UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
AVALIAÇÃO PROCESSUAL DE BURNOUT EM ENFERMEIROS
PARA E NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE
JOSÉ EDUARDO LIMA MARTINS
Orientadora:
Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro
Vila Real, 2010
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
AVALIAÇÃO PROCESSUAL DE BURNOUT EM ENFERMEIROS
PARA E NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE
Dissertação de Mestrado em Gestão dos Serviços de Saúde
JOSÉ EDUARDO LIMA MARTINS
Orientadora:
Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro
Vila Real, 2010
Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação
original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Gestão dos
Serviços de Saúde, sendo apresentada na Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro.
ii
À minha esposa Conceição
À minha filha, Carolina, a fonte da minha vida
iii
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto
Monteiro, pela orientação atenta, pela franca disponibilidade, pela motivação, pela
compreensão e pelas aprendizagens que me proporcionou em todos os momentos;
À professora Maria da Conceição Alves Rainho Soares Pereira, pela sua co-orientação,
pela sua disponibilidade, pelo incentivo e motivação, bem como pelos momentos de
aprendizagem que me proporcionou;
Ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, na pessoa da Enfermeira
Directora – Enfermeira Antonieta Alves, pelas facilidades concedidas, visando a
formação e a valorização dos seus recursos humanos;
Aos enfermeiros que se disponibilizaram a integrar o presente estudo;
À senhora D. Teresa Carvalho, pela paciência e dedicação com que configurou a versão
final desta tese;
Por último, mas não somenos proeminente, a toda a nossa família e amigos, pelo
incentivo, tolerância, paciência e compreensão demonstradas na presença de que se
viram privados e cuja afectividade foi fundamental para a concretização desta tese.
E a todos os que de algum modo e em algum momento se preocuparam comigo…..
iv
RESUMO
O aparecimento do burnout está relacionado com a exposição continuada a eventos de origem
laboral e são vários os estudos (Carlloto & Câmara, 2004; Maslach & Jackson, 1982; Queirós,
2005) a demonstrar que os profissionais que mantêm uma relação continuada e directa com
outras pessoas apresentam com mais frequência o síndroma de burnout, aumentando
significativamente quando esta relação é de ajuda. Os enfermeiros são considerados um dos
grupos profissionais mais afectados pelo síndroma de burnout, por integrarem nas suas práticas
uma filosofia humanística e uma forma de cuidar holística. A partir do processo de
fundamentação conceptual deste síndroma, as autoras propõem um conceito operacionalizado
em três dimensões: exaustão emocional; cinismo ou despersonalização e redução da realização
pessoal.
As razões apontadas orientam o desenvolvimento desta investigação que tem como finalidade
contribuir para o bem-estar dos enfermeiros na sua relação com o trabalho, que se repercute na
qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem, e que se concretiza nos seguintes
objectivos: i) caracterizar o síndroma de burnout nos profissionais de enfermagem quanto a
variáveis demográficas e socioprofissionais; ii) determinar a relação entre factores antecedentes
de burnout e a expressão do síndroma em profissionais de enfermagem; iii) determinar a relação
entre os factores antecedentes de burnout e as dimensões que constituem este síndroma. Como
instrumento de recolha de dados utilizou-se um questionário composto por váriáveis de
caracterização e pelo Questionário Breve de Burnout (Moreno Jimenez, Bustos, Matallana &
Mirrales, 1997), constituído por 21 itens, que permite avaliar antecedentes de burnout, síndroma
de burnout e consequências do síndroma.
Participaram no estudo 103 enfermeiros a desempenhar funções nos serviços de urgência e
cuidados intensivos de um centro hospitalar do norte do país. São predominantemente do sexo
feminino (73,8%), a média de idades é de 36,31 anos, a maioria mantém uma relação com
parceiro habitual, tem filhos e pessoas dependentes a seu cargo. A maioria detém licenciatura
em enfermagem. A média de anos na profissão é de 13,5 anos e a maioria está no nível 1 da
categoria profissional. Verifica-se que 93,2% realiza um horário por turnos e que o tipo de
vínculo laboral predominante, é o contrato em funções públicas. No que diz respeito à
interacção com os utentes, 57,1% atende menos de 30 utentes por dia e 80% do tempo diário é
dispendido na prestação de cuidados.
Relativamente ao síndroma de burnout, verificou-se que os enfermeiros apresentam uma média
ponderada de burnout de 2,55 e d.p.0,53 e que a dimensão despersonalização apresenta uma
v
média ponderada mais elevada (2,83d.p.=0,82). Uma correlação estatisticamente significativa e
positiva foi verificada entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma, bem como com
as dimensões do mesmo e entre o síndroma de burnout e as suas consequências. Constatou-se
que os elementos do sexo masculino, os que têm mais filhos, os que desempenham funções em
serviços de urgência versus os que desempenham em cuidados intensivos, os que trabalham por
turnos há mais de 12 anos, os que possuem um vínculo laboral mais estável, os que dispendem
mais de dez minutos na deslocação de casa para o trabalho, e os que atendem um maior número
de utentes apresentam valores médios de burnout mais elevados. Quanto à análise de regressão
linear, constatou-se que os factores antecedentes de burnout explicam 50% da variância do
síndroma de burnout; quanto às dimensões constituintes do sóndroma de burnout, explicam
32% da exaustão emocional, 18% da despersonalização e 40% da redução da realização pessoal:
O (re)conhecimento deste problema, no seio das organizações e dos profissionais de saúde,
constitui um passo decisivo para a definição de estratégias que o adjectivam como uma
“epidemia invisível”.
Palavras-chave: burnout, enfermeiros, unidades de urgência e cuidados intensivos.
vi
ABSTRACT
The appearance of burnout syndrome is related to permanent exposure to work-related events
and there are several studies ( such as Maslach & Jackson, 1982; Carlotto & Câmara, 2004;
Queirós, 2005) which show that the professionals who keep a permanent and direct relationship
with other people show burnout syndrome more often, increasing significantly when this is a
relationship of assistance. Nurses are considered to be one of the professional groups most
affected by burnout since they incorporate a humanistic philosophy and a holistic way of caring
in their profession. By using a process of conceptual validity of this syndrome, the authors
propose functional concept in three dimensions: emotional exhaustion, cynicism or
depersonalization and reduction of personal fulfillment.
The reasons mentioned above guide the development of this research, which aims to contribute
to the well-being of nurses in their relation to work. This is reflected in the quality and safety of
healthcare and is evidenced by the following goals: i) the characterization of burnout syndrome
on nursing professionals considering demographical and social -professional variables; ii) the
determination of the relation between the antecedent factors of burnout and its effects on
nurses; iii) the determination of the relation between the antecedent factors of burnout and its
dimensions. As a research tool we have used a questionnaire composed of several
characterization variables and by the Brief Questionnaire of “Burnout” (Moreno Jimenez,
Bustos, Matallana & Mirrales, 1997), composed of 21 items, which allows for the evaluation of
the antecedents of burnout, burnout syndrome itself and its consequences.
About 103 nurses, who are working in emergency rooms and intensive care services in the north
of Portugal, took part in the research. They are mainly female (around 73.8%), with an average
age of 36.31. They all maintain a stable relationship with a usual partner, and have children and
people who depend on them. The majority have a nursing degree. The average number of years
that they have been working as health care professionals is 13.5 and the majority has attained
the 1st level in their professional category. It is noticeable that 93.2% work in a timetable
divided into shifts and the main type of contract is that of public service. As far as interaction
with patients, 57.3% answered that they saw fewer than 30 patients per day and 80% of their
daily time is spent taking care of patients.
With regards to burnout syndrome, we verified that nurses had an average of 2.55 and s.d.0.53
burnouts with depersonalization dimension exhibiting a higher average (2.83 s.d.=0.82) . A
significant and positive statistical correlation was verified between the antecedent factors of
burnout and the syndrome itself, as well as its dimensions and also, between burnout syndrome
vii
and its consequences. It was ascertained that males, those who have more children, those who
work in emergency rooms versus those who work in intensive care, those who have been
working in shifts for over 12 years, those whose professional bond is more stable, those who
spend more than 10 minutes going to work, and finally those who take care of a large number of
patients exhibit higher levels of burnout (extremely high average).
As for the analysis of linear regression, we ascertained that antecedent factors of burnout
explain 50% of its variance; furthermore, the constituent dimensions of burnout syndrome
explain 32% of the emotional exhaustion, 18% of the depersonalization and 40% of the
reduction of personal fulfillment.
The recognition of this problem in the world of healthcare represents a decisive step for defining
strategies that call it the “Invisible Epidemic”.
Key Words: Burnout, Nurses, Emergency Rooms and Intensive Healthcare
viii
ÍNDICE
DEDICATÓRIA................................................................................................................................... iii
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................... iv
RESUMO ........................................................................................................................................... v
ABSTRACT ........................................................................................................................................ vi
LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS....................................................................................... xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................................................. xii
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1
PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO........................................................................................ 5
1. DELIMITAÇÃO CONCEPTUAL DE BURNOUT .................................................................................. 6
1.1. Evolução histórica .............................................................................................................. 6
1.2. Modelos teóricos de burnout .............................................................................................. 8
2. FACTORES ANTECEDENTES .......................................................................................................... 13
2.1. Factores antecedentes organizacionais ............................................................................... 14
2.2. Características da tarefa ...................................................................................................... 16
3. CONSEQUÊNCIAS .......................................................................................................................... 18
4. O BURNOUT NOS ENFERMEIROS ................................................................................................... 19
5. A AVALIAÇÃO DE BURNOUT NOS PROCESSOS DE GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES........................ 22
6. CONTEXTO DO ESTUDO: SERVIÇOS DE URGÊNCIA/UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS ......... 25
PARTE II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ......................................................................... 27
1. HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO .......................................................................................... 28
2. JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................................... 29
3. DESENHO DO ESTUDO ...................................................................................................... 30
4. AMOSTRA ......................................................................................................................... 31
5. VARIÁVEIS DO ESTUDO E OPERACIONALIZAÇÃO .............................................................. 32
6. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS.......................................................................... 33
ix
6.1. Questionário Breve de Burnout .............................................................................. 34
6.2. Fiabilidade .............................................................................................................. 35
7. PROCEDIMENTO NA RECOLHA DOS DADOS ...................................................................... 36
8. ANÁLISE DOS RESULTADOS ......................................................................................................... 37
PARTE III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................... 39
1. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................................... 40
1.1. Caracterização da amostra do estudo .................................................................................. 40
1.2. Descrição das sub-escalas ................................................................................................... 44
1.3. Análise correlacional e regressão linear simples ................................................................ 45
1.4. Comparação das médias do síndroma de burnout nos enfermeiros da população .............. 48
PARTE IV – CONCLUSÕES E SUGESTÕES ....................................................................................... 53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 58
ANEXOS ............................................................................................................................................ 67
I. QUESTIONÁRIO BREVE DE DE BURNOUT (QBB) ..................................................................... 68
APÊNDICES ....................................................................................................................................... 71
I. OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS .................................................................................. 72
II. INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS ............................................................................... 74
III. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA A RECOLHA DE DADOS ................................................... 79
x
LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS
Figura 1. Modelo geral explicativo de burnout .............................................................................. 10
Quadro 1. Fases do burnout (Modelo de Golembewski & Muzenrider, 1988) .............................. 12
Quadro 2. Fases do burnout (Modelo de Leiter, 1988, 1989) ......................................................... 13
Quadro 3. Sumarização dos trabalhos internacionais sobre o burnout em profissionais de
saúde ............................................................................................................................. 20
Quadro 4. Estrutura teórica do Questionário Breve de Burnout ..................................................... 34
Quadro 5. Valores de fiabilidade das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout em
diferentes estudos ......................................................................................................... 36
Tabela 1. Distribuição dos enfermeiros segundo as características sóciodemográficas ................. 41
Tabela 2. Distribuição dos enfermeiros segundo as características profissionais ........................... 43
Tabela 3. Estatísticas descritivas das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout ................... 44
Tabela 4. Correlação entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma ............................... 46
Tabela 5. Correlação entre o síndroma de burnout e as consequências .......................................... 46
Tabela 6. Regressão linear tendo como variável independente os factores antecedentes e
variáveis dependentes o síndroma de burnout, e as suas dimensões .............................. 47
Tabela 7. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o sexo ...................... 48
Tabela 8. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com a existência ou
não de filhos ................................................................................................................... 49
Tabela 9. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o serviço onde
desempenha funções ........................................................................................................ 49
Tabela 10. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o número de anos
de trabalho por turnos ..................................................................................................... 50
Tabela 11. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tipo de vínculo
laboral ............................................................................................................................. 51
Tabela 12. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tempo médio
de deslocação de casa para o trabalho ............................................................................ 51
Tabela 13. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o número de
utentes que atende por dia .............................................................................................. 52
xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
cit. - citado
cols. – colaboradores
d.p. - desvio padrão
MBI - Maslach Burnout Inventory
nº - número
p. - página
QBB - Questionário Breve de Burnout
s.d. - standard deviation
xii
INTRODUÇÃO
-1-
Introdução
A sociedade actual e de modo particular as organizações de saúde são confrontadas com
modificações profundas, motivadas pela rápida evolução científica e tecnológica, que se
repercutem profundamente em todo o tecido económico, social e cultural. Neste
contexto de mudança, emerge a problemática da preparação dos profissionais de saúde
para uma intervenção dinâmica e inovadora numa sociedade cuja característica
intrínseca é estar em permanentes processos de mutação.
Acompanhando as modificações científicas e tecnológicas, surgem novos modelos de
gestão que pretendem primordialmente melhorar a eficiência e eficácia dos
colaboradores, transformando as organizações e modificando o clima organizacional
existente. Um exemplo, na área da saúde, foi a transformação de 33 hospitais públicos
em sociedades anónimas e, posteriormente, em empresas públicas empresariais, que
alteraram de forma repentina o modelo e as práticas subjacentes à sua gestão.
É neste enquadramento que a atenção sobre todos os intervenientes, nomeadamente os
actualmente designados de colaboradores na sua relação com o trabalho, tem sido
objecto de reacções, de aprovação, indiferença ou oposição, mas que de uma maneira ou
de outra vão influenciar o desempenho profissional.
Segundo Rebelo (1998), a noção de prática está associada à realidade de um trabalho,
em que “as práticas não resultam das boas vontades dos seus agentes, mas decorrem da
intercepção de vários contextos – o social, marcado pela história; o do sujeito, lugar da
biografia de cada um; o da profissão, onde emergem e se constroem os modelos
profissionais (saberes, normas e valores que orientam a profissão); o da acção que
materializa os modelos organizacionais, lugares e estruturas concretas do trabalho a
realizar” (Rebelo, 1998, p. 16).
Tendo por base a teia de relação enumeradas pelo autor, e cientes da importância do
bem-estar e da felicidade numa das circunstâncias vivenciais mais absorventes do
homem moderno, o trabalho, consideramos oportuno estudar um dos factores que mais
contribui, de forma silenciosa, para condicionar a realização pessoal e profissional, a
saber o burnout.
-2-
Introdução
Utilizado pela primeira vez na literatura científica por Freudenberg, em 1974, o conceito
de burnout foi definido como um estado de fadiga ou frustração resultante da devoção a
uma causa, estilo de vida ou relação que falhou na produção da expectativa esperada
(Mendes, 1996).
Na década seguinte, foram inúmeros os autores que se debruçaram sobre esta temática,
elaborando outras definições do síndroma, no entanto, a mais consolidada foi a proposta
por Maslach e Jackson, em 1981. A partir do processo de fundamentação conceptual e
empírica deste síndroma, as autoras propõem um conceito sustentado em três dimensões
conceptualmente distintas, mas empiricamente relacionadas, que são: exaustão
emocional, cinismo ou despersonalização e redução da realização pessoal.
Segundo Maslach e Goldberg (1998), o aparecimento do burnout está relacionado com
a exposição continuada a eventos de origem laboral e que desencadeiam stresse. Vários
estudos (Carlloto & Câmara, 2004; Maslach & Jackson, 1982; Queirós, 2005),
demonstram que os profissionais que mantêm uma relação continuada e directa com
outras pessoas apresentam com mais frequência o síndroma de burnout, aumentando
substancialmente quando esta relação é considerada de ajuda, como são exemplo os
médicos, professores e enfermeiros. O grupo profissional de enfermeiros tem sido
objecto de vários estudos que apontam para uma prevalência considerável, como o
estudo de Queirós (2005), com enfermeiros a exercer funções em centros de saúde e
hospitais, ao revelar que um em cada quatro enfermeiros apresentava burnout no
trabalho, e que os enfermeiros que exerciam em unidades de urgência geral,
apresentavam níveis de exaustão emocional e física mais elevados.
Por conseguinte, os enfermeiros são considerados um dos grupos profissionais mais
afectados pelo síndroma de burnout, por integrarem nas suas práticas uma filosofia
humanística e uma forma de cuidar mais holística. Por vezes confrontam-se com
realidades adversas como a desumanização e despersonalização do sistema de saúde,
tendo que adoptar estratégias de adaptação que implicam um maior investimento
psicossocial nem sempre reconhecido e frequentemente sem as condições mínimas que
promovam a capacidade de resiliência.
-3-
Introdução
Torna-se, portanto, evidente a relação que existe entre o burnout e o meio laboral em
que o indivíduo exerce a sua actividade profissional, e daí emerge a importância de
identificar os aspectos relevantes e caracterizadores dos antecedentes do síndroma e das
consequências do burnout, perspectivando a integração deste fenómeno nas políticas de
gestão das organizações modernas e competitivas.
As razões apontadas sustentam o desenvolvimento desta investigação, que tem como
finalidade contribuir para o bem-estar dos enfermeiros na sua relação com o trabalho e
que se repercute na qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem prestados, e que
se concretiza nos seguintes objectivos: i) Caracterizar o síndroma de burnout nos
profissionais de enfermagem quanto a variáveis demográficas e socioprofissionais; ii)
Determinar a relação entre factores antecedentes de burnout e a expressão do síndroma
em profissionais de enfermagem; iii) Determinar a relação entre os factores
antecedentes de burnout e as dimensões que constituem este síndroma.
De forma sumária, este trabalho é constituído essencialmente por quatro partes. A
primeira, diz respeito às contribuições teóricas mais relevantes para a compreensão da
temática em estudo, centrado na perspectiva histórica do conceito, factores antecedentes
e consequências, bem como na dimensão deste fenómeno num grupo profissional
particular, os enfermeiros, e características dos serviços onde decorre o estudo. A
segunda, é referente à metodologia e, por isso, respeita os aspectos inerentes à
justificação e hipóteses da investigação, desenho do estudo, amostra, variáveis e sua
operacionalização e instrumento de recolha de dados, quanto à fiabilidade. Termina-se
com referência aos aspectos subjacentes aos procedimentos na recolha, tratamento e
análise de dados. A terceira parte, compreende a apresentação e discussão dos
resultados obtidos, confrontando-os com os estudos em domínios semelhantes e que
suportam a confirmação das hipóteses do estudo e a formulação das principais
conclusões. Por último, a quarta parte, pretende destacar os aspectos mais relevantes
deste estudo, quanto ao síndroma de burnout em enfermeiros que exercem funções em
serviços de urgência e cuidados intensivos, projectando-se a definição de algumas
estratégias que, integradas numa política de gestão global da qualidade, visem uma
maior satisfação e bem-estar profissional, bem como a qualidade e segurança dos
cuidados que este grupo profissional proporciona à comunidade servida por um centro
hospitalar de natureza regional.
-4-
PARTE I
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
-5-
Enquadramento Teórico
De acordo com Marconi e Lakatos (1996), a pesquisa bibliográfica é “um apanhado
geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem
capazes de fornecer dados actuais e relevantes relacionados com o tema” (p. 24). São
também de opinião que “…o estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação
do trabalho, evitar duplicações e certos erros, e representa uma fonte indispensável de
informações, podendo até orientar as indagações” (p. 24).
A orientação da revisão bibliográfica deste projecto visa fundamentar os diversos
aspectos relacionados com o tema e o problema deste estudo. Assim, parece-nos
imprescindível abordar as temáticas relacionadas com o burnout no que concerne à
evolução do constructo, modelos explicativos do burnout, factores antecedentes e
consequências bem como as principais características do contexto de trabalho dos
profissionais que exercem funções nos Serviços de Urgência/Unidades de Cuidados
Intensivos.
1. DELIMITAÇÃO CONCEPTUAL DE BURNOUT
A delimitação conceptual de burnout resultou da contribuição de múltiplos estudos
(Hingley & Harris, 1986; Leiter, 1989; Leiter & Maslach, 1988; Maslach & Pines,
1977; Maslach & Jackson, 1982), que contribuiram para fundamentar o seu conteúdo e
para identificar os factores antecedentes (indicadores e predictores), bem como para
prevenir o síndroma de burnout no âmbito das profissões cujos clientes são pessoas.
1.1. Evolução histórica
A origem do termo burnout é atribuída consensualmente a Freudenberg que, em 1974, o
utilizou para designar a situação que se manifesta através de uma verdadeira crise de
identidade, colocando em questão todas as características da pessoa, no plano físico
psíquico e relacional.
-6-
Enquadramento Teórico
O termo burnout tem sido definido de diversas maneiras por diferentes investigadores.
A definição mais abrangente (Freudenberger & Richelson, 1980) equipara burnout a
stresse, associando-o a diferentes factores de saúde e bem-estar, e sugere que o burnout
esteja ligado a uma expectativa elevada de sucesso. Em 1975, estes autores definiram
burnout como um conjunto de sintomas médico-biológicos e psicossociais
inespecíficos, como resultado de uma exigência excessiva de energia no trabalho, que
ocorre particularmente nas profissões envolvidas numa relação de ajuda.
A exposição crónica aos factores laborais de stresse pode levar os profissionais de
enfermagem a desenvolver o síndroma de burnout, termo definido inicialmente por
Freudenberger e posteriormente conceptualizado como um síndroma por Maslach e
Jackson (1982). De acordo com estas autoras, trata-se de um síndroma que se apresenta
como uma resposta inadequada ao stresse emocional crónico. Operacionalizaram o
conceito como um síndroma mutidimensional, constituído por três dimensões: Exaustão
emocional; Despersonalização; Redução de realização pessoal. Segundo Moreno
Jiménez, González Gutiérrez e Garrosa Hernandez (2001), o construto burnout fica
assim definido como uma disfunção pessoal e profissional num contexto laboral
basicamente de tipo assistencial. Como tal, o conceito de burnout pressupõe
deterioração e desgaste e a probabilidade de ocorrência é superior nas profissões
marcadas por uma forte matriz relacional.
Segundo Queirós (1995), o burnout é definido como uma síndroma psicológica de
exaustão, cinismo e ineficácia no local de trabalho.
As definições de burnout têm sido alteradas ou modificadas como resultado do
aprofundamento deste constructo e tem-se observado uma crescente diversidade na sua
aplicação. Pines e Maslach (1980) tinham como objectivo a análise dos estados
emocionais dos profissionais e as suas reacções aos clientes, relacionando-as com
determinadas características do seu trabalho.
Na década de 80, os estudos aplicaram o conceito de burnout a muitas áreas, cujos
profissionais estão expostos a elevados níveis de stresse no trabalho, não se limitando às
profissões cujos clientes são pessoas. Indubitavelmente que o desenvolvimento do
constructo de burnout está associado aos trabalhos de Maslach e colaboradores. Se bem
-7-
Enquadramento Teórico
que se deve reconhecer a Freudenberg o uso pioneiro do termo, embora o seu estudo
tenha sido um caso pontual, centrado nos aspectos clínicos e descritivos do termo. Foi
com Maslach e colaboradores que o burnout se converteu num paradigma de
investigação.
1.2. Modelos teóricos de burnout
Terminada a descrição da evolução do conceito de burnout, consideramos fundamental
conhecer os modelos explicativos do desenvolvimento do síndroma, pelo que
descrevemos de forma sumária os que julgamos mais significativos, tomando como
suporte a reflexão sistematizada de Queirós (2005).
O Modelo de House e Wells (1978), é um modelo que apresenta uma abordagem
cognitiva-perceptual com interpretação sobre o meio envolvente do indivíduo e as
variáveis pessoais. Identifica variáveis individuais e organizacionais que podem estar
relacionadas com o burnout. Segundo este modelo, o burnout instala-se em quatro
fases:
Fase 1. Grau em que a satisfação é conducente ao stresse, existindo duas circunstâncias
em que o mesmo pode surgir: aptidão inadequada e discrepância entre o
indivíduo e o meio de trabalho.
Fase 2. Stresse percepcionado com relação estreita entre a história e personalidade do
indivíduo e das variáveis organizacionais, que vão condicionar a passagem da
1ª à 2ª fase.
Fase 3. Resposta ao stresse.
Fase 4. Resultados do stresse. O burnout, enquanto experiência multifacetada do stresse
emocional crónico, está presente nesta quarta fase.
Para os autores deste modelo, segundo Pereira (1992) e Gomes (1995, como cit. em
Queirós, 2005), as três dimensões do burnout reflectem as três categorias de stresse e
sintomas principais: i) Fisiológicos, focando os sintomas físicos (exaustão emocional);
ii) Afectivo-cognitivos, focando as atitudes e sentimentos (exaustão emocional e
-8-
Enquadramento Teórico
despersonalização); iii) Comportamental, focando os comportamentos sintomáticos
(despersonalização e diminuição da produtividade no trabalho).
O Modelo de Cherniss (1980) considera o burnout como um processo, constituído por
diferentes estados sucessivos que ocorrem no tempo e representa uma forma de
adaptação às particulares causas de stresse (Cherniss, 1980, como cit. em Gomes, 1995;
Correia, 1997; Queirós, 2005). Este modelo baseia-se num estudo de dois anos, que
caracterizou profissionais de quatro áreas propensas ao burnout (saúde mental,
enfermagem, ensino e direito), no qual o autor propõe que determinadas características
do trabalho interagem com características do indivíduo, assim como com as suas
expectativas, provocando grande stresse, que o indivíduo experimenta a vários níveis.
Modelo geral explicativo de burnout (Maslach, Jackson & Leiter, 1996)
Este será o modelo mais explanado, na medida em que suporta o trabalho empírico.
Trata-se de um modelo multi-dimensional, em que o conceito de burnout foi definido
como a experiência individual do stresse, inserida num contexto de relações sociais e
envolvendo, portanto, a concepção que o indivíduo tem de si mesmo e dos outros. É
definido através das suas três componentes: a exaustão emocional, o ”cinismo” ou
despersonalização e a ineficácia ou sensação de diminuição no desempenho pessoal
(Maslach & Goldberg, 1998).
A exaustão emocional tem a ver com as sensações de inadequação (de não estar à altura
das solicitações) e de esgotamento dos recursos emocionais e físicos do indivíduo
(como desgaste, perda de energia, esvaziamento, debilitação e fadiga). O trabalhador
sente-se “drenado” emocionalmente e esgotado, sem qualquer fonte onde se reabastecer,
sem energia para ajudar outra pessoa que necessite de ajuda ou para enfrentar mais um
dia de trabalho. Esta componente representa a dimensão individual básica do stresse no
burnout.
A despersonalização ou “cinismo” corresponde à atitude negativa de reacção ao
trabalho excessivamente indiferente ou hostil, muitas vezes com perda de idealismo. É
inicialmente uma resposta autodefensiva à sobrecarga que resulta da exaustão
emocional, considerada uma espécie de amortecedor emocional, de “envolvimento
-9-
Enquadramento Teórico
indiferente”que pode eventualmente transformar-se em desumanização. A componente
“cinismo” representa a dimensão interpessoal do burnout.
A redução de realização pessoal ou ineficácia relaciona-se com o declínio dos
sentimentos de competência e de produtividade no trabalho. O indivíduo experimenta
um crescente sentimento de inadequação relativamente à sua capacidade de executar
bem o trabalho, com incapacidade de adaptação e diminuição da auto-estima. Este
sentimento pode induzir a uma auto recriminação, dada a incapacidade sentida de
realização no trabalho. Esta componente representa a dimensão de auto-avaliação do
burnout.
Figura 2. Modelo geral explicativo de burnout
(Maslach & Goldberg,1998, p. 65).
As três componentes do síndroma de burnout (Maslach & Goldberg, 1998), emergiram
de estudos sobre o burnout, os quais utilizaram como instrumentos questionários e
entrevistas dirigidos a diferentes profissionais que interagem com pessoas no
desempenho das funções profissionais. Os estudos relativos ao fenómeno de burnout,
foram inicialmente descritivos, seguindo-se uma etapa de investigação sistematicamente
empírica. Esta última etapa da investigação sobre burnout, contribuiu para identificar os
- 10 -
Enquadramento Teórico
factores presentes no local de trabalho que melhor predizem o síndroma de burnout
(sobrecarga de trabalho e conflito). Estes autores também afirmam que são mais
importantes os factores atrás mencionados do que os que se relacionam com a área
pessoal (diminuição: controlo, coping, suporte social, capacidades, autonomia e
envolvimento na tomada de decisão). Explicam o síndroma de burnout da seguinte
forma: primeiro ocorre a exaustão emocional, seguindo-se a despersonalização,
enquanto que a redução na realização pessoal se desenvolve separadamente. O síndroma
tem como consequências: diminuição do compromisso com a organização, elevada
rotatividade, absentismo e consequências físicas.
Este modelo multidimensional do burnout apresenta importantes implicações teóricopráticas. Permite uma ampla compreensão deste tipo de stresse no trabalho, através da
identificação de várias reacções psicológicas que podem ser vividas por diferentes
trabalhadores, num dado contexto social.
A primeira fase de investigação empírica de Maslach e colaboradores centrou-se na
avaliação de burnout. O instrumento que desenvolveram foi o Maslach Burnout
Inventory ([MBI], Maslach & Jackson, 1981, 1986; Maslach, Jackson & Leiter, 1996).
A interrelação entre as três componentes definidas foi objecto de subsequentes
teorizações e investigações.
No seguimento dos estudos de Maslach, outros autores aprofundaram a análise das
dimensões implicadas no desenvolvimento de burnout. Assim, surgem os modelos de
Gollembiewski e Muzenrider (1988), referidos por Queirós (2005).
O Modelo de Golembieweski e Munzenrider (1988)
É um modelo estruturado a partir dos resultados do MBI, num modelo em oito fases
evolutivas para a ocorrência de burnout, numa sequência com início em valores baixos e
a evoluir, conforme pode ser observado no Quadro 1. É considerada a pontuação das
três dimensões do MBI, sendo a despersonalização a primeira etapa do modelo. De
acordo com este modelo, níveis elevados na dimensão despersonalização podem ter
efeitos negativos na dimensão redução de realização pessoal. Um nível elevado nas
dimensões anteriores, pode desencadear níveis altos de exaustão emocional.
- 11 -
Enquadramento Teórico
Quadro 1. Fases do burnout (Modelo de Golembewski & Muzenrider, 1988)
Factores
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
Despersonalização
Baixa
Alta
Baixa
Alta
Baixa
Alta
Baixa
Alta
Redução de realização pessoal
Baixa
Baixa
Alta
Alta
Baixa
Baixa
Alta
Alta
Exaustão emocional
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Alta
Alta
Alta
Alta
Fonte: Adaptado de Queirós (2005)
O modelo indica unicamente que as fases são progressivas quanto aos níveis, mas um
indivíduo pode não seguir a sequência descrita no modelo e até pode não experimentar
algumas delas. O modelo explica duas formas de apresentação do burnout: crónico, com
uma progressão desde a primeira à oitava fase; agudo, em que o indivíduo ultrapassa
algumas fases, por exemplo da fase 1 à 5, e desta à 8. O modelo não explica como o
indivíduo recupera desde a oitava fase.
O Modelo de fases burnout de Leiter (1988, 1989)
Este modelo utiliza a amplitude total das três subescalas sem dicotomizar, admitindo
quatro fases possíveis (Quadro 2). Permite assegurar toda a riqueza do MBI, sem perda
de informação. Leiter (1989), refere que os profissionais que experimentam situações de
exaustão emocional, aquando da exposição a situações de stresse no trabalho (sobretudo
face aos pedidos relacionados com a função), reagem alheando-se, através da
despersonalização. Os profissionais perdem, assim, o compromisso emocional que
mantinham na sua relação laboral, ao mesmo tempo que continuam a sofrer de exaustão
emocional, produzindo-se uma avaliação negativa da sua realização pessoal, que conduz
ao síndroma de burnout. No modelo de Leiter, a exaustão emocional ocupa o lugar
central, pois está associada a níveis elevados de despersonalização e níveis baixos de
realização pessoal, bem como a outros aspectos, tais como o aumento do absentismo
devido à redução do compromisso/envolvimento. A despersonalização aparece como
uma tentativa ineficaz para lidar com sentimentos de exaustão, surgidos no
relacionamento interpessoal.
- 12 -
Enquadramento Teórico
Quadro 2. Fases do burnout (Modelo de Leiter, 1988, 1989)
Fases
1
2
3
4
Exaustão emocional
Baixa
Baixa
Alta
Alta
Despersonalização
Baixa
Alta
Baixa
Alta
Redução de realização pessoal
Baixa
Baixa
Baixa
Alta
Fonte: Adaptado de García (1990)
Maslach (2000), refere ainda que, de acordo com um modelo recente, quanto maior é a
disparidade ou o desajustamento entre a pessoa e o trabalho que executa, tanto maior
será a probabilidade de ocorrência de burnout. Este modelo especifica as áreas, nas
quais se pode produzir o desajustamento: sobrecarga, controlo, recompensa, suporte
social, adequação de competências à função, autonomia e envolvimento na tomada de
decisão. Em cada área, a natureza do trabalho pode não estar em harmonia com a
natureza do indivíduo, o que se traduz num aumento de exaustão, de cinismo e de
ineficácia. No entanto, quando existe uma melhor adequação nestas áreas, o resultado
provável é o empenhamento no trabalho.
2. FACTORES ANTECEDENTES
Os factores que estão na origem do burnout podem ser os mais variados, desde a
personalidade dos indivíduos implicados até à organização dos serviços e características
dos mesmos (Benach, Gimeno & Benavides, 2002).
De acordo com Moreno Jiménez e cols. (1997), quando analisaram a influência dos
factores antecedentes de burnout no que diz respeito ao contexto organizacional,
encontraram nos resultados dos estudos três sub-dimensões: organização, características
da tarefa e tédio. No entanto, em termos de factores antecedentes de burnout, as
características pessoais também são particularmente importantes (Leiter & Maslach,
2000).
- 13 -
Enquadramento Teórico
Segundo Queirós (1995), vários autores sugerem que a responsabilidade por pessoas é
geradora de mais stresse do que a responsabilidade por coisas, incluindo-se nessas
pessoas, entre outros, os doentes, os seus familiares, os colegas de trabalho e as
organizações profissionais.
2.1. Factores antecedentes organizacionais
O exercício da profissão de enfermagem implica um elevado grau de responsabilidade
sobre a vida, a saúde e o cuidado de outras pessoas. Segundo Fornéz Vives (1994), os
factores de stresse que podem desencadear burnout, associados à profissão de
enfermagem, agrupam-se em duas grandes categorias: os específicos da profissão, que
pressupõem uma elevada implicação emocional, e os relacionados com a organização
do trabalho. Quanto à primeira categorização, integram o contacto contínuo com o
sofrimento e a morte de doentes e outras características relacionadas com o conteúdo
específico do trabalho do enfermeiro. Na segunda, salienta-se a carga de trabalho, os
horários, a elevada responsabilidade, o clima organizacional, que são condicionados
pelas equipas de trabalho e a relação com os superiores hierárquicos (Fornéz Vives,
1994; Revicki & May, 1989).
Quando uma organização possui uma estrutura centralizada, significa que a tomada de
decisão se concentra num único ponto da organização, habitualmente na figura dos
gestores, directores ou administradores. Uma organização tem uma estrutura
descentralizada, quando os colaboradores possuem maior grau de controlo sobre o seu
trabalho, porque podem tomar de forma autónoma decisões ou porque as suas opiniões
contam e são efectivamente valorizadas para a superior tomada de decisão (Robbin,
1998; Ross & Altmaier, 1994).
O relacionamento entre colegas é de vital importância para a definição de um bom clima
de trabalho, sendo esta uma condição essencial de bem-estar e segurança no trabalho.
As relações precárias, fracas ou pobres entre colegas de trabalho, estão associadas a
sentimentos de ameaça, desconfiança, reduzido apoio social e ausência de empatia. A
falta de coesão do grupo pode desencadear comunicação disfuncional, o que contribui
para os conflitos interpessoais (Ramos, 2001). As relações interpessoais são
- 14 -
Enquadramento Teórico
potencialmente indutoras de stresse, uma vez que se verificam num contexto de
diferenças individuais. Para Selye (1980), aprender a viver com os outros é um dos
aspectos da vida de cada pessoa que mais stresse causa.
Um dos aspectos organizacionais que deve ser valorizado é o clima organizacional,
(Moos, Insel & Humphrey, 1974, como cit. em Moreno Jiménez, González Gutiérrez &
Garrosa Hernández, 2001). Se inicialmente o conceito era amplo e incluía aspectos
interpessoais, estruturais e organizacionais, actualmente, e segundo os mesmos autores,
o conceito foi delimitado aos aspectos interpessoais no âmbito laboral. Nesta linha, o
clima organizacional pode relacionar-se com o conceito de apoio social no trabalho,
sendo este um dos factores antecedentes considerado relevante. O conceito de apoio
social inclui apoio emocional dos colegas e supervisores perante o êxito ou fracasso,
bem como a ajuda no desenvolvimento do exercício profissional, dado que actua como
um factor motivacional, pois permite a partilha de valores e contextos (Garret &
McDaniel, 2001). Outros estudos mostram que a falta de apoio social no trabalho se
associa ao aumento de burnout em enfermeiros (Constable & Russel, 1986; Garret &
McDaniel, 2001; Gil Monte, Peiró & Vacarcel, 1996).
Um dos principais méritos do trabalho em equipa é o seu potencial papel na prevenção
do stresse. Contudo, implica mais responsabilidade e o desenvolvimento de
competências de relacionamento interpessoal (DeFrank & Ivancevich, 1998; Quick et
al., 1997, como cit. em Ramos, 2001). Por outro lado, cada vez mais se fomenta o
trabalho em equipa, como forma de aumentar a produtividade e promoção do
compromisso dos colaboradores para com a organização.
Quando a pessoa tem dificuldade em adaptar-se a uma estrutura organizacional
caracterizada pela centralização e complexidade organizativa, podem estar criadas
situações que desencadeiem stresse. Os enfermeiros desenvolvem a profissão em
contextos organizacionais diversos e complexos, quer em termos institucionais quer
departamentais, desempenhando as suas funções em organizações cujo esquema de
funcionalidade pode considerar-se uma burocracia profissionalizada (Mintzberg, 1988,
como cit. em Moreno Jiménez et al., 2001). Os principais problemas que resultam das
burocracias profissionalizadas relacionam-se com a coordenação entre os seus
- 15 -
Enquadramento Teórico
membros, os problemas de liberdade de intervenção, a adopção de inovações e respostas
disfuncionais por parte das direcções aos problemas organizacionais.
Mais especificamente, nos enfermeiros que desempenham funções em unidades de
emergência
e
cuidados
intensivos,
a
sua
intervenção
caracteriza-se
pela
imprevisibilidade nos processos de recuperação e manutenção da vida humana, logo,
estão mais expostos a factores antecedentes de burnout, como a falta de suporte social
do supervisor, a sobrecarga de trabalho, os ritmos de trabalho intenso em tempo
reduzido, a falta de experiência profissional, as dificuldades no processo de
comunicação na equipa, a interacção com os doentes e familiares.
O tipo de serviço pode influenciar os níveis de burnout, particularmente se
compararmos os profissionais que trabalham em unidades de emergência e unidades de
cuidados intensivos (Browning, Ryan, Thomas, Greenberg & Rolniak, 2007; Queirós,
1998; Quirós-Aragón & Labrador-Encinas, 2007), observando estes autores níveis
superiores nos profissionais que desempenham funções nas unidades de emergência.
2.2. Características da tarefa
As características das tarefas são factores potencialmente indutores de stresse.
Exemplos disso são: a variedade das tarefas, a autonomia do indivíduo para as realizar,
o nível de conhecimentos e de competências exigidas, a responsabilidade inerente à
tarefa, os problemas de eficiência.
Um dos clássicos stressores organizacionais associados à tarefa é a sobrecarga de
trabalho, referindo-se habitualmente ao excesso de trabalho, isto é, ao elevado número
de tarefas a cumprir. Este tipo de sobrecarga, associado à falta de tempo, designa-se por
sobrecarga quantitativa, originando muitas vezes horários alargados e necessidade de
realizar algumas actividades do trabalho em casa (Cartwright & Cooper, 1997, como cit.
em Ramos, 2001).
A importância do ritmo de trabalho, enquanto factor indutor de stresse, reside no
encontro entre o que o determina ou quem o determina, e o grau de controlo que a
pessoa pode exercer sobre as tarefas a desempenhar (Karasek & Theorell, 1990; Ross &
- 16 -
Enquadramento Teórico
Altmaier, 1994). A situação ideal seria aquela em que o ritmo de trabalho pudesse ser
controlado pelo próprio indivíduo. Contudo, se uma pessoa tiver dificuldade em tomar
decisões ou em planificar o seu trabalho, o ritmo determinado por si própria, poderá
constituir uma fonte de stresse.
Concordamos com Pines (1993), quando afirma que o burnout resulta de um processo
gradual de desilusão na busca de um significado existencial através do trabalho. Os
enfermeiros, dado as características do seu trabalho, procuram um significado
existencial e motivação através do mesmo. No entanto, por vezes deparam-se com
ambientes de trabalho nos quais os obstáculos e as situações de stresse são as mais
diversas, enquanto a recompensa, o apoio e os desafios são minímos, resultando
frequentemente em experiências subjectivas de fracasso.
O trabalho que resulta rotineiro e monótono, porque se faz sempre a mesma coisa,
durante muito tempo, implica um profissional passivo e concorre para a ocorrência de
sintomas associados ao stresse. Segundo o modelo de exigência – controlo de Karasek e
Theorell (1990), este tipo de trabalho repetitivo, fruto da repetição contínua de tarefas,
assemelha-se à sobrecarga de trabalho, pois não coloca grandes exigências ou desafios
ao trabalhador, não exigindo particulares conhecimentos ou competências.
O trabalho por turnos é uma necessidade social, pode até revelar-se positivo, pois além
de quebrar as rotinas dos horários fixos e habituais, permite ao indivíduo gozar de uma
disponibilidade de tempo vantajosa para algumas actividades sociais. No entanto, este
pode acarretar consequências psicossomáticas negativas e crónicas, quando se torna
prolongado no tempo. Para Gomes (1998), a desregulação do ritmo interno do
organismo, que pode acontecer por acção do trabalho por turnos, pode, entre outras
consequências, desencadear insónia, cefaleias e alterações gastrointestinais bem como
consequências psicológicas e sociais.
Aos enfermeiros pede-se um tempo considerável de interacção com pessoas, enquanto
processo de “…percepção, comunicação entre pessoa e ambiente e entre pessoa e
pessoa, manifestado por comportamentos verbais e não verbais. Cada indivíduo numa
interacção (enfermeiro e utente) é detentor de conhecimentos, necessidades, objectivos,
experiências passadas e percepções diferentes que influenciam as interacções” (King,
- 17 -
Enquadramento Teórico
1981, como cit. em Ackermann, 1989, p. 205). É sobretudo quando as pessoas se
encontram em situações problemáticas, que potencialmente estão associadas a
sentimentos de frustação, medo e desespero, desencadeando com maior probabilidade
stresse e exaustão emocional, que pode predispor ao desenvolvimento do síndroma de
burnout. Pode, então, verificar-se que este síndroma não é de instalação súbita, pelo
contrário, resulta de um desgaste que se instala de modo silencioso e progressivo.
3. CONSEQUÊNCIAS
O burnout é um problema real que necessita de programas especificos dirigidos aos
grupos vulneráveis, que é o caso dos enfermeiros no sentido de reduzir a ocorrência dos
efeitos
negativos
ou
consequências
(Braithwaite,
2008).
Relativamente
às
consequências do síndroma de burnout e dado que é um síndroma característico do
meio laboral, tem consequências negativas tanto a nível individual, como
organizacional, familiar e social (Maslach, 2000).
As consequências a nível físico parecem mais relacionadas com a exaustão emocional
conforme mencionado em vários estudos (Edwards & Burnard, 2003; Maslach & Leiter,
1997) ao demonstrarem que existe uma correlação com sintomatologia como: cefaleias,
fadiga crónica, perturbações gastrointestinais, insónias, tensão muscular, hipertensão.
A exposição a situações desencadeadoras de stresse crónico correlaciona-se com
manifestações de ansiedade, sentimento de incompetência e percepção de falta de
compromisso com os objectivos da organização, podendo também associar-se a
depressão em profissionais de saúde (Murcho, Jesus & Pacheco, 2009).
A exaustão emocional pode ter como consequência o aumento do absentismo,
diminuição da produtividade e ambas podem afectar a carga de trabalho dos outros
profissionais e comprometer os cuidados aos utentes.
O burnout pode originar uma deterioração da qualidade dos cuidados e serviços
prestados aos doentes e/ou clientes na medida em que uma das consequências é que o
indivíduo que vive um processo de burnout pode exercer uma influência negativa nos
colegas, como desencadear conflitos, perturbar a execução das tarefas. O burnout tem
- 18 -
Enquadramento Teórico
sido associado a várias formas de afastamento do trabalho – absentismo, intenção de
abandonar o trabalho e rotatividade. A intenção de demissão, rotatividade (turnover), é
um problema com implicações especialmente para as organizações cuja actividade
envolve o atendimento de pessoas. A maior parte dos estudos que investigaram a
intenção de rotatividade dos trabalhadores demonstraram que a rotatividade desejada ou
intencional estava significativamente relacionado com o burnout (Maslach & Jackson,
1984).
4. O BURNOUT NOS ENFERMEIROS
O trabalho constitui um dos aspectos mais importantes na formação da identidade
socioprofissional dos indivíduo, pois é através dele que ocorre a afirmação de si mesmo
e o desenvolvimento mais complexo da interacção social, podendo, no entanto, o
trabalho ser um factor gerador de stresse.
O síndroma de burnout apresenta uma ocorrência elevada entre os profissonais de saúde
e de modo particular entre os enfermeiros, conforme evidenciam os estudos
epidemiológicos europeus e canadianos. De acordo com Delbrouck (2006), os
resultados são convergentes, nas diferentes tipologias dos serviços, com a exaustão
profissional a atingir cerca de um quarto dos enfermeiros de hospitais gerais, também
corroborado por Queirós (2005), ao concluir que “um em cada quatro enfermeiros
apresentam burnout no trabalho” (p. 234).
O Quadro 3 pretende compilar os dados sobre o burnout em profissionais de saúde
quanto ao tipo de amostra, instrumentos de avaliação de burnout e principais
conclusões.
- 19 -
Enquadramento Teórico
Quadro 3. Sumarização dos trabalhos internacionais sobre o burnout em profissionais de saúde
Amostra: contexto
Conclusões
Moreno-Jiménez, Villa-George, Rodríguez-Carvajal, Villalpando-Uribe (2009)
Profissionais de saúde n=380, secretárias,
admnistrativos e directores.
Instrumento: - QBB;
Serviços de saúde pública no México.
- Os resultados obtidos mostraram claramente a complexidade dos
factores intervenientes na predição das consequências negativas
relacionadas com o trabalho, tal como no QBB acontece com os
problemas organizacionais, sociofamiliares e sintomatológicos.
- Os resultados também indicam que grande parte das
consequências negativas se correlacionam com o síndroma de
burnout. Confirmou-se que a exaustão emocional de associa
fortemente com as consequências do burnout.
Moreira, Magnago, Sakae, Magajewski (2009)
Profissionais de saúde n=269, 20
- Observou-se uma relação significativa entre os pedidos de
enfermeiros, 132 técnicos de enfermagem
licença para tratamento de saúde e níveis de burnout
e 127 auxiliares de enfermagem
maiselevados;
Instrumento: - MBI;
Hospital Nossa Senhora da Conceição
(Rio de Janeiro).
Sahraian, Fazelzadeh, Mehdizadeh, Toobaee (2008)
Enfermeiras n= 180
Instrumento: - MBI;- Questionário geral
de saúde (GHQ)
Hospitais no Shiraz, Irão (5)
Román Hernandéz (2003)
- No serviço de psiquiatria as participantes, apresentam níveis
mais elevados de Burnout que nos outros serviços estudados.
Enfermeiros - 118
Centro saúde: 55
Hospital: 63
Médicos - 169
Centro saúde: 89
Hospital: 80
Instrumento: Questionário Breve de
Burnout
- Médias mais elevadas de:
. Despersonalização (síndroma);
. Tédio e características da tarefa, (antecedentes)
. Os profissionais que desempenhavam funções em Centros de
Saúde apresentaram valores significativamente mais elevados
de burnout;
. Os profissionais que trabalhavam em hospitais apresentaram
valores significativamente mais elevados de despersonaliza
ção, (síndroma).
Adali, Priami (2002)
Profissionais de saúde: Enfermeiros n=223
Instrumento: MBI
- 5 Hospitais Gregos;
- Os enfermeiros dos departamentos de emergência apresentam
maiores níveis de burnout que os enfermeiros das unidades de
cuidados intensivos e serviços de internamento de medicina.
Moreno Jimenez, Garrosa-Hernandez, Gálvez, González, Benevides-Pereira (2002)
Enfermeiros - 247
Instrumento: Cuestionário de Desgaste
Profesional de Enfermería (CDPE)
Hospitais (5)
- Entre as variáveis de corte sócio-demográfico e o síndroma de
burnout observou-se uma relação fraca:
- Quanto à relação entre o tipo de contrato (contratado ou efectivo)
observou-se uma relação positiva e significativa; os enfermeiros
efectivos apresentaram níveis superiores de redução de
realização profissional;
- Neste estudo, o tempo de interacção diária com os utentes,
mostrou ser o melhor preditor do processo de burnout;
Relativamente aos estudos realizados em Portugal, salienta-se o estudo de Queirós
(2005) que numa amostra de 965 enfermeiros a exercerem funções em centros de saúde
quer em hospitais em que o instrumento utilizado foi o MBI-GS concluindo que:

Um em cada quatro enfermeiros apresenta burnout no trabalho;
- 20 -
Enquadramento Teórico

O género não diferência os níveis de burnout no trabalho;

O burnout no trabalho exerce mais influência sobre o burnout conjugal, do que o
inverso;

Os enfermeiros que trabalham na urgência geral, surgem com níveis de exaustão
emocional e física mais elevados;

O ponto de partida para o burnout pode-se encontrar na insatisfação geral no
trabalho e na ineficácia profissional.
Salienta-se também o estudo de Rainho (2005), que utilizou pela primeira vez em
Portugal o QBB para estudar o síndroma de burnout numa amostra de 160 enfermeiros
que exerciam funções em contexto hospitalar e centros de saúde. Teve como principais
conclusões:

A observação de diferenças estatisticamente significativa na média ponderada de
burnout entre os enfermeiros que trabalhavam no hospital e nos centros de saúde,
sendo superior nestes;

A verificação de uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre
factores antecedentes de burnout e o síndroma;

A demonstração de que os factores antecedentes são um preditor significativo do
síndroma de burnout, através da análise de regressão.
Já, Garrosa, Rainho, Moreno-Jiménez & Monteiro (2010), que utilizou o Cuestionário
de Desgaste Profesional de Enfermería (CDPE) para estudar o síndroma de burnout
numa amostra de 98 enfermeiros a frequentar um curso pós-laboral para aquisição do
grau de licenciado em Enfermagem, teve como conclusão a existência de correlações
positivas moderadas e significativas dos factores antecedentes com as dimensões do
síndroma de burnout.
Os enfermeiros são considerados dos grupos profissionais mais afectados pelo síndroma
de burnout, por integrarem nas suas práticas uma filosofia humanística e uma forma de
cuidar mais holística. Por vezes, confrontam-se com realidades adversas como a
desumanização e despersonalização do sistema de saúde, tendo que adoptar estratégias
- 21 -
Enquadramento Teórico
de adaptação que implicam investimento psicosocial nem sempre reconhecido e
frequentemente sem as condições mínimas que promovam a capacidade de resiliência.
5. A AVALIAÇÃO
DE
BURNOUT
NOS
PROCESSOS
DE
GESTÃO
DAS
ORGANIZAÇÕES
Uma organização é um sistema composto por actividades humanas aos mais diversos
níveis, constituindo um conjunto complexo e multidimensional de personalidades,
pequenos grupos, normas, valores e comportamentos, ou seja, um sistema de
actividades conscientes e coordenadas de um grupo de pessoas para atingir objectivos
comuns (Chiavenato, 1995).
As organizações hospitalares são cada vez mais sistemas complexos compostos por
diversos departamentos e profissões, tornando-as sobretudo uma organização de pessoas
confrontadas com situações emocionalmente intensas, tais como a vida, doença e morte,
as quais podem causar ansiedade e tensão física e mental. Sendo o hospital uma
organização formal e institucionalizada de prestação de serviços, a sua primordial
função é a prestação de cuidados diferenciados aos utentes com um forte envolvimento
das tecnologias.
O centro hospitalar situado no norte do País, assume como Missão, de acordo com o seu
regulamento interno, prestar cuidados de saúde diferenciados, com qualidade e
eficiência, em articulação com outros serviços de saúde e sociais da comunidade,
apostando na motivação e satisfação dos seus profissionais, com um nível de qualidade,
efectividade e eficiência elevadas. Faz igualmente parte da sua missão o ensino pósgraduado e o desenvolvimento das funções de formação consideradas necessárias ao
desenvolvimento dos colaboradores através da investigação e do desenvolvimento
científico em todas as áreas das ciências da saúde.
O referido centro hospitalar é constituído por quatro unidades hospitalares e uma
unidade de cuidados continuados integrados. Possui a lotação de 645 camas de
internamento e enquanto hospital central, possui as mais diversas valências, excepto
neurocirurgia e cirurgia cardiotorácica.
- 22 -
Enquadramento Teórico
O centro hospitalar, classificado como hospital central, possui um departamento de
emergência e cuidados intensivos e intermédios, constituído por um serviço de urgência
básica, um serviço de urgência médico-cirúrgica e um serviço de urgência polivalente,
distribuídas por três das suas unidades hospitalares. O serviço de emergência, de acordo
com o seu regulamento tem como missão assistencial a prestação de cuidados de saúde
com níveis de qualidade e eficiência elevados a todos os indivíduos com doença
emergente/urgente. De forma a dar cumprimento à missão referenciada, tem-se
observado um aumento progressivo das exigências em termos de quantidade e qualidade
da intervenção dos profissionais, o que implica um conhecimento aprofundado dos
protocolos, que permitam uma actuação de emergência sem planeamento prévio dos
cuidados. Por outro lado, devido à pressão da procura do serviço de emergência, os
profissionais frequentemente ficam impossibilitados de realizar períodos de descanso
programado durante o trabalho, tornando difícil perspectivar uma vida profissional
equilibrada, a que se acresce o facto de que por vezes as condições ambientais não
serem as mais adequadas.
Dado os condicionalismos atrás descritos, podemos afirmar que poderão estar criadas as
potenciais condições para se observarem níveis de burnout cada vez mais elevados. Por
isso, os gestores devem adoptar as medidas proactivas que permitam minimizar os
factores condicionantes de situações que desencadeiem stresse no trabalho, de modo a
evitar consequências quer individuais, quer organizacionais, que resultam do síndroma
de burnout. Assim, é fundamental a adopção de uma atitude positiva na gestão dos
factores que podem desencadear stresse, tendo em conta o bem-estar dos colaboradores
e a manutenção de um relacionamento baseado nos principios éticos (Turner, Hulmann
& Keegan, 2008).
É neste enquadramento que as organizações devem assumir um papel relevante,
fomentando uma cultura de capacitação dos colaboradores, gerindo os recursos
humanos, orientando-os para a avaliação de processo e para a mudança organizacional,
bem como para o cliente inserido nos seus grupos socio-familiares.
Consciente da necessidade de melhorar o seu desempenho e garantir a qualidade de
cuidados, o centro hospitalar em causa, iniciou um processo de acreditação em 2003, de
acordo com os standards da Joint Commission International. Trata-se de forma
- 23 -
Enquadramento Teórico
genérica de um processo em que uma entidade exterior e distinta à organização de
saúde, procede a uma avaliação para determinar a conformidade a um conjunto de
normas e requisitos destinados a melhorar a qualidade dos cuidados. Para o efeito, foi
necessário proceder à elaboração e adequação de normas de procedimentos e protocolos
de actuação, de acordo com as guidelines internacionais e a evidência científica, o que
permitiu uniformizar procedimentos de actuação e assegurar a segurança dos cuidados,
num contexto organizacional marcado pela intervenção multiprofissional e altamente
diferenciada científica e tecnologicamente. Este processo, iniciado de forma voluntária,
demonstra um compromisso visível de uma organização que se preocupa com a
melhoria contínua e sustentada da qualidade, e com a garantia de um ambiente seguro
para os utentes e colaboradores.
Um dos principais activos de uma organização, são os seus recursos humanos. Estudos
realizados nos últimos anos demonstram que os recursos humanos contribuem
significativamente para o sucesso da organização e são o motor do seu desenvolvimento
(Delaney & Godard, 2001). Daí a importância que a gestão dos recursos humanos
desempenha na organização, pelo que é essencial os funcionários executarem as suas
tarefas de forma eficiente e eficaz. Para o efeito, a organização deve dispor de
mecanismos que permita: i) formar os colaboradores de forma a permitir a aquisição de
conhecimentos, competências e capacidades; ii) motivar os colaboradores para utilizar
as suas capacidades em beneficio da organização (Yongmei Liu et al., 2007).
Quando os colaboradores só conhecem as rotinas do trabalho, não conseguem contribuir
para a organização mais do que com a realização das suas tarefas. E mesmo quando lhes
é permitido ultrapassar as situações de rotina, provavelmente não o farão se não forem
devidamente motivados. É portanto fundamental que a gestão dos recursos humanos
tenha como prioridade motivar e facilitar o desempenho dos seus colaboradores por
forma a aumentar a produtividade e a satisfação profissional.
À relação problemática entre o indivíduo e a situação que este vive está inerente o
conceito fundamental de stresse. Quando aplicado ao burnout, esta abordagem propõe
que quanto o maior desajustamento entre o indivíduo e o trabalho, maior a
probabilidade de burnout. Assim, Maslach e Goldberg (1998) especificam as seis
situações em que este pode ocorrer: 1) sobrecarga de trabalho (excesso de tarefas a
- 24 -
Enquadramento Teórico
desempenhar); 2) falta de controle (quando as pessoas têm pouco controle sobre o
trabalho que fazem); 3) recompensa insuficiente (quer a nível económico, quer a nível
emocional); 4) isolamento da equipa (perda da ligação positiva com os outros elementos
da equipa); 5) ausência de equidade (resulta quando a sensação de justiça não é
percebida no local de trabalho); 6) conflito de valores (ocorre quando à um
desajustamento entre a exigência do trabalho e os princípios do indivíduo).
O reconhecimento destas seis áreas em que não se verifica a adequação entre o
indivíduo e o trabalho aumenta o leque de opções de intervenção dos gestores no âmbito
das medidas de prevenção. Assim, a sobrecarga de trabalho pode ser minimizada se o
foco de atenção se centrar em alguns dos outros desajustamentos, por exemplo, as
pessoas podem ser capazes de tolerar maiores cargas de trabalho se sentirem que o
trabalho é valorizado, que estão a fazer algo importante, ou então que estão a ser
recompensados pelo seu esforço. Acreditamos, que o potencial desta abordagem é muito
mais promissor como estratégia para lidar com o burnout em contexto de trabalho.
6 . CONTEXTO
DO
ESTUDO: SERVIÇOS
DE
URGÊNCIA/UNIDADES
DE
CUIDADOS INTENSIVOS
Os Serviços de Urgência integram a primeira linha de acesso aos cuidados de saúde. É o
local onde ocorrem todos os utentes, desde os que têm uma simples síndroma gripal, às
situações mais graves e que colocam em risco a vida dos utentes. Com atendimento
disponibilizado 24 horas por dia e 7 dias por semana, estes serviços são lugares
geradores de stresse por excelência, dadas as suas peculiares características,
nomeadamente:

Pressão do tempo e intervenções urgentes;

Impossibilidade de realizar períodos de descanso programável durante o trabalho;

Falta de condições ambientais (espaço, luz, decoração, climatização);

Exigência de um conhecimento profundo sobre protocolos, que permita uma
actuação de emergência sem planeamento prévio dos cuidados;
- 25 -
Enquadramento Teórico

Responsabilidade civil e criminal associada à prestação de cuidados em situações
de grande complexidade;

Exposição permanente a situações de contínuo risco e perigosidade;

Aumento progressivo das exigências em termos de quantidade e qualidade da
actuação profissional;

Aumento contínuo da pressão social, que promove nos utentes uma permanente
atitude crítica com a actuação dos profissionais de saúde dos serviços de urgência
a ser o alvo de todas as falhas do sistema de saúde.
Portanto, restam poucas dúvidas, para que não se considerem os serviços de urgência
como verdadeiros ambientes potenciadores de factores de risco para o aparecimento do
chamado síndroma de burnout (Vaquera, Rabazo Méndez & Bartolomé, 2004). Se por
um lado, as unidades de cuidados intensivos são serviços mais organizados do ponto de
vista de planeamento e gestão de cuidados, por outro, são serviços onde diariamente a
tecnologia de ponta é amplamente utilizada em doente graves que necessitam das mais
variadas técnicas de manutenção e suporte de vida. Acresce a este contexto de cuidados,
a pressão constante do dia-a-dia de trabalhar com utentes em risco eminente de vida.
Queirós (1998), ao estudar um grupo de enfermeiros de cuidados intensivos, identificou
um nível de burnout mais elevado nas componentes “exaustão emocional” e
“despersonalização” e paradoxalmente “realização pessoal”.
Em jeito de síntese, reafirmamos que as unidades de saúde que prestam cuidados a
doentes agudos (urgências e cuidados intensivos), pelas características intrínsecas já
referidas por Queirós (1998), são locais para uma maior probabilidade dos seus
profissionais desenvolverem o síndroma de burnout.
- 26 -
PARTE II
ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO
- 27 -
Enquadramento Metodológico
A metodologia é um conjunto de actividades sistemáticas e racionais com a finalidade
de rentabilizar recursos humanos, materiais e de tempo, servindo de orientação para
alcançar os objectivos deliniados. É uma etapa essencial no desenvolvimento de um
estudo de investigação, permitindo ao investigador imprimir rigor metodológico à
investigação e responder às hipóteses formuladas. Nesta parte, pretendemos explicitar as
hipóteses de investigação, as razões que suportam a realização deste estudo e aspectos
inerentes ao desenho do estudo, população, variáveis do estudo e análise estatística.
1. HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO
Após a identificação do problema e realizada a pesquisa bibliográfica, a formulação das
hipóteses apresenta-se como um aspecto fulcral do estudo.
Segundo Marconi e Lakatos (1996), hipótese “…é uma preposição que se faz na
tentativa de verificar a validade de resposta existente para um problema. É uma
suposição que antecede a constatação dos factos e tem como característica uma
formulação provisória, deve ser testada para determinar sua validade” (p. 26)..
Acrescentam que a sua função na pesquisa científica “…é propor explicações para
certos factos e ao mesmo tempo orientar a busca de outras informações. (...) formulada
de tal maneira que possa servir de guia na tarefa de investigação” (p. 26).
Nas considerações apontadas pelas autoras, formulamos como hipóteses:
H1 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre os sexos, quanto ao
síndroma de burnout.
H2 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre a existência ou não de
filhos, quanto ao síndroma de burnout.
H3 – Existem diferenças estatisticamente significativas de acordo com os serviços onde
desempenham funções, quanto ao síndroma de burnout.
- 28 -
Enquadramento Metodológico
H4 – Existem diferenças estatisticamente significativas de acordo com o numero de anos
de trabalho por turnos, quanto ao síndroma de burnout.
H5 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre o tipo de vínculo laboral,
quanto ao síndroma de burnout.
H6 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre o tempo médio de
deslocação de casa ao trabalho, quanto ao síndroma de burnout.
H7 – Existe relação estatisticamente significativa entre o número de utentes atendidos
por dia e o síndroma de burnout.
H8 – Existe relação estatisticamente significativa entre os factores antecedentes de
burnout e o síndroma de burnout.
H9 – Existe relação estatisticamente significativa entre os factores antecedentes e as
dimensões que constituem o síndroma de burnout.
2 . JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO
Qualquer investigação tem o seu início com a escolha de um domínio particular de
interesse para uma questão de investigação que poderá ser estudada (Fortin, 2009),
corroborado por Quivy e Campenhoudt (1992), ao referirem que “o primeiro problema
que se põe ao investigador é muito simplesmente o de saber como começar bem o seu
trabalho” (p. 29). Confrontados perante a necessidade de efectuar um projecto e
consequente dissertação, colocou-se-nos de imediato um problema: o que investigar?
Encontrando-nos a frequentar um Curso de Mestrado em Gestão de Serviços de Saúde,
e tendo como referência a Gestão da Higiene e Segurança e Saúde no Trabalho,
optamos por escolher para temática a desenvolver na dissertação a prevalência de
burnout nos enfermeiros.
As transformações ocorridas nas organizações introduziram várias alterações na gestão
das organizações de saúde, salientando-se as tecnologias de informação, os estilos de
- 29 -
Enquadramento Metodológico
gestão organizacional, a transitoriedade e precariedade do emprego e a importância do
sector da saúde no cenário económico do país. Estas mudanças induziram a novas
formas de organizar o trabalho e alteraram o padrão das relações interpessoais no
trabalho. Os enfermeiros têm sido objecto de atribuições cada vez mais variadas e mais
complexas num contexto organizacional com estruturas menos hierarquizadas e níveis
de responsabilidade mais elevados. De igual modo, assiste-se a um maior ênfase na
relação do trabalhador com o utente, a novas exigências de qualidade na execução das
tarefas, que implicam a permanente qualificação e aquisição de competências (Borges,
Argolo, Pereira, Machado & Silva, 2002). É neste cenário de cuidados
permanentemente
atravessado
pela
imprevisibilidade
e
exigência,
e
mais
específicamente enquanto gestor de uma equipa de enfermagem de um serviço de
urgência polivalente, que encontramos as razões subjacentes a este estudo.
Neste contexto, consideramos oportuno e pertinente para as instituições de saúde, o
estudo do síndroma de burnout em enfermeiros, dado que em Portugal a prevalência de
burnout no trabalho é de um em cada quatro enfermeiros de acordo com Queirós
(2005), o que coloca a necessidade de um estudo mais aprofundado perspectivando o
delineamento de estratégias de intervenção no âmbito do centro hospitalar no qual
ocorreu o estudo deste fenómeno.
Após a realização de pesquisa bibliográfica sistemática, propomo-nos desenvolver um
estudo que dê resposta ao seguinte problema: Estudo da relação entre os factores
antecedentes de burnout e a ocorrência do síndroma em enfermeiros a desempenhar
funções em Serviços de Urgência e Unidades de Cuidados Intensivos de um Centro
Hospitalar sediado no Norte do País.
3 . DESENHO DO ESTUDO
Os estudos são classificados pelo tipo de dados a colher, pela sua análise e tendo em
conta os objectivos pré-estabelecidos. Analisando detalhadamente as nossas pretensões,
o presente estudo pode ser considerado como um estudo observacional, descritivo,
transversal e correlacional.
- 30 -
Enquadramento Metodológico
Parafraseando Gil (1995), o estudo descritivo tem como objectivo primordial “a
descrição das características de determinada população ou fenómeno ou o
estabelecimento de relações entre variáveis” (p. 45), e o estudo é correlacional é “o
método mais comum para se descrever a relação entre duas medidas, sendo conhecido
como procedimentos de correlação” (Polit & Hungler, 1995, p. 237).
Atendento ao exposto, optámos por um estudo observacional, descritivo, transversal
com uma componente analítica, que relaciona a exposição a determinados factores nos
indivíduos, numa população definida num determinado ponto no tempo, e a ocorrência
de um determinado resultado. Assim, os resultados de um estudo tranversal
disponibilizam informação de um único momento no tempo, medindo simultaneamente
exposição e resultado. Logo, os estudos de corte transversal têm limitações importantes
como: a não possibilidade de inferir a sequência temporal entre exposição e resultado, o
que pode colocar algumas questões de validade e precisão se a exposição for uma
característica mutável. Por outro lado, têm como vantagens, estudar os casos prevalentes
de longa duração, que é o caso do síndroma de burnout, e também implicam menos
recursos, logo menos onerosos. Com este estudo procurámos descrever a distribuição
das variáveis no grupo de enfermeiros que participaram no estudo. As estatísticas
descritivas apresentadas servem apenas para descrever a precisão das medições da
amostra de enfermeiros estudada. Na componente analítica, fazemos inferências sobre a
natureza das relações entre a hipótese de ter ou não estado exposto a fatores de risco
(factores antecedentes de burnout) e resultado (síndroma de burnout). O estudo
desenvolvido inscreve-se num paradigma quantitativo, permitindo apresentar resultados
através de procedimentos estatísticos (Fortin, 2009), que serão usados para determinar a
relação entre variáveis, para aferir a probabilidade de esta ter ocorrido por acaso. É com
base no desenho do estudo delineado que prosseguimos com a selecção dos
participantes.
4. AMOSTRA
A amostra seleccionada para o estudo decorre da magnitude da ocorrência do síndroma
em unidades de emergência e de cuidados intensivos, de acordo com alguns estudos
- 31 -
Enquadramento Metodológico
(Browning et al., 2007; Queirós, 1998; Quirós-Aragón & Labrador-Encinas, 2007), pelo
que optámos por seleccionar uma amostra não-probabilística, na medida em que os
elementos da população foram seleccionados de acordo com a sua disponibilidade para
participar no estudo. Neste tipo de amostragem, não é possível determinar com
exactidão o tamanho da amostra bem como o grau de enviesamento causado pela
ausência de elementos.
Para este estudo, a amostra foi constituida por todos os enfermeiros a exercer funções
nos Serviços de Urgência, Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente e Unidade de
Cuidados Intensivos Coronários de um hospital central, perfazendo um total de 103
enfermeiros dos 138 que integram as referidas unidades.
5. VARIÁVEIS DO ESTUDO E OPERACIONALIZAÇÃO
A identificação e operacionalização de variáveis são parte importante de qualquer
trabalho de investigação, uma vez que permite a determinação do rigor e explicitação
das mesmas. Tem também uma importância relevante para uma melhor compreensão do
tema. Para Quivy e Champenhoudt (1992), chama-se variável “a todo o atributo,
dimensão ou conceito susceptível de assumir várias modalidades” (p. 217).
A variável dependente é definida como “aquela que o investigador tem interesse em
compreender, em explicar ou prever”(Polit & Hungler, 1995, p. 26), ou seja, é o
fenómeno em estudo como resultado da acção das variáveis independentes. Neste
estudo, a variável dependente foi: síndroma de burnout e suas dimensões. A variável
síndroma de burnout é avaliada pelos itens: 1, 3, 5, 7, 11, 12, 15, 18, 19, do
Questionário Breve de Burnout (QBB), de Moreno-Jiménez e cols. (1997), (Anexo 1).
A síndroma de burnout inclui as três dimensões de acordo com Maslach e Jackson,
(1981) e Maslach e Schaufali (1993). No questionário Breve de Burnout, estas
dimensões são avaliadas, conforme seguidamente se descreve:

Exaustão emocional (EE), a pontuação resulta do cálculo da média ponderada das
pontuações dos participantes relativamente aos itens: 1, 7, 15;
- 32 -
Enquadramento Metodológico

Despersonalização (DP), a pontuação resulta do cálculo da média ponderada das
pontuações dos participantes relativamente aos itens: 3, 11, 18;

Redução da realização pessoal (RRP), a pontuação resulta do cálculo da média
ponderada das pontuações dos participantes relativamente aos itens: 5, 12, 19.
Quanto às variáveis independentes, neste estudo foram identificadas as de natureza
sociodemográfica e de caracterização da situação laboral e os Antecedentes de Burnout.
A última variável mencionada é avaliada através do QBB, e subdividida em factores
relacionados com as características da tarefa, cujos itens na escala são: 2, 10, 16; tédio,
cujos itens na escala são: 6, 14, 20; e organização, cujos itens na escala são: 4, 8, 9.
A operacionalização de variáveis consiste em subdividi-las de modo a uniformizar
critérios e proceder à sua mensuração. Segundo Marconi e Lakatos (1996), as variáveis
“devem ser definidas com clareza e objectividade e de forma operacional” (p. 27). Por
sua vez, Polit e Hungler (1995) afirmam que “para que seja útil, a definição deve
especificar a maneira como a variável será observada e mensurada na situação de
pesquisa” (p. 27).
A operacionalização das variáveis sociodemográficas e da situação laboral dos
participantes, pode ser consultada no Apêndice I.
6. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS
Antes de iniciar uma recolha de dados, o investigador deve questionar-se se a
informação que deseja recolher, com a ajuda do instrumento de medida em particular, é
exactamente a que tem necessidade para responder aos objectivos e, consequentemente,
às principais questões da sua investigação. Para isso, deve conhecer os diversos
instrumentos de medida disponíveis, assim como as vantagens e os inconvenientes de
cada um. Gil (1995), refere a este propósito, que a elaboração de um instrumento de
recolha de dados consiste em traduzir os objectivos específicos da investigação, em
parâmetros bem rígidos atendendo a regras básicas para o seu desenvolvimento obtendo,
desta forma, informação válida e pertinente para a realização da investigação.
- 33 -
Enquadramento Metodológico
Atendendo ao tipo dos dados que pretendíamos recolher, bem como às hipóteses em
estudo, aplicámos o QBB.
6.1. Questionário Breve de Burnout
Este questionário foi elaborado por Moreno Jimenez e cols. (1997), e a sua adaptação
foi realizada por Rainho (2005), que “incluiu a sua tradução, a sua adaptação cultural e
idiomática e a comprovação das características psicométricas de fiabilidade” (p. 9).
O questionário (Apêndice II) inclui questões fechadas, dicotómicas, e questões mistas
para caracterizar a população, é constituído por duas partes a primeira inclui variáveis
de caracterização pessoal e profissional: idade, sexo, estado civil (relação pessoal),
habilitações académicas, categoria profissional, local de trabalho, tipo de horário, anos
de experiência profissional e tempo de interacção diária com os utentes; a segunda parte
é constituída por 21 itens estruturalmente composta por antecedentes do burnout,
síndroma de burnout e consequências do burnout (Jimenez et al., 1997).
Quadro 4. Estrutura teórica do Questionário Breve de Burnout
Aspectos do processo
Sub escalas
Questões
Antecedentes
Características da tarefa
2,10,16
Organização
4,8,9
Tédio
6,14,20
Exaustão emocional
1,7,15
Despersonalização
3,11,18
Redução da realização Pessoal
5,12,19
Físicas
13
Sociais
17
Psicológicas
21
Síndroma de burnout
Consequências
Fonte: Adaptado de Moreno-Jiménez e cols. (1997).
Em todas as afirmações, a amplitude da escala de resposta varia entre um e cinco, sendo
que as questões 2, 4, 8, 9, e 16 foram codificadas de forma inversa, para se obter as
pontuações globais das escalas correspondentes, de acordo tom a metodologia proposta
pelos autores. As pontuações nas escalas obtêm-se através da média ponderada das
- 34 -
Enquadramento Metodológico
pontuações dos sujeitos, ou seja, pontuações altas na escala indicam intensidade elevada
de factores antecedentes, síndroma de burnout e consequências.
Optámos por este instrumento por permitir a avaliação do burnout numa perspectiva
processual, o que implica recolher informação sobre os diferentes aspectos do processo
(antecedentes, síndroma de burnout e consequências).
6.2. Fiabilidade
A fiabilidade de uma medida refere a capacidade desta ser consistente. Se um
instrumento de medida dá sempre os mesmos resultados (dados) quando aplicado a
alvos estruturalmente iguais, podemos confiar no significado da medida e dizer que a
medida é fiável. Dizemo-lo, porém, com maior ou menor grau de certeza porque toda a
medida é sujeita a erro. Assim, a fiabilidade observada nos nossos dados é uma
estimativa, e não um “dado”.
A análise da consistência interna de uma medida é uma necessidade aceite na
comunidade científica. Entre os diferentes métodos que nos fornecem estimativas do
grau de consistência de uma medida salienta-se o coeficiente alpha de Cronbach sobre o
qual acenta a confiança da maioria dos investigadores (Maroco & Garcia-Marques,
2006). O coeficiente alfa de Cronbach necessita de uma única aplicação do instrumento,
este produz valores entre 0 e 1, ou entre 0 e 100%. Se o coeficiente for maior que 70%,
ou 0,7, diz-se que o instrumento de avaliação é fiável.
Assim, foram estimados coeficientes de alpha de Cronbach para cada uma das escalas
componentes do questionário (antecedentes, síndroma de burnout e consequências).
No Quadro 5 pode observar-se os valores obtidos neste estudo, bem como os obtidos em
alguns estudos anteriores.
- 35 -
Enquadramento Metodológico
Quadro 5. Valores de fiabilidade das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout
em diferentes estudos
Antecedentes de
burnout
Síndroma de
burnout
Consequências de
burnout
Este estudo
Enfermeiros n=103
α = 0,71
9 itens
α = 0,62
9 itens
α = 0,47
3 itens
Rainho, 2005
Enfermeiros n=160
α = 0,88
9 itens
α = 0,71
9 itens
α = 0,69
3 itens
Román Hernandez, 2003
Enfermeiros e médicos n=287
α = 0,72
9 itens
α = 0,65
9 itens
α = 0,65
3 itens
Moreno Jimenez et al., 1997
Professores ensino básico n=145
α = 0,82
9 itens
α = 0,34
9 itens
α = 0,64
3 itens
Estudos
α - coeficiente de alpha de Cronbach
Para medir, avaliar ou quantificar, o investigador precisa atender aos critérios de
significância e precisão dos instrumentos de medida que irá utilizar: validade e
fiabilidade (Maroco & Garcia-Marques, 2006). Assim, um instrumento para ser útil
necessita ser fiável. A fiabilidade diz respeito à consistência ou estabilidade de uma
medida.
7. PROCEDIMENTO NA RECOLHA DOS DADOS
Em investigação, quer os aspectos éticos quer os deontológicos são decisivos, pois sem
um código que aponte limites e oriente os passos da investigação, é a própria
investigação que fica posta em causa (Ribeiro, 1999). Assim, conduzir uma
investigação, assemelha-se mais ao estabelecimento de uma amizade do que à
formalização de um simples contrato. Os sujeitos desempenham neste tipo de
investigação um papel activo e extremamente importante, pois tomam decisões
constantes relativamente à sua participação (Bogdan & Biklen, 1994).
Os investigadores deverão também obter a aprovação para realizar a investigação na
instituição onde esta vai decorrer. O consentimento informado assume particular
importância, pois deve utilizar-se uma linguagem que seja compreendida pelos
- 36 -
Enquadramento Metodológico
participantes, de forma a evitar consequências adversas ao sujeito e ao investigador. Os
investigadores devem honrar os compromissos que assumem com os sujeitos
participantes na investigação, de forma a que num futuro próximo essa porta continue
aberta (Ribeiro, 1999).
O questionário aplicado foi anónimo e foi assegurada a confidencialidade dos dados
obtidos, pois seguindo a opinião de Fortin, Prud’Homme-Brisson e Coutu-Wakulczyk
(2003), quando se pretende utilizar pessoas numa investigação, é necessário proteger a
sua identidade. Assim, de acordo com o referido, foi sempre nossa pretensão garantir o
anonimato dos indivíduos e a confidencialidade das respostas.
Foi solicitada autorização para a aplicação do QBB, cujos participantes seleccionados
eram os enfermeiros a desempenhar funções em serviços de urgência e cuidados
intensivos, ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar onde foi realizado o
estudo, após deferimento da mesma, a recolha de dados ocorreu no 1º trimestre de 2009
(Apêndice III).
Os vários serviços onde os participantes desempenhavam funções estavam dispersos em
várias unidades do Centro Hospitalar, pelo que houve necessidade de realizar reuniões
de sensibilização e explicação dos objectivos do trabalho aos enfermeiros, motivando-os
para
participarem
no
estudo.
Foi
especialmente
reforçada
a
garantia
de
confidencialidade, bem como a disponibilização do estudo aquando da sua conclusão.
Para garantir a confidencialidade, os questionários foram distribuidos a cada enfermeiro
dentro de um envelope em branco, que após o seu preenchimento foi selado.
8. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Na análise descritiva foram calculadas as percentagens, médias e correspondentes
desvio-padrão. Os testes paramétricos foram utlizados após a verificação através da
prova Kolmogorov-Smirnov, da natureza da distribuição dos valores da variável
(distribuição Normal). A prova de Kolmogorov-Smirnov é o teste mais usado na
prática, fundamenta-se na comparação da função de distribuição acumulada dos dados
- 37 -
Enquadramento Metodológico
observados com a distribuição Normal, medindo a máxima distância entre as duas
curvas (Martínez González & Sánchez Villegas, 2001; Pértegaz Díaz & Pita Fernandéz,
2001).
Na análise de correlação, foi utilizado coeficiente de correlação e de Pearson para
verificar a intensidade e direcção das relações existentes entre os factores antecedentes e
o síndroma de burnout.
A análise de regressão linear simples foi utilizada para nos indicar a mudança esperada
no valor da variável dependente (Síndroma de Burnout), pelo aumento de cada unidade
da variável independente (Antecedentes), (Martínez González & Sánchez Villegas,
2001).
A comparação de médias de dois grupos independentes foi analisada através do teste t
de student para amostras independentes (Martínez González & Sánchez Villegas, 2001).
O nível de significância utilizado foi p< 0,05.
- 38 -
PARTE III
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
- 39 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
Nesta parte da dissertação, procede-se à apresentação dos resultados obtidos, e para uma
melhor compreensão e visualização serão organizados da seguinte forma: i) numa
primeira fase, descrevemos a caracterização sóciodemográfica e profissional da amostra
em estudo; ii) seguidamente, descrevemos as três sub-escalas do QBB (factores
antecedentes, síndroma de burnout e consequências; iii) realização da análise
correlacional e regressão linear simples; iv) e, por fim, a análise de comparação de
médias de burnout entre os enfermeiros, de acordo com o serviço onde exercem funções
e algumas variáveis sóciodemográficas e profissionais.
1. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
De acordo com os objectivos do estudo, os resultados são apresentados em tabelas, nas
quais não constará a fonte, local ou data, visto que os dados apresentados são referentes
à amostra em estudo e foram obtidos através do instrumento de recolha de dados.
1.1. Caracterização da amostra do estudo
Constituída por 103 enfermeiros, a exercer funções nos Serviço de Urgência e Unidades
de Cuidados Intensivos de um Centro Hospitalar da Região Norte, cuja caracterização
quanto a variáveis sociodemográficas, nomeadamente sexo, idade, relação pessoal,
número de filhos e de pessoas dependentes, habilitações académicas e tempo dispendido
no trajecto de casa para o trabalho, se encontram na Tabela 1. Os resultados serão
expressos em valores absolutos e em percentagens e em função do sexo.
- 40 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
Tabela 1. Distribuição dos enfermeiros segundo as características sóciodemográficas
Feminino
nº
%
Masculino
nº
%
76
100
27
21-30
27
35,5
31-40
28
41-50
≥ 51
Características sóciodemográficas
%
100
103
100
2
7,4
29
28,2
36,8
12
44,4
40
38,8
17
22,4
11
40,7
28
27,2
4
5,3
2
7,4
6
5,8
Com parceiro habitual
58
76,3
26
96,3
84
81,6
Sem parceiro habitual
18
23,7
1
3,7
19
18,4
Sem filhos
33
44,6
5
18,5
38
37,6
Com filhos
41
55,4
22
81,5
63
62,4
0
29
39,2
2
7,4
31
30,7
1
11
14,9
6
22,2
17
16,8
2
23
31,1
13
48,1
36
35,6
≥3
11
14,9
6
22,2
17
16,8
Bacharel
3
3,9
0
0,0
3
2,9
Licenciado
71
93,4
27
100
98
95,1
Mestrado
2
2,6
0
0,0
2
1,9
1a5
21
27,6
3
11,1
24
23,3
6 a 10
27
35,5
9
33,3
36
35,0
11 a 15
13
17,1
12
44,4
25
24,3
≥ 16
15
19,7
3
11,1
18
17,5
Sexo
Idade (anos)
Relação pessoal
Filhos
Número de
dependentes
Habilitações
académicas
Tempo gasto de
casa para o
trabalho
(minutos)
Total
nº
Os sujeitos da investigação são predominantemente do sexo feminino (76-73,8%), e a
média de idades é de 36,31 anos, d.p. de 8,3. Na distribuição etária, podemos verificar
que a maioria dos sujeitos é jovem, reflectido no grupo etário dos 31-40 anos com
38,8%, seguido do grupo etário dos 21-30 anos com 28,2%. Somente 5,8% dos
enfermeiros pertence ao grupo etário dos 51-60 anos, ou seja, já numa idade próxima da
reforma.
Como acontece na maior parte dos estudos realizados com enfermeiros, a amostra é
predominantemente do sexo feminino (Garrosa et al., 2010; Queirós, 2005; Rainho,
2005), o que reflecte a realidade da profissão de enfermagem, que é maioritariamente
feminina. O grupo etário predominante é o compreendido entre os 21 a 40 anos
- 41 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
(67,0%), representando uma amostra de jovens adultos, o que também se verifica em
outros estudos em que fazem parte das amostras indivíduos jovens (Garrosa et al., 2010;
Moreno-Jiménez et al., 2009; Rainho, 2005).
No que concerne à relação pessoal, a maioria (84-81,6%) mantém relações com parceiro
habitual. Existe, contudo, um número significativo de enfermeiros que não tem parceiro
habitual (19-18,4%), sendo na sua grande maioria do sexo feminino. De acordo com
Moreno Jiménez e cols. (2002), as relações com parceiro habitual pressupõem que a
relação acarreta consigo um apoio socio-emocional, que se recebe ou se dá ao
companheiro, reflectindo-se no bem-estar emocional da pessoa. No entanto, neste
estudo não se constataram diferenças estatisticamente significativas no que concerne à
relação pessoal.
Quanto à existência de filhos, 63 (62,4%) do total dos enfermeiros do estudo têm filhos.
É de salientar que 70 (69,3%) enfermeiros referem ter pessoas dependentes a seu cargo,
na sua maioria 2 ou mais dependentes, o que se verifica de modo mais expressivo entre
os enfermeiros do sexo masculino.
No que diz respeito às habilitações académicas, a maioria (98-95,1%) possui
licenciatura e apenas 3 (2,9%) têm o bacharelato e 2 (1,9%) o mestrado, o que
demonstra o interesse deste grupo profissional na aquisição de conhecimentos e
competências com vista à aquisição de qualificação para o exercício da profissão, e que
se traduziu na frequência do Curso de Complemento de Formação em Enfermagem
introduzido pela Portaria n.º 799-E/99 de 18 de Setembro, e que visava a atribuição do
grau de licenciado em enfermagem aos enfermeiros titulares do grau de bacharel ou de
equivalente legal. Pelo facto de se tratar de uma amostra em que os participantes detêm
um nível elevado de formação, não se encontraram diferenças estatisticamente
significativas, o que parece subscrever a opinião de Delaney e Godard (2001) e
Yongmei Liu, et al. (2007) ao referir que a formação, oferece mais segurança ao
colaborador, e permite-lhe um desempenho mais assertivo, fornecendo-lhe mais
competências e desta forma facilita a gestão dos factores condicionantes, reduzindo os
níveis de burnout.
- 42 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
A Tabela 2 diz respeito à apresentação de variáveis de âmbito socioprofissional que
dará suporte à formulação das hipóteses de estudo.
Tabela 2. Distribuição dos enfermeiros segundo as características profissionais
Cuidados intensivos
Feminino
nº
%
26
34,2
Masculino
nº
%
6
22,2
nº
32
%
31,1
Urgência
50
65,8
21
77,8
71
68,9
0a7
21
27,6
1
3,7
22
21,4
8 a 14
27
35,5
11
40,7
38
36,9
15 a 21
17
22,4
9
33,3
26
25,2
≥ 22
11
14,5
6
22,2
17
16,5
Nível 1
69
90,8
24
88,9
93
90,3
Nível 2
7
9,2
3
11,1
10
9,7
Fixo
5
6,6
2
7,4
23
6,8
Turnos
71
93,4
25
92,6
80
93,2
Quadro
55
72,4
25
92,6
80
77,7
Contrato
21
27,6
2
7,4
23
22,3
1 a 15
25
41,7
6
25,0
31
36,9
16 a 30
10
16,7
7
29,2
17
20,2
31 a 45
7
11,7
1
4,2
8
9,5
18
30,0
10
41,7
28
33,3
< 20 %
4
5,3
4
14,8
8
7,8
≥ 20% a 39%
6
7,9
2
7,4
8
7,8
≥ 40% a 79%
29
38,2
10
37,0
39
37,9
≥ 80%
37
48,7
11
40,7
48
46,6
Características profissionais
Serviço
Tempo de experiência
Profissional
(anos)
Categoria
Tipo de Horário
Situação Laboral
Número de utentes que
atende por dia
≥46
Tempo de interacção
com os utentes
(% de tempo)
Total
No que diz respeito ao serviço onde exercem funções, 71 (68,9%) enfermeiros
trabalham num serviço de urgência e 32 (31,1%) em unidades de cuidados intensivos. O
tempo médio de anos na profissão é de 13,5 anos, com o mínimo de um ano e o máximo
de 36 anos, sendo que a maioria (93-90,3%) está no nível 1 da categoria profissional,
distribuída da seguinte forma: 26 (25,2%) na categoria de enfermeiro, 67 (65,0%) na
categoria de enfermeiro graduado. No nível 2 estão 10 (9,7%) enfermeiros, dos quais 6
são enfermeiros especialistas e 4 (3,9%) são enfermeiros chefes. O tempo médio na
- 43 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
categoria foi de aproximadamente oito anos. Relativamente ao tipo de horário praticado,
verifica-se que a maioria (80-93,2%) realiza um horário por turnos. No que concerne ao
vínculo laboral, 80 (77,7%) têm vinculo definitivo, encontrando-se os restantes (2322,3%) em situações precárias de trabalho, ou seja, com contrato individual de trabalho
a termo.
O tempo de exercício profissional é descrito em alguns estudos como uma variável que
apresenta uma relação significativa com os níveis de burnout (Browning et al., 2006),
ou com uma ou mais dimensões do síndroma de burnout (Queirós, 2005), o que não se
verificou neste estudo, pelo que merecerá um aprofundamento desta variável em estudos
subsequentes. No que diz respeito à categoria profissional, apesar de ser apontada uma
relação entre a categoria profissional e os níveis de burnout e algumas dimensões do
burnout (Browning et al., 2007; Queirós, 2005), no presente estudo a relação entre estas
variáveis não foi estabelecida, tendo em conta a assimetria na distribuição dos
respondentes da amostra. Na sua prática diária, 48 (57,1%) enfermeiros atendem menos
de 30 utentes por dia, e no que diz respeito ao tempo de interacção com os utentes,
verifica-se que para 48 (46,6%) é superior a 80% do tempo diário de prestação de
cuidados.
1.2. Descrição das sub-escalas
Na Tabela 3, apresentam-se as pontuações das médias ponderadas e respectivos desviospadrão, para as sub-escalas que constituem o QBB, obtidas a partir das respostas dos
enfermeiros.
Tabela 3. Estatísticas descritivas das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout
Sub-escalas do QBB
Médias ponderadas
Desvio padrão
Factores antecedentes de burnout
2,24
0,39
Síndroma de burnout
2,55
0,53
. Exaustão emocional
2,41
0,56
. Despersonalização
2,83
0,82
. Redução da realização pessoal
2,39
0,74
2,53
0,60
Consequências de burnout
- 44 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
Os resultados apresentados na tabela 4 mostram que as médias ponderadas das subescalas e dimensões da sub-escala síndroma de burnout se aproximam do valor do ponto
médio (2,5). Da análise do valor médio das sub-escalas, o síndroma de burnout
apresenta o valor médio mais elevado, sendo que a dimensão despersonalização detém o
valor médio mais elevado de entre as três dimensões do síndroma de burnout, como
também é constatado pelo estudo de Moreno-Jiménez e cols. (2009), numa amostra de
380 enfermeiros de saúde pública no estado de Puebla (México), com a componente
despersonalização a deter o valor médio consideravelmente mais elevado (2,36) e no
estudo de Czernik e cols. (2006), com profissionais de saúde.
Moreno Jiménez, Garrosa Hernández, González Gutiérres e Gálvez Herrer (2004),
propõem o valor três, para ser considerado afectado pelo síndrome. Numa revisão de
alguns estudos sobre as médias ponderadas do síndroma de burnout apontam para
valores abaixo de três, como é o caso do estudo realizado por Román Hernández (2003),
numa amostra de 287 profissionais de saúde, dos quais 118 eram enfermeiros (média
2,46 d.p. 0,98), realizado por Rainho (2005) em enfermeiros de cuidados de saúde
primários e diferenciados (média 2,33 dp 0,52) e por Moreno Jiménez e cols. (1997)
numa amostra de 145 professores (média 2,35 d.p. 0,61).
1.3. Análise correlacional e regressão linear simples
No que diz respeito à análise correlacional, primeiramente quanto aos factores
antecedentes de burnout com o síndroma, e seguidamente quanto aos factores
antecedentes de burnout com cada uma das dimensões do síndroma, ou seja, exaustão
emocional, despersonalização e redução da realização profissional. Posteriormente
procedeu-se à relação entre o síndroma de burnout e as consequências, e à regressão
simples para determinar em que medida os antecedentes de burnout explicam a
variância dos valores do síndrome e as suas dimensões na amostra dos profissionais em
estudo. Os coeficientes de correlação entre os factores antecedentes de burnout e o
síndrome e as suas dimensões podem observar-se na Tabela 4.
- 45 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
Tabela 4. Correlação entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma
Síndroma de burnout por dimensão
Síndroma
burnout
Factores
antecedentes
(total)
Exaustão
emocional
Despersonalização
Redução realização
pessoal
0,71**
0,56**
0,42**
0,63**
Coeficiente de correlação de Pearson. ** p<0,01 (2-caudas)
Podemos verificar através do coeficiente de correlação de Pearson, uma correlação
estatisticamente significativa e positiva entre factores antecedentes de burnout e o
síndroma (r = 0,71; p<0,01), o que pode ser considerada uma associação alta (Pestana &
Gageiro, 2000). Este resultado é também corroborado pelos estudos de Rainho (2005),
cuja correlação foi de 0,72, de Román Hernández (2003), com uma correlação de 0,65 e
de Moreno Jiménez e cols. (1997), com uma correlação mais moderada (0,60). De igual
modo, as correlações entre as três dimensões do síndroma de burnout e os factores
antecedentes foram significativas. A redução da realização pessoal foi a dimensão mais
fortemente correlacionada (r = 0,63; p<0,01), conforme se pode observar na Tabela 4.
O que não é sobreponível aos resultados obtidos por Garrosa e cols. (2010) e por
Moreno-Jiménez e cols. (2009) sendo que foi a exaustão emocional a dimensão em que
se verificou uma maior correlação, respectivamente r=0,43 e r=0,45.
A Tabela 5, apresenta o coeficiente de correlação entre o síndroma de burnout e as
consequências.
Tabela 5. Correlação entre o síndroma de burnout e as consequências
Consequências
0,62**
Síndroma burnout
Coeficiente de correlação de Pearson. ** p<0,01 (2-caudas)
Como podemos observar pela análise da Tabela 5, através do coeficiente de correlação
de Pearson, verifica-se uma correlação estatisticamente significativa e positiva entre o
- 46 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
síndroma de burnout e as consequências (r = 0,62; p<0,01). No entanto, esta correlação
merece uma interpretação cuidada, na medida em que o teste de fiabilidade através do
coeficiente de alpha de Cronbach foi de 0,47, bastante inferior ao recomendado (0,70)
(Maroco & Garcia-Marques, 2006).
Realizada a análise de correlação, procedeu-se à análise de regressão linear simples,
tendo como variável independente os factores antecedentes de burnout e variáveis
dependentes o síndroma de burnout, as dimensões do síndroma, ou seja, a exaustão
emocional, despersonalização e redução da realização profissional, cujos resultados da
análise de regressão linear se encontram explicitados na tabela 6.
Tabela 6. Regressão linear tendo como variável independente os factores antecedentes e
variáveis dependentes o síndroma de burnout, e as suas dimensões
(variáveis
dependentes)
Antecedentes
(variável independente)
β
IC (95%)
t
R2
F(1,158)
p
Síndroma burnout
0,71
(0,77-1,15)
10,08
0,50
101,55
<0,01
Exaustão emocional
0,56
(0,57-1,04)
6,81
0,32
46,44
<0,01
Despersonalização
0,42
(0,51-1,25)
4,71
0,18
22,15
<0,01
Redução da realização pessoal
0,63
(0,90-1,48)
8,12
0,40
66,01
<0,01
Quanto aos resultados da regressão linear, constata-se na Tabela 6 que “os factores
antecedentes” são um preditor significativo do síndrome de burnout (=0,71, p<0,01),
explicando 50% da variância, na amostra em estudo. Quanto às dimensões do síndroma
de burnout, podemos observar que “os factores antecedentes” são um preditor
significativo de exaustão emocional, explicando 32% da variância (=0,56, p<0,01),
40% da variância da realização pessoal (=0,63, p<0,01) e 18% da variância quanto à
variável despersonalização (=0,42, p<0,01). Valores muito idênticos foram
encontrados no estudo de Rainho (2005), apontando para valores explicativos da
variância de 32% , 14% e 44%, respectivamente. Os resultados obtidos no estudo
quanto à explicação da variância dos factores antecedentes, relativamente às dimensões
do síndroma, vão de encontro ao modelo proposto por Maslach e cols. (1996), em que o
processo evolutivo do síndroma de burnout se inicia pela exaustão emocional e só
- 47 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
posteriormente ocorre a despersonalização como resultado da exaustão, enquanto que a
redução da realização pessoal se desenvolve de forma independente, tendo como
resultado o síndrome de burnout.
1.4. Comparação das médias do síndroma de burnout nos enfermeiros
da população
Com o objectivo de analisar os níveis de burnout em diversos grupos, e desta forma
poder associar o burnout a determinadas características da amostra, foram avaliadas as
médias do síndrome de burnout e comparadas entre dois grupos independentes de
acordo com o sexo, como se pode constatar na Tabela 7.
Tabela 7. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o sexo
n
Média
Desvio
Padrão
Masculino
27
2,74
0,46
Feminino
78
2,48
0,54
Sexo
t
g.l
p
-2,47
54,00
0,017
Como podemos observar na Tabela 7, a média ponderada dos valores do síndroma de
burnout em enfermeiros do sexo masculino foi de 2,74 (d.p.=0,46), e em enfermeiros do
sexo feminino de 2,48 (d.p.=0,54), com diferenças estatisticamente significativas
(p=0,017), sendo o valor médio superior nos enfermeiros do sexo masculino. Os
resultados obtidos quanto à expressão do síndroma de burnout em função do sexo não
são sobreponíveis aos estudos de Queirós (2005), Garrosa e cols. (2010) e Browning,
Ryan, Greenberg e Rolniak (2006), que não identificam a variável género como
diferenciadora do valor do síndroma de burnout, o que poderá ter como razões
explicativas o facto do grupo do sexo masculino apresentar algumas características
sociodemográficas relevantes: a média de idades aproxima-se dos 40 anos (39,85,
d.p.=1,3), têm mais filhos e mais pessoas dependentes, como também atendem mais
pessoas por dia.
- 48 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
Na Tabela 8 encontram-se as médias ponderadas do síndroma de burnout em
enfermeiros de acordo com a existência ou não de filhos.
Tabela 8. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com a
existência ou não de filhos
Desvio
n
Média
Sem filhos
38
2,37
0,49
Com filhos
63
2,64
0,53
Padrão
Filhos
t
g.l
p
-2,57
82,80
0,012
Na Tabela 8, podemos observar que a média ponderada dos valores do síndroma de
burnout nos enfermeiros que não têm filhos foi de 2,37 (d.p.=0,49) e nos enfermeiros
que têm filhos foi de 2,64 (d.p.=0,53). A diferença verificada é estatisticamente
significativa (p=0,012), sendo superior nos enfermeiros que têm filhos. Embora os
estudos de Marques-Teixeira (2002) e de Maslach e Jackson (1986) apontem para que
ter família e filhos parece ajudar, funcionando como factor protector de burnout, neste
estudo o mesmo não se verificou, o que pode estar relacionado, face à média de idades
dos enfermeiros em estudo, com o facto dos filhos estarem na faixa etária da
adolescência e, por conseguinte, influenciar os valores de burnout. O estudo de Queirós
(2005) aponta para que os filhos menores parece influenciar os valores de exaustão
emocional e física.
Na Tabela 9, explicitam-se as médias do síndroma de burnout em enfermeiros de acordo
com o serviço onde desempenham funções.
Tabela 9. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o serviço
onde desempenha funções
Serviço
onde
trabalha
Desvio
n
Média
Urgência
71
2,64
0,55
Cuidados
intensivos
32
2,33
0,43
- 49 -
Padrão
t
g.l
p
3,08
75,7
0,003
Apresentação e Discussão dos Resultados
Na Tabela 9, observa-se que a média ponderada dos valores do síndroma de burnout em
enfermeiros que exercem funções no serviço de urgência foi de 2,64 (d.p.=0,55) e nos
enfermeiros que exercem funções em unidades de cuidados intensivos foi de 2,33
(d.p.=0,43). A diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,003), sendo
superior nos enfermeiros que exercem funções no serviço de urgência. O local onde os
profissionais desempenham funções, devido às suas características intrínsecas, têm um
papel importante no desenvolvimento do burnout. Estudos identificam os serviços de
urgência e as unidades de cuidados intensivos como contextos de trabalho onde os
níveis de burnout são superiores relativamente a outros serviços (Browning et al., 2007;
Queirós, 1998; Quirós-Aragón & Labrador-Encinas, 2007), o que também se evidencia
neste estudo com os enfermeiros que exercem funções no serviço de urgência a
apresentar uma média ponderada (2,64) de burnout já preocupante.
Na Tabela 10, encontram-se as médias do síndroma de burnout em enfermeiros de
acordo com o número de anos de trabalho por turnos.
Tabela 10. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o
número de anos de trabalho por turnos
Tempo que
trabalha
por turnos
Desvio
n
Média
≤ 12 anos
49
2,45
0,57
> 12 anos
48
2,67
0,45
Padrão
t
g.l
p
-2,11
91,5
0,037
Na Tabela 10, constata-se que a média ponderada dos valores do síndroma de burnout
nos enfermeiros com menos de doze anos de trabalho por turnos foi de 2,45 (d.p.=0,57)
e nos enfermeiros com mais de doze anos de trabalho por turnos foi de 2,67 (d.p.=0,45).
A diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,037), sendo superior nos
enfermeiros que trabalham por turnos há mais de doze anos. O tipo de horário praticado,
nomeadamente o trabalho por turnos, e mais especificamente o horário nocturno, tem
sido apontado como potenciador da exaustão emocional e da despersonalização
(Sahraian et al., 2008), resultado que corrobora o verificado neste estudo. A tabela 11
diz respeito às médias do síndroma de burnout em enfermeiros de acordo com o tipo de
vínculo laboral.
- 50 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
Tabela 11. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com
o tipo de vínculo laboral
Vínculo
laboral
Contrato em
funções
públicas
Contrato
individual de
trabalho
n
Média
80
2,62
23
Desvio
Padrão
t
g.l
p
-2,88
39,7
0,006
0,53
2,29
0,47
Como se pode observar na Tabela 11, a média ponderada dos valores do síndroma de
burnout em enfermeiros cujo vínculo laboral é contrato em funções públicas foi de 2,62
(d.p.=0,53) e nos enfermeiros cujo vínculo laboral é contrato individual de trabalho foi
de 2,29 (d.p.=0,47). O tipo de vínculo à organização é mencionado por Queirós (2005)
com relevância estatisticamente significativa no que diz respeito à dimensão
despersonalização. Neste estudo, a diferença verificada é estatisticamente significativa
(p=0,006), sendo superior nos enfermeiros cujo vínculo laboral é contrato em funções
públicas, que apesar de se apresentar como um tipo de contrato com maior estabilidade
profissional, traduz-se em níveis de burnout mais elevados. Na Tabela 12, encontram-se
as médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tempo médio de
deslocação de casa para o trabalho.
Tabela 12. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o
tempo médio de deslocação de casa para o trabalho
Tempo de
casa ao
trabalho
Desvio
n
Média
≤ 10 min
60
2,42
0,52
> 10 min
43
2,72
0,50
Padrão
t
g.l
p
-2,97
92,34
0,004
Relativamente ao tempo gasto na deslocação de casa para o trabalho, verificamos que
60 (58,3%) enfermeiros demoram menos de 10 minutos. Como podemos observar na
Tabela 12, a média ponderada dos valores do síndroma de burnout em enfermeiros que
demoram menos de 10 minutos na deslocação de casa para o trabalho foi de 2,42
- 51 -
Apresentação e Discussão dos Resultados
(d.p.=0,52) e nos enfermeiros que demoram mais de 10 minutos na deslocação de casa
para o trabalho foi de 2,72 (d.p.=0,50). A diferença verificada é estatisticamente
significativa (p=0,004), sendo superior nos enfermeiros que demoram mais de 10
minutos na deslocação de casa para o trabalho, o que não foi identificado no estudo de
Queirós (2005), como uma variável com relação significativa no que concerne ao
síndroma de burnout. Da Tabela 13 constam as médias do síndroma de burnout em
enfermeiros de acordo com o número de utentes que são diariamente atendidos.
Tabela 13. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o
número de utentes que atende por dia
Número de
utentes dia
Desvio
n
Média
< 29
39
2,38
0,51
≥ 29
45
2,75
0,47
Padrão
t
g.l
p
-3,39
78,52
0,001
Conforme a Tabela 13, a média ponderada dos valores do síndroma de burnout em
enfermeiros que atendem menos de vinte e nove utentes por dia foi de 2,38 (d.p.=0,51) e
nos enfermeiros que atendem mais de vinte e nove utentes por dia foi de 2,75
(d.p.=0,47). A diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,001), sendo
superior nos enfermeiros que atendem diariamente mais de vinte e nove utentes. De
facto, as profissões que assentam numa relação humana intensa, tais como os
enfermeiros, apresentam uma sobrecarga qualitativa, na medida em que encerram, para
além de uma exigência técnica, uma elevada capacidade comunicacional inerente ao
relacionamento interpessoal. Flynn, Thomas, Hawkins e Clarke (2009), num estudo
transversal com 1015 enfermeiros de várias unidades de diálise, sublinham que o rácio
paciente/enfermeiro é um factor preditor importante para a sobrecarga de trabalho e
consequentemente com possível efeito no aparecimento de burnout.
- 52 -
PARTE IV
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
- 53 -
Conclusões e Sugestões
Efectuado o estudo, este é o momento de sumariar as principais conclusões relativas ao
estudo do fenómeno de burnout em enfermeiros portugueses, num contexto particular
de intervenção destes profissionais em serviços de urgência e unidades de cuidados
intensivos de um centro hospitalar do norte do país. Tendo por base a análise das
variáveis em estudo e por uma questão de organização, considerámos parcelarmente as
conclusões relativas aos sujeitos (caracterização da amostra), ao síndroma de burnout,
bem como às relações estatisticamente significativas das médias de burnout, com
determinadas características sociodemográficas e profissionais.
De um total de 138 enfermeiros a desempenhar funções nos serviços de urgência e
cuidados intensivos, participaram neste estudo um total de 103. São predominantemente
do sexo feminino (73,8%), e a média de idades é de 36,31 anos. Na distribuição etária,
podemos verificar que a maioria dos sujeitos é jovem, sendo o grupo etário 31-40 anos
o mais representativo (38,8%), seguido do grupo etário dos 21-30 anos (28,2%). No que
concerne à relação pessoal, a maioria (81,6%) mantém relações com parceiro habitual,
existe, contudo, um número significativo de enfermeiros que não tem parceiro habitual
(18,4%), na sua maioria do sexo feminino.
Quanto à existência de filhos, 62,4% do total dos enfermeiros do estudo tem filhos e é
de salientar que 69,3% refere ter pessoas dependentes a seu cargo, na sua maioria duas
ou mais pessoas dependentes, situação mais expressiva nos enfermeiros do sexo
masculino. No que diz respeito às habilitações académicas, a maioria (95,1%) possui
licenciatura em enfermagem.
No que diz respeito ao serviço onde exercem funções, 68,9% dos enfermeiros trabalha
em serviços de urgência, o tempo médio de anos na profissão é de 13,5 anos, com o
mínimo de 1 ano e o máximo de 36 anos, sendo que a maioria (90,3%) está no nível 1
(enfermeiro e enfermeiro graduado) da categoria profissional e o tempo médio na
categoria foi de aproximadamente oito anos. Relativamente ao tipo de horário praticado,
verifica-se que 93,2% realiza um horário por turnos e que o tipo de vínculo laboral
predominante, para 77,7%, é contrato em funções públicas, de carácter mais definitivo.
- 54 -
Conclusões e Sugestões
No que diz respeito à interacção com os utentes, 57,1% atende menos de 30 utentes por
dia, enquanto que 46,6% mantém uma interacção superior a 80% do tempo diário
dispendido na prestação de cuidados.
Relativamente ao síndroma de burnout, verificou-se que: i) Os enfermeiros da amostra
apresentam uma média ponderada de burnout de 2,55 (d.p.0,53), ligeiramente superior à
média da escala; ii) A dimensão despersonalização detém o valor médio mais elevado
(2,83, d.p.0,82) de entre as três dimensões do síndroma de burnout, seguida pela
exaustão emocional (2,41,d.p.0,56) e redução da realização pessoal (2,39, d.p.0,74).
Uma correlação estatisticamente significativa e positiva verificou-se entre: i) Factores
antecedentes de burnout e o síndroma; ii) Factores antecedentes de burnout e exaustão
emocional; iii) Factores antecedentes de burnout e despersonalização; iv) Factores
antecedentes de burnout e redução da realização pessoal; v) O síndroma de burnout e as
suas consequências.
De entre os factores intrínsecos à pessoa, mais especificamente as váriáveis
sociodemográficas, e constatando-se da revisão bibliográfica diferentes conclusões,
serão enumerados os resultados, com base nas hipóteses estabelecidas, em que se
verificou diferenças estatisticamente significativas:

Atendendo à variável sexo, constatou-se que os elementos do sexo masculino
apresentam um valor médio mais elevado (2,74) quanto ao síndroma de burnout;

A variável número de filhos diferencia o valor médio de burnout, sendo mais
elevado (2,64) para os enfermeiros com filhos do que para os que não têm (2,32);

Considerando o serviço, os enfermeiros que exercem funções em serviços de
urgência, apresentam um valor médio consideravelmente mais elevado (2,64) em
relação aos que exercem em cuidados intensivos (2,33);

Em relação ao número de anos de trabalho por turnos, os resultados apontam para
que o valor médio de burnout seja superior (2,67) entre os enfermeiros que
realizam este tipo de horário há mais de 12 anos;
- 55 -
Conclusões e Sugestões

No que se refere ao tipo de vínculo laboral, os enfermeiros que detêm o contrato
em funções públicas revelam um valor médio bastante superior (2,62), em
oposição aos que mantêm um vínculo laboral de natureza mais precária;

O tempo dispendido na deslocação de casa para o trabalho, determina o valor
médio do síndroma de burnout, sendo mais elevado (2,72) nos enfermeiros que
demoram mais de dez minutos neste percurso;

Os enfermeiros que em média atendem mais utentes evidenciam um valor médio
mais elevado (2,75), em relação aos enfermeiros que atendem menos utentes;

Quanto à regressão linear efectuada, os factores antecedentes de burnout explicam
50% da variância do síndroma e 32% da exaustão emocional, 18% da
despersonalização e 40% da redução da realização pessoal, dimensões constituintes
do síndroma de burnout.
No que diz respeito ao contributo destes resultados, somos de opinião que as
organizações que se querem afirmar pela sua competetividade e excelência dos serviços
que prestam, e de modo particular as organizações de saúde, pelas características dos
produtos que disponibilizam aos seus clientes, devem integrar nas suas políticas de
gestão de qualidade medidas estratégicas para a minimização deste problema.
Atendendo à expressão da variância da relação entre os factores antecedentes e a
despersonalização, será expectável que os gestores intermédios, actores imprescindíveis
na qualidade dos cuidados e no bem-estar das equipas multiprofissionais, incrementem
medidas articuladas e sistematizadas no âmbito da prevenção do síndroma de burnout,
traduzido em elevada exaustão emocional e despersonalização. A título de exemplo,
mencionamos a promoção de locais de trabalho agradáveis, a agilização de fluxos de
informação, a criação de grupos de suporte e de discussão, que alicerçadas em
dinâmicas relacionais, encorajem a partilha de dificuldades nos processos de tomada de
decisão e no reconhecimento do trabalho efectuado.
Pensamos que o (re)conhecimento deste problema, no seio das organizações e dos
profissionais de saúde constitui um passo decisivo para a definição de estratégias que o
adjectivam como uma “epidemia invisível”.
- 56 -
Conclusões e Sugestões
Em qualquer estudo é fundamental a análise das suas limitações, para que em
investigações futuras as questões metodológicas possam ser melhoradas, adoptando
desenhos mais apropriados. Além das limitações intrínsecas dos estudos transversais
para inferir causalidade, este estudo foi desenvolvimento a partir de uma amostra não
probabilística, constituída por enfermeiros que participaram voluntariamente no estudo,
não permitindo por isso inferir para a população de referência.
- 57 -
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- 58 -
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- 66 -
ANEXOS
- 67 -
I. QUESTIONÁRIO BREVE DE BURNOUT (QBB)
- 68 -
II Parte
Por favor, responda às seguintes perguntas, rodeando com um círculo a opção desejada
(seleccione só uma opção)
1. Em geral, estou cansado do meu trabalho.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
2. Sinto-me identificado com o meu trabalho.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
3. Os utentes do meu trabalho frequentemente apresentam excessivas exigências e
comportamentos irritantes.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
4. O meu supervisor apoia-me nas decisões que tomo.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
5. Actualmente o meu trabalho proporciona-me poucos desafios pessoais.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
6. Actualmente o meu trabalho é desinteressante
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
7. Quando estou a trabalhar fico de mau humor.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
8. Eu e os colegas apoiamo-nos no trabalho
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
9. As relações pessoais que estabeleço no trabalho são gratificantes para mim
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nunca
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Sempre
10. Dada a responsabilidade que tenho no meu trabalho, não conheço bem os resultados e
o alcance do mesmo.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
11. As pessoas que tenho que atender reconhecem muito pouco os esforços que se fazempor
eles.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
12. O meu interesse pelo desenvolvimento profissional é actualmente muito escasso.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
13. Considera que o trabalho que realiza, tem consequências na sua saúde
pessoal(cefaleias, insónia, etc.)
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
14. O meu trabalho é repetitivo
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
15. Estou desgastado pelo meu trabalho
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
16. Gosto do ambiente e do clima do meu trabalho
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
17. O trabalho está a afectar as minhas relações familiares e pessoais
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
18. Procuro despersonalizar as relações com os utentes do meu trabalho
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
19. O trabalho que eu faço está longe de ser aquele que eu desejaria
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
20. O meu trabalho é muito aborrecido
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
21. Os problemas do meu trabalho fazem com que o meu rendimento seja menor
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
Muito Obrigado pela colaboração
APÊNDICES
- 71 -
I. OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS
- 72 -
Operacionalização de variáveis sociodemográficas e de caracterização da situação laboral
Variável
Tipo
Categoria
Idade
Ordinal
Número de anos.
Sexo (género)
Nominal
Masculino;
Feminino.
Relações pessoais:
Nominal
Com parceiro habitual;
Sem parceiro habitual;
Sem parceiro.
Número de filhos:
Ordinal
Numero de filhos.
Habilitações literárias:
Nominal
9º Ano;
12 Ano;
Curso médio;
Curso superior.
Habilitações
Académicas:
Nominal
Bacharel;
Licenciado;
Mestre.
Categoria profissional:
Nominal
Enfermeiro;
Enfermeiro Graduado;
Enfermeiro Especialista;
Enfermeiro Chefe;
Enfermeiro Supervisor.
Situação laboral:
Nominal
Contratado;
Efectivo;
Tempo de experiência na
profissão:
Ordinal
Número de anos
Tempo que trabalha na
mesma Instituição:
Ordinal
Número de anos.
Tempo que detém a mesma
Categoria:
Ordinal
Número de anos.
Horário:
Nominal
Fixo;
Turnos.
Número de horas que
trabalha por semana
Ordinal
Numero de horas.
Número de pessoas que
atende por dia:
Ordinal
Numero de pessoas.
Ttempo da jornada de
trabalho diária que passa
em interacção com os
utentes:
Ordinal
Mais de 80%;
> 40% até 79%;
>20% até 39%;
Menos de 20%.
Tem que realizar algumas
actividades relacionados
com o trabalho em casa:
Nominal
Sim;
Não.
- 73 -
II. INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS
- 74 -
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
Instrumento de Recolha de Dados
Dissertação para a obtenção do grau de Mestre
sob a orientação da Professora Doutora Maria João Pinto Monteiro
José Eduardo Lima Martins
VILA REAL, JANEIRO DE 2009
Informações:
Este instrumento consta de três partes: a primeira refere-se aos dados socio-demográficos que caracterizam os
profissionais da equipe de enfermagem, a segunda é constituída pelos 21 itens do Questionário Breve de
Burnout e a terceira é constituída pela Work Environmente Scale, que é um instrumento para analisar o clima
organizacional e é composta por 90 itens dicotonómicos. Não se trata de uma prova de rendimento e tão pouco de
um teste de capacidades; por esta razão não há respostas certas ou erradas.
Trata-se de um questionário auto-administrado que deve ser preenchido livremente com toda a franqueza e
naturalidade. Ao realizá-lo evite mencionar seu nome ou assinar a folha de respostas, para assim assegurar seu
anonimato e o carácter confidencial do conteúdo. Agora que sabe como proceder, por favor, responda ao
questionário, não deixando nenhum dos itens sem resposta. Reflicta sobre o conteúdo dos mesmos e responda
com toda a amplitude de julgamento e com a maior sinceridade possível.
ID 
Questionário (I Parte)
1. Idade:________anos
2. Sexo:
F  (0)
M  (1)
3. Relações pessoais: Com parceiro habitual  (1) Sem parceiro habitual  (2)
Sem parceiro  (3)
4. Professa alguma religião: Sim  (1) Não  (0)
Especifique _______________________________
5. Número de filhos: __________
5.1. Quantas pessoas vivem consigo e que dependem de si? 
6. Habilitações Académicas:
Bacharel  (1)
Licenciado  (2)
Outro: __________________
7. Anos de Serviço na profissão de Enfermagem: _______ anos _______ meses
8. Categoria profissional: _______________________________________
8.1 Tempo que detém a mesma Categoria: ______ anos_____ meses
9. Instituição em que trabalha: __________________________________
9.1 Tempo na Instituição: _____ anos ______ meses
10. Serviço onde trabalha actualmente: ____________________________
10.1 Tempo de Serviço no local de trabalho actual: ____ anos ____ meses
11. Horário: Fixo  (1) Turnos  (2)
11.1 Se trabalha por turnos, que sequência mais frequentemente realiza (ex. T T M N F F ou T M D N F T): ________________
11.2 Ao todo, há quanto tempo trabalha por turnos: ___ anos ____ meses
12. Situação laboral: Contratado  (1)
Quadro  (2)
13. Número de horas que trabalha por semana: ______horas (incluindo horas extraordinárias)
14. Número de horas, que considera de lazer, por semana: ____ horas
15. Em média, quanto tempo gasta para ir de casa para o trabalho ____ horas____ minutos
16. Fuma? Não  (0) Sim  (1)
16.1 Se Sim, numero médio de cigarros por dia? 
17. Número de utentes/doentes que atende por dia?·
18. Quanto tempo da sua jornada de trabalho diária passa em interacção1 com os utentes/doentes?
Mais de 80%  (1)
Entre 80% - 40%  (2)
19. É chefe ou coordena alguma área?
Entre 39% - 20%  (3)
Menos de 20%  (4)
Sim  (1) Não  (0)
20. Tem que realizar algumas actividades relacionados com o trabalho em casa?
Sim  (1)
Não  (0)
1
Interacção, “processo de percepção, comunicação entre pessoa e ambiente e entre pessoa e pessoa, manifestado por comportamentos
verbais e não verbais. Cada indivíduo numa interacção (enfermeiro e utente) é detentor de conhecimentos, necessidades, objectivos,
experiências passadas e percepções diferentes que influenciam as interacções” (King, 1981, cit. por Ackermann et al., 1989, p.205).
II Parte
Por favor, responda às seguintes perguntas, rodeando com um círculo a opção desejada
(seleccione só uma opção)
1. Em geral, estou cansado do meu trabalho.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
2. Sinto-me identificado com o meu trabalho.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
3. Os utentes do meu trabalho frequentemente apresentam excessivas exigências e
comportamentos irritantes.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
4. O meu supervisor apoia-me nas decisões que tomo.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
5. Actualmente o meu trabalho proporciona-me poucos desafios pessoais.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
6. Actualmente o meu trabalho é desinteressante
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
7. Quando estou a trabalhar fico de mau humor.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
8. Eu e os colegas apoiamo-nos no trabalho
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
9. As relações pessoais que estabeleço no trabalho são gratificantes para mim
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nunca
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Sempre
10. Dada a responsabilidade que tenho no meu trabalho, não conheço bem os resultados e
o alcance do mesmo.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
11. As pessoas que tenho que atender reconhecem muito pouco os esforços que se fazempor
eles.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
12. O meu interesse pelo desenvolvimento profissional é actualmente muito escasso.
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Totalmente em
desacordo
Em desacordo
Indeciso
De acordo
Totalmente
de acordo
13. Considera que o trabalho que realiza, tem consequências na sua saúde
pessoal(cefaleias, insónia, etc.)
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
14. O meu trabalho é repetitivo
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
15. Estou desgastado pelo meu trabalho
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
16. Gosto do ambiente e do clima do meu trabalho
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
17. O trabalho está a afectar as minhas relações familiares e pessoais
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
18. Procuro despersonalizar as relações com os utentes do meu trabalho
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
19. O trabalho que eu faço está longe de ser aquele que eu desejaria
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Nada
Muito pouco
Algo
Bastante
Muito
20. O meu trabalho é muito aborrecido
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
21. Os problemas do meu trabalho fazem com que o meu rendimento seja menor
1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5
Em nenhuma
ocasião
Raramente
Algumas
vezes
Frequentemente
Na maioria
das ocasiões
Muito Obrigado pela colaboração
IV. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA A RECOLHA DE DADOS
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universidade de trás-os-montes e alto douro avaliação processual