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A INDÚSTRIA NAVAL DE ITAJAÍ E NAVEGANTES:
avaliação competitiva e proposições políticas para o
desenvolvimento local
Ana Luísa de Souza Soares
RESUMO
Entre as décadas de 80 e 90 a indústria naval brasileira passou por uma profunda crise
que acabou por comprometer sua posição no ranking mundial de construtores navais; e
principalmente, comprometeu a incorporação de tecnologias, a especialização da
produção, e a identificação de novos nichos de mercado. Em 2003, o governo federal
visando incentivar a produção naval criou linhas de financiamento à construção de
embarcações de apoio à PETROBRÁS e embarcações pesqueiras. Frente a isto, se
objetivou a avaliação da capacidade competitiva da indústria naval de Itajaí e
Navegantes- SC a partir de sua capacitação tecnológica, de modo a atender as demandas
por construção e modernização de embarcações. Utilizando-se de levantamento
bibliográfico, e dados primários coletados através de questionário, obteve-se dados e
informações que permitiram a descrição e análise da indústria naval. A avaliação
mostrou que a indústria naval possuía vantagens competitivas estáticas, baseadas em
formas tradicionais de produção e projetos, e numa mão-de-obra qualificada; a indústria
apresentou baixa atualização tecnológica e tinha comprometida sua capacidade de
aprendizagem e inovação pela falta de um fluxo contínuo de informações com os
demais agentes locais. A atualização tecnológica da indústria naval local e sua inserção
em novos mercados será possível no momento em que o governo do Estado de Santa
Catarina assumir a governança local, discutindo e promovendo ações que possibilitem
maior interação entre os agentes locais, a busca de maior conhecimento, e no
desenvolvimento de competências que caracterizem a especialização produtiva.
PALAVRAS CHAVES: indústria naval, vantagens competitivas, capacitação
tecnológica.
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LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS
Fluxograma 1 - Cadeia Produtiva da Indústria da Construção Naval.............................12
Gráfico 1– Concentração das Atividades Navais por uso de Insumos em MPEs...........15
Gráfico 2 – Fatores que Influenciam nas Perdas e Descartes na Produção com Aço.....17
Gráfico 3– Fatores que Influenciam nas Perdas e Descartes na Produção com
Madeira.......................................................................................................................... .18
Gráfico 4 – Principais Exigências nos Mercados de Atuação.........................................21
Gráfico 5 – Fatores que Influenciam na Determinação dos Fornecedores......... ............21
Gráfico 6 – Fatores que Determinam a Competitividade entre as Empresas do
Setor.................................................................................................................................23
Gráfico 7 – Principais Fontes Externas de Informações..................................................23
Gráfico 8 – Fatores que Levam a Incorporação de Inovações.........................................24
Gráfico 9 – Melhoria no Desempenho da Empresa pela Incorporação de
Inovações.........................................................................................................................25
Gráfico 10 – Vantagens Locacionais...............................................................................26
Gráfico 11 – Problemas Referentes à mão-de-obra.........................................................28
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................01
1.1 OBJETIVOS..............................................................................................................01
1.1.1
Objetivo Geral.....................................................................................................01
1.1.2
Objetivos Específicos..........................................................................................01
1.2 METODOLOGIA......................................................................................................02
1.3 CONCEITUALIZAÇÃO...........................................................................................03
2 A INDÚSTRIA NAVAL NO BRASIL E NO MUNDO....................07
2.1 HISTÓRICO..............................................................................................................07
2.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA INDÚSTRIA NAVAL
BRASILEIRA............................................................................................................08
2.3 COMPETITIVIDADE E CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DA
INDUSTRIA NAVAL NACIONAL........................................................................10
2.4 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PRODUTORES MUNDIAIS......................11
3
DESCRIÇÃO DA INDÚSTRIA NAVAL DE ITAJAÍ E
NAVEGANTES- SC.............................................................................14
3.1 CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO.................................................................15
3.2 FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS.............................................................19
3.3 MERCADOS.............................................................................................................20
3.4 COMPETITIVIDADE...............................................................................................22
3.5 FONTES DE INFORMAÇÃO..................................................................................22
3.6 INOVAÇÕES............................................................................................................24
3.7 VANTAGENS LOCACIONAIS...............................................................................26
3.8 INSTITUIÇÕES LOCAIS.........................................................................................27
3.9 CARACTERÍSTICAS DA MÃO-DE-OBRA...........................................................27
4 ANALISE DOS RESULTADOS SOBRE A INDÚSTRIA NAVAL
DE ITAJAÍ E NAVEGANTES......................................................................29
5 PROPOSIÇÕES POLÍTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO
DA INDÚSTRIA NAVAL DE ITAJAÍ E NAVEGANTES................35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................38
.
1
1 INTRODUÇÃO
A indústria naval esta inserida na categoria de material de transporte, segundo
classificação oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esta
indústria caracteriza-se como sendo intensiva em mão-de-obra, a atividade é
incorporadora de economias de escala com fortes impactos a montante na cadeia
produtiva, e conseqüentemente tendo forte efeito multiplicador de empregos. A
produção é dependente de encomendas com longo prazo de maturação.
Embora o Brasil tenha sido considerado na década de 70 o segundo maior pólo
mundial de construção naval, ao longo das últimas duas décadas a indústria naval sofreu
intensamente os reflexos da crise econômica, que reduziu a demanda por embarcações
devido à falta de financiamento e as altas taxas de juros.
O único documento histórico, sobre a indústria naval de Itajaí e Navegantes,
identificado mostrou que em 1968 estavam instalados na região cinco estaleiros dos oito
presentes no Estado. Esses construíam e reparavam embarcações de madeira usando
equipamentos rudimentares, apontando à necessidade de reestruturação produtiva; além
de apoio financeiro principalmente para suprir a necessidade de capital de giro
(CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DO EXTREMO SUL- CODESUL, 1968).
Com a perspectiva de dinamização desta indústria visto a iniciativa do governo
federal em financiar a construção e a modernização de embarcações petrolíferas e
pesqueiras; propõe-se a avaliação dos potenciais e restrições competitivas da indústria
naval de Itajaí e Navegantes, identificando se esta pode vir a se beneficiar a partir do
surgimento de demanda interna decorrente desses financiamentos aos armadores
nacionais.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Avaliar a capacidade competitiva da indústria naval de Itajaí e Navegantes a
partir de sua capacitação tecnológica de modo a atender as demandas por construção e
modernização de embarcações navais.
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1.1.2 Objetivos específicos
a. identificar a constituição da indústria naval brasileira, suas características
produtivas e tecnológicas, e as características gerais dos principais produtores
mundiais;
b. descrever as características da indústria naval de Itajaí e Navegantes destacando:
o processo de produção, investimentos, mercados, competitividade, fontes de
informação e inovação, vantagens locacionais, presença de instituições locais e
características da mão-de-obra;
c. analisar os potenciais e restrições competitivas da indústria naval local;
d. estabelecer proposições políticas para o desenvolvimento da indústria naval em
Itajaí e Navegantes.
1.2 METODOLOGIA
Propôs-se o levantamento bibliográfico para contextualizar de forma mais
profunda o panorama da indústria naval brasileira ao longo das últimas duas décadas, e
também para avaliar as vantagens competitivas de seus principais concorrentes
externos.
Para a identificação das características produtivas e competitivas dos estaleiros
de Itajaí e Navegantes, se fez levantamento de dados primários pela aplicação de
questionário junto as empresas de grande, médio, pequeno e micro porte, de Itajaí e
Navegantes compreendendo um total de 22 estaleiros identificados junto as Prefeituras
Municipais de Itajaí e Navegantes.
O questionário foi composto por questões objetivas de múltipla escolha.
Contendo questões quantitativas e qualitativas, abrangendo vários aspectos que
permitissem um diagnóstico da indústria com base na conceitualização aplicada a
identificação de arranjos produtivos locais enfocando principalmente os processos de
aprendizagem e inovação.
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Os dados foram tabulados em planilhas eletrônicas, e analisados pelo método
dedutivo e comparativo. As informações foram agregadas considerando a estrutura das
empresas, pois se observou comportamentos semelhantes para as empresas de micro e
pequeno porte (MPEs) e para as médias e grande empresa (MGEs).
1.3 CONCEITUALIZAÇÃO
A atenção que vem sendo destinada aos benefícios provenientes de
aglomerações industriais e da proximidade espacial, segundo Amin e Cohendet (2003)
se dá pelo fato de no local haver um fluxo de conhecimento propício ao processo de
aprendizado e inovação; além da presença de um mercado de trabalho especializado que
permite a mobilidade de habilidades e circulação de idéias que promovem a difusão
(spillovers) de conhecimento.
Quando se estuda uma aglomeração industrial remonta-se `a Alfred Marshall
(1982) que entre os diversos aspectos condicionantes da concentração espacial da
indústria destaca: os fatores naturais, o mercado de trabalho especializado, o caráter
industrializante do povo e das instituições sociais e políticas.
Mas o aspecto vinculado a competitividade dos aglomerados industriais, que é
ressaltado como fator determinante na atualidade, é a atmosfera propícia à cooperação;
pela formação local de uma identidade produtiva comum baseada no compartilhamento
de valores, cultura e organizações que favorecem as interações sócio-econômicas e o
aprendizado tecnológico.
Segundo Giuliani (2003) os aglomerados favorecem o aprendizado por se
apresentarem como um repositório de conhecimento tácito e idiossincrático incorporado
nas firmas e instituições locais; além destas firmas constituírem elos produtivos
interligados que incorporam as possibilidades sociais pela aprendizagem e interação,
pela troca de informações que fomenta trabalhos inovativos.
A proximidade espacial permite ao sistema territorial apostar em economias de
escala ligadas ao conjunto dos processos produtivos, sem que este perca sua
flexibilidade e adaptabilidade frente aos diversos acasos do mercado (BECATTINI,
1999).
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A competitividade é um elemento dinâmico que condiciona as organizações à
criação e renovação de suas vantagens competitivas de modo a possibilitar a estas a
conservação sustentável de suas posições no mercado; sendo que as vantagens
competitivas associam-se a capacidade de aprendizado, a sustentação da qualidade,
especialidade e produtividade dos recursos humanos e a capacidade produtiva
inovadora, conforme expõem Cassiolato e Lastres (2002).
A proximidade locacional entre os agentes favorece a obtenção das vantagens
competitivas, acima descritas, pela maior coordenação das ações que agilizam e
facilitam o processo de aprendizado e, conseqüentemente, o processo inovador. Ou seja,
a capacidade competitiva de indivíduos, organizações, regiões e nações não se centram
no estoque de conhecimento acumulado pelas práticas sócio-econômicas ao longo do
tempo, mas na capacidade desses adquirirem novas habilidades e competências a partir
de processos interativos locais.
É de suma importância obter uma especialização flexível combinada com
unidades de produção especializadas, não esquecendo de uma mão-de-obra treinada,
presente numa estrutura e ambiente social adaptável. Esta mão-de-obra adaptável vai de
encontro com a atmosfera inovadora, a velocidade de reação e atitude de co-operação
(SENGENBERGER e PIKE, 1999).
Conforme Cassiolato e Lastres (2002), nas redes que se especializam localmente
em atividades de uma mesma base técnica, surgem um número significativo de
empresas que aproveitam de economias simples de aglomeração relacionadas à
existência de mão-de-obra disponível. Essas redes podem evoluir de duas maneiras, a
primeira seria através da especialização da produção, com empresas locais
reestruturando-se e mantendo “a mesma organização da produção e padrão de relações
interfirmas”; a segunda através da diversificação em produtos e setores de produção,
incorporando atividades produtivas “para frente” e “para trás” e estabelecendo novas
relações com instituições locais.
Entende-se inovação numa perspectiva mais ampla onde, além de se considerar o
papel do conhecimento resultante dos gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),
aceita-se os esforços das firmas em modificar, em implementar o desenvolvimento de
transformações,
em
seus
produtos
e
processos,
independentemente
destas
transformações já serem dominadas ou conhecidas pelos seus concorrentes
(CASSIOLATO e SZAPIRO, 2002). Enquanto tecnologia é entendida como o
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conhecimento que se apresenta corporificado em máquinas, equipamentos e produtos;
ou ainda, que se apresenta como “conhecimento abstrato” que pode ser codificado em
manuais e patentes, por exemplo; e intangível ou tácito sob controle de indivíduos e
organizações fixados em locais específicos, sendo este decisivo como determinante
competitivo (DALCOMUNI, 2001; LINS, 2000).
Barquero (2001) salienta que as interações estabelecidas entre as atividades
econômicas, se diferenciam de uma localidade para outra, por estas serem construídas
historicamente e serem parte de uma cultura social e produtiva local; e que estas
atividades estão estruturadas localmente em sistemas internos de redes que favorecem a
cooperação e a competitividade das empresas pelo intenso intercâmbio de informações e
conhecimentos que circulam nesses sistemas locais.
Segundo Aage (2003) as interações cooperativas em redes de produção baseiamse no fato de existir diferentes conhecimentos e informações, e o compartilhamento do
conhecimento através da linguagem, instituições e sistemas interpretativos comuns
permite a criação e a absorção do conhecimento e de informações, principalmente a
cerca de formas de produção e mercado.
As formas que caracterizam o processo de aprendizado são bastante
diversificadas, e novas combinações e possibilidades surgem com freqüência. Gregersen
e Johnson (2001) destacam:
a. aprendizagem técnica – relativa a introdução de inovações de produto e
processos; dada a redução no ciclo de vida dos produtos, de forma contínua se
desenvolve novos produtos e equipamentos;
b. aprendizagem organizacional – as inovações em processos e produtos requerem
adaptações e novas formas organizacionais, havendo forte sinergia entre estas
práticas que acabam por condicionar a performance das firmas. Destaca-se a
crescente importância da “habilidade de comunicação, interação e cooperação
intra e interorganizacional doméstica e entre redes internacionais”;
c. aprendizagem institucional – a estrutura institucional permite a regularidade nos
padrões de comportamento e interação entre os agentes, através de sistemas de
normas, incentivos, entre outros; reduzindo os riscos e conflitos, promovendo a
cooperação;
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d. políticas para o aprendizado - visam integrar de forma combinada e sistêmica
ações que permitam a inovação e o aprendizado, através de ações coordenadas
para áreas específicas que promovam a distribuição das capacidades de
aprendizagem.
Torna-se evidente que a competitividade não se restringe a eficiência técnica,
passando a ser determinada por variáveis comportamentais estabelecidas numa intensa
rede de relações locais.
A intensidade dessas relações e o seu desenvolvimento, influenciam
deterministicamente a inserção das empresas no mercado e seu potencial competitivo,
sendo responsável também pela diversidade e heterogeneidade visualizada na estrutura
industrial.
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2 A INDÚSTRIA NAVAL NO BRASIL E NO MUNDO
Nos últimos 30 anos ocorreram importantes transformações na indústria naval
mundial, a começar pela reorientação das ações voltadas à busca da identificação de
nichos de mercado e da especialização da produção.
A produção naval foi caracterizada por processos contínuos, produção sob
encomenda, com longo prazo de maturação, intensivo em mão-de-obra, e dependente de
ações governamentais, principalmente da concessão de financiamento para a
construção, e por vezes também de subsídios à indústria.
Destaca-se nesse capítulo um breve histórico da indústria naval no país; as
características gerais da indústria naval, suas vantagens competitivas e as características
gerais dos principais produtores mundiais.
2.1 HISTÓRICO
A indústria naval começou a se constituir no Brasil no século XIX, porém foi a
partir do governo de Juscelino Kubitschek que começou a se observar o crescimento da
indústria, uma vez que esta se articulava dentro das propostas formuladas para a
indústria de base no Plano de Metas (1958) (BANCO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL- BNDES, 1997).
Na década de 70 a indústria naval também teve destaque nos Planos Nacionais
de Desenvolvimento (PND I e II), figurando em 1975 como o segundo maior pólo de
construção naval no mundo. E em 1979 a indústria atingiu seu maior nível de emprego
com 39.155 trabalhadores diretos, e segundo o Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Sócio Econômicos- DIEESE (1998) para cada emprego direto gerado na
construção naval cinco outros empregos indiretos eram gerados; logo, no auge a
indústria gerou cerca de 240.000 trabalhos diretos e indiretos.
A indústria naval entra em crise em meados da década de 80 devido à redução
nas encomendas, resultantes da crise financeira a qual foram submetidos os armadores
nacionais, sendo estes os principais demandantes da indústria (BNDES, 2002; DIEESE,
1998). E também em decorrência de fatores externos como a crise do petróleo, pois os
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petroleiros eram na época o principal tipo de embarcação produzida, e a crise afetou a
estrutura de custos de transportes de petróleo levando a modificações no porte e
velocidade dos navios. E, também, a concorrência acirrada dos estaleiros asiáticos que
tinham seus custos de produção subsidiados resultando em preços finais mais atrativos.
O Plano Real e a abertura do mercado nos anos 90 não permitiram a recuperação
da indústria naval devido à falta de financiamento para a construção de embarcações e a
alta taxas de juros praticadas no mercado (DIEESE, 1998). Embora entre janeiro de
1990 e setembro de 1997 tenham sido contratadas construções de embarcações no valor
de U$ 1.748 milhões de dólares, a indústria naval operou com capacidade ociosa
superior a 30% (BNDES, 1997). Havendo a redução de cerca de 70% dos empregos
entre 1989 e 1996 (DIEESE, 1998).
Atualmente, o governo de Luis Inácio Lula da Silva vem incrementando a
atividade na indústria naval nacional, através do financiamento para construção de
embarcações de apoio a PETROBRAS e pesqueiras.
Destaca-se o Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e
Modernização da Frota Pesqueira Nacional - Profrota Pesqueira , pelo impacto que pode
gerar na indústria naval de Itajaí e Navegantes.
Este programa irá permitir a concessão de financiamentos para a aquisição,
construção, conversão, modernização, adaptação e equipagem de embarcações
pesqueira costeira e continental, com o objetivo de reduzir a pressão de captura sobre
estoques sobre explotados, abrindo uma nova fronteira para a pesca no país,
proporcionando a sustentabilidade e o aumento da produção pesqueira nacional,
melhorando a qualidade do pescado produzido, além de promover o máximo de
aproveitamento das capturas, utilizando-se dos estoques pesqueiros na Zona Econômica
Exclusiva brasileira e em águas internacionais, e estabilizando a frota pesqueira
oceânica nacional (BRASIL, 2004a, 2004b).
2.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA INDÚSTRIA NAVAL BRASILEIRA
Embora a indústria naval brasileira tenha ocupado o 2º lugar entre os
construtores mundiais até o início dos anos 80 (BNDES, 1997); em 1988, ocorreu a
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estagnação da indústria naval, prejudicando a cadeia produtiva brasileira e fechando
várias indústrias específicas do setor naval, além da migração da mão-de-obra para
outros setores da indústria. A fragilidade econômica e financeira levou os estaleiros à
não investirem em tecnologias, modernização das instalações e melhoramento das
técnicas de trabalho (DIEESE, 1998).
O setor de construção naval caracteriza-se pela instabilidade em suas atividades,
pois trabalha por contratação de obras, produção sob encomenda, de armadores
nacionais e de empresas estatais de petróleo e gás. Uma embarcação de médio porte
possui um longo prazo de maturação, tardando até 36 meses para ficar pronta. Sendo
importante o cumprimento de contratos e prazo de entrega de cada embarcação
(MINISTÉRIO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA e COMÉRCIO EXTERIORMDIC, 2000).
O processo da construção naval deve ser contínuo e deve refletir as encomendas
dos armadores, consistindo no somatório das atitudes assumidas pelas organizações
públicas, empresas privadas optando pelas condições de preço, financiamento e prazo
mais conveniente (DIEESE,1998).
Segundo o DIEESE (1998), 90% das atividades da indústria naval estão
relacionadas à navegação mercante, atuando no mercado interno e externo. Os outros
10% dividem-se na atividade pesqueira, portuária e navegação militar. Supõe-se que
80% da demanda para os próximos anos realizar-se-á para repor a frota obsoleta. Já que
atualmente a frota nacional vem decrescendo e a frota mundial tem mais de 15 anos
necessitando renovação; e 20% para ampliar a frota face ao crescimento esperado do
comércio mundial. Há uma expectativa de se conquistar em torno de 5% o mercado
externo.
Cada emprego direto gerado na construção naval representa mais cinco
empregos indiretos em setores relacionados a indústria naval, e 40% do custo do navio
são destinados para o pagamento do salário dos empregados (MDIC, 2002).
A atividade específica da construção de embarcações de pesca nos estaleiros de
pequeno porte, hoje, no Brasil está afetada pela concorrência estrangeira, necessitando
de imediata modernização e capacitação da mão-de-obra existente (MDIC, 2000).
Várias empresas brasileiras do setor de construção naval passaram por fusões e
incorporações com empresas estrangeira a fim de superar a situação econômica e
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financeira das empresas envolvidas, proporcionando um upgrade tecnológico. O que
fragilizou econômica e financeiramente o setor naval, pois outros estaleiros, de menor
porte, não investiram em atualização tecnológica e em novos métodos de trabalho para
adequar-se a nova direção tomada pela construção naval mundial. Para que uma
recuperação no setor ocorra, faz se necessário à estimulação do mercado interno de
navios; além da implantação de um programa de exportação de navios (MDIC, 2000).
2.3
COMPETITIVIDADE
E
CARACTERÍSTICAS
TECNOLÓGICAS
DA
INDÚSTRIA NAVAL NACIONAL
Os preços dos equipamentos navais nacionais são maiores que os dos similares
estrangeiros, e os custos elevados das navi-peças são atribuídos ao fato de que só podem
ser fabricados fora de uma linha seriada de produção. A carga tributária é um elemento
importante na determinação do preço das navi-peças e do custo do navio (MDIC, 2000).
Os insumos básicos produzidos no Brasil são competitivos no mercado
internacional em preço e qualidade. O fluxograma 1, demonstra a cadeia produtiva da
indústria da construção naval (MDIC, 2002).
Os insumos básicos que o Brasil produz em grande quantidade e possui preços
mais competitivos são: o aço, o alumínio e derivados de petróleo (MDIC, 2002).
Segundo a Unicamp (2002), o aço é um dos principais componentes de custo do navio,
seguido pelas navi-peças e a mão-de-obra.
Já os componentes elétricos e eletrônicos e os sistemas anti-corrosivos e de
acabamento são produzidos no país com boa tecnologia e qualidade, porém com preço
mais elevado que o da concorrência (MDIC, 2002).
Após a estagnação que a indústria naval enfrentou nos anos 80 devido à redução
das encomendas, e com o fechamento de grandes indústrias fabricantes de motores
navais, hélices e navi-peças, o país começou a importar estes e outros equipamentos
específicos para a indústria de construção naval e para navegação (MDIC, 2002).
Sendo que, segundo a Unicamp (2002), a indústria das navi-peças é a principal fonte de
tecnologia no setor naval.
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O Brasil é um dos poucos países a fabricar de forma competitiva equipamentos
para utilização em submarinos, como manifolds, árvore de natal e umbilical. Já os
sistemas de navegação para submarino e embarcações em geral são importados.
Segundo a Unicamp (2002) há dois problemas a serem enfrentados: a escassez
da mão-de-obra, principalmente de soldadores e a expansão física e modernização dos
estaleiros.
O Brasil é capaz de conquistar o mercado da navegação marítima, pois possui
uma infra-estrutura industrial organizada e uma força de trabalho disponível. A
perspectiva da indústria naval é influenciada pela situação da marinha mercante. Os
ciclos de negócios das duas atividades são complementares. Os armadores possuem
forte poder de permuta sobre a indústria naval, pois podem fazer suas encomendas em
qualquer parte do mundo, optando pelas condições de preço, financiamento e prazo que
sejam mais convenientes. Os estaleiros de maior porte são verticalizados sendo pouco
provável que ocorra um processo de terceirização significativo. A competitividade das
empresas deriva de sua competência para gerenciar a produção fortemente dependente
de força de trabalho e para estabelecer contratos de fornecimento e programas de
compra sintonizados com o ritmo de produção (FREITAS, 2003).
2.4 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PRODUTORES MUNDIAIS
Os principais produtores mundiais receberam apoios específicos do Estado
através de importantes programas governamentais para incorporação de tecnologias e
para a busca de novos mercados, às vezes usando de vantagens comparativas espúrias
como o uso de subsídios que tornaram o preço de venda muito abaixo dos custos de
produção, ou ainda pelo uso de mão-de-obra de baixíssimo custo. De qualquer forma, o
setor naval foi sempre entendido como um setor estratégico, e sendo assim necessitando
de programas políticos específicos.
Na Ásia a indústria naval caracterizou-se pela produção seriada de embarcações;
o que otimizou o uso dos estaleiros, porém não permitiu a produção de embarcações ou
estruturas navais que atendessem as necessidades especificadas pelos clientes
(UNICAMP, 2002).
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CADEIA PRODUTIVA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO NAVAL
INSUMOS
BÁSICOS
PRODUTOS
SISTEMAS
Escotilhas,
estruturas
metálicas;
escadas;
tubulações, etc.
Sistema Estrutural
casco e
subestrutura.
Aço em chapas;
perfis e barras.
Guindastes;
guinchos;
bombas; válvulas;
flanges;
conexões, etc.
Sistemas
Operacionais e
Oil Recovery.
Alumínio em
chapas; perfis e
barras.
Motores
principais;
propulsores
laterais;
propulsores
azimutais,
hélices; máquina
do leme; eixos
propulsores.
Material de solda
eletrodos; gases
industriais.
Componentes
elétricos e
eletrônicos.
Motores
auxiliares:
geradores;
quadros
elétricos.
Equipamentos
Eletro Mecânicos
Eletro Eletrônicos
Derivados do
Petróleo.
Manifolds;
Arvores de natal
umbilicais e
equipamentos
para operação
submarina.
Polímeros,
Solventes,
Lubrificantes,
Graxas.
Sistema de
Propulsão.
Sistema Gerador
de Energia.
FONTE: MDIC, 2002.
EMBARCAÇÕES
EM GERAL:
Sistema
submarinos para
plataformas e
Sistema de
navegação
Sistema de
Automação
- PLATAFORMA,
EMBARCAÇÕES
DE APOIO; E
EQUIPAMETOS
“offshore” PARA
EXTRAÇÃO DE
PETRÓLEO;
- REPAROS
NAVAIS
LEGENDA:
Equipamentos
para Navegação:
sonares, radares;
gps, etc.
Sistema de
Posicionamento
Dinâmico
Sistema
Anticorrosivo e
Acabamento
Abrasivos para
jateamento.
INTEGRADORAS
Produzido no Brasil
de forma
competitiva.
Produzido no Brasil
com preço mais
alto.
Importado.
Produzido no Brasil
com restrições no
preço e na
qualidade naval.
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A Coréia do Sul se especializou na produção de navios de grande porte; a
principal fonte de tecnologia para o setor esteve na produção de navi-peças, conferindo
vantagens competitivas internacionais para os produtores locais (UNICAMP, 2002).
Já Cingapura se especializou na produção de plataformas e estruturas off-shore;
enquanto o Japão e a China se especializaram em todos os tipos de embarcações
(UNICAMP, 2002).
Em todos os países asiáticos a presença do Estado na indústria naval foi
intensivo, através de subsídios à produção e da participação acionária nos estaleiros.
Na União Européia, a indústria naval foi identificada como uma indústria de alta
tecnologia onde as empresas do setor operavam em rede, compartilhando os riscos e
investimentos no desenvolvimento de inovações (UNIÃO EUROPÉIA- UE, 2004).
A indústria européia operava em nichos de mercado principalmente no
desenvolvimento e implementação de projetos específicos aos seus clientes. A UE se
especializou na produção de transporte de passageiros, reforma de navios e estruturas
petrolíferas que operaram no Mar do Norte, e navios militares (UE,2004).
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3
DESCRIÇÃO
DA
INDÚSTRIA
NAVAL
DE
ITAJAÍ
E
NAVEGANTES- SC
Foram entrevistados 22 estaleiros nos Municípios de Itajaí e Navegantes -SC,
entre outubro e novembro de 2004. Destes 15 são microempresas, 04 são pequenas
empresas, 02 são empresas de médio porte e uma grande empresa.
Na indústria naval de Itajaí e Navegantes estavam contratados, em novembro de
2004, 1.635 funcionários, e segundo declarações de 86% das empresas seus
funcionários eram formais, ou seja possuíam registro em carteira.
Das empresas localizadas em Itajaí e Navegantes cerca de 33% destas foram
fundadas na década de 90, 29% na década de 80, e 14% eram remanescentes da década
de 70.
Devido as características comuns apresentadas pelas micro e pequenas empresas
(MPEs) essas terão seu comportamento apresentado de forma agregada, o mesmo
ocorrendo com as médias e grande empresa (MGEs).
A estrutura organizacional das MPEs era bem simplificada, estando concentrada
na figura do proprietário ou do responsável geral. Questões onde se solicitavam
informações quantitativas sobre custos de produção, percentuais sobre faturamento em
mercados, entre outras, não foram respondidas pela grande maioria das empresas
mostrando a falta de conhecimento ou preparo dos encarregados.
Já nas MGEs, a estrutura organizacional verticalizada, dividida entre vários
departamentos, também dificultou a resposta as questões quantitativas, demonstrando a
falta de visão da empresa no todo, estando cada encarregado por setor e/ou
departamento a par do que passa apenas neste. A verticalização da estrutura
organizacional e produtiva é resultante do tipo do produto, que exige a produção em
processos contínuos.
15
3.1 CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO
A indústria naval concentra as atividades de construção naval, reparos navais,
processamento de materiais e desmanche de sucata.
Entre as micro e pequenas empresas (MPEs) locais 58% atuaram na construção e
reparo de embarcações, e 32% operaram apenas com reparos navais.
Já as 2 empresas de médio porte atuaram na construção e reparos navais; apenas
a empresa de grande porte concentrou todas as atividades da indústria.
Duas entre as MGEs passaram por aquisição na década de 90.
Enquanto as empresas de maior porte (MGEs) processaram embarcações de aço
(principal insumo); as micro e pequenas empresas (MPEs), predominantemente,
processaram madeira. Pois 58% destas declararam a madeira como o principal insumo
básico utilizado na sua atividade, enquanto 29% declararam o aço como insumo básico.
Ressaltasse que a combinação de madeira e fibra vinculou-se a construção e reparos de
embarcações de lazer (gráfico 1).
Processamento de
Materiais e Reparos
Navais
Construção e reparos
Reparos Navais
aço
madeira
Construção Naval
0%
aço e madeira
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 1- Concentração das atividades navais por uso de insumos em MPEs
madeira e fibra
16
As empresas de micro e pequeno porte caracterizaram-se pela construção e
reparos de embarcações de madeira (11 das 19 MPEs); 72,72% dessas o insumo
utilizado foi basicamente madeira, o uso de aço representou apenas 9% dos insumos
básicos. A construção de embarcações de aço foi realizada pelas empresas de médio e
grande porte.
O resultado apresentado na segunda coluna do gráfico 1 foi representativo, uma
vez que os municípios em questão são juntos um dos principais pólos pesqueiros do
país; e na indústria pesqueira predomina a frota composta por embarcações de madeira,
com aparelhos de metal e acabamentos em fibra (ex: casco e estrutura em madeira;
guinchos, tangones e mastros em metal; e cabines e porões revestidos em fibra).
As perdas ou descartes de aço no processo produtivo foram significativamente
menores quando comparados ao uso da madeira.
Considerando apenas as empresas que responderam sobre perdas e descartes na
produção; 54,54% responderam não haver descartes no uso do aço, e 22,72%
responderam que o descarte foi inferior a 5%.
Ou seja, os percentuais apresentados para perdas e descartes no processo
produtivo de insumos básicos mostraram que estes foram inerentes as características do
insumo quando se tratou de aço, na produção das MGEs (gráfico 2).
Já o uso da madeira como insumo básico no processo produtivo levaram à
perdas e descartes maiores. Cerca de 33% das empresas apontaram perdas de 11 a 20%
no processo produtivo; e 50% perdas superiores, entre 21 e 30%.
A justificativa foi atribuída a falta de qualificação da mão-de-obra na
manipulação do insumo (100%), e a equipamentos inapropriados (fator alto em 26,6% e
médio em 20% das respostas) (gráfico 3).
Apenas 32% das empresas declararam sua capacidade total de produção em
toneladas porte bruto (TPB). Resultando em 23.480 TPB, ou seja ficou subestimada a
capacidade de produção dos estaleiros em Itajaí e Navegantes.
Nos últimos 5 anos a capacidade ociosa das empresas foi inferior a 5 % para
50% das empresas, e para 27% das empresas esta oscilou entre 11 a 20% .
17
Infra-estrutura
Infra-estrutura
Falta Qualificação
Característica Insumo
Alto
Médio
Equipamentos
inapropriados
Baixo
Sem importância
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Sem resposta
Gráfico 2- Fatores que influenciam nas perdas e descartes na produção com aço
Entre as MPEs, 52% delas tiveram capacidade ociosa inferior a 5% nos últimos
5 anos; e 31,5% a capacidade ociosa oscilou entre 5 e 10%. Para 42% dessas empresas a
capacidade ociosa foi atribuída a redução das encomendas, e os restantes 56% não
conseguiram identificar o fator responsável pela redução na capacidade de produção.
Já nas MGEs, um estaleiro teve capacidade ociosa inferior a 5% e dois deles
entre 5 e 10%; para essas empresas a capacidade ociosa foi atribuída a redução das
encomendas e a falta de financiamento para a construção de embarcações .
Observou-se que de modo geral a capacidade ociosa da indústria naval nos
últimos 5 anos foi relativamente baixa se comparada com outros pólos navais no país. A
presença local da indústria pesqueira, e a presença do Porto de Itajaí contribuíram para a
manutenção das atividades navais locais, principalmente pela manutenção e reparos que
as embarcações exigiram nas entre safras pesqueiras, e também eventuais reparos em
cargueiros atracados no Porto de Itajaí.
18
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Sem resposta
Sem importância
Baixo
Médio
sem resposta
Infra-estrutura
Falta
Qualificação
Característica
Insumo
Equipamentos
inapropriados
Alto
Gráfico 3- - Fatores que influenciam nas perdas e descartes na produção com madeira
Apenas 19% das empresas arrendaram a infra-estrutura para execução de
projetos de terceiros. Enquanto 28,6% já foram sub-contratadas para produzir parte de
projetos de outra empresa.
Quando questionadas para avaliar o desempenho da empresa nos últimos 20
anos frente à crise que passou a indústria naval nacional, 38,10% declararam ter um
desempenho satisfatório; 14,3% consideraram excelente enquanto, apenas, 9,5% das
empresas consideraram ruim.
Dentre as empresas que declararam terem tido um desempenho satisfatório ou
excelente, 42,9% responderam que o principal fator que contribuiu para este
desempenho foi à proximidade com um dos maiores pólos pesqueiros do país, que
permitiu a continuidade das atividades pela construção e reparos de embarcações
pesqueiras.
19
3.2 FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS
Durante a década de 90 os financiamentos para a construção de embarcações
foram bastante restritos, como também o financiamento à indústria.
Apenas o estaleiro de grande porte pediu financiamento para a construção de
embarcações entre 1999-2004. E este alegou que as garantias exigidas para a concessão
do financiamento foram muitas, fator que assumiu grau de importância maior que os
juros cobrados pelas instituições financeiras.
As demais empresas, 95% no total, não recorreram a fontes de financiamento;
declarando também as exigências de garantias o maior empecilho ao financiamento
(68% das respostas), seguido dos juros altos (59% das respostas).
Porém, 59% das empresas alegaram ter realizado investimentos nos últimos 5
anos. Investimentos em expansão foram realizados por 36% das MPEs, 42,1% destas
investiram em infra-estrutura, ou reposição; e apenas 10,5% realizaram investimentos
em modernização.
As empresas de médio e grande porte realizaram investimentos em
modernização e reposição.
Como não houve tomada de financiamento pelos estaleiros locais, pode-se
afirmar que os investimentos realizados foram financiados com recursos acumulados
pelas empresas. Mas, dada a inconstância na produção de embarcações, e a redução das
encomendas na última década, o que acabou por reduzir a capacidade de acumulação
das empresas, pode-se supor que os investimentos realizados foram muito inferiores aos
necessários para manter a infra-estrutura constituída e para a modernização da indústria.
Quanto a investimentos futuros, 50% das empresas pretendem investir em infraestrutura, 36% em expansão e 26% em modernização.
Observou-se que investimentos na modernização da estrutura produtiva foram
sempre um fator secundário na tomada de decisões por parte dos estaleiros, o que pode
agravar a desatualização tecnológica, afastando a indústria local do horizonte
tecnológico que vem sendo estabelecido na indústria mundial.
20
3.3 MERCADOS
Para as MPEs o principal mercado de atuação foi o local, o mercado nacional
vinha sendo atendido apenas por 37% dessas empresas por período superior a 3 anos.
Já para as MGEs o principal mercado foi o nacional, onde além de atenderem a
construção de embarcações de pesca o fizeram para embarcações de apoio e gaseiros da
PETROBRÁS.
As MPEs identificaram como as principais exigências de seus mercados de
atuação: a qualidade dos serviços e projetos, o preço de venda, o cumprimento de
contratos e os prazos de pagamento das embarcações.
Já as MGEs identificaram como principais exigências do mercado nacional: a
qualidade na execução dos projetos, o preço de venda a regularidade na execução do
projeto e o cumprimento de contratos.
De qualquer forma o que se observou (gráfico 4), foi que as empresas
identificaram como principal exigência, de qualquer mercado que venham a atuar, a
qualidade na execução do projeto, seguido do preço de venda e do cumprimento do
contrato.
Os fornecedores de insumos básicos, aço e madeira eram nacionais. No local
existem vários representantes de insumos e componentes, sendo estes em sua maioria
importados.
A determinação dos fornecedores esteve baseada na qualidade dos insumos
(95,2%), seguido do preço (76,2%) e regularidade na entrega (66,7%) (gráfico 5).
A regularidade de compras no mercado nacional foi superior a 3 anos para
45,5% das empresas.
21
Regularidade na execução e
entrega da embarcação
mercado externo
Atendimento a normas
internacionais de construção
Qualidade do projeto da
embarcação
mercado nacional
Preço de revenda
mercado estadual
Cumprimento Contratos
Prazos de pagamento
mercado local
Não resposta
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 4- Principais exigências nos mercados de atuação.
Amizade ou parentesco
Assistência técnica
Troca de informações
Especialização dos fornecedores
Prazos de Pagamento
Cumprimento de contratos
Confiança
Regularidade entrega
Alto
Médio
Qualidade
Baixo
Preço
Sem importância
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 5: Fatores que influenciam na determinação dos fornecedores
Não resposta
22
3.4 COMPETITIVIDADE
Para 68% das empresas a competição foi alta no setor. Os principais aspectos
determinantes da competitividade foram: o preço (81%), qualidade (57%), prazos de
pagamento e entrega favoráveis aos clientes 42,9% (gráfico 6).
As inovações nos projetos e nos produtos foram para 52,4% das empresas fator
sem importância. As MGEs atribuíram importância média à inovação.
As MPEs não conheciam as vantagens dos concorrentes estrangeiros. Já as
MGEs atribuíram as vantagens competitivas dos concorrentes estrangeiros a qualidade
dos projetos e a infra-estrutura.
Embora as empresas reconhecessem a qualidade na prestação do serviço de
construção e nos projetos como a maior exigência de seus mercados de atuação, essas
ainda competiram por preço; provavelmente esta contradição justifica-se pela baixa
atualização tecnológica na maioria das empresas, que impede a busca por maior
qualidade, produtividade e redução dos custos que por sua vez reflete-se em preços de
venda menores. As empresas locais produziram por processos e projetos tradicionais.
3.5 FONTES DE INFORMAÇÕES
Nas MPEs a principal fonte interna de informação esteve no proprietário da
empresa, enquanto que nas MGEs esta foi identificada pela gerência.
Para 47,3% das MPEs os clientes foram uma importante fonte externa de
informações, fornecedores e revistas especializadas também foram fonte de informações
externas a empresa para 31% dessas (gráfico 7).
Já duas das MGEs atribuíram ao cliente grau de importância médio como fonte
de informações externas a empresa. Foram fontes externas de informação com alto grau
de importância para essas empresas a participação em feiras e eventos navais nacionais
e revistas especializadas, o uso da Internet também foi comum entre essas empresas.
O compartilhar de informações dos estaleiros com seus clientes foi relativamente
baixo, apenas 36% das MPEs o fizeram constantemente e outros 36% eventualmente;
23
enquanto a MGEs o fizeram apenas eventualmente, até porque o detalhamento dos
projetos de execução das embarcações desta com seus clientes foi mais específico.
Prazos
Assistência técnica
Especialização
Propaganda
Inovações
Alto
Qualidade
Médio
Baixo
Preço
Sem importância
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Sem resposta
Gráfico 6: Fatores que Determinam a Competitividade entre as Empresas do Setor
Cosultoria especializadas
Feiras e eventos no exterior
Feiras e eventos nacionais
Internet
Revistas e publicações especializadas
Órgõas governamentais
Sindicatos
Universidades e centros de pesquisa
Empresas do mesmo setor de atividade
Alto
Fornecedores de equipamentos
Médio
Fornecedores de insumos
Baixo
Clientes
Sem importância
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100
%
Gráfico 7: Principais Fontes Externas de Informações em MPEs
Sem resposta
24
Quanto aos fornecedores de insumos esses foram fontes externas de informações
para 32% das empresas, e os fornecedores de equipamentos para apenas 23% dessas.
3.6 INOVAÇÕES
Na totalidade, 100% das empresas consideraram importante incorporar
inovações no sistema produtivo.
Com relação às inovações 31% das MPEs consideraram importante inovar em
produto e 95% consideraram importante inovar em processos. Destas 74% afirmaram
ter inovado em processo, porém apenas 23% conseguiram identificar a forma de
inovação sendo esta relacionada a novas formas organizacionais e de gerenciamento de
materiais.
Entre as MGEs apenas uma considerou importante inovar em produto. Quanto às
inovações em processo todas o fizeram nos últimos 10 anos, inclusive incorporando
engenharia assistida por computador (CAE) e processo assistido por computador
(CAD).
Em 77% das empresas do setor naval a incorporação de inovações ocorreu por
iniciativa própria da empresa, por sugestão de clientes em 28,6%; por sugestão de
fornecedores 19% das empresas (gráfico 8).
Por exigência da
legislação
Sugestão de
fornecedores
Sugestão de clientes
Imitação de firmas
concorrentes
Alto
Médio
Por iniciativa da
empresa
Baixo
Sem importância
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 8: Fatores que levaram a incorporação de inovações
Sem resposta
25
Para as empresas que inovaram no processo produtivo houve melhorias em
66,7% das empresas referentes a produtividade da mão-de-obra e maior qualidade da
embarcação; em 47,6% a redução da perda de materiais, e em 47,6% a especialização da
produção; 42,9% a eficiência na organização administrativa; e 52,4% o aumento do
volume da produção. O aspecto que em menor grau foi melhorado pela incorporação de
inovações foi a possibilidade de expansão dos mercados (gráfico 9).
Aumento do volume de
produção
Eficiência na organização
administ
Expansão dos mercados
externos
Expansão dos mercados
nacionais
Especialização da
produção
Maior qualidade do
produto
Alto
Médio
Redução na perda de
materiais
Baixo
Sem importância
Produtividade da mão de
obra
Sem resposta
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Gráfico 9: Melhoria no Desempenho da Empresa pela Incorporação de Inovações
A incorporação de inovações no processo produtivo ocorreu principalmente pela
compra de equipamentos no mercado estadual para 43% das empresas, seguido das
parcerias com os fornecedores de insumos. Já em relação à compra de máquinas no país
e no exterior; parcerias com fornecedores de insumo e equipamento; com empresas
clientes e concorrentes; parceria com outras instituições; laboratórios P&D; intercâmbio
de funcionários com a matriz; e via licenciamento ou joint venture foram considerados
aspectos sem importância
26
3.7 VANTAGENS LOCACIONAIS
As principais vantagens atribuídas pelas empresas por estarem localizadas em
Itajaí e Navegantes, deram-se em função da proximidade com principais áreas de pesca
para 85,7% das empresas, do acesso à mão-de-obra qualificada e treinada para 66,7%
das empresas; a proximidade com clientes /consumidores para 71,4%; e a proximidade
com produtores de equipamentos e a disponibilidade de informações sobre a atividade
para 42,9% das empresas (gráfico 10).
Oram julgados fatores sem importância: o baixo custo com a mão-de-obra para
38,1% das empresas; a proximidade com os fornecedores de insumos para 47,6% das
empresas; a disponibilidade local de infra-estrutura e serviços para 57,1%; e a
proximidade com universidades e centros de pesquisa para 71,4% das empresas.
PROXIMIDADES COM
ÁREAS DE PESCA
PROXIMIDADE COM OS
CLIENTES
MAIOR FACILIDADE
PARCERIAS
PROXIMIDADE COM
UNIVERSIDADES
DISPONIBILIDADE DE
INFORMAÇÕES
PROXIMIDADE COM
PRODUTORES
DISPONIBILIDADE
LOCAL
PROXIMIDADE COM
FORNECEDORES
BAIXO CUSTO MÃO DE
OBRA
BAIXO CUSTO MÃO DE
OBRA
Alto
MÃO DE OBRA
QUALIFICADA
Médio
PROGRAMAS
GOVERNAMENTAIS
Baixo
Sem importância
0%
10% 20%
30% 40%
50% 60%
70% 80%
Gráfico 10: Vantagens locacionais
90% 100%
Sem resposta
27
3.8 INSTITUIÇÕES LOCAIS
A maioria das empresas (66,7%) estava filiada a alguma associação de classe;
52,4% ao Sindicato dos Metalúrgicos, destas 19% às vezes participaram das atividades,
deste, e 33,3% consideraram que o Sindicato representava bem os interesses da
categoria.
Já, 14,3% estavam filiadas a Associação Comercial e Industrial de Navegantes
(ACIN) e destas 9,5% consideraram que a ACIN representava bem os interesses da
categoria. Com relação à participação 9,5% das empresas às vezes freqüentaram as
atividades da ACIN.
Quanto ao grau de confiança em instituições, 38,10% das empresas desconhecia
os trabalhos desenvolvidos pela Universidade; 47,6% confiavam em grau médio nos
trabalhos desenvolvidos pelo Sindicato patronal; e em grau médio também estava a
confiança nos Sindicatos dos Trabalhadores para 33,3% das empresas.
3.8 CARACTERISTICAS DA MÃO-DE-OBRA
O setor foi caracterizado pelo uso intensivo de mão-de-obra local adaptável.
Com relação às políticas voltadas a educação e qualificação da mão-de-obra
71,4% das empresas não as tinham, enquanto apenas 28,6% das empresas tinham algum
tipo de incentivo interno ao treinamento e qualificação.
Para as empresas que possuíam algum tipo de política voltada à educação e
qualificação da mão-de-obra; 14,3% constantemente promoveram cursos internos,
enquanto 14,3% eventualmente incentivaram à realização de cursos.
A maioria das empresas (66,7%) não proporcionou nenhum tipo de benefício de
saúde. Das 33,3% das empresas que proporcionaram algum tipo de benefício de saúde,
9,5% foi do SIPA, 4,8% proporcionaram benefícios ambulatoriais; 4,8% tinham um
médico contratado e, 19% ofereceram planos de saúde.
No último ano ocorreram acidentes de trabalho em 28,6% das empresas.
Cerca de 66,7% das empresas promoveram a integração dos funcionários através
de programas culturais e/ou esportivos; sendo que 4,8% possuíam sede social; 4,8%
possuíam quadras poli -esportivas; 57,10% promoveram festas ou comemorações.
28
Os principais problemas referentes à mão-de-obra foram a resistência ao uso de
novas tecnologias, e a falta de aptidão para lidar com as mesmas (gráfico 11).
Para as MPEs a mão de obra apresentou problemas ao manipular insumos, com
grau de importância médio em 26% das empresas, e em 36% destas, esse foi um
problema inexistente, o mesmo percentual de respostas e importância foi dado para os
problemas referentes à manipulação de equipamentos. Porém, todas essas empresas
afirmaram que o desperdício na manipulação do insumo madeira tinha sido decorrente
da falta de qualificação da mão-de-obra.
Problemas resistência
Problemas aptidão tecnologia
Problemas normas organizacionais
Problemas normas equipamentos
Problemas normas técnicas
Problema segurança no trabalho
Problemas higiene no trabalho
Problemas manipulação de produtos
Problemas manipulação equipamentos
alto
Problemas manipulação de insumos
baixo
Problemas desperdício material
medio
Problemas Produtividade
inexistente
0%
10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100
%
sem reposta
Gráfico 11: Problemas Referentes a Mão-de-obra
A maioria das empresas (66,7%) utilizou serviços terceirizados, dentre elas;
42,9% foram para manutenção de equipamentos; 28,6% para manutenção das
instalações da empresa; 19% para suporte de software; 14,3% para limpeza das
instalações e 9,5% para rastreamento de cargas e embarcações.
29
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS SOBRE A INDÚSTRIA NAVAL
DE ITAJAÍ E NAVEGANTES
A perspectiva de reativação da indústria naval no país é eminente, visto que o
governo federal vem promovendo programas de financiamento para a substituição e
expansão da frota nacional. No contexto atual, 90% da atividade naval volta-se a
marinha mercante e os 10% restantes divide-se entre a atividade pesqueira e a
construção militar e portuária.
O processo produtivo na construção naval envolve na verdade pouca tecnologia
de ponta (sistema estrutural- casco e subestruturas) operando como montadora de
embarcações e estruturas navais. Na composição das embarcações e nas estruturas é que
se incorporam grandes inovações e onde o conteúdo tecnológico é importante, como as
navi-peças: motores, propulsores e sistemas de navegação; sistemas elétricos e
eletrônicos.
O Brasil possui vantagens competitivas relacionadas aos insumos básicos,
enquanto um dos grandes produtores mundiais de aço, alumínio e derivados de petróleo,
e uma mão-de-obra adaptável e de baixo custo.
Quanto aos componentes elétricos e eletrônicos, sistemas anticorrosivos e de
acabamentos, os fornecedores nacionais são especializados, produzem com qualidade
mas os preços são elevados frente à concorrência internacional. Já os sistemas de
navegação, propulsores e motores, como sistemas elétricos e eletrônicos não são
produzidos no mercado interno, sendo importados.
A indústria naval localizada em Itajaí e Navegantes estava composta por 22
empresas (outubro-novembro de 2004), com predomínio de micro e pequenas empresas
(19 no total) que atuaram especificamente na construção e reparo de embarcações de
pesca com casco de madeira. Já as médias e a grande empresa local construíram,
repararam e processaram materiais para embarcações e estruturas navais de aço.
A indústria naval empregou diretamente cerca de 1.630 funcionários em
empresas fundadas predominantemente entre as décadas de 80 e 90; período em que se
agravou a crise da indústria naval nacional.
30
A crise dos grandes estaleiros localizados no Rio de Janeiro deslocou a mão-deobra e futuros empreendedores para Itajaí e Navegantes; que vislumbraram nesses
municípios a oportunidade de manterem-se na atividade naval, onde já detinham
competências específicas e conhecimentos sobre a indústria, e pela identificação de
oportunidades de mercado pela presença local de um dos maiores pólos pesqueiros
nacional.
As vantagens locacionais estavam claramente definidas na presença da indústria
pesqueira, na mão-de-obra qualificada e na presença de fornecedores especializados;
garantindo assim a redução nos custo de transação; e nas externalidades positivas pelo
reconhecimento do mercado consumidor, pelo conhecimento tácito sobre a atividade
que leva a existência no local de um fluxo de informações e conhecimentos importantes
sobre a atividade naval e pesqueira.
Como há um predomínio de micro e pequenas empresas na indústria naval de
Itajaí e Navegantes, e empresas deste porte têm dificuldades de acesso ao crédito, os
investimentos realizados nos últimos 5 anos não teriam sido suficientes para expandir a
capacidade de produção e moderniza-la. Todas as empresas afirmaram ter realizado
investimentos, e esses permitiram a manutenção da capacidade produtiva visto que
investimentos em reposição foram predominantes. Como essas empresas não recorreram
à financiamento externo, esses foram financiados com recursos acumulados.
Todas as empresas planejam a realização de novos investimentos, porém entre as
modalidades propostas, teve sempre caráter secundário entre as empresas de menor
porte os investimentos em modernização; o que indica que a indústria naval em questão,
produz de forma tradicional embarcações de pesca construídas de madeira, e avalia que
seu principal mercado, o local, vai continuar demandando embarcações com as mesmas
características.
Porém, essa avaliação é falha, uma vez que o próprio Programa Profrota
Pesqueira indica enquanto instrumento político a substituição da frota costeira que opera
sobre os recursos tradicionais, por uma frota mais moderna envolvendo tecnologia
pesqueira mais avançada e com maior conteúdo tecnológico na captura, armazenamento
e até na possibilidade de processamento à bordo, de modo a reduzir as perdas nas
capturas e armazenagem.
31
Por outro lado, ficou evidente que a atualização tecnológica no processo
produtivo na indústria naval de Itajaí e Navegantes depende intimamente das decisões
dos armadores pesqueiros, uma vez que estes especificam os projetos das embarcações,
escolhem e contratam todos os fornecedores dos sistemas e equipamentos navais. Logo,
a necessidade, destes, em obterem embarcações com características distintas da frota
atual forçaria os estaleiros menores à atualização tecnológica.
A incorporação de tecnologia nos estaleiros ocorreu pela compra de
equipamentos de fornecedores estaduais, assim esses exerceram um importante papel no
local na disseminação de informação e na divulgação das tendências que o setor vai
assumindo ao longo do período. As micro e pequenas empresas consideraram
importante incorporar inovações no processo produtivo; as que o fizeram introduziram
novas técnicas organizacionais e de gerenciamento de materiais, por terem um custo
significativamente mais baixo quando comparado as outras tecnologias. A incorporação
da inovação ocorreu por iniciativa própria da empresa, sendo todas as decisões
centradas na figura do proprietário.
Já as médias e grande empresa modernizaram o processo de produção, pela
incorporação de novas tecnologias como sistemas de engenharia assistida- CAE, e
processo assistido por computador- CAD.
Os municípios em questão possuem um ambiente favorável ao desenvolvimento
da indústria naval, como já demonstrado. Porém o fluxo de informações entre clientes,
empresas, fornecedores e instituições foi relativamente baixo; o que compromete
significativamente
o
processo
de
aprendizagem
e
inovação
nas
empresas.
Conseqüentemente, ficou comprometida a renovação e sustentação das vantagens
competitivas das empresas de menor porte.
Outro fator que agravou esse contexto foi a falta de conhecimento e confiança
nas instituições locais, a quem cabe o papel de coordenar e potencializar o fluxo de
informações entre os agentes locais.
As micro e pequenas empresas identificaram a competição de seu mercado como
alto, sendo a principal exigência desse, a qualidade na execução dos serviços e dos
projetos. Porém, todas afirmaram competir por preço; essa contradição entre o que o
mercado exige e o que as empresas tentam oferecer decorre especificamente da falta de
32
tecnologia adequada que permita tanto o aumento da qualidade, da produtividade e
conseqüentemente na redução nos custos e por sua vez no preço de venda.
Uma prova contundente da falta de tecnologia adequada para produção esteve no
volume de perdas e descartes vinculados à produção com madeira que para 33% das
empresas oscilou entre 11 a 20%, e para 50% das empresas entre 20 a 30%.
Embora as empresas atribuíssem as perdas na manipulação dos insumos a falta
de qualificação da mão-de-obra, nas questões específicas sobre esta, a revalidação da
resposta não aconteceu.
A mão-de-obra qualificada e treinada foi um importante fator de atração dos
estaleiros aos municípios de Itajaí e Navegantes. Porém, essa mão-de-obra apresentou
falta de aptidão para lidar com novas tecnologias e resistência ao uso de novos
equipamentos e técnicas produtivas.
Logo,
ressalta-se
que
a
mão-de-obra
possuía
conhecimentos
tácitos,
competências e habilidades para as formas tradicionais de produção, precisando ser
treinada e qualificada para operar com técnicas mais modernas.
O treinamento e qualificação da mão-de-obra foram promovidos por apenas
14,3% das empresas através de cursos internos oferecidos constantemente, o mesmo
percentual de empresas disse ter incentivado eventualmente cursos de atualização.
Como as transformações no processo produtivo da indústria naval foram
significativas nos últimos 30 anos, e a indústria brasileira frente a crise por que passou
aumentou seu gap tecnológico frente aos maiores produtores mundiais, torna-se
imprescindível que se desenvolva programas contínuos de qualificação e treinamento da
mão-de-obra nacional e local. Para que se mantenha e renove as competências e a
produtividade de um dos recursos mais relevantes na produção; e que assim, se renove
as vantagens competitivas da indústria local.
A frota pesqueira localizada nos municípios de Itajaí e Navegantes é constituída
principalmente por embarcações dos tipos: arrasteiro, cerqueiro e traineiras; que operam
sobre recursos tidos pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da-Presidência da
República do Brasil (SEAP-PR) como sobre explotados (corvina, camarão, sardinha,
bonito listrado).
33
A indústria naval desses municípios adquiriu ao longo de décadas competências,
e vantagens competitivas para executar a construção e reparos nessa frota. A mão-deobra utilizada no processo produtivo, também, adquiriu as competências e habilidades
para lidar com as formas tidas como tradicionais de produção, ou seja sem a
incorporação de tecnologias e técnicas mais sofisticadas de produção.
Porém, o Programa Profrota Pesqueira nega a possibilidade de construção de
embarcações dos tipos predominantes na região, sinalizando para objetivos estruturais
do governo federal de substituir e restringir a atuação de tal frota sobre os recursos
sobre explotados.
Logo, no âmbito do Profrota Pesqueira os estaleiros de menor porte teriam
vantagens competitivas na execução de projetos de jumborização, conversão e
adaptação da frota existente às novas pescarias. Enquanto as empresas de maior porte
poderiam usufruir de todas as modalidades estabelecidas no programa, inclusive a
construção de embarcações para a pesca oceânica, que exige projetos mais avançados.
Mas, entre as três empresas aptas à construção, apenas uma demonstrou real
interesse, e competência demonstrada, para esse tipo de construção; as demais estavam
focando a construção de embarcações e estruturas navais financiadas pela Petrobrás.
Os potenciais competitivos da indústria naval de Itajaí e Navegantes, estavam
comprometidos pois as vantagens locais estavam baseados em fatores competitivos
estáticos, voltados às formas tradicionais de execução dos projetos, na operação
centralizada da estrutura organizacional, pelo baixo grau de incorporação de tecnologias
e inovações na estrutura produtiva, pela incorporação de uma mão-de-obra que traz em
si conhecimentos tácitos sobre a atividade, e pela baixa cooperação local na troca de
informações.
Porém, a renovação dos potenciais competitivos da indústria frente ao novo
contexto que se apresenta, exigirá uma revisão das condutas empresariais pela busca de
maior inserção numa rede formada por clientes, fornecedores, empresas e instituições.
De modo, a se ampliar as informações sobre os rumos da atividade, tendências
tecnológicas e novas oportunidades de mercado.
Assim, num processo de aprendizagem coletivo será possível estabelecer a
especialização produtiva à indústria local, calcada em maior conteúdo tecnológico e
34
inovativo, tornando estão os potenciais competitivos locais dinâmicos e passíveis de
constante revisão.
35
5
PROPOSIÇÕES
POLÍTICAS
PARA
O
DESENVOLVIMENTO
DA
INDÚSTRIA NAVAL DE ITAJAÍ E NAVEGANTES
As políticas de desenvolvimento local são imprescindíveis para a obtenção e
manutenção de vantagens competitivas. Sendo que essas possuem como elementos
essenciais o conhecimento e a inovação, que por sua vez estão condicionadas aos
processos interativos que ocorrem no âmbito local, destacam Cassiolato, Lastres e
Szapiro (2000) .
A estrutura descentralizada do Governo do Estado de Santa Catarina favorece a
discussão ampla e transparente das necessidades locais, possibilitando a geração de uma
“política consensual” para o setor naval uma vez que permite a integração dos agentes
locais em torno de metas estabelecidas em conjunto, nos termos propostos por
Cassiolato, Lastres e Szapiro (2000).
A retomada da atividade naval pela demanda interna tem que se apresentar como
elemento dinamizador que possibilite a atualização tecnológica e a eficiência produtiva,
e simultaneamente deve ser discutida a especialização da produção visando à inserção
no mercado externo de modo a manter a utilização da capacidade instalada, o que só
será possível se for obtido um salto qualitativo na elaboração de projetos navais e na
execução desses.
Assim, pontuam-se alguns elementos a serem considerados nas políticas locais,
para que se alcance o desenvolvimento da indústria naval:
a. Especialização
produtiva-
a
necessidade
de
aprofundamento
da
especialização produtiva, com aumento da qualidade do produto, redução de
perdas de produção e identificação de nichos de mercado, permitirá a
inserção da indústria local em mercados mais amplos garantindo a utilização
da capacidade produtiva instalada e a ocupação da mão-de-obra; mantendo o
dinamismo e o desenvolvimento local sem a dependência excessiva de
financiamentos internos à construção naval;
b. Difusão e seleção de tecnologias- melhorar a difusão e seleção de
tecnologias pela aproximação de fornecedores estrangeiros do entorno. A
cadeia de fornecedores navais é complexa e baseada em vantagens
36
competitivas internacionais. Uma ampla identificação e aproximação desses
fornecedores favorecem a avaliação dos custos e benefícios na aquisição de
componentes, aumentando, também, o valor agregado à embarcação e
ampliando as relações técnicas com o exterior. Pois, segundo Lundval (2001)
o relacionamento com empresas estrangeiras é crucial no processo de
inovação regional; caso contrário este se torna estagnado em relação à
incorporação de avanços tecnológicos;
c. Atualização dos gestores- como as informações e as decisões estão centradas
na figura de proprietários e alguns gerentes, faz-se necessário a requalificação e atualização das formas organizacionais aplicadas de modo a
superar as deficiências históricas quanto à logística de aquisição de
materiais, liberação dos financiamentos, e cumprimento dos prazos
estabelecidos em contratos que acarretam em dificuldades financeiras
durante o processo de construção, inviabilizando financeiramente as
empresas. A compatibilização do fluxo financeiro com o processo de
produção trará solidez às empresas eliminando obstáculos ao crescimento e
favorecendo o processo de acumulação, além de torná-las competitivas no
ambiente externo;
d. Qualificação da mão-de-obra- a mão-de-obra tem que se adaptar ao uso de
novas tecnologias no processo produtivo e no produto, portanto é preciso que
se estabeleçam cursos freqüentes de atualização e qualificação. Observa-se
também que com o crescimento da atividade naval decorrente dos
financiamentos, ocorre a falta de trabalhadores aptos a desempenhar
determinadas funções, logo cursos técnicos voltados à construção naval
possibilitarão a inserção de novos indivíduos no mercado de trabalho;
e. Governança- existe pouca interação e confiança nas instituições locais, não
havendo governança por parte das instituições publicas e privadas locais,
nem por parte de empresas de maior porte. Devido à dependência mundial da
indústria naval de ações do estado, propõe-se que o Governo do Estado de
Santa Catarina através da Secretaria Regional de Desenvolvimento
estabeleça a governança local de modo a aglutinar os esforços e intermediar
os conflitos, estabelecendo ações que permitam a formação de competências
que não estejam no local; ampliado os conhecimentos e habilidades
37
presentes no entorno, favorecendo e assim possibilitando o desenvolvimento
regional.
38
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AUTORA:
Identificação: Ana Luísa de Souza Soares
Instituição: Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI
Endereço: Avenida Valdemar Vieira 153, Florianópolis, SC- CP 88045-500
Telefones: (048) 3333-7225 – residencial
(047) 3341-7665- comercial
(048) 99583766- celular
e- mail: [email protected]
Registro Corecon-SC n.o.1959-3
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