Curso Livre de Humanidades
O que é fetiche da mercadoria?
Profª Claudete Pagotto
O que é fetiche da mercadoria ?
Roteiro de exposição:
1. Contexto da obra “O Capital” de Marx
2. A mercadoria: valor de uso e valor
3. O trabalho: concreto e abstrato
4. O fetiche da mercadoria
Bibliografia utilizada:
CARCANHOLO, Reinaldo. A dialética da mercadoria – guia de
leitura. http://rcarcanholo.sites.uol.com.br/Textos/0Dialetica5.pdf
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I,
tomo I, São Paulo, Abril Cultural, 1983.
_________. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo,
Boitempo Editorial, 2004.
ROSDOLSKY, Roman. Gênese e estrutura de O capital de Karl
Marx. Rio de Janeiro, EDURJ, Contraponto, 2001.
RUBIN, Issak Illich. A teoria marxista do valor. São Paulo,
Brasiliense, 1980.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. A filosofia da Práxis. São Paulo,
Paz e Terra, 1968
“Todo começo é difícil; isso vale
para qualquer ciência.
O entendimento do Capítulo I, em especial a
parte que contém a análise da mercadoria,
apresentará, portanto a dificuldade maior.
Porque o corpo desenvolvido é mais fácil de
estudar do que a célula do corpo. Para a
sociedade burguesa, forma celular da
economia é a forma mercadoria do produto
do trabalho e a forma do valor da
mercadoria”(Prefácio da 1ª Edição Alemã, 1867, p.12)
“O que eu, nesta obra,
me proponho a
pesquisar é o
modo de produção capitalista e
as suas relações
correspondentes de produção e
de circulação”
(Prefácio da Primeira Edição, p.2)
“Na Inglaterra, o período de 1820 a
1830, destaca-se pela vivacidade
científica no campo da
Economia Política.
Foi tanto o período de
expansão e vulgarização
no campo da teoria de
Ricardo, quanto de sua luta contra a
velha escola. ”
(Posfácio da 2ª Edição Alemã, 1873, p.16)
“A grande indústria
mesma apenas começava
a sair da sua infância,
o que se comprova pelo
fato de que só com a crise
de 1825 ela inaugura o ciclo
periódico de sua vida
moderna”
(Posfácio da 2ª Edição Alemã, 1873, p.17)
Qual a natureza da riqueza capitalista?
Pós 1830/1848: Economia Política “Vulgar”
“No lugar da pesquisa desinteressada
entrou a espadacharia mercenária, no
lugar da pesquisa científica imparcial
entrou a má consciência e a má
intenção da apologética.”
(Posfácio da 2ª Edição Alemã, 1873, p.17)
A forma mercadoria antes do
Capitalismo:
• Aristóteles: estabelece uma relação de igualdade entre
“coisas perceptivelmente diferentes” e, “não podia
deduzir da própria forma de valor, porque a sociedade
grega baseava-se no trabalho escravo,(..)”(LI,TI, p, 62)
• “Desloquemo-nos à sombria Idade Média” (...) as
“relações de dependência pessoal constituem a base
social dada, os trabalhos e produtos não precisam
adquirir forma fantástica, diferente da sua realidade.
Eles entram na engrenagem social como serviços e
pagamentos em natura”(LI,TI, p,74)
“A riqueza das sociedades
em que domina o modo
de produção capitalista
aparece como uma
‘imensa coleção de
mercadorias’.”
(Cap.I,p.45)
RIQUEZA
DINHEIRO
MERCADORIA
A FORMA MAIS SIMPLES DE VALOR:
A MERCADORIA ...
“é antes de mais nada, um objeto
externo, uma coisa que, por suas
propriedades, satisfaz necessidades
humanas, seja qual for a natureza, a
origem delas, provenham do
estomago ou da fantasia, não altera
nada a coisa.”(45)
MERCADORIA
VALOR DE USO:
qualidade
Capacidade de satisfazer
necessidades
VALOR DE TROCA:
quantidade
Capacidade de comprar
outras mercadorias
A MERCADORIA
“As mercadorias vêm ao mundo sob a forma de
valores de uso ou de corpos de mercadorias, como
ferro, linho, trigo, etc. Elas são só mercadorias,
entretanto, devido à sua duplicidade, objetos de uso
e simultaneamente portadores de valor. Elas
aparecem, por isso, como mercadoria ou possuem a
forma de mercadoria apenas na medida em que
possuem forma dupla, forma natural e forma de
valor.”(p.53)
• Uma mesa, redonda, de madeira de carvalho,
pintada, custa R$ 300, 00.
• A mesa tem valor de R$300,00 mostra que a
mesa é uma mercadoria , que é produzida
para o mercado.
• “o valor é uma relação social tomada como
uma coisa”
Valor de USO
“Essa utilidade, porém,
não paira no ar.
Determinada pelas
propriedades do corpo
da mercadoria, ela não
existe sem o
mesmo”(p.45-46).
“Cada uma dessas coisas
é um todo de muitas
propriedades e pode,
portanto, ser útil, sob
diversos
aspectos.”(p.45)
Valor de uso
“Uma coisa pode ser útil e
produto do trabalho humano, sem
ser mercadoria. Quem com seu
produto satisfaz sua própria
necessidade cria valor de uso mas
não mercadoria. (...)
Para tornar-se mercadoria, é
preciso que o produto seja
transferido a quem vai servir
como valor de uso por meio da
troca.”
(p.49, obs:F.E.)
Valor de USO
“Os valores de uso
constituem o conteúdo
material da riqueza,
qualquer que seja a
forma social desta. Na
forma de sociedade a
ser por nós examinada,
eles constituem, ao
mesmo tempo, os
portadores materiais do
valor de troca.”(46)
Do valor-de-troca ao valor:
• é uma “relação quantitativa entre valores-deuso de espécies diferentes.”(p.46)
1kg de peixe
= 5kg feijão
= 0,5 kg de carne
= 2kg de mandioca
etc.
Do valor-de-troca ao valor:
• ... “uma relação que muda constantemente no
tempo e no espaço.”(p.46). ...
• .... “o valor de troca parece, portanto, algo
casual e puramente relativo, um valor de
troca imanente, intrínseco à mercadoria,
portanto, uma contradictio em adjecto.”(46)
Do valor-de-troca ao valor:
“ Por conseguinte,
primeiro:os valores de troca vigentes
da mesma mercadoria expressam
algo igual.
Segundo, porém: o valor de troca só
pode ser o modo de expressão, a
forma de manifestação de um
conteúdo dele distinguível.”(46)
Do valor-de-troca ao valor:
• “O que há de comum, que se revela na relação
de troca ou valor de troca da mercadoria, é,
portanto, seu valor. (...) Portanto, um valor de
uso ou bem possui valor, apenas, porque nele
está objetivado ou materializado trabalho
humano abstrato.”(47)
“Podemos virar e revirar uma mercadoria,
como queiramos, como coisa de valor ela
permanece imperceptível. Recordemos,
entretanto, que as mercadorias apenas
possuem objetividade de valor na medida
em que elas sejam expressões da mesma
unidade social de trabalho humano, pois
sua objetividade de valor é puramente
social e, então, é evidente que ela pode
aparecer apenas numa relação social de
mercadoria para mercadoria.”(53,54)
Trabalho
“Como criador de valores de uso, como trabalho
útil, é o trabalho, por isso, uma condição de
existência do homem, independente de todas as
formas de sociedade, eterna necessidade
natural de mediação entre homem e natureza e,
portanto, da vida humana.”(p.50)
Trabalho concreto
“O casaco é um valor de uso
que satisfaz a um necessidade
específica. Para produzi-lo,
precisa-se de determinada
espécie de atividade produtiva.
Ela é determinada por seu fim, modo de
operar, objeto, meios e resultado. O trabalho
cuja utilidade representa-se, assim, no valor
de uso de seu produto ou no fato de que
seu produto é um valor de uso chamamos,
em resumo de trabalho útil.”(50)
Trabalho concreto e abstrato
“Todo trabalho é, por um lado, dispêndio de
força de trabalho do homem no sentido
fisiológico, e nessa qualidade de trabalho
humano igual ou trabalho humano abstrato
gera o valor da mercadoria. Todo trabalho é,
por outro lado, dispêndio de força de trabalho
do homem especificadamente adequada a
um fim, e nessa qualidade de trabalho
concreto útil produz valores de uso.”(53)
“Numa sociedade cujos produtos assumem,
genericamente, a forma de mercadoria, desenvolvese essa diferença qualitativa dos trabalhos úteis,
executados independentemente uns dos outros,
como negócios privados de produtores autônomos,
num sistema complexo, numa divisão social do
trabalho”(50)
Trabalho abstrato
“ao desaparecer o caráter útil
dos produtos do trabalho,
desaparece o caráter útil dos
trabalhos nele representados, e
desaparecem também,
portanto, as diferentes formas
concretas desses trabalhos, que
deixam de diferenciar-se um
do outro para reduzir-se em
sua totalidade a igual trabalho
humano, o trabalho humano
abstrato.”
A GÊNESE DA FORMA DINHEIRO:
A) entre duas mercadorias;
B) uma mercadoria se relaciona a um
conjunto limitado de outras mercadorias;
C) todas as mercadorias relacionam-se a um
equivalente geral
D) o ouro se confronta com todas as outras
mercadorias, exercendo a função de
dinheiro
O que é fetiche?
Carranca Rio São
Francisco
“O fetiche é um objeto que
obteve, de alguma maneira,
poderes naturais ou
humanos e até
sobrenaturais e sobrehumanos. É um objeto
mágico.”
(CARCANHOLO, p.3)
Totem - Alaska
Totem - Canadá
O FETICHE DA MERCADORIA
“O
produto do trabalho
se torna assim um
fetiche e o fenômeno
da transformação
desse produto em algo
enigmático, misterioso,
ao adotar a forma de
mercadoria é o que
Marx chama de
fetichismo da
mercadoria.”
(Sánchez Vázquez, p.445)
Dimensão social aparece como natural
“ De onde provieram as ilusões do sistema
monetário? Não reconheceu ao ouro e à
prata que eles representam, como dinheiro,
uma relação social de produção, porém, na
forma de objetos naturais com insólitas
propriedades sociais.
E a Economia moderna, que
sobranceira olha o sistema
monetário de cima para
baixo, não se torna evidente
seu fetichismo logo que
trata do capital?”(p.77)
Dimensão social natural/material
natural/fantamasgórico
“Não é mais nada que
determinada relação
social entre os próprios
homens que para eles
aqui assume a forma
fantasmagórica de uma
relação entre
coisas”(71)
“objetividade fantasmagórica”
“O misterioso da forma mercadoria consiste,
portanto, simplesmente no fato de que ela
reflete aos homens as características sociais do
seu próprio trabalho como características
objetivas dos próprios produtos de trabalho,
como propriedades naturais sociais dessas
coisas e, por isso, também reflete a relação
social dos produtores com o trabalho total como
uma relação social existente fora deles, entre
objetos.”(71)
“...os objetos (produtos do trabalho, mercadoria,
dinheiro ou capital) que só existem como fruto
de sua atividade, apresentam-se como objetos
autônomos, subtraídos a seu controle e dotados
de um poder próprio.”(Sánchez Vázquez, p.447)
“Seu próprio movimento social possui para eles a
forma de um movimento de coisas, sob cujo
controle se encontram, em vez de controlálas.”(72,73)
“Ao equipar seus produtos de diferentes
espécies na troca, como valores,
equiparam seus diferentes trabalhos como
trabalho humano.
Não sabem, mas o fazem.
Por isso, o valor não traz escrito na testa o
que ele é.
O valor transforma muito mais cada
produto de trabalho em um hieróglifo
social.”(72)
“O que posso pagar, ou seja, o que o dinheiro
pode comprar, isso sou eu, o dono do dinheiro.
Meu poder é tão grande quando o poder do
dinheiro. ...Portanto, o que sou e o que posso não
está determinado por minha
individualidade.
Sou feio, mas posso comprar a mulher mais
formosa. Logo, não sou feio, já que o efeito da
fealdade, seu poder de dissuadir, foi aniquilado
pelo dinheiro. Eu, segundo minha individualidade,
sou paralítico, mas o dinheiro me dá vinte e
quatro pés; logo não sou paralítico.
Sou
um
homem
mau,
desonesto,
inescrupuloso, desalmado, mas como se
prestam honras ao dinheiro, o mesmo se
estende ao seu proprietário.
O dinheiro é o bem supremo, e por isso
quem o possui é bom.
Além disso, o dinheiro me põe acima da
condição de desonesto; pressupõe-se que eu
seja honesto.
Sou um desalmado, mas se o dinheiro é a
verdadeira alma de todas as coisas, como
pode ser desalmado quem o possui?
Com ele se podem comprar os homens de
espírito, e o que constitui um poder sobre os
homens de espírito não é ainda mais
espiritual que os homens de espírito?
Eu, que através do dinheiro posso conseguir
tudo a que o coração humano aspira, por
acaso não possuo todas as faculdades
humanas?
Acaso meu dinheiro não transforma todas
as minhas incapacidades em seu
contrário?”
(Marx, 2001, Manuscritos, apud Rosdolsky, 516-517)
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Curso Marxismo – aula fetiche da mercadoria