DEZEMBRO 2012
FIDELIS ET CONSTANS
ANO 14 - Nº 156
PUBLICADO COM APOIO DO INSTITUTO CIÊNCIA E FÉ E INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
www.cienciaefe.org.br
NATAL, ALEGRIA
JOÃO BATISTA LIBÂNIO| PÁG. 8
ESTADO LAICO NÃO É ESTADO ATEU
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS | PÁG. 3
VOCÊ SALVOU MEU FILHO PAULO BRIGUET| PÁG. 2
O EMBLEMÁTICO “ANO NOVO” EDMILSON FABBRI| PÁG. 9
O PECADO ORIGINAL SONIA LYRA| PÁG. 13
O CÂNTICO DAS CRIATURAS ORLANDO ANTÔNIO BERNARDI | PÁG. 4
UNIVERSIDADE |
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1
VOCÊ SALVOU
MEU FILHO
Paulo Briguet
é jornalista e
colunista do Jornal
de Londrina
Desde a infância, sempre me assusto um
pouco quando o padre diz: “Corações ao
alto!” Menino, eu imaginava milhares de
corações subindo ao céu, como balões de
aniversário. Até hoje, ao escutar a frase na
missa, não consigo evitar a mesma imagem
infantil, repleta de medo e esperança.
Lembro que numa festinha de aniversário resolvi fazer o teste: soltei o meu
balão verde para que sumisse nas alturas.
Ele foi ficando menor, menor, menor – até
se tornar um minúsculo ponto escuro e
ser engolido pela imensidão azul. Eu não
sabia, mas o desaparecimento do balão era
o meu primeiro contato com a morte.
Pensei naquele balão perdido ao ver
a notícia sobre Bernardo, o menino de 3
anos que morreu afogado na piscina de
uma escola em São Paulo. Em entrevista,
o pai de Bernardo disse: “Eu morri, assim,
eu morri. Esse menino era um menino de
ouro. Era inteligente, amoroso, carinhoso,
nunca teve nenhum problema de saúde.
Ele chamava a mãe de linda. Dizia-me que
queria ser como eu. Pra gente é o fim, é o
fim. Não sei como vou continuar vivendo”.
Li essas palavras lancinantes e mais uma
vez vi as fotos de Bernardo, tão parecido
com o menino que temos em casa. Senti
meu coração ficar minúsculo, dei um abraço em meu filho e imaginei o coraçãozinho
de Bernardo subindo ao céu.
Mauro Beting, filho do jornalista Joelmir
Beting, disse em carta que o pai começou
a ir para o céu quando o Palmeiras foi definitivamente rebaixado para o inferno da
Segunda Divisão. Joelmir era um palmei-
Ilustração/fotomontagem: Jubal S. Dohms
PAULO BRIGUET
rense tão fanático que trocou o jornalismo
esportivo pelo econômico para poder amar
livremente o seu time do coração. O filho
de Joelmir encerra sua carta de despedida
citando um dos maiores craques palmeirenses: “Joelmir José Beting foi encontrar
o Pai da Bola Waldemar Fiume nesta
quinta-feira, 0h55”. O balão de Joelmir era
Nilson Monteiro,
escritor e jornalista
(foto Nani Goes ALEP)
verde – e a sua morte também deixou
o meu coração pequeno.
Nilson Monteiro era estudante
de Jornalismo e presidente do
DCE nos anos 70, quando José
Richa foi prefeito de Londrina.
Ambos tiveram muitos embates
públicos por causa do transporte
coletivo. Nilson, o líder estudantil, atuava como defensor intransigente do passe
livre de ônibus para os universitários. Eram
tempos de debates acalorados e agressivos; diversas vezes o líder estudantil e o
prefeito brigaram publicamente.
Nilson é pequeno, mas tem um coração
gigantesco. Nos anos 80, o jornalista e
poeta passava férias em Camboriú quando
viu um aglomerado de pessoas e um menino caído na calçada. O endereço ficou
na memória: Avenida Atlântica, número
1.500. Nilson abriu caminho entre as
pessoas. Pelas convulsões, deduziu que
o garoto estava sofrendo um ataque de
hipoglicemia.
“Me deem uma garrafa de Coca-Cola!”
“Mas o rapaz é diabético, você vai dar
Coca-Cola pra ele?”
“Sei o que estou fazendo. Também sou
diabético”.
Assim que o garoto bebeu o refrigerante, as convulsões terminaram. Minutos
depois, o pai do menino apareceu e veio
conversar com o jornalista. Era José Richa,
o ex-prefeito de Londrina.
“Obrigado, você salvou meu filho”,
disse Richa, emocionado. E deu um forte
abraço no ex-desafeto político. Foram amigos até a morte de Richa, em dezembro
de 2003.
Não sei por que me vieram à mente
essas histórias. O que há em comum entre
o balão verde perdido, o menino Bernardo, Joelmir Beting, Nilson Monteiro e José
Richa? Talvez a imagem que me persegue
desde a infância: “Corações ao alto”.
Transcrito da Gazeta do Povo 02.12. 2012
EDIÇÃO 156 - ANO 14 - DEZEMBRO 2012 - Editado por Editora Alma Mater Ltda. (41) 3243.2530 - [email protected] / Editor e Diretor de Arte: Jubal S. Dohms - [email protected] / Produção:
Dohms Comunicação (41) 3023.2052 / Jornalista responsável: Aroldo Murá G. Haygert - [email protected] / Colaboram nesta edição: Antonio Carlos Coelho, Edmilson Fabbri, Ives Gandra da Silva Martins,
João Batista Athanásio, João Batista Libanio, Orlando Antônio Bernardi, Paulo Briguet, Sonia Lyra Fotografias: Francisco Martins, Mauro Campos // Revisão: Agostinho Baldin // Distribuição dirigida: assinantes,
comunidade universitária, profissionais liberais, religiosos e sócios do Instituto Ciência e Fé. // Capa: O Nascimento de Cristo - Sandro Botitcelli, 1500 // Impresso no parque gráfico do jornal I&C
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UNIVERSIDADE
DEUS SEJA LOUVADO
BUDA SEJA LOUVADO
ALÁ SEJA LOUVADO
OXALÁ SEJA LOUVADO
ZEUS SEJA LOUVADO
SHIVA, VISHNU E KRISHNA SEJAM LOUVADOS
DEUS NÃO EXISTE
ESTADO LAICO NÃO É ESTADO ATEU
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
Ives Gandra da
Silva Martins,
77, advogado, é
professor emérito
da Universidade
Mackenzie,
da Escola de
Comando e EstadoMaior do Exército e
da Escola Superior
de Guerra
No “Consultor Jurídico”, leio artigo de
Lenio Streck, eminente constitucionalista
gaúcho. Ele, até com certa ironia e um
misto de humor britânico e local, destrói
todos os argumentos da pretensão de
membro do Ministério Público que impôs
ao Banco Central 20 dias para retirar das
cédulas do real a expressão “Deus seja
louvado”.
Concordo com todos seus argumentos.
Lembro que o referido procurador deveria
também sugerir aos constituintes derivados, que são todos os parlamentares brasileiros (513 deputados e 81 senadores), que
retirassem do preâmbulo da Constituição
a expressão “nós, os representantes do
povo brasileiro, sob a proteção de Deus,
promulgamos esta Constituição”.
Creio, todavia, que por ser preâmbulo
da lei suprema, é imodificável. Terá o probo representante do parquê de suportar a
referência ao Senhor.
Aliás, é bom lembrar que, sob a proteção de Deus, a Constituição promulgada
permitiu que, pelos artigos 127 a 132,
tivesse o Ministério Público as relevantes
funções que recebeu e que ensejaram ao
digno procurador ingressar com a ação
anticlerical.
Tem-se confundido Estado laico com
Estado ateu. Estado laico é aquele em que
as instituições religiosas e políticas estão
separadas, mas não é um Estado em que
só quem não tem religião tem o direito de
se manifestar. Não é um Estado em que
qualquer manifestação religiosa deva ser
combatida, para não ferir suscetibilidades
de quem não acredita em Deus.
Há algum tempo, a Folha publicou
pesquisa mostrando que a esmagadora
maioria da população brasileira, mesmo
daquela que não tem religião, diz acreditar em Deus, sendo muito pequeno o
número dos que negam sua existência.
Na concepção dos que entendem que
num Estado laico, sinônimo para eles
de Estado ateu, só os que não acreditam
no criador é que podem definir as regras
de convivência, proibindo qualquer
manifestação contrária ao seu ateísmo
ou agnosticismo. Isso seria uma autêntica
ditadura da minoria contra a vontade da
esmagadora maioria da população.
Deveria, inclusive, por coerência, o
procurador mencionado pedir a supressão
de todos os feriados religiosos, a partir do
maior deles, o Natal. Deveria pedir a mudança de todos os nomes de cidades que
têm santos como patronos e destruir todos
os símbolos que lembrassem qualquer
invocação religiosa, como uma das sete
maravilhas do mundo moderno, o Cristo
Redentor, para não criar constrangimentos à minoria que não acredita em Deus.
O que me preocupa nesta onda do
“politicamente correto” é a revisão que
se pretende fazer de todo o passado de
nossa civilização, desde livros de Monteiro Lobato às epístolas de São Paulo - não
ficando imunes filósofos como Aristóteles,
Platão ou Sócrates, que elogiavam uma
democracia elitista servida por escravos.
Talvez o presidente Sarney tenha resumido com propriedade a ação do eminente membro do parquê ao dizer que, com
tantos problemas que deve a instituição
enfrentar, deveria ter mais o que fazer.
A moeda padrão do mundo, que é o
dólar, tem como inscrição “In God We
Trust”. A diferença é que os americanos
confiam em Deus e na sua moeda - nós
“louvamos a Deus” na esperança de que
também possamos confiar na nossa.
Transcrito da Folha de São Paulo de 26.11.2012
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3
Este artigo encerra a série
iniciada em edições anteriores, com “Francisco
de Assis” publicada no número 153, em agosto,
e “A Escola Franciscana”, no número 154, em
setembro - ambas disponíveis no site www.
cienciaefe.org.br.
Orlando Bernardi é autor de “Francisco de Assis:
Um Caminho Para a Educação”, publicado pela
Editora Universitária São Francisco/IFAN.
Utilize seu celular
e conheça mais
sobre esse atrativo.
FILOSOFIA FRANCISCANA
3 - O CÂNTICO DAS CRIATURAS
ORLANDO BERNARDI
O franciscano Antônio Merino afirma que
“Francisco conseguiu o difícil ideal de deslocar
o eu, como centro de gravidade e de referência,
e de colocar em seu lugar outros centros referenciais aos quais, em todo momento, se remetia e com os quais sempre contava”. Um desses
centros referenciais são as criaturas de nosso
mundo. A atitude de Francisco frente a essas
realidades criadas é poética e mística. É poética
enquanto fruto de uma incontida emoção de
admiração, êxtase e encantamento que seres
tão simples, tão belos e tão bons lhe comovem
a alma. É mística porque as mesmas criaturas
lhe revelam e falam de um mistério que nelas se
esconde e ao mesmo tempo desvelam: o Deus
bondoso e amoroso que as sustenta. Sente-se,
então, como em casa, cercado de tantas e tão
variegadas criaturas. Por estar tão próximo e
por vê-las, às vezes, tão desprotegidas e necessitadas, mas ao mesmo tempo tão alegres e
contentes, as contempla como sinais de Deus
que é Pai. Une-se a elas com sentimentos de
amizade e de ternura como irmão de todas e,
CURSO DE FILOSOFIA DA FAE
Com bases cristãs e franciscanas, o curso de filosofia
da FAE Centro Universitário procura oferecer uma
formação sólida, exercitando o pensamento e a consciência crítica, desenvolvimento uma visão integral do
ser humano construtor do mundo e da histórica.
por isso, as vê e as quer como irmãs suas.
As legendas, por sua vez, nos transmitem
muitas palavras suas e episódios em que o
Poverello aparece em intimidade com elas. Há
o episódio em que ele adverte o irmão hortelão
para que deixe um cantinho de sua horta onde
as ervas daninhas pudessem sobreviver. Ou
aquele outro ainda em que, extasiado diante da
simplicidade e da beleza das flores, as convida
para que entoem hinos de ação de graças ao
Criador. Não se quer esquecer, de modo algum,
o episódio do lobo de Gúbio, ou a fala aos
passarinhos e aos peixes.
Por um lado, é dentro dessa mundividência que se apresenta o célebre cântico das
criaturas. Diz-se de um lado, porque nele se
decanta a beleza e a grandiosidade do sol, da
lua, das estrelas, etc., mas por outro nada se diz
do momento de profundo sofrimento em que
se origina esse cântico. Francisco encontra-se
prostrado sofrendo por causa de doenças a
ponto de desejar a morte. Pois, foi nesse mo-
Frei Orlando Antônio
Bernardi Doutor em
Teologia sistemática.
Tradutor e pesquisador
das fontes e escritos
franciscanos junto ao
curso de filosofia da FAE
Centro Universitário.
Oferece dupla modalidade:
- Licenciatura: formação teórico-prática para inserção profissional na docência;
- Bacharelado: ênfase na pesquisa.
O curso atende as necessidades da formação para funções religiosas e
pastorais.
Duração: 3 anos
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Informações: 41 2105-5113
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mento que descobriu que o plano de Deus a
seu respeito é o mais grandioso possível: sua
libertação total. Naquela manhã chama um
de seus irmãos e lhe pede que escreva o canto
que acabara de compor: “Louvado sejas, meu
Senhor, com todas as tuas criaturas...” A partir
desse momento Francisco se torna a expressão
alegre do ser humano reconciliado consigo,
com Deus e com o mundo criado.
Nesse cântico não se percebe apenas uma
visão da criação, mas nele se concentra de
forma sintética como o Poverello se posicionava
diante de Deus, do mundo, do ser humano e da
própria morte a ponto de se poder reconstituir
sua personalidade. De fato, evoca-se nele um
conjunto de presenças, todas distintas, necessárias e respeitadas, porém todas da mesma
forma cantadas e amadas. Tem-se aqui uma
visão cósmica única, expressa numa linguagem
dialetal em que sobressaem ainda mais a intimidade, a grandeza e a generosidade de alguém
que nascivamente se abre para o simples e o
belo. O sol, a lua, as estrelas, a água e o fogo
se prestam para transmitir uma visão grandiosa
de um homem simples que sabia ver, ouvir
e cantar. O que ele mais queria é que outros
seres humanos, homens e mulheres, como ele
soubessem ouvir e cantar as belezas da vida e
do mundo.
Tudo isso, os mestres, filósofos e teólogos
franciscanos , através de suas investigações
e reflexões tentaram traduzir em categorias
filosófico-teológicas.
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5
POR QUE
AS IGREJAS TRADICIONAIS ESTÃO
PERDENDO TANTOS MEMBROS PARA
NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
clique aqui
?
(Conclusão)
JOÃO BATISTA ATHANÁSIO
Este artigo, feito para participação no
Grupo de Estudos do Instituto Ciência e
Fé para os primeiros debates em torno
da mobilidade religiosa brasileira, por
João Batista Athanásio, teve publicadas
as duas primeiras partes nas edições
anteriores, 154/out e 155/nov e estão
disponíveis em www.cienciaefe.org.br.
O título foi a pergunta proposta aos estudiosos e especialistas para o encontro que aconteceu no dia 01.10.2012, no Instituto Salette, em
Curitiba-PR.
4. A migração interna do Cristianismo não é
exclusividade brasileira
Há apenas 17 mil padres no Brasil. Boff opina
que teriam de ser uns 120 mil. Então, as igrejas
pentecostais ocupam esse vazio. O povo, então
também vai ao centro espírita e à ma-cumba. Elas
dão o que o povão busca. Evitam o que ele não
quer: os dogmas. Contudo, o fenômeno de migração interna do Cristianismo não é exclusividade
brasileira. Na Europa, também os que estudaram
estão migrando. Na Alemanha, por exemplo, as
maiores perdas ocorreram nas igrejas protestantes, graças à política ateísta da antiga Alemanha
Oriental. Mas, desde a queda do Comunismo, a
Igreja Protestante continua a perder membros.
Os “sem religião” vêm crescendo. Em Hamburgo
acontece o mesmo.
4.1. As igrejas evangélicas também sofrem com
a migração interna
Em suma: porque, segundo o último senso são
constituídas, em média, duas mil Igrejas evangélicas por mês no Brasil, segundo informam os
Cartórios de Registros de Títulos e Documentos. É
possível imaginar que muitos abrem igrejolas em
garagens, em lugares que eram bares, mercearias
e lojinhas, sem fazer estatutos, atas de fundação,
sem alvarás municipais e, portanto, sem a inscrição federal (CNPJ). Tanto que, nas periferias
das capitais é notório encontrar uma igreja por
quadra em média.
Leonildo Silveira Campos6 comenta a diminuição
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UNIVERSIDADE
de fiéis da Igreja Universal (IURD), e o futuro das
igrejas mediante o surgimento e fortalecimento
das mídias digitais, que permite cultos e práticas
religiosas possam ser realizadas cada vez mais
pela internet. Diz que nos últimos dez anos a
IURD perdeu 10% de seus membros, graças à
própria competitividade interna no pentecostalismo. Embora a experiência com o Espírito
Santo deva ser um fator de unidade, ao que
tudo indica, o fator financeiro e social influencia
sobremaneira os fiéis na escolha da igreja que
devem frequentar. É notável como os pobres são
os mais suscetíveis às pregações dos milagres e
prodígios. Então, Igrejas como a Mundial (um
dos clones da IURD, fundada pelo ex-bispo da
Universal, Valdemiro Santiago), a do Evangelho
Quadrangular e a Deus é Amor levam vantagem.
Este quadro, afinal, resulta em grande parte da
globalização, do pluralismo e da diversidade das
religiões.
4.2. “Uma igreja em cada quadra”
Eis um fato concreto e emblemático: um pastor
da Igreja do Evangelho Quadrangular se queixa
da evasão de membros dizendo que há muita
igreja por perto! Há vinte anos, contava umas seis
igrejas entre a sua casa e a Igreja que dirige, a
qual fica a seis quadras. Hoje, no mesmo espaço
existem TRINTA E DUAS IGREJAS, entre as quais
uma só é Católica.
4.3. Os pastores que perdem membros
Os pastores que estão em ação há mais tempo
fazem parte do mesmo coro e acrescentam: o
mundo evangélico tem sido vítima de epidemias,
que são as inovações que surgem de repente e
logo se alastram impiedosamente, deixando as
sequelas. Ondas de modismos absurdos, principalmente na área da música, que consideram
estridentes e sem sentido. O sacolejar dos irmãos
ante essas músicas que provocam o movimento
corporal tem se tornado comum até mesmo
em algumas senhoras veneráveis que antes mal
podiam sentar-se nos bancos queixando-se do
reumatismo7. Enfim, para os pastores que perdem membros, o motivo é que a igreja acolheu
inovações mundanas sem restrições. Alegam que
São
constituídas,
em média,
duas mil
Igrejas
evangélicas
por mês
no Brasil
João Batista
Athanásio
Professor nas
áreas de Filosofia,
Psicologia e Direito.
Advogado.
as igrejas que atraem seus membros tornaram-se
circos, teatros ou cinemas cheios de atrações;
que em momento algum os profetas, os apóstolos
e o próprio Cristo tenham dado margem nos ensinando a que usássemos de artifícios mundanos
para atrair pessoas à sua casa de oração. Cristo
é suficiente!
4.4. Os pastores que “ganham” membros
E os que “fazem sucesso” se justificam: perdiam
membros por obedecerem às tradições. Portanto,
para encherem suas igrejas – “dois ou três reunidos” (MT 18, 20) não rende. Dois ou três mil é
bem melhor! Não dá para ser conservador, radical, intransigente. O povo procura acolhimento,
simpatia, milagres de cura e de prosperidade,
nesta ordem.
Reggie Joiner8 corrobora com os inovadores com
o seguinte argumento: Todo movimento espiritual
da história começou porque alguém estava disposto a aproveitar a oportunidade. Eram homens
e mulheres que ousaram “repensar” o que eles
acreditavam e o que eles eram realmente responsáveis por fazer em nome da igreja. Dois mil anos
atrás, o apóstolo Paulo rejeitou a noção de que
os Cristãos tinham que preservar as tradições da
fé judaica a fim de estabelecer a igreja. Como
resultado, congregações se espalharam pelo
Império Romano e pelo Mundo Gentio. E continua sua incursão pela História, com Martinho
Lutero, que ficou face a face com o conceito de
ser “justificado pela fé” e promoveu a Reforma
Protestante; e, mais recentemente, homens como
Bill Hybels têm desafiado igrejas tradicionais
no seu modo de fazer discípulos e atingir suas
comunidades. Defende uma reengenharia nas
agendas eclesiais. Para ele, o verdadeiro líder de
Deus, capaz de impactar uma geração tem estas
características: é pessoa controversa, não tem
medo de questionar o que é considerado sagrado; e é descompromissado com suas prioridades.
acolhimento
do pragmático
e do
mercadológico:
antes da
salvação eterna
o povo busca a
salvação
das doenças
e do bolso
Enfim, incentiva a radical modificação de qualquer
igreja. Prega o aproveitamento de toda oportunidade neste sentido, o que chama de Laboratório
para Repensar.
Conclusão
Os motivos para a perda de membros da Igreja
Católica e das protestantes tradicionais apontados:
tradicionalismos, radicalismos, dogmas, poucos
padres e desmoralização pelas acusações de
pedofilia nos últimos tempos, constituem parte de
um conjunto muito maior de causas, que podem
ser apontadas e examinadas sob os mais diversos
aspectos.
Um aspecto que merece destaque é que não só as
Igrejas tradicionais estão perdendo membros, mas
os próprios novos movimentos religiosos, entre
os quais despontam os neopentecostais, também
estão perdendo membros para eles próprios, pela
migração interna incentivada pelo número descomunal de igrejas que se abrem todos os dias.
Neste artigo a análise foi eminentemente à luz das
estatísticas e dos fatos (Sociologia). Como se vê,
não há discussão de questões teológicas, doutrinárias e filosóficas que mereçam consideração. Daí
o destaque dado ao acolhimento do pragmático e
do mercadológico: antes da salvação eterna o povo
busca a salvação das doenças e do bolso. Por mais
ousadamente reduzida, que seja, certamente, esta
é a causa por excelência da perda de membros das
igrejas tradicionais.
6 Professor titular da Universidade Metodista de São Paulo – Umesp -, concedeu uma
entrevista ao IHU (Instituto Humanitas Unisinos).
7 Pr. José Vasconcelos, da Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Ipsep. In http://
ipfi.blogspot.com.br/.
8 Diretor Executivo do Ministério de Família da Igreja de North Point localizada em
Alpharetta, GA., Fundador do Grupo de Repensagem. www.reThinkLabs.org.
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NATAL
JOÃO BATISTA LIBÂNIO
No Natal trava-se a batalha entre dois imaginários sociais. De mais longe, vem o significado cristão, profundo, religioso do nascimento
de Jesus. Todos conhecemos a origem. Cai no
solstício de inverno dos países do hemisfério
Norte. Desde o Imperador Aureliano (séc. III),
celebrava-se nesse dia o Natal do Sol Invicto,
festa mitríaca do renascimento do sol. A Igreja
de Roma transpõe-na então para o nascimento
do Verdadeiro Sol da Justiça, Jesus Cristo a
partir do IV século.
Nos países cristãos, a festa conservou
enorme pureza e significado, embelezando
a noite das crianças. A tradição do presépio
engalanou-a com símbolos religiosos. A apresentação artística do nascimento de Jesus com
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Maria e José, cercado de anjos, Reis Magos,
pastores e animais, em gruta singela, povoou o
inconsciente das crianças e ficou como camada
subterrânea no imaginário adulto. Vinculou-se
a ela a figura de São Francisco de Assis como
iniciador no século XIII da representação do
Nascimento de Jesus. Na forma em que hoje
conhecemos o presépio, ele é bem mais tardio,
remontando ao século XVI.
São muitos séculos de piedade, de religiosidade que se consubstanciaram nessa festa.
Sempre houve o invólucro da ceia de Natal,
mas ela se cercava de símbolos religiosos, de
orações, de cânticos próprios, antes prolongando a sacralidade da festa que a rompendo.
Aos poucos, o capitalismo desbragado na
forma de sociedade de consumo começou a tocar-lhe o coração e transformá-lo em mercadoria. Os sinais
religiosos conservam a materialidade
visível, o significante, mas perderam
o significado para se mercantilizarem.
Vende-se a festa de Natal em todos
os pormenores. Ela é arrancada da
celebração litúrgica de tal modo que
pode ser celebrada sem nenhuma
referência ao evento fundador.
Na prática, vivem-se três situações
diferenciadas. Em alguns lugares, predomina ainda a dimensão religiosa.
Os mosteiros, comunidades cristãs
fervorosas põem o acento na celebração eucarística da meia noite, mesmo
que, por razões práticas, o horário
vem sendo relativizado. Há lugares do
Brasil que a violência urbana impede
as pessoas saírem tarde da noite para a
celebração. Antecipam-na.
Outros jogam com o 50%. Conservam a festa religiosa, mas em
proporção igual se munem com os
acréscimos seculares de presentes,
de consumismo exagerado dos bens
natalinos. Nos EUA, a venda de peru
cresce enormemente como o prato
típico do tempo natalino. As granjas se
orientam para tal.
Hoje é a forma mais comum de
celebrá-lo. Os aparatos externos consumistas tendem a crescer, mas ainda
se respeita o imaginário religioso de
séculos. Famílias de boa tradição
cristã não abandonam a celebração
litúrgica, antes de iniciarem as co-
milanças, bebedeiras e presentes. Paga-se já
tributo considerável ao consumismo.
A vitória completa da sociedade secularizada acontece pela redução do Natal à categoria
de simples feriado civil. E o lazer ocupa totalmente o espaço disponível.
Vincula-se tal evento com o costume de
mútuo presentear-se, sem dar-se conta do
significado simbólico primigênio. O presente
vale pelo presente, pela embalagem, pelo valor
material, pelo gozo do consumo. Nada a ver
com o grande Presente do Pai na pessoa de
Jesus. É o fim do Natal religioso.
Em luta desigual com o afã consumista da
sociedade atual, resta-nos conservar a tradição
religiosa pelas vias de que dispomos: catequese
desde a família, valorização da celebração
litúrgica, educação cultural da simbologia religiosa natalina. A religião faz parte da cultura
e é-lhe o coração. Tal vinculação permite que
ambas se conservem. Feliz Natal!
Transcrito de www.jblibanio.com.br
O EMBLEMÁTICO “ANO NOVO”
EDMILSON FABBRI
J. B. Libanio
Padre jesuíta,
escritor e teólogo.
Ensina na
Faculdade Jesuíta
de Filosofia e
Teologia (FAJE),
em Belo Horizonte,
e é vice-pároco
em Vespasiano
Vespasiano
Sempre me chamou a atenção a esperança
depositada pelas pessoas em um “ano novo”.
Que força é essa que as move, e é claro, me
incluo entre elas, que as fazem acreditar, muitas vezes em mudanças radicais, baseadas,
única e exclusivamente na chegada de um ano
novo. “Adeus ano velho, feliz ano novo, que
tudo se realize no ano que vai nascer, muito
dinheiro no bolso saúde pra dar e vender” Eu
diria que é o verdadeiro cântico dos cânticos,
e quem de nós já não o cantou? Com que
força e vontade proferimos cada palavra desse
canto?
Na frieza da racionalidade poderiam
questionar, mas, o que muda? Saímos do
dia 31 de dezembro e entramos no dia 01
de janeiro, como saímos do final dos outros
meses entrando nos subsequentes. Eis aí o
mistério da fé. A força da crença, duvidar,
quem há de? Esse é um momento mágico de
sintonia do homem com o universo, quando
ao colocar todas as suas esperanças nas mais
impossíveis causas, emana toda a positividade
de seu do pensamento, fazendo-o ecoar para
além das galáxias, estrelas , astros , entrando
numa simbiose perfeita entre o querer e o
poder. Quer com tanta força e determinação
que praticamente atrai para si, justificando o
ditado que diz “palavras têm poder”.
Parar de fumar, encontrar o grande amor, ou
pelo menos o amor (pois o amor já é grande
em si mesmo), sempre considerei pleonasmo
a expressão grande amor, pois se tudo é amor
e esse é o sentimento que redime, que liberta,
então, já é grande por si só, comprar a casa
própria, trocar de carro, passar no vestibular,
livrar-se de uma doença, mudar de trabalho,
emagrecer (que na minha opinião representa
fazer as pazes consigo mesmo), perdoar
alguém, reencontrar alguém, ufa!, o que um
ano novo pode trazer…
Os céticos com seus questionamentos,
e aqui não vai desrespeito nenhum às suas
maneiras de pensar, fazem com que a vida
perca muito do seu colorido, pois as cores
estão ligadas aos sonhos, e a nossa capacidade de sonhar nos dá asas, permite-nos voar
alto, muito longe, junto às estrelas, por isso os
sonhadores se renovam na mudança de um
novo ano, não estão preocupados com o que
não aconteceu neste ano que se finda, para
além disso, estão muito mais envolvidos com
as novas possibilidades vislumbradas no ano
novo.
Então vamos lá, pular sete ondas, comer
sete uvas, fazer três pedidos com três goles
de champagne (valem também as sidras) não
importa a maneira emblemática que você
acredite, faça-a e perpetue a magia, a beleza e
a graça de um ano novo.
Dr. Edmilson
Fabbri clínico
e cirurgião
geral, dirige a
Stressclin - Clínica
de Prevenção
e Tratamento
do Stress, é um
dos diretores do
Instituto Ciência
e Fé.
[email protected]
(www.stressclin.med.br)
Feliz Natal , feliz ano novo!
UNIVERSIDADE |
DEZEMBRO 2012 |
9
UM JUDEU NO VATICANO
(Conclusão)
ANTONIO CARLOS COELHO
Neste artigo, que teve as partes I e
II publicadas no números anteriores,
o professor Antonio Carlos Coelho
aborda a participação do cardeal
Johannes Oesterreicher na elaboração
do principal documento da Igreja que
estabelece as relações entre católicos
e judeus, o Nostra Aetate. Não haveria
nada de novidade, se o referido cardeal
não fosse um judeu convertido ao cristianismo e não tivesse o papel que teve
nas relações entre a Igreja e o Judaísmo.
Antonio Carlos
Coelho é professor
universitário,
escritor,
colaborador do
jornal Visão
Judaica,
e diretor do Instituto
Ciência e Fé.
[email protected]
10 |
João XXIII foi sucedido pelo Cardeal
Giovanni Maria Montini, que escolheu o
nome Paulo VI para ocupar a Sé de Pedro.
A ele coube a continuidade da condução
do Concílio Vaticano II. Apesar de ter
mantido o mesmo espírito de aggiornamento10 iniciado pelo seu antecessor, não
guardou o mesmo carisma e simpatia às
relações da Igreja com o judaísmo.
Quando Concílio se encaminhava
para sua conclusão manifestou falta de
sensibilidade na sua pregação em relação
aos judeus. Exatamente, quando tradicionalmente a Igreja salientava em suas
pregações e na liturgia a não aceitação,
por parte dos judeus a Jesus - Paulo VI,
esqueceu o zelo de João XXIII. Na sua
pregação do primeiro domingo da Paixão
– 4 de abril de 1965, disse:
“Ora ló spirito e Il cuore di tutti sono
chiamati a meditare alquanto, e in raccoglimento, Il brano Del santo Vangelo teste
letto”.
“È uma pagina grave e triste. Narra, infatti, lo scontro fra Gesù e Il popolo ebraico. Quel popolo, predestinato a ricevere
Il Messia, che Lo aspettava da migliaia
di anni ed era completamente assorto in
questa speranza e in questa certezza, al
momento giusto, quando, cioè, Il Cristo
viene, parla e si manifesta, non solo non lo
riconosce, ma ló combate, ló calunnia ed
ingiuria; e, infine, lo ucciderà” (Osservatore Romano de 7 de abril de 1965)
“Agora, o espírito e o coração de todos
são chamados a meditar um pouco, e em
oração, do som do Santo Evangelho”.
DEZEMBRO 2012 |
UNIVERSIDADE
Cardeal Johannes Oesterreicher
Cardeal Bea
confere com o
rabino Abraham
Joshua Heschel
o texto do
documento no
Concílio Ecumênico
Vaticano II
Fotos: reprodução
“É uma página séria e triste. Narra, de
fato, o confronto entre Jesus e os judeus.
Pessoas destinadas a receber o Messias,
que o esperavam há milhares de anos e
que estavam completamente absorvidas
por essa esperança e essa certeza, e, no
momento exato, isto é, quando Cristo estava presente, quando falou e se manifestou,
(elas) não só não o reconheceram, mas o
combateram, o calúniaram, o injuriaram e,
finalmente, o mataram.” (tradução livre)
As palavras de Paulo VI soaram como
uma bomba no ambiente hebraico. O
trabalho de João XXIII parecia ser coisa do
passado. Era como se o antigo sentimento
antijudaico, aquele que atribuía aos judeus
a responsabilidade pela morte de Jesus
(deicídio) retornasse com a mesma força
dos séculos anteriores. Jornais israelenses
consideraram ser o Papa um antissemita.
O gran-rabino de Roma manifestou em
telegrama enviado ao Secretário de Estado
do Vaticano o sentimento de “penosa
surpresa” da comunidade hebraica diante
das palavras do Papa.
Num comunicado lido em Nova York,
em 28 de abril de 1965, o Cardeal Bea
afirma que se o Papa tivesse sido orientado
por estudiosos não teria feito a pregação
que fez naquele domingo da quaresma de
196511.
Em 30 de abril, o Jerusalem Post publicou uma nota intitulada “O Papa deplora
a acusação feita aos judeus”. O texto da
nota traz, também, um pedido de desculpas do Papa ao povo judeu. Fato é que, o
que Paulo VI disse já estava dito. Refletia
o sentimento secular da Igreja em relação
aos judeus, como também, traduzia a dificuldade que Paulo VI tinha em aceitar o
caminho aberto pelo Concílio e João XXIII
para a aproximação com o povo de Israel.
Na visita que Paulo VI fez a Israel,
apesar de ter sido recebido e acolhido
pelo governo, não fez nenhuma menção
ao Estado de Israel. E, após seu retorno,
agradeceu a acolhida, por telegrama, ao
Senhor Zalman Shazar, e não ao presidente de Israel.
Com espírito de “boa vontade” poderia dizer que Paulo VI agiu desta forma
motivado pela situação política entre
árabes e israelenses, que não queria dar
uma dimensão política nas relações
entre a Igreja, o povo judeu e o Estado
de Israel. Todavia, a realidade era outra.
Paulo VI, apesar de ter dado continuidade ao Concílio e mantido o espírito do
“aggiornamento”, não estava convencido
da necessidade de se fazer uma reabilitação das relações com Israel e o povo
judeu. A Paulo VI faltava a sensibilidade
e a amizade que abundava em João XXIII,
João Paulo II e Bento XVI em relação aos
judeus.
Não obstante aos tropeços diplomáticos e de sensibilidade de Paulo VI, em outubro de 1965 o Concílio terminou, sendo
Acima:
Cardeal Bea
confere com
o rabino
Abraham
Joshua
Heschel
o texto do
documento
no Concílio
Ecumênico
Vaticano II
Mais do que
um grande
passo para a
aproximação
aos irmãos
mais velhos
– os judeus
– foi para a
Igreja uma
reconciliação
com sua história
e sua teologia.
À direita:
Papa Paulo
VI
10 Aggiornamento – termo usado por João XXIII para definir a adaptação e a nova
apresentação dos princípios católicos ao mundo atual e moderno, sendo o objetivo
fundamental do Concílio Vaticano II.
11 Il Concilio Vaticano II: quarto período, 1965, p. 287, Ed “La Civiltà Cattolica”, Roma,
1968.
publicado o mais importante documento
da Igreja em relação ao povo de Israel, o
“Nostra Aetate”.
Não se tem dúvidas quanto ao valor
do seu conteúdo. Representa um esforço
gigantesco de superação de uma mentalidade antissemita que perdurou do nascimento do cristianismo aos horrores de
Auschwitz. Seu conteúdo recupera uma
história perdida e contraditória à moral
e a caridade expressa nos Evangelhos.
Reconhece a origem cristã no berço e no
espírito judaico. Mais do que um grande
passo para a aproximação aos irmãos
mais velhos – os judeus – foi para a Igreja
uma reconciliação com sua história e
sua teologia. Não seria mais suportável
manter-se na sombra do pecado da segregação religiosa e étnica, da inquisição,
dos pogroms e da Shoá.
O Nostra Aetate talvez não contemple
muito do que aqueles que batalharam décadas para transformar a Igreja desejavam.
Mas os nomes de Cardeal Oesterreich, do
Cardeal Agostinho Bea, do próprio Papa
João XXIII, da Congregação de Nossa
Senhora de Sion e outras tantas pessoas
devem ser lembradas como grandes
batalhadoras para essa transformação na
Igreja Católica.
Artigo publicado nas edições de ago/set/out 2012
de Visão Judaica - Prossegue na próxima edição.
O PECADO ORIGINAL
SONIA LYRA
UNIVERSIDADE |
DEZEMBRO 2012 |11
Ilustração: reprodução com intervenção
O PECADO ORIGINAL
SONIA LYRA
Em Assim falou Zaratustra, Nietzsche diz
que nosso único pecado é que nos alegramos pouco demais. “Desde que os homens
existem, sempre o homem se alegrou pouco
demais: é somente este, meus irmãos, o nosso pecado original” (1983, p. 102). Para uma
autora de peso, como Hildegard de Bingen,
(de quem falamos no artigo Espiritualidade e
Saúde) a essência da ascese, isto é, da disciplina é poder alegrar-se sempre. Disciplina
vem do latim discapere e significa tomar nas
próprias mãos, moldar pessoalmente. Por
exemplo, se alguém engole um pedaço de
bolo com avidez, sem saboreá-lo, não poderá alegrar-se; ficará apenas chateado por ter
ingerido calorias ou porque comeu demais.
Quem saboreia, ficará com o gosto daquela
alegria, ainda por muito tempo em sua boca.
Hazrat Inayat, um mestre Sufi, diz: Deve-se
renunciar à cobiça, mas não à alegria. A
cobiça chega acompanhada de dor, dissabor
e ira. É uma espécie de prazer falso, uma
paixão da alma. Rilke por sua vez, exorta:
Nunca esqueça, a vida é uma maravilha!
Ele não está se referindo a alguma qualidade
particular da vida, como o sucesso, o amor,
à saúde ou à juventude. Está falando da vida
Sonia Regina
Lyra, Psicóloga,
Analista Junguiana,
mestre em Filosofia
(PUCPR) e doutora
em Ciências da
Religião (PUCSP);
presidente do
Ichthys Instituto
de Psicologia e
Religião.
[email protected]
(41) 9990-0575
Instituições de Ensino: PUC-PR, em todos os campi; UFPR, Departamento de Genética;
Universidade Positivo; UNIFAE; Studium Theologicum; Faculdades Espírita; Faculdades do
grupo UNINTER (FACINTER, FATEC, IBPEX, INFOCO); Faculdade Evangélica do Paraná, curso
de Teologia; Universidade Tuiuti; Colégio Nossa Senhora Medianeira; Colégio Bagozzi, Curso
de Filosofia dos Padres Xaverianos; FAVI e Ichthys Instituto de Psicologia e Religião, cursos
de Pós-graduação Psicologia e Religião e Psicologia Analítica e Religião Oriental e Ocidental;
Faculdades ESEI (prof. Eliseu).
com seus altos e baixos, com seus lados de
luz e sombra, com todos os matizes da alegria e da dor: é uma maravilha! O Salmo diz:
Põe tua alegria em Yahweh e ele realizará
os desejos do teu coração (Salmo 37,4). A
alegria é um estado da alma, que pode vir
ou não acompanhada da diversão no sentido
como a entendemos hoje. Quem corre de
uma diversão para a outra, torna-se incapaz
para a alegria diz a escritora austríaca Marie
von Ebner-Eschenbach. Diversão pode
causar doença, vício, porque a pessoa se
torna insaciável. A alegria não. A invenção
da indústria da diversão tenta levar as pessoas para experiências extraordinárias, mas a
verdadeira alegria, não pode ser produzida,
nem induzida artificialmente. Ela acontece
quando se vive inteiramente o momento
presente. É o que Abraham Maslow chama
de experiência de cume. Um nascer do sol,
ou a vista maravilhosa de uma paisagem
qualquer indicam que precisamos apenas
estar de “olhos abertos”, despertos, para que
a experiência da alegria aconteça. São João
Crisóstomo disse que Deus deixou para os
seres humanos algumas coisas do paraíso:
as estrelas do céu, as flores do campo e os
Paróquias e Igrejas: São Francisco de Paula; São João Batista Precursor; Santo Antonio Maria
Claret; N. S. de Salette; do Espírito Santo; Igreja da Ordem; Sagrado Coração Pinheirinho (Igreja
Preta), Santíssimo Sacramento (pe. João Carlos Veloso), Paróquia São Marcos - Barreirinha,
Pilarzinho (seminarista Leandro); Paróquia de Santo Agostinho, Ahu (com Suzy, pastoral da
Liturgia), em Curitiba; São Pedro e N. S. Perpétuo Socorro, em São José dos Pinhais; Capela
São Miguel Arcanjo, em Pinhais.
Livrarias: Ave Maria, Letternet, Paulinas, Paulus, Vozes, e Chain.
olhos das crianças. E Santo Tomás de Aquino
completa dizendo que Crisóstomo esqueceu
duas coisas: o queijo e o vinho. Crisóstomo
teve que pagar com o exílio suas pregações
e enaltecimentos à vida, pois anunciava
Jesus Cristo com tal alegria que as pessoas
se sentiam tocadas. Alegria é um pouco
diferente do prazer. O prazer do queijo e do
vinho se torna alegria, se saboreados devagar, intensamente. Numa noite de recepção
perguntaram ao teólogo Johann Baptist
Metz porque as pessoas da Baviera eram
consideradas tão especiais: ele respondeu
que elas têm uma alegria natural na religião,
e uma alegria mística na cerveja! Claro, isso
não deve valer somente para a Baviera! No
entanto algo ocorre: não se pode pretender
prender a alegria. Ela só pode ser desfrutada
quando renunciamos à vontade de detê-la
para nós ou de segurá-la. Em última análise,
é uma experiência espiritual: desprender-se
de si mesmo e entregar-se à Vida. Somente
a pessoa que pode ir transformando seu ego
(que sempre quer ter e agarrar) pode sentir
autêntico prazer. Autorrenúncia aqui, é o
pressuposto para o prazer autêntico, a verdadeira alegria. Vida tem a ver com fluidez,
solução. A vida não é somente um problema
a ser resolvido. Quando a vida flui, isso já é
solução. É quando a Vida se torna um mistério inefável. Um provérbio chinês diz: Se
guardo em meu coração um galhinho verde,
um pássaro gorjeador virá e pousará nele e
encherá nosso coração com alegria, ficamos
maravilhados. Para Beethoven, em sua Nona
Sinfonia, Schiller criou a “Ode a Alegria”. Ela
se tornou uma música para a humanidade
que ressoa em momentos de grande alegria
e gratidão. Melodia e texto são uma unidade
e fazem vibrar os corações. Schiller chama
a alegria de uma bela filha do Elísio, uma
belíssima centelha divina que as divindades
colocaram no coração do homem, mas que,
provém da terra dos bem-aventurados. É
louvada como a mansidão que conecta as
pessoas; é a alegria a grande motriz. A grande
engrenagem que faz as flores brotarem inspira novas ideias e faz transbordar uma vida
feliz: redimida do pecado original!
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Outros Recebedores Permanentes (via correios ou malote): Lideranças do magistério em
Campinas-SP (pelo Dr. Evaristo de Miranda); juízes, desembargadores, promotores de Justiça
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Fotos: Leandro
O CAMINHO ABERTO POR JESUS
José Antônio Pagola
ANJOS NATALINOS
Anselm Grün
Nesta obra Anselm Grün segue os vestígios
dos anjos ao longo das narrativas do Natal
no Novo Testamento, esclarecendo seu
significado e os efeitos de sua ação. Nestes
textos de meditação, ele nos convida a
receber a alegre mensagem dos anjos de
coração leve e desapegado, pois, assim
como faz o autor, quem deseja deixar-se
tocar pelos anjos natalinos, deve abrir-se à
sua palavra. Assim, a alegria anunciada por
eles também ecoará em cada um de nós.
Depois de presentear o leitor brasileiro com
dois clássicos do autor - Jesus, aproximação
histórica e Pai-nosso, orar com o espírito de
Jesus - a Vozes lança esta reflexão sobre o
Evangelho de Lucas. Um livro que nasce da
vontade de recuperar a Boa Notícia de Jesus
para os homens e mulheres de nosso tempo. O evangelho de Lucas é, sem dúvidas,
o primeiro que temos que ler para descobrir
com satisfação a Jesus, o Salvador enviado
por Deus. Também é o mais acessível para
captar a mensagem de Jesus como Boa
Notícia de um Deus compassivo, defensor
dos pobres, curador dos enfermos e amigo
dos pecadores.
PARA ALÉM
DO ESPÍRITO DO IMPÉRIO
Novas perspectivas em política e religião
AJoerg Rieger, Jung MoSung
e Néstor Miguez
Este livro, que trata do Império global, se
produz como sintoma dessa mesma globalização. É uma reflexão crítica do que vivem
seus autores, nutre-se da própria ambiguidade daquilo que questiona. Assim, veem o
Império a partir de distintos ângulos, a partir
de experiências diferentes, com formações
que são dessemelhantes, em seus enfoques
e alcances, embora coincidam em torno de
uma necessidade compartilhada: a de pensar a vida humana “a partir de baixo”, dos
lugares dos mais necessitados, da vítima do
despojo e do preconceito, dos excluídos...
SER UM
ENTRE BILHÕES
Leituras de alter-ajuda.
A mística
dos últimos lugares
José Fernandes de Oliveira
Nesta obra, Pe. Zezinho desmistifica a importância do primeiro lugar, por isso sugere
a alter-ajuda. O ser humano é chamado não
apenas a ajudar a si mesmo, autoajuda, mas
a ajudar ao outro, alter-ajuda, sair de si para
cuidar do outro. O tema alter-ajuda sai do
lugar comum que já tomou os vários livros
de autoajuda. O autor faz um convite a sairmos de nós mesmos em diversas situações
do dia a dia, deixando assim um “espaço”
para o outro. É um convite à prudência e à
percepção do outro
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DEZEM
DEZEMBRO
BRO2012
2012 ||
Jung leitor de Nietzsche: acerca da “morte de Deus” e
Nicolau de Cusa: visão de Deus e teoria
do conhecimento, obras de fôlego
Sem eufemismo: o controverso e sábio Luiz Felipe Pondé, psiquiatra, colunista da Folha de São Paulo e um dos intelectuais mais
debatidos (contestado e apoiado) Brasil afora, extasiado, chorou (de
alegria) diante do notável trabalho gráfico (desenho da capa, sobretudo - design de Jubal Sergio Dohms) e editorial do livro “Nicolau de
Cusa, Visão de Deus e Teoria do Conhecimento”, quando a autora, a
psicóloga e escritora Sônia Lyra mostrou-lhe a obra que nasceu de sua
tese de mestrado e que também foi tema do doutorado na PUC-SP,
proposto pelo próprio Pondé.
No lançamento, neste 5 de dezembro, em Curitiba, na Livraria Cultura, além de “Nicolau de Cusa, Visão de Deus e Teoria do
Conhecimento” outra obra de fôlego de Sônia Lyra estava sendo
apresentada: “Jung Leitor de Nietzsche: acerca da Morte de Deus”
- uma analise sob a perspectiva da leitura feita por Jung sobre “Assim
Falou Zaratustra”.
Com o parceiro Jubal Dohms, alegria de criadores.
COLEÇÃO VOZES DO PARANÁ - RETRATOS DE PARANAENSES
do jornalista Aroldo Murá G. Haygert
A DANÇA DAS ENERGIAS
Uma Abordagem da Energia Mental
Edson Tristão (org)
CELEBRAR O ANO LITÚRGICO
Tempo dos homens em Jesus Cristo
Guillermo D. Micheletti
A obra nos leva a uma ousada viagem de
descobrimento pelos labirintos misteriosos
da energia mental e nos convida a um estudo maduro a respeito da importância do ato
de pensar e suas repercussões no ambiente
em que se vive. Circulação energética, Psicoesferas, Energia mental no passe, Laços
fluídicos, Formação e cura das doenças,
nos são apresentados por uma equipe de
34 colaboradores do Centro Espírita Luz da
Caridade, entidade que será beneficiada
com a venda.
Para os cristãos o Ano Litúrgico é uma
realidade teológica, litúrgica e catequética,
estruturada e organizada ao longo do
tempo a partir das primeiras experiências
celebrativas de suas comunidades, com o
objetivo de ser eterna na memória/presença
do Cristo Crucificado/Ressuscitado. Diante
disso, mesmo que coincidindo com o ano
civil (365 dias), a duração do Ano Litúrgico
tem um outro valor, que aproxima cada vez
mais o homem do Deus vivo no tempo e o
espaço próprios.
[email protected]
14 |
Livraria Cultura promove lançamento
das obras da psicóloga Sonia Lyra
“A característica mais essencial para o lançamento destes livros,
além da presença dos amigos, é estarmos juntos, Jubal e eu. Jubal é
o criador das capas, dos tons, da arte que evocou tantos elogios. Os
textos já começam a surtir seus efeitos nos leitores falam em termos
de profundidade e conhecimento, que foi o que se buscou seriamente
nestas obras. Fiquei muito feliz com a acolhida da Livraria Cultura e
de os livros estarem agora à disposição para todo o país” - conclui
Sonia.
Doutor em Letras- UFSC,
dissertações
A psicóloga Sonia Lyra entre amigos no lançamento:
colegas de profissão, alunos e clientes de sua clínica...
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NOVENA DOS PAIS
QUE ORAM PELOS FILHOS
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A obra tem por objetivo objetivo reavivar a
fé e a esperança nos lares cristãos, especialmente naqueles divididos pela discórdia,
pela falta de diálogo e pela ausência do
amor fraterno. O autor busca incentivar os
pais a consgrar a vida de seus filhos como
dádiva divina, para que eles sejam no mundo o sla e a luz de Cristo, irradiando amor
em seus corações.
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A obra vem reunindo significativos nomes
da história contemporânea do Paraná
Os personagens do volume 4, recém-lançado, são:
Adilson Simão, Almira de Cerjat, Cida Borghetti,
Dante Mendonça, Darci Piana, Edson Luiz
Campagnolo, Fábio Campana, Francisco Simeão,
Gilmar Piolla, Henrique Paulo Schmidlin, José
Dionísio Rodrigues, José Wille, Madre Belém,
Manoel de Andrade, Maurício Schulman, Ney José
de Freitas, Regina Casillo, Rosicler Hauagge do
Prado e Tato Taborda.
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EDIÇÃO 156 DEZEMBRO de 2012