Retrovírus Fernanda Luz de Castro Aluna de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola e do Meio Ambiente. Tópicos • Características • Classificação • Retrovírus de importância na medicina veterinária • Retrovírus de importância na área médica • Retrovírus Endógenos (ERVs) • Fatores de restrição HIV • Origem do HIV • Resistência natural ao HIV • Cura da infecção por HIV? Características • Principal característica: replicação viral que inclui uma etapa de transcrição reversa e integração no genoma do hospedeiro. Variabilidade! Fonte: Adaptado de http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422003000300014&script=sci_arttext Características Transcrição Reversa Características Fonte: Flores, 2007 Características Lentivírus de pequenos ruminantes (CAEV e MVV) X FIV X HIV Fonte: Flores, 2007, Kenyon et al, 2011, http://www.yale.edu/bio243/HIV/genome.html Classificação Fonte: Flores, 2007. Classificação • Vírus da família Retroviridae de importância na área médica: • Deltaretrovirus: vírus da leucemia de células T humano (HTLV-1 e 2) • Lentivirus: Vírus da imunodeficiência humana 1 e 2 (HIV-1 e HIV-2) Retrovírus de importância na medicina veterinária • Pequenos lentivírus de ruminantes (SRLV) • MVV - vírus Maedi-Visna (1960) • CAEV - Vírus da artrite-encefalite caprina (1980) • Similaridade genômica, antigênica e apresentação da doença em ovinos e caprinos. Principal forma de contaminação é vertical – via colostro • Transmissão horizontal: aerossóis Retrovírus de importância na medicina veterinária • MVV (Maedi = Dispnéia, Visna = definhamento) • Foi caracterizado na Islândia, em ovinos que apresentavam pneumonia progressiva e encefalite degenerativa – foi erradicada após sacrifício de milhares de animais • No Brasil a situação é desconhecida, no entanto, já foi detectado pelo menos um isolado do Sul do país. Retrovírus de importância na medicina veterinária Fonte: http://www.territoriorural.com.br/EMBRAPA/EMBRAPA_TABULELEIROS_COSTEIROS/EMBRAPA_TABULEIROS-24.html http://www.sciencephoto.com/media/248359/enlarge Retrovírus de importância na medicina veterinária • CAEV • Causa artrite (mais comum) e encefalite • Afeta principalmente joelhos, levando a dificuldade de locomoção e perda de peso • Detectado em vários países, inclusive no Brasil (Nordeste e Sudeste) Retrovírus de importância na medicina veterinária Corte histológico de pulmão mostrando imunoreatividade em um macrófago aoveolar. Fonte: http://www.vetnext.com/search.php?s=aandoening&id=73082753668%20112 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-09352001000100003 Retrovírus de importância na medicina veterinária • Vírus da Adenomatose Pulmonar dos Ovinos (causada pelo JSRV) • JSRV (retrovírus de ovinos Jaagsiekte) – Betaretrovirus • Os animais doentes apresentavam-se como se tivessem sido perseguidos ou caçados, devido a dificuldade respiratória (Jaag = caçar, siekte = doença) Retrovírus de importância na medicina veterinária • JSRV • Apresenta distribuição mundial, com excessão da Austrália e da Islândia. • No Brasil, ela é considerada enfermidade de notificação obrigatória • A transmissão parece ocorrer através de contato direto e indireto com secreções do trato respiratório e também pela saliva Retrovírus de importância na medicina veterinária Formação de tumores no pulmão através da transformação neoplásica de células epiteliais. Células tumorais produzem excesso de muco. Fonte: http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Jaagsiekte+Sheep+Retrovirus&lang=1 Retrovírus de importância na medicina veterinária • JSRV • Como não há resposta humoral detectável, o diagnóstico deve basear-se nos sinais clínicos das fases avançadas, ou detecção de ácidos nucleicos por PCR • Controle: isolamento de animais doentes ou descarte de animais positivos Retrovírus de importância na medicina veterinária • Vírus da Leucose Aviária • Alfaretrovírus, descrito pela primeira vez em 1908 • Causador de anomalias e neoplasias no sistema hematopoiético em aves • Diagnóstico é geralmente realizado na necropsia, mas podem ser usados testes sorológicos e também PCR. Retrovírus de importância na medicina veterinária • Vírus da Leucose Aviária • A transmissão ocorre de duas formas principais: • Vertical: por transferência congênita do vírus infeccioso e por transmissão genética (integração do provírus nos cromossomos dos gametas) • Horizontal: saliva (alta densidade populacional em granjas) Retrovírus de importância na medicina veterinária • Vírus da Leucose Aviária • Ocorre durante a maturidade sexual, resultando em perdas econômicas significativas Fonte: http://www.capixabao.com/portal/img/noticias/2959_1.jpg Retrovírus de importância na medicina veterinária • FIV – Vírus da Imunodeficiência felina • O primeiro isolamento foi descrito em 1986, nos Estados Unidos • A presença do vírus estava associada com um quadro de imunodeficiência. • Modelo animal para estudo da AIDS – semelhante quadro de imunossupressão (depleção de CD4 +, doenças oportunistas) Retrovírus de importância na medicina veterinária • FIV • Distribuição mundial, inclusive Brasil, e já foi isolado de felinos selvagens • Principal forma de transmissão é pelo contato direto, através da saliva, pelas mordidas durante as brigas entre animais • Também pode ser transmitido via sêmen e leite Retrovírus de importância na medicina veterinária Animal no último estágio da doença: “FAIDS” Fonte: http://www.windyhollowvet.com/diseaseinfo.html, http://www.vm.a.u-tokyo.ac.jp/naika/naikahp/fiv/fiv_e.html Retrovírus de importância na medicina veterinária • FIV • Diagnóstico feito por testes sorológicos e detecção de provírus por PCR • Medida de controle: Separação dos animais infectados, diminuição do acesso deles às ruas • Vacinas em fase experimental Retrovírus de importância na medicina veterinária • FeLV - Vírus da leucemia felina • Gênero Gammaretrovirus • Transmissão através de saliva durante brigas, como FIV • Imunodeficiência e tumores (linfomas, leucemias), além de anemias e falhas reprodutivas Retrovírus de importância na medicina veterinária • FeLV - Vírus da leucemia felina • A infecção pelo FeLV possui distribuição mundial, com maior prevalência em locais com grande densidade de felinos • Gatis: 33% • População geral de gatos: 1% Retrovírus de importância na medicina veterinária Vacinas preparadas com o vírus inativado e vacinas recombinantes são disponíveis. Alta redução (70%). Pupilas irregulares: uma das manifestações possíveis da doença. Fonte: http://www.moorevet.com/Feline/FeLV.html Retrovírus de importância na área médica • HTLV-1 (Vírus da Leucemia Humana de células T tipo 1) • Primeiro retrovírus que demonstrou causar doenças em humanos, que pode ter sido transmitido para humanos por macacos há mais de 10 mil anos atrás • Infecta principalmente células CD4+ Retrovírus de importância na área médica • HTLV-1 (Vírus da Leucemia Humana de células T tipo 1) • Perturba a regulação das células T, podendo levar a leucemia adulta de células (2% - 3% dos infectados). • Outras vezes leva a doenças inflamatórias crônicas, como a Paraparesia Espástica Tropical/Mielopatia associada ao HTLV1 (PET/MAH) (1% - 2% dos infectados) Retrovírus de importância na área médica Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:HTLV-1_and_HIV-1_EM_8241_lores.jpg, http://bloodjournal.hematologylibrary.org/content/115/9/1668/F1.small.gif Retrovírus Endógenos (ERVs) • Sequencias no genoma derivadas de infecções virais antigas em mamíferos e outros vertebrados • Provírus integrados são passados de geração em geração • Todos parecem ser defectivos • Aproximadamente 8% do nosso genoma – suspeita de envolvimento com doenças (esquizofrenia – anticorpos contra HERVs encontrados no soro) Retrovírus Endógenos (ERVs) • Evidências de respostas imunes contra HERVs em indivíduos HIV positivos • HIV induz a expressão de HERVs?? • Vacina tendo HERVs como alvo poderia eliminar células infectadas pelo HIV? Fatores de restrição • Em adição as respostas imunes convencionais • “Imunidade Intrínseca” • Humanos e outros mamíferos • Constitutiva ou induzida por Interferon Fatores de restrição • Três maiores classes: • Família de proteínas APOBEC (APOBEC3G) • TRIM5α • Teterina Fatores de restrição Fonte: Kirchhoff, 2010. Fatores de restrição • APOBEC3G • Foi o primeiro gene do hospedeiro identificado como um inibidor do HIV-1 (2002) • Citidina deaminase: age durante a transcrição reversa, retirando grupamentos amina das citidinas, as transformando em uridinas. • Causa mutações G para A na fita complementar: stop codons prematuros. Fatores de restrição Geração de hipermutações Fonte: modificado de http://aidscience.org/science/Science--KewalRamaniandCoffin301(5635)923Figure1.htm Fatores de restrição • TRIM5α • Descoberta em 2004 com um importante determinante da resistência ao HIV-1 em cultivo celular. • Ela se liga aos capsídeos nascentes no citoplasma e os conduz ao desnudamento precoce. Fatores de restrição Fonte:http://www.cgl.ucsf.edu/home/goddard/temp/site-visit-nov2011/assemblies.html Fatores de restrição • Teterina • Descoberta mais recentemente, em 2008 • Inibe a liberação das partículas virais produzidas conectando os vírions maduros a superfície celular • Sua expressão é induzida por interferons do tipo I Fatores de restrição Fonte: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1931312809001826 Fatores de restrição • No entanto, HIV-1 e outros lentivirus desenvolveram fatores para contra-ataque. • Esses fatores virais são nomeados de “acessórios” (permitem a replicação in vivo). Fonte: http://www.yale.edu/bio243/HIV/genome.html Fatores de restrição • Fatores de escape do vírus • TRIM5α X mutações de escape no capsídeo • APOBEC3 X Vif • Teterina X Vpu • Fator desconhecido x Vpr (Vpx em HIV-2). Fatores de restrição Fonte: Kirchhoff, 2010. Fatores de restrição • Vif: Fator de Infectividade Viral • Seu alvo intracelular, as proteínas da família APOBEC3, em especial a APOBEC3G • Na ausência de Vif, a APOBEC3G é incorporada nos vírions e inibe a síntese do DNA viral durante a transcrição reversa • Vif serve como uma molécula adaptadora para ligar um complexo ubiquitina ligase, gerando poliubiquitinação e degradação via proteossomo. Fatores de restrição Fonte: Kirchhoff, 2010. Fatores de restrição • Vpu: Proteína Viral U • Interage com os recém sintetizados CD4 no retículo endoplasmático e recruta um complexo de ubiquitina ligase que os marca para degradação • Interage com a teterina de uma forma muito específica e leva o fator a degradação proteosomal e/ou lisossomal Fatores de restrição Fonte: Kirchhoff, 2010. Fatores de restrição • Vpr: Proteína Viral R • Múltiplas atividades de Vpr tem sido reportadas: • Ativação do DNA proviral • Interrupção do ciclo celular no ciclo G2 • Indução de apoptose • Aumento da fidelidade da RT • Vpx – Duplicação da Vpr (HIV-2) • Ambos interagem com complexos de ubiquitinação HIV Origem do HIV • HIV-1 se originou de múltiplas transmissões zoonóticas do Vírus da Imunodeficiência Símia (SIV) para humanos na África Central e Ocidental. • Caça e abate dos primatas para alimentação • Captura, venda e manutenção como animais de estimação Origem do HIV • 4 grupos principais: M, N, P, O. Fonte: Kirchhoff, 2010. Origem do HIV • Dentro de um subtipo, a variação em nível de aminoácido é de 8-17% • Entre subtipos usualmente é entre 17% e 35% • Diversidade entre os subtipos do grupo O são parecidas com o que se vê no grupo M: origem antiga. • Todos os vírus dos grupos N e O são relacionados proximamente, dentro de cada grupo: origem mais atual. Origem do HIV SIVrcm SIVgsn SIVcpz HIV-1 (grupos M e N) SIVgor HIV-1 (grupos O e P) Origem do HIV • Comunidades de chimpanzés em Camarões formam reservatórios naturais de SIV, os quais deram origem aos grupos M e N. • Grupo N ficou confinado em Camarões. • Grupo M se espalhou para a República democrática do Congo, de onde a pandemia provavelmente se iniciou. Origem do HIV Grupos M N O P Origem do HIV • A evidência mais antiga de infecção por HIV em humanos foi encontrada em uma amostra de soro e biópsia de linfonodo estocadas em 1959 e 1960, em Kinshasha (RDC) • Amostra usada para validações e extrapolações dos programas de relógio molecular • Grupo M, mais antigo: transferência entreespécies ocorreu provavelmente entre 1853 e as primeiras décadas de 1900. Origem do HIV • Grupos M e N: tempos diferentes de origem, sendo N mais recente. • Grupo O parece ter se originado ao mesmo tempo que grupo M, mas infectou poucas pessoas. • Tempo desde a origem do grupo P não é determinado. Origem do HIV • Quanto ao HIV-2, suas origens não são tão bem determinadas. HIV-2 SIVsm • Menor virulência e progressão lenta, se manteve principalmente na África ocidental. Resistência natural ao HIV • ESNs (High-risk exposed HIV-seronegative individuals): • Indivíduos que são frequentemente expostos ao vírus mas não exibem evidência sorológica de infecção ou nenhum sinal de imunodeficiência • Esse grupo revelou a existência de mecanismos de resistência natural ao HIV. Resistência natural ao HIV Fonte: Taborda-Vanegas, 2011 Resistência natural ao HIV • CCR5 Δ32 • Uma deleção de 32pb resultando na síntese de uma proteína truncada • Indivíduos homozigotos para essa mutação são altamente resistentes a infecção por HIV-1 • Ocorre em aproximadamente 10% dos indivíduos Caucasianos Resistência natural ao HIV • CCR5 Δ32 CD4 Fonte: http://crentinho.wordpress.com/2006/12/07/ccr5-delta-32-evidencia-a-favor-do-evolucionism Resistência natural ao HIV • CCR5 Δ32 - distribuição Fonte:http://www.delta-32.com/uploads/3/2/4/4/3244881/775094.jpg?661 Cura da infecção por HIV? • Transplante de células tronco hematopoiéticas de um indivíduo homozigoto para a mutação CCR5 Δ32 em um indivíduo soropositivo e com leucemia. • Após 4 anos de tratamento, não se encontrou resquícios de carga viral em sangue, medula, vísceras ou cérebro. Cura da infecção por HIV? Fonte:Hütter, 2011.