Não é só pelas agências de rating
Zeina Latif
Inflação persistentemente elevada preocupa, pois é termômetro da baixa qualidade da política
econômica. O mesmo vale para a composição da inflação. Desequilíbrios nos chamados
preços relativos também podem refletir problemas no desenho da política econômica. Ambos
fatores prejudicam a economia e os grupos sociais de menor renda. Compreender as suas
causas é essencial para a escolha adequada dos instrumentos de política econômica.
Estímulos excessivos causam pressões inflacionárias que podem produzir consequências não
intencionais, tanto no funcionamento da economia quanto no comportamento dos indicadores
sociais. A inflação elevada desorganiza a produção e ameaça conquistas sociais ao penalizar a
base da pirâmide social. Um risco claro para o Brasil.
Para além do patamar da inflação, é crucial considerar a dinâmica de preços relativos,
sobretudo a relação entre preços de bens comercializáveis (grosso modo, produtos
manufaturados e commodities) e não-comercializáveis (basicamente serviços). Este preço
relativo é uma variável central para definir competitividade externa do produto nacional.
Quando este preço relativo está reduzido, com os preços de bens finais (comercializável) em
patamares baixos vis-à-vis os custos (salários e serviços), a indústria sofre com margens
deprimidas, prejudicando sua produção e, assim, as contas externas, principalmente pelo
aumento da participação do produto importado na cesta de consumo. Inversamente, o aumento
desse preço relativo contribui para o ajuste das contas externas; ajuste mais do que desejável
no caso brasileiro.
O desenho da política econômica influencia este preço relativo. A expansão fiscal implica uma
demanda relativamente maior de bens não-comercializáveis e, portanto, elevação de preços do
setor. Num quadro de excessos fiscais sistemáticos, que se traduz em inflação de bens nãocomercializáveis mais resistente, transferir apenas à política monetária o papel de compensar
todo o impacto inflacionário pode até agravar o problema de desequilíbrio de preço relativo de
comercializáveis/não-comercializáveis, pelo potencial de apreciação cambial (juros altos
fortalecendo a moeda). Assim, um desbalanceamento entre as políticas monetária e fiscal pode
ser bastante prejudicial ao funcionamento da economia ao longo do tempo, independentemente
do patamar da inflação.
É bastante provável que a enorme resistência da inflação de serviços (acima de 8% ao ano)
decorra em grande medida dos excessos fiscais dos últimos vários anos.
O aumento da taxa de câmbio em curso, que eleva os preços de bens comercializáveis, pode
ser uma boa notícia, tendo em vista o desconfortável déficit externo atual. Mas não será
nenhuma salvação, pelo contrário, se se traduzir em mais inflação generalizada e não em
ajuste do preço relativo de comercializável/não-comercializável. É crucial evitar os chamados
efeitos secundários do ajuste do câmbio sobre os demais preços da economia, tendo em vista
os mecanismos formais e informais de indexação, sobretudo num contexto de inflação corrente
elevada.
Um exemplo importante de contaminação do câmbio seria a inflação corrente mais elevada
gerar correções salariais robustas, quando o ideal seria ter ajustes salariais compatíveis com a
expectativa futura de inflação mais baixa. No primeiro caso, o preço relativo entre
comercializáveis e não-comercializáveis pode não subir na intensidade necessária para ajustar
as contas externas. No limite, a crise aguda poderia levar a uma espiral contínua de aumento
da taxa de inflação e da taxa de câmbio, com fortes prejuízos para a atividade econômica e os
indicadores sociais.
Daí a importância da disciplina monetária e fiscal para evitar esses efeitos secundários do
câmbio e permitir o necessário ajuste de preços relativos. Em situação normal, de equilíbrio
das contas públicas, a política monetária poderia garantir a âncora de preços. No quadro atual
da economia brasileira, ainda com grande desequilíbrio fiscal, o ajuste da política fiscal é
essencial.
Isso posto, é possível que o enxugamento de gastos públicos em curso traga importante alívio
para inflação de não-comercializáveis, contribuindo não apenas para a queda da taxa de
inflação em si, mas também para o ajuste das contas externas, em decorrência da maior
competitividade externa da produção nacional.
Fica a dúvida se o país tem compreensão do desafio e maturidade política para o duro ajuste
no curto prazo para evitar uma crise aguda. Os últimos anos não ajudam. Por outro lado, a
sociedade valoriza a inflação bem comportada.
Não se trata apenas de convencer agências de rating a manter a nota de crédito do país, mas
da discussão transparente sobre os benefícios de colocar a macroeconomia nos trilhos.
Paula Ponzi
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