Ondas Revolucionárias do século XIX
História - Prof.ª Izabela Gonçalves
Do Congresso de Viena à “Primavera dos Povos”
Conceitos Importantes
Liberalismo
A palavra liberal é um adjetivo derivado do latim liberale, termo que se designava o homem livre na
antiguidade romana. Uma característica importante do liberalismo era a defesa do individualismo. Para os liberais o
indivíduo deve ser colocado acima do Estado, e não deve se tornar um apêndice de um grupo, qualquer que seja ele.
Por isso desconfiavam das associações coletivas e temiam a anulação das individualidades pelo grupo.
A defesa da liberdade de pensamento e expressão é outra de suas características. Para os liberais a busca
da verdade – sempre relativa – não devia se sujeitar à opinião de uma autoridade intelectual ou aos dogmas da Igreja.
Por essa razão valorizavam a tolerância e acreditavam no diálogo como meio de busca da verdade.
Os liberais tinham em vista o Absolutismo, a fim de prevenir a concentração do poder, com isso,
propuseram e praticaram sua limitação e fragmentação. Assim, além de limitar, os liberais eram favoráveis à
fragmentação do poder, o que foi feito por meio de sua divisão em três esferas: Executivo, Legislativo e Judiciário, aos
quais atribuíam o mesmo peso, com a finalidade de obter equilíbrio entre eles.
Outro instrumento liberal para diminuir o alcance do poder estatal foi a defesa da descentralização. E todos
estes limites impostos ao poder eram, por sua vez, regulamentado por leis escritas – a Constituição.
Para manter a liberdade econômica e a livre iniciativa pautada pela concorrência de mercado, os liberais
colocaram-se contra a intervenção do Estado na economia. O liberalismo econômico, portanto, postava-se no campo
oposto ao do mercantilismo praticado pelos Estados absolutistas, marcado pela grande intervenção do Estado na vida
econômica.
Democracia
Hoje, o liberalismo e a democracia são tomados quase como sinônimos e estão intimamente associados.
Para os homens do século XIX, eram doutrinas não só diferentes, mas opostas. De modo simplificado podemos dizer
que a democracia se distinguia do liberalismo por preconizar o sufrágio universal contra o voto censitário e o governo
do povo contra o das elites.
Para os democratas a participação política deveria ser aberta a todos e não apenas a uma elite econômica
ou intelectual.
Num ponto os democratas estavam de acordo com os liberais: a defesa da liberdade. Para os democratas,
porém, uma sociedade com desigualdades não podia ser livre. As desigualdades precisavam ser combatidas para que
a liberdade se tornasse um patrimônio comum. Era necessário, portanto, ir mais longe do que os liberais estavam
dispostos a ir. Para os democratas não era suficiente a igualdade de todos perante a lei. A igualdade jurídica deveria
ser completada pela igualdade social.
Socialismo
A entrada em cena dos socialistas foi precedida por um notável impulso de industrialização na Europa. Com
ela uma notável parcela dos camponeses migrou para as cidades, aumentando de modo acelerado a população
urbana e fazendo crescer o índice de proletarização dos trabalhadores.
Ao vender sua força de trabalho aos industriais em troca de salário, o operariado foi submetido a um regime
duríssimo de trabalho. Permanecendo até dezesseis horas por dia nas indústrias, enfrentando péssimas condições de
trabalho e recebendo baixos salários, eles reagiram, e aos poucos, formaram a base para a elaboração do
pensamento socialista.
Diferente do liberalismo e da democracia, os socialistas colocaram em questão o próprio capitalismo,
propondo sua substituição por uma sociedade igualitária. Surgia assim uma alternativa radical de transformação da
sociedade capitalista.
(Adaptado de: KOSHIBA, Luis; PEREIRA, Denise Manzi Frayze Pereira. História do Brasil no
contexto da História ocidental: ensino médio. 8ª ed.. São Paulo: Atual, 2003. p. 209-212.)
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Para saber mais...
O Socialismo Utópico
Também chamado de socialismo romântico, surge no início do século
XIX e concebe a organização de uma sociedade ideal sem conflitos ou
desigualdades. Os pensadores buscam no Iluminismo e nos ideais da
Revolução Francesa os fundamentos de sua crítica à sociedade capitalista. O
inglês Thomas Morus é o precursor, com o livro Utopia (1516), no qual afirma
que a propriedade particular é a fonte de toda injustiça social. Os principais
representantes são o inglês Robert Owen, que defende a sociedade
autogerida, e os franceses Charles Fourrier, que pretende uma organização em
que todos vivam harmonicamente, e Saint-Simon, que idealiza o domínio da
ciência sobre uma sociedade sem classes.
O Socialismo Científico
Foi desenvolvido no século XIX por Karl Marx e Friedrich Engels. Ele
rompe com o Socialismo Utópico por apresentar uma análise crítica da realidade
política e econômica, da evolução da história, das sociedades e do capitalismo.
Marx e Engels enaltecem os utópicos pelo seu pioneirismo, porém defendem uma
ação mais prática e direta contra o capitalismo através da organização da
revolucionária classe proletária. Para a formulação de suas teorias Marx sofreu
influência de Hegel e dos socialistas utópicos. A partir do materialismo histórico, o
socialismo prevê o triunfo final dos trabalhadores sobre a burguesia. Marx chama
de comunismo essa sociedade e de socialismo o processo de transição do
capitalismo ao comunismo.
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“Ondas Revolucionárias de 1830”
O Caso da França
1814 /
1824
Luís XVIII
1814
Carta Constitucional (outorgada pelo rei) –
Sistema Bicameral
¾ Câmara dos Pares
¾ Câmara dos Deputados (voto censitário)
1824
Morre Luís XVIII e assume seu irmão Carlos X (ultra-reacionário)
1827
Forte crise econômica
¾ Aumento de impostos
Carlos X sofre derrota na Câmara dos deputados (oposição liberal)
1830
Conquista de Argel
27 de Julho – “Ordenações de Julho” (4 decretos)
¾ Suspensão da liberdade de Imprensa
¾ Dissolução da Câmara dos Deputados
¾ Elevação do censo eleitoral
27 / 28 / 29 de Julho “TRÊS DIAS GLORIOSOS”
¾ Manifestantes tomam o palácio de Tulheirias
¾ Carlos X foge
“Monarquia de Julho”
“O Rei Burguês”
Luís Felipe (Duque de Orléans) é posto no trono pela burguesia –
1847
¾
¾
¾
¾
¾
¾
¾
Fortalecimento do poder Legislativo
Liberdade de Imprensa
Baixa do censo eleitoral
Industrialização
A Burguesia domina os setores básicos da economia
Conclusão da ocupação da Argélia
Repressão as Manifestações populares (Paris e Lyon)
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O Caso da Bélgica
1831
Proclamação da Independência da Holanda
Nação neutra e Liberal com uma Constituição
O Caso da Itália
1831
Rebeliões em Parma, Módena e Romagna
¾ Tropas austríacas sufocam as rebeliões
¾ Líderes rebeldes fogem para o exterior: Giuseppe Mazzine funda
no exílio a “Jovem Itália” e em 1834 na Suíça funda a “Federação
Democrática da Jovem Europa”
O Caso da Polônia
1830
(dominada pela Rússia)
¾ Instalação de um Governo Nacional Revolucionário
¾ Movimento esmagado pelo Czar Nicolau I
Regiões Germânicas
1830 /
1831
1834
Hanôver, Saxônia, Bruns Wich e Husse Kassel – fazem suas
Constituições
Ministros da Confederação Germânica se reúnem em Viena e as
tropas austríacas reprimem e suspendem as Constituições
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“Ondas Revolucionárias de 1848: A Primavera dos Povos”
O Caso da França
1846 /
1847
Forte Crise Agrícola
¾ Luta contra Luís Filipe: fim da “Monarquia de Julho”
¾ Reivindicação de caráter socialista e democrática
¾ Campanha pelo voto universal masculino: “Campanha dos
Banquetes”
1848
Revolução de Fevereiro
¾
¾
¾
¾
¾
(22 de Fevereiro) O governo tenta impedir os banquetes
O jornal O Nacional
Aumenta os protestos contra o 1º ministro Guizot
Guarda Nacional se recusa a reprimir o povo
(24 de Fevereiro) Luís Felipe abdica
Segunda República
¾
¾
¾
¾
¾
¾
¾
Governo Provisório
Nova Assembléia Constituinte
Sufrágio universal masculino
Guarda Móvel (burguesia)
Oficinas Nacionais
Aumento de impostos sobre os camponeses
Eleições para Assembléia Constituinte: vitória dos conservadores
Julho de 1848
¾
¾
¾
¾
¾
¾
Proletários fazem manifestações e barricadas
Manifestações são reprimidas pela Guarda Nacional
Oficinas Nacionais são fechadas
Operários são brutalmente executados e perseguidos
Nova Constituição é promulgada
Eleições para presidente: vence Luís Napoleão Bonaparte (70%
dos votos)
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Lendo a respeito
As Ondas revolucionárias do século XIX
“Houve três ondas revolucionárias principais no mundo ocidental entre 1815 e 1848. A primeira
ocorreu em 1820-24. Na Europa ela ficou limitada principalmente ao mediterrâneo, com a Espanha (1829),
Nápoles (1820) e a Grécia (1821). Fora a grega todas as insurreições foram sufocadas. A revolução
espanhola viveu o movimento de libertação na América Latina (...).
A segunda onda revolucionária ocorreu em 1829-34, e afetou toda a Europa a oeste da Rússia e o
continente norte-americano. (...) Na Europa, a derrubada dos Bourbons na França estimulou várias outras
insurreições. (...)
A terceira maior das ondas revolucionárias, a de 1848, (...) explodiu e venceu (temporariamente)
na França, em toda a Itália, nos Estados alemães, na maior parte do Império dos Habsburgo e na Suíça
(1847). (...) Nunca houve algo tão próximo da revolução mundial com que sonhavam os insurretos do que
esta conflagração espontânea e geral (...). O que em 1789 fora o levante de uma só nação era agora,
assim parecia, ‘a primavera dos povos’ de todo um continente.”
(HOBSBAWM, E, J.. A Era das Revoluções: 1789-1848. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1981. p. 127-130)
Fixando ...
Idéias
™ No terreno das idéias o século XIX
caracterizou-se por três correntes:
Liberalismo, Socialismo e democracia.
™ Os liberais defendiam a igualdade de
todos perante a lei; os democratas
reivindicavam também a igualdade
política, isto é, o direito de votar e ser
votado para os cargos públicos
independente da renda.
™ Para os liberais a liberdade era o valor
supremo; para os democratas a
condição da liberdade era a igualdade.
™ O socialismo não só investiu a favor da
igualdade, como colocou em questão o
próprio capitalismo.
Revoluções
™ A Revolução Francesa, iniciada em
1789, foi o ponto de partida para o
desencadeamento de uma onda
revolucionária que durou até 1848.
™ As revoluções antiabsolutistas de 1820
e 1830 tiveram caráter liberal, enquanto
as de 1848 foram marcadas pela
emergência do socialismo.
™ A revolução de 1848, a “Primavera dos
Povos”, foi uma onda revolucionária
que teve inicio na França e se
propagou por toda Europa, trazendo a
cena o movimento operário. Apesar da
influência do socialismo e da forte
participação da classe operária, a
burguesia foi capaz de impor-se e
esmagar as barricadas populares.
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Gabarito
Folha das “ondas revolucionárias”
1. [B]
2. [B]
3. [C]
4.
A) - a crise econômica de 1846-1847: crise de sub-produção agrícola e crise industrial acumulada
- a multiplicação do desemprego provocada pela diminuição da atividade econômica, especialmente na
construção das estradas de ferro.
B) As revoluções de 1848, de caráter liberal, nacionalista e/ou social, ameaçaram a ordem estabelecida
desde 1815, por ocasião do congresso de Viena, ao questionarem os regimes absolutistas. Elas
representaram, em médio prazo, o fim de uma Europa Antigo Regime (com exceção da Rússia) e o início
de uma Europa burguesa e capitalista.
De Olho no Vestibular...
1. (UFRJ-96)
“A Revolução de Fevereiro foi um ataque de surpresa, apanhando
desprevenida a velha sociedade, e o povo proclamou esse golpe inesperado
como um feito de importância mundial que introduzia uma nova época.”
( ... )
“No umbral da Revolução de Fevereiro, a república social apareceu
como uma frase, como uma profecia. Nas jornadas de junho de 1848 foi
afogada no sangue do proletariado de Paris, mas ronda os subseqüentes atos
da peça como um fantasma.”
(MARX, Karl, O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann.Rio de Janeiro, Paz e Terra, 5ª ed., pp. 20 e 110.)
O documento anterior refere-se à situação política e social da França entre 1848, época
das insurreições dos trabalhadores parisienses e 1851, quando foi golpeada a República e
reinstalado o Império. A idéia da luta de classes como motor da História, sustentada por
Marx, teria sua fundamentação definitiva quando, no mesmo ano de 1848, lançou com
Engels o “Manifesto Comunista”.
a) Compare, do ponto de vista das classes sociais, a Revolução de 1848 e a Revolução
Francesa de 1789.
b) Justifique, através de um argumento, a frase “A Revolução de Fevereiro foi (...) um
feito de importância mundial que introduzia uma nova época.”
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2. (UFRJ-2005)
Intensos debates na Paris de 1848 (M. Carnavalet, Paris)
A historiografia tradicionalmente considera a revolução de 1848, na França, como um
divisor de águas na história dos movimentos populares europeus do século XIX.
Justifique tal afirmativa.
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