AVALIAÇÃO DE DOIS TIPOS DE DISTRIBUIÇÃO HÍDRICA NO
CULTIVO DA VIDEIRA (Vitis Labrusca L.) CV. BORDÔ
Maria Denize Euleuterio (UEPG/SETI) E-mail: [email protected]
Marcelo Barbosa Malgarim (IAPAR) E-mail: [email protected]
Ana Paula Afinovicz (SETI) E-mail: [email protected]
Fernando Filus Pierin (SETI) E-mail: [email protected]
Joyce Soares Dias (UEPG/SETI) E-mail: [email protected]
Resumo: Sabendo-se que existe uma tendência natural na escassez de água no mundo futuramente, buscam-se
alternativas para a sua utilização de maneira sustentável e consciente. Junto a isso, o homem vem pesquisando
alternativas que facilitem as atividades rurais e aumentem a produtividade no campo, sem prejudicar o meio
ambiente e colaborando para sua constante renovação, valendo-se de novas tecnologias que também necessitarão de
mão-de-obra qualificada para seu manuseio. O objetivo do presente trabalho foi testar a utilização da irrigação na
cultura da videira Vitis labrusca L. cv.Bordô, comparando duas distribuições hídricas no sistema de microaspersão.
O experimento foi conduzido no município de Mallet, Paraná, foram utilizados 3 tratamentos que constavam de
diferentes tipos de microaspersores, sendo T1 – Testemunha (sem irrigação); T2 – microaspersor direcionado na
linha; e T3 – microaspersor com distribuição superficial em leque. Foram avaliados o número de cachos e a produção
por planta e o peso médio dos cachos. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro
repetições de 10 plantas por linha. Observou-se que não houve diferença significativa entre os tratamentos com
diferentes sistemas de distribuição em linha e leque para o número de cachos, entretanto, estes tratamentos foram
superiores à testemunha. Baseado nisso verificou-se que a utilização da irrigação na cultura da uva proporcionou o
aumento do número de cachos por planta e massa média dos cachos e, consequentemente, a produção por planta.
Palavras-chave: Irrigação; Uva; alternativas.
Summary: Knowing itself that a natural trend in the water scarcity exists future in the world, they search alternative
for its use in sustainable and conscientious way. Next to this, the man comes searching alternative that they facilitate
the agricultural businesses and they increase the productivity in the field, without harming the environment and
collaborating for its constant renewal, using itself new technologies that also will need qualified man power for its
manuscript. The objective of the present work was to test the use of the irrigation in the culture of the Vitis grapevine
labrusca L. cv. Bordô, comparing two hídricas distributions in the microaspersion system. The experiment was lead
in the city of Mallet, Paraná, had been used 3 treatments that consisted of different types of microaspersores, being
T1 - Witness (without irrigation); T2 - microaspersor directed in the line; e T3 - microaspersor with superficial
distribution in fan. The number of clusters and the production for plant and the average weight of the clusters had
been evaluated. The experimental delineation entirely was casualizado, with four repetitions of 10 plants for line. It
was observed that it did not have significant difference enters the treatments with different systems of on-line
distribution and fan for the number of clusters, however, these treatments had been superior to the witness. Based in
this it was verified that the use of the irrigation in the culture of the grape provided to the increase of the number of
clusters for plant and average mass of the clusters and, consequentemente, the production for plant.
Word-key: Irrigation; Grape; alternatives.
1. Introdução
Sabe-se que há uma tendência natural de aumento da utilização da água no futuro, seja pelo
aumento populacional, o que resulta numa maior necessidade por alimentos, ou pela
disponibilidade de terras com aptidão para uso na agricultura irrigada estimadas em 470 milhões
de hectares (CHRISTOFIDIS, 2002).
Segundo um recente alerta do Instituto Internacional de Manejo da água (IWMI), no Sri Lanka,
mais de 2 bilhões de pessoas sofrerão severa escassez de água, por volta do ano 2025. Portanto
existe a expectativa de aumento da demanda de água para o futuro próximo, mas infelizmente
não há previsão de aumento da água doce no planeta. Pelo contrário, devido aos intermináveis
desmatamentos e o uso inadequado do solo mantém-se elevado o escoamento superficial e a
baixa reposição contínua dos mananciais e fontes hídricas no planeta.
Para manter-se sustentável ambientalmente, a agricultura irrigada precisa ser eficiente no uso da
água na irrigação, assim como no uso dos agroquímicos que aplicados às plantas ou ao solo
podem causar contaminação dos recursos hídricos subterrâneos. O uso eficiente da água de
irrigação pode ser alcançado atuando-se na estrutura já existente, em termos de tipos de cultivo,
sistemas de irrigação e gestão do uso de água, nos métodos de manejo da irrigação e nas técnicas
que permitem o aumento da eficiência do uso da água.
A irrigação conta atualmente com técnicas modernas, com inúmeros equipamentos de qualidade
que automatizam e facilitam a utilização dos sistemas de irrigação (TESTESLAF et al., (2002).
Assim como as demais atividades no meio rural, a agricultura irrigada necessita acompanhar os
avanços tecnológicos (SOUZA, 2001).
Segundo Testeslaf et al. (2002), a mão de obra utilizada em sistemas de irrigação com operação
manual e a mortandade de plantas (por excesso ou falta de água) podem se transformar em um
custo elevado para o agricultor. Portanto, é fácil de visualizar que o sucesso na utilização de um
sistema de irrigação, que tenha durabilidade e confiabilidade, depende não só da qualidade do
projeto como também do manejo apropriado das operações de irrigação. Ainda segundo Carvalho
(1998), a maioria dos projetos envolvendo recursos hídricos, em todo o mundo, não tem
alcançado os níveis desejados de produtividade devida, basicamente, às dificuldades operacionais
encontradas no campo, não levadas em consideração durante o planejamento.
Muitos projetos em todo mundo utilizam o método de irrigação por superfície de forma rústica,
isto é, sem aprimoramento técnico, ou utilizam irrigação pressurizada de baixa eficiência voltada
para culturas de baixa rentabilidade. A redução das perdas por condução em canais ou dutos, em
função de vazamentos, tem mantido a eficiência de condução em valores razoáveis (COELHO
et.al, 2005). Entretanto, o mesmo não tem ocorrido com a eficiência de aplicação, razão entre a
água absorvida pelo sistema radicular e a água aplicada.
O aumento da eficiência de aplicação ocorrerá à medida que o agricultor irrigante tomar
consciência da necessidade de usar racionalmente a água, o que não ocorrerá por si. A outorga de
água condicionada ao uso de sistemas de irrigação mais eficientes e taxação do insumo água, bem
como a orientação e capacitação dos irrigantes, podem contribuir muito para a percepção do
agricultor.
A irrigação utilizada de forma racional pode promover uma economia de aproximadamente 20 %
da água e 30 % da energia consumida. Do valor relativo à energia, a economia de 20 % seria
devido à não aplicação excessiva da água e 10 % devido ao redimensionamento e otimização dos
equipamentos utilizados (LIMA; FERREIRA; CHRISTOFIDIS, 1999).
O uso dos métodos de irrigação localizada são mais propícios para hortaliças e fruteiras, que são
de maior rentabilidade e condizentes com os custos dos sistemas. A irrigação localizada
compreende a aplicação de água em apenas uma fração da área cultivada, em alta freqüência e
baixo volume, mantendo o solo na zona radicular das plantas sob alto regime de umidade. A área
mínima molhada deve ser de 1/3 da área sombreada (ou projeção da copa das plantas). A área de
solo molhado exposto à atmosfera fica bem reduzida e, conseqüentemente, é menor a perda de
água por evaporação direta do solo (HERNANDEZ et al. 2001).
Os sistemas de irrigação também podem afetar a distribuição das raízes no solo. Segundo Van
Zyl (1988) a distribuição horizontal do sistema radicular da videira foi mais uniforme sob
irrigação por microaspersão que sob gotejamento. Embora o número total das raízes tenha sido o
mesmo para ambos os sistemas de irrigação, 65% das raízes concentraram-se dentro de um raio
de 50cm em relação ao gotejador, mas decresceram rapidamente no sentido transversal à fileira
de plantas. Este padrão de distribuição de raízes está relacionado com o padrão de molhamento
dos emissores. A distribuição das raízes no perfil do solo é afetada pela densidade de plantio, pela
freqüência e profundidade do preparo do solo, pela utilização de cobertura morta e pelo sistema
de irrigação, entre outros (Richards, 1983).
Em geral as necessidades hídricas anuais da cultura da uva variam entre 500 e 1.200 mm,
dependendo do clima, da duração do ciclo fenológico, do cultivar, da estrutura e profundidade do
solo, do manejo cultural, da direção, espaçamento e largura das fileiras e da altura da latada
(Doorenbos & Kassan, 1994).
A deficiência hídrica na videira, quando ocorre durante o período inicial de crescimento das
bagas, proporciona redução no tamanho dos frutos; quando acontece durante a maturação, atrasa
o amadurecimento, afetando a coloração e favorecendo a queima dos frutos, pela radiação solar.
Na fase final de maturação o consumo hídrico da videira diminui. O excesso hídrico, combinado
com temperaturas elevadas, torna a cultura muito susceptível a doenças (Teixeira & Azevedo,
1996).
Sistemas de microaspersão têm sido empregados, em condições de campo, principalmente para
irrigação de fruteiras. Os emissores são, normalmente, posicionados a cada duas plantas, não
havendo problemas de interferência dos troncos como na aspersão subcopa. Os emissores de
maiores vazões apresentam menos problemas de entupimento e tempos de irrigação menores,
requerendo, contudo, maior custo inicial, por exigirem tubulações de maior diâmetro e moto
bombas de maior potência. Sempre que possível, as tubulações devem ficar suspensas na parreira,
evitando-se cortes por enxadas ou danos por máquinas e animais (CONCEIÇÃO, 2005).
O objetivo do presente trabalho foi testar a utilização da irrigação na cultura da videira Vitis
labrusca L. cv.Bordô, comparando duas distribuições hídricas no sistema de microaspersão.
2. Material e Métodos
Este experimento foi conduzido no município de Mallet no estado do Paraná, cujas coordenadas
geográficas são 25º 52’ 40” de latitude Sul e 50º 49' 16” longitude Oeste. A propriedade utilizada
para implantação do experimento possui seis hectares de área plantada com uva, com
espaçamento entre plantas de 3m x 1m, sem a utilização da irrigação.
Os tratamentos constavam de diferentes tipos de microaspersores, e também sem a utilizaçãodos
mesmos, distribuindo-se em:
- T1 – Testemunha (sem irrigação);
- T2 – microaspersor direcionado na linha;
- T3 – microaspersor com distribuição superficial em leque.
A colheita da produção foi realizada no dia 23 de janeiro de 2008. As variáveis analisadas foram:
a) número de cachos por planta
b)produção por planta (obtido pela pesagem em balança eletrônica, gerando valores em kg.planta1
)
c) peso médio dos cachos (relação entre a produção por planta e o número de cachos por planta,
expressado em gramas).
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, utilizando-se quatro repetições com
10 plantas em cada linha.
A análise de variância foi feita com o programa SASM – Agri (2001) e as médias foram
comparadas pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade.
3. Resultados e Discussão
O resultado dos tratamentos estudados pode ser visualizado na Tabela 1.
TABELA 1 – Comparação dos resultados das variáveis analisadas no cultivo da videira submetidos a diferentes tipos
irrigação com microaspersores – Mallet - PR
Variáveis
Testemunha
Linha
Leque
N°. Cachos
65,43 b
86,20 a
82,23 a
Massa de cachos por planta (Kg)
3,83 b
5,79 a
5,03 a
Peso médio dos cachos (g)
58,80 b
67,30 a
62,00 ab
Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferem estatisticamente pelo teste de Duncan (p<0,05).
Observou-se que não houve diferença significativa entre os tratamentos com diferentes sistemas
de distribuição em linha e leque para o número de cachos, entretanto, estes tratamentos foram
superiores à testemunha. Este resultado pode ser observado também para as variáveis massa de
cachos por planta e peso médio de cachos.
Segundo Teixeira e Azevedo (1996), tanto a deficiência como o excesso hídrico afeta, de maneira
marcante, o comportamento dos estádios fenológicos da cultura da videira, comprometendo a
qualidade e produtividade dos frutos. Para uma boa produtividade, é recomendável que o
desenvolvimento vegetativo da planta ocorra em condições de escassez de precipitação
pluviométrica e que as necessidades hídricas sejam satisfeitas através da irrigação, de acordo com
o requerimento de água da cultura, sendo os métodos de gotejamento e microaspersão os mais
utilizados.
Segundo Coelho et.al, os sistemas de pivô central e de movimento linear (“linear move”) são os
de maior eficiência, podendo-se manter os aspersores a meia altura entre a superfície do solo e a
linha principal (MESA – “médium elevation spray application”), com eficiência de 80 % - 85 %.
Quando os aspersores de pressão entre 34 e 68 kPa são mantidos dentro da cultura, de 0,30 m a
0,90 m da superfície do solo dentro da cultura (LPIC – “low pressure in canopy”), ou quando os
aspersores são colocados a 45 cm da superfície do solo (LESA – “low elevation spray
application”) a eficiência desse sistema fica entre 85 % - 90 %. Essa eficiência pode aumentar
para 90 % a 95 %, quando os aspersores ficam a 0,20 m da superfície e com uso de sulcos no
solo, caracterizando o sistema LEPA – “low energy precision application.
Ainda segundo Van Zyl (1988), os sistemas de irrigação também podem afetar a distribuição das
raízes no solo. A distribuição horizontal do sistema radicular da videira foi mais uniforme sob
irrigação por microaspersão que sob gotejamento.
E, de acordo com trabalhos de Leão e Soares (2000), observou-se que a microaspersão apresenta
melhores resultados de produtividade e qualidade no cultivo de uva.
4. Conclusões
A utilização da irrigação na cultura da videira proporcionou o aumento do número de cachos por
planta e a massa média dos cachos, o que, consequentemente colaborou para o aumento na
produção por planta. Entretanto, a utilização de diferentes tipos de microaspersores como os
direcionados na linha e com distribuição superficial em leque não diferiram entre si, mas foram
superiores à testemunha, demonstrando que o manejo adequado desta tecnologia proporcionará o
aumento na produção.
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