Área: Sócio-economia
FEIJÃO-CAUPI EM MATO GROSSO DO SUL
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Gessí Ceccon ; Neriane de Souza Padilha2; Eduardo de Moura Zanon3; Leonardo Fernandes Leite4
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Eng. Agr. Dr., Embrapa Agropecuária Oeste, Rodovia BR 163, Km 253, caixa postal 449, CEP 79804-970, Dourados-MS,
[email protected]; ²Eng. Agr. Doutoranda em Agronomia, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Rodovia Dourados
Itaum, Km 12, caixa postal 533, CEP 79804-970, Dourados-MS; 3Estudante de Agronomia, Centro Universitário da Grande Dourados
(UNIGRAN), Dourados, MS, bolsista PIBIC/CNPq na Embrapa Agropecuária Oeste.4Mestrando em Agronomia, Produção Vegetal,
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Aquidauana, MS, bolsista CAPES;
Resumo – O trabalho foi realizado com o objetivo de identificar locais de cultivo e características de genótipos
de feijão-caupi comercializados em Mato Grosso do Sul. Para isso, foi realizado um diagnóstico da origem e
período de comercialização de feijão-caupi junto à CEASA, em Campo Grande, MS. Foram verificados maiores
movimentos nos meses de novembro e dezembro, com um segundo período de cultivo em junho, indicando mais
de uma época de semeadura. Os locais de maior expressão estão localizados próximos à Campo Grande, mas
com produção em pequena escala, para o consumo familiar, em praticamente todo o Estado, conhecido entre os
agricultores por feijão-de-corda e/ou feijão-catador. Foram coletados sementes dos principais genótipos e
avaliados em solos de alta e baixa fertilidade. Os genótipos apresentam características semelhantes aos cultivares
comerciais, com resposta aos tipos de solo para crescimento vegetativo, mas não diferiram para aos componentes
de produtividade.
Palavras-chave: Vigna unguiculata, produtividade, vagem-verde, feijão-de-corda, fradinho.
Introdução
O feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) tem sido pesquisado em diferentes ecossistemas das
regiões Norte (VILARINHO et al., 2006), Nordeste (FREIRE FILHO et al., 2011) e Centro-Oeste (CECCON et
al., 2009) do Brasil. É uma espécie cultivada tradicionalmente nos sistemas de agricultura familiar com baixo
nível tecnológico nas regiões Norte e Nordeste (XAVIER et al., 2005), mas despertou o interesse de produtores
da região Centro-Oeste, onde são utilizados sistemas de produção tecnificados, com lavoura totalmente
mecanizada, e cultivares de porte compacto e ereto (FREIRE FILHO et al., 2011).
A expansão do feijão-caupi no Centro-Oeste está bastante restrita ao Estado de Mato Grosso, com baixa
expressividade em Mato Grosso do Sul (FREIRE FILHO et al., 2011), mas poderá ser uma opção de cultivo nas
regiões Norte e Nordeste do Estado, onde se encontram condições de inverno seco, para sucessão com soja; e em
solos arenosos, para sucessão com braquiárias destinadas à produção de sementes. Isso porque o feijão-caupi é
tolerante a altas temperaturas e ao déficit hídrico (BERTINE et al., 2009). No entanto, quando cultivado em
condições de baixas temperaturas noturnas pode alongar o ciclo (DUMET et al., 2008), dificultando sua
expansão em ambientes de clima úmido e frio, inviabilizando seu cultivo em locais como na região Centro-sul de
Mato Grosso do Sul.
O trabalho foi realizado com o objetivo de identificar locais de cultivo e características de genótipos de
feijão-caupi comercializados em Mato Grosso do Sul.
Material e Métodos
Identificação de lavouras e genótipos
1
Em levantamentos de lavouras de milho safrinha realizados em 2010 (CECCON et al., 2011), foram
avaliadas também as poucas lavouras de feijão-caupi encontradas em Mato grosso do Sul. Essas lavouras
estavam concentradas na região Nordeste do Estado, no município de Chapadão do Sul. Uma das lavouras era
após braquiária destinada à produção de sementes e as demais em sucessão à soja. No entanto, essas lavouras
não prosperaram devido à dificuldade de comercialização e também a falta de tecnologias para cultivo do feijãocaupi em sucessão à soja (dados não publicados).
Com essas informações, em 2012, fez-se um diagnóstico da origem e comercialização de feijão-caupi
junto à CEASA, em Campo Grande, MS (Figura 1), onde a comercialização é exclusivamente de vagem verde,
tendo sido comercializados 37.163 kg em 2011. Assim foi possível identificar a origem e épocas de
comercialização do feijão-caupi (Figura 1), sendo os meses de novembro e dezembro de maior volume de
comercialização. No entanto, no junho verifica-se outro período de comercialização, indicando que a semeadura
é realizada mais de uma época do ano, com mais de uma colheita de vagens por planta.
Quanto aos locais, existe predomínio de cultivo na região próxima à Campo Grande, por questões de
custo para transporte, mas com tendência de produção também na região do Pantanal, onde são encontrados
solos de baixa fertilidade. A produção em grande escala não é expressiva, mas existe produção em pequena
escala, para o consumo familiar, em praticamente todo o Estado, onde o feijão-caupi é conhecido entre os
agricultores por chocha-bunda, feijão-de-corda e/ou feijão-catador.
De posse dessas informações foram realizadas visitas em feiras e mercados municipais em Aquidauana,
Campo Grande, Dourados, Miranda, Nioaque e Terenos, em MS. Nestes locais, são comercializadas vagens
verdes e grãos secos, mas sem controle da quantidade real comercializada. Em cada um dos locais visitados, com
apoio de técnicos da Agraer, foram adquiridas sementes de feijão-caupi, e levadas até a Embrapa Agropecuária
Oeste, em Dourados, para avaliação das características agronômicas e produtividade dos genótipos.
Figura 1. Frequência de comercialização (kg dia mês-1) e chuva (mm) (A) em Mato Grosso do Sul e municípios
de origem do feijão-caupi (B) comercializado em vagem-verde na CEASA, em Campo Grande, MS, em 2011.
Fonte: CEASA (2011). Embrapa Agropecuária Oeste (2011), Sementes Bortolini1 e Copasul 2.
Avaliação dos genótipos
Foram selecionados dez tipos de sementes de feijão-caupi das diferentes localidades, que foram
cultivados com cinco cultivares comerciais (Tabela 1), em casa-telada não climatizada, na Embrapa
Agropecuária Oeste, em Dourados, MS. O delineamento experimental foi em blocos casualizados em parcelas
1
2
Email de Júlio Bortolini, da Sementes Bortolini, enviado para o autor em 13 set. 2009.
Email de Antônio José Meireles Flores, da Copasul, enviado para o autor em 25 fev. 2013.
2
sub-divididas, com duas repetições. As parcelas foram constituídas pelos solos (Tabela 1) e as subparcelas pelos
genótipos (Tabela 2). Os solos (arenoso e argiloso) foram colocados nos vasos em 03/08/2012, após análise
química. A unidade experimental foi constituída por vasos de 40 cm de diâmetro e 60 cm de altura, com 60 kg de
solo seco, onde, em 04/09/12, foram semeadas oito sementes por vaso, sem adubação química, e após a
germinação o estande foi padronizado para quatro plantas por vaso.
Tabela 1. Caracterização dos solos do experimento. Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS, 2012.
Solo
Areia Silte Argila
-1
.......g kg .........
pH(CaCl2)
(1:2,5)
P
K
-3
(mg dm )
Ca
Mg
Al
-3
Cu
Fe
Mn Zn
-3
..........cmolc dm ..........
........mg dm ...........
1,1
Arenoso
726
51
223
4,6
0,6
0,09
0,6
0,2
0,1
55,1
9,0 0,2
Argiloso
160
117
723
5,0
30,7
0,73
3,4
2,0
0,0 10,9 28,1 51,3 1,4
A umidade do solo foi mantida entre 60 e 80 % da capacidade de campo, mediante a irrigação em dias
alternados, monitorado com tensiômetros e medida com sensor de umidade modelo Blumat Weninger, A-6410
Telfs (BLUMAT, 2012). Foram realizadas duas aplicações de inseticida específico para controle de pulgão preto
e mosca branca.
No início da floração, em 22/10/12, foram retiradas duas plantas por vaso para avaliação do
desenvolvimento vegetativo dos genótipos, quando foi avaliado: diâmetro do caule a cinco cm do solo, altura de
plantas, folhas por planta, área foliar por planta, massa seca de folha por planta e massa seca total (folhas +
caule) por planta.
Para avaliação da produtividade de grãos foram realizadas três colheitas de vagens, entre 10/11/12 e
27/12/12. Os grãos foram retirados das vagens e quantificados oquanto ao número de grãos por planta, a massa
de 100 grãos e massa de grãos por planta.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de
probabilidade.
Resultados e Discussão
A análise de variância apresentou efeito significativo do tipo de solo para a maioria das variáveis
vegetativas (altura de plantas, diâmetro de colmos, folhas por planta, área foliar por planta, peso seco de folhas,
peso seco de colmos, e massa seca por planta) e efeito de genótipos para altura de plantas e folhas por planta.
Não houve interação significativa entre solos e genótipos para as varáveis analisadas.
O efeito de genótipos foi verificado na altura de plantas, sendo maior nos genótipos 6, 7, 8 e 10, mas sem
diferir das testemunhas BRS Guariba e BRS Pontengí, enquanto que o genótipo 10 apresentou maior número de
folhas por planta. As variáveis de produtividade; número e massa de grãos por planta não apresentaram diferença
estatística significativa. Quanto à classificação comercial de grãos (FREIRE FILHO et al., 2011), apenas um é da
classe “Branco” e os demais da classe “Cores”. Quanto à sub-classe, foram identificados dois Azulão, três
Corujinha, três Mulato, um Manteiga e um Fradinho (Tabela 2).
A predominância de genótipos na classe cores indica uma possibilidade de trocas de sementes entre
agricultores, favorecendo a formação de verdadeiros “bulks” regionais de sementes utilizadas pelos agricultores.
No entanto, quanto às características agronômicas, verifica-se certa semelhança com as cultivares melhoradas.
3
Tabela 2. Características e produtividade de genótipos de feijão-caupi, coletados em feiras municipais de Mato
Grosso do Sul e avaliados em Dourados, MS. Embrapa Agropecuária Oeste, 2012.
No
Altura de Folhas por Grãos por Massa de
plantas
planta
planta(ns) 100 grãos (ns) Classe
Origem
(cm)
51 b
41 b
58 b
51 b
69 b
1
2
3
4
5
Dourados (Azulão)
Aquidauana (Carijó)
Dois Irmãos do Buriti (Azulão)
Dois Irmãos do Buriti (Carijó)
Nioaque (Carijó)
6
7
8
9
10
11
Dois Irmãos do Buriti (Amarelo)
Terenos (Amarelo)
Campo Grande (Bahia, Marron)
Miranda (Verde-claro)
Miranda (Fradinho)
BRS Marataoã (Testemunha)
89
115
129
82
114
58
12
13
BRS Guariba (Testemunha)
BRS Potengi (Testemunha)
14
15
Sempre verde (Testemunha)
BRS Tapahium (Testemunha)
Média
CV (%)
...........(n ).........
21,0 b
21,8
23,0 b
22,5
22,6 b
20,8
22,7 b
18,7
20,5 b
31,2
25,8
24,5
24,0
22,7
41,2
21,5
Sub-classe
gramas
19,14
21,05
15,77
19,04
20,83
Cores
Cores
Cores
Cores
Cores
Azulão
Corujinha
Azulão
Corujinha
Corujinha
Mulato
Mulato
Mulato
Manteiga
Fradinho
Sempre-verde
b
b
b
b
a
b
25,3
44,1
20,5
47,7
16,8
20,1
17,31
22,53
20,97
22,93
15,35
20,59
Cores
Cores
Cores
Cores
Branco
Cores
109 a
97 a
22,7 b
23,6 b
18,5
20,8
21,79
16,68
Branco Branco liso
Branco Branco liso
56 b
71 b
18,3 b
19,5 b
22,0
15,0
20,68
17,90
Cores
Preto
23,6
11,8
24,4
39,5
19,5
12,3
79
18,6
a
a
a
b
a
b
o
Sempre-verde
Preto brilhoso
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.
As características vegetativas do feijão-caupi, tais como: altura de plantas, diâmetro de colmos, folhas por
planta, área foliar por planta, massa seca de folhas, massa seca de colmos, e massa seca total por planta foram
maiores no solo argiloso (de maior fertilidade), no entanto a massa de 100 grãos e a massa de grãos por planta
não apresentou diferença entre os tipos de solo (Tabela 3).
Tabela 3. Características e produtividade de genótipos de feijão-caupi, coletados em feiras municipais de Mato
Grosso do Sul e avaliados em dois tipos de solos, em Dourados, MS. Embrapa Agropecuária Oeste, 2012.
Solo
Altura de Diâmetro
plantas
de caule
Folhas
por
planta
Área
foliar por
planta
Massa seca
de folha por
planta
Massa
Massa de
seca total Massa de grãos por
por planta 100 grãos planta
(cm)
(mm)
(no)
(cm-2)
Arenoso
Argiloso
65,0 b
94,0 a
5,5 b
6,9 a
19,8 b
27,3 a
718 b
1.281 a
1,6 b
3,4 a
3,2 b
7,4 a
18,8 a
20,6 a
4,5a
4,8a
Média
CV (%)
79,5
18,6
6,2
16,3
23,6
11,8
1.000
19,1
2,5
18,1
5,3
16,3
19,7
12,3
4,7
15,2
.............................(gramas)...............................
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.
As condições da casa-telada e o cultivo em período de verão pode ter dificultado a expressão do
diferencial entre genótipos e cultivares. Contudo, demonstra o potencial de adaptação da cultura em solos de
baixa fertilidade, podendo ser uma espécie indicada para cultivo em solos arenosos da região Nordeste de Mato
Grosso do Sul, principalmente em sucessão com gramíneas onde o manejo de plantas infestantes é menos
complexo para o cultivo de feijão-caupi.
4
Conclusões
O cultivo de feijão-caupi em grande escala não é expressivo em Mato Grosso do Sul, mas existe produção
em pequena escala, em praticamente todo o Estado, com dois períodos de comercialização de vagem-verde,
indicando que existe uma semeadura no início e outra no final do período das águas.
Os genótipos de feijão-caupi cultivados e comercializados no Estado possuem características semelhantes
aos cultivares comerciais e apresentam resposta ao tipo de solo para o crescimento vegetativo mas não para os
componentes de produtividade.
Referências
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