeiro
em estabelecimentos assistenciais de saúde.
era desenhado sobre a planta de arquitetura com
Depois do processo de inserção do País no
papel vegetal, a lápis, utilizando uma prancheta.
mercado global, quando as normas IEC passaram
Em seguida, passava-se a caneta nanquim e era
a ser adotadas no Brasil, muitas normas foram
jogada uma camada de talco com uma escova
traduzidas das internacionais e outras criadas.
de limpar prancheta para ajudar a tinta a fixar
melhor e não borrar.
Para se ter uma ideia do que a influência das
normas representa para o Estado brasileiro, em
2008, o Brasil tinha cerca de 1.400 normas na
planta para ser enviada aos demais profissionais
área de eletricidade e pelo menos 60% delas são
que deveriam aprovar o projeto antes de a
baseadas em normas IEC, segundo dados da ABNT.
instalação começar a ser executada. Este processo
Do nanquim ao software
Depois era tirada uma cópia heliográfica da
de heliografia consiste em uma produção de
fotogravuras sobre chapa metálica revestida com
material betuminoso, como um mimeógrafo.
Há 50 anos, o projeto era composto pelo
estudo preliminar, o estudo pré-executivo e
Quando os dispositivos eletrônicos
começaram a aparecer nas empresas de projetos,
o executivo. Depois, passava para o projeto
conta Potirene, eram para calcular, não para
propriamente dito e para o memorial descritivo.
ajudar no desenho. Esses primeiros foram as
Em seguida, passando para a instaladora, a obra
calculadoras eletrônicas. Hoje, diferentemente, os
começaria a ser executada. Nessa época, “os
projetos são feitos 100% nos computadores. “Com
projetistas usavam muito mais a cabeça. Hoje os
isso, aumentou-se a velocidade de produção.
CADs fazem quase tudo”, comenta o engenheiro
Ficou dez vezes mais rápido, mas introduziu um
Eurico Freitas Marques, em referência ao
problema no mercado. Hoje, todo mundo mexe
Computer-Aided Design (CAD) ou, em português,
no projeto a toda hora, pela facilidade que se
“Desenho Assistido por Computador”, que é o
tem, e o projeto nunca está pronto. Com isso, eles
nome genérico dos softwares utilizados pelas
estão saindo muito desalinhados. Como está todo
áreas de engenharia, geologia, arquitetura e
mundo correndo, os projetos estão saindo com
design para facilitar a realização de projetos e
muitas falhas”, aponta o engenheiro eletricista da
desenhos técnicos.
Enit, Potirene Ubirajara.
Apesar de esses programas computacionais
O engenheiro eletricista Paulo Barreto é
terem sido criados nos anos 1950, quando
outro que vê com preocupação os tempos atuais,
aconteceu o início das aplicações de computadores
em que há uma facilitação para realizar o
para auxiliar os trabalhos de engenharia, seu uso
projeto devido à tecnologia, aos computadores
estava muito restrito a poucas universidades e a
e softwares. “Antigamente os projetos eram
serviços estratégicos do governo de países como
mais personalizados, eram elaborados visando
Estados Unidos e Inglaterra. Para a utilização
às necessidades do usuário das instalações.
comercial, quando os computadores se tornaram
Não do cliente, mas do usuário. Hoje está tudo
pessoais e diminuíram consideravelmente de
muito mecanizado, muito frio, muito ‘linha de
tamanho e preço, os softwares e os próprios
produção’”. Não há mais o que ele chama de um
computadores foram difundidos a partir da década
“tempo de maturação” do projeto. O que faz com
de 1990 no Brasil.
que chegue com muitos erros no momento de ser
executado.
Antes disso, o processo era manual e
demorado. “Como até 1990, a gente tinha que
fazer à mão, a probabilidade de erro era muito
para as instalações elétricas foi a realização do
O principal problema que essa situação trouxe
grande”, comenta o engenheiro Passerini. Ele e
projeto, ou a alteração dele, durante o período de
sua secretária há cerca de 40 anos, Maria Luiza,
execução. Barreto compara isso a um motorista
relatam o processo de realização de um projeto
querer trocar um pneu de um carro com o veículo
68
O Setor Elétrico / Abril de 2010
Seattle Municipal Archives
Memória da eletricidade
Para que profissionais pudessem elaborar projetos de instalações, há cerca de 50 anos, eles precisavam usar uma série de ferramentas que hoje, com a difusão
de utilização de computadores e softwares específicos, está se tornando cada vez menos comum em escritórios de projetos, como papel vegetal, prancheta,
esquadros, compassos, canetas nanquim, entre outros.
em movimento. “É uma insensatez”, opina. O
da Universidade de São Paulo (Poli/USP).
engenheiro pontua ainda outros contratempos
“Antigamente a gente só tinha dois circuitos,
provocados por isso, como o retrabalho, já
o de iluminação e o de chuveiros. Hoje é bem
que os projetos chegam com falhas pela pressa
mais complexo. A gente tem cabos estruturados,
em finalizá-los e pela facilidade que todos os
tem que saber de SPDA, considerar os pentes de
envolvidos têm em alterá-los, precisando refazê-
telefonia, os comandos eletrônicos, que toda a
los; e estimativas orçamentárias furadas, que
casa usa eletricidade”, analisa.
são percebidas depois da realização da obra,
quando se percebe que a obra custou mais do que
instalação, a maneira de definir quantos
inicialmente era previsto.
pontos de tomadas serão necessários por metro
De lá para cá
Isso alterou tudo: a forma de pensar a
quadrado, a carga máxima que o circuito pode
suportar, como será feito o resfriamento ou
o aquecimento dos ambientes, de que forma
De 50 anos atrás até hoje, “quase
ampliações da instalação e derivações serão
tudo mudou” no projeto e na execução de
feitas. Isso porque a vida moderna acrescentou
instalações elétricas, na visão do engenheiro
uma série de equipamentos eletroeletrônicos no
civil e eletricista Eurico Freitas Marques, cuja
nosso cotidiano que se tornou indispensável para
carreira começou em 1952, quando se formou
as nossas ações cotidianas, que alteraram em
em engenharia civil na Escola Politécnica
definitivo a forma de projetar as residências e
69
O Setor Elétrico / Abril de 2010
outras instalações prediais.
vez em menos tempo. Barreto comenta ainda
que, há cerca de cinco anos, uma pesquisa
Freitas Marques conta ainda que a
preocupação dos projetistas de instalações
concluiu que a obsolescência do conhecimento é
residenciais, por exemplo, 50 anos atrás, era
de aproximadamente três anos. Ou seja, o fator
com as áreas de dependência dos moradores,
tempo passou a ser muito importante para o
como os níveis de iluminação de quartos e
profissional que atua nas áreas de instalações
salas. Nesse período, os engenheiros e técnicos
elétricas.
eletricistas seguiam as recomendações da
NB-3, que determinava um número de watts
da sociedade e do mercado de trabalho, que,
específico por metro quadrado para cada tipo de
como comenta Gabriel Treger, “se deu com
instalação. Além disso, “os pontos de luz eram
maior velocidade no exterior, bem como a
juntos às tomadas e não havia especificação de
implantação de novos sistemas, materiais e
tomadas, não existia DR e a Light tinha uma
equipamentos, decorrentes da reserva de mercado
recomendação de qual potência o chuveiro
que só foi rompida no Brasil em 1990. A partir
elétrico deveria ter”, relata Eurico.
dessas aberturas, intensificou-se o intercâmbio
com outros países, possibilitando a troca de
Hoje a situação é bem diferente. “O processo
Isso foi intensificado pela informatização
de evolução tanto da elaboração dos projetos
tecnologia e a utilização com mais intensidade
quanto da execução das instalações ocorreu
de novos materiais e equipamentos. A troca
com maior velocidade à medida que ocorreram
de tecnologia e o treinamento se tornaram
inovações tecnológicas decorrentes da evolução
indispensáveis para absorção de tecnologia
dos processos e da informatização”, relata o
e aplicação adequada de novos materiais e
engenheiro elétrico e vice-presidente da Temon,
equipamentos”.
empresa instaladora elétrica e hidráulica que
atua no mercado há 30 anos, Gabriel Treger. Isso
que as principais mudanças que impactaram o
Percebe-se, ao longo dessa reportagem,
significa que com o desenvolvimento tecnológico,
setor nos últimos 50 anos foram decorrentes
que aprimorou as técnicas de instalação, com
da evolução das normas técnicas, da forma de
a evolução dos materiais construtivos e com
representar no papel os projetos decorrentes
a informatização dos processos, o setor e, em
da informatização do processo, e do
especial, os profissionais tiveram de se readequar
desenvolvimento dos materiais de engenharia.
à nova realidade de trabalho para continuarem
“Nesses últimos 40 anos, houve uma mudança
competitivos no mercado e aumentarem a
brusca nos materiais”, comenta Potirene.
eficiência de suas ações.
sobre isso é a iluminação. Quando ele e os
Para que esses engenheiros, técnicos,
arquitetos e demais envolvidos na elaboração e
Um exemplo apresentado pelo engenheiro
demais profissionais da Enit desenvolveram o
na execução de projetos de instalações elétricas
primeiro projeto de shopping da empresa – que
que começaram a atuar quando os projetos eram
foi o BH Shopping, na cidade de Belo Horizonte,
feitos no papel vegetal com caneta nanquim, e
em Minas Gerais, inaugurado em 1979 –, toda a
que continuam na ativa, pudessem se atualizar à
instalação do shopping foi feita com lâmpadas
era dos CADs, foi determinante o surgimento de
incandescentes. “Hoje isso é um absurdo,
cursos e treinamentos de reciclagem profissional.
completamente impensável”, comenta, em
referência ao alto consumo de energia que estas
O engenheiro eletricista Paulo Barreto,
que desenvolve treinamentos de atualização
apresentam. Com o desenvolvimento tecnológico,
profissional desse tipo em uma das divisões de
foram projetados produtos mais adequados para
sua empresa de projetos, a Barreto Engenharia,
esse tipo de instalação, em que é necessário que
explica que “há 20, até 30 anos, o engenheiro
as lâmpadas estejam acessas por muitas horas
poderia ‘se dar ao luxo’ de durante o trabalho
seguidas. “Hoje se usa mais fluorescentes ou de
pesquisar normas, de absorver as informações, ler
vapor de sódio”, que consomem menos energia
toda a norma porque ela tinha uma longevidade
e duram mais, “sem falar que antigamente não
grande”. Isso não é mais possível uma vez que
existia essa preocupação ecológica que hoje é
os processos estão sendo desenvolvidos cada
uma obrigação”, pontua.
Download

A evolução das instalações