Escola Técnica CENIB
RAF – Cursos e Eventos Científicos, Culturais e Educacionais
CNPJ: 04.054.657/0001-92 - Pareceres SEE/CEE/RJ N.º 361/01 e 149/03
Discurso Colação de Grau – Formandos de 2010 do curso de habilitação técnica em Radiologia
– Presidente da mesa: Prof. Antonio Brasil.
“Não chores, meu filho; não chores que a vida é luta renhida: Viver é lutar. A vida é
combate que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar ! ”
Gonçalves Dias, como os demais nativistas, procurava formatar um sentimento e
um perfil de brasilidade construtiva para o nosso povo. Trecho apropriado para o
momento e para enaltecer os bravos formandos que, por mais próximos que
sejamos deles, somente os próprios sabem dos caminhos percorridos para chegar
até aqui. Sem dúvida, e com todos os méritos, são pessoas diferenciadas, frutos
de uma verdadeira e apurada seleção. Alguns companheiros da partida ficaram
pelo caminho ou se atrasaram para esta chegada, aos quais somos solidários e
lhes dedicamos este evento como incentivo, pois também serão capazes.
Seleção essa iniciada muito antes, quando ousaram contra a tendência e o
aparente conforto do ensino em universidades, e optaram por uma profissão
técnica, num evidente sinal de maturidade, coerência, visão, capacidade de
planejamento e compromisso com os seus destinos e das suas famílias.
Raramente alguém procura um curso técnico sem minimamente conhecer algumas
importantes características da profissão. Do mesmo modo, a maioria absoluta dos
que estudam na Escola Técnica Cenib já nos chegam sabedores dos principais
pontos que permeiam o perfil da nossa Instituição. São, portanto, dois fortes
fatores de escolha, determinantes para esse processo de diferenciação, sendo a
vivência escolar e os próprios alunos os responsáveis pelos fatores condicionantes
da construção e moldagem dos melhores profissionais da área tecnológica da
radiologia, aqui presentes. O que muito nos envaidece.
Os méritos dos nossos formandos são maiores quando se faz um breve histórico
do longo processo de desvalorização do ensino profissionalizante pela sociedade
brasileira. Desde a colonização do nosso País a educação vem sendo vista e
praticada como um instrumento de manutenção de poder político e econômico de
uma minoria sobre a grande maioria da população. Há séculos se tem privado as
grandes massas trabalhadoras da educação de qualidade, reservando-a às elites
dominantes, evidenciando assim o temor da concorrência e deixando claro ser
essa a chave para a libertação da opressão e o caminho da felicidade e do melhor
futuro que sempre foram negados às gerações de oprimidos.
Há muito esses opressores veem cuidando desse controle, promovendo oficinas,
escolas de artes e ofícios, de artesanato, centros de treinamentos e qualificações
de baixa complexidade e qualidade duvidosa aos filhos dos pobres e dos
trabalhadores, muitos voltados à agricultura para mantê-los no atraso rural ou nas
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periferias dos grandes centros. Mais recentemente nos impuseram a conveniente
idéia do modelo fordista, de qualificação segmentada, limitada e especifica voltado
às linhas de produção em escala da automação industrial.
Ao mesmo tempo em que a educação profissionalizante servia para conter as
massas na eterna dependência, atendendo assim aos interesses dessas castas, o
ensino de qualidade permanecia exclusivo para essa minoria dominadora.
Agora chegamos na modernidade, em sintonia com o mundo. É a globalização. A
revolução na comunicação e febre de consumo. A educação repentinamente está
ao alcance de todos. Mas não a de qualidade. A aparente perda do controle do
poder ou enfraquecimento das amarras, passa apenas por uma rápida adaptação
e pequenas mudanças nas formas de exercê-lo e conduzi-lo. Enquanto eram e
ainda o são multiplicadas as Faculdades e Universidades por todo o País,
facilitando o acesso das massas reprimidas a níveis promíscuos, dois fatos graves
e de grande significado ocorrem tacitamente nos bastidores: por um lado essa
profusão de ofertas de vagas de fácil acesso majoritariamente ocorre nas
Instituições privadas e, o que é mais grave, dominadas pelos poderosos
econômicos e/ou políticos de sempre. Por outro lado, a educação disponível à
maioria, além de cara, é de péssima qualidade.
Fechando o raciocínio sobre esse maquiavélico plano, não houve incremento
significativo de vagas ou de universidades públicas nesse período; os pobres e
trabalhadores continuam fora da educação pública de qualidade, restando-lhes o
alçapão das vagas fáceis e de cara manutenção desse setor privado,
prevalecendo os jargões de “vaga certa” e “pagou passou”. Trata-se de um
verdadeiro golpe criminoso contra o nosso povo. Mas, certamente, a história
registrará isso para sempre.
No ultimo e recente fórum econômico mundial, do qual o Brasil é membro, mais
uma vez a nossa triste e vergonhosa realidade é eviscerada diante do mundo,
apontando declínios tanto na educação quanto no PIB nacionais. Na qualidade da
educação e da saúde primárias trocamos o posto nº 79 pelo de 87. Do mesmo
modo que não se vêem obras de saneamento básico, poucos são aqueles que
seguem as desestimulantes carreiras do magistério, aumentando a decadência
nessas áreas. Internamente vemos que, enquanto sobram doutores
desempregados, faltam técnicos para ocuparem as frentes de trabalho. Na
economia, estamos atrás de países como o Chile, a Índia, a China e a Itália. De
2005 a 2009, apesar da fanfarra da euforia política o PIB recuou de 3,1 para 2,9%,
e
as
exportações
patinam
em
1%
do
comércio
global.
Na
produtividade/competitividade caímos da 80ª para 96ª colocação. Na crise de
2008, também sob a nuvem de fumaça política, enquanto China e Índia
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mantiveram os seus ótimos índices de crescimento e do PIB, o do Brasil foi abaixo
de zero.
Enquanto a Coréia do Sul, em 30 anos eleva o seu PIB de menos de um bilhão
para 900 bilhões, após investimento maciço em educação de qualidade em todos
os níveis, agora estimula a formação técnica como regra para manter suas
conquistas.
A situação se agrava quando observamos que as políticas educacionais do Brasil
sempre foram mantidas distantes das demais políticas de interesse da Nação,
especialmente do desenvolvimento industrial, econômico e social. E assistimos a
Lei Darcy Ribeiro - LDB de 1996, nossa última esperança, sendo malversada e
distorcida pelo mesmo sistema. Como exemplos temos a farra dos diplomas e os
freqüentes escândalos denunciados e divulgados pela impressa, apontando filhos
de famílias abastadas apoderando-se de bolsas de estudos pagas pelo Governo
com verbas públicas oriundas do contribuinte, quando o melhor investimento seria
destinar bolsas de estudos para alunos de escolas e cursos técnicos de qualidade.
Aí sim, teríamos bom investimento, com retorno social direto e garantido. Melhor
ainda seria pagar o aluno e mantê-lo sem trabalho durante os estudos, e assim
formar a mão de obra que alavanca o desenvolvimento do País.
Vai aqui uma ressalva às nobres e honrosas exceções existentes entre as
Instituições públicas e privadas, e também aos seus que aqui se enquadrem. Por
outro lado, louvor ainda maior aos educadores, magistrados e Instituições afins
que bravamente resistem ao vergonhoso processo de decadência e de
desmoralização porque passa a educação nacional em todos os seus níveis.
Lamentavelmente, no nosso caso, é como se a educação pública de qualidade e
os bons cursos universitários servissem apenas para fornecer títulos de doutores à
elite, restando às massas os incômodos e discriminadores adjetivos qualificativos
de “trabalhadores, operários, operacionais, técnicos e tecnólogos”. Cabe então a
pergunta: alguém estuda sem pensar num futuro melhor, considerando
principalmente o mercado de trabalho? A resposta é não. Até mesmo quem quer
ser filósofo está focado no futuro trabalho. Portanto, toda educação é
profissionalizante. A diferença está em saber se as propostas educacionais estão
em sintonia com a realidade produtiva do meio e do momento, e com os projetos
de desenvolvimento que se programam para o País.
Temos grandes exemplos desses casos mundo a fora, quando vemos alguns
Países e comparamos as suas excelentes situações educacionais e de índices de
analfabetismo, frente aos lamentáveis níveis de desenvolvimento e de pobreza,
como em Cuba, na Argentina, Uruguai e Rússia. Junto com o Brasil,
transformaram-se em exportadores de cérebros para os grandes centros mundiais,
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financiados com parcas verbas públicas recolhidas através de altas taxas de
impostos da população trabalhadora, negando para as suas próprias Nações o
retorno desses investimentos.
E o Brasil, com esse imenso potencial de desenvolvimento e de riqueza, não
consegue responder a contento, mesmo com excesso de doutores, se vê agora
nesse gargalo diante da excelente oportunidade de deslanchar sua economia, mas
sem a necessária mão de obra qualificada para consolidar o progresso. O grande
aporte de recursos que o País perde importando e remunerando bons profissionais
do exterior, entre técnicos e graduados, ratifica essa realidade, complementada
pela maior carência de profissionais técnicos que ora vivenciamos, causando
prejuízos e atrasos irreparáveis nesses projetos e no nosso desenvolvimento
social, indicando ainda a equivocada opção educacional que deixou a área do
ensino técnico largado a sua própria sorte.
No entanto, deixemos isso para as nossas reflexões em outros momentos, não
podemos macular a nobreza da ocasião, vez que tudo isso apenas ajuda a
transformar em verdadeiro ato de heroísmo as decisões dos nossos formandos e
das suas famílias. Quando decidiram pela nossa Instituição, optaram pelo mais
difícil e se dispuseram a pagar o ônus que isso representa, pois sabiam da árdua
luta, e de que qualidade nunca combinou com facilidade. Mais do que definindo os
seus destinos, estavam também se juntando à resistência e lutando pela boa
educação, defendendo ideais, dignidade, leis, honra e justiça, assim como
mostrando os caminhos para a esperança e o sonho de futuro melhor para todos
os brasileiros.
Agora me dirijo especialmente aos nossos formandos, lembrando-lhes de que
temos consciência das dificuldades e angústias pelas quais passaram até aqui,
mas que não houve equívocos e sim a construção de uma rica e agradável história
de vida escolar da qual jamais esquecerão, e que essa história que vivenciamos
juntos indica que agora temos valores em comum e que, por mais sacrificante que
tenha sido, “teria que ser exatamente assim”, pois se fácil fosse a história seria
outra ou nem mesmo existiria. “Se fácil fosse a missão não teria chegado à tua
mão”. Não seria tão nobre a causa e não mereceria esse glorioso momento, tão
especial que só mesmo poderia ser fruto de colegas especiais como vocês.
Minhas congratulações a vocês.
Discurso proferido pelo Presidente da Mesa e diretor da Escola CENIB, no
cerimonial de colação de grau técnico da turma de radiologia de 2010, Prof.
Antonio Alves Brasil, no auditório cenib em 25 de Setembro de 2010.
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