UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES
URI - CAMPUS DE ERECHIM
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE FARMÁCIA BIOQUÍMICA CLÍNICA
CAROLINE CALDART
INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS
ERECHIM
2008
CAROLINE CALDART
INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS
Monografia apresentada ao Curso de Farmácia
Bioquímica Clínica da Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões –
Campus de Erechim, como requisito parcial
para a obtenção de graduação em Farmácia
Bioquímica Clínica, sob orientação da
Professora Sandra M. D. Macedo.
ERECHIM
2008
INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS
INTOXICATION BY PESTICIDES
Caroline Caldart1 & Sandra Manoela Dias Macedo2
Laboratório de Toxicologia, Curso de Farmácia, Departamento de Ciências da Saúde,
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus Erechim.
Endereço para correspondência:
Caroline Caldart
Avenida Sete de Setembro, 222/91
Centro, Erechim/RS
99700-000
Fone: 54 2106 8905
[email protected]
1
Acadêmica do curso de Farmácia Bioquímica Clínica da Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – URI – Campus de Erechim/RS.
2
Farmacêutica Bioquímica, Professora Doutora do Departamento de Ciências da Saúde da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus de Erechim/RS.
RESUMO
O consumo de agrotóxicos cresceu bastante no Brasil nas últimas décadas, transformando o
país em um dos líderes mundial no consumo de agrotóxicos. Foram registrados, nos últimos
vinte anos, no Brasil, mais de 25 milhões de acidentes de trabalho. No ano de 2003 o Sistema
Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX) mostrou que na região Sul do
Brasil foram constatados 2.426 casos de intoxicação por agrotóxicos. Estudos realizados por
FARINA et al., na região serrana do Rio Grande do Sul, mostraram que pelo menos 69% dos
agricultores estão expostos regularmente aos agrotóxicos. Entre os entrevistados, 12%
relataram história de pelo menos uma intoxicação aguda por agrotóxicos e nenhum destes
casos havia sido notificado ao Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul
(CIT-RS). Outro estudo realizado pelo Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar do Alto Uruguai mostrou que 93% das famílias fazem uso de agrotóxicos, dentre os
quais, 34% dos agricultores familiares usam há até 10 anos. Também foi revelado que 55%
dos agricultores referiram que não houve intoxicações por agrotóxicos, mas 62% disseram
sentir sinais e sintomas que poderiam estar relacionados às intoxicações por agrotóxicos. Este
estudo teve o objetivo de levantar na literatura as intoxicações por agrotóxicos em diferentes
regiões do Brasil, com maior atenção à região do Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: Intoxicação. Agrotóxicos.
ABSTRACT
The use of pesticide has grown significantly in Brazil in recent decades, transforming the
country into one of the world leaders in use of pesticides. Were registered for the last twenty
years, in Brazil, more than 25 million occupational accidents. It was registered, in the year
2003, by National System of Toxicological Information (SINITOX), in the Southern Brazil,
that 2.426 people were poisoned by pesticides. Researches made by FARINA et al., in the
mountain region of Rio Grande do Sul, showed that at least 69% of the farmers are regularly
exposed to pesticides. Between the interviewees, 12% had at least one deep intoxication by
pesticides and none of these cases had been related to Centers of Toxicological Information of
Rio Grande do Sul (CIT-RS). Another research by Unified Trade of Workers in Family
Agriculture of Alto Uruguai (SUTRAF-AU) showed that 93% of the farmer families uses
some kind of agricultural chemicals and 34% of those farmers have been using for more than
10 years. Also was revealed that 55% of the farmers said their doesn’t have had any kind of
intoxication by pesticides but, 62% of them showed signs and symptoms that could be related
to intoxication. This study have by objective find in the literature the cases of intoxication by
pesticides in different places of Brazil, with greater attention to the Rio Grande do Sul region.
Keywords: Intoxication. Pesticides.
INTRODUÇÃO
O trabalho agrícola é uma das ocupações mais perigosas na atualidade. Dentre os vários
riscos que estes trabalhadores correm, destacam-se os agrotóxicos que podem causar
intoxicações agudas, crônicas, problemas reprodutivos e danos ao meio ambiente (ILO/WHO,
2005).
O consumo de agrotóxicos cresceu bastante no Brasil nas últimas décadas, transformando
o país em um dos líderes mundial no consumo de agrotóxicos. Embora a pesquisa brasileira
sobre o uso de agrotóxicos tenha crescido bastante nos últimos anos, ainda é insuficiente para
conhecer a dimensão dos danos à saúde, decorrente do uso intensivo de agrotóxicos
(ABIFINA, 2005). Um dos problemas apontados é a falta de informações sobre o consumo de
agrotóxicos e a insuficiência dos dados sobre intoxicações por estes produtos. A relevância do
tema é destacada ao se considerar a dimensão e a diversidade dos grupos expostos: os
trabalhadores da agropecuária, saúde pública (controle de vetores), empresas desinsetizadoras,
indústrias de pesticidas e do transporte e comércio de produtos agropecuários (FARIA;
FASSA; FACCHINI, 2007).
Agrotóxico é um tipo de insumo agrícola, que tem o objetivo de exterminar pragas ou
doenças que afetam as culturas agrícolas. Mesmo utilizados adequadamente, os agrotóxicos
produzem efeitos tóxicos graves como, por exemplo, câncer, neuropatias, hepatopatias,
problemas respiratórios crônicos e outros (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007).
Os principais sinais clínicos da intoxicação por agrotóxicos são: náuseas, cefaléia, tontura,
vômito, parestesia, desorientação, dificuldade respiratória, podendo evoluir para o coma e a
morte. Os prejuízos causados pelo uso inadequado de agrotóxicos extrapolam o campo
econômico e ganham uma dimensão social, pois, ao prejudicar a saúde humana, demandam
verbas públicas e privadas para o atendimento médico hospitalar. Somando-se a isso, os dias
de confinamento e tratamento das doenças, podem-se interferir a respeito dos impactos na
produtividade agrícola, e conseqüentemente no processo de geração de renda no campo
(BARZOTTO,1997).
A análise e avaliação das condições de exposição aos produtos químicos em geral, e aos
agrotóxicos em particular, representam um grande desafio aos estudiosos da relação
saúde/trabalho/exposição a substâncias químicas. Um dos principais aspectos dificultadores
da avaliação da exposição e dos efeitos sobre a saúde humana causados pelos produtos em
questão, diz respeito ao número de substâncias e produtos que estão agrupados sob o termo
agrotóxico. Ou seja, quando se discute os efeitos à saúde humana causados pelos agrotóxicos,
não se refere a uma única substância, mas a milhares delas (SILVA et al., 2005).
Outra dificuldade reside no fato de os trabalhadores não registrarem dados referentes à
freqüência, dose e tempo de exposição, variáveis fundamentais na análise da exposição ao
risco e que não permanecem imutáveis no cotidiano do trabalho. Portanto, dados como
número de aplicações por mês, número de horas de aplicação por dia, mês e ano, assim como
dose empregada e produtos utilizados não são sistematicamente registrados (SILVA et al.,
2005).
Segundo os dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxicofarmacológicas (SINITOX) sobre os casos de intoxicação verificados no Brasil, estes não
contemplam sua totalidade, pois além do número de centros serem insuficientes para cobrir
toda a extensão territorial do país, as notificações pelas vítimas ou seus familiares também é
espontânea, sendo que na maioria das vezes, o objetivo é obter informação sobre como
proceder e onde buscar atendimento. Nos casos de intoxicação, na maioria das vezes, o
atendimento é buscado diretamente na rede de serviços de saúde, sem haver registro junto aos
centros (BORTOLETTO; BOCHNER, 1999).
Por fim, é importante registrar que os dados oficiais brasileiros sobre intoxicações por
agrotóxicos não retratam a realidade do país. São insuficientes, parciais, fragmentados,
desarticulados e dispersos em várias fontes de dados.
Como são poucos os dados sobre os acidentes toxicológicos com agrotóxicos na região do
Alto Uruguai, este estudo teve o objetivo de levantar na literatura as intoxicações por
agrotóxicos em diferentes regiões do Brasil, com maior atenção à esta região e ao Rio Grande
do Sul.
Intoxicações por Agrotóxicos no Brasil
Substâncias químicas com fins de controle de pragas e doenças têm registros entre os
escritos gregos e romanos de mais de 3.000 anos. No Brasil, a introdução dos agrotóxicos foi
feita de forma desorganizada, acompanhada de pacotes tecnológicos que introduzia a
mecanização em larga escala, associada a outros fatores de produção. Neste quadro, o enfoque
básico é o aumento da produtividade sem considerar riscos à saúde ou ao meio ambiente. Ao
longo do tempo foram observados diversos casos de contaminação ambiental e de problemas
de saúde pública, intoxicações de trabalhadores rurais e resíduos em alimentos. Esses fatores
desencadearam o reconhecimento dos riscos decorrentes do uso abusivo dos agrotóxicos
(SILVA, 2007).
O impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana é um problema que tem merecido
atenção da comunidade científica em todo o mundo, sobretudo nos países em
desenvolvimento, onde se observa o maior número de mortes decorrentes da exposição
humana a esses agentes. O aumento dos problemas relacionados aos agrotóxicos de uso
agrícola, principalmente, levou a criação da Lei dos Agrotóxicos em 1989, a partir de então o
Ministério da Saúde começou a implantar junto ao sistema de controle de informações
toxicológicas, a investigação dos acidentes com agrotóxicos, utilizando fichas de notificação e
atendimento. Esse monitoramento tem como objetivo primordial expor a situação das
intoxicações por agrotóxicos e delimitar campos de atuação, a fim de reduzir o número de
acidentes (SILVA, et al., 2007).
Foram registrados, nos últimos vinte anos, no Brasil, mais de 25 milhões de acidentes de
trabalho na população segurada pela Previdência Social. Até 1994, pouco mais da metade da
população economicamente ativa do País encontrava-se segurada, sendo, portanto, comum o
sub-registro de acidentes do trabalho. Assim, estima-se que ocorram, anualmente, cerca de
três milhões de acidentes em trabalhadores (DE LUCCA; FAVERO, 1994).
De acordo com o Sindicato Nacional da indústria de produtos para defesa agrícola
(SINDAG), em 2003, existiam no Brasil 648 produtos em linha de comercialização, sendo
34,4% de inseticidas, 30,8% de herbicidas, 22,8% de fungicidas, 4,9% de acaricidas e 7,1%
de outros grupos químicos.
No ano de 2003, foram registrados pelo Sistema Nacional de Informações TóxicoFarmacológicas (SINITOX), no Brasil, 8.464 casos de intoxicação por agrotóxicos de uso
geral. Foi bastante expressiva a participação do sexo masculino nos casos registrados de
intoxicação por agrotóxicos, onde estes ocuparam aproximadamente 58% do total de casos
registrados. As faixas etárias mais afetadas foram as de 20 a 29 anos, seguido pela faixa etária
de 30 a 39 anos. O número de óbitos foi de 180, constituindo aproximadamente 2% dos casos
de intoxicação por agrotóxicos, de uso agrícola e rural, registrados (SINITOX, 2003).
Intoxicações por Agrotóxicos na região Sul do Brasil
Nas décadas de 70 e 80, estados como Paraná e Rio Grande do Sul passam a identificar
problemas ambientais e de saúde causados pelos agrotóxicos indicando a utilização cada vez
maior desses produtos nas principais regiões de produção agrícola do país (SIQUEIRA, 1983;
SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO PARANÁ, 1983).
O processo de modernização tecnológica iniciada nos anos 50 com a chamada “Revolução
Verde” (BRUM, 1988), modificou profundamente as práticas agrícolas, gerou mudanças
ambientais, nas cargas de trabalho e nos seus efeitos sobre a saúde, deixando os trabalhadores
rurais expostos a riscos muito diversificados.
O trabalho rural envolve 26% do total das pessoas com dez ou mais anos ocupadas no país,
crescendo para 30% na região Sul. Cerca de dois terços deste contingente estão vinculados à
agricultura familiar (IBGE, 1985, 1995).
No ano de 2003, foram registrados pelo Sistema Nacional de Informações TóxicoFarmacológicas (SINITOX, 2003), na região Sul do Brasil, 2.426 casos de intoxicação por
agrotóxicos de uso rural e doméstico, constituindo aproximadamente 28,6% dos casos
registrados, tendo um número bastante significativo. Foi bastante expressiva a participação do
sexo masculino nos casos registrados, onde estes ocuparam 60,5% dos casos registrados. As
faixas etárias mais afetadas foram as de 20 a 29 anos, com 21,3% dos casos, seguido pela
faixa etária de 30 a 39 anos, com 13,7% (SINITOX, 2003).
Dos 2.462 casos de intoxicação registrados na região Sul, 2,3% evoluíram para óbito.
Também se nota que a zona rural foi mais afetada que a zona urbana, com 92,8% dos casos,
sendo a circunstância mais freqüente, por tentativa de suicídio (SINITOX, 2003).
Segundo dados do Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina (CIT-SC), em
2007 foram registrados 558 casos de intoxicação por agrotóxicos, sendo que 404 casos
ocorreram por acidente individual, 76 casos por tentativa de suicídio e 62 casos por acidentes
ocupacionais. Dos acidentes ocorridos, 307 casos ocorreram na zona urbana, enquanto que
226 na zona rural. A faixa etária mais afetada foi a dos 20-29 anos com 126 casos, seguido da
faixa etária de 01-04 anos com 123 casos. Dos 558 casos de intoxicações por agrotóxicos, 289
foram do sexo feminino e 269 do sexo masculino. Com relação à evolução, 443 casos
evoluíram a cura, enquanto 14 casos foram a óbito (CIT-SC, 2007).
Os dados referentes ao uso de agrotóxicos no estado do Paraná apontam uma
desaminadora realidade. Entre 1990 a 1999, segundo a secretaria de Estado da Saúde,
ocorreram 8.768 casos de intoxicação aguda por agrotóxicos, destes, 913 vieram a óbito. Este
mesmo órgão público apurou as causas das intoxicações, especificando que 50% decorreram
do uso profissional desses produtos, 29% derivaram de suicídio e 17% foram acidentais. E
ainda, que deste total 78% atingiram pessoas do sexo masculino e 22% do sexo feminino. A
faixa etária no qual predominou o maior número de casos de óbito foi acima de 40 anos.
Em outro levantamento, abrangendo o período de 1997 a 1999 a SESA apurou que 90%
dos óbitos foram provocadas por suicídio, 5% pelo uso profissional e 5% por outras causas
(PARANÁ, 2002).
Estudo feito por GABRIEL, et al., onde foi realizada análise retrospectiva nos registros de
intoxicações por praguicidas no Centro de Informações Toxicológicas do Paraná (CIT-PR) e
no Laboratório de Toxicologia do Instituto Médico Legal do Paraná (IML-PR), no período de
outubro de 2000 a setembro de 2003, observou-se que o CIT-PR registrou 1.904 casos de
intoxicações com 224 mortes, enquanto que o IML-PR registrou 120 óbitos por intoxicações
por praguicidas (GABRIEL, et al., 2004).
Intoxicações por Agrotóxicos no Rio Grande do Sul
Considerando parte dos estudos realizados diretamente com agricultores, nota-se que estes
trazem valiosas contribuições na abordagem de trabalhadores rurais, com destaque para os
problemas de comunicação, a pouca conscientização dos riscos e os "problemas de nervos",
que devem ser levadas em conta no planejamento e desenvolvimento de estudos
populacionais sobre agrotóxicos (FARINA, FASSA, TOMASI, 2004).
Estudos realizados por FARINA et al., na região serrana do Rio Grande do Sul, onde
foram entrevistados 1.479 trabalhadores rurais, mostraram que pelo menos 69% dos
agricultores estão expostos regularmente aos agrotóxicos.
Entre os entrevistados, 12%
relataram história de pelo menos uma intoxicação aguda por agrotóxicos. E nenhum destes
casos havia sido notificado ao CIT-RS (FARINA, FASSA, TOMASI, 2004).
O SINITOX no ano de 2003 registrou no Rio Grande do Sul 1.289 casos de intoxicação
por agrotóxicos de uso rural e doméstico. Destes, 771 foram do sexo masculino e 481 do sexo
feminino, sendo que a faixa etária mais afetada, com 201 casos, foi a dos 20-29 anos. O
número de óbitos foi de 26 casos, constituindo de aproximadamente 2%.
Segundo dados do Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul (CIT-RS),
no ano de 2003, foram registrados 1.771 casos de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola
e doméstico, constituindo aproximadamente 10% dos casos de intoxicação registrados.
Intoxicações por Agrotóxicos na região do Alto Uruguai
A região do Alto Uruguai possui aproximadamente 32 municípios e apresenta uma
economia baseada na atividade produtiva do meio rural trabalhada a partir da agricultura
familiar (PREFEITURA MUNICIPAL DE ERECHIM, 2008).
Estudo realizado por TAGLIARI; MARTIN, 2007, avaliou as relações das condições
sócio-econômico-culturais e de saúde de agricultores familiares dos municípios de
abrangência do Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Alto
Uruguai (SUTRAF-AU).
O SUTRAF-AU abrange 25 municípios da região do Alto Uruguai, sendo que os dados
para este estudo foram coletados por meio de entrevista, estruturada com 779 agricultores
familiares, no período de janeiro a junho de 2006. Quanto ao uso de agrotóxicos nas
propriedades, 93% das famílias fazem uso de agrotóxicos, dentre os quais, 34% dos
agricultores familiares usam há até 10 anos, 47% há até 20 anos, 13% há até 30 anos e 6% há
mais de 30 anos (TAGLIARI, MARTIN, 2007).
Com relação à preparação dos agrotóxicos para a aplicação, 42% dos agricultores
familiares referiram que quem prepara a calda para aplicação é o pai, 36% o proprietário e
14% os filhos o fazem. Quanto à aplicação de agrotóxicos, 37% dos agricultores familiares
responderam que é o pai quem aplica, 34% o proprietário e 14% os filhos. Quanto à forma de
aplicação, 37% dos agricultores familiares responderam que é manual/costal e
mecanizada/trator, 28% manual/costal e 21% mecanizada/trator (TAGLIARI, MARTIN,
2007).
Quanto ao uso de Equipamento de Proteção Individual – EPIs, durante a aplicação de
agrotóxicos, 24% dos agricultores familiares referiram não usá-los. Quando questionados
sobre os motivos para não usar os EPIs, 81% dos agricultores responderam por que não é
necessário, 58% por que é incômodo, 75% é muito caro, 71% por preguiça, desleixo.
Dentre os 76% dos agricultores que usam os EPIs, 84% usam máscara, 70% usam luvas,
71% macacão, 83% usam chapéu, 90% botas e 18% apenas usam óculos de proteção
(TAGLIARI, MARTIN, 2007).
Quanto ao grau de toxicidade, 51% dos agricultores familiares referiram conhecer os
produtos que utilizam e 49% desconhecem a sua toxicidade, demonstrando assim que esses
trabalhadores podem estar vulneráveis aos riscos que os agrotóxicos podem oferecem à saúde.
As intoxicações por agrotóxicos são muito freqüentes entre os agricultores que trabalham com
esses produtos químicos. Neste estudo, 55% dos agricultores referiram que não houve
intoxicações por agrotóxicos diagnosticadas na família e 38% responderam que não tiveram
nenhum sintoma durante ou após a aplicação de agrotóxicos na propriedade (TAGLIARI,
MARTIN, 2007).
Entretanto, embora em 55% das famílias não houve diagnósticos clínicos de intoxicação,
62% disseram sentir sinais e sintomas, tais como cefaléia (45%); mal estar (24%); irritação
nos olhos, nariz e garganta (20%); tontura (19%); náuseas e vômitos (18%); dor de estômago
(14%); fraqueza (12%); formigamento nos lábios (11%); sudorese (10%); visão turva (9,2%)
que poderiam estar relacionados às intoxicações por agrotóxicos (TAGLIARI, MARTIN,
2007).
Com relação aos tipos de tratamentos realizados pelos agricultores familiares nas
intoxicações por agrotóxicos diagnosticadas, 46% respondeu que fez tratamento médico e
houve cura, 21% fez tratamento médico e não houve melhora, pois quando entra em contato
com os agrotóxicos o quadro clínico de intoxicação retorna. Fez tratamento caseiro e houve
cura (14%), fez tratamento caseiro e não houve melhora (14%), foi a óbito (4%) e não fez
nenhum tratamento (1%) (TAGLIARI, MARTIN, 2007).
Estudo realizado por TORMEN na região do Alto Uruguai, entre os anos de 2003 a 2006,
mostra que dos 164 casos de intoxicações registrados no hospital público da cidade de
Erechim/RS, as intoxicações por substâncias químicas obtiveram 25 casos, ou seja 15,24% do
total de casos registrados (TORMEN, 2007).
CONCLUSÃO
O uso de agrotóxicos na agricultura brasileira é intenso e, apesar disso, são escassos os
estudos sobre as características da utilização ocupacional ou sobre as intoxicações por
agrotóxicos.
As doenças causadas pelos agrotóxicos representam um grave problema de saúde pública.
Pelos registros de intoxicações feitas pelo SINITOX, observa-se que há um grande subregistro de efeitos adversos, principalmente os de longo prazo, que podem determinar doenças
crônicas.
A alta proporção de agricultores com uso freqüente de agrotóxicos reforça a necessidade
de pesquisas que aprofundem metodologias para avaliar com maior precisão a exposição aos
agrotóxicos e os riscos associados a estes produtos.
Além disso, é essencial que as políticas agrícolas sejam reavaliadas, priorizando não
apenas critérios de produção, mas também a proteção da saúde dos trabalhadores rurais. O
envolvimento direto da atividade agrícola com o meio ambiente reforça a necessidade de
ações, especialmente relacionadas ao controle do uso de agrotóxicos.
A discussão das implicações das políticas agrícolas e dos modelos tecnológicos de
produção sobre a saúde dos trabalhadores, bem como o acesso a formas de proteção e
assistência à saúde devem envolver as entidades representativas e centrar seus objetivos na
busca de melhores condições de vida e trabalho para a população rural.
É fundamental e urgente reestruturar e implementar programas de vigilância da saúde de
populações expostas em todo o Brasil, assim como adequar as instituições acadêmicas e de
assistência do Sistema Único de Saúde, com tecnologias mais modernas para um melhor e
mais precoce diagnóstico das doenças causadas pelos agrotóxicos, buscando reduzir o número
de intoxicações, doenças e mortes causadas por estes agentes químicos.
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