GEOCIÊNCIAS
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E MICROTERMOMÉTRICA DAS INCLUSÕES FLUIDAS
NOS CRISTAIS DE ESMERALDA DO DISTRITO MINEIRO DE CAMPOS VERDES, ESTADO DE
GOIÁS, BRASIL CENTRAL
Lauren da Cunha Duarte* [email protected] , Gênova Maria Pulz (orientadora)
Programa de Pós-Graduação em Geociências, IG, UFRGS/Porto Alegre/RS
(INTRODUÇÃO) O estudo das inclusões fluidas aprisionadas nas gemas auxilia na distinção de espécies naturais das
sintéticas, assim como possibilita a caracterização de algumas propriedades físico-químicas do fluido mineralizante,
tais como a composição, a salinidade e a temperatura de homogeneização, entre outras. Desta forma, contribui para o
entendimento da evolução do fluido durante sua interação com a rocha. Neste estudo são apresentados os resultados
petrográficos e microtermométricos das inclusões fluidas aprisionadas nos cristais de esmeralda, da região de
Campos Verdes (Goiás, Brasil Central), a fim de identificar a seqüência cronológica e composicional do fluido que
originou esta gema.
(METODOLOGIA) As inclusões fluidas foram descritas em seções delgadas bi-polidas com auxílio de microscópio
petrográfico Zeiss-Axiolab®, equipado com objetivas de 2,5, 10, 20 e 50 x. Em seguida, as amostras foram submetidas
a experimentos microtermométricos, com o auxílio de platina Chaixmeca®, acoplada ao microscópio petrográfico
Zeiss®. As amostras foram resfriadas até -150 ºC, com nitrogênio líquido (N2) e, aquecidas com o sistema digital
Euroterm®, até +500 ºC. A calibração do aparelho foi feita com uma inclusão natural aquo-carbônica trifásica (-56,6
o
C), água desmineralizada (0 ºC) e produtos sintéticos Merck®, de temperatura conhecida. A reprodutibilidade das
análises foi de ± 0,2 ºC.
(RESULTADOS) Nos cristais de esmeralda de Campos Verdes foram observadas inclusões monofásicas e bifásicas a
+25 oC. A distribuição das inclusões fluidas nos cristais foi utilizada como critério para distinguir quatro populações
cronológicas de inclusões nas gemas estudadas, quais sejam, da mais antiga para a mais jovem: a população 1 que
está representada por inclusões aquo-carbônicas, primárias, alinhadas paralelamente ao eixo cristalográfico “c” da
gema. Em geral, estas inclusões são tubulares, com diâmetro médio de 0,02 mm e grau de preenchimento variando
de 5 a 90 %. Nos testes de resfriamento esta população mostrou a fusão do CO2 no intervalo de -59,8 a -57,3 oC, com
moda entre -57,5 e -57,3 oC. A fusão do gelo ocorreu entre -15,8 e -0,3 oC e a dissolução do clatrato por volta de +8
o
C, enquanto a homogeneização do CO2 entre +11,6 e +24,3 oC. No aquecimento, a homogeneização total destas
inclusões deu-se na fase líquida, no intervalo de +224,1 e +330,4 oC. A população 2 está representada por inclusões
aquo-carbônicas, primárias, com formas predominantemente tubulares, com 0,01 mm de comprimento e grau de
preenchimento de 5 a 70 %. Esta família de inclusões foi observada nas bordas dos cristais e sua distribuição é
controlada pelo eixo “c”, da mesma forma que a população 1. Nos ensaios de resfriamento, a fusão do CO2 aconteceu
entre -58,9 e -57,1oC, com moda entre -57,7 e -57,5 oC. A fusão do gelo ocorreu entre -10,6 e -0,4 oC e a
homogeneização total foi observada entre +188,3 e +477,5 oC, ora na fase vapor, ora na fase líquida. Na população 3
foram reunidas as inclusões aquo-carbônicas, secundárias, alinhadas em trilhas, que cicatrizam as fraturas da gema.
A forma destas inclusões varia desde cristal negativo a irregular, com diâmetro maior de 0,001 até 0,03 mm e grau de
preenchimento entre 70 e 85 %. Os testes de resfriamento apontaram a presença de CO2, o qual fundiu no intervalo
de -59,1 e -58 oC, com moda entre -58,2 a -58 oC. A dissolução do clatrato deu-se entre +5,5 e +7,2 oC e a
homogeneização do CO2 ocorreu próximo a +22 oC. A homogeneização total destas inclusões foi observada em
temperaturas de +359,9 e +469,6 oC, porém após os ensaios de aquecimento a fase vapor destas inclusões não
voltou a aparecer. Na população 4 foram agrupadas as inclusões, aquosas, secundárias, alinhadas ao longo de trilhas
ou em agrupamentos nos cristais de esmeralda que preenchem fraturas, as quais seccionam cristais de esmeralda
mais antigos. A forma das inclusões desta população varia de irregular a quadrada e o tamanho de 0,003 e 0,01 mm
de comprimento, enquanto o grau de preenchimento varia de 25 a 90 %. Estas inclusões mostraram apenas a fusão
do gelo, a qual foi observada no intervalo de -7,5 e 0 oC, com moda entre -3 e -2,5 oC. Nos testes de aquecimento, a
homogeneização total desta família de inclusões ocorreu entre +253 oC e +378,8 oC, ora na fase líquida, ora na fase
vapor.
(CONCLUSÕES) Os dados microtermométricos integrados com as descrições petrográficas possibilitaram a definição
da cronologia entre as populações de inclusões fluidas estudadas. Com isto, conclui-se que o evento mineralizante
iniciou com a percolação de soluções aquo-carbônicas, que evoluíram para fluidos, dominantemente, aquosos nas
fases finais de cristalização da esmeralda de Campos Verdes.
AGÊNCIA FINANCIADORA: UFRGS/IG/CAPES
54a Reunião Anual da SBPC – Goiânia, GO – Julho/2002
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caracterização petrográfica e microtermométrica das