PORTUGUÊS - 3o ANO
MÓDULO 42
COMPREENSÃO E
INTERPRETAÇÃO DO
TEXTO LITERÁRIO E
NÃO LITERÁRIO
— PARTE 1
Como pode cair no enem
(ENEM)
(Disponível em: www.filosofia.com.br. Acesso em: 30 abr. 2010.)
Pelas características da linguagem visual e pelas escolhas vocabulares, pode-se entender
que o texto possibilita a reflexão sobre uma problemática contemporânea ao:
a) criticar o transporte rodoviário brasileiro, em razão da grande quantidade de caminhões nas
estradas.
b) ironizar a dificuldade de locomoção no trânsito urbano, devido ao grande fluxo de veículos.
c) expor a questão do movimento como um problema existente desde tempos antigos, conforme frase citada.
d) restringir os problemas de tráfego a veículos particulares, defendendo, como solução, o
transporte público.
e) propor a ampliação de vias nas estradas, detalhando o espaço exíguo ocupado pelos veículos nas ruas.
Fixação
1) (ENEM) Leia o texto abaixo.
Cabelos longos, brinco na orelha esquerda, físico de skatista. Na aparência, o estudante
brasiliense Rui Lopes Viana Filho, de 16 anos, não lembra em nada o estereótipo dos gênios.
Ele não usa pesados óculos de grau e está longe de ter um ar introspectivo. No final do
mês passado, Rui retornou de Taiwan, onde enfrentou 419 competidores de todo o mundo
na 39ª Olimpíada Internacional de Matemática. A reluzente medalha de ouro que ele trouxe
na bagagem está dependurada sobre a cama de seu quarto, atulhado de rascunhos dos
problemas matemáticos que aprendeu a decifrar nos últimos cinco anos.
Veja – Vencer uma olimpíada serve de passaporte para uma carreira profissional meteórica?
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à Olimpíada porque sei que a concorrência por um emprego
é cada vez mais selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais para oferecer. O problema é que as
coisas estão mudando muito rápido e não sei qual será minha profissão. Além de ser muito novo
para decidir sobre o meu futuro profissional, sei que esse conceito de carreira mudou muito.
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja)
Na pergunta, o repórter estabelece uma relação entre a entrada do estudante no mercado
de trabalho e a vitória na Olimpíada. O estudante:
a) concorda com a relação e afirma que o desempenho na Olimpíada é fundamental para sua
.entrada no mercado.
-b) discorda da relação e complementa que é fácil se fazer previsões sobre o mercado de trabalho.
c) discorda da relação e afirma que seu futuro profissional independe de dedicação aos estudos.
d) discorda da relação e afirma que seu desempenho só é relevante se escolher uma profissão
relacionada à matemática.
-e) concorda em parte com a relação e complementa que é complexo fazer previsões sobre o
mercado de trabalho.
Fixação
2) (ENEM)
Olá! Negro
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu
sangue sofredor
tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações quando
apagarem
a tua tatuagem execranda,
não apagarão, de suas almas, a tua alma,
negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro ioruba,
negro que foste para o algodão de USA
para os canaviais do Brasil, para o tronco,
para o colar de ferro, para a canga
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreendo agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro!
Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio,
negro!
(LIMA, J. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958
[fragmento].)
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto
social assinalado por:
a) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.
b) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos.
c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.
Fixação
3) (ENEM)
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver
Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
[no Universo...
(Alberto Caeiro)
A tira Hagar e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos
do mundo é condicionada, essencialmente:
a) pelo alcance de cada cultura;
b) pela capacidade visual do observador;
c) pelo senso de humor de cada um;
d) pela idade do observador;
e) pela altura do ponto de observação.
Fixação
Texto para as questões 4 a 8.
Nós, escravocratas
Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos
maiores brasileiros de todos os tempos: o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se
omitiu em agir, pensador e ativista com causa, principal artífice
da abolição do regime escravocrata no Brasil.
Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia:
“Acabar com a escravidão não basta. É preciso acabar com a
obra da escravidão”, como lembrou na semana passada Marcos
Vinicios Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras.
Mas a obra da escravidão continua viva, sob a forma da exclusão
social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego,
sem casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida;
sobretudo sem acesso à educação de qualidade.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da
escravidão se mantém e continuamos escravocratas.
Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão
diferenciada, conforme a renda da família de uma criança, quanto
eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala.
Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição
do conhecimento: instrumento decisivo para a liberdade nos dias
atuais. Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos,
escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas,
beneficiamo-nos da exclusão dos que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos.
Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a
culpa por não saberem ler, em vez de assumirmos nossa própria
culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos
investimentos econômicos no lugar de escolas e professores.
Somos escravocratas, porque construímos universidades para
nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que
foram deserdados do Ensino Médio completo com qualidade.
Somos escravocratas de um novo tipo: a negação da educação
é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão.
A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o
transporte até o Brasil, a prisão e o trabalho forçado. Somos
escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão ficou mais barata e o dinheiro para comprar os escravos
pode ser usado em benefício dos novos escravocratas. Como
na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos
escravos: os sem educação.
Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.
Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as
novas formas de escravidão; e nossos intelectuais e economistas
comemoram minúscula distribuição de renda, como antes os
senhores se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus
escravos, nos anos de alta no preço do açúcar. Continuamos
escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes, com a
proibição do tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do analfabeto ou a
aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e sem
a ousadia da abolição plena.
Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos a escravidão. Ficamos
na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a
revolução educacional que poderia completar a quase-abolição de
1888. Não ousamos romper as amarras que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350
anos, a escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço.
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada
pela escravidão continua, porque continuamos escravocratas.
E ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos
condenados à falta de educação.
F
5
g
c
a
b
c
d
(Cristovam Buarque)
4) (UERJ) Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu
em agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição
do regime escravocrata no Brasil.
Na frase acima, Cristovam Buarque define Joaquim Nabuco de
quatro maneiras. As três primeiras definições partem de determinadas pressuposições. Uma pressuposição que se pode deduzir da
leitura do fragmento é:
a) ativistas têm abraçado muitas causas;
b) intelectuais costumam resistir à ação;
c) políticos ousam pensar a respeito de tudo;
d) pensadores têm lutado pelo fim da escravidão.
Fixação
5) (UERJ) Acabar com a escravidão não basta. É preciso acabar com a obra da escravidão.
No início do texto, o autor cita entre aspas as frases de Joaquim Nabuco para, em seguida, se posicionar pessoalmente perante seu conteúdo. Para o autor, a obra da escravidão
caracteriza-se fundamentalmente por:
a) manter-se através da educação excludente;
b) atenuar-se em função da distribuição de renda;
c) aumentar por causa do índice de analfabetismo;
d) enfraquecer-se graças ao acesso à escolarização.
-
Fixação
F
6) (UERJ) A expressão “somos escravocratas” é repetida quatro vezes no texto que, embora7
assinado pelo autor Cristovam Buarque, é todo enunciado na primeira pessoa do plural. O uso
dessa primeira pessoa do plural, relacionado à escravidão, reforça principalmente o objetivo de:l
a) situar a desigualdade social;
a
b) apontar o aumento da exclusão social;
b
c) responsabilizar a sociedade brasileira;
c
d) demonstrar a importância da educação.
d
Fixação
7) (UERJ) Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada.
A forma sublinhada introduz uma relação de tempo. A ela, entretanto, se associa outra relação de sentido. Essa outra relação de sentido presente na frase acima é de:
a) causa;
b) contraste;
c) conclusão;
d) comparação.
Fixação
F
T
8) (UERJ) Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução
educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888.
A criação da palavra composta, “quase-abolição”, cumpre principalmente a função de:
a) desfazer a contradição entre os termos;
b) estabelecer a gradação entre os termos;
c) enfatizar a abstração de um dos termos;
d) restringir o sentido de um dos termos.
9
e
a
b
c
d
Fixação
Texto para as questões 9 a 11.
A aldeia que nunca mais foi a mesma
Era uma aldeia de pescadores de onde a alegria fugira, e os dias e as noites se sucediam numa monotonia sem fim (...).
Até que o mar, quebrando um mundo, anunciou de longe que trazia nas suas ondas coisa nova, desconhecida, forma disforme que flutuava,
e todos vieram à praia, na espera... E ali ficaram, até que o mar, sem se apressar, trouxe a coisa e a depositou na areia, surpresa triste, um
homem morto...
E o que é que se pode fazer com um morto, se não enterrá-lo? Tomaram-no então para os preparativos de funeral, que naquela aldeia
ficavam a cargo das mulheres: às vezes é mais grato preparar os mortos para a sepultura que acompanhar os vivos na morte que perderam
ao viver. Foi levado pra uma casa, os homens de fora, olhando(...)
(...)
As mãos começaram o trabalho, e nada se dizia, só os rostos tristes... Até que uma delas, um leve tremor no canto dos lábios,balbuciou:
– “É, se tivesse vivido entre nós, teria de se ter curvado sempre para entrar em nossas casas. É muito alto...” E todas assentiram com o silêncio.
(...)
Foi então que uma outra, olhando aquelas mãos enormes, inertes, disse as saudades que arrepiavam a sua pele:
– “Estas mãos... Que terão feito? Terão tomado no seu vazio um rosto de mulher? Terão sido ternas? Terão sabido amar?”
E elas sentiram que coisas belas e sorridentes, há muito esquecidas, passadas por mortas, nas suas funduras, saíam do ouvido e vinham,
mansas, se dizer no silêncio do morto. A vida renascia na morte graciosa de um morto desconhecido e que, por isto mesmo, por ser desconhecido, deixava que pusessem no seu colo os desejos que a morte em vida proibira...
E os homens, do lado de fora, perceberam que algo estranho acontecia: os rostos das mulheres, maçãs em fogo, os olhos brilhantes, os
lábios úmidos, o sorriso selvagem, e compreenderam o milagre: vida que voltava, ressurreição de mortos... E tiveram ciúmes do afogado...
Olharam para si mesmos, se acharam pequenos e domesticados, e perguntaram se aquele homem teria feito gestos nobres (que eles não
mais faziam) e pensaram que ele teria travado batalhas bonitas (onde a sua coragem?), e o viram brincando com crianças (mas lhes faltava
a leveza...), e o invejaram amando como nenhum outro (mas onde se escondera o seu próprio amor?)...
Termina a estória dizendo que eles, finalmente, o enterraram.
Mas a aldeia nunca mais foi a mesma...
Não, não é à toa que conto esta estória. Foi quando eu soube da morte – ela cresceu dentro de mim. Claro que eu já suspeitava: os cavalos
de guerra odeiam crianças, e o bronze das armas odeia canções, especialmente quando falam de flores, e não se ouve o ruflar lúgubre dos
tambores da morte. (...) Foi então que me lembrei da estória. Não, foi ela que se lembrou de mim, e veio, para dar nome aos meus sentimentos,
e se contou de novo. Só que agora os rostos anônimos viraram rostos que eu vira, caminhando, cantando, seguindo a canção, risos que corriam
para ver a banda passar contando coisas de amor, os rojões, as buzinas, as panelas, sinfonia que se tocava, sobre a desculpa de um morto...
Mas não era isto, não era o morto: era o desejo que jorrava, vida, mar que saía de funduras reprimidas e se espraiava como onda, espumas
e conchinhas, mansa e brincalhona... (...)
(ALVES, Rubem. Folha de S.Paulo, 19/05/1984.)
9) (UERJ) O texto de Rubem Alves, ao abordar essencialmente tensões e transformações, divide-se em duas partes. Pode-se dizer que a primeira
e a segunda partes do texto se caracterizam, respectivamente, por:
a) ênfase na realidade e na ficção.
b) foco na terceira e na primeira pessoa.
c) predomínio da descrição e da narração.
d)desenvolvimento da argumentação e da contra- -argumentação.
Fixação
F
10) (UERJ) A metonímia é uma figura de linguagem que consiste no uso de uma palavra em1
lugar de outra, estabelecendo-se entre elas diferentes relações de sentido.
t
O fragmento que apresenta um exemplo de metonímia construída por meio da relação entree
matéria e objeto é:
a
a) “E o que é que se pode fazer com um morto, se não enterrá-lo?”
b
b) “Até que uma delas, um leve tremor no canto dos lábios, balbuciou:”
c
c) “deixava que pusessem no seu colo os desejos que a morte em vida proibira...”
d
d) “e o bronze das armas odeia canções, especialmente quando falam de flores,”
Fixação
11) (UERJ) Na história da aldeia em que todas as coisas eram sempre as mesmas, o agente de
transformação da atitude dos personagens é um homem morto trazido pelo mar. Essa afirmativa
está justificada no seguinte fragmento:
a) “Era uma aldeia de pescadores de onde a alegria fugira,”
b) “às vezes é mais grato preparar os mortos para a sepultura que acompanhar os vivos na morte”
c) “A vida renascia na morte graciosa de um morto desconhecido”
d) “Termina a estória dizendo que eles, finalmente, o enterraram.”
Proposto
Texto para as questões 1 a 3.
A inteligência do herói estava muito perturbada
Acordou com os berros da bicharia lá em baixo nas ruas,
disparando entre as malocas temíveis. E aquele diacho de
sagui-açu1 (...) não era saguim não, chamava elevador e era uma
máquina. De manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados
berros cuquiadas sopros roncos esturros não eram nada disso
não, eram mas cláxons2 campainhas apitos buzinas e tudo era
máquina. As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam
fordes hupmobiles chevrolés dodges mármons e eram máquinas.
Os tamanduás os boitatás3 as inajás4 de curuatás5 de fumo, em
vez eram caminhões bondes autobondes anúncios-luminosos
relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas postes
chaminés... Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina!
O herói aprendendo calado. De vez em quando estremecia.
Voltava a ficar imóvel escutando assuntando maquinando numa
cisma assombrada.
Tomou-o um respeito cheio de inveja por essa deusa de
deveras forçuda, Tupã6 famanado que os filhos da mandioca
chamavam de Máquina, mais cantadeira que a Mãe-d’água7, em
bulhas8 de sarapantar9.
Então resolveu ir brincar com a Máquina pra ser também
imperador dos filhos da mandioca. Mas as três cunhãs10 deram
muitas risadas e falaram que isso de deuses era gorda mentira
antiga, que não tinha deus não e que com a máquina ninguém não
brinca porque ela mata. A máquina não era deus não, nem possuía
os distintivos femininos de que o herói gostava tanto. Era feita
pelos homens. Se mexia com eletricidade com fogo com água com
vento com fumo, os homens aproveitando as forças da natureza.
Porém jacaré acreditou? nem o herói!
(...)
Macunaíma passou então uma semana sem comer nem brincar
só maquinando nas brigas sem vitória dos filhos da mandioca com a
Máquina. A Máquina era que matava os homens porém os homens
é que mandavam na Máquina... Constatou pasmo que os filhos da
mandioca eram donos sem mistério e sem força da máquina sem
mistério sem querer sem fastio, incapaz de explicar as infelicidades
por si. Estava nostálgico assim. Até que uma noite, suspenso no
terraço dum arranhacéu com os manos, Macunaíma concluiu:
— Os filhos da mandioca não ganham da máquina nem ela
ganha deles nesta luta. Há empate.
Não concluiu mais nada porque inda não estava acostumado
com discursos porém palpitava pra ele muito embrulhadamente
muito! que a máquina devia de ser um deus de que os homens não
eram verdadeiramente donos só porque não tinham feito dela uma
Iara explicável mas apenas uma realidade do mundo. De toda essa
embrulhada o pensamento dele sacou bem clarinha uma luz: os
homens é que eram máquinas e as máquinas é que eram homens.
Macunaíma deu uma grande gargalhada. Percebeu que estava
livre outra vez e teve uma satisfa mãe.
(ANDRADE, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. BH: Itatiaia, 1986)
Glossário:
1) sagui-açu, saguim – macacos pequenos
2) cláxon – buzina externa nos automóveis antigos
3) boitatá – cobra-de-fogo, na mitologia tupi-guarani
4) inajá – palmeira de tamanho médio
5) curuatá – flor de palmeira
6) Tupã – entidade da mitologia tupi-guarani
7) Mãe-d’água – espécie de sereia das águas amazônicas
8) bulha – confusão de sons
9) sarapantar – espantar
10) cunhã – mulher jovem, em tupi
1) (UERJ) Toda narrativa de heroísmo costuma ter um personagem
que se torna o antagonista do herói. O antagonista de Macunaíma no
fragmento lido é a Máquina. Para poder combatê-la, o herói simultaneamente a humaniza e a diviniza. Esse movimento do personagem
é contestado no seguinte trecho:
a) “As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes
hupmobiles chevrolés dodges mármons e eram máquinas.”
b) “A máquina não era deus não, nem possuía os distintivos femininos
de que o herói gostava tanto.”
c) “Macunaíma passou então uma semana sem comer nem brincar
só maquinando nas brigas sem vitória dos filhos da mandioca com
a Máquina.”
d) “que a máquina devia de ser um deus de que os homens não
eram verdadeiramente donos”.
Proposto
2) (UERJ) No primeiro parágrafo, a intensidade da experiência do herói, no contato com a
modernização da cidade, ganha ênfase.
O recurso narrativo que exprime essa ênfase se constitui pela:
a) enumeração de imagens sem pontuação.
b) associação entre figuras da mitologia indígena.
c) descrição do cotidiano em linguagem coloquial.
d) apresentação de acontecimentos sem ordenação temporal.
Proposto
3) (UERJ) Algumas situações e atitudes apresentadas no texto contrariam a imagem que tradicionalmente se faz do herói, caracterizando uma espécie de ironia.
A situação do texto que melhor demonstra esse procedimento é:
a) o herói sofre privações.
b) o herói aprende calado.
c) a nostalgia domina o herói.
d) as cunhãs corrigem o herói.
-
Proposto
Texto para as questões 4 e 5:
A lata de lixo
A lata de lixo, outrora sórdido caixote (salvo para os vira-latas), transformou-se hoje num elegante objeto de plástico, em geral azul, perfeita
esfera.
Embarcaríamos até nessa astronave!
Manuel Bandeira viu certa vez um homem fuçando uma lata de lixo num pátio. Com esse material mínimo escreveu uma poesia muito
admirada também num determinado setor das universidades de Roma e de Pisa. Roma! Os palácios vermelhos de Roma! Pisa! A lâmpada de
Galileu! As romanas! As pisanas!
Não é fácil ver-se o lixeiro. Trata-se de um personagem kafkiano, quase marciano. Deixa-se a lata do lado de fora, e ele, pisando com pés de
lã, invisível aos olhos mortais, discreto, obediente, esvazia a esfera azul.
Só uma vez tive ocasião de encontrar um lixeiro, aqui em Roma, nas vésperas do Natal. Bateu à minha porta, subvestido (subnutrido?),
sorridente, anunciando: Eu sou o lixeiro.
Respondo logo, também sorridente: Bom dia. Como se chama o senhor?
Não tolero ignorar os nomes daqueles com quem trato. A função adâmica1 do poeta move-o a nomear as coisas e as pessoas. Não só
atribuir um nome aos que ainda não o têm, mas informar-se dos que já o têm. De resto um homem, antes de ser lixeiro, garçom ou motorista,
é uma pessoa, quero saber seu nome.
Eu me chamo, e todos os outros me chamam, Murilo.
Dum ponto de vista puramente eufônico2 e visual preferiria chamar-me por exemplo Goya, Velázquez ou Zurbarán. Malandro e hipócrita
sou! Bem vejo que não se trata de um ponto de vista puramente eufônico e visual, trata-se de atenção à hierarquia dos valores: mesmo contrariando Ortega y Gasset, mesmo reconhecendo o interesse dum certo lado da obra de Murilo, o lado mais realista, não o situo no plano dos
outros três pintores.
Vaidade das vaidades: Tudo é vaidade, até mesmo a de querer mudar de nome para se elevar, até mesmo a de embarcar numa astronave,
percorrer o cosmo que um dia próximo ou remoto, não sei, será despejado como lixo; e um mundo novo se levantará sobre latas, máquinas
de plástico ou não, sobre as ruínas dos textos, as ruínas das ruínas: o novo céu, a nova terra, previstos e anunciados pelo transformador e
reformador de todas as coisas visíveis e invisíveis, o ser dialético3 por excelência.
(MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. RJ: Nova Aguilar, 1994.)
Glossário:
1) adâmica: relativo a Adão, primeiro homem, segundo a Bíblia
2) eufônico: de som agradável
3) dialético: em que convivem os contrários
4) (UERJ) De modo geral, a crônica apresenta uma linguagem simples e despretensiosa, próxima da conversa de todo dia.
Murilo Mendes, porém, elabora a sua crônica com recursos expressivos comumente associados à função estética da linguagem.
Observe o trecho a seguir, no qual estão sublinhados dois desses recursos.
Não é fácil ver-se o lixeiro. Trata-se de um personagem kafkiano, quase marciano. Deixa-se a lata do lado de fora, e ele, pisando com pés de
lã, invisível aos olhos mortais, discreto, obediente, esvazia a esfera azul.
Nomeie cada recurso e caracterize seu valor expressivo.
Proposto
5) (UERJ) Há no primeiro parágrafo expressões de variado valor conotativo referentes a um
mesmo tópico.
Relacione essas expressões e identifique de que modo o autor estabelece, no texto, um
contraste radical entre duas delas.
Proposto
6) (ENEM)
Com o texto eletrônico, enfim, parece estar ao alcance de nossos olhos e de nossas
mãos um sonho muito antigo da humanidade, que se poderia resumir em duas palavras,
universidade e interatividade.
As luzes, que pensavam que Gutenberg tinha propiciado aos homens uma promessa universal, cultivavam um modo de utopia. Elas imaginam poder, a partir das práticas privadas de cada
um, construir um espaço de intercâmbio crítico das idéias e opiniões. O sonho de Kant era que
cada um fosse ao mesmo tempo leitor e autor, que emitisse juízos sobre as instituições de seu
tempo, quaisquer que elas fossem e que, ao mesmo tempo, pudesse refletir sobre o juízo emitido
pelos outros. Aquilo que outrora só era permitido pela comunicação manuscrita ou a circulação
dos impressos encontra hoje um suporte poderoso com o texto eletrônico.
(CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Unesp, 1998.)
No trecho apresentado, o sociólogo Roger Chartier caracteriza o texto eletrônico como um poderoso
suporte que coloca ao alcance da humanidade o antigo sonho de universidade e interatividade, uma vez
que cada um passa a ser, nesse espaço de integração social, leitor e autor ao mesmo tempo.
A universalidade e a interatividade que o texto eletrônico possibilita estão diretamente relacionadas à função social da internet de:
a) propiciar o livre e imediato acesso às informações e ao
intercâmbio de julgamentos.
b) globalizar a rede de informações e democratizar o acesso aos saberes.
c) expandir as relações interpessoais e dar visibilidade aos interesses pessoais.
d) propiciar entretenimento e acesso a produtos e serviços.
e) expandir os canais de publicidade e o espaço mercadológico.
Proposto
7) (ENEM)
Aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
Olha o sambão, aqui é o país do
futebol
[...]
Esqueço a casa e o trabalho
A vida fica lá fora
Dinheiro fica lá fora
A cama fica lá fora
A mesa fica lá fora
Salário fica lá fora
A fome fica lá fora
A comida fica lá fora
A vida fica lá fora
E tudo fica lá fora
No fundo desse país
Ao longo das avenidas
Nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
(SIMONAL, W. Aqui é o país do futebol. Disponível em: www.
Nesses noventa minutos
vagalume.com.br. Acesso em: 27 out. 2011 [fragmento])
De emoção e alegria
Na letra da canção Aqui é o país do futebol, de Wilson Simonal, o futebol, como elemento da
cultura corporal de movimento e expressão da tradição nacional, é apresentado de forma crítica e
emancipada devido ao fato de:
a) reforçar a relação entre o esporte futebol e o samba.
b) ser apresentado como uma atividade de lazer.
c) ser identificado com a alegria da população brasileira.
d) promover a reflexão sobre a alienação provocada pelo futebol.
e) ser associado ao desenvolvimento do país.
Proposto
8) Os amigos são um dos principais indicadores de bem--estar na vida social das pessoas. Da mesma forma
que em outras áreas, a internet também inovou as maneiras de vivenciar a amizade. Da leitura do infográfico,
depreendem- -se dois tipos de amizade virtual, a simétrica e a assimétrica, ambas com seus prós e contras.
Enquanto a primeira se baseia na relação de reciprocidade, a segunda:
a) reduz o número de amigos virtuais, ao limitar o acesso à rede.
b) parte do anonimato obrigatório para se difundir.
c) reforça a configuração de laços mais profundos de amizade.
d) facilita a interação entre pessoas em virtude de interesses comuns.
e) tem a responsabilidade de promover a proximidade física.
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parte 1 - Irium Educação