PUBL I C A Ç Õ E S D A F U N D A Ç ÃO R O B INSO N
Para a história da Fundação
Towards the History of the Foundation
ISSN
0874-8470?
PUBL I CAÇÕ E S D A F U N D AÇÃO R O B I N S O N
Para a história da Fundação
Towards the History of the Foundation
0
PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON N.º 0
ROBINSON FOUNDATION PUBLICATIONS No. 0
Para a história da Fundação Towards the History of the Foundation
Portalegre, Setembro de 2007 Portalegre, September 2007
Fundação Robinson
Robinson Foundation
CONSELHO DE CURADORES
COUNCIL OF CURATORS
José Fernando da Mata Cáceres (Presidente) (Chair),
António Fernando Biscainho, Carlos Melancia, Jaime Azedo,
Hemetério Cruz, Nuno Oliveira, Luís Calado, Ana Pestana,
António Ventura, Filipe Themudo Barata
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
ADMINISTRATIVE COUNCIL
José Polainas (Presidente) (Chair), Helena Nabais, Ana Manteiga,
João Adolfo Geraldes, Joaquim Leal Martins
CONSELHO FISCAL
FISCAL COUNCIL
António de Azevedo Coutinho (Presidente) (Chair),
José Escarameia de Sousa, António Escarameia Mariquito
ADMINISTRADORA DELEGADA
ASSISTANT ADMINISTRATOR
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A correspondência relativa a colaboração,
permuta e oferta de publicações deverá ser dirigida a
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Fundação Robinson
Robinson Foundation
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Publicações da Fundação Robinson
Robinson Foundation Publications
CONSELHO CONSULTIVO
EDITORIAL BOARD
Amélia Polónia, António Camões Gouveia, António Filipe Pimentel,
António Ventura, João Carlos Brigola, José Heitor Dias Patrão,
Luísa Tavares Moreira, Maria João Mogarro, Mário Freire,
Rui Cardoso Martins
DIRECTOR
EDITOR
António Camões Gouveia
ADMINISTRAÇÃO DAS PUBLICAÇÕES
PUBLICATIONS ADMINISTRATOR
Alexandra Carrilho Barata
SECRETARIADO DE EDIÇÃO
PUBLICATION SECRETARY
Ana Bicho (Câmara Municipal de Portalegre Portalegre Town Hall)
Mónica Varese Andrade (inglês) (english)
Pedro Santa María de Abreu (espanhol) (spanish)
REVISÃO
EDITING
Alexandra Xisto Pinto, António Camões Gouveia, Célia Gonçalves Tavares,
Jorge Maroco Alberto, Nuno Miguel Lima
IMPRESSÃO
PRINTED BY
Gráfica Maiadouro
DEP. LEGAL 332 007/11
ISSN 1646-7116
Na capa, fotografia de
Cover photograph by
António Cunha, 2006
4
Sonhar o futuro com o passado
A dream of the future through the lens of the past
Soñar el futuro con el pasado
Presidente do Conselho de Curadores | Chair, The Council of Curators
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Para uma cronologia da Fábrica Robinson (1848–1966)
Towards a chronology of the Robinson Factory (1848–1966)
Para una cronología de la Fábrica Robinson
António Ventura
24
Documentos: os testamentos dos primeiros Robinson
Documents: the first Robinsons’ last wills
Documentos: los testamentos de los primeros Robinson
Alexandra Xisto Pinto, Célia Gonçalves Tavares, Jorge Maroco Alberto, Nuno Miguel Lima
42
Estatutos, actividades e factos relevantes da constituição
e funcionamento da Fundação Robinson
Statutes, activities and facts relevant to the setting up and running of the Robinson Foundation
Estatutos, actividades y hechos relevantes en la constitución y funcionamiento de la Fundación Robinson
Alexandra Carrilho
56
Estatutos da Fundação Robinson
Robinson Foundation Statutes
Estatutos de la Fundación Robinson
68
Espaço Robinson. Do passado para o futuro
The Robinson Space: from past to future
Espacio Robinson – desde el pasado, hacia el futuro
Eduardo Souto de Moura, Graça Correia
82
O logótipo da Fundação Robinson
The Robinson Foundation logo
El logotipo de la Fundación Robinson
Eduardo Souto de Moura, Graça Correia, António Queirós
86
O design nas Publicações da Fundação Robinson
Design for the Robinson Foundation Publications
El diseño en las Publicaciones de la Fundación Robinson
Luís Moreira
100
Como a cortiça, a cultura “vem sempre ao de cima”.
Traços de um esboço de programação de cultura
Like Cork, culture always ‘bobs to the surface’.
Traces of a draft of culture programming
Como el corcho, la cultura “siempre viene arriba”.
Trazos de un boceto de programación de cultura.
António Camões Gouveia
120
Síntese: resumos e palavras-chave
Abstracts and key-words
Resúmenes y palabras clave
128
Normas das Publicações
Submission Guidelines
Normas para la presentación de artículos
Sonhar o futuro com o passado
A dream of the future through the lens of the past
José Fernando da Mata Cáceres
PRESIDENTE DO CONSELHO DE CURADORES
CHAIR OF THE COUNCIL OF CURATORS
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 4-7, ISSN 1646-7116
Tendo a convicção de que o passado faz parte da nossa história e deve ser encarado como tal, delineámos o nosso percurso procurando valorizar os factores que nos distinguem,
que traçam o nosso carácter, que nos identificam e nos diferenciam dos demais.
Em pleno Alentejo, somos diferentes porque somos do
Norte, e nesta transição com a Beira congregamos o melhor
de duas regiões.
A nossa diferença sente-se ao nível das nossas especificidades: dos vinhos, dos queijos, da salsicharia, do clima, dos
temperamentos, da cultura e das culturas, da orografia própria dos contrafortes da Serra de S. Mamede… Somos feitos
de fragmentos do passado, aglomerados de experiências e
espíritos forjados por tradições e legados diversos.
Também na cortiça e nos seus processos de laboração se
forma a nossa história. Foi assim desde sempre, e os ingleses
souberam aproveitar este saber-fazer para criar uma fábrica
neste que foi em tempos um dos maiores centros geográficos
da cortiça ibérica.
A Fábrica Robinson é uma herança de Portalegre, faz
parte da vida que corre pelas ruas da cidade. Queremos preservar a memória de um lugar vivo e cheio de vida, o património arqueológico e industrial, a memória de muitas centenas de pessoas que por ali passaram e que ali viveram parte
da vida.
O maior tributo que podemos prestar a este lugar é vivê-lo, abrir as portas da fábrica à cidade e mostrar às pessoas
a riqueza dos seus 170 anos. Admiramos a tenacidade e o
empenho de quem tanto trabalhou para manter em laboração
a fábrica, para não a deixar morrer, para preservar os trabalhadores e a sua invulgar capacidade de trabalho.
A aposta na salvaguarda e valorização deste espaço, com
um projecto inovador, associado à qualidade prestigiada do
5
Firmly believing that the past is part of our history
and should be engaged as such, we plotted our progression, seeking to valorize the features which distinguish us,
which make up our character, identify us and differentiate
us from everybody else.
Right in the middle of the Alentejo, we are different
because we are from the North, and in this transition with
Beira, we merge the best of two regions.
Our difference can be seen in our specificity: our
wines, cheeses, sausages, climate, temperament, culture
and cultures, the orography specific to the buttresses of
São Mamede Mountain. We are made up of fragments
of the past, an agglomerate of experiences and minds
wrought by differing traditions and legacies.
Also part of our history is cork and its processing. It
has always been like this, and the British were well able to
avail themselves of this “knowing-how-to-do”, to create a
factory in this erstwhile major geographical centre of the
Iberian cork lands.
The Robinson Factory is a legacy for Portalegre, it
is part of the life that courses through the streets of the
town. We want to keep the memory of a living and bustling place, our archeological and industrial heritage, the
memory of many hundreds of people who passed through
it and spent part of their lives there.
The greatest tribute we can pay this place is to lend it
life, to open the doors of the factory to the town and show
people the riches of its 170 years. We admire the tenacity
and the commitment of all those who laboured to keep the
factory operating, not to let it die, to keep the workers and
their uncommon capacity for work.
The commitment to safeguard and valorize this space
through an innovative project, associated with the presti-
Arquitecto Souto Moura é mais uma prova de que a parceria
entre a Câmara Municipal de Portalegre e a Fundação Robinson é uma mais valia para a região.
A requalificação daqueles 7 ha e de alguns dos edifícios
adjacentes, prevê a criação de uma área de lazer que engloba,
de forma integrada e sustentável, as áreas cultural, tecnológica, associativa, educacional e escolar, habitacional e urbanística, paisagística e ecológica.
Sem nunca esquecer a sua origem e perfeitamente integrado no tecido histórico da cidade, o Espaço Robinson
recorda o prestígio da velhinha Fábrica da Rolha ao mesmo
tempo que cria novas dinâmicas, graças à articulação entre
as diferentes áreas e às numerosas iniciativas locais que vão
potenciar a vivência, a animação e o desenvolvimento de
Portalegre.
Assim sonhamos o futuro, assente naquilo que nos orgulhamos de ter sido o nosso passado. É este o rumo que queremos seguir para que Portalegre se possa distinguir por
boas práticas, fortalecendo a sua posição no panorama
internacional.
gius architect Souto Moura, is further proof that the partnership between the Portalegre Town Hall and the Robinson Foundation is added value for the town.
The regeneration of these 7 hectares and of some
of the adjoining buildings forms part of a plan for a leisure area which, in an integrated and sustainable way,
embraces the areas of culture, technology, associations,
education and schools, housing and urban planning, landscaping and ecology.
Never forgetting its origin and perfectly woven into
the historical fabric of the town, the Robinson Space
evokes the prestige of the old Cork Factory, at the same
time giving rise to new dynamics, thanks to the articulation of the different areas and to the numerous local initiatives which will potentialize the experience of living, energizing and development of Portalegre.
This is how we dream of the future, grounded on what
we are proud to call our past. This is the course we wish to follow so that Portalegre can stand out by means of best practice, strengthening its position on the international stage.
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7
Para uma cronologia da Fábrica Robinson
1848 –1966
Towards a chronology of the Robinson Factory
1848–1966
António Ventura
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA FACULDADE DE LETRAS DE LISBOA.
DIRECTOR DO CENTRO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA.
ACADÉMICO CORRESPONDENTE DA ACADEMIA PORTUGUESA DA HISTÓRIA.
FULL PROFESSOR AT FACULDADE DE LETRAS, UNIVERSITY OF LISBON.
DIRECTOR OF THE HISTORY CENTRE OF THE UNIVERSITY OF LISBON.
ACADEMIC CORRESPONDENT OF THE PORTUGUESE HISTORICAL ACADEMY.
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 8-23, ISSN 1646-7116
Quando Thomas Reynolds (Sénior) morreu na Nova
Zelândia, em 1867, estava longe de imaginar que a pequena
oficina de preparação de cortiça que vendera, alguns anos
antes, a um seu compatriota, George Robinson, na cidade de
Portalegre, se iria converter numa referência na história da
indústria portuguesa.
A Fábrica de Cortiça Robinson foi durante século e meio
um caso invulgar no panorama industrial português. Fundada
pelo empresário inglês George Robinson, manteve ao longo
do tempo uma laboração sem interrupções, sabendo sempre
renovar-se mau grado as naturais dificuldades conjunturais.
A sua história confunde-se com a história de Portalegre, do
Norte Alentejano e da Indústria Corticeira Nacional. Essa história consubstancia-se num importantíssimo património histórico, com destaque para um rico espólio no campo da arqueologia industrial. A empresa conservou numerosas estruturas e equipamentos do século XIX, alguns em perfeito estado
de funcionamento, apesar das renovações tecnológicas periódicas. Para além do seu interesse museológico, esse material tem uma valiosa dimensão pedagógica. Mas a história da
Robinson não se reduz a essa componente material. Há que
In 1867, when Thomas Reynolds Senior lay dying in New
Zealand, the furthermost thought in his mind must have
been that the small cork-processing factory in Portalegre,
which he had sold some time before to his fellow-Briton,
George Robinson, would become a major reference in Portuguese industrial history.
For 150 years, the Robinson Cork Factory was an
important development in the Portuguese industrial
landscape. Founded by the British entrepeneur, George
Robinson, it remained a functioning enterprise over the
years, always aware of how to change and adjust, despite
the predictable difficulties of each moment in time. Its
history is inextricably enmeshed with that of Portalegre, Northern Alentejo and the Portuguese cork industry. This history is embodied in a historical legacy of the
greatest significance, of which the most important is the
rich patrimony in the area of industrial archeology. The
Company retained numerous nineteenth-century structures and equipment (some of which in perfect working
order), notwithstanding the regular technological renovations. In addition to its interest as Museum exhibits, this material offers valuable learning tools. However,
Publicidade à Sociedade Corticeira
Robinson Bros. Lda., sobre cortiça.
Robinson Bros.’s history does not reside merely in this
Advertisement for Robinson Bros.
material content. To the Company’s archives must be
Cork Processing Co., on cork.
added other documentary sources scattered among public and private archives, both in Lisbon and in Portalegre, an iconography comprising mainly photographs and
post-cards, and a legacy of life histories of many employees who are still alive, as also a sum total of social and
cultural experiences which made of this Company an
outstanding, one might almost say, a unique example
in the Portuguese industrial landscape of the past 150
years. Associated to the Company there were charity and
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acrescentar ao arquivo da empresa outros acervos documentais espalhados por arquivos públicos e privados, tanto em
Lisboa como em Portalegre, uma iconografia que compreende
essencialmente fotografias e postais e também um património de histórias de vida de muitos operários ainda vivos, que
têm toda uma vivência social e cultural que fizeram desta
empresa um caso invulgar, diríamos quase ímpar, no panorama industrial luso dos últimos cento e cinquenta anos.
A ela estiveram associadas organizações de beneficência e de
instrução, corporações de bombeiros, iniciativas culturais do
educational institutions, fire stations, cultural initiatives of major influence which helped make the region
what it is today. The history of the factory is inextricably linked to that of Portalegre. The ripples of the Company’s existence in the life of Portalegre went far beyond
the merely economic sphere, affecting the social, cultural
and even mental strata. It is possible to state that the
cork-processing activities moulded Portalegre’s society
over a period of 150 years, and that the factory’s chimneys, although built at a late date, became, together with
Fachada da Fábrica Robinson e Largo
do Jardim do Operário com neve.
Robinson Factory façade and Largo
do Jardim do Operário after a snowfall.
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maior alcance que ajudaram a fazer com que esta região seja
o que é hoje. A história da fábrica confunde-se com a história
de Portalegre. Os reflexos da vida da empresa na sociedade
local ultrapassaram em muito os aspectos meramente económicos, projectando-se nos domínios do social, do cultural e
até do mental. Podemos dizer que a actividade corticeira moldou a sociedade portalegrense ao longo de cento e cinquenta
anos e que as chaminés da fábrica, embora edificadas numa
fase tardia, se converteram, juntamente com a inconfundível
silhueta da Sé Catedral, num ex-libris da cidade.
O caso de George Robinson não é inédito entre nós. Já
no século XVIII se assinalam diversos industriais ingleses
que se fixam em Portugal, o que continua a ocorrer na centúria seguinte, em especial no sector dos vinhos do Porto e da
Madeira, havendo neste último caso diversos estudos sobre
a influência inglesa na economia e na sociedade madeirense.
Mas só no século XIX alguns britânicos se interessaram por
um sector tradicional, mas ainda longe da expansão que alcançará em meados de oitocentos – o corticeiro – como sucedeu
com os Reynolds e depois com George Robinson.
Apresentamos a seguir uma breve cronologia da história
da Fábrica de Cortiça Robinson. É um pálido reflexo de uma
vivência mais que secular, mas ilustrativo da sua importância
no passado, no presente e no futuro.
George William Robinson nasceu em Wakefield, condado
de York, Inglaterra, em 1815. A sua família tinha interesses
ligados à importação de cortiça portuguesa, que era transformada em fábricas britânicas.
George Robinson veio a Portugal para contactar directamente com o comércio corticeiro local, visitando diversas localidades do litoral – Moita, Setúbal, Sintra – dirigindo-se depois
a Portalegre. Aqui, um seu compatriota, Thomas Reynolds,
fundara em 1837 uma pequena oficina para transformação de
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the unmistakable silhouette of the Cathedral, an ex-libris
of the town.
The case of George Robinson is not unusual in Portugal. As far back as the eighteenth century, mention is
made of several British men of industry who took up residence in Portugal. This would again occur in the century
that followed, especially in the Port and Madeira wine
industries; in the latter case, there are several studies of
British influence in the Madeiran economy and its society
in general. It was, however, only in the nineteenth century
that several Britons took an interest in a traditional sector, although by no means as extensive as that achieved in
the mid-1800s. – the cork industry – as was the case of the
Reynolds and later of George Robinson.
The following is a brief chronology of the history of
the Robinson Cork Factory. It is but a pale reflection of
more than a century’s activities but it illustrates its importance in the past, the present and the future.
George William Robinson was born in 1815 in Wakefield, Yorkshire, Britain. His family had ties with importing Portuguese cork which was processed in Britain.
George Robinson travelled to Portugal for in loco contact with the cork trade and visited several localities of the
coastal region – Moita, Setubal, Sintra, ending in Portalegre. Here, a fellow Briton, Thomas Reynolds, had set up
a small cork processing factory, in part of what had been
the Franciscan convent, uninhabited after the dissolution
of the religious orders carried out by the Liberals (victorious in 1834) and which inaugurated a new function for the
Convent of St. Francis, the oldest of the town, having been
founded in the thirteenth century.
1848 – George Robinson settled in Portalegre, eventually buying Thomas Reynolds’s small factory. This was the
cortiça numa parte do extinto convento de São Francisco, que
ficara devoluto após a extinção das ordens religiosas decretada
pelos liberais triunfantes em 1834 e que traçou um novo destino para o Convento de São Francisco, o mais antigo da cidade,
uma vez que a sua fundação data do século XIII.
1848 – George Robinson instalou-se em definitivo em
Portalegre, acabando por adquirir a pequena fábrica de
George William Robinson (1813-1895).
George William Robinson (1813-1895).
beginning of a Company which in time slowly but surely
would become the largest factory in the town. George Robinson had everything he needed to succeed: factory-workers with the necessary expertise, a region which provided
the raw material and above all, good contacts in Britain.
He would also benefit from the soaring rise in the export
of cork. If, in 1797, Portugal had exported 115,182 gross
in bottle corks and 1,331 tonnes of plank cork, after a drop
in exports resulting from the French invasions and the
Civil War, exports never stopped rising after the middle of
the eighteenth century. In 1880, exports had risen to over
2,000 “contos de reis”. It should be said that the UK market accounted for more than 50% of the trade.
A Família Robinson (em cima,
da esquerda para a direita, George
Wheelhouse Robinson, Mary Chadwick
Robinson e John Álvaro; em baixo,
George William Robinson e sua esposa,
Sarah Ann Robinson).
The Robinson Family (Top, left to right:
George Wheelhouse Robinson, Mary
At first, the Robinson Factory dealt mostly in pressed
plank cork, the production of bottle corks, notice boards
12
Chadwick Robinson and John Álvaro;
below: George William Robinson and
his wife, Sarah Ann Robinson).
Thomas Reynolds. Era o início de uma empresa que, começando lenta mas seguramente, se converteria na maior unidade fabril da cidade. George Robinson possuía todas as
condições para triunfar: um estabelecimento fabril com trabalhadores dotados de um know-how, uma região produtora
de matéria-prima e, sobretudo, bons contactos em Inglaterra. Iria beneficiar, também, do aumento vertiginoso das
exportações de cortiça. Se em 1797 Portugal exportara 115
182 grosas de rolhas e 1 331 toneladas de cortiça em prancha, após uma quebra decorrente das Invasões Francesas e
da Guerra Civil, a partir de meados do século XIX as exportações não mais pararam de subir, ascendendo em 1880 a
mais de 2 000 contos de réis. Ora a Grã-Bretanha absorvia
mais de 50% desse volume.
No início da actividade, a Fábrica Robinson dedicou-se
sobretudo à preparação de prancha enfardada, fabricação de
rolhas, quadros e bóias. Nos anos cinquenta do século XIX
tinha um total de 210 operários na área produtiva e 50 na
extracção de cortiça no campo.
1854 – Neste ano iniciou a aquisição de terrenos e moradas de casas no lugar da Boavista, local onde viria a instalar a
sua habitação principal e um dos principais núcleos de fabricação de rolhas.
1857 – George Wheelhouse Robinson nasceu em Portalegre, a 17 de Setembro.
1868 – George William Robinson adquiriu em hasta
pública parte da propriedade do extinto Convento de São Francisco, que então pertencia à Fazenda Nacional. Neste ano faliram as três fábricas de lanifícios da cidade: Larcher & Cunhados, Andrade & Larcher e a Companhia da Fábrica Nacional
de Lanifícios de Portalegre, lançando no desemprego seis centenas de trabalhadores. A Fábrica Robinson assume-se como
a grande empregadora, uma vez que os lanifícios só recupe13
and buoys. In the 1850s, it had a total of 210 workers in the
production area and 50 extracting the bark in the fields.
1854 – He began to buy land and housing in Boavista,
where he would eventually set up residence and one of the
main centres for the production of corks.
1857 – George Wheelhouse Robinson was born in
Portalegre on 17 September.
1868 – George William Robinson acquired at public
auction part of the land of the dissolved Convent of St.
Francis, which had until then belonged to the Exchequer. In this year, the three woollen textile factories of the
town went bankrupt: Larcher & Cunhados; Andrade &
Larcher; and the Portalegre National Woollen Textiles Factory, making 600 workers unemployed. Robinson Factory
took on the role of the major employer, since the woollen
textiles industry would only recover in part around 1880,
although without regaining its old supremacy, which
would only happen in the twentieth century with Francisco de Sales Fino.
1872 – This year was highlighted by the purchase of
a 30 hp steam engine, a piece of equipment that allowed
for the acquisition of new production equipment. Within
this framework, a significant increase in production and
the hiring of further workers is to be noted. Electricity
had until then been supplied by the Fábrica da Horta das
Bolas, also known as the Factory of Light.
1877 – George Robinson purchased Casillas Farm in
Albuquerque (Spain) from Doña Mercedes Garcia Vallecillas. This was the beginning of the purchasing or renting of
numerous rural buildings, with a twofold objective – that
of extracting cork and that of farming.
1880 – The Representation addressed to the Members
of the Portuguese Parliament on 20 March 1880 (Portalegre,
1880) states that the Robinson Factory employed 680
workers (260 men and 420 women), with the remaining
factories, four of which woollen textile mills, one tannery
Fábrica Robinson, no edifício do extinto
Convento de São Francisco.
Robinson Factory, on the site of the
dissolved Convent of St. Francis.
and one pasta producer, jointly employing a total of 463.
In 1880, George Robinson acquired a residential property and surrounding land in Corredoura de Cima (now
George Robinson Avenue), where his son George Wheelhouse took up residence after his marriage.
Also at that time, he acquired another residential
property to which a theatre was attached and where he set
up an Evangelical church. This was the Robinson family’s
religious denomination and it gained a significant following among the working class in the town. This religious
rarão parcialmente por volta de 1880, mas sem recuperarem
o antigo protagonismo, o que só sucederá no século XX, com
Francisco de Sales Fino.
1872 – Este ano foi marcado pela compra de uma Máquina
a Vapor de 30 cavalos de força, equipamento este que irá permitir a aquisição de novos equipamentos produtivos. Neste
quadro observam-se significativos incrementos de produção
e o alargamento do quadro de pessoal. O abastecimento energético era antes executado pela Fábrica da Horta das Bolas,
também conhecida por Fábrica da Luz.
1877 – George Robinson adquire a Herdade de Casillas,
Alburquerque (Espanha) a D. Mercedes Garcia Vallecillos. Foi
o início da compra ou arrendamento de numerosos prédios
rústicos com um duplo objectivo – a extracção de cortiça e a
exploração agrícola.
1880 – Na Representação dirigida aos Senhores Deputados
da nação Portuguesa pelos Representantes de todas as Fábricas de Portalegre em 20 de Março de 1880 (Portalegre, 1880),
consta que a Fábrica Robinson possuía 680 operários (260
homens e 420 mulheres), enquanto as restantes, 4 de lanifí-
component is key to our understanding of the humanitarian and altruistic dimensions of the Robinson family activity, which found an outlet in its assistance to worker associations and the education of the people involved.
Recuerdo. Caçada real em Casillas
(Espanha), 26 de Março de 1907.
George Wheelhouse Robinson com
o rei D.Carlos.
Recuerdo [Souvenir]. Royal shooting
party in Casillas (Spain), 26 March 1907.
George Wheelhouse Robinson with
King Carlos of Portugal.
14
George Wheelhouse Robinson
(1857-1932) com sua esposa, Fanny
Isabella Milner Robinson (1858-1942).
George Wheelhouse Robinson
(1857-1932) with his wife, Fanny
Isabella Milner Robinson (1858-1942).
cios, uma de curtumes e uma de massas tinham, no seu conjunto, 463.
Neste ano, George Robinson comprou uma morada de
casas e terrenos circundantes na Corredoura de Cima (hoje
Av. George Robinson), local onde o seu filho George Wheelhouse se irá instalar após o casamento.
Ainda nessa época comprou outra morada de casas com
teatro anexo, na Rua dos Canastreiros, onde fundou uma
igreja do culto evangélico, religião professada pela família
Robinson e que ganhou um notável incremento entre a população operária da cidade. Essa componente religiosa é fundamental para se compreender a dimensão humanitária e altruísta dos Robinson, materializada na ajuda ao associativismo e
à instrução dos operários.
1881 – No Inquérito Industrial de 1881 constam numerosas alusões e elementos quantitativos relativos à fábrica, a
qual, ainda com o principal núcleo de actividade situado na
Boavista, contava com 560 operários. No Inquérito rendia-se
homenagem ao industrial: «Activo, inteligente, foi ampliando
de ano para ano a fábrica, e adestrando e disciplinando, sob
regulamentos severos o pessoal de que se servia, elevou a tal
grau de prosperidade o seu estabelecimento, que não somente
se constituiu o principal da província neste género de indústria, mas habilitou o seu possuidor a tornar-se um dos mais
opulentos proprietários de prédios rústicos destes sítios».
Neste ano, George Robinson confiou a gestão dos seus
negócios a seu filho, George Wheelhouse Robinson, o qual
nascera em Portalegre em 1857, estudara em Inglaterra (Doncaster) e acabara de regressar a Portugal.
George Wheelhouse casa a 19 de Janeiro de 1881, em
Inglaterra, com Miss Fanny Isabella Milner.
A 15 de Novembro nasce George Milner Robinson, filho
de George Wheelhouse.
15
1881 – In the Industrial Survey of 1881 there are numerous references to and quantitative elements regarding the
factory, which, still centred in Boavista, employed 560 workers. The Survey rendered hommage to the businessman:
“Energetic, intelligent, from year to year he has increased the
factory in size, and, through training and discipline within
the framework of strict adherence to regulations governing
his work force, he has raised his business to such a level of
prosperity that it has become not only the main such business in the Province but has made of its proprietor one of the
wealthiest owners of rural buildings in the area.”
In this year, George Robinson handed over the management of his business interests to his son, George Wheel-
1883 – Aquisição de Olival nas traseiras do Convento de
São Francisco, para onde posteriormente se viriam a expandir diversas linhas de produção.
1888 – George Wheelhouse, que será coadjuvado durante
alguns anos por seu tio Thomas Frederik Robinson, deu passos decisivos no sentido de diversificar a actividade da família, comprando novas propriedades rústicas e arrendando
outras para extracção de cortiça. A 28 de Fevereiro adquiriu
uma importante fábrica de rolhas – La Actividad – na vila de
S. Vicente de Alcântara (Espanha).
1889 – A 28 de Fevereiro, George Wheelhouse adquiriu
outra fábrica de rolhas em S. Vicente de Alcântara.
1890 – O Inquérito Industrial de 1890 é omisso quanto
à Fábrica Robinson. A Comissão Concelhia de Portalegre
explica as razões dessa omissão e fornece as informações possíveis: «No concelho de Portalegre é hoje a principal indústria
a fabricação de rolhas e preparação de cortiça para exportação
para o estrangeiro. É proprietário da mais importante fábrica
desse género Jorge Robinson, súbdito inglês, que se negou
não só a preencher o questionário, mas até a dar quaisquer
informações sobre a sua indústria. Mas ainda assim podemos
afirmar que esta fábrica, denominada de cortiça, e situada na
Descortiçamento de um sobreiro.
Debarking of a cork oak.
house Robinson, born in Portalegre in 1857 and who studied
in Britain (Doncaster) and had just returned to Portugal.
George Wheelhouse married Miss Fanny Isabella Milner in Britain on 19 January 1881.
On 15 November, George Wheelhouse’s son, George
Milner Robinson, was born.
1883 – The Robinsons acquired Olival, situated
behind the Convent of St. Francis, where, at a later date,
Fachada da Fábrica Robinson
several production lines would be developed.
e Largo do Jardim do Operário.
1888 – George Wheelhouse, closely assisted for some
years by his uncle, Thomas Frederick Robinson, took significant steps to diversify the family’s activity through
the acquisition of further rural properties, renting others
for the extraction of cork. On 28 February he acquired a
major cork factory – La Actividad – in the small town of S.
Vicente de Alcantara (Spain).
1889 – On 28 February, George Wheelhouse acquired
another cork factory in S. Vicente de Alcantara.
16
Robinson Factory façade and Largo
do Jardim do Operário.
Boa Vista, que em 1881 ocupava na sua laboração 560 pessoas, ocupa hoje mais do dobro».
1891 – A 4 de Junho, ainda em S. Vicente de Alcântara,
adquiriu a fábrica de rolhas de Henry Bucknall & Sons. A 12
de Novembro comprou na mesma localidade extremenha
uma fábrica de farinhas pertencente a três sócios. Estas aquisições permitiam-lhe transformar toda a cortiça da região e
a permuta de operários dos dois lados da fronteira quando a
situação assim o exigia.
1892 – A 12 de Abril, George Wheelhouse comprou outra
fábrica de rolhas em S. Vicente de Alcântara a Henry Bucknall & Sons.
1895 – A 30 de Abril, George William Robinson morre
em Portalegre, com 80 anos de idade. O filho, George Wheelhouse Robinson, sucedeu-lhe na responsabilidade plena de
direcção dos negócios.
1896 – Foi fundada a Sociedade União Operária Portalegrense, a primeira associação operária de Portalegre a ultrapassar o mutualismo, uma vez que inscrevia como objectivos a «ilustração e instrução» dos seus associados. Apesar
de ser industrial, George Wheelhouse Robinson foi um dos
fundadores.
1897 – A 1 de Abril, George Wheelhouse comprou a
Fábrica de Lanifícios (dita Fábrica Pequena) pondo termo a
uma longa crise vivida sem solução aparente, que colocava
em risco os postos de trabalho de dezenas de operários. Esta
aquisição, que ascendeu a 21.608$000 reis, deveu-se fundamentalmente a propósitos filantrópicos, cedendo ao pedido
das famílias dos trabalhadores ameaçados.
Neste ano, na fábrica de cortiça de Portalegre trabalhavam
mais de 500 operários e operárias espanhóis provenientes de
uma das fábricas de S. Vicente de Alcântara, que acabara por
encerrar por falta de matéria-prima. Mais tarde esta fábrica vol17
1890 – The Industrial Survey of 1890 makes no mention of the Robinson Factory. The Portalegre Council Commission explained the reasons for this ommission and
supplied possible reasons for it: “At the present time, in
Portalegre, the main industry is the production of corks
and the processing of cork for export. The proprietor of
the main factory of its kind is Jorge [sic] Robinson, a British subject, who declined not only to fill in the questionnaire but also to supply any data regarding his industry.
Even so, it can be stated that the factory concerned, titled
Cork Factory and located in Boa Vista, which employed
560 persons in 1881, now employs more than twice that
number.”
1891 – On 4 June, also in S. Vicente de Alcantara,
George Robinson acquired the cork factory, Henry Bucknall & Sons. On 12 November, he acquired, again in the
same area of Extremadura, a flour factory owned by three
partners. These acquisitions allowed him to transform all
the cork production of the area and worker circulation on
both sides of the frontier, as the need arose.
1892 – On 12 April, George Wheelhouse bought
another cork factory from Henry Bucknall & Sons, in S.
Vicente de Alcantara.
1895 – On 30 April, George William Robinson died
in Portalegre, aged 80. His son, George Wheelhouse Robinson, took over full responsibility for the running of the
business.
1896 – The Workers’ Union Society of Portalegre was
founded. This was the first Workers’ Association of Portalegre which went beyond mutualism, since it declared
its aims as being the “enlightenment and instruction” of
its members. Although an industrialist himself, George
Wheelhouse Robinson was one of its founding members.
taria a laborar, recebendo George Wheelhouse fortes manifestações de reconhecimento por parte da população espanhola.
Fechada desde 1882, a antiga Real Fábrica de Lanifícios, popularmente conhecida como «Fábrica Grande», foi
adquirida a 26 de Agosto de 1897 por George Wheelhouse
Robinson.
1898 – Foi criada a Associação Comercial e Industrial de
Portalegre. George Wheelhouse Robinson foi um dos fundadores e depois seu presidente.
1898 – A 28 de Julho ocorreu na Fábrica Robinson um
pavoroso incêndio, apesar de, em Fevereiro daquele ano, ela
ter sido dotada de um novo sistema contra incêndios inventado por Grimell Srinker, representado em Portugal por John
Harker.
1899 – Segundo dados oficiais (v. o jornal A Plebe, de 139-1901), Portalegre exportava para fora do concelho 100 000
toneladas de rolhas e 300 toneladas de cortiça em prancha,
raspada e cozida, que, na sua grande maioria, eram produzidas na Fábrica Robinson.
1903 – Arranca o projecto da Creche Baptista Rolo, junto
à fábrica, em terreno cedido por George Wheelhouse Robin-
1897 – On 1st April, George Wheelhouse acquired
the woollen textiles factory (known as the Small Factory), putting an end to a long drawn out crisis for which
there appeared to be no solution and which jeopardized
the jobs of dozens of workers. This acquisition, costing
21,608$000 “reis”, was grounded mainly on philanthropic
reasons, with Robinson acceding to the requests of the
families of the workers whose jobs were at risk. In this
year, the Portalegre cork factory employed more than 500
Spanish men and women, who had come from one of the
factories in S. Vicente de Alcantara, shut down for want of
raw materials. Later, this factory would again begin production, for which George Wheelhouse would receive multiple expressions of gratitude on the part of the Spanish
population.
Closed down since 1882, the former Royal Woollen Textiles Factory, commonly known as “The Big Factory”, was acquired on 26 August by George Wheelhouse
Robinson.
1898 – This year saw the creation of the Industrial
and Commercial Association of Portalegre. George Wheelhouse Robinson was one of its founding members and
later became its President.
1898 – On 28 June, there was a fearful fire at the
Robinson Factory, despite the fact that, in February, the
premises had been endowed with a new fire-protection
system invented by Grimell Srinker, represented in Portugal by John Harker.
1899 – According to official data (see A Plebe newspaper, edition of 13/9/1901), Portalegre exported
100,000 tonnes of corks and 300 tonnes of plank cork,
planed and cooked, most of which produced by the Robinson Factory.
Interior das instalações
da Fábrica Robinson.
Interior of the Robinson
Factory premises.
18
son e com o seu contributo financeiro. Também oferece água
para abastecer o futuro sanatório.
A Câmara Municipal de Portalegre encomenda ao pintor Benvindo Ceia um retrato de George Wheelhouse Robinson, para ser colocado na sala das sessões. Encontra-se actualmente no Museu Municipal.
A 10 de Janeiro daquele ano, George Wheelhouse ofereceu
a todos os seus operários um jantar no edifício da Fábrica Real,
num total superior a 2000 pessoas, solenizando assim a entrada
do seu filho primogénito na maioridade e seguindo uma tradição inglesa. Este, convalescendo de grave doença, foi levado
numa cadeira de rodas para assistir à festa em sua honra.
A 1 de Maio foi fundado o Teatro dos Muros (Teatro
Recreio Operário), localizado na Rua dos Muros de Baixo. Era
o salão de festas dos operários rolheiros, construído e patrocinado pelos Robinson.
A 20 de Novembro morre em Mayville, Doncaster, Inglaterra, Thomas Frederick Robinson.
1905 – Aquisição de um Gerador de Vapor Aquo-Tubular Babcock & Wilcox, ainda hoje existente na sua localização original.
É inaugurada a Creche Baptista Rolo.
1907 – George Wheelhouse Robinson é agraciado com a
medalha de ouro de Mérito Industrial, atribuída por El-Rei
D. Carlos I.
1908 – Por iniciativa de George Wheelhouse, foi fundado
o Corpo de Bombeiros Voluntários Privativos da Robinson.
A principal missão era fazer face aos riscos decorrentes da
actividade da fábrica, nomeadamente aos frequentes incêndios. Hoje existe, num Museu improvisado na Robinson, um
espólio muito interessante proveniente dessa corporação,
incluindo 4 carros originais de combate a incêndios e diferentes tipos de acessórios da época.
19
1903 – Work began on the Baptista Rolo Nursery,
adjoining the Factory, on land bestowed by George Robinson and with his financial backing. He also offered to provide water for the future Sanatorium.
The Portalegre Municipal Council commissioned a portrait of George Wheelhouse Robinson from the painter Benvindo Ceia, to be hung in its sessions chamber. The portrait
is at present to be found in the Municipal Museum.
On 10 January, George Wheelhouse invited his workers to a dinner party in the Royal Factory building. The
number of guests exceeded 2,000, thus commemorating the coming of age of his first-born son and following
a British custom. His son, convalescing after a serious illness, was taken in a wheel-chair to attend the party in his
honour.
On 1st May, the Muros Theatre (Workers’ Theatre)
was founded in Rua dos Muros de Baixo. It was the partyholding hall of the cork workers, built and sponsored by
the Robinsons.
On 20 November, Thomas Frederick Robinson died
in Mayville, Doncaster, Britain.
1905 – Acquisition of a Babcock & Wilcox Aquo-Tubular Vapour Generator, still to be found in its original site.
The Baptista Rolo Nursery opened its doors.
1907 – George Wheelhouse Robinson was decorated
with the Gold Medal of Individual Merit by the Portuguese King, Charles I.
1908 – George Wheelhouse moved to found the
Robinson Volunteer Fire Brigade. Its main mission was
to counter the risks arising from the factory’s activity,
especially the frequent fires that occurred. In an informal Museum at Robinson’s, today’s visitor will see a very
interesting collection of items from that Fire Brigade,
Convite de George Milner Robinson
a Palmira Esperança Abreu, para
participar numa festa de caridade.
Abril de 1915.
Invitation sent by George Milner
Robinson to Palmira Esperança Abreu,
to attend a charity event.
April 1915.
Corpo dos Bombeiros Voluntários
Robinson.
The Robinson Volunteer Fire Brigade.
1915 – Em 15 de Julho foi lavrada a escritura de constituição de companhia anónima, intitulada “Robinson Bros.
Cork Growers Limited”.
A sociedade ficou constituída por George Wheelhouse
Robinson, Sarah Ann Robinson, Fanny Isabella Robinson,
Thomas Frederick Robinson, Herbert Robinson, Arthur
Robinson e James Young Turner. A sede desta empresa era
em Halifax, Inglaterra.
1918 – George Milner Robinson faleceu, a 22 de Outubro,
em Cambridge.
1920 – A actividade da fábrica expande-se para a área dos
aglomerados para revestimentos e emprega nesta década um
grande número de funcionários: mais de 1000.
Constroem-se os primeiros fornos para cozimento dos
aglomerados de cortiça, na área onde ainda hoje está instalado o Aglomerado Branco.
É adquirida uma nova Caldeira Aquo-Tubular de Vapor, da
Babcock & Wilcox (entretanto desaparecida).
including four original fire engines and different types of
accessory dating back to that time.
1915 – On 15 July, the deeds were signed for the
Company formed as Robinson Bros. Cork Growers Ltd.
The company members were George Wheelhouse Robinson, Sarah Ann Robinson, Fanny Isabella Robinson, Thomas Frederick Robinson, Herbert Robinson, Arthur Robinson and James Young Taylor. The head office of this
company was in Halifax, Britain.
1918 – George Milner Robinson died on 22 October
in Cambridge.
1920 – The factory’s activity branched out into
agglomerate cork for linings, and, during this decade, it
employed a large number of staff: 1,000
The first ovens to cook the cork agglomerate were built
on the site where the White Agglomerate still stands.
A further Babcock & Wilcox Aquo-Tubular Steam
Boiler was purchased. It is now gone.
20
1923 – Inicia-se a montagem da rede de Sprinklers (sistema anti-incêndio) que rapidamente se viria a estender a
todo o perímetro fabril.
Em 5 de Junho, a Corporação de Bombeiros Privativos
Robinson foi agraciada com a Medalha de Cobre da Cidade.
1924 – Aquisição de um segundo gerador de vapor Aquo-Tubular, Babcock & Wilcox, ainda existente na localização original.
1928 – Descrição de alguns equipamentos existentes e
considerados «muito modernos» efectuada por um repórter
do jornal O Volante, que visitou neste ano a fábrica Robinson: «operações iniciais: cozedura, limpeza, secagem, aplanagem, etc... pranchas cortadas... em dezenas de bancadas com
serras mecânicas... vários modelos de maquinas para cortar
rolhas, …maquinas produzem aos milhares discos que vedam
garrafas. A calibragem faz-se mecanicamente num aparelho... que distribui a fila de rolhas por caixas diversas. A escolha realiza-se numa sala ampla... onde trabalham dezenas de
mulheres. Numa central motriz, a energia é fornecida a todas
as instalações por motores de gás pobre produzindo mais de
100 HP... oficina mecânica para concertos, fabrico de peças,
etc. com equipamento moderno, ...uma potentíssima serra
para cortar ferro... única em Portugal.» A Fábrica Robinson
continua trabalhando só três dias por semana. Tinha então
515 operários.
1931 – Em 24 de Março deste ano é constituída a Sociedade Robinson Bros., Lda., sendo seus accionistas George
Wheelhouse Robinson (50.000$), William Henry Frazer
(20.000$), Ellen Mary Frazer (20.000$) e George Frazer
Shannon (5.000$).
1932 – A 16 de Janeiro de 1932, morre George Wheelhouse Robinson.
A Corporação de Bombeiros Robinson foi agraciada com o
Grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo.
21
1923 – The Company began to install anti-fire sprinklers,
which would soon cover the whole of the factory perimeter.
On 5 June, the Robinson Private Fire Brigade was
awarded the City Copper Medal.
1924 – A second Babcock & Wilcox Aquo-Tubular
Vapour Generator was acquired and can still be seen at its
original site.
1928 – A reporter from O Volante, who visited the
Robinson Factory in this year, provides a description of
some of the existing equipment, which he considers to be
“very modern”: “initial operations: – cooking, cleaning,
drying, planing, etc. ... plank cork cut ... with power saws
on dozens of work benches ... several types of machine for
cutting bottle corks, ... machines produce thousands of
discs to seal bottles. Callibration effected mechanically by
a piece of equipment ... which distributes the line of corks
into different boxes. Selection is carried out in an ample
room ... where dozens of women work. In a central supply
unit, energy is supplied to the entire premises by producer
gas engines turning out in excess of 100 hp ... a mechanicmanned work-shop for repairs, spare parts production,
etc., endowed with modern equipment ... a most potent
saw to cut iron ... the only one in Portugal.” The Robinson Factory continued to operate a three-day week. At the
time it had 515 workers.
1931 – On 24 March, Sociedade Robinson Bros Ltd. was
set up, its shareholders being George Wheelhouse Robinson (50,000$), William Henry Frazer (20,000$), Ellen Mary
Frazer (20,000$) and George Frazer Shannon (5,000$).
1932 – Death of George Wheelhouse Robinson on 16
January.
The Robinson Fire Brigade was decorated with the
Grau Oficial da Ordem Militar de Cristo.
1934 – Aquisição de um novo Gerador de Vapor AquoTubular, Babcock & Wilcox, também existente na sua localização original.
1941 – Em 12 de Fevereiro deste ano foi constituída
a Sociedade Corticeira Robinson Bros., Lda., substituindo a
anterior, com os seguintes accionistas:
- Elias Frederico Abecassis (10.000$)
- Ellen Mary Frazer (10.000$)
- Tomaz de Azevedo e Silva (10.000$)
- Nelson Girdwood Hather (20.000$)
1942 – Aquisição de um gerador eléctrico a diesel, com 130
cv (ainda existente). A 12 de Outubro morre Fanny Isabella
Robinson.
1946 – Em 1 de Junho deste ano, procedeu-se à elevação
do capital social da empresa e à alteração da distribuição de
quotas pelos accionistas, do seguinte modo:
- Manuel Pinto de Azevedo (1.000.000$)
- Manuel Pinto de Azevedo Júnior (600.000$)
- Eng.º Luís Delgado Santos (1.000.000$)
- Eng.º Alberto Augusto Mendonça (500.000$)
- Eng.º Cipriano Ribeiro Calleya (550.000$)
- Eng.º António Ventura Santos Fernandes (200.000$)
- Maria Carmina Ventura Santos Fernandes Calleya (200.000$)
- Maria Cecília Ventura Santos Fernandes (200.000$)
- Pedro Vítor Pinto Vicente (875.000$)
- Tomás de Azevedo e Silva (875.000$)
1947(?) – Nesta época foi construída uma nova chaminé
com cerca de 45 m. de altura, que segundo registos da época
levou cerca de 20.000 tijolos. Neste período é acrescentada a
“velha” chaminé que ficaria com 38 m.
1948 – Início da fabricação de um novo produto: o aglomerado puro de cortiça, vulgo aglomerado negro. Para tal
foram instaladas 12 autoclaves/prensas e uma linha completa
1934 – A new Babcock & Wilcox Aquo-Tubular Vapour
Generator was acquired and can still be seen on its original site.
1941 – On 12 February the Sociedade Corticeira Robinson Bros., Ltd. was constituted, replacing the former
entity, with the following shareholders:
Elias Frederico Abecassis (10,000$)
Ellen Mary Frazer (10,000$)
Tomaz de Azevedo e Silva (10,000$)
Nelson Girdwood Hather (20,000$)
1942 – Acquisition of a 130 hp diesel-powered electric
generator (still in existence). On 12 October, Fanny Isabella Robinson died.
1946 – On 1st July, the Company’s capital was
increased and shares changed among the shareholders, as
follows:
Manuel Pinto de Azevedo (1,000,000$)
Manuel Pinto de Azevedo, Jr. (600,000$)
Luis Delgado Santos (1,000,000$)
Alberto Augusto Mendonça (500,000$)
Cipriano Ribeiro Calleya (550,000$)
Antonio Ventura Santos Fernandes (200,000$)
Maria Carmina Ventura Santos Fernandes Calleya
(200,000$)
Maria Cecilia Ventura Santos Fernandes (200,000$)
Pedro Vitor Pinto Vicente (875,000$)
Tomas de Azevedo e Silva (875,000$)
1947 (?) – A new chimney, of about 45 m. in height
was built, which, according to contemporary records, comprised 20,000 bricks. Also at this time, the “old” chimney
was added, standing at 38 m.
1948 – A new product was initiated: pure cork agglomerate, commonly known as black cork agglomerate. To this
22
Carta de George William Robinson
à firma Júlio Petit y Hermanos,
de Arroyo del Puerco, Cáceres, Espanha.
17 de Julho de 1874.
Letter from George William Robinson
to the firm of Júlio Petit y Hermanos,
de Arroyo del Puerco, in Cáceres, Spain,
dated 17 July 1874.
Carta de George Wheelhouse Robinson
a Joaquim José de Abreu, 26 de Abril
de 1916.
Letter from George Wheelhouse
Robinson to Joaquim José de Abreu,
dated 26 April 1916.
de serras para dimensionamento do produto. Adquirida uma
Bomba a Vapor que fazia os accionamentos dos autoclaves,
ainda hoje em perfeito estado funcional. Fracções do processo
e equipamento foram alvo de registo de patente, do qual se
conserva a versão original. Todo este equipamento se encontra ainda instalado no edifício fronteiro da Sociedade Corticeira Robinson.
1960 (?) – Início da construção do Laboratório de Controlo de Qualidade Robinson.
1966 – A chaminé que foi acrescentada em 1947 até aos
38 m de altura é novamente elevada até aos 50 m. São estas as
Chaminés que ainda podem ser vistas na actualidade.
23
end, 12 autoclaves/presses were installed, as was a complete assembly line of saws for dimensioning. The Company also acquired a steam pump, still in perfect working
order. Certain parts of the processes and equipment used
were patented, with the original patents still extant. All of
this equipment still stands in the building opposite Sociedade Corticeira Robinson.
1960 (?) – Building work began on the Robinson
Quality Control Laboratory.
1966 – The 38 m. chimney added on in 1947 was now
built up to 50m. These are the chimneys which can still be
seen at the present time.
Documentos: os testamentos dos primeiros Robinson
1
Documents: the first Robinson’s last wills1
Alexandra Xisto Pinto
Célia Gonçalves Tavares
Jorge Maroco Alberto
Nuno Miguel Lima
INVESTIGADORES DO PROJECTO POC - ARQROB
POC - ARQROB PROJECT RESEARCHES
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 24-41, ISSN 1646-7116
1. Introdução
A família Robinson deixou a Portalegre um importante legado que merece ser valorizado e relembrado. A Fundação Robinson pretende recuperar essa memória e, nesse sentido, através
do Projecto ArqRob, visa fixar corpos documentais relativos ao
percurso da família Robinson e da sua fábrica de cortiça.
Por conseguinte, vários corpos documentais estão a ser
consultados em busca de informações precisas sobre os
Robinson. O Arquivo Distrital de Portalegre é um dos locais
de pesquisa, uma vez que aí se encontra depositado o fundo
dos Cartórios Notariais dos vários concelhos do distrito, que
através dos livros de notas dos tabeliães nos fornecem um
alargado conjunto de documentos para a constituição do
arquivo electrónico da Fundação Robinson.
As escrituras emitidas pelos tabeliães de notas revestemse de fins probatórios, decorrendo daí a necessidade de as
conservar adequadamente em livros e não em folhas soltas
dados os prejuízos que daí poderiam advir, o que se encontra,
desde logo, preconizado pelo primeiro regimento dos tabeliães, no reinado de D. Dinis2. Essa preocupação perpassa
através dos tempos, surgindo reforçada no século XIX com a
necessidade de numerar, rubricar e encerrar pelo juiz territorial os livros de notas3, de modo a garantir a autenticidade e
assegurar a inviolabilidade dos actos neles contidos.
Nesta época, as competências dos tabeliães de notas, vulgar designação dos notários nessa época, passavam pela realização de actos de natureza diversa. À cabeça destes encontravam-se procedimentos reguladores de actividades económicas, como contratos de arrendamento, de sublocação, de
compra e venda, crédito, empréstimo, hipoteca, expropriação, e outros relativos a sociedades comerciais. Por outro
lado, eram também frequentes os actos de natureza mais
particular, predominantemente respeitantes à vida familiar,
25
1. Introduction
The Robinson family bequeathed to Portalegre an important legacy which is worthy of being valued and remembered.
The Robinson Foundation has as its goal the recovery of this
memory and, to that end, through the ArqRob Project aims to
preserve documentary corpuses linked to the trajectory of the
Robinson family and its cork factory.
Thus, several sets of documents are being consulted in a
search for precise information regarding the Robinsons. The
District Archive of Portalegre is one of the sites for research,
since it houses the register of the Notaries public of the different boroughs of the district. It is through the documents of the
tabellions that we will garner an extensive set of documents
allowing for the electronic archive of the Robinson Foundation.
The deeds issuing from the tabellions have probatory purposes, which makes it necessary adequately to preserve them
in book form and not in the form of loose sheets, given the
damage that might ensue. Measures to this effect were, in fact,
put in place by the first Regulation of the tabellions, during
the reign of Dinis I2. This same concern pervades the intervening centuries, having been re-inforced in the nineteenth century with the need to number, initial and close the ledgers by
the territorial Judge3, in order to guarantee authenticity and
ensure the inviolability of the Notarial Acts they comprise.
The duties of the tabellions, the common designation for
the Notaries of the time, consisted of Acts of divers nature.
Foremost among these were regulamentory procedures of
economic activity, such as contracts concerning leasing, subleasing, buying and selling, credit, loans, mortgaging and others relating to business companies. On the other hand, there
was frequent need for Acts of a more private nature, mostly
with regard to familial life, such as bequests or endowments,
divisions of estates, last wills and testaments, pre-nuptial
como é o caso das doações, partilhas, testamentos, contratos ante-nupciais, legitimações, perfilhações e autorizações
maritais. Os tabeliães de notas tinham também a seu cargo a
oficialização de procurações4.
Nos livros de notas dos cartórios notariais de Portalegre foram encontrados, até ao momento, os testamentos de
George William Robinson e da sua mulher, Sarah Ann Robinson. A partir destes foi possível aceder ao testamento de Mary
Chadwick Robinson da Silveira, filha de George e Sarah.
Pela importância dos testadores para a história de Portalegre, torna-se relevante publicar estes testamentos na íntegra, verificar a sua tipologia, as suas cláusulas, quem são os
testamentários, a quem legam os testadores os seus bens e
qual a relevância histórica destes documentos.
agreements, legitimization, adoption and marital authorizations. The tabellions were also responsible for legalizing powers of attorney4.
The ledgers of the Portalegre Notaries public have, to
date, rendered the last will and testaments of George William
Robinson and that of his wife, Sarah Ann Robinson. These led
to locating the will of Mary Chadwick Robinson da Silveira,
George and Sarah’s daughter.
The importance of the testators in regard to the history
of Portalegre makes it relevant to publish these wills in full,
check their typology, clauses, the identity of the testators, the
beneficiaries of the wills and the historical relevance of the
documents concerned.
2. The Portalegre Notaries Public
2. Os Notários de Portalegre e os Robinson
No concelho de Portalegre, até à vitória liberal em 1834,
existia apenas um ofício notarial, do qual subsiste, no
Arquivo Distrital de Portalegre, documentação desde 1601.
A implantação do novo regime e o esforço de codificação que
o acompanhou deu origem ao aparecimento quase simultâneo de quatro outros ofícios, estando já todos estabelecidos
em 1845.
A actividade industrial e comercial da família Robinson
foi bastante intensa na segunda metade do século XIX. O
recurso aos tabeliães como forma de oficializar e validar contratos era, por isso, premente. Durante esta época, estavam
em actividade todos os cinco ofícios que, com excepção do
primeiro, cuja extinção ocorreu em 18675, ainda permaneciam em exercício no início do século XX.
Nos livros de notas dos tabeliães da cidade de Portalegre deste período, os Robinson, e sobretudo George William
Robinson, realizaram diversos tipos de escrituras. Estas
and the Robinsons
Until the Liberal victory of 1834, Portalegre had only one
Notary public registry, housing documents dating back to
1601, surviving in the Portalegre District Archive. The arrival
of the new regime and the accompanying endeavours to codify gave rise to the almost simultaneous creation of four other
such Registries, all of them established by 1845.
The Robinson family’s industrial and commercial activities in the second half of the nineteenth century was very
extensive. Recourse to the tabellions as a means of legalizing
and validating contracts was thus pressing. At this time, all
five registries were operating and still were, with one exception, fully functional at the beginning of the twentieth century. The one exception was the first Notary public, which was
dissolved in 18675.
During this period, in the ledgers of Portalegre’s tabellions, the Robinsons, and above all, George William Robinson, effected several types of deed. Overall, these consisted of
26
Testamento público de George William
Robinson, 9 de Março de 1895.
Arquivo Distrital de Portalegre,
Cartórios Notariais de Portalegre,
4.º Ofício, cx. 156, lv. 40, fl. 20v., fl. 21.
Public will of George William Robinson, 9
March 1895.
Portalegre District Archive,
Portalegre Notary Public Offices,
4th Letter, box 156, book 40, pg. 20 verso,
pg 21.
Testamento de Sarah Ann Robinson,
9 de Março de 1895.
Arquivo Distrital de Portalegre,
Cartórios Notariais de Portalegre,
4.º Ofício, cx. 156, lv. 40, fl. 21v., fl. 22
Last Will of Sarah Ann Robinson,
9 March 1895.
Portalegre District Archive,
Portalegre Notary Public Offices,
4th Letter, box 156, book 40, pg. 21 verso,
pg 22.
27
consistem, grosso modo, em contratos de compra e venda e
em contratos de arrendamento, mas existem também, por
exemplo, licenças de exploração de minas ou escrituras de
formação de sociedade. George William Robinson, em pessoa ou nomeando um procurador (por vezes um funcionário da fábrica ou o seu filho George Wheelhouse Robinson),
comprou e arrendou pedreiras, propriedades e casas, mas são
os contratos de compra e arrendamento de sobreiros para
extracção de cortiça os mais comuns, o que se relaciona com
a sua principal actividade – a indústria corticeira.
É no 2.º Cartório Notarial da cidade que foi registado,
até ao momento, o maior número de escrituras relativas à
família Robinson. Deste Cartório constam os livros de notas
dos tabeliães Pedro Manuel Coelho Machado e João Frederico Teles Mexia. A maioria dos documentos celebrados entre
George William Robinson e os respectivos arrendatários e/
ou vendedores foram celebrados pelo primeiro tabelião, que
exerceu actividade neste Cartório entre 1845 e 1881.
O primeiro documento de compra/arrendamento de cortiça efectuado por George Robinson em Portalegre, consultado no referido Cartório, data de 16 de Julho de 18556. No
documento é possível fixar o tipo de cláusulas mais comuns
celebradas nestes contratos: a sua duração; o preço total do
negócio efectuado; e as obrigações e restrições a que ambos
os intervenientes estão sujeitos.
No âmbito desta pesquisa foram também encontrados os
testamentos de George William Robinson7 e da sua mulher,
Sarah Ann Robinson8. A partir destes testamentos e tentando aferir dados biográficos e cronologias, realizou-se uma
incursão ao fundo da Administração do Concelho de Portalegre, nomeadamente ao registo de testamentos, onde foi
possível recolher também o testamento de Mary Chadwick
Robinson da Silveira9, filha de George e Sarah.
buying and selling contracts and leasing contracts, but there
are, for example, also permits for mining rights or deeds for
the setting up of companies. Either George William Robinson himself or a person holding a power of attorney (sometimes a senior member of the Factory staff or his son, George
Wheelhouse Robinson), bought and sold quarries, properties
and houses, but the most frequent such documents are contracts for the purchase and leasing of cork oaks for the extraction of cork, more directly concerned with his main activity –
the cork-production industry.
Up to that time, the largest number of deeds relating to
the Robinson family are to be found in the Second Notary
Public Registry of the town. This houses the ledgers of the
tabellions, Pedro Manuel Coelho Machado and João Frederico Teles Mexia. Most of the documents established between
George William Robinson and the lessees and/or buyers were
executed by the former tabellion, who worked at the Registry
concerned between 1845 and 1881.
Examined at the above mentioned Registry, the first
document covering the leasing of cork by George Robinson
in Portalegre is dated 16 July 18556. The document allows
us to establish the type of clauses which were in most common use in this type of contract: its duration; the sum total of
the transaction; and the obligations and restrictions to which
both parties were subject.
While researching the above, the wills of George William
Robinson7 and his wife, Sarah Ann Robinson8 were also found.
With these wills as a starting point, and in an attempt to collate biographical and chronological data, further research was
initiated into the core of the Portalegre District Administration, most particularly the record of wills, where it was also
possible to find the will of Mary Chadwick Robinson da Silveira9, George and Sarah’s daughter.
28
3. Os testamentos dos Robinson
Os dois primeiros testamentos foram redigidos em acto contínuo na mesma data, 9 de Março de 1895, sendo ambos em
forma pública. São quase integralmente cópias um do outro,
constituindo-se mais como um único documento de transmissão da Casa Robinson. A sua estrutura revela um evidente pragmatismo, muito distante da prática usual dos testadores de final
do século XIX em Portugal. Esta simplicidade será produto, presumivelmente, da conjugação entre os traços culturais britânicos da família e a utilização da fórmula de testamento público,
menos prestável a escritos memorialistas como o eram, sobretudo, os testamentos cerrados, onde o testador procurava construir a perpétua imagem pretendida. Para essa simplicidade
também concorreu, certamente, a realização prévia de duas
escrituras de doação de bens no mesmo dia em que os testamentos foram lavrados. A primeira destinou-se à repartição dos
bens pelos dois filhos do casal, George Wheelhouse Robinson e
Mary Chadwick Robinson, à altura ainda no estado de solteira.
A segunda visou premiar o desempenho de dois empregados da
fábrica, José Lúcio do Monte Pegado e Silvestre da Cruz Ceia10.
Nos testamentos omitiram-se quaisquer informações biográficas dos testadores. Regra geral, a filiação, a naturalidade e
a data de nascimento, ou, na falta desta, a idade ao momento
da feitura do testamento, eram elementos presentes na introdução às últimas vontades dos testadores. No caso presente,
apenas foi declarada a residência dos Robinson, a profissão
do marido e, como em todos os actos notariais recolhidos, a
nacionalidade inglesa de George e Sarah Robinson.
Após a identificação do local de realização dos testamentos, no n.º 3 do Largo da Boavista, onde residia a família
Robinson, seguiu-se a indicação das disposições testamentárias do(a) testador(a). A primeira estipulou os procedimentos funerários, em observância ao “uso e costume da sua
29
3. The Robinsons’ Wills
The first two wills were drawn up one after the other
on the same day, 9 March 1895, both being public. They
are practically copies one of the other, rather more a single document willing the Robinson assets. The structure of
the wills reveals a clear pragmatism, far removed from the
usual practice of late nineteenth century Portuguese wills.
Such simplicity is, presumably, to be attributed to the confluence of the family’s British cultural traits and the use of
the public will formula, which was less amenable to memoir writing, a feature, above all of sealed wills, where the testator set out to construct his/her targetted image for posterity. This simplicity will no doubt have been improved by
two prior endowment deeds signed on the same day the wills
were drawn up. The first deed bestowed the couple’s estate
on their children, George Wheelhouse Robinson and Mary
Chadwick Robinson, who was still single at the time. The second deed rewarded the services rendered by two of the factory’s employees, José Lúcio do Monte Pegado and Silvestre
da Cruz Ceia10.
The wills omit all and any biographical details of the testators. As a general rule, the names of parents, place and date of
birth and date of birth, or, in the absence of the latter, the person’s age when making the will, featured in the introduction
to the last wills of the testators. In this case, the only data provided were the Robinson’s residential address, the husband’s
occupation and, as in all Notary Acts, the British nationality
of George and Sarah Robinson.
After identifying the place where the wills had been
drawn up – 3, Largo da Boavista, the Robinson residence –
there followed the dispositions of the testators. The first set
out the funeral arrangements, in accordance with the “use and
custom of his (her) faith”11. The couple went on to specify their
religião”11. Depois, no único traço divergente dos testamentos, George Robinson concedeu aos operários da fábrica de
cortiça três dias de luto pelo seu falecimento e a remuneração salarial de seis dias pelo período de nojo consignado. De
seguida, o casal especificou as heranças dos filhos. Na respectiva escritura de doação haviam determinado que a componente industrial do património caberia a George Wheelhouse
Robinson, enquanto a componente agrícola seria entregue à
filha. Agora, especificavam o que na doação ficara omisso.
Nomearam o filho como herdeiro universal, deixando-lhe
“todos os contractos a longo praso de arrendamento ou compra de
cortiça em Portugal – e bem assim todos os moveis, semoventes,
immoveis, direitos e acções, incluindo os contractos de compra e
arrendamento de cortiça, (…) no Reino de Hespanha”12. Quanto
à filha, Mary Chadwick Robinson, ficou reservado “o arrendamento a longo praso da Penha d’Aguia e tapada do Escrivão, situados na freguezia da Urra”13. A terminar indicaram como testamenteiro o herdeiro, George Wheelhouse Robinson.
Extremamente elementares, estes testamentos vincam
variadas características determinantes ao conhecimento da
família Robinson. Desde logo, o âmbito restrito de relações
patente na inexistência de referências a outras pessoas fora
da célula familiar, não fosse a escritura de doação de bens em
favor de José Lúcio do Monte Pegado e Silvestre da Cruz Ceia.
O universo Robinson correspondia ao modelo de família conjugal ou nuclear que, segundo Peter Laslett, existia em Inglaterra desde o século XVI, e que Jorge Dias identificou nas
regiões a Sul do Tejo14. Ainda que “residente(s) nesta cidade
de Portalegre ha muitos annos”15, o casal não deixou qualquer
legado a algum amigo particular, tão comum na prática testamentária da época, limitando-se a reconhecer noutro acto
notarial o desempenho de dois empregados da fábrica de responsabilidades mais elevadas. Esta reserva social será tal-
children’s inheritance. The relevant endowment deed had
determined that the industrial portion of the estate would
go to George Wheelhouse Robinson, while the agricultural
portion would be left to their daughter. Now they specified
what had been omitted in the endowment deed. They named
their son as universal heir, bequeathing to him “all long-term
contracts covering the leasing or purchase of cork in Portugal – and
also all the movable, semi-movable, non-movable assets, rights and
shares, including contracts for the purchase and leasing of cork, (...)
in the Kingdom of Spain”12. Their daughter, Mary Chadwick Robinson, was the recipient of “the long-term leasing of Penha d’Aguia
and the preserve at Escrivão, located in the parish of Urra”13. They
ended by designating George Wheelhouse Robinson as their
executor and heir.
Extremely elementary as they are, these wills offer up
several features which determine our knowledge of the Robinson Family. Strikingly, the restricted scope of relationships
which can be seen in the lack of references to persons beyond
the family nucleus, with the exception of the endowment deed
benefitting José Lúcio do Monte Pegado and Silvestre da Cruz
Ceia. The Robinson universe followed the conjugal or nuclear
family model which, according to Peter Laslett, had been the
norm in Britain since the sixteenth century, and which Jorge
Dias identified in the area south of the Tagus14. Despite having “resided in this town of Portalegre for many years”15, the couple left no bequest to a close friend, a practice much favoured
at the time, merely acknowledging in another notarial act
the services of two of the factory’s employees entrusted with
more important responsibilities. This social reserve may be
explained, again, by the British ancestry of the couple; also as
a feature of the religious moderation visible in the last wishes
of George and Sarah Robinson. Members of the Evangelical
denomination, they did not evince the expansive religious
30
vez justificável, uma vez mais, pela ascendência britânica.
Carácter também extensível à moderação religiosa patente
nas derradeiras vontades de George e Sarah Robinson. Devotos da confissão evangélica, neles não se revelaram os expansivos sentimentos religiosos, tão usuais num momento em
que se procurava a salvação e pacificação da alma.
Outra nota relevante destes dois documentos respeita à posição de marido e mulher no seio da família Robinson. Aos dois
pertenciam os contratos e “todos os moveis, semoventes, immoveis,
direitos e acções”16 que deixaram a seu filho, equiparando homem
e mulher na posse da Casa familiar. Mas quanto à administração, era competência exclusiva de George Robinson, atentando a
que apenas ele determinou o cumprimento de luto e a bonificação aos operários da fábrica. A similitude estrutural dos dois testamentos certamente poderá justificar a expressa determinação
da transmissão da herança pelos dois testadores. Mas, porque
essa herança se determina nos dois casos, ao contrário das disposições face aos operários, realça-se uma separação entre a economia familiar, na qual a esposa tem mais do que um mero papel
de reguladora da actividade doméstica, e a gerência dos negócios,
determinada pelo pulso e presença do marido na fábrica.
A derradeira característica dos testamentos de George e
Sarah Robinson refere-se à estratégia de sucessão e herança
por eles empregue. Partindo do modelo definido por Georges
Augustin, e aplicado por Margarida Durães na sociedade camponesa minhota, poderemos enquadrar a estratégia dos Robinson como promotora de uma sucessão única e uma herança
preciputária, ou universal17. Sucessão e herança são conceitos
distintos, reportando-se o primeiro à componente imaterial
do agregado familiar, como seja o nome de família ou a cadeia
de relações sociais que este garante, ao passo que a herança
se compõe de todos os bens partilháveis pelos descendentes.
No caso dos Robinson, a sucessão única determina que coube
31
sentiments which were so widespread at a time when salvation and the serenity of the soul were sought.
Another relevant feature of these two documents regards
the relationship of husband and wife within the Robinson
family. Both were owners of the contracts and “all the movables, semi-movables, real estate, bonds and shares”16 which they
bequeathed to their son, lending equal weight to both man
and wife as partners in the ownership of the family household. However, administration was George Robinson’s exclusive domain; it was he, and he alone, who set out the provisions for mourning and the monies to be paid to his factory
workers. The structural similarity between the two wills may
very well underpin the over-riding determination of the passing down of the estate by the two testators. However, because
this estate is the subject of both wills, in contradistinction to
the provisions made regarding the workers, a difference is
high-lighted, that between the familial economy, where the
wife is more than a mere manager of the household, and that
of the running of the business, underscored by the husband’s
management of and presence at the factory.
The remaining feature of George and Sarah Robinson’s
wills is that of the strategy for succession and inheritance utilized by them. Taking as a starting point the model defined
by Georges Augustin, and applied by Margarida Durães to
the peasant society of the Portuguese province of Minho in
the north of Portugal, we can define the Robinsons’ strategy as promoting a simple succession and sole heir inheritance17. Succession and inheritance are different concepts,
the former relating to the immaterial component of the family unit, such as the family name or the network of social
relationships this implies, whereas inheritance entails all the
assets to be divided among the descendents. In the case of
the Robinsons, the sole succession determined that the son
ao filho passar a representar o patronímico Robinson, a que
acresceu o benefício na herança, prosseguindo a exploração
familiar. À filha, tal como o referido modelo propõe, destinouse um quinhão, composto pelos bens que recebeu pela escritura de doação e pelo disposto nos testamentos de seus pais,
e com o qual entrou no contrato pré-nupcial celebrado a 4 de
Junho de 1895 e que antecedeu o seu casamento com Pedro de
Castro da Silveira. Como a própria refere no seu testamento, a
sua parte na herança visava a constituição do dote.
O testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira, redigido a 9 de Julho de 189618, é fortemente marcado pelo ainda
recente consórcio com Pedro de Castro da Silveira como se percebe quer pela alteração de cláusulas do contrato pré-nupcial,
quer pelas diversas hipóteses de herança que estabeleceu.
Embora tenha optado por lavrar um testamento cerrado,
ao contrário dos pais, também ela limitou ao essencial o conteúdo do seu “testamento e disposição da ultima vontade”19. Sem
referência a dados biográficos, as determinações testamentárias são encabeçadas, novamente, pelos procedimentos do
funeral, declarando ser “Christã, seguindo o rito da Reforma, e
segundo elle quero que se faça o meu enterramento”20.
O casamento, antecedido por contrato pré-nupcial, foi celebrado segundo o regime dotal com comunhão de adquiridos. Em
função deste contrato, a testadora definiu, em primeiro lugar, o
destino dos bens que pertenciam ao seu dote e, depois, o destino dos que lhe caberiam na meação dos bens adquiridos.
Mary Chadwick Robinson da Silveira separou os bens
dotais em dois grupos. O primeiro era constituído por um
grupo de propriedades no sítio de Vale de Lobo, concelho de
Castelo de Vide, e pelos currais de Monte Andreu, devendo
ser herdado pelo seu marido. Desta forma, revogava uma
parte do contrato pré-nupcial, segundo a qual, o marido teria
apenas o usufruto vitalício destas propriedades, com cláusula
was charged with representing the Robinson patronymic, to
which accrued the benefit of the inheritance, in pursuit of
the family business. The daughter, as set forth in the above
mentioned model, received a portion, comprising the assets
she received under the endowment deed and by the directions of her parents’ wills, which formed part of the pre-nuptial agreement signed on 4 June 1895, prior to her marriage
to Pedro de Castro da Silveira. As she herself mentions in her
will, her part of the inheritance had been designed to make
up her dowry.
Mary Chadwick Robinson da Silveira’s will, drawn up on
9 July 189618 is strongly influenced by her still recent nuptials
to Pedro de Castro da Silveira, as can be gleaned both from
the alterations to the clauses in the pre-nuptial agreement and
from the different hypotheses of legacy she instituted.
Although, contrary to her parents, she opted for drawing
up a sealed will, she too kept the contents of her “last will and
testament”19 to a minimum. Omitting biographical details, the
will’s dispositions are, again, headed by arrangements for her
funeral, declaring herself a “Christian, following the Reformed
Church and according to the latter do I wish to be buried”20.
The marriage, preceded by a pre-nuptial agreement, was
effected under the dowry regime with communion of assets
acquired along the marriage. Further to this contract, the testatrix first of all defined to whom she was leaving the assets
pertaining to her dowry, followed by to whom she was leaving
the assets which would revert to her in the division of assets
acquired along the marriage.
Mary Chadwick Robinson da Silveira separated her dowry
assets into two parts. The first comprised a series of properties in Vale do Lobo, Castelo de Vide, as well as livestock pens
in Monte Andreu, which would be inherited by her husband.
She thus revoked part of her pre-nuptial agreement, accord-
32
de reversão para a testadora ou, na sua falta, para seus sobrinhos, filhos de George Wheelhouse Robinson. Estes seriam
os beneficiários do segundo grupo dos bens dotais, ficando
porém sob reserva ao usufruto vitalício de Pedro de Castro
da Silveira. Quanto aos bens adquiridos, não foram identificados quaisquer bens que integrariam a meação, limitandose a testadora a dispor genericamente em favor do marido.
No entanto, a execução das deixas de Mary Chadwick Robinson da Silveira ficavam condicionadas à existência de descendência à data da sua morte. Nesta circunstância, tanto os bens
dotais como os adquiridos deveriam passar “para essa (...) descendencia, com re // reserva do usufructo a favor de meu marido” 21.
À morte da testadora, a 10 de Outubro de 1918, competiu
ao marido dar execução a todas as formalidades inerentes aos
testamentos cerrados, realizando-se no dia seguinte o auto
de apresentação, abertura e publicação do mesmo. O acto
teve lugar na Boavista, em Portalegre, na casa de residência
do casal, estando nele presentes Pedro de Castro da Silveira,
o apresentante, as entidades competentes (administrador do
concelho e seu secretário) e duas testemunhas (José Augusto
dos Santos e Silva, ministro evangélico, e António de Sousa
Ramos, comerciante)22.
ing to which her husband would merely have usufruct of these
properties in his life-time, with a reversion clause in favour
of the testatrix, or, if deceased, of the issue of her brother,
George Wheelhouse Robinson. These became the beneficiaries of the second part of the dowry assets, with Pedro de Castro da Silveira having usufruct of same in his life-time. As for
the assets acquired along the marriage, none were identified
which would enter into the division. The testatrix generically
left all of these assets to her husband.
However, Mary Chadwick Robinson da Silveira’s will was
made conditional on her having issue at the time of her death.
Should there be issue, both the dowry assets and the assets
acquired along the marriage would go to “such issue, with the
exception of the usufruct in favour of my husband” 21.
When the testatrix died on 10 October 1918, it was her
husband’s task to execute all the formalities inherent to the
sealed will, the latter having been presented, unsealed and
read out on the following day. This took place in Boavista,
Portalegre, in the couple’s home. Pedro de Castro da Silveira
and the presenter were in attendance, as were the competent
authorities (the District Administrator and his Secretary) and
two witnesses (José Augusto dos Santos e Silva, Evangelical
minister, and António de Sousa Ramos, tradesman22.
4. Conclusão
Com esta breve abordagem ao universo documental da
recolha para a constituição do arquivo electrónico da Fundação Robinson, pretendeu-se consciencializar a comunidade para as potencialidades de realizações académicas que
o seu acervo permitirá. O alargado campo temático disponível à exploração dos investigadores e o contributo para a preservação, conhecimento e afirmação do património cultural
e material portalegrense são testemunho da pertinência do
projecto desenvolvido.
33
4. Conclusion
This brief overview of the documentary universe garnered for the setting up of the Robinson Foundation electronic archive aimed at spreading awareness among the community of the potential for academic research which it has
opened up. The broader thematic field at the disposal of
researchers and the contribution towards preserving, making known and affirmation of Portalegre’s cultural and material patrimony are witnesses to the pertinence of the project
Apêndice 1
Testamento de George William Robinson
“Testamento que faz o Illustríssimo George Robinson, casado,
industrial e proprietario, de Portalegre, em 9 março 1895.
Saibam os que este publico instrumento de testamento virem,
que no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de
mil oitocentos noventa e cinco, aos nove dias do mez de março,
no Largo da Boa Vista e casa numero tres, aonde eu tabellião vim,
aqui perante mim tabellião e as cinco testemunhas idoneas adeante nomeadas e no final assignadas, compareceu o Illustríssimo
George Robinson, casado, industrial e proprietario, subdito inglez,
mas residente nesta cidade de Portalegre há muitos annos, que falla
e entende perfeitamente a lingua portugueza: - é pelas mesmas testemunhas e por mim tabellião reconhecido. pelo proprio e em seu
perfeito juizo e livre de qualquer coacção: E logo pelo dito Illustríssimo George Robinson na presença das mesmas testemunhas foi
dito que de sua livre vontade tinha resolvido fazer o seu testamento
e passou a dispôr pela forma seguinte: - Quer enterro modesto e
segundo o uso e costume da sua religião; o seu corpo será encerrado
em caixão de chumbo e este noutro de madeira, sendo sepultado no
jazigo de familia. Os operarios < e empregados > da fabrica de cortiça tomarão luto por tres dias e a cada um serão pagos seis dias
de trabalho alem dos tres do luto em que deixarão de ir á fabrica,
digo, trabalho por esses tres dias de luto. Deixa a seu filho George
Wheelhouse Robinson todos os contractos a longo praso de arrendamento ou compra de cortiça em Portugal – e bem assim todos
os moveis, semoventes, immoveis, direitos e acções, incluindo os
contractos de compra e arrendamento de cortiça, que possue no
Reino de Hespanha e alli existão ao tempo da sua morte = Deixa
a sua filha D. Mary Chadwick Robinson o arrendamento a longo
praso da Penha d’Aguia e tapada do Escrivão situados na freguezia
da Urra. E por esta for/ma tinha concluido o seu testamento que
queria se cumprisse como nelle se contem e por este revoga outros
anteriormente feitos. Que nomeia seu testamentario no dito seu
filho George Wheelhouse Robinson. A tudo foram testemunhas
presentes – José Lucio do Monte Pegado – Silvestre da Cruz Ceia,
casados, empregados no commercio – Antonio Maria Guapo, viuvo,
proprietario – Domingos Antunes Dias, casado, e Manoel da Rosa
Cardoso, solteiro, ambos operarios, e todos maiores, cidadãos portuguezes, residentes nesta cidade que vão assignar depois de com o
testador ratificarem o contheudo neste testamento que em voz alta
e intelligivel foi lido perante todos por mim tabellião, tendo advertido ao testador de que o podia ler, o que não quiz, e posto por fé o
Appendix 1
Last will and testament of George William Robinson
“Last Will of the Illustrious George Robinson, married,
industrialist and land-owner, of Portalegre, on 9 March 1895”
That it be known to those who read this public will that, in the year
of the birth of Our Lord Jesus Christ, eighteen hundred and ninety six,
on the ninth day of the month of March, at number 3 of Largo da Boavista, where I, tabellion, have come and here before myself, tabellion,
and the five upright witnesses mentioned hereafter and who at the end
sign, the presence was registered of the Illustrious George Robinson, married, industrialist and land-owner, English [sic] subject, however having
resided in Portalegre for many years, and fluently speaking and perfectly
understanding Portuguese: - he is recognized by the afore-said witnesses
and by myself, tabellion, by himself, being sound of mind and of his free
will: and then the Illustrious George Robinson, in the presence of said witnesses, declared that of his own free will he had decided to make his last
will and testament and went on to dispose in the following manner: - He
wishes for a plain and simple funeral in accordance with the use and custom of his faith; his body shall be encased in a lead coffin and the latter in another made of wood, to be buried in the family vault. The workers < and employees > of the cork factory shall take three days of mourning and each one shall be paid six days’ wages besides the three days’
mourning during which they will not go to the factory, that is to say, work
during those three days’ mourning. He leaves to his son George Wheelhouse Robinson all the long term contracts regarding the leasing or purchasing of cork in Portugal – as well as all the movables, semi-movables,
real estate, bonds and shares, including the contracts for the purchase or
leasing of cork, of which he is the owner in the Kingdom of Spain and
which shall there exist at the time of his death = He wills to his daughter
Miss Mary Chadwick Robinson the long term lease of Penha d’Àguia and
Tapada do Escrivão, borough of Urra. And in this way he had concluded
his will which he wished to be carried out as is contained in it and which
present will revokes any other prior ones. That he appoints as his executor, his said son George Wheelhouse Robinson. All of which witnessed
by those present – José Lúcio do Monte Pegado – Silvestre da Cruz Ceia,
both married, employed in trade – António Maria Guapo, widower, proprietor – Domingos Antunes Dias, married, and Manoel da Rosa Cardoso,
single, both workers and all of whom of age, Portuguese citizens, residing in this town, who will sign after ratifying with the testator the contents of this will which has been read out loud and clearly in the presence of all present by myself, tabellion, having advised the testator that
he could read it, which he declined, and accepted that which was uttered
and that this Notarial Act had proceeded without interruption. I validate
34
expressado e que este acto foi praticado sem interrupção. Resalvo
numa entrelinha que diz «e empregados». No final será sellado e
inutilisado sello de dois mil reis devido por este testamento. Antonio Andrade Rebello Costa Junior, tabellião o escrevi e em publico
e raso assigno.
the insertion which adds “and employees”. To conclude, a stamp shall be
affixed and a stamp of two thousand reis shall be cancelled, owed for this
will. I, Antonio Andrade Rebello Costa Junior, tabellion, did write this and
in public do I sign it.
signed by:
a) George Robinson
a) José Lucio do Monte Pegado
a) Silvestre da Cruz Ceia
a) Antonio Maria Guapo
a) Domingos Antunes Dias
a) Manoel da Roza Cardozo
George Robinson
José Lucio do Monte Pegado
Silvestre da Cruz Ceia
Antonio Maria Guapo
Domingos Antunes Dias
Manoel da Roza Cardozo
Em testemunho [sinal do tabelião] de verdade
a) Antonio A. Rebello Costa J.
[selo no valor de 2000 Reis]
9 março 1895
cinco”²¹
Apêndice 2
Testamento de Sarah Ann Robinson
“Testamento de D. Sarah Ann Robinson, casada, residente nesta
cidade, em 9 de março 1895.
/ Saibam os que este publico instrumento de testamento virem,
que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil
oitocentos noventa e cinco, aos nove dias do mez de março , na
cidade de Portalegre, Largo da Boa Vista e Casa numero tres, aonde
eu tabellião vim, aqui perante mim tabellião e as cinco testemunhas
idoneas adeante nomeadas e no final assignadas e minhas conhecidas, compareceu a Excellentissima D. Sarah Ann Robinson, casada,
de nação ingleza, mas ha muitos annos residente com seu marido
em Portugal e por isso fallando e entendendo perfeitamente a lingua
portugueza; é reconhecida pela propria de mim tabellião e das ditas
testemunhas e todos nos certificamos de que a testadora está em seu
perfeito juizo e livre de qualquer coacção. E logo pela dita testadora
D. Sarah Ann Robinson foi dito que de sua livre vontade tinha resolvido fazer o seu testamento e passou a dispôr como segue: - Quer
que o seu enterro seja modesto e à vontade da sua familia, sendo o
seu corpo encerrado em caixão de chumbo, este noutro de madeira
e depositado no jazigo de familia que tem nesta cidade. Deixa a seu
filho George Wheelhouse Robinson a parte que ella outorgante possa
ter nos contractos a longo praso de arrendamento ou compra de cor35
Testifying [mark of tabellion] to the truth
signed by: Antonio A. Rebello Costa J.
[stamp to the value of 2,000 reis]
9 March 1895
five”²¹
Appendix 2
Last Will and Testament of Sarah Ann Robinson
“Last Will of Mrs. Sarah Ann Robinson, married, residing in this
town, on 9 March 1895”
That it be known to those who see this public will that, in the year
of the birth of Our Lord Jesus Christ, eighteen hundred and ninety six,
on the ninth day of the month of March, at number three, Largo da
Boavista, where I, tabellion, have come and before myself, tabellion,
and the five upright witnesses mentioned hereafter and who at the finish shall sign, the presence was registered of Mrs. Sarah Ann Robinson,
married of English [sic] nationality but who has for many years lived
with her husband in Portugal and therefore speaks and understands the
Portuguese language perfectly; she is recognized by myself, tabellion,
and by said witnesses and we have all ascertained that the testatrix is of
sound mind and acts of her own volition. And said testatrix, Mrs. Sarah
Ann Robinson declared that of her own free will she had decided to make
her will and made the following dispositions: - She wishes her funeral to
be plain and simple and in accordance with her family’s wishes, her body
to be encased in a lead coffin, the latter being placed within a wood coffin and placed in the family vault in this town. She bequeathes to her son
George Wheelhouse Robinson the share she may have in the long term
contracts covering the leasing or purchasing of cork in Portugal, as well
as in all the movable, semi-movable or immovable assets, also includ-
tiça em Portugal, e bem assim todos os moveis, semoventes e immoveis, incluindo tambem os contractos de compra e arrendamento de
cortiça, que possuir em Hespanha ao tempo de seu fallecimento, com
todos os direitos e acções. Deixa a sua filha D. Mary Chadwick Robinson o arrendamento a longo praso das Tapadas da Penha d’Aguia e
Escrivão, na freguezia da Urra. Que por esta forma tem concluido o
seu testamento, pelo qual revoga outros anteriores e para seu testamentario nomeia o indicado seu filho. A tudo foram testemunhas presentes José Lucio do Monte Pegado e Silvestre da Cruz Ceia, casado,
empregados no commercio – Antonio Maria Guapo / viuvo, proprietario – Domingos Antunes Dias, casado e Manoel da Rosa Cardoso,
solteiro, ambos operarios, e todos maiores, cidadãos portuguezes,
residentes nesta cidade, que vão assignar depois de com a testadora
ratificarem o contheudo neste testamento que em voz alta e intelligivel foi lido a todos por mim tabellião tendo advertido a testadora de
que o podia ler o que não quiz e posto por fé o expressado e que todo
este acto foi praticado sem interrupção. No final será collado com
sello da taxa. de dois mil reis. Antonio Andrade Rebello Costa Junior,
tabellião o escrevi e em publico raso assigno.
ing the contracts for leasing or purchasing of cork which she may own in
Spain at the time of her death, with all bonds and shares. To her daughter, Miss Mary Chadwick Robinson, she bequeathes the long term lease
of Tapadas da Penha d’Àguia and Escrivão, in the parish of Urra. This
hereby terminates her will, which revokes any other which may have
been made in the past, and she appoints her said son as executor. The
following were all witnesses to the proceedings: José Lúcio do Monte
Pegado and Silvestre da Cruz Ceia, both married, employed in trade –
Antonio Maria Guapo, widower, proprietor – Domingos Antunes Dias,
married, and Manoel da Rosa Cardoso, single, both factory workers, and
all of age, Portuguese citizens, residing in this town, who shall shortly
sign after ratifying with the testatrix the contents of this will which was
read out by me, tabellion, aloud and clearly to all those present, having
advised the testatrix that she could read the will, which she declined to
do, and having accepted that which was uttered and that this Notarial
Act had been carried out with no interruptions. At the end, a stamp
shall be affixed to the value of 2,000 reis. Antonio Andrade Rebello Costa
Junior, tabellion, wrote this and in public affix my signature.
signed by:
a) Sarah Ann Robinson
a) José Lucio do Monte Pegado
a) Silvestre da Cruz Ceia
a) Antonio Maria Guapo
a) Domingos Antunes Dias
a) Manoel da Roza Cardozo
Sarah Ann Robinson
José Lucio do Monte Pegado
Silvestre da Cruz Ceia
Antonio Maria Guapo
Domingos Antunes Dias
Manoel da Roza Cardozo
Em testemunho [sinal do tabelião] de verdade
a) Antonio A. Rebello Costa J.
[selo no valor de 2000 Reis]
9 março 1895
cinco”²²
Apêndice 3
Testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira
Testifying [mark of tabellion] to the truth
signed by: Antonio A. Rebellho Costa J.
[stamp to the value of 2,000 reis]
9 March 1895
five”²²
Appendix 3
Last Will and Testament of Mary Chadwick Robinson da
Silveira
“Registo do testamento de D. Mary Chadivick Robinson da Silveira, falecida na casa de sua residencia sita na Bôa Vista freguezia da
Sé desta cidade e concelho de Portalegre, pelas 22 horas do dia 10 de
Outubro de 1918 _ Eu Mary Chadwick / Robinson da Silveira, declaro
que sou Christã, seguindo o rito da Reforma, e segundo elle quero
que se faça o meu enterramento = Declaro mais, que tendo casado
com o Senhor Pedro de Castro da Silveira, com elle celebrei contrato
“Record of the will of Mrs. Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira, deceased at her home in Boa Vista, parish of Sé in this town and
District of Portalegre, at 22 hours of 10 October 1918_ I, Mary Chadwick / Robinson da Silveira, declare that I am a Christian, following the
rites of the Reformed Church, according to which I wish to be buried =
I further declare that, having married Pedro de Castro da Silveira,
36
antenupcial, nas notas do tabellião da cidade de Portalegre, Antonio
Andrade Rebello da Costa Junior, em quatro de Junho de mil oitocentos noventa e cinco, na qual, estipulando o regimen dotal para os
bens, com que entrei para o casal, e me tinham sido doados por meu
fallecido Pai, em escriptura de nove de Março d’esse anno, lavrada
nas mesmas notas, e em que se comprehende o arrendamento a
longo praso, que me foi deixado, em testamento, tambem por meu
Pai, separei desses bens um grupo de propriedades no sitio de Valle
de Lobo, no concelho de Castello de Vide, descripto na respectiva
conservatória sob os numeros cento vinte cinco e cento vinte seis
(supprimida Conservatoria de Castello de Vide (mil quatrocentos e
nove / a mil quatrocentos e dez e mil quatrocentos onze a < quatro >
mil quinhentos e seis (conservatoria da Comarca) de cujo usofruto
vitalicio, fiz doação ao dito meu marido, com a clausula de reversão
para mim, e, na minha falta, para meus sobrinhos, filhos de meu
irmão, o Senhor George Wheelhouse Robinson, e dispondo agora
desses bens, como tenho direito a fazel-o deixo-os em propriedade ao
referido meu marido, bem como os curraes de Monte Andreu egualmente doados por meu falecido Pai, na escriptura de nove de Março,
a que já me referi, ficando portanto sem efeito algum aquella clausula
de reversão. = Dos outros bens, que constituem o meu dote, disponho d’elles a favor de meus sobrinhos, filhos do mensionado meu
irmão, com reserva, porem, do usufructo vitalicio, do qual disponho
a favor do dito meu marido: isto porem no caso de eu fallecer sem
descencia [sic]; porque, no caso contrario, todos esses bens, que constituem o meu dote, passarão para essa minha descendencia, com /
reserva do usufructo a favor de meu marido, nos termos decla<ra>dos
no codigo civil Portuguez = Na meição que me compete nos adquiridos disponho a favor do dito meu marido, caso venha a morrer sem
descendência. = E assim tenho por concluido o meu testamento e disposição da ultima vontade, que quero se cumpra. = Lisbôa, nove de
Julho de mil oitocentos noventa e seis = Mary Chadivick Robinson
da Silveira. = Saibam quantos virem este auto de approvação de testamento cerrado, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus
Christo de mil oitocentos noventa e seis, aos nove dias do mês de
Julho nesta cidade de Lisbôa na rua do crucifixo numero cincoenta
no meu escriptorio perante mim tabellião Jorge Filippe Cosmelis, e
as cinco testemunhas que me declararam ser idoneas adiante nomeadas e assignadas compareceu a Excelentissima Dona Mary Chadivick
/ Robinson da Silveira, casada com Pedro Castro da Silveira moradora
em Portalegre, e temporariamente nesta cidade no hotel Central,
estabelecido no Caes do Sodré hoje denominado praça do Duque da
Terceira, a quem conhecemos pela propria e que nos certificamos de
que está em seu perfeito juiso e livre de toda e qualquer coacção = E
37
Esquire, with him I reached a pre-nuptial agreement in the Documents
of the tabellion of the town of Portalegre, Antonio Andrade Rebello da
Costa Junior, on 4 July eighteen hundred ninety five, in which, stipulating the dowry regime for the assets I brought into the marriage,
which had been bequeathed to me by my deceased Father, as per deed
of 9 March of that year, consigned in those self-same Documents, and
which encompass the long term leasing, which was left to me also by
my Father’s last will and testament, I separated from those assets a
series of properties in Valle de Lobo, Castello de Vide, detailed in the
said Registry under numbers one hundred twenty five and one hundred twenty six (the former Registry of Castello de Vide (one thousand
four hundred and nine / to one thousand four hundred and ten, and
one thousand four hundred and eleven to < four > one thousand five
hundred and six (Registry of the Judicial District) of which I willed to
my said husband life-long usufruct, with the provisions of their reverting to myself, and, if deceased, to the issue of my brother, George
Wheelhouse Robinson, Esquire, and being now in possession of these
assets, as is my right to do so, I will them as property to my husband,
as well as the animal pens of Monte Andreu, also bequeathed to me by
my deceased Father, in the deed dated ninth March, already mentioned, any reversal clause therefore being completely null and void. =
Of the other assets making up my dowry, I hereby dispose of them in
favour of the issue of my said brother, with the reservation, however,
of life-long usufruct which I will to my said husband: this, however, if
I die without issue; because, should I have issue, all these assets, which
make up my dowry, will be passed on to such issue, with the / reservation of the usufruct in favour of my husband, in the terms laid down
by the Portuguese Civil Code = In the division to which I am entitled
regarding the assets acquired along the marriage, I will these to my
husband, should I die without issue = And thus I hold as concluded my
last will and testament, which I wish to see carried out. = Lisbon, ninth
July, eighteen hundred and ninety six = Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira. – Let it be known to those who witness this Document
of approval of a sealed will that in the year of the Birth of Our Lord
Jesus Christ, eighteen hundred and ninety six, on the ninth day of the
month of July, in this city of Lisbon, at number fifty, Rua do Crucifixo,
in my office, before me, tabellion Jorge Filippe Cosmelis, and the five
witnesses, who declared themselves to be upright citizens, below mentioned and whose signatures are affixed, there was present Mrs. Mary
Chadivick [sic] / Robinson da Silveira, married to Pedro Castro da Silveira, residing in Portalegre and temporarily in this city, loged at Hotel
Central, located in Caes do Sodré, now termed Praça do Duque da Terceira, whom we know to be who she claims to be and whom we
acknowledge to be of sound mind and in full use of her own free will =
por ella me foi apresentado em presença das mesmas testemunhas
este testamento e disposições declarando como elle é a sua ultima
vontade, o qual testamento que eu vi sem o ler, é escripto e assignado
pela testadora, contem duas paginas, menos cinco linhas, está rubricado pela mesma testadora e não tem borrão algum, emenda, nota
marginal, ou entrelinha, alem da que está feita entre as linhas vigessima terceira, e vigessima quarta da primeira pagina – e que diz =de=
E em testemunho de verdade lavrei este auto que principiei logo em
seguida à assignatura do testamento em / continuo sem interrupção
sendo a tudo testemunhas presentes desde o principio até ao fim o
Doutor Jayme Cariolano Henrique Leça da Veiga, advogado nesta
cidade, casado, morador na rua de São Francisco de Paula numero
oitenta e quatro terceiro andar freguezia de Santos o Velho, Carlos
Sampaio Effrem, solteiro, de maior idade empregado publico morador com a testemunha antecedente, António < Amaro > Conde,
casado, proprietario morador na rua do Olival numero cento e quatorze freguezia de Santos o Velho, Apolinario da Fonseca, solteiro, de
maior idade empregado na Camara Municipal desta cidade morador
na rua de Santo Antão numero cento e nove primeiro andar freguezia de Santa Justa e Rufina, e Diogo Antonio Barroso da Veiga, solteiro de maior idade, empregado na dita Camara morador com a primeira testemunha, os quaes todos assignam este auto comigo
tabellião e com a tes/tadora depois de ser por mim escripto e lido em
voz alta na presença das mesmas testemunhas e da testadora porque
esta sendo por mim advertida de que o podia ler não o quiz fazer. =
Foram praticadas em acto continuo todas estas formalidades de cujo
cumprimento dou fé, e á testadora hei de entregar este testamento
depois de ser por mim cosido e lacrado em presença das mesmas testemunhas e depois de lacrado na face externa da folha que servir de
involucro uma nota com a declaração de que pertence à dita testadora. = Adiante será pago por estampilha o sello de mil reis devido
por este auto. = Eu Jorge Filippe Cosmelis Tabellião publico de notas
nesta cidade e Comarca de Lisbôa o escrevi e assigno em publico e
raso = Deste mil e duzentos reis = Mary Chadivick Robinson da Silveira = Jayme Cariolano Henrique Leça Veiga = Carlos Sampaio Efrem
= Antonio Amaral Conde = Apolinario da Fonseca = Diogo Antonio
Barroso da Veiga = Jorge Filippe / Cosmelis _ esta assinatura inutilisa duas estampilhas, uma das quaes do imposto do sêlo da taxa de
mil reis e outra de contribuição industrial do valor de noventa reis =
Testamento da Excelentissima Senhora Dona Mary Chadivick Robinson da Silveira, approvado nesta cidade de Lisbôa aos nove de Julho
de mil oitocentos noventa e seis perante mim tabellião Jorge Filippe
Cosmelis = Encontram-se coladas e inutilisadas em cada uma das
folhas do testamento uma estampilha fiscal de quinze centavos =
And she presented to me, in the presence of said witnesses, this will
and provisions, declaring that it was her last will and testament, which
I saw without reading it. It is written and signed by the testatrix, consists of two pages, minus five lines, is initialed by said testatrix and has
no smudges, corrections, margin notes or additions between the lines,
besides that which was made between the twenty third and twenty
fourth lines of the first page – and which consists of = of = And testifying to the truth I drew up this Document which I began immediately
upon signature of the will without pause or interruption, all of which
witnessed in the presence of all from start to finish by Jayme Cariolano Henrique Leça da Veiga, Esquire, a lawyer in this city, married,
residing at number eighty four, third floor, parish of Santos o Velho,
Carlos Sampaio Efrem, single, of age, civil servant, residing at the
same address as the previous witness, António < Amaro > Conde, married, proprietor, residing at number one hundred and fourteen, Rua do
Olival, parish of Santos o Velho, Apolinario da Fonseca, single, of age,
employed by the Municipal Council of this city, residing at number one
hundred and nine, first floor, Rua de Santo Antão, parish of Santa
Justa and Rufina, and Diogo Antonio Barroso da Veiga, single and of
age, employed by said Council, residing at the same address as the first
witness, all of whom signed this Document with me, tabellion, and
with the tes/tatrix, after having been read by me and read aloud in the
presence of said witnesses and of the testatrix, because, having told
her she could read it, she did not wish to do so = All these formalities
were carried out by me without pause, to which I attest, and shall hand
the testatrix this will after having sewn up and sealed said will in the
presence of said witnesses and after affixing sealing wax on the outer
surface of the sheet which shall serve as involucre I shall add a note
declaring that it belongs to said testatrix. = A stamp of 1,000 reis shall
be paid presently in payment of this Document = I, Jorge Filippe Cosmelis, Tabellion public in this city and district of Lisbon, wrote it down
and sign publicly = Of this one thousand and two hundred reis = Mary
Chadivick [sic] Robinson da Silveira = Jayme Cariolano Henrique Leça
Veiga = Carlos Sampaio Efrem = Antonio Amaral Conde = Apolinario
da Fonseca = Diogo Antonio Barroso da Veiga = Jorge Filippe / Cosmellis_ this signature cancels two stamps, one of which pertaining to
stamp duty to the amount of one thousand reis and another pertaining
to Industrial tax to the amount of ninety reis = Last Will and Testament of Mrs. Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira, approved in
this city of Lisbon on the ninth of July, eighteen hundred and ninety
six before me, tabellion, Jorge Filippe Cosmelis = affixed and cancelled
on each page of the will a fiscal stamp of fifteen centavos = Stamp paid
to the amount of twelve escudos in the form of four fiscal stamps
amounting to three escudos each, affixed to each page of the will and
38
Pagou de selo doze escudos em quatro estampilhas fiscais de tres
escudos cada uma coladas em cada uma das folhas do testamento,
devidamente inutilisadas. = Registe-se. = Portalegre onze do decimo
de mil novecentos e desoito. = O Administrador M. G. Monteiro –
alferes. = Aos onze dias do mez de Outubro de mil novecentos e
dezoito, digo, - Auto de apresentação abertura e publicação do testamento cer/rado de D. Mary Chadivick Robinson da Silveira, casada,
maior, proprietaria falecida às vinte e duas horas e quarenta minutos
de dez de Outubro de mil novecentos e dezoito na sua propria morada
sita na Bôa Vista, freguezia da Sé, desta cidade e concelho de Portalegre. _ Aos onze dias do mez de Outubro de mil novecentos e dezoito
nesta cidade de Portalegre e casas de morada do Excelentissimo
Senhor Pedro de Castro da Silveira, sitas na Bôa Vista, freguezia da
Sé desta cidade e concelho de Portalegre, onde estava presente o
Excelentissimo Senhor Manoel Gonçalves Monteiro, Administrador
deste concelho, comigo Luiz de Souza Gomes, secretario do seu cargo,
para este efeito previamente chamados e sendo treze horas pelo
Excelentissimo Senhor Pedro de Castro da Silveira, casado, proprietario, residente nesta cidade foi apresentado um testamento cerrado,
cosido e lacrado e declarando que tendo falecido sua esposa Dona
Mary Chadivick Robinson da Silveira, pelas vinte e / duas horas e
quarenta minutos do dia dez de Outubro do corrente ano o vinha
apresentar afim de sêr aberto, lido e publicado nos termos e para os
efeitos do artigo mil novecentos e trinta e tres do codigo Civil Portuguez, declaração esta que foi feita na presença das testemunhas para
este efeito chamadas Excelentissimos Senhores José Augusto dos
Santos e Silva, casado, ministro Evangelico < residente > na travessa
de Santo Antonio, vinte e um, Segundo, às Janelas Verdes – Lisbôa e
Antonio de Souza Ramos, casado, comerciante, residente na travessa
da Oliveira nº 19 r/c - direito - à Estrela em Lisbôa. = Em seguida o
Excelentissimo Senhor Administrador deste concelho recebendo das
mãos do apresentante o testamento, o examinou e fez ver e examinar
às pessoas presentes que se achava lacrado cosido, e fechado sem signal algum de ter sido aberto ou violado. = E logo em acto continuo o
Excelentissimo Senhor Administrador deste concelho / o abriu, leu e
publicou, verificando que se achava escripto sem razuras, borrões
emendas ou notas marginais ou qualquer outro vicio que possa prejudicar a sua validade. = Tinha é certo uma entrelinha que diz “-de-”
mas que se encontra ressalvada no respectivo acto de aprovação = E
para constar e devidos < efeitos > me foi ordenado pelo mesmo
magistrado administrador que lavrasse o presente auto de abertura,
leitura e publicação de testamento cerrado que eu Luiz de Souza
Gomes, secretario do seu cargo, escrevi, li em voz alta e depois de
todos dizerem estar conforme vai ser assignado pelo Excelentissimo
39
duly cancelled. To be recorded. = Portalegre eleventh of the tenth of
nineteen hundred and eighteen. The Administrator M. G. Monteiro –
sub-Lieutenant. On the eleventh day of the month of October, nineteen hundred and eighteen, I declare, - Document of presentation
opening and making public of the sealed will of Mrs. Mary Chadivick
[sic] Robinson da Silveira, married, of age, proprietor, deceased at
twenty two hours and forty minutes of the tenth of October of nineteen hundred and eighteen in her own home located at Boa Vista, parish of Sé, in this town and district of Portalegre. _ On the eleventh day
of the month of October nineteen hundred and eighteen in this town
of Portalegre and in the residence of Pedro de Castro da Silveira,
Esquire, located at Boa Vista, parish of Sé, in this town and district of
Portalegre, in the presence of Manoel Gonçalves Monteiro, Esquire,
Administrator of this district, accompanied by Luiz de Souza Gomes,
secretary, to this end previously summoned, at thirteen hours, by
Pedro de Castro da Silveira, married, proprietor, residing in this town,
a sealed, sewn will was presented, and declaring that, his wife, Mrs.
Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira had passed away at twenty /
two hours and forty minutes of the tenth day of October of this year,
he had come to present said will so that it could be opened, read out
and made public in accordance with the dispositions and to the effect
of article one thousand nine hundred and thirty three of the Portuguese Civil Code, which declaration was uttered in the presence of the
witnesses summoned to this end, called José Augusto dos Santos e
Silva, Esquire, married, Evangelical minister < residing > at twenty
one, second floor, Travessa de Santo Antonio, at Janelas Verdes – Lisbon and Antonio de Souza Ramos, married, tradesman, residing at
number 19 r/c-right, Travessa da Oliveira, at Estrela, Lisbon = Then,
his Excellency the Administrator of this district, upon receiving the
will from the presenter, examined it and had it examined by those
present, whereby it was witnessed as being sealed, sewn and closed,
showing no sign of having been opened or tampered with = And then,
without pausing, his Excellency the Administrator of this district /
opened, read out and made its contents public, noting that it was written without erasures, smudges, corrections or notes in the margins or
any other defect which might jeopardize its validity. = It did, however,
include an insertion consisting of “- of –“ but which is confirmed in the
document of approval concerned = And that it be known and for the
relevant < purposes >, I was commanded by said Administrative magistrate to draw up this Document of opening, reading out and making
public of the sealed will which I, Luiz de Souza Gomez, secretary, wrote
and read out and, after agreement by those present that it was in conformity, will be signed at the end by his Excellency the District Administrator, the presenter, witnesses and by myself. = This document will
Senhor Administrador deste concelho, apresentante, testemunhas e
por mim no final. = Vão sêr colados e inutilisados, digo, colados e
devidamente inutilisados sêlos fiscais na importancia de um escudo
e cincoenta centavos de taxa fixa e dito de um centavo e meio pelo
respectivo recibo dos emolumentos = E eu Luiz de Souza Gomes
secretario que o escrevi, subscrevi, autentico e assino / O administrador do concelho = Manoel Gonçalves Monteiro, alferes do S. A. M.
Esta assinatura inutilisa tres estampilhas fiscaes do valor de cincoenta centavos cada uma. = O apresentante = Pedro de Castro da Silveira = As testemunhas = José Augusto dos Santos e Silva = Antonio
de Souza Ramos = O Secretario. = Luiz de Souza Gomes. = Conta:
Auto - $50 = Exmo. Administrador = 1$20 = Secretario = $50 = Sêlos
do auto – 1$50 = Sêlo do livro - $15 = Soma 3$95 = Soma três escudos e noventa e cinco centavos = Industrial paga por guia relativa ao
mês corrente e calculada pelo factor 0,21 = O secretario – Luiz de
Souza Gomes – esta assinatura inutilisa devidamente duas estampilhas fiscais do valor total de um e meio centavo = E nada mais se contem em o referido testamento cerrado e termo de abertura do que o
que fica transcripto à vista dos próprios a que me reporto. Não teve
cousa que duvida faça não validar validar [sic] as emendas a folhas
oito verso e linhas vinte e uma que diz: a Cosmelio, a folhas nove
verso e linhas seis que diz: [...], na folha / nove verso e linhas vinte e
um que diz: “Diogo”; a folhas seis e linhas dezassete que diz: “Cornelio”; a folhas seis verso e linhas um que diz: “Cornelio”; e as entrelinhas a folhas nove verso e linhas e linhas (sic) doze que diz: “Amaro”;
a folhas 11 verso e linhas onze que diz: “residente”; a folhas doze e
linhas oito que diz “efeitos”. Vae por mim conferido com o Exmo.
[Sr.] Manuel Gonçalves Monteiro, administrador deste concelho.
Conta: registo 1$80. Selo do livro: $90. Somma 2$70. Somma dois
escudos e setenta centavos Industrial calculado pelo factor 0,21 e
pago por guia relativa ao mez corrente. Secretaria da Administração
do Concelho de Portalegre 25 de Outubro de 1918. Conferimos: O
Administrador do Concelho
a)
Manoel Gonçalves Monteiro
have affixed to it and cancelled, correction, duly cancelled, fiscal
stamps to the amount of one escudo and fifty centavos in fixed duty and
same in the amount of one centavo fifty due in fees. = And I, Luiz de
Sousa Gomez, secretary, who wrote, signed it, hereby authenticate
and sign it The / District Administrator = Manoel Gonçalves Monteiro, sub-Lieutenant in S.A.M. This signature cancels three fiscal
stamps to the mount of fifty centavos each. = The presenter = Pedro de
Castro da Silveira = The witnesses = José Augusto dos Santos e Silva =
Antonio de Souza Ramos = The Secretary. = Luiz de Souza Gomez. =
Bill: Document - $50 = his Excellency the Administrator = 1$20 = the
Secretary = $50 =Stamps used on the Document – 1$50 = Ledger
stamp - $15 = Total 3$95 = Total three escudos and ninety five centavos
= Industrial tax paid as per document relating to the current month
and calculated on the basis of 0.12 = The Secretary – Luiz de Souza
Gomez – this signature duly cancels two fiscal stamps totalling one
and a half centavos. And there is nothing further in said sealed will and
act of opening it than that which has been transcribed in the presence
of the witnesses whom I mention. There was nothing to cast doubt on
the validity validity [sic] of the corrections on the reverse of page
eight, line twenty one which states: to Cosmelio, on the reverse of page
nine, line six which states: [...], on the reverse of page / nine, line
twenty one which states: “Diogo”; on page six, line seventeen, which
states: “Cornelio”; on the reverse of page six, line one which states:
“Cornelio”; and between the lines of the reverse of page nine, line and
line [sic] twelve which states: “Amaro”; the reverse of page eleven, line
eleven which states “residing”; on page twelve, line eight which states:
“purposes”. This document has been examined by me together with
Manuel Gonçalves Monteiro, Esquire, administrator of this district.
Bill: registering 1$80. Ledger stamp: $90 Total 2$70. Total: two escudos and seventy centavos Industrial duty calculated on the basis of
0.21 and paid by receipt relating to the current month. Portalegre
Administrative Secretariat 25 October 1918. Checked: The District
Administrator
signed by: Manoel Gonçalves Monteiro
The Secretary: signed by: Luiz de Souza Gomes
O Secretario: a) Luiz de Souza Gomes”
[stamp to the amount of one escudo and fifty centavos; stamp to
[selo no valor um de escudo e cinquenta centavos; selo no valor
de um centavo e meio] ²³
the amount of one and a half centavos]²³
40
notas
notes
¹
1
²
³
4
5
6
7
8
9
¹0
¹¹
¹²
¹³
¹4
¹5
¹6
¹7
¹8
¹9
²0
²¹
²²
²³
²4
²5
41
Este trabalho resulta da recolha documental preliminar realizada no decurso do
ano de 2006.
Cfr. Maria José Azevedo Santos, “A evolução da língua e da escrita”, in Nova
História de Portugal, dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, volume III,
Portugal em definição de fronteiras (1096-1325): do Condado Portucalense à crise
do século XIV, coord. Maria Helena da Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho
Homem, Lisboa, Presença, 1996, pp. 604-634.
Veja-se Portaria de 11 de Março de 1811.
Cfr. Tavares de Carvalho, Actos dos Notários, Lisboa, Antiga Casa Bertrand
– José Bastos, 1897.
Esta extinção coincidiu com a introdução do novo Código Civil, publicado no
mesmo ano.
Arquivo Distrital de Portalegre, Cartórios Notariais de Portalegre, 2.º Ofício, cx.
20, lv. 6, fl. 39v.-40.
Veja-se Apêndice 1 – Testamento de George William Robinson, p. 8.
Veja-se Apêndice 2 – Testamento de Sarah Ann Robinson, p. 10.
Veja-se Apêndice 3 – Testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira, p. 12.
As referidas escrituras de doação de bens não serão neste texto analisadas,
reservando-se o seu estudo para uma posterior abordagem à evolução da
estrutura patrimonial da família Robinson durante a sua permanência em
Portalegre.
Veja-se Apêndice 1 – Testamento de George William Robinson, p. 8.
Idem.
Idem.
Sobre os modelos de estruturação familiar, veja-se Margarida Durães, Herança e
Sucessão [Texto policopiado]. Leis, Práticas e Costumes no Termo de Braga (Séculos
XVIII-XIX), 3 volumes, Braga, Universidade do Minho – Instituto de Ciências
Sociais, 2000.
Veja-se Apêndice 1 – Testamento de George William Robinson, p. 8.
Veja-se Apêndice 1 – Testamento de George William Robinson, p. 8.
Cfr. Margarida Durães, op. cit., volume II, pp. 315-402.
O testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira foi aprovado nesta data,
no escritório do tabelião Jorge Filipe Cosmelis, em Lisboa. Tanto o testamento,
como o auto de aprovação, encontram-se reproduzidos no auto de apresentação
e abertura do mesmo, realizado na casa de residência do casal, em Portalegre, a
11 de Outubro de 1918, dia seguinte ao falecimento da testadora.
Veja-se Apêndice 3 – Testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira, p. 12.
Idem.
Idem.
Cf. Inocência de Sousa Duarte, Tratado prático dos testamentos. Directório dos
testadores e dos testamenteiros, conforme a legislação em vigor, Lisboa, Livraria
Portuguesa e Francesa, 1880, p. 42.
Arquivo Distrital de Portalegre, Cartórios Notariais de Portalegre, 4.º Ofício, cx.
156, lv. 40, fl. 20v.-21.
Arquivo Distrital de Portalegre, Cartórios Notariais de Portalegre, 4.º Ofício, cx.
156, lv. 40, fl. 21-22.
Arquivo Distrital de Portalegre, Fundo da Administração do Concelho de
Portalegre, Registo de Testamentos, Livro 92, fl. 7-13.
The work presented in this article issues from preliminary document recovery carried out during 2006.
2
Cf. Maria José Azevedo Santos, “A evolução da lingua e da escrita” [The Evolution of the Language and of Writing] in Nova história de Portugal, Joel Serrão and
A.H. de Oliveira Marques, eds., volume III, Portugal em definição de fronteiras (10961325): do Condado Portucalense à crise do século XIV, Maria Helena da Cruz Coelho and
Armando Luis de Carvalho Homem, eds., Lisbon, Presença, 1996, pg. 604/634.
3
See Decree of 11 March 1811.
4
Cf. Tavares de Carvalho, Actos dos Notários [Notary Public Documents], Lisbon,
Antiga Casa Bertrand – José Bastos, 1897
5
This dissolution coincided with the adoption of the new Civil Code, published in
that same year.
6
Portalegre District Archive, Cartórios Notariais de Portalegre [Portalegre Notary Public Registries] 2nd Ofício, box 20, ledger 6, pg 39-reverse/40.
7
See Appendix 1 – will of George William Robinson, pg [?].
8
See Appendix 2 – will of Sarah Ann Robinson, pg [?].
9
See Appendix 3 – will of Mary Chadwick Robinson da Silveira, page [?].
10
The endowment deeds concerned are not further considered in this article. They
will be analysed in a forthcoming article addressing the evolution of the Robinson
Family’s patrimonial structure during their term of residence in Portalegre.
11
See Appendix 1 – will of George William Robinson, pg [?]
12
Ibid.
13
Ibid.
14
On the models of family structuring, see Margarida Durães, Herança e sucessão
[Inheritance and Succession] [photocopied text. Leis, práticas e costumes no termo de
Braga (séculos XVIII e XIX), 3 volumes, Braga, Minho University – Institute for Social
Sciences, 2000
15
See Appendix 1 – will of George William Robinson, pg [?].
16
Ibid.
17
Cf. Margarida Durães, op. cit., volume III, pg 315/402.
18
The will of Many Chadwick Robinson da Silveira was approved on this date, in the
offices of the tabellion Jorge Filipe Cosmelis, Lisbon. Both the will and the document of approval are reproduced in the document of presentation and opening of
same, which took place at the couple’s home in Portalegre, on 11 October 1918, the
day after the testatrix’s death.
19
See Appendix 3 – will of Mary Chadwick Robinson da Silveira, pg [?].
20
Ibid.
21
Ibid.
22
Cf. Inocência de Sousa Duarte, Tratado prático dos testamentos. Directório dos testadores e dos testamenteiros, conforme a legislação em vigor [Practical Treatise of Last Wills
and Testaments. Directory of Testators and Executors, According to Currently
Applicable Legislation], Lisbon, Livraria portuguesa e francesa, 1880, pg. 42.
23
Portalegre District Archive, Portalegre Notary Public Registries, 4th ofício, box 156,
24
Portalegre District Archive, Portalegre Notary Public Registries, 4th ofício, box 156,
25
Portalegre District Archive, Centre for the Administration of the District of Por-
ledger 40, pg 20-reverse/21.
ledger 40, pg 21/22.
talegre, Registry of Wills, ledger 92, pg 7/13.
Estatutos, actividades e factos relevantes da constituição
e funcionamento da Fundação Robinson
Statutes, activities and facts relevant to the setting up and running of the Robinson Foundation
Alexandra Carrilho
ADMINISTRADORA DELEGADA, FUNDAÇÃO ROBINSON
DELEGATED ADMINISTRATOR, ROBINSON FOUNDATION
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 42-55, ISSN 1646-7116
Interrogado sobre a diferença existente entre os homens
cultos e os incultos, disse: “A mesma diferença que existe
entre os vivos e os mortos.”
Asked about the difference between the learned and
Aristóteles, citado em Diógenes Laércio, Vidas dos Filósofos
Lives of the Philosophers
Foi-me possível, por via das funções que, na altura, desempenhava, acompanhar o reconhecimento da Fundação Robinson.
Desde logo, pelos objectivos e documentação anexa, julguei
ser um projecto merecedor de apoio e carinho, por ser inovador e se localizar numa área de Portugal que merece ser conhecida e possuir pontos de interesse cultural e turístico que a tornem mais rica, possibilitando o desenvolvimento da região e
do seu povo, através da cultura.
É sempre muito gratificante verificar que a sociedade civil
tem primazia sobre o Estado em projectos culturais. Os protagonistas da cultura são a população, os artistas e criadores, as
associações de cidadãos que não tenham por objectivo o lucro,
tendo as iniciativas culturais estado tradicionalmente, a cargo
de instituições privadas.
Recentemente, em meu entender, como autarca que também sou, responsável do pelouro da Cultura, o Estado, em que
têm um papel principal as Autarquias, chamou a si, alguns
aspectos da política cultural, não para a determinar, dirigir ou
controlar, mas para que possa influenciá-la, satisfazendo as
necessidades da população para que esta entenda que, tal como
o aumento do nível económico, material e educativo, deverá
haver um melhoramento do nível cultural, para que a cultura
deixe de ser um privilégio de alguns, mas antes um direito e
uma necessidade de todos.
Na Fundação Robinson, em que tive a possibilidade de cooperar para levar a bom termo o seu reconhecimento, existe a
colaboração de entidades privadas e públicas que tiveram a
43
the ignorant, Aristotle said: “the same as between the
living and the dead.” quoted in Diogenes Laertius,
By virtue of the work I was then doing, I was able to follow the recognition of the Robinson Foundation. From the
very beginning, given its goals and attached documentation,
I believed it to be a project warranting support and cherishing, since it was innovative and sited in an area of Portugal
where cultural and tourist landmarks are to be found. These
make the area richer, enabling, through cultural activities,
the development of the region and its people.
It is always very gratifying to see that civil society has
primacy over the State in cultural projects. The main players of culture are the population, the artists and creators,
non-profit citizens’ associations, cultural initiatives having
traditionally been the preserve of private institutions.
Recently, as I see it, also working as I do in local government – with responsibility for cultural affairs – the State
– in which local government plays a major role – has undertaken to carry out a number of cultural policy initiatives,
not to determine, conduct or control, but so that it can
exert its influence, meeting the needs of the population.
It has done so to ensure the latter understands that, just
as there has been progress in economic, material and educational terms, there must be an improvement at cultural
level, for culture to cease being the privilege of the few and
start, rather, to be a right and need of the many.
In the Robinson Foundation – where I was able to
cooperate in its successful recognition – we find private
and public entities working together. These enjoyed the
liberdade e a criatividade para apresentar um projecto de
âmbito cultural de grande interesse, preservando uma área
industrial local, que, sem a existência do projecto desapareceria, e despoletar as sinergias necessárias para que a autarquia
a apoiasse, dando relevância ao sector.
Desejo e espero que a equipa que se dispõe a construir os
projectos da Fundação nunca perca a esperança e a coragem
para levar adiante um projecto lindo, que nos faz crer que “o
sonho comanda a vida”.
freedom and creativity to present a cultural project of great
interest, conserving a local industrial site – which, were it
not for this project, would have vanished – and triggering
the synergies necessary for Town Hall support, thus lending relevance to the sector.
I hope that the team which is setting out to build the
Foundation’s projects will never lose hope or the courage to
move forward with this wonderful project, which makes us
believe that “dreams rule our lives”.
Natália Cunha
Natália Cunha
Dirigente da Secretaria Geral do MAI
Forewoman of the Ministry for Internal Affairs Secretary
Y
Y
Esta história começa com a tomada de consciência da Corticeira Robinson do potencial patrimonial de memória histórica local, propriedade da Fábrica ou ali depositado. Foi assim
que a empresa avançou com a ideia de criação de uma Fundação, capaz de ser uma fiel guardiã de memórias e de uma história que é comum a toda a cidade.
A esta proposta acedeu de bom grado a Câmara Municipal
de Portalegre, por alcançar a magnitude de um projecto desta
natureza no Concelho, entendendo esta iniciativa como uma
forma de cooperação, envolvimento e motivação das pessoas
que, de alguma forma, estiveram ligadas à Fábrica, garantido
a preservação da memória local e salvaguardando a continuidade da empresa.
A Fundação, enquanto organização destinada a prosseguir um fim duradouro ao qual esteja afecto um património,
pretende complementar e/ou cooperar com as entidades
públicas na realização efectiva das tarefas de interesse geral
que se impõem nas diferentes áreas da sociedade civil, como
This story begins with the Robinson Cork Factory’s full
realization of the potential heritage factor of local historical memory, whether owned by the Factory or in its safekeeping. Thus it was that the Company moved forward
with the idea of creating a Foundation capable of being a
custodian of memories and of a history which are held in
common by the entire town.
This proposal was willingly greeted by the Town Council of Portalegre, since it represented a project of this magnitude in the District. The project was appreciated as a
form of cooperation and engaging with and motivating
people who in some way had links to the Factory, ensuring
that the local collective memory would be preserved and
safeguarding the continuity of the Company.
As an organization designed to endure and which will
hold cultural heritage items, the Foundation has set itself
the task of complementing and/or cooperating with public
bodies in effectively carrying out tasks which are of general
44
a educação, a cultura humanista, as belas artes, a pesquisa
científica e tantas outras. Daí advém a importância social de
instituições desta natureza.
O momento de dificuldade atravessado pela Corticeira, à
semelhança de outros sectores industriais portugueses,
motivou uma situação de afirmação económica por parte da
Câmara Municipal de Portalegre que foi aceite pela administração da Fábrica como uma oportunidade para a preservação do seu espólio e da memória do seu nome.
A deslocação da Fábrica Robinson para a zona industrial
de Portalegre, inserida numa política de transferência de
indústrias e oficinas localizadas no centro da cidade para
este Parque Industrial agora requalificado, deixa disponível
enorme área de terreno situada numa importante zona de
desenvolvimento da cidade. Trata-se de um significativo
espaço construído, composto maioritariamente por hangares, armazéns e oficinas, para além do edifício principal que
define a grande frente do Largo Jardim do Operário.
O nascimento da Fundação surge, assim, inserido numa
complexa iniciativa para travar a dispersão da periferia da
cidade, através de um programa de reabilitação das instalações da Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A.
Para além de recuperar a sua ligação histórica à cidade, a
Câmara Municipal de Portalegre, juntamente com os parceiros constituintes da Fundação Robinson, sugere redefinir as
funções dos diversos edifícios que constituíam as instalações
da antiga Fábrica, aproveitando assim esta grande superfície
de construção existente para receber os equipamentos culturais de que a cidade necessita.
A Robinson foi testemunho e, ao mesmo tempo, motor do
desenvolvimento industrial, social e corporativo que teve lugar
em Portalegre desde meados de Oitocentos. Apesar da actual
aparência obsoleta da sua área, ocupada quase aleatoriamente
45
interest and which are necessary in the different areas of
civil society, such as education, humanist culture, the fine
arts, scientific research and so many others. This is what
renders such institutions so important at a social level.
The difficult times visited upon the Cork Factory, similar to those which affected other Portuguese industrial sectors, gave rise to a desire for affirmative economic action
on the part of the Town Council of Portalegre, which was
accepted by the Factory’s management as an opportunity
to preserve its equipment and the memory of its name.
Re-locating the Robinson Factory to the industrial
Estate of Portalegre, a strategy inset within a policy of
transferring industries and workshops hitherto sited in
the town centre to this now upgraded area, leaves behind
a vast area of land lying in a part of town under major
development. The land on which stood the old Cork Factory consists of a significant built-up space, in the main
housing hangars, warehouses and work-shops, besides
the main building which takes up the entirety of the
façade giving onto the Largo Jardim do Operário.
The birth of the Foundation thus heralds a complex
initiative to curb the urban sprawl of the town’s outskirts.
It does so by means of a programme to rehabilitate the
premises of Robinson Bros. Cork Factory.
In addition to reclaiming its historical links with the
town, the Town Hall of Portalegre, working in unison with
the Robinson Foundation’s constituting partners, advocates redefining the purposes of the different buildings of
the old Factory, thus putting this large building to use for
housing the cultural equipment which the town needs.
Robinson’s was a witness to and at the same time the
driving force behind the industrial, social and corporative
development which Portalegre experienced from the mid-
46
por toda a espécie de armazéns e edifícios fabris, que é resultante simultaneamente de uma invasão e de uma articulação
com esse mesmo espaço, a sua presença está bem marcada no
desenho da cidade e na memória da comunidade local.
Este aspecto é curioso, já que interessa realçar não só a
parte estática, mas também o contexto histórico. Neste sentido, entende-se que a Fábrica Robinson ocupa não só um
lugar histórico ou de natureza potencialmente cultural, mas
também político-industrial e sociologicamente reconhecido,
que no futuro poderá ser uma âncora no desenho urbano de
Portalegre.
É assim que começa o curriculum da jovem Fundação
Robinson, com a sua instituição, por escritura pública celebrada a 12 de Agosto de 2003. Eram instituidores a Sociedade Corticeira Robinson, S.A., a Região de Turismo de S.
Mamede, o Instituto Politécnico de Portalegre e a Câmara
Municipal de Portalegre.
Mais tarde, a 16 Outubro 2003, é feita a entrega de documentação no Governo Civil de Portalegre, para solicitação do
seu reconhecimento a Sua Excelência, o Ministro da Administração Interna.
Numa 1.ª instância, e para prossecução da análise das
diferentes etapas que levam ao reconhecimento de uma fundação, o Ministério da Administração Interna aconselhou
algumas rectificações aos estatutos, nomeadamente no que
diz respeito à falta de norma habilitante de dois instituidores
da Fundação Robinson, o Instituto Politécnico de Portalegre
(IPP) e a Região de Turismo do Norte Alentejano (RTNA),
bem como o montante da dotação patrimonial da mesma.
Estas rectificações foram objecto de deliberação do Executivo
Municipal, a 30 de Março de 2004, e de Assembleia Municipal, em 06 de Abril de 2004, tendo-se realizado a escritura de
rectificação dos estatutos no dia 3 de Junho de 2004.
47
1800s. Despite the current, apparent obsolescence of its
premises, occupied almost at random by all sorts of warehouses and factory buildings – resulting simultaneously
from an encroachment and an articulation with that same
space – its presences makes itself forcefully felt in the contours of the town and in the local community’s memory.
This is particularly intriguing, since it is interesting to
highlight not just the stationary part but also the historical context. To this effect, it is felt that the Robinson Factory occupies not just a historical or a potentially cultural
site, but also a space of acknowledged political-industrial
and sociological importance, which in times to come may
become a mainstay in the urban design of Portalegre.
Thus begins the curriculum of the youthful Robinson
Foundation, which was set up by public deed on 12 August
2003. Its institutors were the Robinson Cork Factory Company, S.A., the Sao Mamede Tourism Board, the Portalegre
Polytechnic Institute and the Portalegre Town Hall.
Later, on 16 October 2003, the relevant documentation
was submitted to the Portalegre Civil Government, with a
view to its recognition by the Ministry for Internal Affairs.
The first step, and with a view to following the different stages which must be taken towards recognition of a
Foundation, the Ministry for Internal Affairs requested a
number of corrections to the statutes, namely with regard
to the absence of qualification norms on the part of two
of the founder-members of the Robinson Foundation,
the Portalegre Polytechnic Institute (IPP) and the North
Alentejan Tourism Board (RTNA), as also the amount of
patrimonial provision for same. The Municipal Executive
deliberated on these corrections on 30 March 2004, and
the Municipal Assembling conducted its own deliberations
on 6 April 2004. The deed covering the correction of the
Para o reconhecimento o Ministério da Administração
Interna determinou novas alterações (Informação n.º 651/
2004-DSPE de 30.08) aos últimos estatutos. Esta informação
incidiu sobre três grandes não conformidades com o regime
jurídico:
statutes took place on 3 June 2004.
For the purpose of recognition, the Ministry for Internal Affairs stipulated new alterations (Information no. 651/
2004-DSPE from 30.08 to the latest draft of the statutes.
This Information focused on three major points where the
wording was not in accordance with legal provisions:
1. Quanto ao património da Fundação
a. (…) uma vez instituída a Fundação, o instituidor deve
abster-se de governar a mesma. Na verdade, e citando o Prof.
Marcello Caetano, “o instituidor nem sempre compreende
que, reconhecida a fundação, passou a ser um estranho para
ela, e que a sua vontade esgotou o vigor criador e vinculativo
no acto da criação. Doravante, se algumas relações o instituidor tiver com a fundação, terão de ser sempre subordinadas
aos fins desta e respeitando os seus estatutos”.
b. (…) Continua a Procuradoria-Geral da República: “Cri-ando, todavia, a fundação, o fundador fica fora dela. A sua
vontade governa a fundação, mas governa-a de fora, mais
como ‘legislação’ que de dentro, como ‘orgão”.
1. The Foundation’s patrimony
a) (...) once the Foundation is instituted, the institutor
must refrain from governing same. In reality, and quoting
Prof. Marcello Caetano, “institutors do not always realize
that, a Foundation having been recognized, they become
strangers in regard to it, and that their will has used up
all their creative and linkage vigour in the act of creation.
Henceforward, if institutors are to have any relationship
with the foundation, this must always be restricted to the
foundation’s objectives and institutors must always respect
its statutes”.
b) (...) The Attorney-General’s Office
“Having created the foundation, the founder neverthe-
2. Quanto à estrutura orgânica
a. Designar o Conselho Executivo por Conselho de Administração indo ao encontro da terminologia utilizada pela
lei.
b. Ainda quanto à orgânica da Fundação, verificamos que
o Presidente da Câmara Municipal de Portalegre, em representação desta, que é um dos dois Instituidores da Fundação,
acumula os cargos de Presidente do Conselho de Fundadores, Presidente do Conselho de Curadores e Presidente do
Conselho Executivo.
c. Não nos parece ser a solução mais aconselhável, uma
vez que, a manter-se, poderia comprometer o funcionamento
da Fundação. (…)
less stands outside it. The founder governs the foundation
but does so from without, more as a ‘legislator’ than from
within as an ‘active element’”.
2. The organic structure
a) Appointment of the Executive Council as Administrative Council as per the terminology determined by the law.
b) Still with regard to the organic functioning of the
Foundation, we find that the Chair of the Portalegre Town
Hall, representing the latter, and being one of the institutors of the Foundation, cumulates the positions of Chair of
the Council of Founders, Chair of the Council of Curators
and Chair of the Executive Council.
48
3. Quanto à composição dos órgãos da fundação
e respectivas competências
a. Desaparecimento do Conselho de Fundadores, pois não
faz qualquer sentido que outras entidades que não as instituidoras possam fazer parte do Conselho de Fundadores. Por
outro lado, a existência de um Conselho de Fundadores com
apenas dois membros não parece admissível, podendo,
mesmo, no limite, estar em causa a possibilidade de deliberar, com as consequências que tal situação pode acarretar
para o funcionamento ou paralisação da Fundação.
b. Estando previsto igualmente um Conselho de Curadores, onde poderiam ter assento representantes dos dois instituidores, poder-se-ia reunir neste as competências daquele,
com as vantagens de uma estrutura orgânica menos pesada
e, certamente, mais eficaz.
c. Prosseguindo na análise das normas estatutárias, compete ao Conselho de Fundadores “deliberar sobre a transformação ou extinção da FUNDAÇÃO sendo que, qualquer uma
destas decisões terá que ser sempre o voto favorável da
Câmara Municipal de Portalegre, sem prejuízo da competência da autoridade administrativa, em termos legais”.
d. (…) Assim sendo, no sentido de obter a necessária
observância do que se encontra legalmente consagrado, ou
seja, tendo em atenção que só a autoridade administrativa
que reconhece a Fundação pode decidir sobre as alterações
estatutárias da Fundação, bem como sobre a transformação
ou extinção da mesma – o que pode existir por parte da Fundação é uma proposta nesse sentido (sempre fundada nas
situações tipificadas na lei), proposta essa que, por sua vez,
deverá provir do órgão de administração.
e. (…) Entendemos, estarmos novamente perante uma
situação que poderá comprometer a interdependência e o
bom funcionamento entre os órgãos fundacionais. Na ver49
c) This does not seem to us to be the most judicious
situation, since, should it persist, it might compromise the
running of the Foundation. (...)
3. The make-up of the Foundation’s bodies
and their respective areas of competence.
a) Removal of the Council of Founders, since it makes
little sense that bodies other than the institutors may be
part of the Council of Founders. On the other hand, the
existence of a Council of Founders consisting merely of two
members does not appear to be acceptable. Ultimately, this
may even jeopardize the possibility of deliberation, with
consequences for the running of the Foundation or its
break-down.
b) Since a Council of Curators will be put in place, with
positions possibly occupied by representatives of the two
institutors, the latter could be invested with the competencies of the former. This would deliver the advantages of a
less unwieldy organic structure and certainly of a more efficacious one.
c) Continuing the analysis of the statutory norms, it
is a function of the Council of Founders to “deliberate on
the transformation or extinction of the FOUNDATION. All
of these decisions will always have to have the affirmative
vote of the Portalegre Town Hall, nonetheless safeguarding the competencies of the administrative authority, as
laid down by law”.
d) (...) This being so, with a view to conforming to
what is enshrined in law, ie., bearing in mind that only the
administrative authority which recognizes the Foundation
may decide on statutory alterations to the Foundation, as
also the transforming or extinction of same – what the
Foundation may do is put forward a proposal to that effect
dade, tendo o Conselho de Curadores e o Conselho Executivo
competências distintas, particularmente as competências
deste último poderão ficar comprometidas se todos os seus
membros forem curadores.
f. Deve ressalvar-se que os membros do Conselho de Curadores que forem escolhidos para integrarem o Conselho Executivo deixam de ter assento no Conselho de Curadores,
devendo ser substituídos, sob pena de aquele órgão deixar de
ter expressão.
g. Quanto à reserva de competência judicial para a extinção de fundações, há que dizer que ela é apenas parcial. No
regime actualmente em vigor, a competência para a extinção
automática previstas no n.º 1 do art. 192.º, cabe inteiramente à entidade competente para o reconhecimento.
(always based on legal provisions). This proposal, in turn,
must be issued by the administrative body.
e) (...) It is our view that we are again faced with a situation which may compromise the inter-dependence and
good functioning of the founding bodies. In fact, the Council of Curators and Executive Council having different areas
of competence, those of the latter may be compromised if
all its members are Curators.
f) It should be emphasized that the members of the
Council of Curators who are chosen to sit on the Executive
Council cease to sit on the Council of Curators. They are to
be replaced, if this body is not to be rendered disabled.
g) As for the reservation of judicial competence for the
extinction of foundations, it must be said that it is only
partial. Under current legislation, the competence for auto-
Estas alterações obrigaram a nova deliberação do Executivo, a 21 de Outubro de 2004, e posteriormente, da Assembleia Municipal, na reunião de 02 de Novembro de 2004,
tendo sido realizada nova escritura de alteração dos estatutos a 29 de Dezembro de 2004.
Finalmente, em 11 de Janeiro de 2005 por Despacho do
Ministério da Administração Interna foi reconhecida a Fundação Robinson. Este reconhecimento foi publicado no Diário da República – II série, no dia 31 de Janeiro de 2005 (Portaria 166).
Ao realizar-se tal processo adquiriu-se localmente o conceito, e essa ideia transitou para as autoridades nacionais,
com a constatação da dimensão patrimonial e de reprodução
cultural futura de um espaço rico de dimensão históricosocial e passível de se tornar contemporâneo.
Daí a instituição da Fundação: uma realidade espacio-temporal do século XXI, que, de acordo com os seus Estatutos, tem por objectivo promover “acções de ordem cultural,
matic extinction, enshrined in nº 1 of Article 192, is entirely
dependent on the competent body for recognition.
These alterations made it necessary for the Executive
to deliberate anew, on 21 October 2004, and later it was
the turn of the Municipal Assembly, on 2 November 2004.
A new deed, altering the statutes, took place on 29 December 2004.
Finally, by official determination of the Ministry for
Internal Affairs, dated 11 January 2005, the Robinson
Foundation obtained legal recognition. This was published
in the [...] on 31 January 2005.
Upon completion of the process, the concept was conceived locally, and this idea carried over to the authorities
at national level, with the acknowledgement of the heritage dimension and that of the future cultural production of
a space rich in historical-social dimensions and capable of
becoming contemporary.
50
51
educativa, social e da ciência, podendo actuar também nas
áreas do desporto e da filantropia.
A Fundação tem como fim específico a preservação de
espólios:
a) arqueológico-industrial da Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A.;
b) de qualquer outro espólio cuja conservação lhe seja
confiada.”
Hence the institution of the Foundation: a time-space
reality for the twenty-first century, which, under its Statutes, has as its goal the promotion of “activities in the cultural, educational, social and scientific fields, able also to
act in the areas of sport and philanthropy.
The Foundation’s specific goal is to preserve collections, of which the following:
a) archeological-industrial equipment held by the
Robinson Bros. Cork Factory;
Em Novembro de 2006 foi pedida a admissão como membro efectivo do Centro Português de Fundações.
Mais do que preservar espólios, a Fundação Robinson
quer preservar património, tradições, histórias, vivências,
memórias e culturas… A apresentação de um projecto concebido e desenhado pelo Arquitecto Eduardo Souto Moura
sublinha todos os elementos e linhas orientadoras da Fundação Robinson: espelha uma reflexão profunda sobre o património, a sua preservação e a sua reintegração no tecido da
cidade numa lógica de preservação, valorização e inovação.
Esta recuperação intervém também ao nível da qualidade
do ambiente urbano, constituindo um factor-chave de atractividade do espaço e da própria cidade. Assim, o espaço
Robinson transcende os muros da Fábrica, apostando na
associação deste projecto à requalificação da cidade, através
da recuperação da sua identidade e preservação da memória.
Para tal, mune-se dos alicerces culturais, do respeito pelo
ambiente, da utilização das energias renováveis e do uso das
novas tecnologias, que coexistindo neste pequeno grande
espaço se complementam.
No fundo, é uma intervenção transversal que inevitavelmente se vai reflectir na atractibilidade da cidade. Atractibilidade essa que deve ser promovida através de uma política
cultural contínua e, essencialmente, baseada na oferta de
b) any other collection(s) which may be entrusted to it.”
In November 2006 a request was made for admission as
a working member of the Portuguese Foundations Centre.
More than holding collections, the Robinson Foundation wishes to preserve heritage, traditions, stories, experiences, memories and culture. A project conceived and
designed by the architect Eduardo Souto Moura emphasizes
all the elements and guiding lines of the Robinson Foundation: it mirrors a profound reflection on heritage, its conservation and its re-integration in the fabric of the town, following a logic of conservation, valorization and innovation.
This reclaiming also acts upon the quality of the urban
environment, making for a key factor towards rendering the space and the town appealing. Thus, the Robinson
Space surpasses the walls of the Factory, setting out to associate this project with the rehabilitation of the town. This is
achieved by means of the recovery of its identity and by preserving its memory. To this end, it has recourse to the cultural bedrock, to respect for the environment, to the use of
renewable energy and the use of new technologies, which in
this small, yet great space complement each other.
Essentially, this is a transversal operation which will
inevitably impact on the town’s appeal. This latter factor
52
equipamentos e na preservação do seu património cultural,
histórico e arquitectónico. Estes equipamentos, associados a
um programa específico de actividades culturais tornam as
cidades mais atractivas e dinâmicas para cidadãos, empresas,
trabalhadores e visitantes. Todas estas acções reforçam a
imagem da cidade, o orgulho e o sentimento de identidade
da população local.
Um dos objectivos primordiais da Fundação é, sem
dúvida, o da valorização cultural, que passa obrigatoriamente pelas potencialidades intrínsecas do sector na dinamização das actividades económicas, no que diz respeito
sobretudo à valorização dos recursos humanos e na criação
de emprego qualificado. Tendo em consideração estas finalidades, em breve será assinado um protocolo com a Câmara
Municipal de Portalegre, a Fundação Robinson vai congregar, centralizar, pensar e coordenar as actuações ao nível cultural. Vai ainda criar e implementar uma política cultural
coerente, integrada, que se reflicta no quotidiano, que
fomente a participação, que proporcione a formação de públicos e a qualificação de profissionais nas diferentes áreas:
música, teatro, dança, cinema, arte, arqueologia industrial,
restauro e conservação, história local, e tantas outras.
Em suma, o objectivo é também melhorar o capital
humano, dotar a cidade (e o concelho) de equipamentos, de
massa crítica, criar novos recursos, alternativas, gerar novas
formas de cultura…
Além do mais, a adopção de uma política cultural activa
constitui um precioso instrumento para a construção de pontes entre populações de diferentes origens, reforçando a integração no espaço da cidade.
Tal como há cerca de 150 anos os ingleses foram desenvolvendo a sua actividade, confundindo-a com a própria vida da
cidade aos níveis social, cultural e industrial, onde Portalegre
53
should be promoted through an unflagging cultural policy, grounded on the offer of equipment and the conservation of its cultural, historical and architectural heritage. Such
equipment, in association with a specific programme of cultural activities, render towns and cities more attractive and
dynamic for their citizens, businesses, workers, and visitors.
All these actions strenthen the image of the town and city,
the pride and feeling of identity of the local population.
One of the Foundation’s essential goals is, beyond doubt,
that of cultural valorization, which of necessity engages the
potential inherent in the sector in energizing economic
activities, above all with regard to the valorization of human
resources and the creation of jobs for a qualified work force.
With these objectives in mind, a protocol will soon
be signed with the Town Hall of Portalegre, and the Robinson Foundation will gather together, centralize, reflect
upon and coordinate activities of a cultural nature. It will
also create and implement a consistent, integrated cultural
policy, to impact on everyday life, to foment participation,
to offer the creation of publics and the qualifying of professionals in the following different areas: music, threatre,
dance, cinema, art, industrial archeology, restoration and
preservation, local history, and so many others.
In sum, the objective is also to better the human capital, to endow the town (and the District) with equipment
of a critical mass, to create new resources, alternatives, to
generate new forms of culture.
In addition, adopting an active cultural policy is an invaluable way to build bridges between populations of differing
provenances, reinforcing integration in the town space.
Just as about 150 years ago the British developed their
activity, meshing it with the life of the town itself at social,
cultural and industrial levels, when Portalegre was a town
era então uma cidade que crescia ao ritmo da sua influência,
também a intervenção qualificada da Fundação Robinson pretende transpor as estruturas da Fábrica, constituindo-se como
agente promotor e de encontro com a cidade.
Hoje, esta intervenção transcende já o espaço intramuros, porque se desenha como um espaço colectivo contemporâneo, articulado com as várias morfologias urbanas da
cidade que se quer sustentável, em termos culturais, económicos, geográficos, ecológicos, etc. Neste sentido, a parceria
com Cáceres, que começou no início deste projecto, permitiunos galgar fronteiras e ambicionar novas formas de articular
diferentes eixos de desenvolvimento. A título de exemplo,
refira-se a constituição de um Agrupamento Europeu Territorial que nos vai colocar numa posição mais consistente no
contexto europeu, permitindo-nos concretizar processos,
projectos e infra-estruturas nas áreas da cultura e do património, sempre na mira do tão desejado alargamento do
âmbito territorial.
Fazer Fundação é um trabalho de todos os dias, numa
actualização e intervenção permanente. No cerne deste
nosso trabalho, está uma oportunidade de se fazer cidade
sem ter de a expandir. É regenerar o tecido urbano numa
localização privilegiada da cidade, num espaço que será
sobretudo o palco de vivências e de demonstrações de cultura e de cidadania. Espaço Robinson que se quer integrador
de um novo conceito de centralidade, aberto, para utilizar,
fruir e viver.
growing at the rhythm of their influence, so too the qualified intervention of the Robinson Foundation has set itself
the task of going beyond the structures of the Factory, promoting and engaging the town itself.
Today, this engagement has already transcended the
space within the walls, since it offers itself as a contemporary collective space, articulated with the urban morphologies of the town, which, it is hoped, will be sustainable
in cultural, economic, geographical, ecological and other
terms. To this end, the partnership with Cáceres, begun
when this project first started out, has allowed us to bound
over frontiers and aspire to new forms of articulating different developmental axes. An example of this is the constitution of a European Territorial Group which will place
us in a more substantial position in the European context,
allowing us to bring to fruition processes, projects and
infra-structures in the areas of culture and heritage, always
targetting territorial expansion, which is much desired.
Making a Foundation is an every day task, requiring
permanent updating and action-taking. At the heart of this
work of ours there is a chance to make a town without having to grow outwards. It means regenerating the urban fabric in a privileged site of the town, in a space which will,
above all, become the stage for experiences and cultural and
citizenship manifestations. We wish the Robinson Space to
become an integrating factor in a new concept of centrality,
open to utilization, enjoyment and experience.
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55
Estatutos da Fundação Robinson
Robinson Foundation Statutes
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 56-67, ISSN 1646-7116
ESTATUTOS
STATUTES
CAPÍTULO I
Natureza, duração, sede e fins
CHAPTER 1
ARTIGO 1.º
Natureza
É instituída pela Câmara Municipal de Portalegre e pela
Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A., a Fundação Robinson, adiante designada abreviadamente por Fundação, pessoa
colectiva de direito privado, que se regerá pelos presentes estatutos e pela lei aplicável.
Nature, duration, head-quarters and objectives
Article 1
Nature and constitution
The Town Council of Portalegre and Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. hereby set up the Robinson Foundation, hereinafter designated as THE FOUNDATION, collective person in private law, which shall be governed by the Statutes herein established and by any legal provisions which may
apply.
ARTIGO 2.º
Fim e objectivo especifico
1 - A Fundação tem por fim a prossecução de acções de
ordem cultural, educativa, social e da ciência, podendo também actuar nas áreas do desporto e da filantropia.
2 - A Fundação tem como fim específico a preservação de
espólios:
a) do arqueológico-industrial da Sociedade Corticeira Robinson Bros S.A.;
b) de qualquer outro espólio cuja preservação lhe seja confiada.
Article 2
Specific objectives
1. The Foundation aims to carry out cultural, educational,
social, and scientific activities, and may also act within the field
of sports and philanthropy.
2. The Foundation has as its specific objective the preservation of estates:
a) of the archeological-industrial estate of Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A.;
b) of whatever other estates with which it may be
ARTIGO 3.º
Duração e sede
1 - A Fundação, que tem duração indeterminada, tem a sua
sede no Largo do Jardim Operário, 5, freguesia da Sé, concelho de Portalegre.
2 - Sempre que seja considerado necessário ou conveniente
para o cumprimento de seus fins, poderá a Fundação constituir delegações ou outras formas de representação.
3 - A acção da Fundação desenvolver-se-á em Portugal,
nomeadamente no Norte do Alentejo, mas também no estran-
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entrusted.
Article 3
Duration and head-quarters
1. The Foundation, to which no time limit is attached,
has as its head-quarters Largo do Jardim Operário, nº 5, Sé,
Portalegre.
2. The Foundation shall, as required or deemed suitable
for the furtherance of its objectives, set up subsidiaries or other
forms of representation.
geiro, nomeadamente na Estremadura espanhola, atenta não
só a sua proximidade geográfica mas também a sua importância produtiva, e na Inglaterra, país de origem do fundador da
empresa que dá o nome à Fundação.
3. The Foundation’s activities shall take place in Portugal,
most especially in Northern Alentejo, as also outside Portugal,
namely in the Spanish region of Extremadura. The latter activity
derives not only from its geographical proximity, but also from
the importance of its production. The Foundation shall also be
active in the United Kingdom, the place of birth of the founder of
CAPÍTULO II
Regime patrimonial e financeiro
the Company, and whose name the Foundation bears.
ARTIGO 4.º
Património
1 - A Câmara Municipal de Portalegre contribui com a
quantia de €10.000, bem como os projectos que decidir afectar casuisticamente ao desenvolvimento das actividades da
Fundação para prossecução dos respectivos fins. Contribui
ainda com o direito de superfície, pelo prazo de, pelo menos,
25 anos, sobre os bens imóveis propriedade do município de
Portalegre, identificados no Anexo n.º 1 destes estatutos, que
se avalia em €1.246.995.
2 - A Sociedade Corticeira Robinson Bros S.A., contribui
com a quantia de €40.000, com o conhecimento e trabalho dos
respectivos quadros, para prossecução dos fins previstos no
artigo precedente e integrará, no prazo de um ano, a contar
do reconhecimento, no respectivo património os bens identificados no Anexo II destes estatutos, bens de interesse arqueológico-industrial, que se revelam essenciais ao desempenho
e ao alcance dos objectivos da Fundação e que se avaliam em
€925.000.
3 - O património da Fundação poderá ser acrescido com
futuras contribuições por parte dos fundadores, as quais poderão ser constituídas por dinheiro, acções, obrigações, quotas
em sociedades ou por quaisquer outros títulos, direitos, bens
móveis ou imóveis, e poderá integrar quaisquer subsídios,
doações, heranças ou legados de pessoas singulares ou entida-
Chapter 2
Patrimonial and financial constitution
Article 4
Patrimony
1. The Town Council of Portalegre contributes the amount
of €10,000, as also the projects which it may decide to entrust,
on a case by case basis, to the Foundation’s activities in order
to further its stated objectives. For a minimum of 25 years, the
Council shall also contribute the right of use of the building
owned by the Municipality of Portalegre, identified in Annex I
of these Statutes, valued at €1,246,995.
2. Robinson Bros. S.A. contributes the amount of €40,000,
together with the knowledge and work of its Staff, in order
to further the objectives stated in the preceding article and,
within a year of recognition, shall include in the patrimony the
items identified in Annex II of these Statutes, items of archeological and industrial interest, which may be deemed essential to the furtherance of the Foundation, and which are valued at €925,000.
3. The Foundation’s patrimony may be augmented by further contributions made by its founding members. Such contributions may take the form of money, bonds, shares, or any
other assets and real estate, and may include any subsidies,
donations, inherited assets or legacies left by private individ-
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des públicas ou privadas, portuguesas ou estrangeiras, compatíveis com os fins da Fundação.
ARTIGO 5.º
Autonomia financeira
A Fundação goza de plena autonomia financeira.
CAPÍTULO III
Organização e funcionamento
which are compatible with the aims of the Foundation.
Article 5
Financial autonomy
The Foundation shall have full financial autonomy.
Chapter 3
Organization and running of the Foundation
SECÇÃO I
Disposição preliminar
Section I
ARTIGO 6.º
Órgãos da Fundação
São órgãos da Fundação:
a) o Conselho de Curadores;
b) o Conselho de Administração;
c) o Conselho Consultivo;
d) o Conselho Fiscal.
Article 6
SECÇÃO II
Conselho de Curadores
Section II
ARTIGO 7.º
Constituição e funcionamento
1 - O Conselho de Curadores é composto por 10 membros, tendo um Presidente, cinco Vice-Presidentes e quatro
Vogais.
2 - O Presidente do Conselho de Curadores é o Presidente da
Câmara Municipal de Portalegre ou pessoa por este indicada, que
pode delegar, delegação sempre reversível, total ou parcialmente,
em membro do Conselho de Curadores, os seus poderes.
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uals or public or private bodies, whether Portuguese or British,
Preliminary dispositions
Bodies constituting the Foundation
The Foundation’s bodies are:
a) the Council of Curators
b) the Administrative Council
c) the Consultatory Council
d) the Fiscal Council
The Council of Curators
Article 7
Constitution and running of activities
1. The Council of Curators comprises ten members, with
one Chair, five Vice-Chairs, and 4 other members.
2. The Chair of the Council of Curators shall be the Chair of
the Town Council of Portalegre or a person appointed by him/
her, who may delegate. The possibility of reversing such delegation of powers shall always be allowed, totally or in part, in favour
of a member of the Council of Curators or his/her powers.
60
3 - O Conselho de Curadores terá cinco Vice-Presidentes sendo um indicado pela Câmara Municipal de Portalegre,
outro pela Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A., o terceiro
Vice-Presidente é o Sr. Presidente da Assembleia Municipal
de Portalegre, o quarto e quinto Vice-Presidentes são indicados pelo Instituto Politécnico de Portalegre e pela Comissão
Regional de Turismo de S. Mamede, no caso de o quererem
fazer, sendo que não o fazendo são indicados um pela Câmara
Municipal de Portalegre e um pela Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A.
4 - A Câmara Municipal de Portalegre indicará dois Vogais e
a Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A., indicará os outros
dois.
5 - Em caso de vacatura dos Vogais, o membro ou membros do Conselho de Curadores serão escolhidos, preferencialmente, de entre os membros do Conselho Consultivo.
6 - O mandato dos membros do Conselho de Curadores é
de cinco anos e a exclusão de qualquer membro só pode realizar-se por decisão do próprio Conselho, tomada por escrutínio secreto, e por maioria de dois terços dos votos expressos,
com base em indignidade, falta grave ou manifesto desinteresse pelo exercício das funções.
7 - O Conselho de Curadores reúne, ordinariamente, em
cada semestre e, extraordinariamente, sempre que convocado
pelo Presidente.
8 - O Conselho de Curadores delibera por maioria simples,
tendo o Presidente voto de qualidade sobre as matérias da
sua competência desde que esteja presente a maioria dos seus
membros.
9 - As funções dos membros do Conselho de Curadores não
são remuneradas, tendo, contudo, os Curadores direito a subvenções de presença e ajudas de custo.
61
3. The Council of Curators shall have five Assistant Curators, one appointed by the City Council of Portalegre, another
by Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. The third shall
be the Chair of the Municipal Assembly of Portalegre, with
the fourth and fifith Assistant Curators being appointed by
the Polytechnic Institute of Portalegre and by the Regional
Tourist Board of S. Mamede, should they wish to do so.
Should this not be the case, the Town Council of Portalegre
and Sociedade Corticeira Robinson Bros. shall each appoint
one such person.
4. The Town Council of Portalegre shall appoint two voting
members and Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. shall
appoint the remaining two.
5. Should the post of voting member fall vacant, the member or members of the Council of Curators shall be chosen preferably from among the members of the Consultatory Council.
6. The mandate of the Council of Curators shall be of five
years, and the exclusion of any member shall only be decided
upon by the Council itself, by secret ballot, and by a majority vote of two thirds of votes cast. Exclusion will be based on
gross misconduct, a serious offense or clear lack of interest in
the execution of the member’s duties
7. The Council of Curators shall, under ordinary circumstances, meet once per semester, and, in case of need, whenever a meeting is called by the Chair.
8. The Council of Curators shall adopt decisions by a simple majority of votes, with the Chair having the casting vote on
matters whose competence pertains to him/her, provided the
majority of members is present.
9. The activities of the members of the Council of Curators
shall not be remunerated. The Curators shall, however, be entitled to a presence subsidy and to claim expenses incurred.
ARTIGO 8.º
Competência do Conselho de Curadores
1 - Ao Conselho de Curadores compete:
a) garantir a manutenção dos princípios inspiradores da
Fundação;
b) escolher os membros do Conselho Fiscal e os membros
do Conselho Consultivo;
c) fixar o valor das subvenções de presença e ajudas de custo
que haja, eventualmente, a pagar aos membros dos órgãos da
Fundação;
d) dar parecer sobre todos os assuntos que forem postos à
sua consideração.
e) dar parecer vinculativo às propostas do Conselho de
Administração sobre propostas de alteração dos estatutos ou
extinção da Fundação, sendo que qualquer uma destas decisões terá que ser sempre aprovada por maioria de três quartos dos votos expressos e ter sempre o voto favorável do Presidente do Conselho de Curadores;
f) definir a política geral de funcionamento e as orientações de investimento;
g) discutir e aprovar o orçamento, o balanço anual e as
contas de cada exercício e o plano de actividades para o ano
seguinte, tendo em conta o parecer do Conselho Fiscal e o
resultado da auditoria, quando a houver;
h) eleger os membros electivos, com as limitações deste
estatuto;
i) deliberar sobre a remuneração, ou não, dos membros do
Conselho de Administração;
j) deliberar propor junto dos organismos competentes a
extinção da Fundação ou alteração dos seus estatutos.
2 - As deliberações do Conselho de Curadores são tomadas por maioria simples dos votos expressos, tendo o Presidente, ou quem, nos termos estatutários, o substitua, voto de
qualidade.
Article 8
Area of competence of the Council of Curators
1. The Council of Curators shall:
a) guarantee to uphold the principles which underpin the
Foundation;
b) appoint the members of the Fiscal Council and those of
the Consultatory Council;
c) determine the amounts which may be payable, as presence subsidies and expenses incurred, to the members of the
Foundation’s bodies;
d) referee all matters put to their consideration;
e) provide the mandatory reports on submissions from the
Administrative Council as regards proposals to alter the Statutes or dissolve the Foundation. Any such decision shall always
depend on a majority of three- quarters of votes cast and shall
always depend on the vote in favour cast by the Chair of the
Council of Curators;
f) define general running policy and the making of
investments;
g) discuss and approve the budget, the annual balance and
the accounts for each undertaking and the projected activities
for the following year, taking into account the report of the Fiscal Council and auditing results, if the latter are applicable:
h) elect members, within the parameters of these
Statutes;
i) deliberate on whether or not to remunerate the members of the Administrative Council;
j) deliberate on whether to put forward to the competent
bodies the dissolution of the Foundation or alteration(s) to
these Statutes.
2. The deliberations of the Council of Curators are decided
by a simple majority of votes cast, with the Chair, or person
acting for him/her, under the terms of the Statutes, having the
casting vote.
62
SECÇÃO III
Conselho de Administração
3. The members of the Council of Curators may choose to
be represented by another person, provided they address their
request in writing to the Chair.
ARTIGO 9.º
Composição e competência
1 - O Conselho de Administração é composto por cinco
membros, não Curadores, sendo um o seu Presidente e quatro Vogais, sendo dois a indicar pela Câmara Municipal de Portalegre e dois pela a Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A.
2 - O Presidente do Conselho de Administração será sempre indicado pelo Presidente do Conselho de Curadores.
3 - O mandato do Conselho de Administração é coincidente
com o mandato do Conselho de Curadores.
4 - Ao Conselho de Administração compete, em geral, a
administração da Fundação e, em especial:
a) definir a organização interna da Fundação, aprovando
os regulamentos e criando as estruturas que entender necessárias, assim como preencher os respectivos cargos;
b) delegar por tempo determinado, em qualquer dos
seus membros, o exercício de alguma ou algumas das suas
atribuições;
c) elaborar o orçamento e os planos anuais de actividades,
bem como o relatório, balanço e contas de exercício;
d) adquirir, alienar ou onerar direitos reais ou obrigacionais, bem como bens móveis e ou imóveis;
e) aceitar quaisquer doações, heranças ou legados;
f) negociar ou contrair empréstimos no quadro de optimização de valorização do seu património e da concretização dos
seus fins;
g) contratar, despedir e dirigir o pessoal;
b) apresentar sugestões quanto ao melhor cumprimento
dos objectivos da Fundação.
2 - O Conselho Consultivo reunirá sempre que for convocado pelo seu Presidente.
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Section III
Administrative Council
Article 9
Constitution and area of competence
1. The Aministrative Council shall comprise five members,
who shall not be Curators. One shall be the Chair, the remaining four voting members being appointed by the Town Council of Portalegre (two) and two by Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A.
2. The Chair of the Administrative Council shall always be
appointed by the Chair of the Council of Curators.
3. The mandate of the Administrative Council shall coincide with that of the Council of Curators.
4. The Administrative Council shall, in general, be reponsible for administering the Foundation, with special emphasis on:
a) defining the internal organization of the Foundation,
approving the regulations and any new structures deemed
necessary. It shall also be responsible for filling the necessary
posts;
b) delegating to any of the members, for a limited period,
the execution of one or more of its functions;
c) budgetting for and planning the year’s activities, as well
as drawing up the report, balance and accounts for the financial year;
d) purchasing, selling or charging real or obligational
rights, as well as personal estates or real estate;
e) accepting all donations, inheritances, or legacies;
f) negotiating or taking out loans with a view to enhancing the valuation of the patrimony and to achieving its goals;
h) administrar o património da Fundação;
i) deliberar propor ao Conselho de Curadores a proposta
de extinção da Fundação ou proposta de alteração dos seus
estatutos.
S6 - A actividade do Conselho de Administração será auditada.
g) hiring, firing, and managing staff;
h) administering the patrimony of the Foundation;
i) deliberating on whether to propose to the Council of
Curators the dissolving of the Foundation of alteration(s) to
the Statutes.
5. The deliberations of the Administrative Council are
ARTIGO 10.º
Vinculação da Fundação
A Fundação obriga-se pela assinatura conjunta de dois
membro do Conselho de Administração, uma das quais é, obrigatoriamente, a do Presidente.
SECÇÃO IV
Conselho Consultivo
arrived at by a simple majority of votes cast. The Chair, or the
person representing him/her, under the terms of the Statutes,
shall have the casting vote.
6. The activity of the Administrative Council shall be subject to auditing.
Article 10
Obligating of the Foundation
The Foundation shall obligate itself by means of two joint
ARTIGO 11.º
Constituição e mandato
1 - O Conselho Consultivo é composto por um máximo de
25 pessoas, sendo 24 escolhidas pelo Conselho de Curadores e
a 25.ª, que é o seu Presidente, indicada pela Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A.
2 - O mandato dos membros do Conselho Consultivo é
coincidente com o do Conselho de Curadores.
signatures, those of two members of the Aministrative Council,
ARTIGO 12.º
Competência e funcionamento
1 - Ao Conselho Consultivo, órgão de apoio e consulta da
Fundação, compete:
a) emitir pareceres sobre actividades e projectos da Fundação que lhe sejam solicitados pelo Presidente do Conselho de
Curadores;
3 - Os membros do Conselho de Curadores poderão fazer-se representar por outro membro, mediante a comunicação
escrita dirigida ao Presidente.
25 persons, twenty-four of whom chosen by the Council of
one of which must of necessity be that of the Chair.
Section IV
Consultatory Council
Article 11
Constituion and mandate
1. The Consultatory Council comprises a maximum of
Curators. The twenty-fifth, who shall be the Chair, shall be
appointed by Sociedade Corticeira Robinson Bros. S.A.
2. The mandate of the members of the Consultatory Council shall coincide with that of the Council of Curators.
Article 12
Area of competence and running of activities
1. The Consultatory Council, the body to which the Foundation looks for support and consultation, shall:
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3 - A convocação do Conselho Consultivo cabe ao seu Presidente, por decisão deste, ou de dois terços dos seus membros,
ou a pedido do Presidente do Conselho de Curadores ou de
dois terços dos membros do Conselho de Curadores.
4 - O Conselho Consultivo delibera por maioria de votos,
tendo o Presidente voto de qualidade.
5 - As funções do Conselho Consultivo não são remuneradas, podendo, contudo, ser atribuídas, aos seus membros, subvenções de presença e ajudas de custo.
a) produce consultation papers on the Foundation’s activities
and projects, whenever requested to do so by the Council of
Curators;
b) put forward suggestions to further the achievement of
the Foundation’s objectives.
2. The Consultatory Council shall meet whenever
requested by its Chair.
3. Responsibility for the calling of meetings of the Consultatory Council falls to the Chair, based on his/her decision, or to
two-thirds of its members, or as the result of a request by the
SECÇÃO V
Conselho Fiscal
Council of Curators or of two-thirds of the Council of Curators.
4. The Consultatory Council’s deliberations shall depend on a
simple majority of votes, with the Chair having the casting vote.
ARTIGO 13.º
Conselho fiscal
1 - O Conselho Fiscal é composto por três membros, um
dos quais é obrigatoriamente revisor oficial de contas ou sociedade de revisores oficiais de contas, designados pelo Conselho
de Curadores.
2 - Compete ao Conselho Fiscal:
a) apreciar e dar parecer sobre o relatório de actividades,
balanço e contas do resultado do exercício do ano anterior;
b) apreciar anualmente o relatório do Conselho de
Administração;
c) deliberar auditar as contas da Fundação e a actividade
do Conselho de Administração e escolher a entidade que, com
sede em Portugal, o fará.
5. The activities of the Consultatory Council shall not be
remunerated. Presence subsidies and expenses incurred may,
however, be paid to its members.
Section V
Fiscal Council
Article 13
Fiscal Council
1. The Fiscal Council comprises three members, one of
whom must be a chartered accountant or accountancing firm,
designated by the Council of Curators.
2. The Fiscal Council shall:
a) consider and respond to the report of activities, balance
and accounts of the previous year;
b) consider, on an annual basis, the report of the Administrative Council;
8c) deliberate the auditing of the Foundation’s finances
and the activity of the Administrative Council, and choose the
entity who shall do so and which must be based in Portugal.
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ARTIGO 14.º
Mandato do Conselho Fiscal
O mandato dos membros do Conselho Fiscal é coincidente
com o mandato do Conselho de Curadores.
O Revisor Oficial de contas ou a Sociedade será remunerada nos termos da lei, tendo os outros membros do Conselho
Fiscal direito a uma subvenção de presença e ajudas de custo.
Article 14
The mandate of the Fiscal Council ??????????
The mandate of the member of the Fiscal Council shall
coincide with that of the Council of Curators.
The chartered accountant or the firm shall be remunerated
in accordance with the relevant legal dispositions. The remaining members of the Fiscal Council shall be entitled to presence
subsidies and re-imbursement of expenses incurred.
CAPÍTULO IV
Disposições finais e transitórias
Chapter IV
Final and transitory dispositions
ARTIGO 15.º
Extinção
1 - Em caso de extinção, o património da Fundação será
entregue:
a) à Sociedade Corticeira Robinson Bros, S. A., ou quem
legalmente a suceder os bens por esta entregues para integrar
o património da Fundação;
b) à Câmara de Portalegre para integrar o património do
Município de Portalegre todos os outros demais bens da Fundação, designadamente os por este entregues para integrar o
património da Fundação.
Article 15
1. In the event of the Foundation being dissolved, the patrimony of same shall revert to:
a) Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A., or whomsoever is the legal inheritor of said firm. The inheritor shall
receive the items handed over by Robinson Bros., S.A. to comprise the patrimony of the Foundation;
b) the Town Council of Portalegre with a view to include
in the patrimony of the Municipality of Portalegre all the other
assets of the Foundation, namely those rendered to form part
of the patrimony of the Foundation.
ARTIGO 16.º
Convocatórias
As reuniões dos diversos órgãos são convocadas por
escrito, podendo ser usada telecópia, correio electrónico, ou
outra forma de entrega da convocatória, e são convocadas com
cinco dias de calendário de antecedência, podendo, em caso de
urgência, devidamente justificada na convocatória, ser o prazo
reduzido para quarenta e oito horas.
Article 16
Calling meetings
The meetings of the different bodies shall be called in writing, faxes, e-mail, or any other method of delivery may be used.
Meetings will be called five calendar days before the event,
though, in case of urgent need, this deadline may be reduced
to forty-eight hours. The latter situation shall be duly justified
when communicating such an occasion.
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Espaço Robinson – do passado para o futuro
The Robinson Space – from Past to Future
Eduardo Souto Moura
Graça Correia
ARQUITECTOS
ARCHITECTS
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 68-81, ISSN 1646-7116
Conservar a memória histórica através do seu património construído é alimentar os sinais de identidade de uma
cidade que não quer ver anulado o seu papel no panorama
do país. Mediante a sua adaptação a novos usos, os edifícios
‘contentores’ do passado configuram novos cenários numa
cidade secular que se quer aberta ao futuro. Hoje em dia,
no entanto, a noção de património estendeu-se largamente
desde os achados pré-históricos até aos edifícios do séc. XX,
incluindo as ambiências de valor histórico e ambiental desde
a arquitectura vernácula até à arquitectura industrial, mais
ou menos erudita. Assim, torna-se necessário intervir nos
traçados legados pelo património industrial, como estruturas utilitárias deste século. Esta ideia está imersa num processo de renovação que segue a tendência de recuperação de
espaços industriais generalizada na Europa e Estados Unidos
nos últimos anos.
A reutilização de edifícios existentes começa, porventura, quando determinados artistas baseiam a concepção
da sua arte em princípios que insistem em desenhar não
só a arte, mas também os seus contentores - os edifícios
nos quais ela é experimentada. A importância deste envolvimento entre arte e o seu suporte está particularmente
explícita nos escritos e experiências de Donald Judd, que
sempre despendeu energia equivalente tanto na criação da
obra como na concepção do local onde esta vai ser colocada
e insistia especialmente na importância de reutilizar edifícios existentes.
Também Dan Flavin se interessa pela reutilização de
antigos edifícios, escolhidos criteriosamente para enquadrar a sua obra – surgem assim as “environment installations” nos anos sessenta. Judd escreveu ainda várias vezes
artigos contra a proliferação, nos anos 80 de numerosos
novos museus ‘sobredesenhados’ – pouco hospitaleiros e
69
Preserving historical memory through its buildings means nurturing the landmarks of identity of a
town which does not wish to see its role cancelled in the
larger context of the country. By adapting them to different uses, the buildings which hold the past throw open
new settings in a centuries-old town which wishes to be
open to the future. Nowadays, however, the notion of
heritage has been broadened, starting with early history
remains and including twentieth century buildings, also
covering the sites of historical and environmental value,
from more or less erudite vernacular through to industrial
architecture. It is, therefore, necessary to intervene in the
sites handed down by the industrial heritage, as utilitarian structures of the century. This concept is embedded in
a process of regeneration which follows the trend towards
recovering industrial sites, widespread in Europe and the
US over the past years.
However, converting existing buildings to serve other
purposes may very well begin when certain artists ground
their conception of art on principles which insist on designing not only art, but also that which holds it – the buildings
with which it engages. The importance of this involvement
between art and its material underpinning is made especially explicit in the writings and experiments of Donald
Judd, who always spent equal amounts of energy both in
creating his pieces and on the conception of the space these
would be placed in and was particularly insistent as to the
importance of re-using existing buildings.
Dan Flavin, too, is interested in re-utilizing old buildings, carefully chosen to serve as a backdrop for his work
-- this was the advent of environment installations in the
1960s. Judd also, and on several occasions, wrote articles
against the spread of numerous “over-designed” new muse-
70
insensíveis à arte que ali se iria expor; na sua filosofia, a
reutilização de edifícios utilitários preexistentes era pertinente, independentemente de terem sido concebidos como
museus ou não, no sentido, não só de aplicar da melhor
forma o investimento económico favorecendo a arte e não
a sua exposição, mas também por questões morais e ecológicas de renovação e reutilização dos espaços urbanos
obsoletos.
Relativamente à reabilitação de arquitectura industrial será o processo da obra de Bernd e Hilla Becher que,
apoiando-se antes de mais sobre um dado analítico potente
- o desaparecimento progressivo da paisagem e do património industrial, composto a maior parte das vezes por objectos arquitectónicos vernáculos – vai contribuir sobretudo
para sensibilizar e educar a forma de olhar dos seus contemporâneos. A sua obra, cujas investigações começaram verdadeiramente no início da década de sessenta, teve na Alemanha e em toda a Europa uma dupla influência positiva, tanto
no plano político, como no plano cultural.
A constatação que estas personagens registam põe em
evidência o destino muitas vezes efémero de uma arquitectura funcional, noutro tempo proclamada e tomada como
modelo por arquitectos modernistas como Le Corbusier e
Walter Gropius. Se esta arquitectura não estivesse nunca
destinada a transmitir ideias ou valores para a posteridade,
a sua única razão de ser consistiria unicamente na produção, na transformação ou no armazenamento de um produto
específico. No entanto, muito para além desta função, estes
edifícios, que parecem desafiar o tempo, alcançam às vezes
pela sua escala, a dimensão de autenticas catedrais e, exactamente porque não têm uma vocação narrativa, estão disponíveis para albergar novos programas.
71
ums in the 1980s. These he considered to be non-userfriendly and insensitive to the artwork which was to be
exhibited there. In his philosophy, the re-utilization of existing utilitarian buildings was pertinent regardless of whether
or not they had been built as museums. His philosophy
stems from the idea not only of how best to invest the monies set aside for the art object itself and not the way it is displayed, but is also grounded on moral and ecological principles, favouring the regeneration and re-utilization of obsolete urban sites.
As regards the regeneration of industrial architecture,
the work of Bernd and Hilla Becher, taking as its starting
point a potent analytical given – the gradual disappearance of industrial landscape and heritage, mostly comprising vernacular architectural objects – it is their work which
above all contributed towards sensitizing and educating
the eye of their contemporaries. The influence of their
work, essentially beginning at the start of the 1960s, was
felt in Germany in a positive and twofold way, both in the
political and the cultural arenas.
What these persons record highlights the all too often
ephemeral fate of functional architecture, in olden days
acclaimed and used as models by modernist architects such
as Le Corbusier and Walter Gropius. Had this architecture
never been designed to convey ideas or values to posterity,
its only raison d’être would have been confined to the production, the processing and the warehousing of a specific
product. However, well beyond this function, these buildings, which appear to defy time, sometimes, through their
sheer scale, attain the dimensions of veritable cathedrals
and, precisely because they lack a narrative vocation, are
available to house new programmes.
Plano de requalificação urbana
O Plano de Requalificação e de desenvolvimento refere-se a uma área de cerca de 6,0 ha, ocupada actualmente pelas
instalações da Sociedade Corticeira Robinson Bros. S.A. e é
limitada pela própria cidade que no seu crescimento urbano
acabou por envolvê-la. A noção exacta deste envolvimento
será essencial na definição das premissas do plano. Será a
criação de unidades de carácter urbano protagonizadas pela
abertura de um novo “passeio urbano” e pela introdução de
elementos como praças, passeios e equipamentos que permitirá a articulação entre os edifícios da Robinson com o
tecido urbano existente, ambos dotados de forte identidade. É ainda fundamental, a consideração dada ao facto da
cidade estar a crescer de forma algo descaracterizada a nascente, precisamente o sentido deste “passeio urbano” que se
pretende estruturante, de nascente a poente. Esta orientação permitirá ainda organizar sítios quer a norte quer a sul,
o que é importante numa cidade de amplitudes térmicas da
dimensão das de Portalegre.
A nossa proposta parte de um dos melhores exemplos
contemporâneos de reabilitação de uma unidade industrial
- a transformação da Fábrica Pompéia, em S. Paulo, pela
arquitecta Lina Bo Bardi em 1977. Trata-se de um dos mais
notáveis sucessos de recuperação e adesão por parte dos
utentes de uma grande área desta natureza numa cidade
de grande escala; até aos dias de hoje esta área é apelidada
de “cidadela cultural” e durante os primeiros anos de funcionamento, a Fábrica da Pompéia constituiu uma grande
novidade no cenário cultural brasileiro. Ali levou-se a cabo
uma arquitectura do comportamento humano, projectando
e interferindo em espaços, criando contextos e provocando
vida tendo como suporte do convívio entre os mais diversos
utentes da rua - elemento urbano fundamental.
Urban Regeneration Plan
The Urban Regeneration and Development plan covers an area of about 6.0 hectares, currently occupied by the
Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A., and is circumscribed by the town itself, which as a result of urban growth,
has developed around it. The precise idea of this development will be of the essence in defining the premises of the
plan. It will consist of creating urban units characterized by
the opening up of a new “urban promenade” and by creating elements such as squares, paved areas and equipment
allowing for the articulation of the Robinson building with
the existing urban fabric, both endowed with a strong personality. A further basic need to be considered is the fact that
the town is growing in a somewhat heterogenous manner
towards the east, precisely the direction of the “urban promenade” – which, it is hoped, will have a structuring impact –
from east to west. This directioning will further provide for
the organization of sites both to the north and to the south,
which is important, given the dimensions of thermic amplitude such as Portalegre’s.
Our proposal takes as its inspiration one of the best contemporary examples of the rehabilitation of an industrial unit
– the make-over of the Pompeia Factory in São Paulo carried
out in 1977 by the architect, Lina Bo Bardi. This is one of the
most resounding successes of the regeneration -- and enthusiasm with which visitors greet it -- of a large area of this nature
in a major city. To this day, the area is known as the “cultural
citadel”. During its first years as a functioning unit, the Pompeia Factory was a major novelty on the Brazilian cultural
scene. The architecture carried out there bore human behaviour in mind, projecting into and interfering in spaces, creating contexts and activity grounded on the interaction among
the most varied street users – a fundamental urban element.
72
Conceito / Estratégia
A estratégia para recuperar esta zona ex-industrial como
espaço público fruível fundamenta-se no estabelecimento de
vínculos entre os seus edifícios e a cidade, bem como entre
as diferentes escalas e momentos de intervenção tentando
para isso conferir-lhes carácter urbano actual numa atitude
precedente à instalação dos novos usos para os edifícios a
reabilitar. Pretende-se deste modo estabelecer uma relação
permeável com o meio envolvente e os ambientes característicos de Portalegre, definindo as transparências existentes
ou postas em evidência pelas demolições propostas e revelando a lógica interna do conjunto para implantar nele uma
configuração contemporânea em diálogo com as actividades
que receberá.
Este conjunto heterogéneo de naves, corpos oficinais
e depósitos terá na frente Largo do Jardim do Operário, o
seu elemento de articulação à cidade, protagonizado fisicamente pelo rasgamento na fachada da abertura do “passeio urbano”. Os espaços livres assim desenhados constituirão um importante elemento a reestruturar numa ideia
de cidade em que os edifícios e o vazio que os envolve, se
completam.
Neste primeiro “gesto” do plano ficará, portanto, estabelecido um modelo de ocupação destinado a garantir a sobrevivência do conjunto original em coabitação com as sucessivas reabilitações e necessárias ampliações que se irão levar
a cabo, partindo de um princípio aditivo que ordena todo
o conjunto industrial formado pelos edifícios já dispostos
ao longo de uma espécie de eixo ordenador, configurando
agora uma nova relação com a envolvente mediante o seu
cuidado desenho e a implantação estratégica do novo edifício da Escola de Hotelaria que contribuirá para a definição
clara de um “passeio urbano”.
73
Concept/Strategy
The strategy for regeneration of this formerly industrial zone as a public space to be enjoyed is grounded on the
setting up of links between its buildings and the town, as
also between the differing spatial scales and opportunities
for intervening, in an attempt to bestow upon them a contemporary urban feel, as a measure preceding the installing of the new uses to which rehabilitated buildings will be
put. The aim is thus to establish a permeable relation with
the surrounding areas and the ambiences which are characteristic of Portalegre, by defining the transparencies which
already exist or which will be enhanced by the proposed targets for demolition and revealing the internal logic of the
whole with a view to lending it a contemporary look in dialogue with the activities it will host.
This heterogenous set of naves, work shops and warehouses will be the element, on the front facing Largo do
Jardim do Operário, which articulates the whole with the
town, physically expressed by the opening up of the “urban
promenade” cutting through the façade of the factory. The
spaces thus freed will be a major element in the renovated
planning of a town whose buildings and the empty spaces
surrounding them will complement each other.
This first measure of the plan will, therefore, establish
a model of occupancy designed to guarantee the survival of
the original whole, side by side with ensuing regeneration
projects and necessary additions to be undertaken. This
will have as its point of departure a principle of additionality marshalling the entire industrial complex which comprises the buildings already in place along a kind of determining axis. It will provide for a new relationship with its
surroundings by means of careful design and the strategic implanting of the new Catering School building which
A partir deste eixo pode ver-se, nos intervalos dos edifícios, a belíssima paisagem distante, a sul, após a criação
de um primeiro plano de frente urbana que impede, juntamente com o maciço de árvores proposto entre esta e a
Escola Superior de Hotelaria, a vista menos interessante e
mais próxima da envolvente nascente/sul, que apresenta a
pior face do desenvolvimento descaracterizado da cidade
nos últimos anos. Cada uma das peças adquirirá então sentido na sua relação com as restantes, formando um conjunto de edifícios em cuja articulação e cadência se confiará
a urbanidade graças a elementos como rampas, passeios e
praças. Se o novo se conjuga com o existente, a sua materialização actual pretende revelar-se de forma inequívoca.
Um embasamento proposto de reboco em tom azul correrá
os alçados do conjunto libertando a cal branca dos restantes pisos, alternando com o amarelo ocre à semelhança do
já existente no local.
Como sucede em qualquer lugar de carácter público, o
projecto parte da consideração que os usuários reconfiguram
constantemente de um espaço como um lugar de encontros,
com liberdade de uso que se metamorfoseia através da actividade dos seus participantes. Esta área com 60.000 m2 converte-se, assim, num excepcional lugar de passeio para visitantes e de estar para criadores que se abre a todo o tipo de
iniciativas culturais e artísticas, do qual ambos partilham e
participam num debate aberto.
will contribute towards a clear definition of the “urban
promenade”.
From this axis, and through the spaces between the
buildings, there will be a magnificent view into the distance towards the south, after the creation of a foreground of urban façade, which, together with the stand of
trees proposed for the space between the façade and the
Catering School, block out the less interesting and closer
view towards the south-east, displaying as this does the
worst aspects of the town’s soulless development in recent
years. Each piece will thus gain in meaning in its relation to the rest, forming a set of buildings to whose articulation and cadence this urban regeneration event will be
entrusted, thanks to elements such as ramps, paved areas
and squares. When the new is added to that which already
exists, their contemporary materialization sets out to be
decisive. A basis placed in blue plaster will run the length of
the façades of the complex, freeing the white-washed surfaces of the remaining storeys and alternating with ochre
similar to that already in place.
As is the case with any public place, the project bears
in mind that users constantly re-configure a space such as
a meeting point with a freedom-to-use which undergoes
a metamorphosis by means of the activity of the participants. This area of 60,000 square metres thus becomes an
outstanding strolling space for visitors and a habitat for
creators open to every type of cultural and artistic initia-
Novas valências
Um Plano de Requalificação Urbana, ainda que dirigido a
uma zona limitada da cidade, não pode ser entendido de forma
autista em relação ao seu todo, deve no mínimo, ser capaz de:
· clarificar as ligações do centro (entendendo já a Robinson como área central) com a cidade em expansão, estrutu-
tives, which both share and take part in an open debate.
New Values
An Urban Regeneration Plan, albeit covering a small portion of the town, must not be understood in an inward-gazing way in relation to the whole: it must be able to, at least:
74
rando desta forma a cidade para o futuro, valorizando a sua
caracterização urbana;
· corrigir as situações críticas e revalorizar recursos e potencialidades inerentes, até pela proximidade a Espanha, enriquecendo também desta forma a animação urbano-turística;
· recuperação dos valores arquitectónicos da paisagem
urbana existente, integrando-os num projecto urbano de referência, associado a novas vias, habitação e equipamentos, reestruturação de praças e à melhoria da qualidade de vida;
75
· clarify the links between the centre (already taking
the Robinson factory as its central area) and the town in its
process of growth, thus structuring the town with a view to
its future, adding value to its urban features.
· correct critical situations and revalue
inherent
resources and potentialities, especially so given its proximity to Spain, thus also enriching urban-tourist traffic.
· regenerating of the positive architectural values of the
existing urban landscape, integrating them in an urban pro-
· integração das diversas vias com os espaços públicos
existentes e propostos.
No sentido de enquadrar e entender as perspectivas correctas de transformação e sobretudo porque a nossa estratégia de actuação nesta área pós-industrial é precisamente
torná-la elemento estruturante da cidade, foi necessário
fazer uma análise mais abrangente, quer no tempo, quer na
escala de intervenção.
Muito apoiada pelo percurso fluvial do Tejo e situandose também na transição entre terras do Norte e terras do Sul,
Portalegre, assente a quinhentos metros de altitude, é claramente uma cidade do interior que a Serra de S. Mamede
separa de Castela. Localiza-se na concordância de territórios
muito diferentes, articulando, numa visão ainda próxima, os
espaços característicos de serra e de planície. Implantada a
uma cota intermédia que lhe possibilita o estabelecimento
de relações fáceis com o seu próprio território, foi claramente penalizada a nível nacional por uma localização periférica e lateral em relação aos principais eixos de desenvolvimento. Deste modo, a cidade tradicional manteve-se íntegra
na sua caracterização morfológica durante um longo período de tempo mas, nos últimos anos foi alvo de um crescimento rápido, disperso e sem qualquer tipo de regras ou
estratégia.
Não interessa enfatizar o tema do centro histórico, mas
antes o problema dos fragmentos e partes de cidade nova
que, sem qualidade urbana, por razões diversas, participam como sistema urbano ou, simplesmente, como realidade integrável nesta nova expansão claramente identificável. Um plano desta natureza deve ter no mínimo duas qualidades essenciais: sentido e consistência. O sentido tem a ver
com a orientação da sua incidência na realidade – geográfica,
cultural, histórica, – e a consistência depende da capacidade
ject in association with new streets, housing and equipment,
restructuring of squares and improved quality of life.
· integrating the different streets with the existing and
proposed public spaces.
With a view to framing and understanding the proper
perspectives for the transformation process and above all
because our action strategy for this pos-industrial area is
precisely that of making it a structuring element of the
town, a broader analysis is called for, both in terms of time
and of the scale of the restructuring.
Bolstered by the river Tagus and located also in the
confluence of North and South, and at an altitude of 500
metres, Portalegre is clearly a town of the interior, separated
from Castille by the mountain of St. Mamede. It is situated
in the confluence of very different types of terrain, displaying, in its environs, features comprising both mountainous
and table-land elements. Set in an intermediary point allowing it to establish easy relations with its own territory, it has
clearly been penalized at the national level for its peripheral
and lateral location as regards the main axes of development.
Thus, the old, traditional town remained intact from a morphological point of view for a long time. The past few years
have, however, seen Portalegre sprawl haphazardly and
without any rules or strategy whatsoever.
There is little point in stressing the theme of the historical centre. What needs to be stressed are the fragments
and parts of the new town which, lacking urban value, participate, for different reasons, as an urban system or, simply, as a fact of life to be integrated in this new, already
identifiable urban growth. A Plan of this nature must have,
at the very least, two basic features: it must be meaningful and have substance. Meaning has to do with how it is
oriented in a reality – geographical, cultural, historical –
76
da sua estrutura constitutiva para resolver os requisitos que
impõe a sua funcionalidade física e económica.
Esta dupla face da sua estratégia tem que assumir-se
como uma condição básica: a proposta constitui um acto sintético que gera formas genuínas e consistentes através de
77
and the substance depends on how well its structure can
resolve the requirements imposed on it by its physical and
economic ability to function.
This twofold strategy must be taken as a basic requirement: the proposal embodies a synthetic act generating
valores que, ainda que subjectivos, tendem a ser universais.
Assim, a questão do centro antigo confunde-se com
a questão das faixas periféricas e enquadra-se no problema mais abrangente de como deve construir-se a cidade
moderna na ponderação do conjunto das heranças históricas e materiais da cidade e do seu belíssimo território. Procurando construir a ponte entre passado e presente, o projecto
de um espaço público cruza temáticas diferentes, reporta
a uma totalidade – a cidade - e à diversidade quer dos seus
quarteirões, quer dos seus fragmentos. É nossa intenção dar
corpo a este lugar, com arquitecturas que lhe confiram carácter, vida, ambiente e identidade. Ao nível do solo urbano,
cruzar a memória colectiva com os novos elementos, modernos e representativos culturalmente e cruzar ainda o uso
colectivo com o individual.
“Olhar a cidade é um prazer particular, por mais banal que
seja o que se vê. Como um bocado de arquitectura, a cidade é
uma construção no espaço, mas numa escala muito vasta, e
são necessários longos períodos de tempo para a compreender. A composição urbana é, pois, uma arte que usa o tempo,
mas é raro que, aí, se possa recorrer às sequências controladas e limitadas, ao contrário de outras artes baseadas no
tempo, como a música. Conforme as circunstâncias e as pessoas, as sequências são invertidas, interrompidas, abandonadas, abreviadas: a cidade vê-se sob todas as iluminações,
por todos os tempos” (Kevin Lynch), por isso é tão difícil
desenhá-la e se torna tão difícil colher aceitação unânime e
pacífica de imediato. As grandes intervenções são normalmente, numa primeira abordagem, polémicas.
Em 1852, no âmbito da política de fomento interior levada a cabo pelo Ministério das Obras Públicas, o
governo deu preferência à abertura de vias de comunicação
e às infra-estruturas de circulação. Deste modo, quando
genuine and substantial forms by means of value, which,
albeit subjective, tend to be universal.
Thus the issue of the old centre enmeshes with that
of the outlying areas. It is framed by the broader issue of
how to build a modern town, all the while bearing in mind
the sum total of the historical and material heritage of the
town and its magnificent environs. Attempting to bridge
past and present, a project for a public space interacts with
different themes, points to a totality – the town – and to the
diversity both of its neighbourhood blocks and of its fragments. It is our intention to make this place tangible, with
architecture that will confer upon it character, life, ambience and identity. Where the urban ground is concerned, to
intertwine the collective memory with the new elements,
which are modern and culturally representative and also to
intertwine collective use with that of the individual.
“To gaze at a city is a special delight, however banal the
sight may be. As a piece of architecture, cities are a construction in space, but on a very large scale, and the viewer
needs a great deal of time to internalize it. Thus, the urban
make-up uses time, but only rarely, in this context, can
controlled and limited sequences be made use of, contrary
to what occurs in other time-based arts, such as music.
Depending on the circumstances and the people, sequences
are inverted, interrupted, abandoned, abbreviated: the
city is viewed lit up from every angle, for all time.” (Kevin
Lynch). This is why it is so difficult to design it and gain
unanimous and non-dissenting acceptance at the start.
Major building works are usually polemical to begin with.
In 1852, within the framework of development of the
interior of the country carried out by the Ministry of Public
Works, the government gave priority to the upening up of
roads and transport infra-structure. Thus, when, in Porto,
78
no Porto se tomou a decisão, em 1854, de atravessar campos e quintas particulares para rasgar a conhecida Avenida da Boavista e estabelecer a relação estratégica entre
as zonas Oriental e Ocidental da cidade, ninguém acreditou na inevitabilidade deste “gesto” para a estruturação do
desenvolvimento da cidade que este eixo e a rotunda consolidam. Hoje trata-se de um facto reconhecido e de uma
das zonas mais valorizadas não só da cidade do Porto, mas
também do país.
A proposta, inserida num contexto de definição de novas
valências para a área de intervenção e envolvente, assume
esse risco ao pretender corrigir a situação crítica de desordem no crescimento urbano actual de Portalegre, revalorizando os seus recursos e potencialidades pela consolidação
da referida ligação ao centro histórico e rentabilização dessa
mesma estratégia.
Nesse sentido, propomos a construção de uma frente
urbana no limite sul do terreno que englobará edifícios de
habitação, comércio e equipamentos. Uma notável caracterização desta zona da cidade ficaria completa e altamente
valorizada com a definição e concretização da estratégia
de desenvolvimento para a encosta que medeia esta rua
e a área de expansão nova, a cota bastante inferior e de
qualidades arquitectónica e urbanística medíocres. Assim,
prevemos uma segunda fase para a frente urbana que seria
a instalar em terrenos camarários (onde se situam actualmente as oficinas da Câmara) e uma terceira fase, já a
realizar em terrenos privados, resultantes também da deslocalização das fábricas hoje existentes para a nova Zona
Industrial.
Na primeira fase, a mais valia da operação seria imediata,
uma vez que os terrenos pertencem à Fundação Robinson e,
sendo vendidos numa operação de loteamento com um pro79
the decision was made in 1854 to cut across fields and private estates to create Boavista Avenue and set up a strategic juncture between the city’s eastern part and that of the
west, nobody believed in the inevitability of this gesture
towards the structuring of the city’s development which
this axis and the round-about embody. Nowadays, it is an
establihsed fact and one of the most valuable areas, not just
of the city of Porto, but of the country.
This proposal, framed within a context of new values
for the area concerned, is willing to run that risk, where
it sets out to correct the critical situation of disarray in
the current urban growth of Portalegre, by revaluing its
resources and potential by means of the above mentioned
link-up with the historical urban centre and financial benefits of that same strategy.
Towards this goal, we propose to build an urban façade
at the very south of the plot of land, which will include residential buildings, shops and equipment. A striking feature
of this part of town would be completely and significantly
re-valued by means of the defining and putting into place of
the development strategy for the slope which interposes this
street and the new, growing area with a significantly lower
gradient and displaying mediocre architectural and urban
features. We thus anticipate a second phase for the urban
façade to be situated on council land (where the Council’s
workshops are currently located) and a third phase, to be put
in place on private land, also resulting from the relocation, to
the new Industrial Complex, of existing factories.
In the first phase the surplus value would be immediate, since the land belongs to the Robinson Foundation.
If sold in the form of lots linked to an approved architectural project, this would guarantee not only the quality of the surroundings but also investment consisting of
jecto de qualidade arquitectónica aprovado, garantiam não
só qualidade à área envolvente, mas o investimento correspondente à abertura do “passeio urbano” proposto e respectivas infra-estruturas, bem como da praça junto à Escola de
Hotelaria, da sua envolvente verde e da praça em frente ao
estacionamento, como se pode verificar no Relatório de Sustentabilidade Económica da solução. A Câmara Municipal,
numa operação da mesma natureza, teria uma mais-valia
notável, valorizando e enquadrando a solução, ao realizar a
segunda fase. Por fim, à parte de alguma rentabilidade financeira que traria a operação dos privados nos terrenos da 3.ª
fase para a edilidade, seria a vez da cidade ganhar pela qualidade urbana concretizada.
Sendo Portalegre uma cidade de meia encosta, são possíveis leituras muito variadas, desde os enfiamentos sobre
o Castelo, percorrendo entre árvores a estrada de Monforte, até ao domínio dos diversos pontos de cota alta que a
rodeiam, ela vai aparecendo, numa perspectiva variável para
quem, vindo de Alpalhão, vai contornando a serra da Penha.
No entanto, são as chaminés da Fábrica Robinson que, desde
o século XIX, exercem a principal referência visual da cidade.
Deste modo, a implantação de um conjunto de edifícios a
construir numa última fase e a localizar na área deixada livre
pela deslocalização dos edifícios industriais agora existentes,
faz a este elemento uma referência directa.
Com o objectivo de promover a ligação e transparência
físicas entre a cidade tradicional, a cidade contemporânea e
o património industrial que agora lhes pertence, considerou-se na estratégia de implantação dos novos edifícios o recurso
a este elemento iconográfico desde sempre presente na sua
memória comum – a silhueta das chaminés que se destaca no
perfil de Portalegre. Se a memória da fábrica foi renovada ao
tempo do Estado Novo, as chaminés, emergindo desde sem-
the opening up of the proposed “urban promenade” and
respective infra-structures, as also the Square bordering
the Catering School, its green component and the square
facing the parking area, as can be seen in the Report of
Economic Sustainability. In a similar move, the Town
Hall would have a significant surplus value, revaluing
and framing the solution, upon completion of the second
phase. Lastly, in addition to some financial benefit which
would accrue to the town through the operation involving private land forecast for phase three, the entire town
would gain from the urban quality thus achieved.
Situated on a slope, with several interpretations being
possible, from the direction of the Castle, the trees lining
the road to Monforte, to the different points of high gradient surrounding it, Portalegre appears from a variable
perspective for anyone approaching it from Alpalhão, having skirted Penha Mountain. However, it is the chimneys
of the Robinson Factory which, from the nineteenth century on, have been the main visual reference point of the
town. Thus, erecting a series of buildings in a final phase
of the project, to be located in the area freed up by the relocation of existing industrial buildings, leads directly to this
reference point.
With a view to promoting physical linkage and transparency among the traditional and the contemporary parts
of the town and the industrial heritage which now belongs
to it, the strategy for erecting new buildings took into consideration this iconographic element which has always
been present in the collective memory – the silhouette of
the chimneys which define Portalegre’s sky-line. Although
the Estado Novo (the Salazar regime) renewed the memory
of the factory, the chimneys, emerging since ever from the
built-up mass, are inextricably linked to the image of Por-
80
pre no maciço construído, são indissolúveis da sua imagem,
justificando assim o recurso a este signo simbolicamente tão
representativo.
A integração da estrutura verde na forma de um Parque
Municipal, inexistente em Portalegre, deverá desempenhar
um papel fundamental na articulação de sistemas múltiplos
e complementares (naturais e culturais). Actuando sobre o
conjunto de fragmentos urbanos que se distribuem de forma
descontínua, a estrutura verde participará na sua articulação, promovendo a continuidade com os eixos principais
estruturantes da cidade e, pela descontinuidade, a articulação e enquadramento paisagístico dos novos fragmentos
desordenados e de grande escala existente na parte Sul/Nascente da cidade.
A continuidade da estrutura verde, a nível morfológico,
é reforçada pelas relações ao denso olival já existente junto
ao cemitério, criando uma estrutura coerente incluindo um
sistema diversificado de usos e circulações, relacionando
os espaços verdes existentes e propostos, nomeadamente
através da ligação aos percursos periféricos, pedonais e dos
núcleos antigos e, simultaneamente a possibilidade de manter a construção, provavelmente já prevista, marginal às
novas vias a sul.
81
talegre, thus justifying the singling out of this symbolically
representative sign.
Integrating the green zone in the shape of a Municipal
Park, currently non-existent in Portalegre, should play an
essential role in articulating the multiple and complementary systems (both natural and cultural). Acting upon the
totality of the urban fragments, layed out in discontinuous form, the green zone will articulate these, promoting continuity with the main axes structuring the town,
and, through discontinuity, will promote articulation and
landscape framing of the new, scattered and large-scale
fragments located in the south-eastern part of town.
At a morphological level, the continuity provided by
the green zone is re-inforced by the Olive Grove already
in place next to the Cemitery. thus creating a consistent structure, including a diversified system for utilization and transit, linking the existing and the proposed
green spaces, especially through linkage with the outlying pedestrian spaces and the old nucleii, and at the same
time, the possibility of further building, probably already
planned, at the margins of the new roads to the south.
O logótipo da Fundação Robinson
The Logo for the Robinson Foundation
Eduardo Souto Moura* (1)
Graça Correia* (1)
António Queirós** (2)
* ARQUITECTOS ** DESIGNER GRÁFICO
* ARCHITECTS ** GRAPHIC DESIGNER
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 82-85, ISSN 1646-7116
1.
Numa conjuntura de renovação autárquica em que se pretende atingir um novo patamar de desempenho económico e
social, a Fundação Robinson surge com a sua forte presença
patrimonial e histórica, que se pretende renovada por uma
imagem de modernidade.
Pretende-se por isso uma representação gráfica para esta
nova entidade – a Fundação – que tem, no entanto, uma
identidade secular marcadamente associada à cidade de Portalegre, à construção da sua história e da sua memória.
A construção da sua imagem deverá essencialmente contribuir para a sua projecção e qualificação enquanto agente
contemporâneo de desenvolvimento, construída através de
um diálogo entre a identidade histórica e a sua memória
visual.
“A memória parece ser um elemento essencial do que se
chama identidade social ou colectiva, em cuja procura se ocupam os indivíduos e colectividades hoje em dia.
Memória e Identidade parecem ser indissociáveis. A identidade nasce da recordação e ambas constituem um acto de
resistência contra o desaparecimento e o esquecimento.”
O objectivo de promover a continuidade e abertura físicas entre a cidade tradicional, a cidade contemporânea e o
património industrial que agora lhes pertence, considerou o
recurso gráfico ao elemento iconográfico desde sempre presente na sua memória comum – a silhueta das chaminés que
se destaca no perfil de Portalegre.
Se a memória da fábrica foi renovada no tempo do Estado
Novo, as chaminés, emergindo desde sempre no maciço construído, são indissolúveis da sua imagem, justificando assim o
recurso a este signo simbolicamente tão representativo.
O contributo do design tratou de representar graficamente este elemento, desenhando-o com grande economia
83
1.
Within the framework of local government renewal
which aims at attaining a new level of economic and social
performance, the Robinson Foundation appears with its
strong patrimonial and historical presence, to be renovated,
according to current plans, by an image of modernity.
A graphic representation is, therefore, required for this
new entity – the Foundation – which, although new, represents a centuries-old involvement with the town of Portalegre and the building of its history and its memory.
Building its image must basically contribute to its promotion and to its credentials as a contemporary source for
development, grounded on a dialogue between its historical identity and its visual memory.
“Memory appears to be an essential component of
what we call social or collective identity, which individuals
and collective bodies seek after nowadays.
Memory and Identity appear to be inextricably linked.
Identity springs from remembrance and both constitute an
act of resistance against disappearance and oblivion.”
The aim of promoting the continuity and physical
opening up between the traditional town, the contemporary town and the industrial patrimony which now belongs
to them had a bearing on the graphic choice of the iconographic component which has ever been present in the collective memory – the silhouette of the chimneys against
the Portalegre sky-line.
Although the memory of the factories was renewed
during the Estado Novo (the Salazar regime), the chimneys
which have always emerged from the built-up agglomerate
cannot be extricated from their own image, thus justifying
the use of such a symbolical and representative sign.
The design aims to represent this component graphi-
de meios e elementos, de forma abstracta e não figurativa –
recorrendo à regularidade geométrica – perseguindo a eficácia da ideia contemporânea de comunicação.
2.
A marca representa a subtracção do elemento mais marcante do edifício ao céu azul de Portalegre. A representação/subtracção destes elementos num quadrado azul com as
“peças” a branco é ainda acrescida de uma atitude reveladora
da posição do observador, a convergência dos dois elementos num ponto de fuga denunciam a escala e retratam a posição elevada do conjunto arquitectónico. O logótipo (Tipografia) pretende resolver a questão fundamental da legibilidade e também, pelo facto de estar inserida num rectângulo, permite varias possibilidades de “casamento” com a
solução da marca. A junção das duas peças rectângulo + quadrado garante, pelo menos, três possibilidades de associação da marca/logótipo, podendo-se ajustar às imposições de
proporção dos vários suportes sem perder a identidade, conforme previsto e regulamentado no manual de identidade
corporativa.
cally, drawing it with great economy of means and component parts, in an abstract and non-figurative way – relying
on geometrical regularity – following the efficacy of contemporary notions of communication.
2.
The brand represents the isolating of the most eyecatching element of the building outlined against the blue
sky of Portalegre. The representing/isolating of these
components in a blue square with the “parts” in white is
enhanced by a slant representing the viewer’s location. The
confluence of the two components in a vanishing point
announces the scale and portrays the height of the architectural whole. The logo (Typography) sets out to solve the
basic issue of legibility. Furthermore, because it is inserted
in a rectangle, it allows for several types of “marriage” with
the solution of the brand. Bringing together the two pieces,
rectangle and square, guarantees at least three possible
types of association for the brand/logo, and being adjustable to requirements of the proportion of the different surfaces, without losing its identity, as per the Corporate Identity manual specifications.
84
85
O design nas Publicações da Fundação Robinson
Design for the Robinson Foundation Publications
Luís Moreira
DESIGNER GRÁFICO, PROFESSOR-ADJUNTO NO INSTITUTO POLITÉCNICO
DE TOMAR, CURSO DE DESIGN E TECNOLOGIA DAS ARTES GRÁFICAS
GRAPHIC DESIGNER, TEACHER AT THE INSTITUTO POLITÉCNICO
DE TOMAR, CURSO DE DESIGN E TECNOLOGIA DAS ARTES GRÁFICAS
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 86-99, ISSN 1646-7116
Com este texto pretende-se descrever o processo criativo
que guiou a execução da pré-maqueta ilustrativa do design
gráfico1 da série Publicações da Fundação Robinson. Decorre
de uma apresentação pública, sobre o mesmo tema, inserida
no Seminário Interreg-Forum, em Portalegre, no dia 20 de
Dezembro de 2006.
Deve entender-se por pré-maqueta a antecipação física de
um produto gráfico, numa fase do trabalho em que os conteú-dos não estão ainda finalizados. No caso de uma publicação
é a melhor forma para se ensaiarem as partes fundamentais
que a constituem: capa, índice, ficha técnica, artigos, separadores (entre outros). Possibilita a apreciação crítica tanto por
parte do designer, como do editor. As decisões mais importantes têm de ser tomadas nesta fase: formato, grelha, tipos
de letra, formatação das mais diversas categorias de texto,
paleta de cores e o modo como são colocadas as imagens.
The purpose of this text is to describe the creative proc-
Definição de um formato
Qualquer tomada de decisão no desenvolvimento do
design de uma publicação resulta da conjugação de dois factores: das características próprias que se pretendem que a obra
tenha – que nascem das expectativas e das exigências do editor – e da contribuição da experiência, gosto e bom senso do
designer.
As Publicações da Fundação Robinson deveriam seguir as
seguintes características: aspecto global uniforme e consistente; ter grande versatilidade, de forma a que cada edição
pudesse assumir o carácter de revista científica, de catálogo
(de uma pequena ou de uma grande exposição) ou de monografia; ser bilingue (português e inglês); poder dar protagonismo à iconografia.
O facto de o texto estar escrito em dois idiomas, em
simultâneo, implicava um formato tendencialmente grande
Format definition
87
ess which led to the pre-mockup illustrating the graphic
design1 of the Robinson Foundation Publications series. It
results from a public presentation on the same theme in
the Interreg-Forum Seminar held on 20 December 2006 in
Portalegre.
Pre-mockup should be understood as meaning the pre-presentation of a graphic product, at a stage in which contents have not yet been finalized. For publications, it is
the best way to try out the basic features which comprise
it: cover, table of contents, credits, articles, separators
(among others), which enables both the designer and the
publisher to give critical appreciation to these features. The
most important decisions must be made at this stage: format, grid, fonts, formatting of every single text category,
colour palette and how the images are placed.
Any decision in the design development for a publication results from the confluence of two factors: the specific
features which the work is to display – stemming from the
publisher’s expectations and demands – and the designer’s
input in terms of experience, taste and common sense.
The Robinson Foundation Publications were expected to
conform to the following features: a uniform and consistent overall look; great formal versatility so that each issue
could take on the features of a scientific review, of a catalogue (of a small or major exhibition) or of a book; its bilingual nature (Portuguese and English); its ability to enhance
iconography.
The fact that the text appears in two languages at the
same time implied a tendentially large format, or at least
one that was wide enough to pour in two columns per page,
ou, pelo menos, com largura suficiente para poder conter
duas colunas por página, uma para cada língua. Resolveria,
também, a questão da importância a atribuir às imagens,
facilitando a sua inserção em dimensões grandes.
Só três formatos se adequam para publicações: rectangular ao alto, rectangular ao baixo e quadrado. Sabendo da
importância da iconografia nesta colecção, deve analisar-se
a influência que cada um dos formatos pode ter na inserção
de imagens. O rectângulo ao alto favorece as imagens com
a mesma orientação, do mesmo modo que o rectângulo ao
baixo favorece as imagens ao baixo (fig. 1). O quadrado, por
outro lado, favorece as duas orientações e, também, as imagens com formato quadrado.
Aparentemente o formato quadrado seria o indicado,
porém há duas razões que contradizem essa escolha.
A primeira, relacionada com a própria forma. Sendo o
quadrado uma forma geométrica pura, com altura e largura
iguais, torna-se numa superfície demasiado presente e estruturante, pelo que o seu conteúdo – texto e imagem – fica condicionado. O conteúdo deve sempre ser o protagonista, e não
a superfície onde ele é apresentado.
A segunda razão, prende-se com factores técnicos. Só se
consegue um formato quadrado rentável (nas medidas standard de papel) com uma medida entre os 30 e os 32 cm de
lado – que implica algum esforço para o seu manuseamento
– ou entre os 20 e os 21 cm de lado – um formato pequeno
demais para as expectativas das Publicações (fig. 2).
one for each language. It would also solve the matter of the
importance which images would be given, making it easier
to insert them in a larger format.
Only three formats are appropriate for publications:
portrait, landscape, and square. Knowing how important
the iconography is to this collection, analysis must be carried out on the influence each of the formats may have on
image inserting. Portrait favours images of the same format, in the same way that landscape favours landscape
images (fig.1). The square, on the other hand, favours both
orientations, as also square format images.
A square format would appear to be desirable; there
are, however, two reasons that rule it out.
The first has to do with the form itself. The square
being a pure geometric form, with identical height and
width measurements, it becomes an overly present and
structuring surface, so that its contents – text and image –
are conditioned. Contents should always be the lead player
and not the surface into which it is poured.
The second reason has to do with technical factors. A
cost-effective square format can only be achieved with a
width of between 30 and 32 cm – which implies a certain
amount of effort in handling it – or between 20 and 21 cm
width – too small a format for the Publications’ expectations
(fig. 2).
Having taken every fact into account, the appropriate
format would have to be a rectangle of similar dimensions
Fig 1
Vários formatos de publicação –
rectangular ao alto, rectangular ao
baixo, quadrado e rectangular ao
alto com medidas de altura e largura
semelhantes – e a sua relação com
a dimensão máxima reproduzível de
imagens ao alto e ao baixo.
Various publishing formats – portrait,
landscape, square and portrait with similar
height and width measurements – and
their relation to the maximum reproducible
dimension of portrait and landscape images.
88
Æ
Fig 3
Representação de um caderno de 16
páginas (8 na frente + 8 no verso) numa
folha de 100 × 70 cm, com um formato
rectangular ao alto, utilizando o papel
até ao máximo dos seus limites.
Representation of a 16 quire (8 recto and 8
verso) using a 100 x 70 cm sheet, portrait
orientation, using the paper to maximum
capacity.
Considerados todos os pressupostos, o formato indicado
teria de ser um rectângulo com proporções próximas do
quadrado, em que fosse pequena a diferença entre altura e
largura. Seria um formato que não iria comprometer o conteúdo, tecnicamente exequível e que iria respeitar de modo
similar a inserção de imagens ao alto ou ao baixo. Tendo em
conta que se tratam de edições com carácter científico – e
não álbuns fotográficos – o formato ao alto é o mais adequado, tanto pelos hábitos que têm os leitores, como pelo
factor ergonómico: ao folhear uma publicação mais larga do
que alta teríamos uma largura total exagerada e, portanto,
desaconselhada para uma leitura confortável.
De um ponto de vista mais técnico, para se definir um formato, tem de se ter em conta as dimensões das folhas de papel
com que se imprimem livros em Portugal. De um modo geral,
o formato maior de folha mais comum é o 100 × 70 cm. Por
isso, e para imprimir cadernos de 16 páginas por folha com
formato rectangular ao alto, o máximo de largura que se pode
obter sem haver desperdício de papel é de 24 cm (fig. 3).
32
70
32
100
21
21
70
100
to that of the square, where the difference between height
and width would be small. It would be a format that would
Fig 2
Representações de um caderno de 12
páginas (6 na frente + 6 no verso) e de
um caderno de 24 páginas (12 na frente
+ 12 no verso) numa folha de 100 ×
70 cm, com um formato de página
quadrado, utilizando o papel até ao
máximo dos seus limites.
24
not compromise the contents, technically feasible and that
would respect, in a similar fashion, the inserting of images
in height and width. Bearing in mind that we are dealing
70
Representations of a 12 quire (6 recto and
6 verso) and of a 24 quire (12 recto and 12
verso) on a 100 x 70 cm sheet, in a square
page format, using the paper to maximum
capacity.
32
with scientific publications – and not photo albums – the
portrait format is the most appropriate, both in terms of
our reading habits, and from the ergonomic point of view:
leafing through a publication which is wider than it is tall
would render a totally exaggerated total width, which
would not lend itself to comfortable reading.
100
From a more technical point of view, when defining a
format, consideration must be given to the dimensions of
the sheets of paper on which books are printed in Portu-
89
Tendo a medida da largura definida – 24 cm – faltava definir a altura. Acrescentar 3,5 cm é o suficiente para distinguir
a altura da largura, pelo que se ficou com um formato final
de 24 x 27,5 cm.
gal. As a rule, the largest, most widely used sheet format is
100 x 70 cm. Thus, and to print 16 page quires in a portrait
format, the maximum width that can be obtained without
wasting paper is 24 cm (fig. 3).
Having defined the maximum width – 24 cm – there
As escolhas tipográficas
Para um designer a escolha do tipo ou tipos de letra de
uma publicação é determinante para a sua qualidade final.
Têm, necessariamente, de se fazer muitos testes, analisando
todas as categorias de texto que é preciso formatar, desde
os títulos às legendas, passando pelo texto principal (texto
corrido), subtítulos, notas, nome do autor do texto, entre
muitas outras. No caso particular, há a acrescer o facto da
publicação ser bilingue. Este foi, precisamente, o ponto de
partida para as decisões tipográficas. Sendo esta a particularidade mais condicionadora deste projecto, fazia sentido
começar por aqui.
Mesmo não estando ainda desenhada a grelha, tomou-se uma decisão fundamental: o português e o inglês tinham
de ter tratamento diferenciado. O português é apresentado
numa coluna de texto mais larga do que o inglês e consequentemente o seu tamanho de letra – o corpo – é maior. Comparativamente com uma solução em que ambos os idiomas
tenham o mesmo tratamento, esta opção tem três vantagens
fundamentais: o leitor de um ou de outro idioma identifica
muito rapidamente a coluna de texto a ler, a mancha gráfica
está dividida em duas colunas desiguais – o que a torna mais
dinâmica do que quando coexistem duas colunas iguais – e,
por último, as opções para arrumação de imagens tornam-se
mais variadas, conforme será descrito mais à frente, quando
se explica o desenho da grelha.
Quando se fala de texto corrido, e muito embora a questão não seja inteiramente pacífica entre os designers, de um
remained the height. Adding 3.5 cm suffices to distinguish
the height from the width, so that a final format of 24 x
27.5 cm was arrived at.
The typographic choices
For a designer, choosing the type for a publication is
key to its final quality. Of necessity, many tests have to be
undertaken, analysing each category of text to be formatted,
from the titles to the captions, through the main text (discursive text), sub-titles, notes, author’s name, among many
other tasks. In this particular case, consideration had to be
given to the fact that it is a bilingual publication, which was
precisely the point of departure for the typographic choices
made. This being the project’s single most determining specificity, it made sense to begin at this point.
Even before the grid had been designed, a basic decision was made: the Portuguese and the English texts had
to be subjected to differentiated treatment. The Portuguese version is presented in a wider text column than the
English version, and as a result its font size – the body – is
larger. Compared to a solution giving both languages equal
treatment, this option offers three basic advantages: readers of either one of the languages very quickly identify the
text column they need to read, the text is divided into two
different size columns – which makes it more dynamic than
if there were a sameness between the two – and lastly, the
options for placing images become more varied, as will be
described later, where the grid design is explained.
90
Fig 4
Composição de um mesmo texto num
tipo de letra sem serifas, o Helvetica,
e num tipo de letra com serifas,
o Georgia. As serifas contribuem,
neste caso, para um grau maior de
legibilidade.
When discussing discursive text, and even though the
issue is not entirely harmonious among designers, as a rule
serif fonts, are easier to read. This is the case because serifs
function as guides that lead readers’ gaze horizontally, cap-
Composition of the same text in a sans-serif
font, Helvetica, and in a serif font, Georgia.
In this situation, the serifs make for a greater
degree of legibility.
turing attention to the line being read, which is of major
importance for comfortable reading of large portions of
text (fig. 4).
Within serif fonts there are four major families – Classical Humanist, Transitional, Modern, and Egyptian –
whose differences lie in the variation of the thickness of
their parts (or stress) within the axis of rounded forms and
Fig 5
Diferenças que distinguem as quatro
principais categorias de tipos de letra
com serifas: humanistas clássicas, de
transição, contrastadas e egípcias.
Os tipos de letra representados são:
Bembo (Francesco Griffo, 1495),
Baskerville (John Baskerville, 1750),
Bodoni (Giambattista Bodoni, 1787) e
Clarendon (Anónimo, 1845).
Differences which distinguish the four
main serif font families: Classical Humanist,
Transitional, Contrasted and Egyptian. The
typefaces illustrated are: Bembo (Francesco
Griffo, 1495), Baskerville (John Baskerville,
1750), Bodoni (Giambattista Bodoni, 1787)
and Clarendon (Anonymous, 1845).
modo geral, os tipos de letra com serifas (ou “patilhas”) são
mais legíveis. Isto acontece porque as serifas funcionam
como guias que orientam o nosso olhar no sentido horizontal, prendendo a atenção na linha de texto que se está a ler, o
que é particularmente importante para uma leitura cómoda
de grandes quantidades de texto (fig. 4).
Dentro das letras com serifas, existem quatro grandes
categorias – as humanistas clássicas, as de transição, as contrastadas e as egípcias – cujas diferenças se situam na diferença de espessura das suas partes (ou contraste), no eixo
das formas redondas e no desenho das suas serifas (fig. 5).
As contrastadas não são indicadas para texto corrido porque
as partes mais finas tendem a desaparecer em corpos mais
pequenos. Nas restantes categorias, todas elas indicadas
para texto corrido, não há nenhuma que se destaque por ser
mais legível. As diferenças de grau de legibilidade são mais
evidentes entre tipos da mesma categoria do que entre categorias.
Tendo em mente estas considerações foi escolhido o tipo
de letra Chaparral Pro (fig. 6), desenhado por Carol Twombly em 2000, pertencente à categoria das egípcias. As razões
desta escolha foram três: é muito legível em texto corrido;
91
in their serif design (fig. 5). Modern fonts are not appropriate for discursive texts since the more slender strokes tend
to disappear in smaller sizes. Of the remaining categories,
all of them appropriate for discursive texts, no single one
stands out as being easier to read. The differences in degree
of legibility become more obvious within the same family
types than between families.
With all this in mind, the choice made was that of Chaparral Pro (fig. 6), designed by Carol Twombly in 2000 and
Humanistas
Clássicas
Classic Humanist
De transição
Transitional
Contrastadas
Modern
Egípcias
Egyptian
Eixo das formas
redondas
Axis of rounded
forms
Diferença
entre
espessuras
Stress
Desenho
das serifas
Serif
design
Fig 6
Tipo de letra Chaparral Pro, nas suas
variantes de espessura: light, regular,
semibold e bold. A utilização da frase
em inglês “The quick brown fox jumps
over a lazy dog” é justificada pelo facto
de não existir uma frase correspondente
em português1.
tem um carácter contemporâneo mesmo sendo um tipo serifado; tem desenhos de letra distintos para corpos diferentes
de letra. Esta última particularidade (que em inglês se denomina de optical sizes) não é muito comum, ainda, na maioria dos tipos de letra existentes, mas é de uma extrema utilidade quando é usado um único tipo de letra em diversos
corpos. Um dos maiores problemas da era digital em que vivemos (mas que começou no tempo da fotocomposição, desde
os anos 60 até aos anos 90 do século passado) é que só existe
uma matriz para cada letra, independentemente do tamanho,
o que significa que o desenho de uma letra a, em Garamond,
por exemplo, é igual tanto para o corpo 72 como para o corpo
6, o que difere é apenas a redução ou a ampliação. Os traços
mais finos em corpos pequenos causam problemas de legibilidade podendo até, em alguns casos, não ficar registados no
Chaparral Pro typeface in its variants: light,
regular, semi-bold and bold.
Fig 7
Comparação entre o uso de vários
corpos de letra do tipo de letra Utopia
(Robert Slimbach, 1989) e Utopia Std
(Robert Slimbach, 2002), esta última
desenhada com optical sizes.
belonging to the Egyptian family. There were three reasons
for this choice: it is very legible in discursive text; it has
a contemporary look to it even though it is a serif font; it
comprises different letter designs for different letter bodies. The latter feature (optical size) is not yet very widely
used in most existing typefaces, but it is extremely useful
when a single font is used in different bodies.
One of the greatest problems of the digital era we live
in (but which began in the days of photocomposition, from
the 1960s to the 1990s) is that there is only one matrix for
each letter, regardless of size, which means that the design
of the letter a in Garamond, for instance, is the same both
92
Comparison between the use of various
Utopia font bodies Utopia (Robert Slimbach,
1989) and Utopia Std (Robert Slimbach,
2002), the latter designed with optical sizes.
Fig 8
Comparação dos diferentes desenhos
da Utopia Std Regular no mesmo
tamanho.
A amplitude para utilização da medida
do corpo é: display, acima do corpo 24;
subhead, entre 14 e 24; text, entre 9 e
13; caption, entre 6 e 8.
Comparison of the different Utopia Std
Regular designs with the same dimensions.
The range of dimension utilization is: display,
exceeding 24; subhead, between 14 and 24;
text, between 9 and 13; caption, between
6 and 8.
Fig 9
A mesma expressão composta num tipo
de letra sem serifas e num tipo de letra
serifado. A utilização de serifas, neste
caso, não favorece a legibilidade.
The same wording composed in a sans-serif
font and in a serif font. In this situation,
the use of serifs does not act in favour of
legibility.
papel. Por outro lado, em corpos muito grandes, a proporção
entre as espessuras das partes da letra pode parecer pouco elegante. No tempo da composição manual (desde Gutenberg) e
da composição mecânica (desde finais do século XIX até meados do século XX) o problema não se colocava porque para
cada tamanho existia uma matriz diferente, com as espessuras adaptadas à redução e à ampliação. Nos dias de hoje,
com os optical sizes consegue resolver-se o problema, uma
vez que os tipos de letra com esta característica são redesenhados com quatro ou cinco variantes – independentemente
de serem light, regular ou bold – onde os traços mais finos
são engrossados à medida que são usados em corpos mais
pequenos (figs. 7 e 8). Esta característica é muito útil na utilização de texto em português e em inglês. Uma vez decidido
que o inglês teria uma coluna menor e, por consequência,
o corpo da letra seria inferior, o texto neste idioma conseguiria, assim, resistir à redução do tamanho, mantendo um
nível satisfatório de legibilidade.
Existindo uma decisão sobre o tipo de letra para texto
corrido, escolheu-se um segundo para outras situações de
texto. Optou-se por ter mais do que um tipo de letra, de
novo, por três razões. Primeiro porque se conseguiria uma
maior variedade de soluções gráficas. Depois, porque as
letras com serifas podem conferir um carácter demasiado
clássico a uma publicação e a utilização de um segundo tipo
de letra, desta vez não serifado, equilibra o clássico com
o contemporâneo. Por último, a legibilidade: se as serifas
favorecem a leitura em contínuo a falta delas favorece a leitura imediata (fig. 9).
Fala-se de leitura imediata quando se está perante palavras soltas, títulos, pequenos textos com duas ou três linhas
(subtítulos ou slogans, por exemplo) ou em textos com poucos caracteres por linha (legendas em colunas curtas de texto,
93
for font size 72 as for 6; the only difference is the reduction
or amplification. The more slender strokes in small bodies
raise issues of legibility which may in certain cases not be
recorded on paper. On the other hand, with very large bodies, the proportion between the font thickness may appear
as somewhat unpolished. When typecasting was manual (since Gutenberg) and then mechanical (from the late
1800s to the mid-1900s), the problem did not arise, since
for each size there was a different matrix, with the thickness adjusted to reduction and amplification. In our time
optical sizes solve the problem, given that the features of
these letter types have been redesigned with four or five
variants – regardless of being light, regular or bold – where
the more delicate strokes are thickened as and when they
are used in smaller bodies (figs. 7 and 8). This feature is
very useful in using Portuguese and English text. When
the decision had been made to give the English version a
narrower column, thereby calling for a smaller letter body,
the text in this language could thus withstand reduction in
size, retaining a satisfactory degree of legibility.
After a decision had been made regarding the font for
discursive texts, a second one was chosen for other text situations. Here again, the option was to have more than one
font, for three reasons. Because a greater variety of graphic
solutions would be achieved. Then, because serif font can
lend a publication too classical a look, and the use of a second font, sans-serif, achieves a balance between the classical and the contemporary. Finally, legibility: if the serifs
por exemplo). Se se analisar atentamente o mundo da comunicação, a esmagadora maioria dos tipos de letra utilizados
no texto corrido de livros, revistas e jornais são serifados,
e a quase totalidade dos tipos utilizados em sinalização ou
em publicidade são sem serifas.
Dentro das letras sem serifas existem três grandes categorias: as grotescas, as geométricas e as humanistas (fig. 10). Das
três, a menos comum é a humanista, mas é a que consegue conciliar num só tipo harmonia formal – que decorre da sua estrutura clássica – com contemporaneidade, devido à falta de serifas e pouco contraste entre as suas espessuras. Foi escolhida a
Syntax, desenhada originalmente por Hans Eduard Meier em
1968 e redesenhada pelo próprio em 1989 e em 2000 e que, tal
como a Chaparral Pro, é um tipo que não está ainda profusamente utilizado, oferecendo, assim, alguma novidade às Publicações da Fundação Robinson (ver fig. 11).
Decididos os tipos de letra, teve de se proceder à formatação das várias situações de texto que se esperavam encontrar. Estas tomadas de decisão são efectuadas quase sempre
em simultâneo com o desenho da grelha e é frequente que se
volte atrás várias vezes alterando ou a medida de determinada coluna, ou o corpo de determinado tipo de texto ou a
medida da entrelinha de um outro.
Handgloves
Grotescas
Grotesque
Handgloves
Geométricas
Geometrical
Handgloves
Handgloves
Fig 10
Diferenças no desenho das três
principais categorias de letras sem
serifas: grotescas, geométricas
e humanistas. Os tipos de letra
representados são: Helvetica
(Max Miedinger, 1951), Avant Garde
(Herb Lubalin e Tom Carnase, 1970)
e Gill Sans (Eric Gill, 1932).
O último exemplo, a cinzento, é o
tipo Garamond, representado para se
poder comparar a estrutura do desenho
das humanistas clássicas com o das
humanistas sem serifas.
Humanistas
Humanist
Clássicas
Humanistas
Classic Humanist
facilitate continuous reading, the lack thereof favours single word reading (fig. 9)
Differences in the design of the three
main sans-serif font families: Grotesque,
Geometric and Humanist. The fonts
illustrated are Univers (Adrian Frutiger,
1954), Avant Garde (Herb Lubalin and
Tom Carnase, 1970) and Gill Sans (Eric
Gill, 1932). The latter example, in grey, is
Garamond, included to enable comparison
between the Classical Humanist design
structure and sans-serif Humanist.
Single word reading signifies reading single words,
titles, short texts comprising three or four lines (captions
or slogans, for instance) or texts with few characters per
line (captions in short text columns, for instance). If the
world of communication is closely scrutinized, the vast
majority of fonts used in the discursive text found in
Fig 11
Tipo de letra Syntax, nas suas variantes
de espessura: roman, bold, black e
ultra black.
Syntax typeface, in its variants: Roman,
bold, black and ultra black.
O desenho da grelha
A grelha de uma publicação é a estrutura geométrica, invisível ao leitor, que serve de suporte para a colocação de todos
os seus conteúdos gráficos. É a garantia de uma necessária coerência visual entre as suas partes. No caso de se tratar do miolo
de uma publicação há que desenhar uma grelha para o par de
páginas esquerda/direita (ou par/ímpar, como é geralmente
denominado no mundo gráfico). Uma boa grelha deve ser
aquela que dá hipótese de se criarem páginas com soluções de
94
books, magazines and newspapers are serif, and the near
Fig 12
Medidas da grelha em milímetros.
Áreas para colocação de texto e área
máxima para inserção de imagens.
totality of fonts used in signposting or in advertising are
sans-serif.
Grid measurements in millimetres.
Areas for pouring in text and maximum area
for placing images.
Sans-serif fonts comprise three major families: the Grotesque, the Geometric and the Humanist (fig. 10). Of the
three, the less widely used is the Humanist, but it is the type
family which combines in a single typeface formal harmony
– deriving from its classical structure – with a contemporary
look, given the lack of serifs and negligible contrast between
degrees of thickness. The choice went to Syntax, originally
designed by Hans Eduard Meier in 1968 and redesigned by
Fig 13
Simulação de todas as soluções de
inserção de imagens, com formato ao
alto (a verde) e ao baixo (a cor-de-rosa),
consoante a sua dimensão, numeradas
desde a mais estreita até à mais larga.
him in 1989 and 2000 and which, like Chaparral Pro, is a
font which is not yet widely in use, thus offering some freshness to Robinson Foundation Publications (see fig. 11).
Simulation of all the solutions for image
insertion, in portrait (green) and width
(pink), depending on dimensions, numbered
from the narrowest to the widest.
Having decided on the fonts, thought had to be given
to the formatting of the different text situations which
could be expected to occur. This decision-making almost
always arises at the same time as the grid design, and the
need is often felt to go back several times with a view to
altering either the dimension of a given column or body
text fonts or the linespacing.
The grid design
A publication’s grid is the geometric structure, invisible to readers, which supports the placing of all graphic
contents. It vouchsafes the necessary visual consistency
of its parts. When considering the core of a publication, a
grid must be designed for the two pages, lef/right (or odd/
even as it is usually called in the graphic arts). A good grid
is that which makes it possible to create pages with diversified pouring in solutions within a clear formal unit.
There were a number of fundamental issues when it
came to dividing the space available: the 24 x 27.5 cm format.
95
arrumação diversificadas dentro de uma evidente unidade
formal.
Existiram algumas preocupações de base que estiveram
presentes no momento de dividir o espaço disponível: o formato 24 × 27,5 cm. Em primeiro lugar, a gestão do espaço não
impresso, que teria de ser muito cuidado de modo a conferir
um aspecto desafogado à publicação. Dar especial atenção às
áreas brancas significa que se está a dar particular importância às áreas com conteúdo. Simplificando: o vazio valoriza o
preenchido. As edições culturais exploram quase sempre este
princípio. É também importante que o leitor tenha áreas de
descanso visual ao longo da publicação.
De seguida, a distribuição das colunas de texto. Tendo
já sido decidido que o português teria uma coluna de texto
mais larga do que o inglês, desenhou-se ainda uma terceira
coluna, mais estreita, que iria servir de base para a colocação
de todas as legendas de imagens (fig. 12).
To begin with, the management of the print-free areas
which have to be very carefully handled so as to lend an
uncluttered look to the publication. Giving special attention to the blank areas means that the greatest importance
is being given to the content areas. To simplify, what is
blank valorizes that which is filled in. Cultural publications
almost always exploit this principle. It is equally important that readers have areas of visual respite throughout
the publication.
Then came the issue of text column design. Having
already decided that the Portuguese version would have a
wider text column than the English, a third, narrower column was designed, intended to act as a base for placing all
the image captions (fig. 12).
Even though a classic grid always tends towards symmetry, the option was to place the Portuguese text always
Fig 14
Pré-maqueta do miolo.
on the left and the English always on the right. It thus
Pre-mockup of the core.
96
Muito embora a grelha clássica tenda a ser simétrica,
optou-se por colocar o português sempre do lado esquerdo
e o inglês sempre do direito. Assim, é mais rápido para o leitor de qualquer dos idiomas encontrar o sítio onde continuar
a sua leitura quando muda de página. A coluna para as legendas, sendo autónoma do problema linguístico, já que contém
as legendas em ambas as línguas, ficou colocada simetricamente, na parte interior das páginas.
As vantagens desta grelha com duas colunas de texto
e uma de legendas são claras: por um lado, liberta totalmente
as imagens (das suas legendas) permitindo a sua observação
autónoma; por outro, cria uma nova alternativa para a colocação e dimensionamento das imagens. A solução encontrada
de três colunas desiguais favorece uma variedade de dimensões possíveis de imagens que pode chegar a catorze (fig. 13).
Como já foi referido, a grelha é definida em paralelo com
a formatação das diversas categorias de texto. Para uma correcta interpretação dos conteúdos das publicações, a construção da pré-maqueta foi feita a partir de originais provisórios
do texto e de imagem fornecidos pela Fundação. O resultado
foi a paginação da ficha técnica, do índice e do parte de um
artigo (fig. 14).
becomes easier for readers of either language to find their
A capa
Para o design da capa, de novo, é preciso entender as expectativas do editor. Esperava-se que as Publicações da Fundação
Robinson fossem dotadas de uma identidade própria e com
um alto grau de reconhecibilidade. Cedo se tomou a decisão
de que qualquer que fosse a extensão de cada número, ele
teria sempre o mesmo formato. A maior diferença seria a
espessura, o que levaria a que as edições tivessem, ou não,
lombada, caso o número de páginas fosse superior ou inferior a 32 páginas.
publisher’s expectations. It was hoped that Robinson Foun-
place when turning the page. The captions column, being as
it is independent as regards the language issue since it contains captions in both languages, was placed symmetrically
in the inner area of the pages.
The advantages of this grid - bearing two text columns
and one caption column – are clear: on the one hand, it
frees the images completely, making them easy to look at
as independent entities, and on the other hand, it makes
for a new alternative when placing the images. The solution
chosen, of three columns of unequal dimensions, works in
favour of a large variety of image dimensions, which can
reach fourteen (fig. 13).
As already mentioned, the grid is defined parallel to
the formatting of the different text categories. To achieve
a proper interpretation of the publication’s contents, the
pre-mockup was tested using temporary text and image
originals supplied by the Foundation. The result was the
layout of the technical credits, of the table of contents and
of part of an article (fig. 14).
The cover
Again, for the cover design the designer has to grasp the
97
dation Publications could be endowed with a striking identity
and a high degree of recognizability. Early on the decision
was made that, irrespective of each issue’s number of pages,
it would always have the same format. The greater difference
would be in the thickness of the issue, which would mean
that the issues would, or would not, have a spine, depending
on whether or not the number of pages exceeded 32 pages.
Conveying to the cover the core content features,
respecting the print-free areas, it was decided that the
Fig 15
Pré-maqueta da capa, com solução para
três números. A primeira com fotografia
a preto-e-branco e as restantes com
fotografia a cores.
Pre-mockup of the cover, with solutions for
three issues. The first displays a black and
white photograph, the second and third
a colour photograph.
Transportando para a capa a característica do miolo de
existir um respeito pelas áreas vazias, decidiu-se que a capa
iria ser dividida a meio no sentido horizontal, reservando
a metade inferior para iconografia, sem a interferência de
qualquer tipo de texto, sendo este colocado na metade superior. Optou-se por utilizar uma cor de fundo para esta área, a
mesma para todos os números das Publicações, já que a unidade cromática seria fundamental para conferir um aspecto
unificante à série. O cinzento escuro pareceu ser a decisão
mais óbvia: porque a sua neutralidade garantia que qualquer contraste cromático com a fotografia da capa seria eficaz, quer a imagem fosse colorida ou a preto-e-branco e, também, por ser uma das duas cores da imagem institucional da
Fundação Robinson. Sendo esse cinzento (Pantone 431) um
pouco claro para funcionar bem como fundo, escolheu-se um
cinzento ligeiramente mais escuro (Pantone 432).
Tomou-se a decisão de assinalar a numeração das publicações num corpo assumidamente grande, de modo a simplificar a sua distinção. O único modo de poder ampliar-se muito
o número teria de ser compensando o seu grau de contraste
lumínico com o fundo. Se compararmos o tamanho do título
cover be divided in half horizontally. The lower half
would be devoted to iconographic features, completely
free of any type of text, with the latter being placed in
the upper half. The option was to have a background colour for this area, the same for every one of the Publications’ issues, given that chromatic uniformity would be
key to bestowing a unitary look to the series. Dark grey
seemed the most obvious choice. Its neutrality guaranteed that any chromatic contrast with the cover photograph would be effective, whether it was a colour or
black and white photograph, and also because it is one of
the two colours of the Robinson Foundation’s logo. That
hue (Pantone 431) being a little too light to act effectively as a background, a slightly darker grey (Pantone
432) was chosen.
It was decided to highlight the numbering of the issues
in a deliberately large format, so as to simplify its prominence. The only way of significantly amplifying the number would have to be by making up for its degree of luminic
contrast with the background. If we compare the size of the
publication’s title in Portuguese, 18 points, to that of the
98
em português da publicação, 18 pontos, e o do número, 175
pontos, é quase dez vezes maior. Sendo o título em português de cor branca, contraste máximo com o fundo, conseguiu
fazer-se essa compensação pintando o número com um cinzento ligeiramente mais escuro do que o do fundo. Esta solução gráfica para a capa, a par de uma rigorosa selecção da imagem, contribuiria para conferir a individualidade necessária
de cada edição dentro da esperada uniformidade do design de
uma série de publicações (fig. 15).
number, 175 points, it is almost ten times greater. The title
Todas as situações que não ficaram retratadas na pré-maqueta, foram naturalmente resolvidas com a edição de cada
um dos números. Algumas alterações tiveram de ser feitas tendo
em conta os novos dados que foram fornecidos com os conteúdos definitivos. De qualquer modo, aqui fica uma memória descritiva das opções tomadas e que esperamos contribua para
que o leitor possa agora ver, de uma nova perspectiva, os pormenores gráficos, não só destas Publicações, mas de todas.
All the situations that were not resolved in the pre-
in Portuguese being white, the maximum contrast with the
background, it was possible to effect the above counterbalance by painting the number in a slightly darker shade of
grey than that of the background. This graphic solution for
the cover, when added to a rigorous image selection, would
contribute towards the needed individuality of each issue
within the expected design uniformity of a publication
series (fig. 15).
mockup were of course solved during the course of publishing the issues. Some changes had to be made on account of
new data provided by the finalized contents. In any event,
here is a descriptive memory of the solutions opted for
and which we hope may be an insight for readers into the
graphic details not just of the Robinson Foundation Publications but also of other publications.
notas
note
¹
1
²
99
O design gráfico pode definir-se como a actividade de quem dá forma a uma
necessidade de comunicação de uma entidade (pessoal, empresarial ou institucional) escolhendo, criando e dispondo signos visuais e linguísticos num
dado suporte, dando origem a um produto gráfico.
A frase “The quick brown fox jumps over a lazy dog” é desde há muito utilizada em catálogos de venda de tipos de letra pela simples razão que numa
pequena frase consegue mostrar-se a totalidade do desenho de todas as 26
letras do alfabeto anglo-saxónico. É sabido que o sistema operativo Windows
da Microsoft, desde a sua primeira versão, tem a sua tradução em português,
que é: “A rápida raposa castanha salta em cima do cão lento”. Ela surge cada
vez que se pressiona em qualquer ficheiro de fonte. Esta frase não é utilizada neste artigo para mostrar o desenho dos tipos de letra das Publicações da
Fundação Robinson, mantendo-se a expressão original em inglês, porque ela é
totalmente desadequada: apenas mostra 14 das 23 letras do nosso alfabeto,
deixando de fora as letras: b, f, g, j, q, u, v, x e z.
Graphic design can be defined as the activity of the person who gives shape
to a need for communication on the part of an entity (personal, business,
or institutional), choosing, creating and arranging visual and language
signs on a given frame, originating a graphic product.
Como a cortiça, a cultura “vem sempre ao de cima”
Traços de um esboço de programação de cultura
Like cork, culture always ‘bobs to the surface’
Traces of a draft of culture programming
António Camões Gouveia
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DA U.N.L.,
COORDENADOR CIENTÍFICO DA FUNDAÇÃO ROBINSON
FCSH, UNL, SCIENTIFIC COORDINATOR OF THE ROBINSON FOUNDATION
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 100-119, ISSN 1646-7116
[“ao de cima”, “vir ao de cima”, como o azeite sobre a água, que vem sempre “ao de cima”;
forma de dizer de alentejano;
dizer que quer dizer, “é assim!”, “tome o tempo que tomar, vem ao de cima!”]
[porque é que é assim?
compreender e saber explicar porque é que a cultura vem sempre “ao de cima” e o que é o “de cima”,
é o que faz deste dizer de alentejano, um dizer de alentejano em “situação” de cultura]
[‘Bobs to the surface’, like oil in water, which always ‘bobs to the surface’;
an Alentejan saying;
meaning ‘that’s the way it is!’, ‘however long it takes, it bobs to the surface!’
[Why does this happen?
Understanding and being able to explain why it is that Culture always ‘bobs to the surface’ and the meaning of ‘to the surface’
is what makes of this Alentejan saying a saying by an Alentejan in a culture ‘situation’]
Em primeiro lugar, Portalegre
Uma História, temporalidades entrecruzadas e, hoje,
mais ou menos compreendidas, e uma paisagem, encostas de
uma serra em plano alto, olhando as planícies. Como qualquer cidade, senhora de especificidades quer nessa História,
quer nesse território-paisagem.
Programar com Portalegre
Alguns nomes locais, ou inseridos na grandeza local, notabilizaram-se no campo da Cultura. Muitas vezes, na maior
parte das vezes, notabilizaram-se mais em obras de índole
historiográfica nacional, Histórias da Cultura, da Literatura,
da Arte, do que são instrumentos de actuação de memória.
Realmente, são mais parte da referida grandeza local, que
se quer afirmar e defender, do que da memória local. Entre
outros, poucos outros, Cristovão Falcão (1515?,1518?-depois
de 1553), Diogo Pereira de Sotto Maior (1550/1560?-1632),
101
First of all, Portalegre
A History, criss-crossing temporalities and nowadays
more or less understood, and a landscape, slopes of a mountain high above gazing out at the plains. Like any other
town, the mistress of specificities both in that History and
in that landscape-territory.
Programming with Portalegre
Some local names, or those which are inserted in
the the local notables, carved a place in the field of Culture. Very often, most often, they made their mark rather
more in works of national historiography, Histories of Culture, Literature, Art, than becoming instruments of memory acts. In fact they are rather more part of the local notables mentioned earlier, who wish to assert and defend themselves, than of the local memory. Among others, few others,
Cristovão Falcão (1515?/1518?-after 1553), Diogo Pereira
Mouzinho da Silveira (1780-1849), Benvindo Ceia (18701941), José Régio (1901-1969), João Tavares (1908-1984).
Ao programar, ao fazer crescer os nomes de acréscimo à grandeza local temos a veleidade, o desejo, de deixar nela impressos outros nomes, os de George Robinson, George Wheelhouse Robinson, Rui Sequeira ou Eduardo Souto Moura. O
tempo, os construtores de história, um dia deles falarão ou
deixá-los-ão esquecidos?
Por estas razões torna-se imperioso encontrar um dia
capaz de fixar atenções sobre as dimensões de desempenho
humano próximas da Fundação Robinson. Por um acaso, e o
acaso faz parte da História, há um dia que reuniria todas e
mais algumas capacidades de ser emblemático e detentor em
si de uma dinâmica de Cultura. O dia, 17 de Setembro, corresponde ao dia de nascimento em Portalegre, na Boavista,
do primeiro Robinson com dimensão histórica, falamos de
George Wheelhouse Robinson, o grande organizador da firma
e construtor das realidades fabris potenciadoras de produção
de qualidade e de riqueza. Mas o dia 17 de Setembro corresponde ainda ao dia em que, em 1901, nasceu o futuro professor José Maria dos Reis Pereira, o marcante e inultrapassável
autor da Toada de Portalegre, José Régio. Há que pensar esta
data, fazer deste dia acto de Cultura, juntando nele uma permanência de memória, José Régio, com uma novidade dinâmica, mas não memorial, George Wheelhouse Robinson, os
Robinson, a Fábrica, a Fundação Robinson.
De seguida, importa reflectir sobre as bases temporais,
históricas, do acontecer citadino portalegrense, suas manchas humanas, de povoado, de espaços rurais, seus costumes, os discursos que tudo isto tem possibilitado e aqueles
que se têm imposto ou que se têm perdido no passar dos dias,
importaria não esquecer o esquecido e percebê-lo, importariam anos e anos, equipas e investigadores individuais a con-
de Sotto Maior (1550/1560?-1632), Mouzinho da Silveira
(1780-1849), Benvindo Ceia (1870-1941), José Régio (19011969), João Tavares (1908-1984). In our programming, in
lengthening the list of local notables, we feel the whim,
the wish to commit other names to print, those of George
Robinson, George Wheelhouse Robinson, Rui Sequeira or
Eduardo Souto Moura. Will Time, the builders of history,
one day speak of them or will they leave them in oblivion?
For these reasons, it is of the utmost necessity to find
a day that will direct everyone’s attention to the dimensions of human performance close to the Robinson Foundation. By chance, and chance is part of History, there is a
day which would bring together all and every capacity for
being emblematic and for containing within it a Cultural
dynamic. That day, 17 Semptember, is the date of birth – in
Portalegre, in Boavista – of the first historically significant
Robinson; I refer to George Whellhouse Robinson, the great
organiser of the Company and builder of the manufacturing realities with the capacity to trigger quality production
and wealth. But 17 September also corresponds to the date
of birth, in 1901, of the future teacher, José Maria dos Reis
Pereira, the unforgettable, magisterial author of ‘Toada de
Portalegre’, José Régio. This date must be pondered, must
be made an act of Culture, bringing together a permanence
of memory, José Régio, and the dynamic, but not of the
memory, news, George Wheelhouse Robinson, the Robinsons, the Factory, the Robinson Foundation.
It then becomes necessary to reflect on the temporal,
historical foundations of the urban, Portalegre experience,
its human traces, of the rural spaces, their customs, the discourse which all of this has made possible and those who
have made their mark or who have become lost with the
passing of the days; it is important not to forget the forgot-
102
tribuir para a percepção da realidade de construção de Cultura que se denota e que cresce em Portalegre.
Hoje temos de saltar mais alto e mais rápido, ser mais
explosivos. Possivelmente arriscar-nos a queimar parcelas de
obervação ou a perder elementos da construção dos pintores e do quadro. Temos de programar, contando com estruturas e componentes, uns mais aferidos do que os outros mas,
ainda que de forma elementar, dar a perceber que temos a
noção do arriscado que é aquilo que estamos a fazer.
Sem programar, sem percepção do ontem como do hoje, é
dificil traçar planos de Cultura que venham a intervir no dia-a-dia de cada um dos que em Portalegre vivem, por ali passam ou aí se esquecem do tempo e agradavelmente permanecem. Mais, é impossível conseguir Cultura, uma vez que esta
resulta sempre de movimento, de diferentes ritmos e perspectivas, de aceitações e rejeições e, por isso, tem de ser considerada, aceite, “bem querida”, por qualquer um daqueles,
os de Portalegre, os passeantes ou os recém-chegados.
De forma mais incisiva, clara e concludente, de tudo isto
disse por escrito António Pinto Ribeiro: “Autopreservando-se de um modo mais ou menos aberto, uma programação
está a fazer a sua história nos espectáculos e nos reportórios, actualizando e activando os seus artistas, os seus criadores, os seus temas. Estabelece uma relação com o que lhe
foi legado — o património —, reactiva-o e propõe o que
é imanente no presente e o que, porventura, deixará ao
futuro. É uma história imaterial em constituição e em revisão permanentes, mas representa uma das maiores expectativas da comunidade — a que se destina a programação
— porque é a vivificação do imaginário quer comum, quer
particular.”1
Na realidade na Fundação Robinson programamos estruturas e não actividades, estruturas que geram criação ou
103
ten and understand it; it would take years and years, teams
and individual researchers contributing to the perception of
the reality of building Culture which can be observed and
which grows in Portalegre.
Nowadays we must leap higher and more swiftly, be
more explosive. Possibly risk burning parts of observation
or losing elements of the construction of painters and of the
painting. We must programme, counting on structures and
components, some more assessed than others but, even if in
an elementary fashion, make it known that we are aware of
how risky what we are doing is.
Without programming, without a sense of yesterday
or of today, it is difficult to outline Cultural plans which
can intervene in the day-to-day life of each of Portalegre’s
inhabitants, those who visit it in passing or those who forget
time and pleasurably stay on. More than this, it is impossible to achieve Culture, since this always derives from movement, different rhythms and perspectives, from accepting
and rejecting, and has therefore to be considered accepted,
‘nurtured’, by any one of those, Portalegrans, the tourists or
the recently arrived.
In a more incisive, clear and authoratitave way,
António Pinto Ribeiro put all this in writing: ‘Preserving
itself in a more or less open way, a programming activity is making its history in the performances and repertoirs, updating and activating its artists, its creators, its
themes. It sets up a relation with what has been handed
down to it – heritage –, reactivates it and proposes that
which is immanent in the present and what it will perchance bequeath to the future. It is an immaterial history in a permanent state of being built and revised, but
it represents one of the greatest expectations of the community – the target of programming – because it is the
proporcionam meios de produção que conduzem a actividades. A programação que propomos, mais lenta, menos evidente, menos triunfalista, mais contida, pretende ganhar
tonalidades de uma política das artes e não de uma política
de eventos ou casos, ainda que de Cultura.
embodiment of the imaginary, both communal and individual’ 1.
Actually, at the Robinson Foundation we programme
structures, not activities, structures which generate creation or provide means of production that lead to activities. The programming we propose – slower, less obvious,
Auto-conhecimento
Portalegre conhece-se mal (desconhece-se?). Tem de se
conhecer e de se descobrir. Ora, também aí, a programação
da Fundação Robinson pode ajudar. O núcleo central da Fundação, a Fábrica, está na meia encosta do topo da cidade, está
a caminho da serra, essa serra do Alentejo tão mal conhecida
nas suas imposições identitárias. Se se consolidar o caminho
de Cultura, que vamos deixar construir pelo hábito, do interior para o exterior da Fábrica, é possível que os seus utentes tenham vontade de subir mais, de trepar até ao cimo da
serra e, assim, começar por aí a passear, deixando-se estar
e, depois, procurar conhecer o que se olha, o mesmo é dizer,
observar.
“Que o português médio conhece mal a sua terra —
inclusive aquela que habita e tem por sua em sentido próprio — é um facto que releva de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la. Descaso de consequências inumeráveis ou desprendimento sublime, herança contemplativa ou simples
reflexo de uma urgência vital que nunca deixou muita margem para teoria, esse comportamento é responsável pelo
penoso e já antigo sentimento que no século XIX foi quase o
lugar-comum dos seus homens mais ilustres, de que estamos
ausentes da nossa própria realidade.”2 E por isso, noutro lugar
e mais tarde, falando dos portugueses e de Portugal, Eduardo
Lourenço há-de escrever, “O encontro com os outros é o verdadeiro encontro connosco.”3
less triumphalist, more contained – aims to gain the tonalities of a politics of the arts and not of a politics of events or
cases, albeit of Culture.
Self-knowledge
Portalegre knows itself insufficiently (does not know
itself?). It has to get to know and discover itself. Here too
the Robinson Foundation’s programming can help. The central nucleus of the Foundation, the factory, stands on the
half slope of the topmost part of the town, it is on its way
to the mountain, that Alentejan mountain which is so little known in its identitary impositions. If we consolidate
the pathway of Culture, which we will let habit build up,
from inside the Factory to the outdoors, it is possible that
its users will feel like going further up, climbing to the top
of the mountain and thus begin to go for walks there, lingering, and then seek to get to know what meets the gaze,
which is the same as saying to observe.
‘That the average Portuguese know their country insufficiently – including that part of it where they live or consider their own in the true sense – is a fact that stems from
a more generic national stance, that of living their existence
more than understanding it. An inattention which is the outcome of countless consequences or sublime detachment,
contemplative legacy or the simple reflex of a vital urgency
which has never left much margin for theory, this stance is
responsible for the painful and by now old sentiment which
104
As realidades e o conceito de “Espaço Robinson”
O “Espaço Robinson” é o resultado de dois vectores temporais: a realidade da cerca do Convento de São Francisco
(século XIII,…) e a instalação nela da Fábrica de Cortiça pelo
inglês George Robinson (século XIX, …). “A industrialização, como é óbvio, não se explica por si mesma. Efeito de
um complexo processus de causas nacionais e internacionais,
está, por seu turno, na origem de modificações profundas na
economia, na sociedade e na vida cultural de um povo. Para
compreendermos capazmente o condicionalismo da industrialização de um país em dada época, deveremos entrar em
linha de conta, pelo menos, com os seguintes factores: curvas de preços, balança comercial, mentalidade e apetrechamento técnicos, ideologia económica, acontecimentos políticos e legislativos, e conjuntura internacional.”4
É História, e história ainda por fazer, não é memória.
A memória de um espaço pode ser detectada e estudada
nas suas realidades de adopção, ou de repúdio, de vivência
plena, ou de esquecimento por sobreposição de usos ou de
denominação toponímica, por vezes muito arredadas da História da paisagem aí acontecida anteriormente, sobretudo
se pensarmos paisagem como um complexo relacionado
de homens e actividades, de relação/integração no natural.
Como chama a atenção José Matoso, “guardar a memória
do agir colectivo, corresponde, portanto, a demonstrar que
o grupo existe, isto é que não é um mero agregado de indivíduos, que se pode distinguir de outros grupos, que mantém
a sua coerência, que é capaz de vencer ataques externos ou
dificuldades internas, e de subsistir como suporte dos indivíduos que o compõem.”5
O “Espaço Robinson” é articulado. A linha de serra que a
Fábrica é desce até às muralhas da Rua 31 de Maio, passando
por São Francisco, pela manufactura das Tapeçarias (no
105
in the nineteenth century was almost a commonplace of its
most illustrious men, that we are absent from our own reality’2. And because of this, in another place, later, speaking
of the Portuguese and of Portugal, Eduardo Lourenço would
write: ‘The encounter with others is the true encounter with
ourselves.’3
The ‘Robinson Space’: the realities and the concept
The ‘Robinson Space’ is the result of two temporal vectors: the fact of the enclosure of the Convent of St. Francis (thirteenth century, …) and the installation within it
of the Cork Factory by the British George Robinson (nineteenth century, …). ‘It is obvious that industrialisation cannot alone explain itself. The effect of a complex process of
national and international causes, it is in turn at the source
of deep modifications in the economy, in society and in the
cultural life of a people. Properly to understand the conditioning of the industrialisation of a country at a given time,
we must take into account at least the following factors:
price curves, business balance, the mentality and technical
equipment, the economic ideology, political and legislative
events, and the international state of affairs.’4
This is History, and a history yet to be written, it is not
memory.
The memory of a space can be detected and studied in
its realities regarding the adoption or rejection, fully lived,
or of oblivion due to the super-impostion of uses or toponimical denomination, at times very distant from the History of the landscape which had previously happened in that
place, above all if we think of landscape as a complex relation of people and activities, of relation/integration in the
natural. As José Matoso has remarked, ‘keeping the memory of collective action therefore corresponds to showing
antigo lagar dos Robinson), pela Casa do poeta José Régio,
hoje casa-museu, pelo Centro de Artes do Espectáculo, a
Praça da República e as suas casas apalaçadas, o Castelo e a
Barbacã, o Arquivo Distrital, noutra casa palácio, pela Biblioteca Municipal, outro antigo convento, o Museu Municipal,
espaço à sombra do eclesiástico desde a sua origem eclesiástica, o futuro Arquivo Municipal, na antiga Câmara, o largo
da Sé, onde irá nascer o Museu do Tesouro da Catedral e onde
se situa o Arquivo da Cúria Diocesana, o Museu das Tapeçarias, outra casa apalaçada que como Museu merece ser repensado, as muralhas e, o olhar a espraiar-se para fora da cidade,
mais uma vez a olhar planície, deixando em aberto a hipótese do passeio até ao Rossio, ponto de encontro e de cruzamento, sombra dos novos Paços do Concelho, antigo Colégio
Jesuíta e Manufactura em tempo de Pombal, que na era de
oitocentos também o foi, entre outros, dos Robinson.
A leitura histórico-espacial (urbana, peri-urbana e regional) que daqui resulta conduziu a um projecto de Cultura em
que se procurará intervir no tecido e nas realidades culturais de Portalegre marcando, quer num caso, quer no outro,
pela afirmação da diferença cultural do “ser” e “fazer” contemporâneo. Há já um exemplo claro do fazer em “Espaço
Robinson”. Das linhas de um equipamento industrial pré-existente, as tubagens dos topos edificados e de atravessamento dos espaços, a criatividade construtiva dos arquitectos Eduardo Souto Moura e Graça Correia traçaram a originalidade em forma de gestão da “cabeleira” técnica da Escola
de Hotelaria.
Estamos perante uma “Alta” de Cultura!
O resultado que se espera é o de cruzamento a vários
níveis e com vários públicos, ou seja, o “Espaço Robinson”
é um plural temporal e temático que, em síntese, será caminho imenso de explosões de Cultura. Ora já alguém, Eduardo
that the group exists, that is, that it is not a mere grouping
of individuals who can be distinguished from other groups,
which retains its coherence, can withstand external attacks
or internal difficulties and carry on as a support for the individuals who comprise it.’5
The ‘Robinson Space’ is articulated. The mountain line
that the Factory is descends to the walls of Rua 31 de Maio,
passing St. Francis, the Tapestry factory (in the old Robinson wine-press), the house of the poet José Régio, now a
museum, the Performing Arts Centre, Praça da República
and its mansions, the Castle and Barbacã, the Municipal
Archive – in another mansion –, the Municipal Library –
another old convent –, the Municipal Museum – a space in
the shadow of the ecclesiastical since its ecclesiastical beginnings –, the future Municipal Archive – in the old Town
Hall –, the Cathedral square, where the town will install the
Cathedral Treasures Museum and where we find the Archive
of the Diocesan Curia, the Tapestry Museum – another
mansion which deserves to be pondered anew as a Museum
–, the walls and, our gaze spreading out beyond the town,
once again looking at the plains, suggesting the possiblity
of strolling to Rocio, the meeting point and crossroads, the
shadow of the new Paços do Concelho, formerly a Jesuit College and Factory in Pombal’s day, which during the 1800s
belonged, it too, to the Robinsons, among others.
The historical-spatial reading (urban, peri-urban and
regional) stemming from this has led to a Cultural project
which will enable us to intervene in Portalegre’s cultural
fabric and realities, in both cases drawing the affirmation
of the cultural difference between contemporary ‘being’
and ‘doing’. We already have a clear example of doing in the
‘Robinson Space’. Out of the lines of a pre-existing industrial equipment, the tubes of the built tops and of crossing
106
Lourenço, nos escreveu e reescreveu que “em sentido óbvio,
toda a humanidade está em relação imediata com a cultura.
A cultura pode ser mesmo a definição humana do homem
como ser que enraizado na natureza, dela se separa pela criação de símbolos ligados à sua condição de ser falante. (…).
O que cedo distinguiu a Europa foi, não apenas uma maneira
particular de ser cultura, mas a invenção mesma da atitude
e da realidade da Cultura como domínio autónomo. [Os europeus] podem não ter sido nem os mais sábios, nem os mais
fortes, nem os mais ricos. Mas foram, e creio que o são ainda,
certamente os mais loucos, os mais loucos, precisamente, de
Cultura.”6 Esta é a loucura a compreender e a programar para
uma constituição plena e praticável de “Espaço Robinson”.
A construção deste mundo da Cultura, enquanto configuração de pensadores-investigadores, produtores especializados e fruidores, assenta numa multiplicação de liberdades e de saberes que não só conduzem à integração de projectos globais de desenvolvimento como possibilitam apetências para a criação de riquezas e de bem-estar. Mais do
que uma nova área económica a Cultura é uma envolvência,
transversal a toda a sociedade e a todos os poderes, e radica
num conjunto evidente de despesas e num, pouco evidente,
mesmo invisível!, conjunto de situações e realidades lucrativas. No entanto, as práticas de Cultura são um dos factores,
senão o factor, que mais pode contribuir para a ultrapassagem ou revisão de modelos económicos com repercussões na
vida dos cidadãos.
of the spaces, the constructive creativity of the architects
Eduardo Souto Moura and Graça Correia have carved originality in management form of the technical ‘hairdo’ of the
School of Hospitality.
We have before us a Cultural ‘High’!
The hoped-for result is that of criss-crossing at various levels and with various publics, that is, the ‘Robinson Space’ is a temporal and thematic plural which, essentially, will be an immense pathway for explosions of Culture. Someone, Eduardo Lourenço has written and re-written for us that ‘in an obvious sense, all of humanity stands
in immediate relation to culture. Culture can even be the
human definition of humankind as beings who, rooted in
nature, depart from it by creating symbols linked to their
condition of speaking beings. (…) What distinguished
Europe early on was not simply a peculiar way of being culture but the very invention of the attitude and of the reality of Culture as an autonomous domain. [Europeans] may
not have been the wisest, nor the strongest, nor the richest. But they were, and I believe still are, certainly the craziest, the craziest precisely about Culture.’6 This is the craziness we must understand and programme for a full and
workable consitution of the ‘Robinson Space’.
Building this Cultural world, as a configuration of
thinkers-researchers, specialised and consumers, rests on a
multiplicity of freedoms and knowledge which not only lead
to the integration of global development projects but also
make it possible to desire the creation of wealth and welfare.
A Fábrica
A Fábrica é a dimensão definitória da realidade do “Espaço
Robinson”. A Fábrica da “rolha”, da “cortiça”, a “corticeira”, a
“corticeira Robinson”, a “Robinson”, … Esta Fábrica é alem
de conteúdos económicos, empresariais ou laborais, um local
107
More than a new economic area, Culture is an envelopment,
transversal to all of society and to all powers, and is rooted
in an obvious set of expenses and in one, not very obvious,
even invisible!, set of lucrative situations and realities. However, the practices of Culture are one of the factors, if not
de vida quotidiana, em que o fabril de décadas criou hábitos,
rotinas, atitudes e histórias na História.
Uma grande Fábrica, como aquela que pela sua realidade
económico-social contribuiu, desde os meados do século
XIX, para a construção do “aglomerado” (com desculpas
pelo facilitismo da metáfora!) que é a sociedade de Portalegre. O “Espaço Robinson” é como o “aglomerado”. A cortiça
não deixa de ser cortiça, os grãos ganham consistência e coesão mas continuam a ser grãos. Quanto à cor que esses grãos
podem ganhar, é a cor da fruição e do bem-estar da Cultura.
O caminho de Cultura que ligará as fachadas da Igreja e
Convento de São Francisco e da Fábrica Robinson ao interior
da colina que conduz à serra, por entre claustros, armazéns
e espaços de terreno virgem, manterá não só as alternâncias
temporais como as formais, a propósito da Cultura que nele
se passeia.
Paulo Cunha e Silva escreveu, ao fazer um balanço da programação que criou para o Porto 2001. Capital europeia da Cultura, algo que a propósito do “caminho Robinson” se aplica
facilmente, mais, que temos como uma das metas de diferença quotidiana que gostaríamos de conseguir comunicar e
para ela criar adeptos capazes de proporcionar a sua aplicação. “Uma cidade é sobretudo um local de cruzamentos, não
há cidades feitas só com ruas paralelas. As cidades são locais
em que as pessoas podem mudar de direcção quando querem e, justamente, quando pretendem chegar a um qualquer
lugar. (…). A cidade física cruza-se com a cidade já sedimentada sob o ponto de vista imaginário.”7
A ideia é simples, clara, mas muito forte: “importa, assim,
fazer uma revisitação dos espaços previsíveis de uma forma
imprevisível.”8
O programador portuense registou a frase como um dos
tópicos do projecto, também ele de denominação apetecível,
the factor, which contribute the most to surpassing or revising economic models with repercussions in citizens’ lives.
The Factory
The Factory is the defining dimension of the reality of
the ‘Robinson Space’. The Factory of the ‘cork-stopper’, of
‘cork’, the ‘cork factory’, the ‘Robinson cork factory’, ‘Robinson’s’. This Factory is, beyond economic, entrepreneurial or
labour contents, a place of everyday life, in which decades of
manufacturing created habits, routines, attitudes and stories in History.
A great Factory such as the one which, by its socio-economic reality, contributed from the mid-nineteenth century
to the construction of the ‘agglomerate’ (with apologies for
the play on words) which is Portalegre society. The ‘Robinson
Space’ is like ‘agglomerate’. Cork does not stop being cork,
the grains gain consistency and cohesion but they carry on
being grains. As for the colour these grains may take on, it is
the colour of the enjoyment and welfare of Culture.
The pathway of Culture which will link the façades of
the Church and Convent of Saint Francis and the Robinson
Factory to the inner part of the hill leading to the mountain,
passing cloisters, warehouses and spaces of untouched land,
will keep not only the temporal but also the formal alternating, a propos of the Culture which strolls throughout it.
Summing up the programming he created for ‘Porto
2001. European Culture Capital’, Paulo Cunha e Silva wrote
a sentiment which applies easily to the ‘Robinson pathway’,
even more, that we have as one of the goals of everyday
diference which we wish to be able to communicate and create for it admirers capable of applying it. ‘A city is above all
a place where paths cross, there are no cities built just with
parallel streets. Cities are places where people can re-direct
108
A experiência do lugar. Denominação que nos faz de imediato
lembrar frases anteriores sobre a necessidade de Portalegre
se “conhecer”, ou talvez “reconhecer”, e por isso ter de ser
banhada de atitudes, lazeres, silêncios e ausências, mas também sons e espacialidades que levem os portalegrenses a pôr-se em acto de conhecimento.
their steps as they please and precisely when they want to go
to a place of their choice. (…) The physical city crosses the
city which has already become sedimented from an imaginary viewpoint.’7
The idea is simple, clear, but very compelling: ‘it is
thus important to revisit predictable spaces in an unpredictable way.’8
Integrar para proporcionar
criação social de Cultura
Aportar à cidade de Portalegre evidências de Cultura também significa concretizar a inovação social que se inscreve no
projecto da Fundação Robinson. Se na Fábrica trabalham os
que lá trabalham, se na Fábrica se criam e multiplicam produtos que a viabilizam e se na Fábrica os produtos se autenticam com uma marca, então na Fundação Robinson, que nasceu de uma Fábrica e numa Fábrica, o seu conceito de política
de Património, deverá cobrir estas realidades.
Temos aqui três afirmações fundamentais e ricas em conteúdo programável e, mais ainda, com necessidade imperiosa
de ser consideradas como vector de um programa de Cultura,
que se quer de Património e, por aí, das pessoas. Ao simplificar, por evidência, que “na Fábrica trabalham os que lá trabalham”, conseguimos cobrir toda a equipa de operários que
dá corpo à laboração fabril e detém um conjunto de competências, aquelas que permitem abrir a Fábrica e, nesse sentido, aproximam-nos da certeza que “conhecimento é abertura”. Depois, deixa-se escrito que “na Fábrica criam-se e
multiplicam-se produtos que a viabilizam”, transforma-se
a cortiça, cria-se o museu, o museu transforma ideias, provoca novos empregos e novas formas de subsistência. Por
fim “na Fábrica os produtos autenticam-se com uma marca”,
tal como as Publicações, ou outra marca exterior da Fundação
Robinson, que se quer articulada, inscrita nos mesmos con109
The Porto programmer recorded the phrase as one of
the topics of the project, it too appealing, The Experience of
Place. This designation immediately makes us think of prior
phrases on the need for Portalegre to ‘know’ itself, or perhaps to ‘recognise’ itself, for which reason it must be bathed
in attitudes, leisure, silences and absences, but also sounds
and spatialities which will lead Portalegrans to place themselves in an act of knowledge.
Integrating to enable the social creation of Culture
Bringing evidence of Culture to Portalegre also means
realising the social innovation embodied in the Robinson
Foundation project. If in a Factory there work those who
work there, if in a Factory products are created and multiplied which make it a going concern and in a Factory products are authenticated as a brand, then the Robinson Foundation, born of and in a Factory, its concept of heritage policy, should cover these realities.
We have here three basic statements, rich in programmable content, and, even more, containing the imperious
need to be regarded as vectors of a Culture programme
which must belong to Heritage and thus to people. In simplifying that ‘in a Factory there work those who work there’,
we succeed in covering all the team of workers which produces factory work and is in posession of a set of competences, those that allow the Factory to be opened and, in
ceitos, partilhando da mesma qualidade e intensidade de leitura, uma evidência exterior, uma imagem consolidada em
correspondência com a programação e a territorialidade do
“Espaço Robinson” e, consequentemente, com implicações
de Cultura.
Como se percebe de tudo o que se tem vindo a escrever, se
percebe e é implícito, todo este plano de construção de realidades de vivência de Cultura, implica uma constante, atempada e muito pormenorizada integração de estruturas.
Há que escrever sobre integração de estruturas, sobre a
coordenação que tem de ser parcela de peso na programação a realizar. Nem a realidade de Portugal, nem de Portalegre e seus arredores, mesmo que espraiados pela meseta castelhana, permitem que se pense de outro modo. Não pode
haver desperdício de meios e de capacidades criativas (como
se estas fossem controláveis…) e também não podem acontecer perdas de públicos fruidores, mas sim acumulação de
potencialidades nos que nas zonas existem e dos que a ela
vão ser conduzidos.
that sense, bring us closer to the certainty that ‘knowledge
is openness’. Then we commit to writing that ‘in a Factory
products are created and multiplied which make it a going
concern’, work is transformed, the museum is created,
the museum transforms ideas, gives rise to new jobs and
new forms of livelihood. Lastly, ‘in a Factory products are
authenticated as a brand’, just as the Publications or another
external sign of the Robinson Foundation, which aims to
be articulated, inscribed in the same concepts, share in the
same quality and intensity as regards its reading, an outer
sign, an image consolidated in line with a programming and
the territoriality of the ‘Robinson Space’ and as a result with
Cultural implications.
As can be gleaned from all of the above and is implicit
in it, all this plan to build realities of experiencing Culture
implies a constant, timely and very detailed integration of
structures.
There is a need to write about integrating structures,
about the coordination which must weigh heavily in the
programming to be carried out. Neither the reality of Portu-
Pólos de um caminho de Cultura
O resultado evidente da presença da Fábrica no “Espaço
Robinson” vai ser o Museu Robinson. Nele se conterão as
formas de existência patrimonial fabril, condensando num
mesmo corpo, sob características desenhadas num plano
museológico a afinar, e contidas num programa museográfico
pedagógico, despojado e integrado no sítio-Museu, um meio de
se conseguir dinâmica interpretativa que resultará num contacto informativo e problematizante com os diferentes visitantes. O Museu Robinson, que denominámos sítio-Museu, é
todo o complexo de vazios, edificados, equipamentos de solo
ou aéreos, armazéns e rampeamentos, portas, janelas, passagens interiores, tubagens e fios, telhados de telha, telhados-
gal, nor that of Portalegre and its environs, even if sprawling over the Castilian meseta, allow us to think otherwise.
There can be no waste of creative means and capacity (as if
these were controllable….), nor can there be a loss in public,
rather an accumulation of potentialities in those existing in
the area and in those who will be led to it.
Poles of a pathway of Culture
The visible result of the Factory’s presence in the ‘Robinson Space’ will be the Robinson Museum. This will contain
the forms of manufacturing heritage, condensed in a single
body, exhibiting features of an as yet to be refined museological plan, and contained in a paedagogic museographic
110
-terraços,… e os saberes da cadeia de produção, e as sociabilidades interiores e exteriores ao elemento humano fabril, e a
cortiça, e os seus produtos e utilizações,… Para além de tudo
isto, o Museu Robinson terá, pelo menos, um núcleo, o que
funcionará na Igreja do Convento de São Francisco, dando um
privilégio à base histórico-espacial que foi a cerca conventual.
No “Espaço Robinson” poderá instalar-se uma Fábrica de
Restauro e uma Reserva Municipal visitável. A recuperação
de grandes espaços, limpeza, conservação, restauro e estudo
das peças, arqueológicas, arqueológico-industriais, de imaginária religiosa, mobiliário, tecidos, pintura, ou em suporte
de papel são alguns dos campos de venda de serviços capazes
de suscitar alugueres de oficinas. Por outro lado, conseguir-se-á desta forma uma integração técnica no território que é
o “Espaço Robinson” do Alentejo, aquele desenhado pela cartografia dos montados tradicionalmente arrendados pelos
Robinson para abastecimento da Fábrica.
Outros dois pólos serão o da vida das Associações e o das
actividades de intervenção experimental e concretização de
linguagens contemporâneas, aqui se situando o estudo e produção em torno da realidade virtual e das artes de galeria ou
ligado a sectores já inscritos na cidade através do mundo da
tapeçaria, num percurso determinável do desenho do cartão
à tecelagem.
Não podem esquecer-se, num ambiente de bem-estar de
Cultura a oferta de fruição, orientada em vectores tão diversos como o de complemento e estudo cultural e o apoio da
sobrevivência do visitante por meio dos restaurantes. Estas
ofertas, consideradas necessárias desde o início do projecto,
mas que haverá que pensar melhor num futuro de maior
apropriação dos edificados têm, ainda, uma função fundamental de rentabilização. Uma grande livraria, a venda
seleccionada de produtos das áreas da música, dança, tea111
programme, streamlined and integrated in the Museumplace, a way of achieving an interpretative dynamic which
will provide the different visitors with a problematised
informative contact. The Robinson Museum, which we
have titled Museum-place, consists of the entire complex of
empty spaces, built-up spaces, equipment on the ground or
in the air, warehouses and ramps, doors, windows, indoor
passages, tubing and filaments, tiled roofs, terraced roofs,
etc. And the knowledge of the production chain, and the
sociabilities both internal and external to the Factory’s
human element, and the cork, and its products and uses,
etc. In addition to all this, the Robinson Museum will have
at least one nucleus, that which will operate in the Church
of the Convent of St. Francis, privileging the historico-spatial base that was the convent walls.
The ‘Robinson Space’ may come to house a Restoration
Factory and a Municipal Reserve, open to the public. Recovering large spaces, cleaning, conservation, restoring and
studying the pieces – archeological, industrial-archeological, religious, furniture, fabrics, paintings, some of which on
paper – these are some of the marketing fields for services
capable of leading to workshop rental. On the other hand,
this will be a way to achieve technical integration in the territory which is the Alentejo’s ‘Robinson Space’, that traced
by the cartography of the cork growing fields traditionally
rented by the Robinsons to supply their Factory.
A further two poles will be that of the life of the Associations and that of activities aimed at the experimental
intervention and realisation of contemporary idioms. Here
will be sited the study and production of virtual reality and
of gallery arts or linked to sectors already inscribed in Portalegre through the world of tapestry, in a trajectory from
the drawing of the cartoon to the weaving.
Proposta esquemática de ocupação do
território por grandes actividades, sobre
levantamento de Eduardo Souto Moura
e Graça Correia.
Schematic proposal for occupation of spaces
by major activity, as defined by Eduardo
Souto Moura and Graça Correia.
112
tro e cinema, restaurantes de oferta variada mas cobrindo as
necessidades médias e múltiplas dos visitantes, da cantina, à
taberna, ao restaurante gourmet, são situações a contemplar
dando resposta às necessidades de acesso aos produtos de
Cultura, quer em suportes de aprendizagem descritiva, quer
em suporte de qualificada exigência gastronómica.
In an atmosphere of Cultural well-being, there can
be no neglecting the offer of enjoyment, oriented in vectors as different as the cultural complement and study and
catering to visitors’ needs by means of restaurants. These
items to be offered, regarded as necessary from the beginning of the project but which will have to be thought out
in greater detail in a future when the ‘Robinson Space’
O caminho, a rua, o trânsito, as pessoas
e o passeio com ensaios performativos
Aos núcleos fundamentais do Museu Robinson, aqueles
que traçam a vida da cortiça na Fábrica, com a sua riqueza
arqueológico-industrial, e do núcleo desse Museu a funcionar na Igreja do Convento de São Francisco, onde viverá a
Colecção Rui Sequeira, mundo de imaginária sacra alto-alentejana, sucedem-se salas de exposição temporária, instalações de arte alternativa, arquivos e gabinetes de estudo da
proto-industrialização e industrialização no Portugal interior, núcleos de estudo e exibição das potencialidades da realidade virtual, oficinas de conservação e restauro, Associações e Escolas de Cultura anteriormente dispersas e inadequadamente instaladas pela cidade e a jovem Escola de Hotelaria. Criou-se um caminho, um caminho de Cultura.
Na Fábrica constrói-se, elabora-se, ensaia-se, como a cortiça é a terra, o local, o tempo transformado em revestimento
de árvore. Também a cultura de cada uma das Associações
é local e deixa ver como se constroem os espectáculos, que
ali são como são, com os seus erros, enganos e repetições,
sem luzes, sem palcos, em ensaio. Quando chegar a estreia,
os grupos descem a rua para caminharem para fora da cidade
ou para no CAEP dar lugar a espectáculos que aí serão agradáveis de outra forma, melhor, numa outra forma.
Um programa como este impõe que se criem condições
de trabalho e meios profissionais de aperfeiçoamento passí113
can rely on a larger built area, also serve the fundamental function of rationalisation. A large bookshop, the selective sale of products in the areas of music, dance, the theatre and film, restaurants catering to different tastes and
budgets, designed to cover visitors’ medium and multiple
needs ranging from the cafeteria to the taverna to the gourmet restaurant – these are situations to be considered in
our endeavour to meet the needs of access to the Cultural
products, whether in terms of descriptive learning or in
terms of gastronomy.
The Pathway, the street, the traffic, the people
and the promenade with performative acts
After the basic nucleii of the Robinson Museum, those
that follow the life of the cork in the Factory with its industrial-archeological riches, and the nucleus of the Museum
to be on display in the Church of the Convent of St. Francis,
where the Rui Sequeira Collection will be installed – a world
of High-Alentejan religious imaginary – provision has been
made for rooms designed to house temporary exhibitions,
installations of alternative art, archives and offices for the
study of photo-industrialisation and industrialisation in the
interior of Portugal, nucleii for the study and display of the
potential of virtual reality, workshops for conserving and
restoring, Associations and Culture Schools until now scattered throughout Portalegre in inadequate premises, and
veis de ser utilizados e rentabilizados em comum. Tem de se
possibilitar muita aprendizagem de dimensão estético-performativa que torne cada uma das Associações, de acordo
com o que são e com respeito pelo que querem ser, compatíveis com as exigências que se querem cada vez mais qualificadas e críticas por parte dos fruidores da Cultura e construtores de arte no mundo contemporâneo. Em grito escrito,
já em 1965 e republicado em 1993, na sequência de procura
da relação directa entre raiz e utopia, António José Saraiva
escreveu afirmativamente: “É preciso proclamar o direito à
arte como se proclamou o direito à vida, à instrução, etc.”9
the youthful Hospitality School. A pathway has been created, a pathway of Culture.
In the Factory we are building, essaying, trying out,
how cork is the land, the place, time transformed in the bark
of a tree. In the same way, the culture of each of the Associations is local and allows a glimpse of how performances
are constructed, which are the way they are there, with their
errors, mistakes and repetitions, without lighting, without
a stage, in rehearsal. When the first night arrives, groups go
out into the street to progress beyond the town or to give
rise to performances in CAEP which will be enjoyed differently there; rather, in a very different way.
O “Espaço Robinson” é global, melhor, “glocal”
O global conduz a práticas identitárias locais que, para
serem Cultura e para terem dimensão de intervenção sócio-económica deverão ter um lastro objectivo, mais ou menos
histórico, mas de Património programável e conducente a
novas fruições de cariz abrangente, de novo, global. A isto
chamamos, usando um conceito já internacionalizado e um
neologismo, “glocal”. E ser glocal é, nada mais do que aceitar a dimensão local e fazê-la beneficiar, com todas as consequências, da globalização do saber, da investigação, da comparação, da crítica mais e menos objectiva, da divulgação, do
acesso aos outros, do “estar em praça pública”, do ser tanto
de cada um dos cidadãos locais, como de todos os outros
cidadãos do mundo que querem fruir e estar nesse fazer e
criar de Cultura de raiz patrimonial.
Percebe-se que estas Publicações tenham uma alternância de leitura a dois níveis: aproximação ao mundo da língua
castelhana, capacidade de exportação internacional através
da língua inglesa. Em afirmação do dito prevê-se que, num
futuro próximo, estas mesmas Publicações venham a poder
ser colocadas on-line, em formato pdf, para uma mais fácil
A programme such as this demands the creation of
working conditions and improvement of professional
means capable of being used in a cost-effective way by
all. Conditions need to be put in place for learning within
an aesthetic-performative dimension which will make
each of the Associations – according to what they are and
respecting what they wish to be – compatible with the
demands which, it is hoped, will be ever more qualified
and critical on the part of the consumers of Culture and
builders of art in the contemporary world. In a written
cry, as far back as 1965 and re-published in 1993, following the search for the direct relation between root and Utopia, António José Saraiva stated affirmatively: ‘We must
proclaim the right to art, just as we proclaimed the right
to life, to education, etc.’9
The ‘Robinson Space’ is global or, better yet,
‘glocal’
The global leads to local identitary practices which, to
be Culture and achieve dimensions of socio-economic intervention, must have an objective content, more or less his-
114
discussão da Fundação e, por aí, participação do mundo global da Cultura. Foi este mesmo sentido que norteou a experiência positiva e de qualidade, aferida por institutos centrais do Estado, neste caso o Instituto Nacional de Arquivos/
Torre do Tombo, que foi a constituição de um arquivo electrónico por si mesmo aberto a todas as aportações futuras
de documentos, também ele preparado para permitir a sua
existência on-line. Por fim, na procura desta internacionalização do local importa vir a criar um sítio web de grande qualidade gráfica, na exteriorização evidente e imediata mas, e
também, capacidade ao apelo inter-comunicativo. Este sítio
deverá gozar de uma atenção privilegiada contemplando a
dimensão de base de dados arquivísticos, da documentação
histórica às recolhas de imagens e sons contemporâneos, à
informação sobre a vida do dia-a-dia e aos eventos momentâneos que a Fundação organiza ou em que participa.
torical but with a programmable heritage conducive to new
enjoyment of an, again, global enveloping nature. We call
this, using a concept which has become international and
is a neologism, ‘glocal’. And being glocal is no more than
accepting the local dimension and making it benefit – with
every consequence – from the globalisation of knowledge,
research, comparison, of more or less objective critiques,
of dissemination, of access to others, of ‘being in the public
forum’, of the being of each of the local citizens as of all the
other citizens of the world who wish to enjoy and be in that
making and creating of heritage-rooted Culture.
We can perceive that these Publications can be read
at two levels: moving closer to the world of the Castilian language, a capacity for international export through
the English language. In confirmation of this, we envision
that, in the near future, these Publications may be placed
online in pdf format. This will provide for an easier debate
Em tempo final, Portalegre
Portalegre, que são os portalegrenses na sua paisagem, e
que o serão cada vez mais, em número e em estar e ser, têm
de conseguir ganhar Cultura, vir “ao de cima” como a cortiça!
A cortiça, que assim o faz, ganhará razão de ser nas formas que a Fundação Robinson está, como na Fábrica, a tentar transformar fazendo uso do Património e do seu bem-estar de memória no mundo contemporâneo.
O objectivo estratégico da Fundação é colocar no centro
das atenções de Cultura da cidade o Património que o mesno
é dizer as pessoas, os cidadãos. Numa entrevista a Simon
Thurley, editada no jornal Público, o Presidente do equivalente ao IPPAR, que na Grã Bretanha recebe a denominação de English Eritage, ao responder à pergunta “o que é que
define o património?” é peremptório e não deixa espaço a
controvérsias: “As pessoas. Há dois erros comuns no que diz
115
about the Foundation and will ensure the participation of
the global world of Culture. It was this same desire that
inspired the positive and quality experiment carried out
by central State institutions – in this case the National
Archive Institute/Torre do Tombo, which set up an electronic archive open to all future incoming documents, it
too ready to allow its existence online. Lastly, in the search
for this internationalisation of the local it is important to
create a website offering great graphic quality in its external, immediate presentation, but also a capacity to appeal
to inter-communication. This site will benefit from privileged attention, contemplating the dimension of the archival database of the historical documentation through the
gathering of contemporary images and sounds, to information on day-to-day life and the events which the Foundation organises or in which it takes part.
respeito ao património. O primeiro é pensar que é sobre edifícios – é sobre as pessoas e o que elas investem nos tijolos.
O segundo é pensar que é sobre o passado – é sobre o futuro,
o que ficará depois de nós desaparecermos.”10 Por isso, desde
o início, fica patente na construção lata da missão estatutária da Fundação a preocupação com três dimensões inclusas
na definição de Património: a existência dos objectos; a sua
constituição como Património; o viver humano dos Objectos-Património, a presença sempre diversificada e permanente, passada, presente e futura, das pessoas. Os que trabalhavam nas funções mais antagónicas ou complementares, os que dirigiam ou sobreviviam, os que hoje estudam, ou
constroem, ou se preparam para aí ir habitar, ou investigam
o passado e projectam a programação futura, os que...
E foi desta maneira que a Fundação Robinson se começou
a constituir. Esse processo de constituição foi local e transitado para as autoridades da Cultura nacional, o que foi fácil
desde que perceptível a sua dimensão de Património, como
atrás definido, quer dizer, um espaço de reprodução da Cultura futura, rico de dimensão histórico-social e passível de se
tornar contemporâneo. Facilmente se percebeu que a Fundação é uma realidade espaço-temporal do século XXI. Mas a
esta constatação tem de se juntar a preocupação com a construção de uma programação. Teve de se ganhar uma objectividade criteriosa de investigação aprofundada, sempre em
primeiro lugar, e depois, da divulgação dos resultados como
dados semi-tratados ou conclusões parciais e do momento.
Por isso é tão importante e necessário construir memória. Essa tem sido, e deverá continuar a ser, uma das principais atitudes de Cultura na Fundação.
Abordando um possível “naufrágio da memória”, escreveu Vitorino Magalhães Godinho, em resposta à pergunta
“Ainda é possível construir uma memória para Portugal e
Lastly, Portalegre
Portalegre, which is Portalegrans in their landscape,
and who will be ever more so, in number and in being, must
gain Culture, ‘bob to the surface’ like cork! Cork, which does
this, will earn its place through the ways in which the Robinson Foundation is trying to transform – as it is doing in the
Factory – using Heritage and the well-being of its memory
in the contemporary world.
The strategic aim of the Foundation is to place at the
centre of Portalegre’s attention to Culture the Heritage
which is synonymous with the people, with the citizens.
In an interview in O Público newspaper, Simon Thurley, the
chair of the equivalent to the IPPAR, which in the UK is
known as English Heritage, answered the question: ‘What
defines heritage?’ in a peremptory fashion without leaving
room for controversies: ‘People. There are two widespread
mistakes when considering heritage. The first is to think
heritage is about buildings – it is about people and what
they invest in the bricks. The second is to think that it is
about the past – it is about the future, what will remain after
we are gone.’10 Therefore, from the start, the wider construction of the Foundation’s statutes shows a concern with
three dimensions included in the definition of Heritage: the
existence of the objects; their constitution as Heritage; the
human living of the Heritage-Objects, people’s always diversified and permanent – past, present and future – presence.
Those who worked in the hardest or complementary functions, those who directed or survived, those who now study,
or build, or get ready to go and live there, or research the
past and project future programming, those who…
And it was thus that the Robinson Foundation began
to consitute itself. This latter process was local and handed
to the authorities of national Culture, an easy undertaking
116
para os portugueses?”, uma conclusão fundamental. Essa
memória é possível mas, para além de europeia e humanista,
como corolário “tem de ter como base o espírito científico e a
capacidade de criação cultural e artística.”11
Criar hábitos, ciclos de actividades que se cruzarão, enredando tudo o que se for sendo capaz de construir. Este será
um ritmo tão simples e diferente como uma cadeira, como
se lê no ensaio de António Pinto Ribeiro. No caso “Espaço
Robinson”, tão complexo e diferente quanto a multiplicidade
fabril, as energias, as máquinas, os equipamentos, os espaços
de rua e fabris, as matérias primas, os componentes capazes de transfomar a matéria prima, as operárias, os operários e mais muitos mais operárias e operários, e as suas vidas
dentro e fora da Fábrica, na cidade de Portalegre, deixando
transpirar cortiça, rolhas, aglomerados, Robinson!, por todo
um espaço muito mais alargado do que se pensa (se costumava pensar tenta-nos dizer...).
Da cadeira “como objecto pertença da dança, do teatro e
da performance” escreveu António Pinto Ribeiro que “não são
todas iguais, não assumirão todas as mesmas funções simbólicas e cénicas, mas constituem uma presença metafórica
indicativa da relação destas Artes com o seu tempo. O recurso
à cadeira supõe a consideração de uma série de acções inequivocamente humanas: os ritos sociais –, como as refeições,
as reuniões, as decisões planeadas –, de integração cultural –,
como a leitura. Em particular elas definem o homem como
ser que, em determinados momentos do seu percurso histórico, necessita de conter a energia das acções e dos movimentos para pensar essa mesma energia. Só o ser humano tem a
particularidade de recorrer a este compasso que a cadeira lhe
permite, interrompendo, assim, a cadeia de movimentos.”12
Porque não escrever a Fundação no futuro, próximo,
dando corpo a ergonomias num verdadeiro jogo e expressão
117
since its dimension as Heritage, as defined earlier, was perceptible, that is to say, a space for the reproduction of future
culture, rich in a socio-historical dimension and capable of
becoming contemporary. It was easily understood that the
Foundation is a temporal-spatial reality of the nineteenth
century. But to this must be added a concern with the construction of programming. We had to achieve a selective
objectivity in deepening the research undertaken, always at
the fore, and then disseminating the results as semi-treated
data or partial conclusions of that particular moment.
This is why it is so important and necessary to build
memory. It has been, and must go on being, one of the
Foundation’s main Cultural attitudes.
Addressing a possible ‘shipwreck of memory’, Vitorino
Magalhães Godinho wrote a basic conclusion, in response to
the question, ‘Is it still possible to build a memory for Portugal and for the Portuguese?’ Such a memory is possible
but, beyond the European and the humanist, as a corollary
‘it must be grounded in a scientific spirit and the capacity
for cultural and artistic creation.’11
Creating habits, cycles of activity which will meet up,
linking everthing that we can build. This will be as simple and different a rhythm as a chair, as can be read in the
essay by António Pinto Ribeiro. In the case of the ‘Robinson Space’, as complex and different as the manufacturing multiplicity, the energy, the machines, the equipment,
the spaces of the streets and of the factory, the raw materials, the components capable of transforming the raw materials, the workers of both sexes and many more workers,
and their lives within and outside the Factory in Portalegre,
exuding cork, corks, agglomerate, Robinson!, in a far greater
space than is thought (we are tempted to say: than used to
be thought.)
de artes do corpo13, como tempos evidentes da unidade ou
ruptura consigo próprio ou, e só, como “presença ao ‘vivo’
do corpo”?14. A proposta é que as máquinas-técnicas e aqueles que as cuidam e conseguem pôr em laboração sejam um
campo de objectos passíveis de vir a ser artes, ao transformarem-se em fotografias, contos, aguarelas, documentário, instalações, performances, escrita informativa de jornal,
brinquedo de criança, moda de estilista, ficção literária ou ...
argumento cinematográfico! ...!
Com a Fundação Robinson Portalegre pode vir a melhorar
as construções de Cultura que passam pelas sua iniciativas
de continuidade. Paralelamente, a Fundação Robinson pode
construir uma dinâmica de explosões de cultura, como que
ritmos momentâneos e fulgurantes do fazer programado,
capazes de gerar afluxos de atenção, interesse diversificado
e público alargado.
Uma família, os ingleses Robinson, uma Fábrica, a da cortiça em Portalegre.
About the chair ‘as an object belonging to dance, to the
theatre and to performance’, António Pinto Ribeiro wrote
that ‘they are not all the same, they will not all take on the
same symbolic and scenic functions, but they constitute a
metaphorical presence indicating the relation of these Arts
with their time. Using the chair implies considering a series
of inequivocally human actions: social rituals – such as meals,
meetings, planned decisions –, having to do with cultural
integration – such as reading. They especially define humans
as beings who, at certain moments in their historical trajectory, need to hold in the energy of actions and movements in
order to think of that same energy. Only human beings have
this capacity of resorting to this step which the chair allows
them, thus interrupting the chain of action.’12
Why not inscribe the Foundation in a near future,
embodying ergonomics in a true play and expression of
the arts of the body13, as obvious times of unity or rupture
within the self or, and no more, as a ‘”live” presence of the
body’?14 Our proposal is that the techniques-machines and
those who look after them and are able to make them work
should be objects capable of becoming different forms of
art, as they transform themselves into photographs, stories, watercolours, a documentary, installations, performances, informative newspaper articles, a child’s toy, a
clothes designer’s product, literary fiction or … a screenplay!
With the Robinson Foundation Portalegre can improve
the constructions of Culture which have to do with its initiatives for continuity. In parallel, the Robinson Foundation can
build a dynamic of explosions of culture, as moments of brilliant rhythms of programmed action, capable of generating
the focus of attention, diversified interest and the wider public.
A family, the British Robinsons, a Factory, that of the
cork in Portalegre.
118
Proposta de um logótipo de marca
para a atitude definitória que são
as “explosões de Cultura”.
Design gráfico de Tvm Designers.
Proposal for a brand logo for the
defining attitude which are the ‘explosions
of Culture’. Design: TVM Designers.
Ingleses?!... e os operários que eles construiram em
espaço fabril e com os quais se preocuparam? e os os operários de hoje? e os administradores, mais ou menos conscientes da gestão económica ou do mundo comercial fora de Portalegre, tudo estes não são Robinson?
Uma marca de fazer corticeiro. Hoje, uma marca em construção do fazer de Cultura, para fora de Portalegre, que se
auto imagina, que se concretiza, que se planeia, que junta em
si as realidades económicas tanto quanto as formas de opinar e de discorrer, de pensar e estudar, de discutir e, mais que
tudo, de estar e de conversar.
British?!... and what of the workers they built up in a
manufacturing space and about whom they were concerned?
and today’s workers? and the managers, more or less aware
of the economic management and of the commercial world
outside Portalegre, are these not all Robinson?
A brand of cork production. Now a brand under construction of making Culture, beyond Portalegre, which imagines itself, which becomes real, which is planned, which
gathers within it the economic realities as well as the ways of
thinking and of discourse, of thinking and studying, of debating and above all of being and carrying out a conversation.
notas
notes
¹
¹
²
³
4
5
6
7
8
9
¹0
¹¹
¹²
¹³
¹4
119
Ribeiro, António Pinto - Ser feliz é imoral? Ensaios sobre cultura, cidades e distribuição. Lisboa: Cotovia, 2000, p. 61.
Lourenço, Eduardo - O labirinto da saudade. Psicanálise mítica do destino português. Lisboa: Dom Quixote, 1982, 2.ª ed., p. 69.
Lourenço, Eduardo - O labirinto da saudade. Psicanálise mítica do destino português. Lisboa: Dom Quixote, 1982, 2.ª ed., p. 201.
Serrão, Joel - Temas oitocentistas I. Para a história de Portugal no século passado. Ensaios. Lisboa: Livros Horizonte, 1980, 2.ª ed., pp. 83-84.
Mattoso, José - A função social da história no mundo de hoje. Lisboa: Associação de Professores de História, 1999, p. 20.
Lourenço, Eduardo - Nós e a Europa ou as duas razões. Lisboa: IN-CM, 1990,
3.ª ed., p. 158.
Silva, Paulo Cunha e - Cidade e programação cultural. O caso do Porto em
2001. Sociologia. Porto: F.L. da U.P., 2003, n.º 13, p. 131 e 137.
Silva, Paulo Cunha e - Cidade e programação cultural. O caso do Porto em
2001. Sociologia. Porto: F.L. da U.P., 2003, n.º 13, p. 135.
Saraiva, António José - Ser ou não ser arte. Estudos e ensaios de metaliteratura.
Lisboa: Gradiva, 1993, p. 168.
Público.Cultura, 28 de Março de 2005.
A memória da nação. org. Francisco Bethencourt, Diogo Ramada Curto. Lisboa: Sá da Costa, 1991, pp. 15 e 27.
Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo.
Lisboa: Cotovia, 1997, p. 12.
Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo.
Lisboa: Cotovia, 1997.
Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo.
Lisboa: Cotovia, 1997, p. 10.
Ribeiro, António Pinto - Ser feliz é imoral? Ensaios sobre cultura, cidades e
distribuição. Lisboa: Cotovia, 2000, p. 61.
²
Lourenço, Eduardo - O labirinto da saudade. Psicanálise mítica do destino
português. Lisboa: Dom Quixote, 1982, 2nd ed., p. 69.
³
Lourenço, Eduardo - O labirinto da saudade. Psicanálise mítica do destino
português. Lisboa: Dom Quixote, 1982, 2nd ed., p. 201.
4
Serrão, Joel - Temas oitocentistas I. Para a história de Portugal no século
5
Mattoso, José - A função social da história no mundo de hoje. Lisboa: Asso-
passado. Ensaios. Lisboa: Livros Horizonte, 1980, 2nd ed., pp. 83-84.
ciação de Professores de História, 1999, p. 20.
6
Lourenço, Eduardo - Nós e a Europa ou as duas razões. Lisboa: IN-CM,
1990, 3rd ed., p. 158.
7
Silva, Paulo Cunha e - Cidade e programação cultural. O caso do Porto em
2001. Sociologia. Porto: F.L. da U.P., 2003, no. 13, p. 131 and 137.
8
Silva, Paulo Cunha e - Cidade e programação cultural. O caso do Porto em
2001. Sociologia. Porto: F.L. da U.P., 2003, no. 13, p. 135.
9
Saraiva, António José - Ser ou não ser arte. Estudos e ensaios de metaliteratura. Lisboa: Gradiva, 1993, p. 168.
¹0
Público.Cultura, March 28, 2005.
¹¹
A memória da nação. org. Francisco Bethencourt, Diogo Ramada Curto.
Lisboa: Sá da Costa, 1991, pp. 15 and 27.
¹²
Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do
corpo. Lisboa: Cotovia, 1997, p. 12.
¹³
Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do
corpo. Lisboa: Cotovia, 1997.
¹4
Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do
corpo. Lisboa: Cotovia, 1997, p. 10.
Resumos e palavras-chave
Abstracts and key-words
Resúmenes y palabras clave
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 120-126, ISSN 1646-7116
PORTUGUÊS
Sonhar o futuro com o passado
Só podemos marcar a diferença se fizermos aquilo
que sabemos fazer melhor. Foi assim com os produtos tradicionais e é assim com a cortiça e com a
Robinson. Com a aposta na salvaguarda e valorização deste espaço através de um projecto inovador de qualidade associado ao prestígio do Arquitecto Souto Moura é possível provar que a parceria
entre a Câmara Municipal de Portalegre e a Fundação Robinson é uma mais valia para a região.
As portas da velhinha Fábrica Robinson abremse à cidade com numerosas iniciativas que visam
potenciar a vivência, a animação e o desenvolvimento da região.
PALAVRAS-CHAVE
Passado / Tradição / Património / Futuro /
Qualidade / Inovação / Requalificação / Souto
Moura
Para uma cronologia
da Fábrica Robinson
A história da Fábrica Robinson e da família que a
tornou um dos estabelecimentos industriais mais
prósperos e reconhecidos de Portalegre e da indústria corticeira portuguesa no geral é aqui revista
através das datas. Desde a fixação dos Robinson
em Portalegre, passando pela fundação da sua
fábrica de cortiça, em 1848, são apresentados os
momentos mais significativos, não só do empreendedorismo desta família de industriais que colocou constantemente a sua fábrica na vanguarda da
inovação no contexto da industrialização em Portugal, mas também da sua intensa actividade filantrópica, para sempre marcante para a cidade.
121
Trata-se do reflexo de uma vivência mais que secular, mas ilustrativo da sua importância no passado
e no presente.
Estatutos, actividades e factos relevantes
da constituição e funcionamento
da Fundação Robinson
Palavras-Chave
Industrialização / Indústria Corticeira / Portalegre
/ Família Robinson / Fábrica Robinson /
Cronologia
Fazer Fundação é mais do que criar o enquadramento jurídico adequado. Fazer Fundação é trabalho de todos os dias, numa actualização e intervenção permanente e transversal, com reflexos na
preservação do seu património social, cultural, histórico e arquitectónico. Fazer Fundação é criar dinâmicas, congregar vontades, fomentar a atractividade
e a vivência daquele a que convencionámos chamar
Espaço Robinson. É regenerar o tecido urbano e
reforçar a posição geoestratégica da cidade, na mira
do tão desejado alargando do âmbito territorial.
Documentos: os testamentos
dos primeiros Robinson
A fim de recuperar a memória dos Robinson em Portalegre, e no âmbito do projecto ArqRob, que visa a
constituição de um arquivo electrónico da Fundação, têm sido consultados alguns corpos documentais do Arquivo Distrital da cidade. A intensa actividade industrial e comercial da família Robinson
tornava premente o recurso aos tabeliães da cidade
como forma de oficializar e validar contratos. Estes
eram de natureza diversa mas surgem com maior
frequência escrituras de compra e venda e de arrendamento de cortiça.
No decorrer da pesquisa ao fundo dos Cartórios
Notariais de Portalegre foram encontrados os testamentos públicos de George William Robinson e
da sua mulher, Sarah Ann, datados de 9 de Março
de 1895, e de carácter bastante pragmático e elementar. No fundo da Administração do Concelho
de Portalegre foi encontrado o testamento cerrado
de Mary Chadwick Robinson da Silveira, filha de
George e de Sarah, redigido a 9 de Julho de 1896.
Palavras-chave
História Contemporânea / Portalegre / Notários /
Arquivo Distrital de Portalegre / Testamentos /
Robinson.
PALAVRAS-CHAVE
Fundação / História / Curriculum / Estatutos
/ Cultura / Cidade / Espaço / Integração /
Dinâmicas / Transfronteiriça
Estatutos da Fundação Robinson
A Fundação Robinson, instituída pela Câmara
Municipal de Portalegre e pela Sociedade Corticeira
Robinson Bros., S.A., tem por fim a prossecução de
actividades de carácter cultural, educativo, social e
científico, podendo também agir nas áreas do desporto e da filantropia. Como objectivo específico,
a Fundação visa a preservação do espólio arqueológico-industrial da Sociedade Corticeira Robinson
Bros., S.A. e de qualquer outro espólio cuja preservação lhe seja confiada.
A sua sede é em Portalegre, no Largo do Jardim
do Operário, 5, e a sua acção desenvolver-se-á na
região do Norte Alentejano mas também na Estremadura espanhola e no Reino Unido. É definido o
regime patrimonial e financeiro da Fundação bem
como a composição e as competências dos seus
órgãos, que são o Conselho de Curadores, o Conselho de Administração, o Conselho Consultivo e o
Conselho Fiscal.
Palavras-chave
Fundação Robinson / Estatutos / Natureza /
Missão / Organograma / Competências /
Regime financeiro / Regime patrimonial
Espaço Robinson – do passado
para o futuro
O projecto de requalificação do espaço Robinson
visa a conservação da memória histórica de Portalegre através do património construído, conjugando o novo com o antigo, tomando partido da
localização geográfica da fábrica e, através da abertura de um novo e estruturante “passeio urbano”,
articular o espaço Robinson com a cidade e o meio
envolvente. Procura-se dotar o espaço e a cidade de
novas valências que tornem o antigo espaço industrial atractivo e aprazível, aberto a todos, e ainda
corrigir a desordem que se verifica por várias décadas de crescimento urbano.
Em suma, a deslocação da Fábrica Robinson para
a zona industrial permitirá a reabilitação das suas
instalações, a redefinição das funções dos diversos edifícios existentes e a implantação de novos
espaços, como é o caso da escola de hotelaria ou da
frente urbana no limite sul.
Palavras-Chave
Arquitectura / Urbanismo / Portalegre / Património
histórico edificado / Fábrica Robinson / Reabilitação
/ Requalificação / Equipamentos urbanos
O logótipo da Fundação Robinson
A Fundação Robinson é uma nova entidade que
surge associada à memória histórica de Portalegre. Deste modo, a sua imagem é construída através do diálogo entre a identidade histórica e a sua
memória visual, contribuindo para a sua projecção
e qualificação enquanto agente contemporâneo de
desenvolvimento.
No sentido de promover a continuidade e abertura física entre a cidade e o património industrial
da Robinson recorreu-se ao elemento iconográfico
desde sempre presente na sua memória comum – a
silhueta das chaminés da fábrica, que se destaca no
perfil de Portalegre.
O desenho foi elaborado com grande economia
de meios e de elementos, de forma abstracta, não
figurativa e optando-se pela regularidade geométrica. Trata-se de um quadrado azul, com as “peças”
a branco, representadas a partir do ponto de vista
do observador, revelando a posição elevada do conjunto arquitectónico.
Palavras-Chave
Arquitectura / Design gráfico / Portalegre /
Fábrica Robinson / Fundação Robinson /
Memória e identidade / Logótipo
O design nas Publicações
da Fundação Robinson
O desenvolvimento do design de uma publicação
resulta sempre das expectativas do editor e da
contribuição da experiência, gosto e bom senso
do designer. Pretendeu-se que as Publicações da
Fundação Robinson tivessem um aspecto global uniforme e consistente; grande versatilidade
para que cada edição possa assumir o carácter
de revista científica, de catálogo ou de monografia; fossem bilingues (português e inglês); e dessem protagonismo à iconografia. Neste sentido,
foi com bastante reflexão que o formato, as escolhas tipográficas, o desenho da grelha, as cores e
a capa destas publicações foram definidas, a fim
de dar hipótese de se criarem soluções de arrumação diversificadas dentro de uma evidente unidade formal.
Palavras-Chave
Fundação Robinson / Publicações da Fundação
Robinson / Design / Formato / Escolhas
tipográficas / Desenho da grelha / Capa
Como a cortiça, a cultura “vem sempre
ao de cima”. Traços de um esboço de
programação de cultura
Em torno de Portalegre, de alguns dos seus elementos de memória de Cultura, esboça-se uma
hipótese de Programação a partir de um centro: o
Espaço Robinson. Desenhadas algumas das estruturas existentes e aquelas que, com elas vivendo,
as podem vivificar e alterar, lenta mas eficazmente,
constrói-se uma proposta exequível, do território à
paisagem da Fábrica, desta ao Espaço Robinson, e
sempre por vias de Património e de criação social
de Cultura.
PALAVRAS-CHAVE
Portalegre / Território / Paisagem da Fábrica /
Património /Espaço Robinson / Programação /
Criação social de Cultura
122
ENGLISH
A Dream of the Future through
the Lens of the Past
We can only make a difference if we do what we
know how to do best. This was the case of traditional products and this is how it is where cork and
Robinson’s are concerned. By our commitment to
safeguarding and valorizing this space through
a quality, innovative project associated with the
prestigius architect Souto Moura, it is possible to
prove that the partnership between the Town Hall
of Portalegre and the Robinson Foundation adds
value to the region. The gates of the old Robinson
Factory will be opened to the town, with humerous
activities designed to potentialize the living experience, energizing and development of the region.
KEY WORDS
The past / Tradition / Heritage / Future / Quality /
Innovation / Regeneration / Souto Moura
Towards a Chronology of the Robinson
Factory
The history of the Robinson Factory and of the family which turned it into one of the most thriving
and easily recognizable of Portalegre’s industrial
establishments and, in general terms, of the Portuguese cork processing industry is here reviewed
in terms of significant dates. Since the Robinsons settled in Portalegre, through the founding
of their cork factory in 1848, the most meaningful moments are here presented, not just of the
entrepeneurial spirit of this family of industrialists which unfailingly placed its factory at the forefront of innovation in the context of Portuguese
industrialization, but also in terms of its intense
123
philanthropic activity, which left an indelible mark
on the town.
This is the reflection of an experience lasting over a
century, but which illustrates its importance in the
past and in the present.
KEY WORDS
Industrialization / Cork industry / Portalegre /
Robinson Family / Robinson factory / Chronology
Documents: the First Robinsons’
Last Wills
In order to recover the memory of the Robinsons in
Portalegre, and within the framework of the ArqRob
project, whose aim it is to set up an electronic
archive for the Foundation, a number of documents
were consulted in the town’s District Archive. The
Robinson family’s intense industrial and commercial activity made it a pressing matter to turn to the
town’s tabellions for the purpose of rendering contracts official and valid. The latter were of varying
nature but the most commonly observed are deeds
of purchase and sale and of leasing cork.
During the course of research into Portalegre’s Notary
Public Archives, the public wills of George William
Robinson and his wife, Sarah Ann, came to light.
These are dated 9 March 1895 and display a markedly
pragmatic and elementary approach. In the Archives
of the Portalegre District Administration the sealed
will, dated 9 July 1896, of Mary Chadwick Robinson
da Silveira, George and Sarah’s daughter, was found.
KEY WORDS
Contemporary history / Portalegre / Notaries
Public / Portalegre District Archive / Last wills
and testaments / Robinson
Statutes, Activities and Facts relevant
to the Setting up and Running of the
Robinson Foundation
Making a Foundation goes beyond setting up the
appropriate legal framework. Making a Foundation is a day to day job, which implies updating and
taking action permanently and transversally, with
an impact on the conservation of its social, cultural, historical and architectural heritage. Making a Foundation means to create dynamics, bring
together different volitions, foment the appeal and
the experience of what we have come to call the Robinson Space. It means regenerating the urban fabric
and re-inforcing the town’s strategic position with a
view to a much desired territorial expansion.
KEY WORDS
Foundation / History / Curriculum / Statutes /
Culture / Town / Space / Integrating / Dynamics /
Trans-frontier reach
Statutes of the Robinson Foundation
The Robinson Foundation, set up by the Town Hall
of Portalegre and by the cork processing Robinson
Bros Cork Factory. has as its objective to conduct
cultural, educational, social and scientific activities,
also being in a position to act in the areas of sport
and philanthropy. As a specific goal, the Foundation
aspires to preserve the archeological-industrial collections of the above mentioned Company and of
whatever other collections may be entrusted to it.
The Foundation is based in Portalegre, at 5, Largo
do Jardim Operário, and its activity will be undertaken in the Northern Alentejo area, the Spanish
province of Estremadura and the United Kingdom.
The Statutes define the Foundation’s patrimonial
and financial management, as also the make-up
and areas of competence of its bodies, which are
the Council of Curators, the Administrative Council, the Consulting Council and the Fiscal Council.
/ Historical buildings / Robinson Factory /
Rehabilitation / Regeneration / Urban equipment
KEY WORDS
Robinson Foundation / Statutes / Nature /
Mission / Organogramme / Areas of Competence
/ Financial regime / Patrimonial regime
The Robinson Foundation is a new entity, with
strong ties to the historical memory of Portalegre. Thus its image is formed through a dialogue
between a historical identity and its visual memory, contributing towards its prestige and qualification as a contemporary agent for development.
Wishing to promote continuity and the physical opening up between the town and the Robinson industrial heritage, use was made of the iconographic feature ever present in the collective
memory – the silhouette of the factory’s chimneys,
reaching up into the skyline.
The logo was designed with great economy of
means and features, with an abstract, non-figurative approach, the option having been that of a geometric regularity. It consists of a blue square with
the pieces in white, represented from the observer’s viewpoint and displaying the elevated siting of
the architectural whole.
Robinson Space – from the Past
to the Future
The project for the regeneration of the Robinson
space aims at preserving the historical memory of
Portalegre through the factory buildings. It will combine the new with the old, profiting from the factory’s geographical location and, through the opening
up of a new, structuring “urban promenade”, it will
articulate the Robinson space with the town and
the environment surrounding these buildings. We
aspire to endow the space and the town with new
cogency which will render the old industrial site
attractive and appealing, open to all. Another of our
goals is to provide a remedy for the urban sprawl
which has come into being over several decades of
urban growth.
In sum, the relocation of the Robinson Factory to
the industrial estate will allow for the rehabilitation
of its premises, for redefining the purposes to which
the several existing buildings are put and for inserting new spaces, such as the Catering School or the
urban façade at the southernmost tip of the site.
KEY WORDS
Architecture / Urban planning / Portalegre
The Robinson Foundation Logo
KEY WORDS
Architecture / Graphic design / Portalegre /
Robinson Factory / Robinson Foundation /
Memory and identity / Logo
Design for the Robinson Foundation
Publications
Developing the design for a publication always
comes as a result of the publisher’s expectations
and of the designer’s contribution in terms of expe-
rience, taste and common sense. The objective was
to achieve a uniform and consistent appearance
throughout; great versatility so that each issue can
display its nature as a scientific review, catalogue
or monograph; that issues be bilingual (Portuguese and English); and that they enhance the iconography. To this end, a great deal of thought was
devoted to defining the format, the typographic
choices, the design grid, the colours and the cover,
with a view to enabling solutions for the diversified
placing within a clear-cut formal whole.
KEY WORDS
Robinson Foundation / Robinson Foundation
/ Publications / Design / Format / Typographic
choices / Design grid / Cover
Like cork, culture always ‘bobs to the
surface’. Traces of a draft of culture
programming
A tentative attempt at Programming around Portalegre, involving some of its elements which form
part of its Cultural memory, was drawn up around
a centre: The Robinson Space. Having designed
some of the existing structures and those which,
by living alongside them, are able to vitalize and
alter them, slowly but effectively, an accomplishable proposal was constructed, from the land to the
landscape of the Factory, and from that to the Robinson Space, always through the use of Patrimony
and the social creation of Culture.
KEY WORDS
Portalegre / Land / Factory Landscape / Patrimony /
Robinson Space / Programming / Social creation of
Culture
124
E S PA Ñ O L
Soñar el futuro con el pasado
Sólo podemos marcar la diferencia si hacemos lo
que sabemos hacer mejor. Es lo que ha ocurrido
con los productos tradicionales, con el corcho y
con Robinson. Apostando por la salvaguardia y la
valoración de este espacio a través de un proyecto
innovador de calidad asociado al prestigio del
arquitecto Souto Moura, podemos probar que el
partenariado entre el Ayuntamiento de Portalegre
y la Fundación Robinson es un valor añadido para
la región. Las puertas de la vieja Fábrica Robinson
se abren a la ciudad con innumerables iniciativas
para potenciar la vida, la animación y el desarrollo de la región.
PALABRAS CLAVE
Pasado / Tradición / Patrimonio / Futuro /Calidad
/ Innovación / Recalificación / Souto Moura
Para una cronología de la Fábrica
Robinson
Revisemos, a través de las fechas, la historia de
la Fábrica Robinson y de la familia que la convirtió en uno de los núcleos industriales más prósperos y reconocidos de Portalegre y de la industria
corchera portuguesa en general. Desde que los
Robinson se establecieron en Portalegre, pasando
por la fundación de su fábrica de corchos, en
1848, se presentan los momentos más significativos. No se trata solamente del emprendimiento
de esta familia de industriales que siempre situó
a su fábrica en la vanguardia de la innovación en
la industrialización portuguesa, sino además su
intensa actividad filantrópica, siempre determinante para la ciudad.
125
Se trata del reflejo de unas vivencias que abarcan
más que un siglo pero que ilustran su importancia
en el pasado y en el presente.
PALABRAS CLAVE
Industrialización / Industria corchera / Portalegre
/ Familia Robinson / Fábrica Robinson /
Cronología
Documentos: los testamentos
de los primeros Robinson
Con el objetivo de recuperar la memoria de los
Robinson en Portalegre, y en el ámbito del proyecto ArqRob para la constitución de un archivo
electrónico de la Fundación, hemos consultado
algunos cuerpos documentales del Archivo Distrital de la ciudad. La intensa actividad industrial y comercial de la familia Robinson obligaba a
recurrir a los tabeliones de la ciudad como forma
de oficializar y certificar contratos. Estos eran
muy diversos, aunque lo más habitual fueran
escrituras de compraventa y de arrendamiento
de corcho.
Durante la investigación en los fondos de los
Registros Notariales de Portalegre se encontraron los testamentos públicos de George William
Robinson y su mujer, Sarah Ann, con fecha de 9
de marzo de 1895, con un carácter bastante pragmático y elemental. En los fondos de la Administración del Concelho de Portalegre hallose el testamento cerrado de Mary Chadwick Robinson da
Silveira, hija de George y Sarah, redactado el 9 de
julio de 1896.
PALABRAS CLAVE
Historia Contemporánea / Portalegre / Notarios
/ Archivo Distrital de Portalegre / Testamentos /
Robinson
Estatutos, actividades y hechos
relevantes en la constitución y
funcionamiento de la Fundación
Robinson
Crear una Fundación es más que hallar el marco
jurídico adecuado. Crear Fundación es un trabajo
diario, con una actualización e intervención permanente y transversal, con reflejos en la preservación
de su patrimonio social, histórico y arquitectónico.
Crear Fundación es crear dinámicas, congregar
voluntades, fomentar el atractivo y las vivencias de
ese que hemos acordado llamar Espacio Robinson.
Significa regenerar la red urbana y reforzar la ubicación geoestratégica de la ciudad, con vistas al tan
deseado ensanchamiento del ámbito territorial.
PALABRAS CLAVE
Fundación / Historia / Currículum / Estatutos
/ Cultura / Ciudad / Espacio / Integración /
Dinámicas / Transfronteriza
Estatutos de la Fundación Robinson
La Fundação Robinson, instituida por el Ayuntamiento de Portalegre y por la Sociedade Corticeira
Robinson Bros., S.A., tiene como fin la promoción
de actividades de carácter cultural, educativo, social
y científico, pudiendo asimismo actuar en las áreas
del deporte y de la filantropía. Como objetivo específico, la Fundación procura la preservación de los
fondos arqueológicos e industriales de la Sociedade
Corticeira Robinson Bros., S.A. y de otros fondos
cualesquiera cuya preservación le sea confiada.
Su sede se ubica en Portalegre, en Largo do Jardim do
Operário, 5, y su acción se desarrollará en la región
del Norte Alentejano y también en la Extremadura
española y en el Reino Unido. Se define el régimen
patrimonial y financiero de la Fundación, así como la
composición y las competencias de sus órganos, que
son el Consejo de Curadores, el Consejo de Administración, el Consejo Consultivo y el Consejo Fiscal.
/ Rehabilitación / Recalificación / Equipamientos
urbanos
Palabras Clave
Fundação Robinson / Estatutos / Naturaleza /
Misión / Organigrama / Competencias / Régimen
financiero / Régimen patrimonial
La Fundación Robinson es una nueva entidad asociada a la memoria histórica de Portalegre. De este
modo, su imagen se construye a través del diálogo
entre la identidad histórica y su memoria visual,
contribuyendo a su proyección y calificación como
agente contemporáneo de desarrollo
Con el fin de promover la continuidad y la apertura física entre la ciudad y el patrimonio industrial de Robinson se recurrió al elemento iconográfico presente desde siempre en su memoria común
– la silueta de las chimeneas de la fábrica - que se
destaca del perfil de Portalegre.
Su diseño se elaboró con gran economía de medios
y elementos, de forma abstracta, no figurativa, y
optando por la regularidad geométrica. Se trata de un
cuadrado azul, con las “piezas” en blanco, representadas desde el punto de vista del observador, revelando
a posición elevada del conjunto arquitectónico.
Espacio Robinson – desde el pasado,
hacia el futuro
El proyecto de recalificación del espacio Robinson
tiene como fin la conservación de la memoria histórica de Portalegre a través del patrimonio construido, conjugando lo nuevo y lo antiguo, aprovechando la localización geográfica de la fábrica y, a
través de la apertura de un nuevo y vertebrador
“paseo urbano”, articular el espacio Robinson y la
ciudad y sus diferentes aspectos. Se intenta dotar
al espacio y a la ciudad de nuevos valores que vuelvan atractivo y apacible el antiguo espacio industrial, abierto ya a todos, y corrigiendo además el
desorden que se comprueba tras varias décadas de
crecimiento urbano.
En resumen, el desplazamiento de la Fábrica Robinson a la zona industrial permitirá la rehabilitación
de sus instalaciones, la redefinición de las funciones de los varios edificios que existen y la instalación de nuevos espacios, como la escuela de hotelería o el frente urbano al sur.
Palabras Clave
Arquitectura / Urbanismo / Portalegre /
Patrimonio histórico edificado / Fábrica Robinson
El logotipo de la Fundación Robinson
las Publicaciones de la Fundación Robinson tengan un aspecto global uniforme y consistente; una
gran versatilidad, para que cada edición pueda
asumir carácter de revista científica, de catálogo
o de monografía; que sean bilingües (portugués e
inglés) y que den protagonismo a la iconografía. En
este sentido, el formato, las opciones tipográficas,
el diseño reticular, los colores y la portada de estas
publicaciones han sido definidas con el objetivo de
crear varias soluciones de encaje, todo ello dentro
de una evidente unidad formal.
Palabras Clave
Fundación Robinson / Publicaciones de la
Fundación Robinson / Diseño / Formato /
Opciones tipográficas / Diseño reticular / Portada
Como el corcho, la cultura “siempre
viene arriba”. Trazos de un boceto
de programación de cultura”
El diseño en las Publicaciones
de la Fundación Robinson
Enfocando Portalegre y algunos de sus elementos
de memoria de la cultura, se diseña una posibilidad de programación en torno a un eje: el Espacio
Robinson. Con la configuración de algunas estructuras que ya existen y de otras que en la experiencia cotidiana podrán renovarse, alterándose lenta
pero eficazmente, se edifica una propuesta exequible, desde el territorio hasta el paisaje de la fábrica,
de ésta al Espacio Robinson, y siempre a través de
las vías del patrimonio y de la creación social de
cultura.
El desarrollo del diseño de una publicación es siempre el resultado de las expectativas del editor y de
la contribución de la experiencia, el buen gusto y
la sensatez del diseñador. Se ha pretendido que
Palabras Clave
Portalegre / Territorio / Paisaje de la Fábrica /
Patrimonio / Espacio Robinson / Programación /
Creación social de Cultura
Palabras Clave
Arquitectura / Diseño gráfico / Portalegre /
Fábrica Robinson / Fundación Robinson /
Memoria e identidad / Logotipo
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PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON
Normas para a elaboração e apresentação de textos
Submission Guidelines
Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 128-130, ISSN 1646-7116
1. Todos os artigos solicitados ou propostos para edição nas
Publicações da Fundação Robinson devem ser textos originais e ter em conta os seguintes parâmetros:
l.
Articles requested or proposed for publication must be
original texts and follow the guidelines below:
a) Submissions
a) Envio:
t pelo correio, um exemplar em papel acompanhado de
CD (formato Word). No caso do artigo incluir figuras,
estas deverão ser entregues em ficheiro autónomo com
a indicação no texto do local da sua inserção.
Publicações da Fundação Robinson
Fundação Robinson
Apartado 137
7300-901 Portalegre
t por correio electrónico para: [email protected]
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Robinson Foundation Publications
Robinson Foundation
Apartado 137
7300-901 Portalegre
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b) Format and length
b) Forma e dimensão:
t Artigos
- até 20 páginas (c. de 70 000 caracteres, com espaços
incluídos);
- letra 12, Times New Roman
- formatação a um espaço e meio (1,5)
- as notas ou referências bibliográficas deverão ser
inseridas em lista no final
- a bibliografia final não deverá exceder uma página
- são admitidos subtítulos, não numerados, escritos em linha própria e sem o uso de texto total em
maiúsculas
t Recensões
- até 3 páginas (c. 10 000 de caracteres, com espaços
incluídos)
- letra 12, Times New Roman
- formatação a um espaço (1,5)
129
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line spacing of 1.5;
c) Citações e referências bibliográficas
Exemplos:
Monografias
Apelido, Nome próprio – Título. Local: editora, data,
n.º de edição.
Artigos de Publicações em Série
Apelido, Nome próprio – “Título do artigo”. Título da
publicação. Local de publicação: editor, data, série, vol.,
n.º, p.?-?.
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Examples
Monographs
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Articles in publication series
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Publication "EESFTT QVCMJTIFS EBUF TFSJFT WPM OP
page.
d) Resumo e palavras-chave:
Os textos deverão ser acompanhados de resumos, com um
máximo de 10 linhas (750 caracteres, com espaços incluídos) e de 6 a 10 palavras-chave apresentadas do geral para
o particular.
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2. Procedimentos
t Será acusada a recepção ao autor no dia da chegada do
texto.
t Os autores serão informados da decisão de publicar ou
não os originais propostos, podendo igualmente sugerir alterações.
t O prazo de correcção e revisão dos textos, pelo autor, é
de uma semana a partir da data da sua recepção.
t Ultrapassado o prazo de revisão, as alterações serão da
responsabilidade das Publicações, sendo que o conteúdo do texto permanecerá inalterado.
2. Procedures
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suggested.
t 5IFEFBEMJOFGPSUIFBVUIPSTDPSSFDUJPOBOEQSPPG
reading of the texts is set at one week after receipt of
the texts.
t 4IPVME UIJT EFBEMJOF OPU CF NFU UIF Publications
XJMMUBLFSFTQPOTJCJMJUZGPSBOZBMUFSBUJPOTJOUIFGPSNBMMBZPVUPGUIFUFYU5IFDPOUFOUTPGUIFTBNFXJMM
remain unaltered.
130
INTERREG IIIA
COFINANCIAMENTO FEDER
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Para a história da Fundação Towards the History of the Foundation