VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM
OBSTÉTRICA E NEONATAL
Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de
Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido
24 à 26 de junho de 2009
Teresina-PI
GRAVIDEZ DE ALTO RISCO:
A PERCEPÇÃO DAS GESTANTES
ISOLINA DE LOURDES RIOS ASSIS 1
MATILDE MEIRE MIRANDA CADETE2
ROBERTA RIBEIRO RIOS3
1
Professora na Faculdade de Enfermagem da Universidade Católica de Goiás (UCG).
Mestre em Enfermagem pela UFMG. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Saúde e Sociedade (NEPSS). Endereço: Rua 220 nº 905 Setor Universitário Goiânia-Goiás
CEP: 74603140. Fone: 062-39451343 /06296860339E-mail: [email protected]
2
Professora na Escola de Enfermagem da Faculdade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Doutora em Enfermagem.
3
Professora na Faculdade de Enfermagem da Universidade Católica de Goiás (UCG).
Especialista em Enfermagem Obstétrica pela UCG.
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GRAVIDEZ DE ALTO RISCO:
A PERCEPÇÃO DAS GESTANTES
No estudo, objetivou-se compreender os sentimentos vividos pelas gestantes de alto risco,
considerando ser esta uma das inquietações no cotidiano de nossa prática docente
assistencial. Percorrer o caminho metodológico da pesquisa qualitativa com abordagem
fenomenológica permitiu-nos a interação com 11 gestantes de alto risco internadas na
maternidade do Hospital Materno Infantil de Goiânia, no período de janeiro a março de 2003.
As entrevistas, realizadas com apoio na questão norteadora “Fale para mim o que é ser
gestante de alto risco” possibilitaram a compreensão de algumas dimensões dessa vivência,
abordadas na perspectiva de alguns pressupostos da fenomenologia existencial. A análise
dos depoimentos, as vivências e as leituras realizadas desvelaram seis categorias
temáticas, que são: internação abrupta, preocupar-se com, sintomas da gravidez de alto
risco, medo do vir a acontecer, cuidando e sendo cuidada e ser diferente. Com base na
compreensão deste fenômeno, vislumbram-se novas perspectivas para o cuidar/assistir a
gestante para o docente da disciplina materno-infantil. É preciso estar atento ao que a
gestante de alto risco revela. É necessário resgatar o humano que existe em cada uma para
repensar como se dará a assistência necessária. Deste estudo, emerge a percepção de que
pouca atenção e esclarecimento são dados às gestantes. É necessário escutá-las e acolhêlas de uma forma que possibilite a expressão dos seus sentimentos – preocupação, medo,
angústia. Dessa reflexão, coloca-se em discussão o exercício profissional do enfermeiro
como pessoa, ser de cuidado autêntico e com possibilidade de transcendência.
Descritores: gravidez de risco, gestantes-percepção, enfermagem.
ABSTRAC
This study had as proposal to reveal the phenomenon of the feelings lived by the pregnant
women of high risk, considering to be this one of my inquietudes in the daily of my practice
educational assistencial. Using me of the referencial fenomenologic and to the light of the
analytical existential of Martin Heidegger, I interviewed eleven pregnant of high risk in the
period of January to March of 2003, that they were interned at the maternity of the Hospital
Materno Infantil of Goiânia. The analysis of the depositions, my existences and the
accomplished readings, they revealed six thematic categories: abrupt internment, to worry
with, symptoms of the pregnancy of high risk, fear of coming to happen, taking care and
being taken care, and to be different. Starting from the understanding of the phenomenon of
the feelings lived by the pregnant women of high risk, I glimpse new perspectives for my to
take care / to attend to the pregnant woman, while educational of the maternal-infantile
discipline. It is necessary to be attentive to the that the pregnant woman of high risk reveals.
It is necessary to rescue the human that it exists in each a, to rethink as he/she will feel the
necessary attendance. Of this study, it emerges the perception that little attention and
explanation feels to the pregnant woman. It is necessary to listen to them and to welcome
them in a form that makes possible the expression of their feelings: concern, fear, anguish.
Key words: pregnancy of risk, pregnates-perception, nursing.
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1 INTRODUÇÃO
Minhas experiências no cotidiano do exercício da profissão de enfermeira
assistencial por 13 anos em uma maternidade pública de pequeno porte no
município de Goiânia, na assistência à saúde da mulher no ciclo grávido-puerperal e
como docente em supervisão de estágio em maternidades de referência para alto
risco fizeram-me perceber e identificar que, embora a gestação seja um processo
fisiológico, e, por isso mesmo, sua evolução ocorra, na maioria das mulheres, sem
intercorrências clínicas, há um número significativo de gestantes portadoras de préeclampsia e eclampsia, embora assistidas durante o pré-natal no sistema de saúde.
Esses diagnósticos conferem-lhes „risco‟ durante sua gestação.
Nos âmbitos internacional e nacional, as gestantes de risco representam de
10 a 20% do total das mulheres grávidas (ZAMPIERI, 1997, apud KEMP;
HATMAKER, 1989). Estas gestantes apresentam maiores probabilidades de
evolução desfavorável na gravidez, quer para o feto, quer para si, por estarem
expostas aos fatores de risco, sociais, econômicos, demográficos, comportamentais,
psicológicos, clínico-obstétricos ou por sofrerem de alguma patologia que surge ou
se agrava durante a gestação.
Na vigência dessas situações, deparei-me com gestantes que vivenciaram
perdas em internações por pré-eclampsia e por incerteza do que possa ocorrer na
gestação. Este „vivido‟ suscita em nós reflexões e indagações de como cuidar, de
forma integral, dessas gestantes, considerando o que se tem produzido nesta área,
conforme Zampieri (1997, p. 205):
na enfermagem brasileira, a gestação de alto risco e suas
intercorrências são pouco abordadas e, quando o são, normalmente,
enfatizam a dimensão biológica, centrando-se nos riscos,
privilegiando o modelo assistencial biologicista e curativo.
Cabe referir que a política do Ministério da Saúde no sentido da promoção da
maternidade segura visa garantir o pré-natal, humanizar o atendimento, além de
desenvolver atenção especial à parcela de mulheres grávidas portadoras de
doenças que se agravam com a gestação ou são desencadeadas nesse período,
constituindo o grupo de gestantes de alto risco (BRASIL, 2000).
A visão do processo saúde/doença, denominada Enfoque de Risco,
fundamenta-se no fato de que nem todas as pessoas têm a mesma probabilidade de
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adoecer ou de morrer, havendo entre elas diferenças bastante significativas,
estabelecendo um gradiente também diferenciado de necessidades de cuidados.
Nesse sentido, a política do Ministério da Saúde para o atendimento à mulher no
ciclo grávido-puerperal fundamenta-se no princípio de que as necessidades das
gestantes de baixo risco são resolvidas, de maneira geral, com procedimento
simples no nível primário de assistência, enquanto o grupo de alto risco geralmente
requer assistência mais especializada nos níveis secundário e terciário, com equipe
de saúde e tecnologias sofisticadas.
Acreditamos, outrossim, que todo o cuidar, incluindo, aí, as práticas
educativas desenvolvidas com as gestantes de baixo risco, é fundamental também
para as gestantes de alto risco, os seus familiares e as pessoas envolvidas neste
processo.
Zampieri (1997) afirma que a vivência da gestação de alto risco caracterizase por um processo extremamente complexo, dinâmico, subjetivo, diversificado,
individual e social. É uma experiência única, que se estende ao companheiro, à
família e à sociedade. Não é apenas um evento biológico. Pode gerar situações de
crise que envolvem transformações fisiológicas, psicológicas, sociais, econômicas,
culturais, espirituais e alterações de papéis, implicando a aceitação ou não da
gravidez. Esses aspectos são inerentes também ao processo de gestação normal,
mas se tornam uma experiência mais estressante em razão dos riscos a que estão
submetidos o feto e a mãe, que interrompem o curso normal da gravidez e
repercutem em todo o contexto familiar.
É sabido que, em decorrência da hospitalização, podem ocorrer, por exemplo,
mudanças no ritmo familiar pelo afastamento da mulher do seu domicílio, dos seus
familiares, das atividades profissionais e domésticas e pelas adaptações da gestante
às rotinas e hábitos instituídos em um novo ambiente.
Assim, o repouso parcial ou total, adotado como conduta terapêutica para o
tratamento das intercorrências na gravidez de alto risco, pode, por sua vez, gerar
nas gestantes problemas psicológicos e emocionais. Em vista disso, o cuidado
dispensado a elas deve ser o mais abrangente possível. De outra maneira, devido a
toda complexidade que envolve a gestação de alto risco, não se deve reduzi-la
apenas a seu aspecto biológico e ao tratamento das intercorrências, enfocando os
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riscos e a sobrevivência do bebê. É essencial ter-se em mente que a mulher e os
familiares também estão vivenciando o processo da gravidez e das crises a ele
ligadas. Como atesta Zampieri (1997, p. 205), “não se pode esquecer que as
gestantes e acompanhantes são seres humanos, que precisam ser compreendidos,
informados e fortalecidos, para que, desta forma, possam tornar-se agentes deste
processo”.
Como mencionado, uma das atividades desenvolvidas no pré-natal por
enfermeiros é o processo educativo, que tem como finalidade dar suporte às
gestantes de riscos, diminuindo-lhes o estresse e a crise decorrentes das
implicações da gestação, uma vez que, na medida em que facilita o enfrentamento
das dificuldades, minimiza os efeitos da hospitalização, favorecendo o repouso e a
diminuição de intercorrências que, porventura, possam acontecer, e orientando-as
sobretudo em relação ao controle de sua pressão arterial, que é um dos principais
sinais da pré-eclampsia. Neme (2000, p. 282) define a hipertensão gestacional como
“o aparecimento da hipertensão em conseqüência da gravidez, e que acontece após
20 semanas de gestação”. A gestante que apresenta pressão arterial diastólica
maior ou igual a 90mmHg associada a proteinúria maior ou igual a 300mg/urina de
24 horas e/ou presença de edema generalizado tem como diagnóstico a préeclampsia.
Observando e vivenciando a assistência à saúde e o processo educativo
desenvolvidos no pré-natal, relacionando-os com o evento da pré-eclampsia e
eclampsia, inquietações foram emergindo deste „vivido‟ com relação aos sentimentos
que a gestante desenvolve no que se refere aos transtornos e às incertezas que
podem ocorrer durante a gestação. Na minha visão ainda unilateral, instauram-se
medo, angústia e uma série de incertezas do vir-a-ser. E a gestante, o que sente?
Que significado doa ao que lhe ocorre na existência cotidiana agora trilhada com
proteinúria, edema, hipertensão, entre outros?
De início, busquei, na literatura, respostas para essas inquietações, pouco
encontrando. Vislumbei, no mestrado, a possibilidade de encontrar respostas para
os seguintes questionamentos:
- que sentimentos as gestantes vivenciam ao saber que sua gestação é de
alto risco? Elas percebem os riscos que correm?
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- o tempo, na consulta de pré-natal, gasto para o exame clínico e
orientações é adequado para atender estas gestantes em toda sua
especificidade?
- o processo educativo vigente no atual programa do pré-natal de alto risco
está contribuindo para as atitudes preventivas necessárias para a
diminuição dos riscos e das intercorrências indesejadas para as gestantes?
Assim, o estudo justifica-se pelo fato de que dará voz aos sujeitos gestantes
de alto risco e, com base na compreensão do sentido e „vivido‟ expresso por elas,
poder-se-á redirecionar as ações com a intenção de desenvolver um cuidado integral
e autêntico, engendrado das especificidades, singularidades e pluralidades
mencionadas pelas mulheres que realmente vivenciam o fenômeno em estudo. Por
outro lado, até a presente data, são raros ou inexistentes trabalhos de enfermeiros
concernente ao „vivido‟ e aos conhecimentos que estas gestantes têm dos riscos de
sua gestação. Acreditamos, portanto, ser relevante realizar esta pesquisa com o
objetivo de compreender os sentimentos vividos pelas gestantes de alto risco.
3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
3.1 IDÉIAS BÁSICAS DA FENOMENOLOGIA
Tendo em vista que este estudo busca compreender o „vivido‟ da gestante,
como cliente de uma maternidade de alto risco, na sua própria visão, a pesquisa
qualitativa foi considerada a melhor opção metodológica. Em primeiro lugar, porque
ela possibilita uma maior proximidade dos sujeitos, um mergulho no seu mundo-vida
e, em segundo, porque ela pressupõe um aprofundamento na realidade que não
pode ser quantificada, um aprofundar-se no mundo dos significados, da
subjetividade e da intencionalidade, das ações e relações humanas; um ir ao lado
não perceptível do fenômeno que não se mostra pelas equações e estatísticas
(TRIVIÑOS, 1987).
Na abordagem qualitativa, optei pela trajetória fenomenológica porque esta
modalidade de pesquisa não depende a priori de teorias explicativas, estando seu
maior enfoque centrado na compreensão do que se deseja conhecer, pois,
Para alcançar a compreensão do „vivido‟ da gestante de alto risco, buscou-se
fundamentar as reflexões no pensamento de Martin Heidegger (1889-1976), filósofo
alemão discípulo de Edmund Husserl, que, buscando o sentido do ser, dedicou-se
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ao estudo da existência humana em seu cotidiano, desenvolvendo uma analítica
existencial, uma ontologia.
Heidegger, em sua ontologia, afirma que o ser no mundo é o Ser-aí, ou
Dasein, ou seja, o modo de Ser-no-mundo pelo qual todos os seus modos de ser
são co-determinados. Para compreender o ser, é preciso entender que o homem
não é findo; ele se constrói na historicidade de sua vida e no relacionamento com
outros homens.
Tendo o sentido do ser como diretriz, a investigação já se encontra inserida
na questão fundamental da filosofia em geral, e o modo de tratar esta interrogativa é
fenomenológico.
A fenomenologia não é considerada por Heidegger um ponto de vista, nem
uma corrente, pois, antes de tudo, diz um conceito de método. Destaca, ainda, que o
termo fenomenologia “refere-se exclusivamente ao modo como se de-monstra e se
trata o quê” deve ser tratado nesta ciência (SIMÕES, 2002).
Para Heidegger (1998), a expressão fenomenologia diz “deixar e fazer ver por
si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a partir de si mesmo”.
Segundo Martins e Bicudo (1994, p. 23),
[...] a pesquisa qualitativa busca uma compreensão particular daquilo
que estuda [...] não se preocupa com generalizações, princípios e
leis [...] o foco de sua atenção é centralizado no específico, no
peculiar, na individualidade, almejando sempre a compreensão e não
a explicação dos fenômenos estudados.
[...] não se fazem análises prematuras ou construções explicativas a priori
nas descrições dos fenômenos [...] as descrições se referem às
experiências que os sujeitos viveram. Nelas estão a essência do que se
busca conhecer e a intencionalidade do sujeito (MARTINS, BICUDO, 1994,
p. 36).
Demo, citado por Minayo (1996, p. 35), foi muito oportuno ao comparar o
desvelar dos fenômenos sociais com a pintura, afirmando: “o que se pode ter dos
fenômenos sociais, é menos um retrato e mais uma pintura [...]”. Esta exposição
leva-nos a concordar com a autora acima citada, quando relata:
[...] pintura nos inspira a idéia de uma projeção em que a realidade é
captada em cores e matizes particulares, onde os objetos e as
pessoas são reinterpretados e criados num processo de produção
artística [...]. Nesta obra tanto o que é visível como as emoções e
tudo se une para projetar a visão da realidade (MINAYO, 1996, p.
35).
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Projetar o „vivido‟ das gestantes de alto risco, compreendendo-o, é a intenção,
sabendo, de antemão, que à medida que torno claro uma faceta desta realidade
outra permanece oculta, encoberta.
É importante ressaltar que a compreensão e a interpretação do fenômeno não
ocorrem de maneira isolada, mas em uma região de fenômenos co-percebidos,
contando com o rigor do pesquisador. De acordo com Martins e Bicudo (1994, p. 19),
[...] sujeito e fenômeno estão no mundo-vida juntos com outros sujeitos, copresenças que percebem fenômenos. A co-participação de sujeitos em
experiências vividas em comum permite-lhes partilhar compreensões,
interpretações, comunicações, desvendar discursos estabelecendo-se a
esfera da intersubjetividade.
A intersubjetividade é essencial em fenomenologia, pois a essência do
fenômeno sempre emerge de atos de significação. Para o investigador
fenomenológico, as coisas só podem ser olhadas atentivamente quando surgem na
experiência da pessoa que as vê.
Para Martins e Bicudo (1994), a trajetória fenomenológica é constituída por
três momentos básicos: a descrição, a redução e a compreensão, que engloba a
interpretação dos dados.
O primeiro momento da investigação é a descrição fenomenológica, onde
ocorre o encontro do pesquisador com o fenômeno por meio das descrições dos
sujeitos que o vivenciam e constituem a matéria-prima para a análise. O pesquisador
se defrontará com um conjunto de significados, procurando, nesse momento, ver o
fenômeno com base em sua própria realidade, ou seja, a percepção do fenômeno se
dará tal qual se manifesta no „vivido‟.
O segundo momento diz respeito à redução fenomenológica, no qual o
pesquisador busca a essência do fenômeno e a compreensão de como o sujeito vê
a situação. Seu objetivo é determinar, relacionar e apontar, nas descrições, as
partes consideradas essenciais e as que não o são. O investigador, ao mobilizar o
seu próprio pensar, seleciona as partes dos discursos individuais que permitem que
a essência do fenômeno se mostre. Ele se coloca no lugar dos sujeitos para refletir
suas vivências descritas e, assim, atribuir-lhes significados (TRIVIÑOS, 1994).
Neste momento, o pesquisador coloca o fenômeno estudado em suspensão,
o que Husserl denominou de “epoché”, quer dizer, retirada de toda a crença, todos
os pré-conceitos, teorias e explicações apriorísticas (FINI, 1997).
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O terceiro momento da trajetória fenomenológica é o da compreensão dos
dados, pois, muitas vezes, na linguagem, o sentido permanece oculto. É uma
tentativa de explicitar o significado do que é essencial na descrição e na redução,
envolvendo uma interpretação. O pesquisador está, assim, caminhando para o
desocultamento do fenômeno investigado.
A compreensão se torna possível quando o pesquisador obtém o conjunto de
asserções significativas para ele, extraídas das experiências vividas pelo sujeito, e
transforma-as em proposições que sustentam o que ele está buscando.
Numa pesquisa qualitativa, é essencial que se estabeleça uma boa relação
entre o sujeito e o pesquisador. Neste estudo, a fonte principal de informações foi a
gestante de alto risco, que as me passará por meio da fala. A fala é a expressão
maior do ser humano e é por intermédio dela que interagimos com o mundo.
Assim, será utilizada a entrevista aberta para coletar tais informações, de
modo a possibilitar a busca da essência do fenômeno mediante os relatos das
gestantes envolvidas na pesquisa.
Para Ludke e André (1986, p. 34), “a grande vantagem da entrevista sobre
outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação
desejada [...]”. E, na concepção de Carvalho (1987), a entrevista fundamentada em
uma metodologia fenomenológica descarta modelos, projetos e valores últimos que
possibilitam um saber “sobre” o informante, possibilitando um saber “do” informante.
Reportando-me aos dizeres de Minayo (1996, p. 55), “a fenomenologia é
considerada, dentro das Ciências Sociais, a sociologia da vida cotidiana”. Assim, o
contato do pesquisador com o fenômeno dar-se-á à medida que o sujeito for
descrevendo sua vivência e seu cotidiano. Conseqüentemente, o fenômeno irá
sendo desvelado com diferentes significados.
3.2 CENÁRIO E SUJEITOS DO ESTUDO
Os sujeitos deste estudo foram 11 gestantes internadas nas enfermarias
destinadas às clientes de alto risco do Hospital Materno Infantil, instituição pública
estadual que é referência para a gravidez de alto risco em Goiânia, no período de
janeiro a março do ano de 2003, e que não apresentaram nenhum tipo de
complicação que impedisse sua comunicação.
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A escolha da instituição deveu-se ao fato de ser ela um campo de prática para
alunos da universidade e com o qual eu convivo há alguns anos como supervisora
desses alunos. É importante ressaltar que, desde o início, o estudo pautou-se nas
determinações da resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,
1996), a qual discorre sobre os aspectos ético-legais dos trabalhos de investigação
científica, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG.Os
discursos foram colhidos após contato e agendamento individual com as gestantes
que aceitaram participar do estudo.
Foi-lhes entregue e explicado o termo de consentimento livre e esclarecido
(Anexo II), deixando claro para elas que sua identidade seria preservada e que
poderiam desistir de participar da pesquisa quando quisessem.
Solicitei-lhes também o consentimento para gravar os discursos, o que foi
prontamente aceito. Após os esclarecimentos necessários, as explicações
detalhadas da pesquisa e a assinatura do termo de consentimento, pedi que
relatassem a sua vivência como gestante de alto risco, a partir da seguinte questão
norteadora:
– Fale para mim o que é ser uma gestante de alto risco.
Todas as pacientes abordadas consentiram em participar da pesquisa.
As entrevistas foram realizadas em uma sala de reuniões, exceto uma, feita
no leito de uma paciente com estado de saúde instável, que, apesar dessa condição,
consentiu em ser entrevistada. Pedi para que a colega do outro leito e sua
acompanhante aguardassem na sala de reuniões durante a entrevista, no que fui
atendida.
As entrevistas transcorreram em clima de segurança e tranqüilidade. A partir
da questão norteadora, as entrevistadas ficaram livres para falar sobre o assunto,
sem limite de tempo. Em alguns momentos, foram necessárias algumas
intervenções.
Quero registrar a satisfação que senti ao realizar essas entrevistas e no
momento de transcrevê-las, em que foi possível revivê-las, já captando a sua
essência. Sempre me preocupei com a gestante de alto risco, compartilhando com
elas a grande ansiedade ante a sua gestação. Configurava-se ali, face a face, aberta
para a escuta, absorvendo cada palavra, cada frase e cada sentido, o que vivenciam
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enquanto gestantes com probabilidades de danos à própria saúde e a do bebê.
Faziam eco para mim o que pensava e o que não pensava dessas mulheres.
Ao realizar as entrevistas, procurei estabelecer uma relação de empatia com
a gestante, um estar-com-o-outro.
Para garantir o anonimato, ao omitir seus nomes verdadeiros, as gestantes
foram „rebatizadas‟ com nomes de flores, na intenção de homenageá-las em sua
beleza e força, como: Acácia, Azaléia, Begônia, Flamboyant, Jasmim, Lírio,
Margarida, Orquídea, Rosa, Tulipa e Violeta.
Na fenomenologia não existe, como nas ciências naturais, um critério que
determine, antecipadamente, o número de pessoas participantes da pesquisa.
Assim, as entrevistas foram coletadas de duas a três por dia, não simultaneamente,
mas agendadas com horários distintos. Na décima primeira entrevista, percebi a
ocorrência da saturação dos dados, permitindo o desocultamento de parte do
fenômeno, considerando-se a proposta do estudo e confirmando a assertiva de
Heidegger (1998, p. 38) ao dizer que “[...]o ser-com é partilhado no discurso [...] é
através dele que a presença se pronuncia”.
A partir daí, seguindo os passos propostos por Martins e Bicudo (1994), retirei
as unidades de significado de cada discurso, lendo-as reiteradas vezes e obtendo o
sentido contido nelas. Posteriormente, por convergência, essas unidades foram
agrupadas, formando nove unidades temáticas, que são aqueles extratos que
focalizam as diversas acepções sobre o fenômeno em estudo.
Fiz nova incursão nessas unidades, as quais, após a segunda redução,
deram origem a seis grandes categorias, sendo uma delas uma idiossincrasia.
6 Neste período, realizei, também, busca de literatura pertinente ao
encontrado nos discursos e outros referenciais que pudessem sustentar
sua análise compreensiva.
4 ANÁLISE COMPREENSIVA DOS DISCURSOS
Na abordagem fenomenológica, não basta chegar junto à depoente e lançar a
questão norteadora. É necessário que a depoente mostre-se „aberta para‟, que surja
entre pesquisador e pesquisado a relação empática. Este é um momento de intensa
reflexão e percepção do investigador diante de cada depoente, que o leva a um
movimento também de singularidade.
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Heidegger (1998) nos fala que só nos fenômenos é possível conquistar o
modo de encontro com o ser e suas estruturas. E, como ponto de partida das
análises, deve-se o acesso aos fenômenos e à passagem pelos encobrimentos
vigentes, o que exige uma segurança metódica particular.
Cabe rever os dizeres de Critelli (1996) referentes aos dados coletados por
instrumentos de registro, sejam entrevistas, visitas ou desenhos. Todos são válidos
em uma investigação. Não se pode, entretanto, crer que, por si, sejam capazes de
revelar a totalidade do buscado ou se transformarem no próprio buscado.
4.1 INTERNAÇÃO ABRUPTA
4.1.1 Internação Repentina
O internar-se no hospital é um momento que pode gerar ambigüidade de
sentimentos: felicidade porque chegou a hora do nascimento do filho, ou
insegurança, medo e angústia porque não houve previsão e, às vezes, tempo para
se preparar para o sair de casa, de perto dos familiares e adentrar o mundo
hospitalar. Para muitas gestantes, a internação não planejada, precipitada, traz,
ainda, transtornos no mundo do trabalho.
Assim, as gestantes de alto risco não têm tempo para pensar, programar e
organizar o cotidiano privado e o público. São lançadas, abruptamente, de um lugar
para outro, ou seja, de uma consulta rotineira para a enfermaria do hospital.
Algumas ficam internadas após o resultado de exames, após a aferição de sua
pressão em uma consulta de pré-natal.
Olivieri (1985), ao dizer que a doença provoca uma agressão, uma solução de
continuidade entre o viver anterior e o presente, tornando o futuro incerto, faz-nos
refletir sobre a internação abrupta, que não permite ao ser humano uma adaptação
gradativa à facticidade e, portanto, a um preparo psicológico.
Há reações da gestante ao ambiente desconhecido do hospital, que traz
angústia por motivos diversos, até a ausência de informação pode causar problemas
e reações imprevisíveis por parte dela. Ao ser internada, há sempre grande
modificação no seu modo de viver e surgem carências antes inexistentes (OLIVIERI,
1985). As falas a seguir, mostram este vivido:
É a primeira vez que eu tô ficando internada no meio de hospital
devido a minha gravidez, devido ser de alto risco [...] (Acácia).
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[...] agora, por exemplo, eu me internei antes de ontem... porque a
doutora pediu para eu transferir o meu pré-natal pra cá, por ser de
alto risco, então eu fui lá no meu médico, lá da Colina Azul, e pedi
para ele trazer pra cá minha transferência. Aí, eu cheguei aqui e eles
me deixaram internada... aí, eu tive que avisar minha família que eu
não ia pra casa, eu ia ter que ficar internada já [...] (Begônia).
[...] eu estava fazendo pré-natal normal, cheguei lá, internei no
Sábado. Aí, eles falaram pra mim que eu tinha que vim pra cá, pra
Goiânia [...] (Flamboyant).
Essas palavras denunciam o não ser livre para decidir ou adiar o momento da
internação – “tinha que” [...]–, ou seja, a clínica, o corpo biológico da gestante
impõem, sem restrições, que ela seja internada imediatamente. Em muitas
situações, o conhecimento que a gestante tem relativo a si, sendo de alto risco, não
foi adquirido previamente ao desvelamento do diagnóstico. Ela tem uma bagagem
ínfima de conhecimento, uma vez que não houve tempo para apreendê-lo, e o
tempo cronológico exige tomada de decisão rápida e precisa, na maioria das vezes,
pautada no aqui e agora, como apontam as unidades de significado a seguir:
[...] mas eu fiquei sabendo que era de alto risco na Segunda-feira,
porque minha pressão nunca tinha subido, foi a primeira vez, cheguei
aqui e já fui internada [...] (Jasmim).
[...] cheguei aqui, fui internada, já fiquei na triagem em observação.
Três horas da tarde eu vim pro leito [...] (Violeta).
[...] eu fiquei sabeno aqui mesmo, vim só pra fazer um exame,
cheguei aqui o médico falou que tava com eclampsia... Só falou isso,
não falou mais nada [...] (Margarida).
Há que se pensar que, apesar da opção por se internar não ter sido pensada
e planejada a priori, há contingências da vida que demandam atitudes imediatas.
Instaura-se, assim, o agir rápido, o „ter que‟, independente da vontade e do desejo.
Cabe lembrar que a liberdade, na concepção aristotélica, “é o princípio para escolher
entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato voluntário”. O ser
humano não é livre para escolher tudo, mas o é para fazer tudo quanto esteja de
acordo com a sua capacidade de agir, graças ao conhecimento que possui acerca
das circunstâncias em que vai agir (CHAUÍ, 2000, p. 360).
Diante desses dizeres, apreende-se que as gestantes, ao tomarem
conhecimento da premência de sua internação, tomam parte ativa da decisão
médica, aceitando e compreendendo ser necessário hospitalizar-se. Afinal, é um
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período, é um tempo cronológico e vivido ali, que a pressão alta ou a eclampsia
impõem que assim o seja.
É necessário refletir que a existência humana, o mundo e o presente formam
um campo de condições e circunstâncias que não foram escolhidos por nós e em
cujo interior nos movemos. Chauí (2000) afirma que há um passado, um presente e
um futuro e, diante desse campo temporal, podem-se assumir duas atitudes: a ilusão
de que se é livre para mudá-lo em qualquer direção que se desejar, ou a resignação
de que nada se pode fazer.
Sob esse aspecto, é fato que as gestantes de alto risco não escolheram “ser
de alto risco” mas mostraram-se livres ao permanecerem internadas abruptamente,
porque, na verdade, reconheceram ser possível, assim, mudar sua condição clínica
para oferecer a si e ao filho maiores possibilidades de sentir-se e nascer bem.
4.1.2 Estar Longe da Família
A linguagem verbal de muitas gestantes expressou, com intensidade, o
desejo de voltar para casa, para junto de seus familiares, de suas atividades, para
seu mundo privado, pois a internação foi abrupta e, às vezes, dolorosa para elas,
porque foi cercada de incertezas, de reticências... não sabiam quando retornar ao lar
e para próximo das pessoas com quem compartilham a própria existência:
[...] é que a gente sai, longe da família, deixa a família longe, vem pra
cá, não sei quando vou embora, não sei quando vou voltar [...]
(Acácia).
Marcon e Waidman (2003, p. 251) relatam “que a família pode ser vista como
um ambiente seguro, aonde todos retornam para descansar e repor suas energias
físicas ou mentais [...]” É na família, na maioria das vezes, que a pessoa se sente
protegida, amparada, cuidada. É aí, na família, que, inicial e socialmente, acontecem
a interação, o encontro intersubjetivo e significativo de pessoas que compartilham do
mesmo mundo.
Ser lançada no mundo hospitalar, sem aviso prévio, possibilita, talvez, encarar
esse mundo como agressivo, impessoal, frio e inóspito. No entanto, com o decorrer
dos dias, do ir-se habitando o mundo da enfermaria de gestantes, juntamente com a
compreensão da necessidade da internação e tratamento, esse desejo imperativo de
retorno à casa vai diminuindo gradativamente e a gestante acaba não desejando a
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alta hospitalar até que tenha a certeza de que tudo esteja bem com ela e com o filho.
Sente-se cuidada, mais orientada e tranqüila.
[...] eu senti assim [...] querendo voltar pra casa, mas se eles acham
que é melhor a gente ficar, tem que procurar ficar calma e vai dar
tudo certo [...] (Begônia).
[...] mas agora tô mais tranqüila devido meu filho, porque sei que
meu filho tá bem, Graças a Deus. Isso é importante, né, a saúde do
meu filho, ele tá bem (Acácia).
[...] agora eu já estou melhor. O médico passou aqui e disse que vai
tirar o nenê. Estou só com 36 semanas... eu não tinha problema
nenhum, começou agora [...] (Margarida).
De acordo com Tedesco (1999), a hospitalização pode ser considerada como
o principal dos cuidados obstétricos dispensados à gestante de alto risco, mas, em
razão de seu caráter intrinsecamente estressante, representa verdadeiro desafio
adaptativo à grávida e à sua família, pois significa a conscientização da doença e de
suas conseqüências.
O conhecimento interiorizado com o passar dos dias e com as orientações
recebidas, trazem à baila a importância do conhecer-se e ser sujeito na história de
vida que é de cada uma. Assim, a internação passa a ser encarada e assumida
como condição sine qua non para o existir do filho e de si.
4.2 PREOCUPAR-SE COM
No imaginário das mães, durante a gravidez, elas se vêem diante de um bebê
saudável, bonito e gordo. Ao ter a possibilidade da antecipação de seu parto, já se
vêem diante de um bebê prematuro, de baixo peso, necessitando de cuidados
especiais. Será cuidado por profissionais que elas não conhecem, alimentado por
outros meios que não o seu seio materno. Surge a preocupação com a capacidade
de manter vivo seu bebê, se conseguirão fazê-lo crescer e se desenvolver
fisicamente.
Muitas mães, especialmente nas primeiras noites, levantam para ver se o seu
bebê está respirando, se está adormecido, se está bem. A mãe de um recémnascido prematuro passa noites separada de seu filho, preocupada com o modo que
ele estará sendo cuidado. Se a mãe tem outros filhos, a preocupação dobra, pois,
longe de casa, fica sem saber, ao certo, como e com quem está, pois a ela, mãe, foi
dada toda a responsabilidade de cuidar dos filhos.
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Maldonado (1991) nos diz que essa responsabilidade atribui à mãe o papel de
personagem central da família. As manifestações do crescimento saudável do filho,
ao longo de seu desenvolvimento, aumentam a autoconfiança da mãe, que alcança
o objetivo de sua existência. A maternidade é definida como a suprema capacidade
criativa do ser humano e também conceituada como a relação da mãe e do filho,
incluindo aspectos sociológicos, fisiológicos e afetivos.
Se um filho está por nascer prematuro e outro, longe de seus cuidados, a mãe
se preocupa. Freitas (2000) diz que o amor materno é a expressão afetiva direta da
relação positiva com o filho, e sua principal característica é a ternura.
Em
relação
às expectativas
das
gestantes nesta
gravidez,
muitas
demonstraram preocupação com seus bebês, medo de nascerem mortos ou
prematuros, com menos chances de sobreviver, o que nos faz crer que as gestantes
imaginam como serão seus filhos e pensam que os poderão ter, mas não da forma
como sonhavam:
[...] eu tava tranqüila, trabalhando, aí, o dia que eu fiquei sabendo
que era de alto risco, era pré-eclampsia, eu fiquei preocupada [...]
(Acácia).
[...] eu já fiquei preocupada, porque quando encaminha pra Goiânia,
já é um caso mais de risco [...] (Flamboyant).
[...] meu filho, por ser prematuro, ele tem menos chances de
sobreviver [...] (Lírio).
[...] minha primeira gravidez, é complicado, muito complicado, a
gente passa o tempo todo de uma gravidez, invés de passar quieto
sem preocupação, mas fazer o quê? (Orquídea).
[...] e, às vezes, ele nascer com baixo peso... aí, a gente fica triste
por causa disso [...] (Tulipa).
A existência de outros filhos deixados em casa, às vezes sem ninguém para
cuidar, cria na paciente uma preocupação a mais, sobretudo por sentir-se incapaz de
desempenhar seu papel de mãe, o que aumenta suas ansiedades e preocupações
com as responsabilidades maternas:
[...] tá tudo bem, né, o nenê tá tudo bem, comigo também, tá tudo
bem. Eu só preocupo com meu outro filho que tá em casa, eu tenho
outro de quatro anos [...] (Begônia).
Heidegger (1998, p. 173) mostra que a preocupação responde aos aspectos
ontológicos do ser. Preocupação é ocupar-se, no sentido de instituição social.
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Entretanto, na maior parte das vezes, e antes de tudo, pode-se manter modos
deficientes de preocupação: “ o ser por um outro, contra um outro, sem os outros, o
passar ao lado do outro, o não sentir-se tocado pelos outros são modos possíveis de
preocupação”. Esses modos caracterizam a indiferença e deficiência da convivência.
Há, contudo, ainda, na concepção de Heidegger (1998) o modo positivo da
preocupação. Esta não substitui o outro e não o coisifica. Ao contrário, ajuda o outro
a tornar-se transparente para si mesmo e livre para o cuidado.
A „preocupação‟ verbalizada pelas gestantes deste estudo aponta que ela se
alicerça no desejo de uma convivência autêntica, de um cuidar que transcende o
próprio cuidar, pois o estar bem do filho que vai nascer e do que ficou em casa é
prioritário, entre as situações e nuances que podem acontecer.
4.3 SINTOMAS DA GRAVIDEZ DE ALTO RISCO
Somos seres no mundo enquanto seres de presença e, assim, somos um
corpo enquanto corpo vivido e não meramente um conjunto de órgãos de que a
anatomia e a fisiologia falam e estudam. Este corpo-objeto distancia o homem do
papel do corpo enquanto sujeito e de sua função perceptiva. Como bem atesta
Merleau-Ponty (1999), a inerência do homem ao mundo se dá de maneira
espontânea, na sua existência concreta, quando todos os seus sentidos estão
abertos às diversas manifestações corporais.
Trazendo para nossas gestantes essa concepção de corpo-sujeito, fenomenal
e próprio, pode-se afirmar que seus corpos são a expressão primeira de que algo
não está bem e precisa de ser compreendido. Esta expressividade corpórea anuncia
a presença de sintomas significativos de um cuidado médico mais intensivo,
criterioso e humano.
Dessa forma, o corpo, que tanto pode sentir, como ser sentido, ver, como ser
visto, não é apenas objeto nem apenas sujeito; ele se encontra nessa dualidade, e,
para nós, profissionais da saúde, fica patente que os sintomas requisitam
tratamento, medidas objetivas, e a mulher-gestante precisa de cuidado autêntico, de
compartilhar seus medos, anseios e suas expectativas. Não são só a hipertensão, o
edema e os escotomas que falam pelo corpo gestante, há todo um universo
simbólico que circunda essa mulher que gesta com alto risco.
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4.3.1 Hipertensão: Sinal de Alarme
A hipertensão é um dos sintomas da pré-eclampsia que mais apavora as
gestantes, pois, em razão dela, outros sinais e sintomas vão aparecendo e se
agravando durante a gestação. No início, a paciente apresenta um aumento da
pressão arterial definida como pressão sistólica maior ou igual a 140mmHg e
pressão diastólica maior ou igual a 90mmHg, acompanhada de proteinúria e de um
súbito aumento de peso igual ou superior a 500g/semana, chamado de edema
oculto, na definição de Rezende (2003). Com o agravamento dos sintomas, em
virtude da irritabilidade do sistema nervoso central, a gestante apresenta cefaléia,
escotomas, amaurose, antecedendo a instalação das convulsões. Em suas falas,
elas evidenciaram esses sintomas como dando início à gravidade de sua gestação:
[...] eu tenho problema de pressão alta [...] (Azaléia)
[...] olha, sinto pressão alta, sinto problemas nas vistas, agora, por
exemplo, nessa gravidez eu não tô sentindo ainda porque a minha
pressão, eu cheguei aqui tava 17 por 13, mas na primeira gravidez
chegou a ir 30 por 29 [...] (Begônia).
[...] nessa agora, minha pressão aumentou, tava 20 por 12, aí eu tive
que vir pra cá... lá não tinha condição, não tinha aparelho, não tinha
como... se acaso o nenê nascesse, lá não tem UTI [...] (Flamboyant).
[...] como diz o outro, só pressão alta demais, alterou mais foi pra
mim, não pra ela, o risco não correu tanto... a minha sorte é que
quando cheguei aqui, a pressão tava 18 por 8. Então tava muito alta
[...] (Jasmim).
[...] e aí, com isso, eu tenho... sou hipertensa e... com a gestação,
principalmente depois do quinto mês, que não é a primeira vez, é que
começa a complicar...a pressão sobe mais, eu entro em trabalho de
parto, essas coisas [...] (Lírio).
[...] porque minha pressão tem dia que tá lá em cima, outra hora tá lá
embaixo [...] (Orquídea).
O corpo-próprio vive a hipertensão e a transforma em significação, que é,
essencialmente, comunicativa. Desse conhecimento, nasce o cuidar integral a ser
prestado pela equipe de saúde. O cuidado requer conhecimento do outro ser. O
cuidador deve ser capaz de entender as necessidades do outro e de responder a
elas de forma adequada.
Heidegger (1998) nos traz a noção de “cuidado autêntico”, entendido como o
exercício do poder do ser, que necessita de cuidado para cuidar de si mesmo. O
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cuidado autêntico não é uma forma de ensinar autocuidado, mas uma forma em que
o cuidador, sutilmente, possibilita ao outro conhecer e utilizar suas próprias
capacidades, sem criar dependência, que é muito comum nas situações de cuidado.
Waldow (2001) cita Roach (1993) quando esta, defendendo o cuidar como
uma forma de expressão de nossa humanidade, refere que ele é responsivo. Para
ela, o cuidado, como uma resposta, afirma valores ontológicos pertinentes à
natureza da coisa tal como a dignidade da vida, a preciosidade do ser humano.
Outros Sinais/Sintomas da Gravidez de Alto Risco
No que diz respeito à presença da cefaléia, as gestantes se referiram a uma
forte dor de cabeça, bem como aos escotomas. Estes são definidos em Blakiston
(1990) como uma região da visão ausente ou deprimida no campo visual, cercada
por uma zona de visão normal ou menos deprimida. Das falas das gestantes,
apreende-se que elas comparam os escotomas a pontos de luz, bolinhas vermelhas
que apareciam em sua visão.
Outras queixas apresentadas pelos sujeitos desta pesquisa se referem a “ficar
sem enxergar” e ver “bolinhas vermelhas”. Blakiston (1990) define a amaurose
parcial fugaz como a cegueira parcial associada a cefaléias, vertigens e escotomas.
É, geralmente, brusca, transitória e rara. Os enunciados a seguir expressam esses
sintomas:
[...] aí, eu não tava enxergando praticamente nada, e inchada
demais, foi só isso que eu senti [...] (Begônia).
[...] eu fazia pré-natal direitinho... começou assim... as vistas
começou a dar bolinhas vermelha, e os pés começou a latejar e...
começou a atacar a dor de cabeça, aí, eu corri pra cá (Violeta).
Prosseguindo,
o
corpo
não
é
um
todo
fragmentado,
com
partes
independentes entre si, mas uma unidade cujas partes se relacionam e cujas
equivalências garantem o “ser corpo” (MERLEAU-PONTY, 1999).
As gestantes, mesmo definindo a cefaléia e o enxergar quase nada, não
conseguem isolar apenas essa parte do corpo como disfunção. É o corpo, como um
todo, que está adoecido, é ele, como um todo, que fica embebido pela sensação de
estar doente. No início da gestação, o edema oculto é o aumento subitâneo de peso
igual ou superior a 500g/sem. É o sinal mais precoce da pré-eclampsia.
Posteriormente, torna-se visível e é do tipo generalizado: engrossamento dos dedos
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das mãos, face vultosa e abdome aumentado. É a anasarca, ou seja, edema
generalizado. A gestante se acha estranha, identifica sinais e sintomas que não são
esperados em uma gestação. Expressa uma estranheza em relação ao seu corpo, à
sua gestação. Essa estranheza pode ser exemplificada com os depoimentos das
gestantes que assim se expressaram:
[...] na hora que eu cheguei aqui no hospital eu tava inchada demais,
muito dormente, não sentia nada... mas o inchado ainda continua! Eu
tava tão inchada que eu tava deformada, quase que eu ia estourar, e
dor no corpo, eu acho que a pele esticou demais, né, as mãos nem
fechavam, perdi até o tato [...] (Jasmim).
[...] desde que eu fiquei grávida, já comecei a inchar, comecei a ter
sintomas de uma gravidez de alto risco [...] (Lírio).
[...] tava sentindo muita dor na barriga, nas costas... Quarta-feira, deu
dor de cabeça, não tava muito forte não, mas fiquei tonta. Já tinha
umas duas semanas que eu vinha inchando [...] (Margarida).
[...] eu não tô sentindo muito bem, eu sinto durmência nas mãos, no
rosto, tô inchando demais, sabe? Eu tava fazendo pré-natal e, aí,
depois, senti uma dor muito forte no estômago e falta de ar (Tulipa).
As gestantes explicitam aquilo que lhes é visível e sentido: a hipertensão e o
edema. Algumas mencionam, ainda, os escotomas. Dessa forma, a proteinúria, tão
essencial para o diagnóstico, não é verbalizada por algumas delas, porque não é
percebida.
Para Merleau-Ponty (1999), há equivalência intersensorial, que pode também
ser chamada de “extensão afetiva” dos membros do nosso corpo, pois todos eles
estão envolvidos e relacionam-se entre si por intermédio dessa equivalência. Ela
garante a unidade corporal, por possibilitar uma comunicação entre os diferentes
dados visuais, táteis e motores. Nesse sentido, nossas gestantes, com o corpopróprio, assimilaram, codificaram e relacionaram todas essas sensações.
MEDO DO VIR A ACONTECER
Uma forte perspectiva do fenômeno em pauta converge a partir do momento
que a maioria das depoentes desvelou o medo de morrer e de perder o bebê. Há,
explícita nas falas de todas elas, a compreensão de que a morte é dupla: da mãe ou
do bebê ou de ambos.
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Em relação ao nascer e ao morrer, esses dois momentos têm sido tratados como
exclusivos e merecido atenção diferente por parte do pessoal da área de saúde. O
estudo da morte é particularmente difícil. Temos, contudo, que levar em
consideração um fato incontestável: o homem morre!
Jaspers (1993) afirma que nossa vida está posta entre dois parênteses:
nascimento e morte. Só nós, humanos, temos consciência disso. Do nosso
nascimento, não temos lembranças; não guardamos experiência do início de nossa
vida, mas todos estamos destinados à morte, mesmo ignorando o momento que ela
virá; ela é a maior de todas as certezas.
Por sua própria natureza, o homem é mortal. Ele tem uma única história de
sua vida na terra. A morte pertence à sua realidade histórica tanto quanto o
nascimento. Para Haering (1984), quando dizemos que a morte faz parte da própria
natureza do homem, isso não significa que ele experimente a morte como algo muito
natural. É diante da morte que o enigma da existência humana se torna mais agudo.
A consciência puramente vital desconhece a morte. Ignorando o momento
que ela virá, procedemos como se nunca devesse chegar. Em verdade, vivendo, não
acreditamos, realmente, na morte. Costumamos dizer que o que nasceu deve
morrer. A ciência biológica não se contenta com isso. Seria interessante conhecer o
porquê. O retardamento do processo de envelhecimento é um tema muito estudado,
mas mesmo se prolongando artificialmente a vida, um dia a morte chega (JASPERS,
1993).
Morte, no sentido muito amplo, ou melhor, no mais universal possível,
significa “cessação do processo vital em um organismo vivo”. Na linguagem da
biologia molecular, é a “dissolução da estruturação molecular necessária para o
fenômeno da vida”. Uma definição muito comum da morte é a que diz que “a morte é
a separação da alma e do corpo” (MONDIN, 1980, p. 301).
A vida humana no corpo é uma vida rumo à morte. No meio de nossa vida, a
morte é nossa vizinha. Para Haering (1984), o modo como encaramos a morte, a
nossa própria e a dos outros, é um dado revelador da vida da pessoa e da qualidade
de nossa sociedade e de nossa cultura. É um critério básico de como encaramos a
verdade, já que esta inclui a verdade de que nossa vida se destina à morte.
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Apesar das variadas definições pautadas na visão de mundo e de contexto
histórico e espacial de quem as fazem, tememos a morte, e esta nos provoca
angústia e medo, seja a minha morte ou a morte de quem amamos.
Podemos apreender nas falas das gestantes que o medo da morte é duplo: o
medo de morrer e da morte do filho.
4.4.1 O Medo de Morrer
Silenciar a morte, mesmo diante de um ser humano em estado terminal, é o
comum entre as pessoas do mundo ocidental. As negações e os silêncios que
rondam o processo de morrer fazem parte de uma cultura que é perpetuada
independente do seu loco de acontecimento. Essa situação se inscreve, também, no
mundo e para as pessoas que, dialeticamente, experienciam o nascer e o morrer:
instituições de saúde e profissionais da saúde, especificamente de enfermagem.
Se tal constatação é fato, ela fica mais evidente e acirrada quando se trata do
ser humano doente. Mediante a linguagem corporal, os exames solicitados, as
orientações fornecidas, a morte vai inculcando na mente e teimando em dizer que a
hora está chegando e é intransferível.
O homem torna-se consciente da sua sujeição à morte na angústia. O medo é
uma coisa completamente diversa da angústia. Aquilo que temo é sempre certa
coisa ou uma determinada pessoa. O que me ameaça como algo determinado, vindo
de certa região do meu mundo, faz-me temer por mim mesmo. O motivo do medo, o
„terrível‟, é sempre uma coisa do mundo, pertencente à espécie do disponível, do
que se apresenta ou do que é-com. O danoso, como postula Heidegger (1998, p.
195), “enquanto ameaça não se acha ainda numa proximidade dominável, ele se
aproxima [...]. Na aproximação cresce esse fato de poder, mas nem sempre chegar”.
Apenas a pre-sença, ente em que está em jogo seu próprio ser, pode temer, pois
abre o ente no conjunto dos seus perigos, no abandono a si mesmo.
O que me angustia é inteiramente indeterminado. Todavia, o temor se
transforma em horror quando aquilo que ameaça possui o caráter de algo totalmente
não familiar. Isso significa que a presença, como ser-no-mundo, é sempre temerosa,
e esta temerosidade se constitui como disposição essencial de toda pre-sença
(HEIDEGGER, 1998).
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Na angústia, desmorona todo o mundo em que me encontro envolvido. No
temor, a ameaça é um ente intramundano, como, por exemplo, a doença. “O
ameaçador não se encontra em lugar algum, porém já está sempre presente, tão
próximo que sufoca a respiração” (HEIDEGGER,1998, p. 250).
A morte, antes de tudo, é uma situação geral do mundo. É, pois, uma situação
especificamente individual; é o “limite-que-sempre-retorna”, que atormenta o homem,
que o rói no seu íntimo e não apenas constitui uma autoconsciência individual
(MONDIN, 1980, p. 311).
A morte dos outros eu posso pensar, crer, imaginar, mas a minha morte, no
meu íntimo, há alguma coisa que não a considera necessária, que não a considera
possível. Heidegger (1998) esclarece que a morte é um acontecimento que cada um
deve enfrentar por conta própria. Ninguém pode substituir a morte de outro. Cada
um pode “morrer por um outro”... mas esse morrer por um outro não pode nunca
significar que ao outro seja substituída a sua morte.
O pensar a morte carrega, em si, o medo do vir a acontecer, como mostram
as falas das gestantes:
[...] eu sei que eu tenho muito medo, né, medo de morrer [...]
(Azaléia).
[...] aí, eu já fiquei com medo, comecei a chorar, ligar pra todo mundo
que eu ia morrer, que era pra cuidar da minha filha... e, aí, eu fiquei
com esse medo [...] (Flamboyant).
[...] ah! medo de morrer e não ter jeito de cuidar do nenê...ele ficar
jogado, judiado [...] (Margarida).
O medo da morte se assenta no medo de ser-com-o-outro de forma
inautêntica. Não sendo mais, a possibilidade de o bebê ficar sob os cuidados apenas
ônticos, do outro, traz angústia. Entra-se em pânico. Acionam-se os familiares.
Buscam-se a certeza e a esperança de que, caso a morte ceife o seu existir, o filho
ficará sob a responsabilidade de alguém que cuide, sem “judiar”.
Destarte, a morte é universal à condição humana. Todos morrem: jovens e
velhos, sábios e ignorantes, ateus e crentes, ricos e pobres, brancos e negros,
homens e mulheres, sãos e doentes.A civilização ocidental tem dificuldades para
aceitar a morte, e o medo desta se tornou parte relevante da configuração
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psicológica humana. O onipresente medo da morte está entrelaçado nos principais
conflitos psíquicos (FREITAS, 2000).
4.4.2
Medo de perder o filho
Perder um ente querido é uma afronta, um abandono, uma ofensa, uma
agressão à própria vida. Até mesmo certas fases da vida, como o envelhecimento e
seus desafios, traduzem a dificuldade humana em assumir as perdas e a morte.
Vivemos numa sociedade convencional, dirigida para a produtividade, onde
não se fala na morte e se pensa nela o menos possível, aliás, a própria morte é
inimaginável.O medo não circula sozinho e nem se mostra egoísta. Ele se
presentifica porque se meu corpo fenece, falta ao meu filho o ser presença
significativa, que alimenta, que cuida e que protege. É linguagem corrente que cabe
à mulher-mãe cuidar da prole, é ela, especialmente, a que estabelece o vínculo
afetivo, o apego entre ela e o filho tão essenciais para o desenvolvimento humano.
Somente a mãe pode sustentar e compreender o sistema de expressão de
seu filho. Para ela, constitui a conexão com a vida e a ampliação sucessiva de seus
vínculos e de sua capacidade afetiva sobre o mundo externo real. Entende-se que o
vínculo da mãe com o filho é determinado por uma gama de fatores, que pressupõe
o recrudescimento das relações primitivas da mulher com sua genitora. O tema dos
cuidados maternos transcende a psicologia, sendo um aspecto abordado na
literatura (FREITAS, 2000).
O vínculo materno com o filho não é algo mecânico. Mostra-se como uma
entidade viva (WINNICOTT, 1999). Para Klauss, M. H.; Kennel e Klaus, P. H. (2000),
a formação de um vínculo faz parte do desenvolvimento da criança desde a
gravidez, nascimento, pós-parto e primeiros meses de vida. O vínculo dos pais com
seus filhos não deve ser apenas o mais forte mas, também, a mais importante das
ligações humanas. Embora os recém-nascidos sejam ativos e conscientes, eles não
podem sobreviver por si, e os vínculos de quem os assistem, geralmente pai e mãe,
são fundamentais para a sobrevivência e o desenvolvimento deles.
O laço original entre pais e bebê é a principal fonte para todas as ligações
subseqüentes deste, e é o relacionamento formativo no decorrer do qual a criança
desenvolve um sentimento de si. A força e o caráter desse apego influenciarão, por
toda a sua vida, a qualidade de todos os laços futuros com outras pessoas.
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Klauss, M. H.; Kennel e Klaus, P. H. (2000) reconhecem como indicadores de
apego comportamentos tais como acariciar, beijar, aconchegar, prolongadas trocas
de olhar, comportamentos que servem tanto para manter contato, como demonstrar
afeição por determinada pessoa.
Ter um filho é um desejo infantil muito intenso nos seres humanos, sobretudo
nas mulheres.Esses autores consideram a formação de um vínculo como o
apaixonar-se, mantendo um vínculo como se amando alguém. A ameaça da perda
deste vínculo traz a ansiedade, e a perda real provoca pesar. A gestante que se vê,
de repente, diante da ameaça de perder o seu filho, aquele ser com o qual ela já
formou um vínculo, ou perder a sua própria vida, sofre com a preocupação e a
angústia.As próximas falas sinalizam para esse pensar:
[...] mas eu cheguei muito nervosa, muito assim... apavorada, eu
pensei: vou perder meu nenê, ou então vou morrer e ela fica, né?
Aí... mas... depois... vou pedir a Deus [...] (Jasmim).
[...] eu senti medo de morrer, e de minha filha também [...]
(Flamboyant).
[...] eu sei que posso dar um eclampsi, eu posso morrer, posso...
perder meu filho [...] (Lírio).
[...] porque quando eu soube que eu tava com pré-eclampsi, aí eu
fiquei muito triste, porque tenho medo de perder meu nenê [...]
(Tulipa).
[...] nossa, é terrível, você ficar imaginando que vai perder a criança...
inda mais eu que tá de nove, né,... nove meses e três dias... nossa...
eu fico morrendo de medo de perder [...] (Violeta).
Boemer (1989), citando Heidegger, refere que é possível que se deixe de
tratar a morte como oposição à vida, mas como parte inalienável da temporalidade
de cada um de nós enquanto seres que somos, destinados à morte. E, porque a
morte não nos permite fazer „projetos‟ e não possui a lógica do „deve ser‟, pensamos
se é „justo uma pessoa morrer tão jovem‟. A morte do bebê provoca a incerteza, a
não aceitação, a incompreensão, porque a criança que acabou de “nascer e já está
indo de novo”. Fica a impressão de que ao velho é permitido morrer, que se aceita
mais sua morte, porque talvez tenha realizado seus projetos. À criança, ao jovem,
paira a injustiça de sua morte. É como se a morte tivesse que ser colocada somente
no fim de uma existência.
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Entretanto, continua Boemer (1989), a morte não é o fim da vida humana no
sentido de ser o fim de um caminho que pode ser alcançado ao término de um
trajeto. Para Heidegger (1998), a existência não é dada ao homem como caminho
bem arranjado no final do qual está a morte; mas a morte, como possibilidade,
atravessa a sua existência e, a qualquer momento, pode surpreendê-lo. Desde seu
nascimento, o homem „já‟ é suficientemente velho para morrer.
Ressalta-se, portanto, que a morte para a mulher gerando vida é inconcebível
para nós. Na ocorrência deste fato, são duas vidas que se vão e deixam marcas nos
familiares e nos profissionais. A morte é o fim, como a vida é o começo de tudo e,
para a gestante que está se preparando para dar vida a alguém, a morte do ser que
lhe é mais caro, a privação de sua presença física, o sofrimento infindável que brota
do „nunca mais‟ pode gerar angústia, tristeza e preocupação, como disseram
algumas gestantes:
[...] mas dá uma tristeza muito grande, dá muito medo na gente, principalmente
com o nenê (Jasmim).
[...] bom, é passá o tempo todo preocupada, com medo de perder o
meu bebê, com medo de perder a minha vida (Orquídea).
[...] mas é uma gravidez que traz muito problema, né... eu passo o
tempo todo preocupada com medo de perder minha vida... perder... é
... meu filho (Orquídea).
A preocupação, na concepção de Boff (1999), só surge quando a vida de
alguém tem importância para nós. A personificação do filho, vivida a partir dos
movimentos fetais, indica para a mãe que a vida pulsa dentro dela – a de um filho –,
e ele se torna importante. O fato de pensar em perdê-lo gera angústia e sofrimento.
Os sentimentos são a maneira como nos percebemos. São nossas reações
ao mundo que nos circunda. São a maneira pela qual percebemos que estamos
vivos. Viscott (1982) nos fala que sem sentimentos não há existência, não há vida.
Nossos sentimentos resumem o que experimentamos e nos dizem se o que
estamos experimentando é agradável, doloroso, ameaçador, triste ou alegre.
Quando nos deparamos com um súbito temor, com uma possibilidade de
perda de alguma coisa, de alguém, ou de nossa vida, nós entramos em contato com
o nosso sentimento.
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Jaspers (1993), esclarece que o temor da agonia é temor de sofrimento físico.
A agonia não se confunde com a morte. Todo sofrimento é experimentado por
alguém que está vivo, e a morte escapa à experiência. O processo natural da agonia
pode desenrolar-se sem sofrimento, pois há mortes instantâneas. Inteiramente
diversa é a agonia diante da morte quando esta é concebida como estado que
sucede à desaparição da vida. Todas as concepções acerca do estar morto são
desprovidas de base.
Do mais além não há qualquer experiência, nem se recebeu qualquer
sinal. Jamais alguém retornou de entre os mortos. Daí decorre a
idéia de que estar morto é não ser, de que a morte é o nada
(JASPERS, 1993, p. 128).
Sabemos que a nossa morte é certa. Por causa das características
precedentes, ela parece assustadora e suscita horror, aversão e angústia no
homem. Da morte, como estado, nada sabemos, mas sabemos que temos que viver
aleatória e perigosamente, segundo as exigências mais altas que brotem de cada
situação enfrentada. Ser uma gestante de alto risco é esse viver aleatória e
perigosamente, já que a possibilidade de morrer a qualquer hora ou perder o seu
filho foram os parâmetros utilizados por elas para avaliarem a sua vivência nesta
gestação, como podemos sentir nas falas:
[...] eu fiquei com medo de perder o nenê, porque eu morro de
vontade de ter uma filha, quanto mais mulher, aí, eu fiquei com medo
de perder ela [...] (Flamboyant).
[...] eu só fiquei com medo de morrer, né, e deixar ela sozinha
(Jasmim).
[...] e são tantos riscos que fico até confusa, confunde a cabeça, dá
um pouco de medo às vezes (Lírio).
[...] ah! não sei não, acho que senti foi medo. Medo pra mim mesmo
e pro nenê também. Medo sem explicação (Margarida).
Medo e angústia, confiança e incerteza, sentir-se confusa e, ao mesmo
tempo, ter clareza da facticidade vivida circundam o dia-a-dia dessas mulheres. O
medo antropológico da morte que acompanha o ser humano desde os seus
primórdios lança seus tentáculos sobre todos os setores do existir humano e
encontra ancoragem num Ser supremo-Deus.
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As falas abaixo mostram a esperança e a confiança em Deus, destacando,
assim, sua crença religiosa, que serve, muitas vezes, de apoio em sua atual
gestação.
[...] que Deus me dê forças e a todas que tem alto risco, e que eu
não tenha tanto medo, vai dar certo (Lírio).
[...] tenho medo... tenho e não tenho , porque a gente confia no
Senhor. Em Deus. Medo de...alguma coisa acontecer... sei lá...vim a
falecer, qualquer coisa (Rosa).
[...] Se Deus quiser vai dar tudo certo [...] (Rosa).
Não podemos perder de vista a questão da necessidade espiritual. A crença
religiosa pode, muitas vezes, contribuir para o enfrentamento das dificuldades
advindas da condição de risco gravídico. O profissional de saúde precisa estar
atento quanto às necessidades religiosas da paciente, pois sabe-se que muitas
pessoas, quando ficam doentes, voltam-se para a religião em busca de conforto.
4.5 CUIDANDO E SENDO CUIDADA
A gravidez e a maternidade são acontecimentos biográficos de enorme
importância e têm repercussões potencialmente transformadoras sobre a vida da
mulher, do casal e da rede familiar e social. Cada pessoa faz um percurso vital como
ser sociocultural e histórico, a partir do que realiza uma experiência existencial
singular. A gravidez é, para a mulher, esta experiência singular.
Em
razão
das
grandes
transformações
físicas
e
psicológicas
que
acompanham a gestação, este período é muito vulnerável ao surgimento de diversos
sentimentos de natureza oposta, às vezes contraditória. Nesse sentido, a gestação,
ao mesmo tempo que atende as necessidades primitivas ligadas ao desejo de ser
mãe, está sujeita a uma gama variada de medos, temores e inseguranças que,
interligados a fatores externos, podem torná-la difícil, como se está acompanhando
nas falas das gestantes.
O sentir-se tranqüila, aliviada e segura passa a incorporar a idéia de que tudo
agora vai fluir bem. Como se tornou necessária a reclusão para um ambiente em
que terá a existência controlada e perscrutada, a hospitalização resgata a
„normalidade‟ da vida da gestante e de seu bebê.
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4.5.1 O bem estar do nenê
Após ser internada abruptamente, sem orientações adequadas sobre o seu
real estado de saúde, a gestante fica preocupada e com medo da nova situação a
ser vivida e enfrentada. Depois de se submeter aos vários tipos de exames, como a
ultrassonografia, eco-dopplerfluxometria, cardiotocografia, amniocentese, sangue,
urina, enfim, depois de ter sido avaliada por uma junta médica, cuidada e orientada
por enfermeiras e esclarecida sobre os resultados de seus exames, a gestante de
alto risco finalmente se tranqüiliza, como podemos sentir em suas falas:
[...] mas agora tô mais tranqüila, devido meu filho, porque sei que
meu filho tá bem, Graças a Deus (Acácia).
[...] agora, eu já estou melhor. O médico passou aqui e disse que vai
tirar o nenê. Estou só com 36 semanas [...] (Margarida).
[...] tem que procurar ficar calma, né, e vai dar tudo certo (Begônia).
[...] meu filho, por ser prematuro, ele tem menos chances de
sobreviver (Lírio).
O aparato tecnológico, diagnóstico e terapêutico, embora exerça uma forte
impressão no imaginário do ser humano, não o faz por si só, mas acompanha os que
dele se utilizam: o médico, em primeiro lugar, e a equipe de enfermagem. Dessa
forma, após todos os exames sofisticados realizados e sob orientações claras, as
gestantes quedam tranqüilas. Esse estado de tranqüilidade é oriundo da
personificação do bebê que mexe, que está bem e vai nascer, mesmo que „tirado‟.
Percebe-se, ainda, que as gestantes que expressavam temor pela vida de
seus filhos e pela sua própria, mesmo estando mais tranqüilas, demonstraram um
comportamento ambivalente diante da situação vivenciada, ora acreditando que tudo
daria certo, ora perdendo as esperanças. Sabiam que, quanto mais tempo seu filho
ficasse em seu ventre, mais chances de sobrevivência ele teria, menor possibilidade
de comprometimentos.
4.5.2 O Cuidar dos Profissionais de Saúde
A equipe de saúde procura dar à gestante de alto risco uma solução para as
contradições da existência, ou seja, se o momento apresenta uma situação que
requer tomada de decisão imediata, tudo e todos trabalham para o equacionamento
deste fazer. Caso contrário, o fazer é postergado para outro momento. Contudo, a
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gestante de alto risco tem um tempo vivido que não posterga decisões... a equipe de
saúde, sobretudo os médicos e as enfermeiras, têm consciência de que a lógica da
espera não funciona.Além do mais, o cuidado realizado, além de eficiente para
promover/recuperar a saúde e o alívio da dor, deve ser constitutivo da pessoa como
algo intrínseco e não exterior a ela.
Waldow (2001) enfatiza que as ações da cuidadora deverão convergir para
que
o
cuidado
produza
crescimento
e
transformações
e
que
envolva
verdadeiramente uma ação interativa.
Olivieri (1985) diz que o profissional de saúde precisa compreender que o
Ser-doente deseja sair da situação que vivencia e, para isto, espera muito da ação
profissional.Aqui, ganham ressonância os dizeres de Boff (1999), ao afirmar que o
cuidado é mais do que um simples ato, é uma atitude que, do ponto de vista
existencial, integra a constituição ontológica do ser.
Os próximos enunciados desvendaram o cuidado que médicos e enfermeiras
dispensaram às gestantes:
[...] Fui muito bem assistida com os médicos e as enfermeiras... e
minha sorte disso tudo é que não rebentou a bolsa, não tive
sangramento, não tive nada. E ela mexeu, mexe muito mesmo [...]
(Jasmim).
[...] Fui muito bem atendida, mas dá uma tristeza muito grande...
depois que fiz a ultrassom, que vi ela batendo, o coraçãozinho
mexendo, aí eu já... parece que a ansiedade, aquele nervoso passou
[...] (Jasmim).
[...] ela me deixou mais despreocupada, mas, mesmo assim, a gente
fica preocupada, com medo de perder [...] (Orquídea).
[...] Estou fazendo os exames, tô mais ou menos, não tô bem...
assim... sob controle não, mas eu tô fazendo... tô caminhando [...]
(Rosa).
[...] e, às vezes, ele nascer com baixo peso... aí, a gente fica triste
por causa disso... os médicos tá acompanhando, né?... se Deus
quiser, vai dar tudo certo [...] (Tulipa).
Na medida em que o médico e a enfermeira se colocam como co-presença,
compartilham do viver da gestante de alto risco, compreendendo seu ser, ela
consegue visualizar esse cuidado e o complementa, relatando situações que
também desvelam seu compartilhar com o filho. A equipe de saúde sendo-com a
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gestante, e esta com o bebê, permite-lhe sentir-se segura e confiante de que tudo
vai dar certo.
Essa maneira de ser com o outro no cuidado é denominada de solicitude.
Para Heidegger (1998), a solicitude ou maneira de cuidar do outro, só se faz
possível mediante a relação envolvente e significante, cujos ingredientes básicos
são a consideração e a paciência com o outro.
Destaca-se, ainda, que o cuidar dos doentes obriga a procurar a natureza
constitutiva desse Ser que se situa, aí, num agora não escolhido da sua vida. “O
doente é um Ser consciente, se interroga e, através da reflexão, transcende e pode
chegar à consciência de si mesmo” (OLIVIERI, 1985, p. 29).
Nesse espaço de cuidar, é imprescindível que o encontro relacional,
intersubjetivo, pautado no diálogo franco, educativo e intencional seja estabelecido.
Talento (1993), citando Watson (1993), acredita que o foco principal em
enfermagem está nos fatores de cuidado, que devem ser vistos por uma perspectiva
humanista, combinada com uma base de conhecimentos científicos. O cuidado é a
essência da enfermagem e exige sensibilidade entre a enfermeira e a pessoa; a
enfermeira é co-participante com a pessoa.
A
finalidade
do
cuidar
em
enfermagem,
para
Waldow
(2001),
é,
prioritariamente, aliviar o sofrimento humano, manter a dignidade e facilitar meios
para manejar com as crises e com as experiências do viver e do morrer. O processo
do cuidar envolve crescimento, é intencional e seus objetivos são vários,
dependendo do momento, da situação e da experiência.
Dessa forma, o cuidado requer conhecimento do outro ser. O profissional de
enfermagem deve ser capaz de entender as necessidades do outro e de respondêlas de forma que satisfaça a sua inquietação.
Talento (1993) diz que Watson encara o cuidado como o atributo mais valioso
que a enfermagem tem a oferecer para a humanidade; ainda assim, o cuidado, com
o passar do tempo, recebeu menor ênfase do que outros aspectos da prática da
enfermagem.
Considerar a gestante é relacionar-se com ela, escutando-a, oferecendo-lhe
condições para que se cuide e cuide do seu filho. Nesse sentido, a enfermeira, em
especial, poderá ser-com a mulher, realizando com ética e estética sua função de
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ser cuidador. Ter e ser paciente com a gestante é esperar, ponderar e aguardar as
intercorrências e necessidades que poderão acontecer dentro do previsível ou
imprevisível, colocando-a cônscia de tudo ao redor e respeitando-a como pessoa
cidadã.
A arte da enfermagem inclui a disponibilidade em receber o outro ser, em
compreender sua experiência e em expressar isso, permitindo que o outro também
expresse seus sentimentos. O cuidado pode ser considerado como expressão
artística da enfermagem (WALDOW, 2001).
4.6 SER DIFERENTE
Heidegger (1981), em suas análises da mundaneidade do mundo, manteve
constantemente em perspectiva o fenômeno inteiro do ser-no-mundo. O homem
como ser-no-mundo tem acesso ao significado do estar-sendo, e este é um ponto
muito importante. O ser-aí (Dasein) é um ente que, em cada caso, sou eu mesmo;
seu ser é, em cada caso, meu, isto é, cada ser humano tem suas características
próprias.O mundo está doente, à morte, porque esqueceu o Ser, nos diz Olivieri
(1985). É oportuno ressaltar que na época em que vivemos, de globalização,
tecnologias cada vez mais sofisticadas, Internet, celulares, clonagens, a pessoa
humana não é reverenciada como merece.
Nesse sentido, o paradigma da modernidade vem fundamentando o ser e o
fazer, determinando uma atitude do homem em relação ao mundo que o aproxima
de certos valores e o afasta de outros. Isso pode significar „humanizar‟ ou „coisificar‟
o homem.No final do século passado e início deste, criou-se uma tendência geral em
focalizar a doença desviando, assim, o pensamento do profissional de outras
necessidades reais do doente que, na verdade, precisa ser encarado no seu todo,
como um ser humano em uma situação diferente.
Olivieri (1985) descreve que o “Ser-doente”, não é um Ser anormal; é um Ser
que vivencia a doença, é um Ser diferente que, na maioria das vezes, não quer ser
doente, não quer ser como está. É um Ser que se vê tolhido de sua liberdade e de
seu autocontrole.Torna-se urgente sentir „o mundo do doente‟, o seu „tempo vivido‟,
o Ser.O Ser tem também a característica de poder-se abrir para novos horizontes,
como podemos sentir na fala desta gestante:
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[...] É ser diferente. Um pouco diferente e especial ao mesmo tempo,
porque eu acho que, de uma forma ou de outra, eu contribuo para
que seja descoberta novas fórmulas para tratamento de uma
gravidez de alto risco (Lírio).
[...] mas ao mesmo tempo eu me sinto de uma forma ou de outra
especial, porque eu contribuo de alguma forma... então eu acho
que... uma gravidez, ser uma grávida de alto risco é ser diferente [...]
(Lírio).
A gestante, ao falar que ser gestante de alto risco é “ser diferente”, dá sentido
à sua existência, ou seja, percebe-se sendo-no-mundo, recebendo atenção e
cuidados especiais dos profissionais. Sente-se especial na medida em que contribui
para estudos possibilitando a descoberta de novos tratamentos para a gestante de
alto risco. Percebe-se sendo-com ao desejar que seu estado de saúde sirva para
que, no futuro, as gestantes não passem por esse processo de doença pelo qual
está passando.
É por saber que sou diferente que eu apreendo o meu Ser e sei que sou eu.
O saber vivido, sentido, que corresponde ao nosso “tempo vivido”, as nossas
alegrias, angústias e sentimentos, única realidade que vivencia o nosso “Eu”, é
experienciado como absolutamente verdadeiro (OLIVIERI, 1985).
Pode-se atestar que essas unidades de significado idiossincrásicas
encontram ressonância nos dizeres de Waldow e Lopes (1995, p. 22):
O cuidar/cuidado é um modo de ser, uma atividade humana mútua
de ajuda que promove crescimento e auto-realização e uma
dimensão ética e moral. Também é uma forma de conhecer, ser e
perceber. Envolve intuição, sensibilidade, desejo de paz e amor.
É importante considerar que Lírio, intuitivamente, com muita sensibilidade,
reconhece-se como um sujeito no mundo, coexistindo, cuidando e aberta aos
outros... é “diferente” e “especial”, única, singular e plural. Da sua facticidade atual,
pode originar algo que beneficie outras mulheres para que vivam com menos
angústia uma gravidez de alto risco. É seu „desejo de paz e amor‟.
Na sua singularidade, corrobora o pensar heideggeriano referente ao sercom-os-outros, que não significa o encontro de vários “eus” isolados. Os “outros”,
para Heidegger (1998), não quer dizer o restante dos homens para além de mim. Os
outros são aqueles dos quais, na maior parte das vezes, não nos distinguimos nós
mesmos, entre os quais também nos encontramos. Ser-com-o-outro é condição
ontológica do humano.
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Para Critelli (1996, p. 78), “[...] os outros não são aqueles com quem o indivíduo
convive, nem aqueles que o completam; os outros „constituem-no‟. Sem o outro, o indivíduo
não é [...]”.Pensando nas „outras‟ gestantes, Lírio coloca-se para além de si mesma e
pensa científica e academicamente. Sendo de alto risco, não se perde na
massificação das normas e rotinas, do cuidado predeterminado e padronizado para
o pré-natal. Sendo „diferente‟ requisita um „olhar‟ e um „fazer‟ também diferentes.
Essa reflexão gestada a partir do discurso de Lírio indica para que os
profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, sejam seres de cuidado
autêntico, vendo a gestante como única, especial e diferente.
O FENÔMENO DESVELADO: UM NOVO OLHAR
Ao iniciar este trabalho, o objetivo era o de compreender os sentimentos
vividos pelas gestantes de alto risco internadas na maternidade do Hospital Materno
Infantil de Goiânia, as quais, a meu ver, chegavam ali assustadas, ansiosas,
preocupadas e trazendo muitas dúvidas sobre o seu estado de saúde e o do seu
bebê.
Angustiava-me perceber que, na maioria das vezes, o enfoque dado ao
tratamento e ao cuidado considerava a doença e não a pessoa doente. Seu sentir e
seu pensar não eram considerados. Os profissionais de saúde preocupavam-se com
exames a serem realizados, medicamentos a serem administrados, enfim, em
cumprir rigorosamente às rotinas hospitalares.
Em geral, quando se fala em cuidado, associa-se a idéia de execução de
procedimentos em enfermagem, ou seja, técnicas e procedimentos nos pacientes.
Considerando o cuidado como uma interação interpessoal e uma característica
humana, devemos sempre ter presentes o respeito e o afeto para com a gestante
internada em uma situação de alto risco.
No meu estudo, muito do que encontrei já era esperado, mas algumas falas
surpreenderam-me. No decorrer de minha experiência profissional, no dia-a-dia de
uma enfermaria, em uma simples visita ao leito, numa conversa sem muito
aprofundamento, escutava as dúvidas e os temores que acompanhavam as
gestantes, mas não os vivia em plenitude. A compreensão do fenômeno só pôde se
dar quando parei para ouvir as gestantes, e, em seguida, trabalhei, cuidadosamente,
os seus discursos, conhecendo e aprofundando no mundo vivido de cada uma.
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A decisão de compreender o „vivido‟ da gestante de alto risco a partir do
sujeito que o vivencia deu-se pelo fato de não se ter encontrado na literatura
específica de enfermagem trabalhos que abordassem este assunto.
Ao realizar a revisão, encontrei um grande número de trabalhos sobre
gestação de alto risco, pré-eclampsia e eclampsia, mas a abordagem sempre era
biologicista, curativa, com estudos demonstrando efeitos de novas medicações e
realização de exames com aparelhagem de última geração. Eram, a maioria,
trabalhos médicos preocupados com o tratamento da patologia em si, pesquisas
importantíssimas para as ciências médicas, mas sempre deixando de lado a
„existência‟ do ser humano, do „ser-no-mundo‟, ou, segundo Heidegger (1981),
“sendo-no-mundo”, que corresponde ao modo básico do ser humano existir,
expondo detalhadamente seu significado. “Sendo-no-mundo” diz respeito às várias
maneiras que o existir humano está possibilitado a viver. “Ser-no-mundo” é as
múltiplas maneiras que o homem vive e pode viver, os vários modos como ele se
relaciona e atua com os entes que encontra e a ele se apresentam (HEIDEGGER,
1981).
“Ser-com” ou “sendo-com” é um constitutivo fundamental do “ser-aí” do existir
humano. “Com”, que tem origem no latim cum e no grego syn, significa junto, algo ou
alguém na presença do outro. Sem essa característica fundamental e genuína do
ser humano, maneiras características de se relacionar e de viver, a vida humana não
teria sentido para nós (HEIDEGGER, 1981).Trago à baila novamente este referencial
teórico por acreditar que ele possa suscitar, nos leitores, como aconteceu comigo,
reflexões que os levem a compreender, radicalmente, este ser-com-o-outro de forma
própria e autêntica. Urge compreender que o mundo da gestante de alto risco se
manifesta na interseção das experiências vividas e compartilhadas e que a
subjetividade e intersubjetividade, em qualquer processo, são inseparáveis.
Tentando desvelar o fenômeno gestação de alto risco, debrucei-me
exaustivamente nos discursos das gestantes, deixando ver por si a riqueza destes
conteúdos, que nos falam da preocupação de ser uma gestante de alto risco, que
um dia está com a gravidez normal e no outro já sendo internada para ser tratada de
uma patologia que, nem de longe, era esperada por ela; que chega ao hospital para
uma simples consulta ou para submeter-se a algum exame, e fica internada,
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deixando a família – algumas deixam o filho ainda pequeno –, sob os cuidados de
terceiros, pois não tiveram tempo de se programar para a internação.
Percebi, nas falas das gestantes, seus sentimentos em relação à sua
corporeidade, pois, de repente vêem seu corpo ir edemaciando, vão ficando com as
mãos e pés dormentes, sentem a pressão arterial aumentar, problemas nas vistas e
dor de cabeça. Ficam apreensivas com o desenrolar de seu tratamento, sentem
medo de morrer e de perder seu filho, ou têm a preocupação em morrer e deixar o
filho para outros cuidarem, e ele ficar “jogado”, “judiado”.
Algumas entendem a prematuridade, o risco que o filho corre em ser retirado
de seu ventre agora, pois “está só com 36 semanas”. Outras choram diante dessa
perspectiva, mas se tranqüilizam quando vê o “coraçãozinho mexendo”, quando se
sentem “cuidadas pela equipe médica e de enfermagem”.
Este estudo mostrou-me que cuidar das gestantes de alto risco é escutá-las,
ter interesse e desvelo pelo seu „momento vivido‟. É tê-las como um ser humano na
sua facticidade como doente que necessita de cuidado pessoal e especial.
Assim, para compreender o „vivido‟ da gestante de alto risco, é preciso
compreender que ser-no-mundo é ser-com-os-outros e isso inclui a característica
fundamental de como me relaciono, atuo, sinto, penso e vivo com meus
semelhantes, o ser humano.Emerge, deste estudo, o repensar a competência
profissional, pois sendo docente, minha atuação não pode jamais ser a mesma
acerca da formação acadêmica em seu todo.
Urge, portanto, superar o paradigma da modernidade para o paradigma do
cuidado. Urge transcender as dicotomias ensino técnico/ensino humanizado, cumprir
tarefas/cuidar, estar com o outro/ser-com-o-outro.
A formação acadêmica do profissional enfermeiro deve ter suas bases
sustentadas na totalidade do ser humano. É preciso criar condições para que os
alunos caminhem para além do fazer normatizado, factual. Que possam caminhar
para o fazer ontológico. Fechando esta etapa deste estudo, comungo com Lírio e
reafirmo que há necessidade de se continuar pesquisando e estudando outras
facetas do fenômeno „gravidez de alto risco‟ porque, realmente, o conhecimento é
inacabado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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OBSTÉTRICA E NEONATAL
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Gravidez de Alto Risco: a Percepção das Gestantes