A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
De 28 de abril a 26 de agosto de 2011
A História Política do Dinheiro
na BM&FBOVESPA
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
De 28 de abril a 26 de agosto de 2011
A História Política do
F
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
oi a partir de uma coleção herdada do pai, dono de um armazém de café, que o jornalista
e escritor Noenio Spinola se tornou um colecionador particular de moedas. Noenio foi
editor e correspondente internacional do Jornal do Brasil em Washington, Moscou, Londres e Bruxelas e do jornal O Estado de S. Paulo em Moscou. Trabalhou como diretor de Relações
Institucionais na Bovespa e diretor de Imprensa e Mídia na BM&F.
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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O primeiro passo já havia sido dado. Era preciso, então, continuar esse caminho repleto de
tradições e descobertas. O acervo ficou adormecido certo tempo. Mas quando precisou cobrir
a guerra Irã-Iraque, antiga Mesopotâmia, Noenio se viu diante do lugar exato onde os meios de
pagamento começaram, há milhares de anos, com a civilização babilônica. Era o sinal de que
precisava para abrir o baú, e, dali, tirar inesquecíveis histórias. As escolhas para rechear seu acervo particular foram dosadas de instinto, faro jornalístico e, muitas vezes, pelo intrigante desafio
de reconhecer a história por meio de deuses, lendas, símbolos e valores prensados no puro
metal. O resultado dessa experiência são quase 30 anos de aventuras, estudos e uma paixão
desenfreada para entender a mente humana ao longo de mais de 2.500 anos. É imensamente
prazeroso para o Espaço Cultural BM&FBOVESPA abrir suas portas para mostrar esta generosa
coleção de moedas na exposição A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA – Coleção
Spinola-Nomus Brasiliana. Na ocasião, brindamos também o lançamento oficial do livro Dinheiro, Deuses & Poder (2010), em que Noenio detalha o caminho da desmaterialização do dinheiro
no século XXI. O livro se junta a outras obras já publicadas pelo autor como O Futuro do Futuro
(1998), Os Pactos Sociais na Espanha (1986), Mariana Adeus (1998) e Dante Alighieri Visita a Comédia Paulistana (2000).
Entender como o pensamento humano exposto ao dinheiro como valor de troca evoluiu em
quase 3.000 anos é a história que não estava escrita. Noenio percebeu que era, então, preciso
fazê-la. Usando sua coleção de moedas como esqueleto, a numismática como ciência, a antropologia e a semiótica como guias, o livro que inspira esta exposição detalha por meio de fatos,
mitos e símbolos como a mente humana aprendeu a transformar valores presentes em ativos
futuros. Mas ainda, mostra como o dinheiro tem, ao longo dos séculos, um valor profano, mas
também um valor sagrado e um valor que corresponde ao imaginário social de cada época.
Percebe-se, portanto, que a mente humana não mudou nada do ponto de vista lógico; o que
mudou mesmo foi o valor dado às coisas. Século a século, símbolo a partir de símbolo, as histórias vão sendo costuradas por meio dessas moedas expostas na mostra, um recorte minucioso
feito do livro.
Tudo começa a partir de um Croesus ou Kroisos, moeda de prata datada de 561-546 a.C., batida
no reino de Croesus, na Lídia, há mais de 2.500 anos. Ao exibir esse duelo entre um leão e um
Não podemos deixar de destacar, nesta coleção compacta e transportável, a presença de um
Morabetino Alfonsi, em ouro, de 1242 da era de Sáfar ou da Espanha (1211 d.C.) em que a cruz
aparece rodeada por legendas escritas em árabe, num momento em que a população nativa
de Portugal e Espanha recuperava os territórios invadidos pelos exércitos dos califas e o Islã.
Moeda intrigantemente histórica e eterna.
Ao longo da narrativa, Noenio nos faz refletir sobre como a mente humana está aprendendo
a lidar com um fenômeno que não existia: a desmaterialização do dinheiro e a arquitetura
financeira que sempre nos cercou. Longe de tomar partido, mesmo diante de crises globais,
vemos a defesa da constância com que o mercado arbitra o valor entre as coisas em todos os
séculos. Da lógica da matemática aos jogos do poder, os símbolos aqui resgatados revelam um
pedaço que ficou escondido por tanto tempo da história com a qual foram criados e servem
de estopim para os hábitos, costumes e rituais de um mundo sem muros nem separações.
A BM&FBOVESPA sente-se honrada em ser palco desse movimento que alicerça, nestas páginas, a origem do dinheiro na humanidade. E orgulhosamente, mais uma vez, parabeniza seu
eterno diretor e atualmente motoqueiro apaixonado, Noenio Spinola, pela iniciativa. A história
desta Bolsa pode ser contada como a própria história do desenvolvimento do mercado brasileiro. Por outro lado, sempre foi um traço forte da personalidade desta instituição o esforço
educacional para expandir os conhecimentos relacionados aos mercados de ações, derivativos
e, por que não, na criação de uma cultura de investimento no País. O nosso desejo é que os
visitantes desta exposição e os leitores do livro possam, cada um deles, utilizar largamente
tudo o que aqui aprenderam. E, quem sabe, multiplicar esse conhecimento. Já que é esta a arte
humana: aprender sempre para poder ensinar constantemente.
Edemir Pinto | Diretor Presidente
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
touro, animais mitológicos, o livro procura pontuar, de maneira detalhada e multidisciplinar,
a linha do tempo dos dinheiros até chegar ao brasileiríssimo real. O autor destaca a figura do
touro presente desde o tempo das cavernas até tornar-se ícone do mercado de ações em Wall
Street, sendo, inclusive, associado ao símbolo da ganância após a crise do subprime americano.
“O homem comum e os comerciantes da Lídia intuitivamente atribuíam valores de troca a pedaços de prata e ouro, que viravam meios de pagamento. Reis perceberam que alguém podia
ganhar dinheiro com dinheiro: martelaram símbolos no metal, padronizaram a relação ouro/
prata (ratio) e cobraram pela senhoriagem. Nasce a moeda.”, descreve Noenio para nos mostrar
o pontapé inicial do jogo que vamos assistir.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Dinheiro na BM&FBOVESPA
COLEÇÃO SPINOLA D
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
esde a antiguidade, o homem procurou registrar seu cotidiano e preservar a memória
das suas tradições e de seu povo de forma bastante peculiar. Pinturas em cavernas e
entalhes em pedras contavam histórias que foram passadas de gerações a gerações.
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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No século VII a.C., a história das relações comerciais entre povos se materializou em pequenos
discos de metais preciosos que circulavam de mão em mão e revelavam muito mais do que a
cifra que carregavam para obtenção de bens ou serviços.
Produzidas, em sua maioria, por artistas incógnitos, as moedas resistiram à ação do tempo e
chegaram às nossas mãos repletas de informações que retratam, de forma pujante, a história
da humanidade.
Circulando por todos os povos do planeta, a moeda tornou-se um dos principais meios de
comunicação da antiguidade, perpetuando de forma contundente o símbolo do poder aliado
à face de seus governantes.
As moedas são como livros que contam as histórias de nossos antepassados e do nosso presente para gerações futuras. Nelas, estão estampadas imagens de reis, rainhas, deuses e seres
mitológicos. Registram fatos históricos e imagens que representam o melhor de seus povos e
de suas épocas e são indicadores da economia, da cultura e da tecnologia e sempre foram alvo
da cobiça pelo poder.
A Coleção Spinola – Nomus Brasiliana concentra o que há de mais importante dessa manifestação do dinheiro e das relações comerciais entre os povos, com uma exibição inédita de
exemplares raríssimos e de incrível beleza artística.
Percorrendo uma linha do tempo, o visitante poderá conhecer as primeiras experiências do
uso da moeda na Ásia Menor e a consequente difusão por todos os cantos do planeta.
A tecnologia empregada na abertura dos cunhos impressiona. Considerando a escassez de
recursos em suas respectivas épocas, os artistas driblaram as dificuldades com exímio talento,
produzindo verdadeiras obras de arte em minúsculos discos metálicos.
Mas não é só da beleza artística das moedas que essa exposição se propõe. O dinheiro revela
bastidores da política internacional e registra de forma indelével a formação de impérios e do
poder de seus governantes.
NOMUS BRASILIANA
Os modernos recursos de multimídia proporcionam ao visitante o acesso a todos os detalhes
essenciais das peças com imagens ampliadas e fichário com as principais características para
melhor compreensão dos fatos.
Todas as moedas expostas são originais e certificadas pelas principais autoridades internacionais.
O primeiro módulo trata do período que antecede o nascimento da moeda e dos templos
bíblicos de Abraão. Nele destacam-se as primeiras emissões da Lídia, na Ásia Menor, da famosa
coruja eternizada na moeda de Ática-Athenas e da emissão de Corinto representado pela deusa Athena e do lendário cavalo alado Pégaso.
O segundo módulo apresenta a vasta emissão de moedas das cidades-estado gregas, a complexa tecnologia empregada na produção das mais belas séries da antiguidade, com ênfase
para a representação deificada de Alexandre III, o Grande da Macedônia e das primeiras emissões de Roma com destaque ao grande AE AS Grave com a face do deus Janus bifronte.
O terceiro módulo demonstra o poder da moeda como mídia, promovendo de forma contundente deuses e mitos do passado e representações impressionantes das várias faces de
Cleópatra, da história do antigo Egito e das emissões na Judeia que antecedem o apogeu do
império romano.
O quarto módulo registra a “face oculta da moeda”. Quem era César no tempo de Cristo? Destaque para as moedas bíblicas: tribute penny e trinta dinheiros.
O quinto módulo registra o poderio militar estampado nas moedas e o auge da expansão territorial de Roma. Os doze Césares, a glória, o poder e dos primeiros registros da inflação.
No sexto módulo, o colapso do Império Romano é registrado pelas emissões inflacionadas,
com metais impuros e baixa qualidade da arte monetária. Trata das invasões bárbaras e da se-
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Os totens transparentes garantem uma visão completa das moedas (frente e verso) revelando
detalhes do bordo (lateral) e de suas respectivas espessuras.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Uma verdadeira galeria de líderes, heróis e eventos. A exposição é composta por nove módulos e uma linha do tempo onde o visitante visualiza e identifica com facilidade os diversos
momentos da história política do dinheiro com seus respectivos destaques e personalidades
que marcaram época.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
miótica a serviço da numismática revelando o poder dos símbolos religiosos estampados nas
moedas do Império Bizantino e das Cruzadas.
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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O sétimo módulo trata das moedas da época dos descobrimentos. Do resgate da arte monetária no Renascimento ao apogeu das novas economias. Mais uma vez, a moeda como mídia
entre em cena, propagando o poderio militar europeu no novo mundo.
E, finalmente, nos dois últimos módulos, a exposição revela o DNA da moeda brasileira e apresenta o apogeu do ouro nas Américas com destaque à produção aurífera de Vila Rica, com
a emissão da maior e mais pesada moeda em ouro, o dobrão de 20.000 réis. Trata ainda da
evolução do dinheiro como conhecemos hoje: do táler ao dólar e da cunhagem do patacão
brasileiro ao Plano Real.
Cada moeda descrita reserva, em sua essência, uma gama de informações sobre a história da
humanidade. São as moedas coadjuvantes silenciosas que preservam informações preciosas
do conhecimento humano, avanços científicos e crises globais criando uma estreita ligação
entre o passado e o presente, revelando a importância de sua compreensão para o estudo
da economia, na atualidade. Exemplares criados por verdadeiros artistas e, alguns nem tanto
assim, essas pequenas obras de arte registraram os costumes, as religiões, as tecnologias e a
economia dos povos, em momentos que alternavam alegria e tristeza, prosperidade e caos.
Num mundo onde a tecnologia faz parte do dia a dia das pessoas com transações cada vez
mais virtuais, a exposição remete o visitante a um resgate da materialização do dinheiro como
instrumento de poder de compra.
A mostra se completa com o lançamento concomitante de uma obra que pretende transmitir
aos mais jovens uma nova visão sobre o estudo da matemática financeira e do mercado de
capitais, propondo um novo paradigma para o ensino sobre o tema no Brasil.
Claudio Marcos Angelini | Curador
VIAGEM AOS
JARDINS DO PARAÍSO
O motor da história transformada em livro é a coleção de moedas desta mostra, montada ao
longo de vários anos, pacientemente. Stateres, shekels, dracmas, denários, libras, táleres, COBs,
reales – tudo transporta lendas, fatos e mitos relacionados com os jogos do poder e o preço
que cada um quer pagar para ser feliz. Sábios, loucos e tiranos começaram a martelar moedas
há mais de 2.500 anos. É pelo menos curioso observar como muitos deuses, deusas e anjos
invocados para dividir o espaço no verso ou reverso simplesmente sumiram. Outros tantos
passaram por epifanias singulares, como o touro das moedas de Croesus que era pintado em
cavernas, foi adorado em Serapias e condenado como bezerro de ouro na Bíblia.
Muitas vezes as fronteiras entre o sagrado e o profano foram ignoradas pelas moedas. As que
sobreviveram foram aquelas cujo valor real de mercado nunca foi violentado pelos governantes. Aparentemente, os deuses não protegem o dinheiro que usa seus santos nomes em vão.
Nem perdoam aqueles que desprezam a ratio arbitrada nas relações normais de troca, atropelando a poupança e o valor real da moeda no tempo.
Através do diretor presidente, Edemir Pinto, o autor dessa visita ao passado remoto das moedas
agradece à BM&FBOVESPA e a seus profissionais pela cessão do Espaço Cultural para a mostra.
A coleção, assim como o livro que dela nasceu, é apenas uma contribuição para uma antropologia dos mercados do século XXI e a rede escolar brasileira. Oxalá seja útil para os pesquisadores nesses tempos em que a moeda cada vez mais se desmaterializa. Talvez o mundo virtual dê
mais frutos se for solidamente ancorado no mundo real.
Noenio Spinola
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Uma viagem pelo chão transformado em deserto com a missão de fotografar e escrever sobre
a frente de batalha da primeira guerra do Golfo puxou o gatilho que resultou nesta exposição:
valia a pena ir além de uma reportagem sobre como o paraíso terrestre foi transformado em
inferno pela espécie humana. Escrever reportagens sobre guerras é fácil, desde que se saia
vivo. Mergulhar na antropologia, na arqueologia, na numismática, na matemática financeira e
transportar a história antiga para o espelho do presente não é tão simples.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
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esenhe um triângulo entre Jerusalém, a cidade iraquiana de Basrah perto do Golfo Pérsico e a antiga refinaria de Abadan, no Irã. Não muito distante de Basrah, a Petrobras
descobriu petróleo antes da primeira guerra do Golfo. Nessa região da Mesopotâmia,
ficam as ruínas de Ur e Uruk, onde floresceram a Babilônia e a cultura sumeriana. Ali, a espécie
humana começou a usar prata como meio de pagamento. O Éden citado na Torá e na Bíblia
cristã pode ter existido em algum lugar dentro desse triângulo.
A invenção da Moeda
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Lídia/Ásia Menor e Grécia
Uma história de 2.600 anos
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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Larissa, ninfa das águas da Tessália, em dracma de 365 a.C.
Desde os tempos mais remotos, a mente humana descobriu a utilidade da padronização dos
meios de pagamento. O Gênesis (Torá-23:16) registra uma transação de compra de terra paga
por Abraão com 400 shekels de prata pelo preço de mercado.
Entre 4.000 e 3.200 aos contados desde o tempo presente, período em que viveu Abraão, pedaços de prata eram usados para facilitar o comércio. Bolas de pedra (shekels) eram usadas na
Mesopotâmia como unidade de peso de metais preciosos negociados a preços de mercado.
Credita-se aos lídios e ao reino de Croesus, na Ásia Menor, a descoberta das vantagens de padronizar e colocar marcas em pequenas moedas produzidas com o metal de uma liga de prata
e ouro chamada electrum. Assim nasceu o electrum stater de Croesus, o rei mais rico do mundo
em sua época. É surpreendente como, num período tão distante da história, os moedeiros já
sabiam calcular a relação (ratio) entre ouro e prata, com fórmulas que continuam a ser usadas
atualmente.
O duelo do touro com o leão é a primeira imagem consagrada em moeda. A simbologia misturava elementos sagrados e profanos e funcionava como uma espécie de marca registrada do
reino garantidor do peso e da qualidade do metal.
Com a conquista da Lídia pelos persas, siglos com a figura de um arqueiro ajoelhado substituíram os electrum-staters de Croesus. Pouco depois, a cultura grega voltou a dominar o Mediterrâneo, deixando gravadas na prata e no ouro imagens de inigualável beleza estética, que
resistiram à ação do tempo. A figura da ninfa das águas, Larissa, foi batida numa dracma por
volta do ano 365 a.C.
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Meio-stater AR/Siglos
Moeda dos reis da Lídia,
Croesus – Século VI a.C.
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Shekel de pedra
Unidade de peso –
Século VII/VIII a.C.
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O touro que aparece nas moedas de Croesus passou por muitas metamorfoses, ou epifanias,
geradas no imaginário social de diferentes povos e culturas. Em uma das suas mais populares
ressurreições, o touro pode ser visto nas proximidades de Wall Street, onde opera como símbolo do mercado de ações em alta.
Lídia, reino de Alyattes/Croesus (ou Kroisos) entre 600 e 580 a.C.
El Trite (1/3 de electrum-stater c/54% de ouro) – 14mm, 4,6g. Cabeça
de leão para direita, sol com cinco raios por trás da base da testa,
característica do tipo 16 da Lídia. Alguns numismatas dizem que o
Trite valia tanto quanto dez cabras; outros, que cobria um mês de
susbsistência. Como o ouro podia cair para 30% da liga sem perda de
valor, a cunhagem em si era um bom negócio. Historiadores usam a
dinastia Mermnádia como referência para o momento provável do
começo do uso prático de moedas. Heródoto reserva para Gyges (716678 a.C.) um lugar central nas fábulas em que ele conquista o poder
depois de matar Candaules e fundar a dinastia que continua com
Ardys II (678-629), Sadyattes (629-617), Alyattes II (617-560) e Croesus
(560-546).
Ar Stater (22mm, 8.96g) – Ilhas da Trácia, Thasos. Batida cerca
de 500-463 a.C. Sátiro itifálico avança da esquerda para a direita,
sequestrando ninfa. A imagem refletia a celebração natural da
fertilidade, com uma visão do mundo e da vida que ignorava os
conceitos de pecado criados, mais tarde, por outras culturas.
China – Æ, moeda enxada Ming Dao – 475/221 a.C.
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Pérsia, Aquemênida - Arqueiro – 420 a.C. – AR Siglos
(15mm, 5,47g). Exércitos persas conquistaram a Lídia em 547
a.C., iniciando um período de hegemonia no Mediterrâneo.
Arqueiros em moedas de prata e ouro circularam amplamente
nessa época e aparecem em registros da Torá. Judeus exilados
na Babilônia podem ter usado moedas semelhantes na volta
para Jerusalém. Em 330 a.C., Alexandre, o Grande, conquista a
Pérsia. Nasce o Império Grego.
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Attica, Atenas. Batida entre 449 e 404 a.C. – AR tetradrachma
(22mm, 16,99g, 9h). Cabeça de Atena virada para a direita,
usando capacete (ou elmo) ático cristado/Coruja virada para
a direita, cabeça em posição frontal; ramo de oliveira e lua
crescente atrás, todo o conjunto dentro de quadrado incuso.
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Glória e fim do Império de
Alexandre, o Grande
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Atena usando elmo cristado corintiano em stater de
ouro dedicado a Alexandre, o Grande.
No início do século VI a.C., os traders gregos, no rastro dos fenícios, criaram, no Mediterrâneo,
uma rede de comercialização de azeite, cerâmica, vinhos, ouro, prata. As ágoras gregas floresceram e a concorrência pelo controle dos meios de pagamento também. Os persas ganharam
o primeiro tempo da disputa desses mercados, quando conquistaram a Lídia (atual Turquia),
em 547 a.C., e a Babilônia. Em 330 a.C., Alexandre, o Grande reverteu o pêndulo do poder para o
lado ocidental do mundo e a cultura monetária grega. Deuses e deusas como Atena, Zeus, Hércules, Nike e outros dividiram o espaço das moedas com imagens que evocavam Alexandre. A
fragmentação do mundo helenístico entre os generais herdeiros de Alexandre abriu espaços
para a emergência de novos atores e outro império: o romano.
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Alexandre III, o Grande (336-323 a.C.). Dracma de prata
batida na Trácia no reino de Lisímaco (305-281 a.C.). A
tiara com o chifre de Amon que segura o cabelo transporta
simbologia destinada a mitificar e deificar a imagem. O
chifre de Amon contém proporções preciosas para a antiga
geometria sagrada. Curvas semelhantes derivam da vesica
pisces (área de interseção de duas circunferências) e remete
a 3.
Æ AS grave, As romano (pós 211 a.C.). A cabeça de Janus
olha para o passado e o futuro na moeda que precede o
denário. A cosmogonia romana atribuiu a Janus o papel de
deus dos começos e transições. O nome foi emprestado ao
primeiro mês do ano e, assim, janeiro perpetuou a memória
de um mito romano nos calendários. A proa de uma galera
celebra, no reverso, as armas navais e os feitos dos legionários
que dominaram Mediterrâneo, Egito e norte da África.
Nomos da Calábria (280-272 a.C.). O mundo
grego inspirou a moedagem romana, mas mitos
locais, como o de Phalanto cavalgando golfinhos,
conquistaram seu próprio espaço. Anverso: jovem nu
montado em cavalo marchando para a direita.
Tridrachma de Cartago, II Guerra Púnica (cerca
de 210-201 a.C.). A disputa pelo acesso a matériasprimas, comércio e controle da navegação gerou
guerras entre um lado e outro do Mediterrâneo, que
terminaram com a vitória esmagadora de Roma.
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Cleópatra e Marco Antonio
O lado real dos mitos
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Cleópatra VII Thea Neotera
(51-30 a.C.) – Reis ptolemaicos do Egito
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Marco Antonio (40 a.C.) – AR Denarius
Ptolomeu I, fundador da dinastia ptolemaica, aparece com Berenike no reverso de uma tetradrachma de ouro batida em Alexandria, no reino de Ptolomeu II. Zeus Amon e uma águia pousada em raios dominam o verso e reverso da hemidrachma de bronze de Ptolomeu III. O bronze chegou a circular com boa aceitação no Egito, funcionando como moeda fiduciária numa
época de prosperidade. Os ptolomeus conseguiram misturar deuses gregos com egípcios em
relativa harmonia. As moedas de bronze da época refletem o equilíbrio dessa cosmogonia.
Dois séculos depois, Cleópatra também aparece na face de moedas de bronze, mas a inflação e
o desequilíbrio do tesouro dos herdeiros da dinastia ptolemaica destruíram a confiança na moeda de liga fraca. Em outras palavras, a moeda fraca expulsou a moeda forte da circulação. As
pessoas entesouravam ouro e prata e tentavam passar o bronze adiante nas relações de troca.
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Ptolomeu II com Arsinoe: tetradrachma de
ouro, batida em Alexandria entre 265 e 246 a.C.
Ptolomeu III Euguertes: Æ Hemidrachma
(34mm, 35,24g, 12h), moeda de bronze
batida em Alexandria, cerca de 245-222 a.C.
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Cleópatra VII Thea Neotera com Ptolomeu XV
(Caesarion). 51-30 a.C. – Reis ptolemaicos do Egito –
Cleópatra como Afrodite para direita com capacete,
segurando Caesarion como Eros nos braços.
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Antioco IV, rei selêucida da Síria, acreditava que era uma
reencarnação divina, ou epifania. A lenda em torno da águia
do Æ de bronze trata Antíoco como Theo Epifanoi (deus
epifânio). Entre 167 e 164 a.C., Antíoco profanou o templo de
Jerusalém, provocando uma guerra vencida pelos hasmoneus,
liderados por Judah Macabeu.
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Os macabeus inauguraram um período curto e brilhante de
independência judaica em Jerusalém. As festas da Chanukah
e os símbolos como o candelabro de sete pontas (menorá)
vêm dessa época. A moeda com a âncora e a estrela é uma Æ
Prutah, batida dos tempos de Alexandre Jannaeus (103/7 a.C.).
As pequenas são prutot (plural de prutah) da mesma época.
O dinheiro da viúva
David Hendin, perito em moedas bíblicas, diz que
as pequenas prutot talvez sejam sobreviventes da
moeda citado na Bíblia por Marcos (12:41) – Jesus
viu uma viúva pobre contribuindo para o templo
com uma moedinha e discutiu com os discípulos a
sinceridade dos gestos humanos.
Dai a César o que é de César
Quem era César?
Tiberio César – Tribute Penny
– Livia, Pax. (18/35 d.C.) AR
Denario (18mm, 3,73g)
O dinheiro do imposto
Tibério César em denário consagrado como dinheiro do imposto. Tibério reinou durante o
período de vida de Cristo. Moeda semelhante pode ter inspirado a frase bíblica que Mateus
atribuiu a Cristo na Parábola dos Convidados à Boda (22:16): ‘Dai a César o que é de César’.
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Júlio César com véu e legenda de ditador perpétuo em denário de prata. Vênus aparece no
reverso com a figura da vitória pousada na mão direita. Moeda batida em Roma no ano 44 a.C.,
pouco antes dos idos de março. O nome era uma referência ao calendário lunar, mas entrou
na história ligado à data do assassinato de César, tramado por Brutus.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Julio César com véu / Vênus. (44 a.C.)
AR Denario (17mm, 3,81g)
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Augusto (Divus)/Touro. (15/13 a.C.)
AR Denario (18mm, 3,77g)
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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As moedas em circulação no período de vida de Cristo geraram mais versões do que fatos
provados. A frase da Parábola tanto pode se referir a Júlio César quanto a Tibério César ou Augusto. Júlio morreu meio século antes de Cristo. Tibério governou como sucessor de Augusto,
que aparece no denário com um touro no reverso. Tibério, portanto, era o César que o cidadão
comum relacionava à cobrança escorchante de taxas pelos romanos na época de Cristo.
AE Tessera (tamanho real: 21mm, 4,56g 3h). Período de
Tibério César (14-37 tempo de Cristo) – Descrita como cena
heterossexual erótica. V na face oposta dentro de laurel. A letra
V no reverso da Tessera dos tempos de Tibério pode indicar o
que essas fichas compravam em bordéis. Se é verdade o que
diz Suetônio na biografia clássica dos doze Césares, Tibério foi
um dos mais depravados imperadores romanos. Procuradores
como Pôncio Pilatus, que operavam na Judeia dominada
pelos legionários, rezavam segundo a mesma cartilha.
Rosa Urbana | 2010
madeira recortada coberta de
tela, pintada e desenhada com
inclusão de objetos
90 x 90 x 20cm
Coleção do artista
Fenícia, Tyre (Tiro). (126-5 a.C.- 65-6 d.C.) AR Shekel (26mm,
14,16g, 1h). Datado de 96 CY (31/0 a.C.). Busto laureado de
Melkart voltado para a direita. / ΤΥΡΟΥ ΙΕΡΑΣ ΚΑΙΑ ΣΥΛΟΥ
(tal como aparece); águia de pé para a esquerda em proa;
palma sobre asa direita; para a esquerda data sobre bastão;
monograma para a direita, ‘B’ fenício entre pernas.
Trinta dinheiros
David Sear, em Greek Coins and Their Values, vol. II, traz uma tabela que facilita a compreensão
das datas das shekels de Tyre. O detalhe gera controvérsias entre numismatas sobre se determinadas moedas, mesmo confirmadamente batidas em Tyre, podem ter circulado no período que deu origem ao episódio dos trinta dinheiros. Na edição de maio de 2006, a National
Geographic Society publicou um longo artigo de capa sobre o Evangelho de Judas. A interpretação do evangelho atribuído a Judas provocou mais controvérsias ainda sobre os fatos
que cercam a morte de Cristo. Nada se fazia em Jerusalém sem que os procuradores romanos soubessem ou quisessem, diz Joseph Telushkin num best-seller sobre a cultura judaica.
Moedas de Herodes I, o Grande, circularam na Judeia sem a independência das moedas dos
Macabeus. A desesperada resistência dos judeus ao domínio romano culminou com a destruição do templo de Jerusalém no ano 70 d.C., com a mortandade em massa dos que não
conseguiram escapar dos legionários.
Judea, Herodes I, o Grande
(a/capacete/estrela - r/Tripod).
(40/04 a.C.) Æ 8 Prutoh (26mm, 8,79g)
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Báculo em Æ Prutah de Pôncio Pilatos,
batido em Jerusalém (26/36 d.C.)
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Touros e águias proliferavam em cultos politeístas e sacrifícios sangrentos. A religião judaica
rejeita o politeísmo e o templo de Jerusalém não permitia a colocação de imagens, comuns
nos rituais romanos. A águia era o símbolo dos dinheiros de Tyre. As moedas eram aceitas
porque circulavam como uma espécie de dólar regional. O teor de prata, o peso e a qualidade
facilitavam a circulação na Judeia. Por isso, os shekels de Tyre geraram outro mito bíblico: o dos
trinta dinheiros. Dúvidas e incertezas cercaram essas moedas até o século passado. Modelos
parecidos foram divulgados por autores de textos religiosos sem fundamentos arqueológicos
ou numismáticos, amplamente copiados.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Doze césares romanos
e a saga de seus dinheiros
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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Quintus Servilius Caepio – Marcus Junius
Brutus – (54 a.C.) AR Denarius (19mm, 3.80g, 3h)
– Moedeiro de Roma. No reverso desta moeda, o
cônsul Lucius Junius Brutus caminha entre dois
lictores, precedido por um assessor (accensus).
“A moeda rememora a expulsão de Tarquinius Superbus, último rei de Roma, por Lucius Junius
Brutus (...) que em 509 a.C. foi eleito primeiro cônsul da nova República constituída em Roma.”
(Fonte: CNG)
Marcus Junius Brutus entrou na história pelo assassinato político mais famoso de todos os
tempos, o de César, seu pai adotivo.
Faces dos doze césares romanos gravadas na prata
César (49-44 a.C.)
Augusto (27 a.C. -14 d.C.)
Tibério (14/37 d.C.)
Calígula (37/41 d.C.)
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Um livro clássico de Suetônio, escrito por volta do ano 70 d.C., conta com palavras às vezes
implacáveis, a história de doze césares. Os doze de Suetônio viraram um corte obrigatório na
linha do tempo do dinheiro.
Cláudio (41-54 d.C.)
Nero (54-68 d.C.)
Galba (68-69 d.C.)
Oto (69 d.C.)
Vitelius (69 d.C.)
Vespasiano (69-79 d.C.)
Tito (79-81 d.C.)
Domiciano (81-96 d.C.)
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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Augustus (27 a.C.-14d.C.) AR Denarius (18mm ,3,91g, 6h).
Batida em casa de moeda incerta localizada na Espanha,
talvez em Tarrco, por volta de 19 a.C. Cabeça nua voltada para
a direita - / OB/CIVIS/SERVATOS em três linhas, dentro de laurel
de carvalho com as pontas de duas fitas para cima.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Ob Civis Servatos: a história da Coroa Cívica
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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A origem do uso da coroa cívica como laurel para fins militares ou políticos é atribuído aos
gregos pelos historiadores, sem muita precisão ou certeza. Romanos disseram que a coroa é
uma herança grega. Os registros mais confiáveis sugerem que o uso de coroas foi popularizado
pelos jogos olímpicos. Daí, passou para o circo romano e, finalmente, foi transformada em laurel para agraciar grandes feitos militares. A coroa com a inscrição Ob Civis Servatos ganhou fama
porque foi concedida a Augusto pelo Senado. Teoricamente, só podia ser concedida a quem,
numa guerra ou situação de extremo perigo, servisse aos cidadãos salvando suas vidas. A coroa não podia ser reivindicada: tinha de ser concedida de baixo para cima, dos salvos para os
salvadores. Ironicamente, imperadores que nunca se arriscaram para salvar a vida de ninguém,
como Calígula, se apropriaram da legenda para uso no reverso de suas moedas.
Por que o criador de Sherlock Holmes colecionava
moedas?
Claudius. (41-54 d.C.) Æ Quadrans (17mm, 3.49g, 6h)
cunhado em Roma por volta de 41d.C. Modius com três
pernas, grande SC no reverso. Ao lado, modius da coleção
de Conan Doyle adquirida para o acervo do livro Deuses,
Dinheiro e Poder.
A traição de Moneta
Diocleciano (284-395 d.C.) fez várias reformas para tentar manter o Império Romano e recuperar espaços perdidos nas fronteiras com árabes e tribos europeias. O follis, onde a deusa
Moneta aparece com uma balança na mão direita e cornucópia na esquerda, mostra a face real
do dinheiro do dia a dia: aos poucos, a mão humana raspou o banho enganador de prata, que
tingia a superfície da moeda.
Argênteo
O argênteo do ano 294 mostra os tetrarcas que dividiam o poder com Diocleciano comemorando vitórias. O argênteo de prata não resistiu à ação do tempo, pois a relação de preços e
valores com outras moedas, como o aureus e o nummus, ignoraram as leis do mercado. As
moedas fracas simplesmente expulsam as moedas fortes da circulação: as fortes são entesouradas e as fracas são passadas adiante. Moneta, com a balança na mão, parece mandar uma
mensagem secular a quem interessar possa.
Diocleciano / Rev: tetrarcas sacrificando
(294 d.C.). AR Argenteo (3,32g)
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Follis de Diocleciano
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Diocleciano com Moneta (301 d.C.).
Æ Follis (27mm, 9,40g)
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Constantino I olhando para o céu – VOT XXX (Votos feitos a
divindades) (325/6 d.C.) Æ Follis (20mm, 3,70g)
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Magnentius – Chi Rho (Centenionalis duplo)
(353 d.C.) Æ Duplo Centen (27mm, 7,98g)
A guerra da sucessão de Diocleciano foi vencida por Constantino, o Grande. Versões cristãs
dizem que Constantino sonhou com as iniciais de Cristo em grego (XP) e venceu batalhas. O
símbolo foi usurpado por um concorrente (Magnentius).
Constantius II / Lábaro no reverso.
(337/61 d.C.) Æ Centenionalis (21mm, 4,01g)
Sucessores de Constantino conseguiram recuperar o XP. O símbolo foi inscrito num lábaro
carregado pelos legionários de Constantius. Daí vem a legenda que domina antigas moedas
brasileiras: In Hoc Signo Vinces (Com este sinal vencerás).
Ascensão e queda de Constantinopla
Constantinopla se transformou em Império Bizantino depois do colapso do Império Romano
(~475 d.C.). As moedas bizantinas concorreram bravamente com as moedas islâmicas. Árabes
dominaram a Península Ibérica até o século XII, quando portugueses e espanhóis reconquistaram seus territórios. Constantinopla foi dominada por otomanos em 1453 e passou a se chamar Istambul. As moedas batidas entre os séculos V e XII depois de Cristo mostram a ascensão
da cruz como símbolo central do dinheiro bizantino e do Sacro Império Romano, que emerge
na Europa com o Império Carolíngio (Carlos Magno, ou Charlemagne). Sólidus, follis, hexagramas e outras moedas ancoradas no símbolo da cruz concorreram sem tréguas com as dracmas
árabe-sassânidas e islâmicas em geral.
Hexagrama bizantino de
Heráclio com cruz potente
sobre globo e legenda Devs
Adivta Romani (615 d.C.)
Cruzadas – BI Denier do Reino
Latino de Jerusalém no período de
Balduíno III (1143-1163)
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Dracma concorrente, tipo
árabe/Sassânida de 699 a.C
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Cristo entronizado em histamenon
nomisma de ouro, cunhado em
Constantinopla no ano 1028.
Morabetino Alfonsi (1211) – Esse raríssimo morabetino de
ouro cunhado por portugueses e espanhóis para financiar a
reconquista da Península Ibérica reflete um trecho importante
na evolução cultural e religiosa da época. A cruz cristã é
rodeada por legenda escrita em árabe. A reconquista acontece
depois de uma razoável convivência entre árabes, judeus
e cristãos. O período foi interrompido pelos Tribunais da
Inquisição e o crescimento do radicalismo religioso leste/oeste.
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Solidus de ouro de Justiniano
com anjo no reverso (527 d.C.)
Do direito divino dos reis aos
jogos do poder colonial
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Penny de William I, o Conquistador, batido em Winchester
(1066/1087). Normandos que conquistaram a Inglaterra no
século XII mandaram cortar a mão e mutilar moedeiros do
reino porque se descuidaram do valor do penny.
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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Nobre de ouro de
Eduardo III Plantageneta
batido em Londres (1361)
Grosso de prata do Papa
Alexandre VI (1492/1503) do
período do Tratado de Tordesilhas
Reales de prata dos reis
católicos da Espanha
Fernando e Isabel (1474-1504)
Nessa época, o direito internacional baseado em decisões e bulas dos papas começou a ser
questionado. As fronteiras do sagrado e do que era profano balançaram. O reino de Eduardo III
fez acordos dinásticos com Portugal. Felipa de Lencastre, neta de Eduardo III e filha de João de
Gaunt, personagem do drama de Ricardo II de Shakespeare, casou com o fundador da Dinastia
de Aviz, D. João I. Parte dessa engenharia familiar e financeira entra na história do desenvolvimento da tecnologia naval e descobertas portuguesas.
Dobrão de ouro de 20$000
(vinte mil réis) de D. João V
cunhado em Minas em 1727
Enquanto peregrinam ao longo de séculos e milênios, formas e símbolos sagrados se infiltram
no dinheiro, nas arenas e nos jogos do poder. O símbolo central do dobrão, a Cruz de Cristo,
lembra elementos que, no passado remoto, eram tidos como parte de uma geometria sagrada.
Guilherme VI (1627-1663), Alemanha, Hessen-Kassel
– AR Taler (42mm, 28,95g, 9h). Mestre moedeiro Georg
Kruckenberger. Datado de 1637. Leão coroado rampante
para a esquerda no anverso. Reverso: salgueiro açoitado por
sopro de vento, à esquerda. Raio vindo de nuvens logo acima.
Sol raiando na posição de 13hs com inscrição em hebraico
‘Jeová’ e legenda em latim Iehova Volente Humilis Levabor.
O nome táler, ou thaler, evoluiu para dólar. Essa emissão de
Kassel reflete a turbulência da época. Na cultura judaica mais
profunda não se deve usar em vão, ou sequer escrever com
todas as letras o santo nome de D’us.
Henry VIII (1491-1547), Rei da Inglaterra – (1509-1547).
– Anjo, AV – 7s. 6d., i.é: 7 shillings e 6 pences (em 6d a letra
d deriva de denário). Peso: 5,18g (5,16g atual). - São Miguel
matando dragão no anverso e legenda em gótico: henric
VIII D G R Agl z F-France (Henrique VIII pela graça de Deus rei
da Inglaterra e da França). Reverso: brasão real em mastro
sobre navio singrando p/ direita de quem olha para a moeda.
Legenda do reverso: PER xx CRVCE x TUA x SALVA x nOS x XPE
x RED (Por tua Cruz Salva-nos Oh Cristo Redentor). Brasão
alinhado sobre o mastro, em quartos, com três flores-de-lis
douradas e três leões passando em guarda. Rosa (cinquefoil) e
h flanqueando Cruz.
A história do dinheiro inglês registra poucos casos de desrespeito dos reis à moeda. Uma das
exceções acontece no reino de Henrique VIII, que ganhou dos contemporâneos o apelido “nariz de latão’” (old copper nose – literalmente: nariz de cobre velho). Com o passar do tempo e os
dedos polindo o metal, algumas moedas mostravam, através do nariz liso, a cor real do cobre
por baixo do banho de prata. Os anjos de ouro não foram capazes de salvar a reputação de
Henrique VIII. Os comentaristas de Spink são mais indulgentes. Eles lembram os esforços feitos
pelo rei em 1526 para evitar a drenagem do ouro inglês para a Europa e a concorrência com
moedas francesas, como o Ecu Au Soleil. A Inglaterra não tinha ainda, nessa época, conquistado a hegemonia que viria depois da derrota da armada espanhola, do progressivo declínio da
França e Espanha e da acumulação de riqueza com a Revolução Industrial.
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Anjos de ouro e nariz de latão
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Macuquina cerceada. 8 reales de Felipe II ou III
da Espanha. Carimbo com escudo de Portugal
(1580/1640) 8 reales (39mm, 27,1g)
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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Standard Ten Penny Weights – Peso inglês padrão Em busca de padrões
Submetida a uma balança de precisão, a medida de ten penny weights (acima) revelará que
pesa 15,5g ou 0,54oz, 10dwt ou 0,49ozt. Padrões britânicos desse tipo derivam de uma cultura
secular, com lições cruéis de imposição para fazer valer a lei (law enforcement). Nenhuma manchete sobre a punição dos responsáveis por pirâmides desmoronadas no setembro negro de
2008 teve impacto comparável ao da notícia que circulou em Londres na véspera do Natal do
ano 1124: os moedeiros do rei, acusados de crimes contra o penny, foram convocados ao palácio e saíram de lá castrados, ou com a mão direita decepada. A crônica da época diz que não
foram mortos porque o rei queria que continuassem vivos, andando pelas ruas e mostrando
quanto custou caro tripudiar sobre a solidez da moeda.
Portugal – Meio tostão, carimbo de 60
(1521/77) AR 60 réis (15mm, 3,60g)
França real – Felipe VI de Valois (1328-1350). AV ÉCU D’OR À
LA CHAISE (26mm, 4,47g, 12h), 2ª emissão, 10/04/1343. Figura
inteira frontal de Felipe VI sentado em trono gótico ornado,
segurando escudo e espada, emoldurado por arcos. Reverso:
cruz florida ornada com flor de quatro pétalas no centro,
barras e entrefolhas; folhas em quadrantes, cruz florida.
Reales de 1767 com marca de Potosi (Bolívia)
Carlos IIII - México - AR 8 reales (38mm, 26,7g)
Reales espanhóis eram conhecidos nas colônias norteamericanas como pillar dollar. As colunas lembram
o mar aberto além do estreito de Gibraltar. Eram
conhecidas como Colunas de Hércules e evocam a
conquista do oceano além do estreito que separa a
Europa da África. As faixas em torno das colunas podem
ter inspirado o $ (cifrão) como símbolo de dinheiro.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
DNA do dinheiro nas Américas I
Fugio de Benjamin Franklin de 1787 – Um centavo.
A primeira tentativa norte-americana de moeda
própria traz uma palavra-chave, fugio, que lembra o
valor do dinheiro no tempo. Tempo é dinheiro (time
is money). A legenda mind your business (cuide de
seu negócio) se identifica com o pragmatismo típico
do imaginário norte-americano. Filósofos como Pierce
ajudaram a aprofundar o significado do pragmatismo.
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
O século XVIII começa com moedas de prata, ouro e cobre e termina com o papel-moeda
como meio alternativo de pagamento. No fim da era colonial, o câmbio era balizado por reales
e dobrões espanhóis, cunhados em prata e ouro. A competitividade dos reales com os táleres
europeus era beneficiada pelo trabalho escravo nas minas da Bolívia, do Peru e de outras
colônias. O esgotamento das minas e a independência das colônias empurrou aos poucos o
mundo para novos padrões de troca. A passagem para o papel-moeda cobrou quase um século
de reciclagem do relacionamento das pessoas com a moeda. Cédulas educacionais lançadas
nos Estados Unidos com lastro em prata contribuíram para a mudança. Neste certificado de
prata de um dólar a alegoria feminina dirige o olhar de uma criança para a Constituição.
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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Nova constellatio – Olho
da Providência, raios (1785)
Dois símbolos que mais tarde dominam as cédulas do dólar surgem, ainda de forma primitiva,
nas moedas e cédulas que circularam no período da guerra da independência norte-americana.
O Olho da Providência aparece no centro da moeda de cobre que ficou conhecida como
Constellatio Nova (Constelação Nova). A pirâmide cortada (frustum) aparece em Continental
Notes (cédulas continentais) de 1778 com a palavra Perennis no alto. Depois da independência,
as notas viraram pó, mas a pirâmide cortada vingou como símbolo central na moeda norteamericana. A crise que gerou a Guerra de Secessão foi vencida, a inflação ficou sob controle e
o dólar passou a balizar o câmbio no mundo, funcionando como moeda de reserva. O Olho da
Providência foi acrescentado às cédulas do dólar.
Maria I Brasil Colonial - XX Quebra Padrão
(Módulo Menor) - XX réis (30mm, 6,00g)
Em tempos de queda da Bastilha e crises generalizadas na Europa, as moedas de cobre em
circulação no Brasil têm o peso reduzido à metade, mantendo o mesmo valor. O período é
de crises nos dois lados do Atlântico. A Inconfidência Mineira (1789) coincide com o reino
de D. Maria (1777-86 e 86-92). As jazidas de ouro começam a se esgotar em Minas Gerais e
indústrias nascentes são destruídas no Brasil, para não violar acordos de Portugal com parceiros
europeus. D. Maria enlouquece e D. João assume como regente em 1799. Em 1808, a família
real vem para o Brasil com o apoio da marinha de guerra britânica, escapando da invasão das
tropas de Napoleão Bonaparte.
Maria I D G Port Et Alg Regina –
Véu toucado (1796) – R 1796/AV 6.400 réis
Ioannes D G Port Et Alg Regens –
1811 (1811) AV 6.400 réis
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
Maria I Brasil Colonial - XX Quebra
Padrão - XX réis (36mm,14,30g)
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Quebra de padrão de 1799
Contribuição colonial para a cultura da transgressão inflacionária
no Brasil
DNA do dinheiro nas Américas II
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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1-D. João V,1730 M, dobra de 12.800 réis.
2-D. João VI Regente, 1811 R, 6.400 réis.
3-D. Pedro I, 1824 R, 4.000 réis.
4-LXXX réis verdadeira, cobre.
5-LXXX réis falsa (tipo xem-xem), cobre.
6-Cobre com carimbo de 40, alterando
o valor.
7-Cobre de 75 réis, 1830 M com golpe
da lei.
8-D. Pedro II menino, 1834 R, 10.000 réis.
9-D. Pedro II papo de tucano, 1851,
20.000 réis.
10-D. Pedro II, 20 réis de bronze.
11-D. Pedro II em 20.000 de ouro de
1889, às vésperas da proclamação da
República.
12-França, perfil com barrete frígio que
inspira o dólar de Morgan de prata.
13-Efígie da República.
14-Moeda brasileira de ouro de 1889.
15-2.000 réis de 1906 com peso declarado:
XX grammas.
16-Real em circulação em 2011.
O imaginário social que não conseguiu contaminar as
moedas brasileiras
Sol Argentino - Províncias del Rio de La
Plata com marca de Potosi (Bolívia), AR
8 reales, 1816 (38mm, 26,60g)
Barrete frígio na ponta de bastão ou espadim no anverso, seguro por mãos entrelaçadas. A
posição das mãos é comum na simbologia adotada para propagandear acordos (em geral,
frágeis) de césares e comandantes de legiões romanas. Sol com raios no reverso. Legenda En
union y libertad. A região onde hoje se encontram Argentina, Uruguai e Paraguai foi palco secular de disputas entre portugueses e espanhóis. Os reales cunhados com a prata de Potosi
e outras minas da costa leste da América do Sul atravessavam as fronteiras com facilidade. O
barrete frígio que aparece no anverso dos reales tentou, sem sucesso, entrar no dinheiro brasileiro. Numismatas não chegaram a um consenso sobre se moedas com esse carimbo, batizado
Piratini, efetivamente circularam. Os carimbos foram amplamente falsificados.
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
A imagem de D. Pedro II, que dominou as moedas com retratos de criança, adolescente, adulto
e uma grande barba imperial, foi aposentada pela República em 1889. Surge a alegoria feminina com o barrete frígio, inspirada pela liberdade francesa que, por sua vez, copiou o barrete
romano e inspirou também outras moedas como o dólar de Morgan.
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A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
O período colonial durou mais no Brasil do que na América do Norte. O ciclo do ouro beneficiou Portugal e o esgotamento das minas gerou crises. Invasões de Napoleão Bonaparte
obrigaram a corte portuguesa a se transferir para o Rio em 1808. Carimbos de 960 réis foram
aplicados em reales de prata das colônias espanholas que valiam 750 no mercado. A diferença
ajudou a financiar o tesouro do reino. Ao contrário da América independente, onde as primeiras moedas foram cunhadas lembrando que “tempo é dinheiro”, as moedas imperiais brasileiras
mantiveram boa parte da simbologia do reino colonial. A transição do Império para a República foi tortuosa. Custos de guerra e gastos da corte aceleraram a inflação. Carimbos e mudanças
de padrão impediram a formação de uma memória brasileira de valor da moeda. Seguindo a
boa e velha lei de Gresham, moedas más expulsaram moedas boas de circulação. Moedas de
ouro foram entesouradas: D. João V, D. João VI e D. Pedro II. Moedas de cobre foram passadas
adiante, depreciadas por todos os tipos de falsificação e carimbos. O Barão de Mauá registra,
em autobiografia, a vergonha causada pelo cobre. O Brasil não foi o único país vitimado pela
praga do cobre falso entre os séculos XIX e XX. Nesse intervalo, a mente humana começava a
trocar a moeda metálica pelo papel-moeda. Leis rigorosas foram aplicadas para acabar com o
negócio em Nova York e alguns falsários passaram a operar no Brasil.
Rainha Vitória e Sherlock Holmes
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Meio soberano de ouro (1894) com
perfil da Rainha Vitória e São Jorge a
cavalo matando o dragão
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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O imaginário capturado pelo romanceiro popular ajuda numismatas a decifrar o valor do
dinheiro no tempo. Num livro de sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes paga meio soberano
a um personagem que atraiu para uma entrevista destinada a investigar suspeitos de um crime.
Doyle colecionava moedas. Outro escritor, Alexandre Dumas, usa o pistole francês para definir a
escala de valores dos mosqueteiros D’Artagnan, Athos, Portos e Aramis.
Entre os séculos XVIII e XIX, a linha do tempo mostra como se construiu o imaginário financeiro
num período em que o Império Espanhol caiu e o Império Britânico emergiu. Portugal fez
a aliança política certa quando preferiu a Grã-Bretanha à Espanha, escapando de Napoleão.
Parte do ouro brasileiro virou moeda inglesa ao longo de décadas das alianças que ajudaram a
consolidar a soberania brasileira na América do Sul entre os séculos XIX e XX.
Soberanos como o da história de Sherlock começaram a circular em 1489 sem marca de valor,
com 23 quilates e 240 grãos, 15,6g ou 1/2 onça troy. Em 1816, foram recunhados para pesar
113 grãos, ou 7,32228 gramas. O meio soberano de 1894 da coleção com marcas de uso dos
tempos de Sherlock, pesa 3,9 gramas (0,134041 oz ou 2.5 dwt). Durante a I Guerra, a GrãBretanha emitiu notas para troco por soberanos. Ninguém trocava.
República, perfil no anverso e
estrela no reverso (1897) 2000 réis
Usadas para pagar dívidas externas, muitas moedas brasileiras com belos desenhos são raras
porque foram derretidas por causa do valor da prata.
Liberdade com seio desnudo: um desafio à moral
vitoriana do início do século XX nos Estados Unidos
Alguns numismatas acham que a moral vitoriana forçou a retirada dessas moedas de circulação, pois o seio desnudo ofendeu as mentes mais puritanas.
Brasil, Revolução de 1932 –
Medalha: soldado/S.Paulo (1932)
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Liberdade com Seio Desnudo (Eua)
– In God We Trust (Standing Liberty) –
1917, 25 cents
Muitas são as explicações dos historiadores para as causas verdadeiras da Revolução de 1932.
As lideranças do movimento em São Paulo emitiram medalhas, aplicaram carimbos em moedas correntes e emitiram papel-moeda. Medalhas capturaram uma parte do imaginário da
época, como a associação do direito com a força através da imagem de São Paulo com a espada na mão.
Brasil, carimbos da revolução de 1932 –
sobre XX gramas de 1911 (1932), 2000 réis
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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Papel-moeda
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
As crises do início da República não contribuíram para criar um escudo sólido em torno do
dinheiro brasileiro. Os réis de prata do início do século passado, a exemplo dos 2.000 réis de
XX grammas, traziam o peso escrito no exergue (parte de baixo da moeda) para convencer o
usuário de que valiam mesmo alguma coisa. O papel-moeda emitido também reflete, através
da profusão de carimbos, a destruição da memória de valor do dinheiro. Em tempos recentes,
só o real conseguiu consolidar uma memória de valor.
1
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3
A História Política do Dinheiro na BM&FBOVESPA
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5
4
6
7
9
1-Banco do Brazil – Thesouro – 20 milréis. 1ª série, estampa 12ª, 1921.
2-República dos Estados Unidos do
Brazil – Thesouro – 1 mil-réis, 1ª série,
estampa 12ª, 1921.
3-Império do Brasil – Thesouro – 1 milréis, 1ª série, estampa 12ª, 1921.
4-República dos Estados Unidos do
Brazil, 2 mil-réis, estampa 11ª, 1918.
5-República dos Estados Unidos do
Brazil , 20 mil-réis, com carimbo Caixa
de Estabilização, 1926.
6-Casa da Moeda – 500 mil-réis, com
carimbo de 500 cruzeiros, série 137A,
estampa 15A, 1942.
7-Banco Central do Brasil – 1.000
cruzeiros, com carimbo de 1 cruzeiro novo,
modelo série 000 ª, estampa 0ª, 1966.
8
10
8-Banco Central do Brasil – 10.000
cruzados, carimbo de 1 cruzado novo,
estampa Machado de Assis, 1989.
9-Banco Central do Brasil – 100 mil
cruzeiros, carimbo de 100 cruzeiros reais,
estampa de beija-flor, 1993.
10-Banco Central do Brasil –10 reais,
com autógrafo de Fernando H. Cardoso,
1994.
Realização
BM&FBOVESPA
Curadoria
Claudio Marcos Angelini
Coleção
Coleção Spinola – Nomus Brasiliana
Fotografia
Renata Del Soldato
Montagem
Manuseio Montagem e Produção Cultural
Laudos Técnicos de Conservação
Atelier Raul Carvalho
Iluminação
Mingrone Iluminação e Consultoria
COMUNICAÇÃO VISUAL
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