Dezembro/2010
Bauru: A Springfield Brasileira
The
Bauru
ACONTECIMENTOS
Fatos bizarros e situações engraças marcam tanto Springfield quanto Bauru, além de
semelhanças assustadoras.
PERSONALIDADES
Pelé, Geisel, Maurício de Sousa, Marcos Pontes e muitos
outros que nasceram ou passaram pela cidade lanche.
E MUITO
+
CURIOSIDADES
2
Bauru: A Springfield Brasileira
Editorial
Dezembro/2010
Charge
Você, leitor, deve estar se perguntando que grandes semelhanças
Bauru poderia ter com a cidade dos Simpsons, Springfield. Pois nós
te respondemos: muitas, enormes, gigantemente assustadoras, e para
provar selecionamos as mais interessantes e de maior relevância. Para
começar, as duas são do Interior, médias para pequenas, e por isso
poderia se esperar que os acontecimentos dessas cidades não tivessem muita repercussão no âmbito nacional. Mas na prática não é
isso que acontece, direta ou indiretamente, elas têm grande influência
além de seus territórios. Como você poderá ver em matérias como
do apagão, do Pelé, do Maurício de Sousa, do Marcos Pontes e do
acidente ocorrido com o presidente Geisel em 1977. Outro fator em
comum entre Bauru e Springfield são os acontecimentos absurdos e
alguns até engraçados que você não poderia imaginar que seriam
possíveis de serem reais (pelo menos no caso de Bauru eles são), como
o carro que caiu em uma cratera, a mobilização que o bordel da Eny
causou na região, o ex-prefeito Izzo Filho que foi preso por ameaça
de bomba contra a oposição e a falta de gerador na maior maternidade local. Outras pessoas já haviam percebido essas paridades
antes deste suplemento, como se pode ver na comunidade do Orkut
“Bauru, Springfield Brasileira” que já tem mais de 1.400 membros.
Gabriela Valderramas, a dona da comunidade, disse que percebeu
as semelhanças durante um papo com seu marido e um amigo tomando uma cervejinha num barzinho. “Tanta coisa estranha que fica
impossível não comparar, né?”, diz Gabriela. É verdade! Então esperamos que gostem e se divirtam com essas peculiaridades que tornam
esses dois lugares tão especiais.
Da Redação
Equipe
D
Edgar
Marina
Saraiva
Crespo
D
D
Patrícia
Vergara
D
Paula
Lopes
D
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
3
Bauru e seu lanche,
Springfield e seu limoeiro
Bauru guarda uma série de singularidades
e excentricidades – a
começar pelo próprio
símbolo que leva seu
nome: um sanduíche.
Quer dizer, você já parou para pensar sobre
como é engraçado morar em uma cidade que
é reconhecida principalmente pelo nome de
um lanche? Acredite ou
não, muita gente conheceu primeiro Bauru, o
sanduíche e só depois
Bauru, a cidade. Mas
não somos os únicos com
um símbolo engraçado.
Se isso faz de Bauru
mais comum, saiba que
nossa Springfield tem
como símbolo nada mais
nada menos que um limoeiro. Nada comum, certo?
Começam por aí as semelhanças entre Bauru e
a terra natal de Homer
Simpson. Mas agora vamos conhecer um pouco
mais sobre a origem de
nosso famoso lanche e
entender porque ele leva
o nome da cidade.
É só chegar à Rodoviária
de Bauru que os turistas
já se deparam com nosso
a morte de seu pai, Zé
do Esquinão, em 2002.
Atualmente, a lanchonete está localizada na
Rua Rio Branco, esquina
com a Júlio Maringoni,
e segundo Marquinhos,
sua clientela é formada
por pessoas de todos
os lugares da cidade,
do Brasil e até de outros países, conseguindo
atender desde jovens
que buscam uma refeição depois da balada
até famílias que vem
para o almoço de domingo. “Vem muita gente
de fora para conhecer o
lanche, principalmente quando estão muRestaurante Ponto Chic, 19xx, onde foi criado o lanche bauru. Imagem doada pelo Ponto Chic
dando para a cidade.
Hoje, é um ponto de
famoso Baruzinho, uma dante de direito Casimiro começou a fazer o lanche
réplica do lanche feito Pinto Neto na lanchone- e entregar para as seus referência em Bauru, mesmo que
de pão francês sem mio- te Ponto Chic, SP – para clientes experimentarem. outros lugares façam o lanche. Nós
lo, fatias de rosbife, quei- Bauru. Inaugurado em Sem saber, meu pai foi somos a primeira lanchonete a fajo derretido, rodelas de 1971, na Rua Rodrigues fazendo um trabalho de zer o sanduíche. Somos mais tradiMarquinhos.
tomate e picles. É impos- Alves, no Centro, o Ski- marketing”, conta o sim- cionais”, conclui
sível passar pela cida- não foi uma vitória para pático Marquinhos, que
de sem experimentar o Zé, que antes trabalhava comanda o local
sanduíche conhecido por como garçom. “Quando o desde
todo o Brasil. O principal Ponto Chic fechou, em
responsável pela fama 1973, meu pai viu
de Bauru é José Francisco nos jornais e achou
Junior, o Zé do Esquinão, que o sanduíche
que trouxe o lanche – cria- não podia morrer.
do em 1934, pelo estu- Ele sabia da receita,
Episódio citado
# O Limoeiro de Tróia - 23o
J
episódio da 6a Temporada
J
J
J
J
J
J
4
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
O Roubo do Bauruzinho
Universitários roubando o Bauruzinho. Imagem doado pelos próprios que não
quiseram se identificar.
Que bela noite em Springfield! Bart
Simpson precisava de algo empolgante para melhorar sua semana,
que tinha começado com aulas na
escola dominical – sem revistas em
quadrinhos e sem estilingadas. E
lá vai o skatista mais travesso de
Springfield aprontar uma das grandes para impressionar sua gangue
de trombadinhas. Inspirado pelos
dizeres de seu honroso pai – “Ser
popular é a coisa mais importante
do mundo” – Bart resolve roubar a
cabeça da estátua do fundador da
cidade, Jebediah Springfield. E daí
que o tal Jebediah tinha matado um
urso com as próprias mãos?
Eis que Springfield amanhece completamente chocada e apagada.
Onde estaria a cabeça do valente
Jebediah? Acompanhado por um
Homer arrependido de seus conselhos, Bart tenta devolver a cabeça
quando percebe o dano que causou
à honra da cidade. Mas os dois são
pegos no flagra por um
exército munido de tochas e foices.
O que restava agora? Havia outra
possibilidade senão a morte? Bart
toma coragem e se explica diante
dos moradores, pedindo desculpas
e devolvendo a cabeça ao seu dono.
Mas vamos deixar a ficção de lado
para falar de desventuras mais infelizes e não menos travessas que
as de Bart Simpson.
Bauru, a cidade literalmente sem limites, também é palco frequente de
algumas excentricidades que acabam causando muito prejuízo. Não
é difícil perceber que a maior parte dos estudantes forenses tem uma
estranha tendência a roubar coisas
aparentemente inúteis que fazem
parte do patrimônio público. Na
maioria dos casos, essas imprudências são cometidas furtiva e humildemente. Quer dizer, quase todos
ficam contentes e realizados com
simples cones sinalizadores e placas
de trânsito discretas. Carrinhos de
supermercado, no máximo.
Entretanto, não satisfeitos com isso
e cansados da rotina, alguns
estudantes resolveram ser
Episódio ci
tado
Bart por um dia, investindo
em
uma operação mais de# Conversa Fia
da - 8o episód
safiadora e perigosa: roubar
io da 1a
Temporada
o símbolo da cidade. Com
seus olhos de picles, seus pés
feitos de tomates, um palito espetado na testa e sua língua de rosbife,
o Bauruzinho encantava a todos os
que passavam pelo parque Vitória
Régia, até a madrugada do dia 5
de agosto de 2008, quando sofreu
o atentado. Mas esses estudantes
não imaginavam que a réplica do
sanduíche – criada por um morador
bauruense – não seria um alvo assim tão fácil. Seu tamanho indiscreto
e suas cores pouco camufláveis com
certeza não ajudaram na operação: a aventura acabou no xadrez
e foi notícia nos principais jornais do
país.
De acordo com o comandante da
Polícia Militar, William Carlos Vieira, os estudantes Rafael Rodrigo de
Oliveira Filho, Marcelo Henrique Furini, William Massao Obata e Paulo
Otávio de Azevedo foram presos
em flagrante. Um deles cursava Administração de Empresas na USC,
dois estudavam Engenharia Civil e
Biologia na UNESP e um era aluno
de mestrado na mesma universidade. “Os indivíduos foram presos em
flagrante como tentativa de furto e
conduzidos até o plantão. Quando
perguntamos o motivo do roubo,
disseram que iriam enfeitar a república”, relembra o comandante
William Vieira.
Os elementos, entre seus 20 e 25
anos, além de terem sido pegos no
pulo, ainda tiveram outras aquisições descobertas. Os policiais precisaram de um furgão para levar os
outros bens roubados encontrados
na república. Placas de trânsito,
cavaletes, cones, carrinhos de supermercado e por aí vai. Nada de
decapitação de estátuas, pelo menos. Como punição, os universitários
tiveram que descarregar o furgão e
devolver tudo aos seus devidos lugares. “A gente não imaginou que
isso fosse causar a repercussão que
causou. Foi uma coisa meio impulsiva”, comenta Marcelo Furini.
Os estudantes não possuíam antecedentes criminais e responderam ao
processo em liberdade. Apesar de
não terem sido presos e nem ameaçados por tochas e foices, a dor
de cabeça não foi pequena para
nenhum dos infratores. “Depois disso encontramos formas menos perigosas de decorar nossa república”,
brinca Paulo de Azevedo. Para os
jovens universitários, a popularidade não compensou o preço alto,
diferentemente do que acreditou
Bart. A partir do episódio, o sanduíche não voltou mais para seu lugar
original. Atualmente, ele dá boas
vindas, de braços abertos, aos que
chegam ao movimentado terminal
rodoviário de Bauru.
b b b b b b
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
5
Um Desenho dentro de Outro
Quem já assistiu algum
episódio de Simpsons já deve ter
visto “Comichão e Coçadinha”,
que é o desenho animado mais
popular entre as crianças da série. É uma sátira clara de “Tom e
Jerry”, só um “pouquinho” mais
violento (algo como um cortar a
cabeça fora do outro, ou se matarem a facadas ou a tiros). Mas
nosso foco não vai tanto para
o gato e o rato, mas sim para
Chester J. Lampwick, criador do
Comichão e do Coçadinha, que
é, nada mais nada menos, nascido em Springfield.
Deixando de lado a diferença de estilo dos desenhos,
podemos fazer uma relação com
um dos maiores desenhistas infantil que o Brasil tem: Maurício
de Sousa. E parte da biografia desse gênio das histórias em
quadrinhos foi vivida em Bauru,
aproximadamente do final da
década de 50 e início da década de 60. Seu casamento com
a primeira mulher foi realizado
aqui e sua filha que deu origem
à sua maior criação é uma bauruense, a dentucinha Mônica.
“Bauru foi minha primeira
tentativa de trabalhar fora de
São Paulo”, disse Maurício em
entrevista recente. Na época ele
já publicava tirinhas em jornais,
mas acabou voltando para a capital por sentir falta da cidade
grande. Além de sua filha Monica, Bauru também rendeu inspiração para mais alguns personagens dele: o Titi e o Franjinha,
que eram seus sobrinhos e moravam na cidade lanche.
No Portal da Turma da
Monica (www.turmadamonica.
com.br), o desenhista e escritor
publica crônicas sobre diversos
Da direita para a esquerda: Monica e Magali. Imagem retirada do Twitpic do
Maurício de Sousa.
assuntos, e alguns tratam de sua
passagem por Bauru. Em uma
delas ele ainda conta que teve
que convencer o Pelé a deixálo fazer histórias em quadrinhos
sobre seus tempos de menino, no
fim ele conseguiu fazer o “Pelézinho”. Ele ainda fala sobre as vezes em que encontrou o jogador
e eles recordaram os momentos
vividos em Bauru.
Musa do Cazuza
Episódios
citados
# O dia em que a violência
morreu - 18o episódio da
7a Temporada
# Cara, cadê meu rancho 18o episódio da 14a
Temporada
-
A garota de Bauru, não é
apenas um adjetivo para falar
apenas de garotas que nasceram ou moram na cidade. Desde
que um dos ícones do rock nacional passou pela cidade, essa
frase tornou-se também, nome
de uma música. Até hoje não se
sabe quem é a famosa garota
citada nas letras do poeta, contudo, poucas rádios tocavam a
canção.
A letra com palavras pejorativas, foi censurada pela grande maioria das rádios da cidade
-
-
e até hoje é um pouco rejeitada.
Na animação, houve o inverso. Uma letra depreciando
uma pessoa de Springfield virou
hit na cidade e dela, várias versões foram criadas. A pessoa citada é Ned Flanders, vizinho católico de Homer que nunca é bem
vindo com suas teorias e que dessa vez, tenta ajudá-lo a compor
uma música natalina. Homer ao
invés de criar a música para homenagear o nascimento de Jesus,
decide criar uma canção para
zombar da cara de Ned. Até o
-
-
próprio fica feliz com a popularidade que ganhou.
Programas como do já falecido Flávio Pedroso, da rádio
Auri-Verde, boicotava a canção
e afirmava que a música era
um acinte para a cidade tocar
algo assim, depreciativo. Quem
ajudou Cazuza a compor a música da garota que não era um
sanduíche, foi João Rebouças.
No entanto, ainda hoje continua
o grande mistério: Quem seria
a tal Garota de Bauru? Só ela
mesma poderia responder..
-
-
6
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
Bauru e Springfield
vão para o espaço
O astronauta Marcos Pontes. De acervo digital.
As coisas não iam nada bem
para Homer Simpson. Por toda a sua
carreira, ele havia esperado ganhar
o prêmio “Operário da Semana” –
que a propósito já honrara todos os
funcionários da Usina Nuclear de
Springfield – mas nem mesmo o artigo 26 do sindicato pôde garantir
que esse sonho se realizasse para o
pobre Simpson – Todo empregado
deve ganhar pelo menos uma vez o
prêmio “Operário da Semana”, não
importa se é um incompetente, obeso e fedorento. Por falta de quem
premiar, o Sr. Burns homenageia
com o título uma bela barra de carvão inanimada.
Em casa, nem a família de
Homer o respeitava mais. Um pouco
irritado por não ter conseguido ler
o que Bart escrevera em sua nuca
durante o jantar – “Coloque um cérebro aqui” – Homer resolve se entregar a sua fiel TV. Mas ultimamente os canais só passavam tediosos
lançamentos de foguetes. “Alô, é da
NASA?” – Homer não poderia aturar mais um desaforo – “Olha aqui,
eu estou farto desses seus lançamentos chatos!”. Mas, o que ele não
esperava era que a NASA estava à
procura de uma personalidade po-
pular que atraísse a audiência para
os lançamentos de foguetes.
A disputa para ser o primeiro astronauta de Springfield não
foi nada fácil. De lutas com lanças
a competições de traje de banho,
Homer acaba sendo selecionado
para ir em missão ao espaço. Mal
o Simpson tinha decolado – fazendo a audiência do lançamento ser
a maior dos dez últimos anos – e já
estava danificando os instrumentos
espaciais com batatas chips. E isso
era só o começo. Homer ainda consegue destruir um aquário de formigas em experimento e estragar
a maçaneta da saída principal da
nave. É quando, por acaso, Homer
consegue trancar a porta com uma
barra de carvão inanimado, salvando a vida de todos. Entretanto, no
fim da missão, todos os créditos do
grande feito vão para a bela barra
de carvão e Homer não recebe nenhum reconhecimento. A única coisa
que lhe restava naquele momento
era voltar para o aconchego de seu
lar – onde Bart escreveria Hero em
sua nuca na hora do jantar.
Agora, você deve estar se
perguntando o que essa história maluca tem a ver com Bauru, certo? Pois
bem, digamos que de Springfield
Bauru tem quase tudo – inclusive um
astronauta. Nossa sorte (e da NASA
também) é que de Homer, Marcos
Pontes não tem nada. O cara é ninguém mais ninguém menos que o
Tenente Coronel Aviador da Força
Aérea Brasileira (FAB), e seu grande feito – ser o primeiro astronauta do Brasil e de todo o Hemisfério
Sul – não é apenas uma conquista
pessoal, mas para todo o país e
também para sua terra natal: Bauru. Filho caçula de Virgílio e Zuleika
Pontes, Marcos foi apaixonado pelo
céu desde sua infância. “Ele vivia no
Aeroclube admirando a Esquadrilha
da Fumaça. Marcos também gostava muito de visitar a Academia das
Forças Aéreas, onde o tio dele era
sargento da equipe de manutenção
de aeronaves”, relembra Marivaldo
Campos Brito, amigo de infância de
Marcos.
Aos 14 anos, o bauruense começou a trabalhar como aprendiz
de eletricista para pagar seu curso
de Eletrônica no Colégio Liceu Noroeste. Por três anos, Marcos frequentou um curso técnico na Rede Ferroviária Federal durante a tarde e se
dedicou à Eletrônica no período da
noite. No fim de seus cursos, Marcos
Pontes passou no processo seletivo
da Academia das Forças Aéreas e
em 1984 recebeu o bacharelado
em Tecnologia Aeronáutica. No ano
seguinte, foi transferido para Natal
para fazer um curso de piloto de
caça. Em 1986, Marcos integrouse ao “Esquadrão Centauro”. Três
anos depois, retornou para o interior de São Paulo, onde se formaria em Engenharia Aeronáutica pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Em 1988, o Brasil entrou
para o Programa Estação Espacial
Internacional, abrindo uma seleção
de astronautas para representar
o país. Marcos Pontes foi escolhido
pela Agência Espacial Brasileira e
foi morar nos Estados Unidos, onde
faria sete anos de treinamento na
NASA.
Declarado como astronauta
oficial da NASA, Marcos decolou
com destino a Estação Espacial Internacional, no dia 29 de Março de
2006, a bordo da Soyuz TMA-8. O
astronauta brasileiro homenageou
Santos Dumont pelo centenário de
seu primeiro voo, levando com ele
para o espaço o chapéu e o relógio do inventor. Com duração de 10
dias, a missão alcançou o sucesso e
oito experimentos científicos criados
por universidades e centros de pesquisas brasileiros foram realizados.
Em seu retorno para a Terra, Marcos foi prestigiado com a Medalha
de Ouro Yuri Gagarin, pela Federação Aeronáutica Internacional e
com a Medalha Santos Dumont. No
dia 20 de Abril, O astronauta foi
condecorado pelo Presidente Luís
Inácio Lula da Silva recebendo a
Ordem Nacional do Mérito. No dia
seguinte, Marcos Pontes foi homenageado em Bauru por um público de
cinco mil pessoas e pela Esquadrilha
da Fumaça – o que, cá entre nós,
faria Homer Simpson ter uma crise
de ciúmes, já que Springfield não foi
nem um pouco receptiva com ele.
Atualmente, Marcos trabalha
para o Programa Espacial Brasileiro
e continua suas atividades no Centro
Espacial Johnson, em Houston, Texas.
“Marcos lutou muito pelos seus ideais
desde a infância e hoje é motivo de
orgulho nacional. Ele sem dúvidas é
um grande amigo, um grande pai,
marido, filho e um grande brasileiro”, diz Marivaldo quando perguntado sobre o significado de Marcos
como pessoa e como profissional.
o
d
a
t
i
io c
d
Episó
- 15o
a
t
u
a
ron
er Ast Temporada
m
o
H
#
da 5a
o
i
d
ó
s
i
ep
W W W W W W W W
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
7
Pelé, de Bauru a Springfield
“Os Simpsons” é uma série
que tem grandes participações de
artistas e pessoas famosas (como
em Bauru) e o nosso rei do futebol
não poderia faltar (como em Bauru, de novo). Apesar de não ter
muito do que se orgulhar de sua
aparição, já que ele é satirizado
no breve momento em que apare-
ce.
No episódio “Família Cartucho”
Pelé aparece antes de uma partida de futebol para fazer propaganda de um produto. Ele fala
durante alguns segundos e logo
depois um responsável pelo evento vai lá e entrega um saco de
dinheiro para ele, dando a entender que ele é um mercenário.
Mas enfim, tirando a piadinha, o fato importante é que
Pelé, considerado por muitos
como o melhor jogador de futebol
do mundo, esteve em Springfield,
uma cidadezinha pequena do interior. E o que muita gente não
sabe é que Pelé também deu uma
“passadinha” por Bauru. Quer dizer, essa “passadinha” significa
que ele morou durante 12 anos
nessa cidade (1944 a 1956) e
ainda jogou no Bauru Atlético Clube (BAC)
O historiador e jornalista
Luciano Dias Pires, editor do Bauru Ilustrado (publicação mensal
no Jornal da Cidade), é uma das
pessoas mais consultadas sobre
o jogador. Pires acompanhou a
“carreira” de Pelé na cidade lanche. Como ele mesmo diz “não é
uma redundância falar que Pelé
nasceu para o futebol em Bauru”.
Em uma recente coletiva de
imprensa em comemoração aos
seus 70 anos, Pelé falou de primeira sobre sua
vida em Bauru,
o que surpreendeu muita gente, já que está
# Família Cartucho - 5o episódio da
é uma parte da
9a Temporada
vida dele que não
Episódio citado
z
z
z
z
Carteirinha de Pelé na Liga Bauruense de Futebol, em 1956. Do livro:
Pelé - Minha vida em imagens
é muito comentada pelo jogador.
E ainda desmistificou o fato de
que muitos achavam que ele não
gostava da cidade.
“Em Bauru, tinha que vender jornal (na época, a molecada vendia os jornais de São Paulo
que chegavam a Bauru por trem)
e amendoim para comprar uma
camisa. Fazíamos jogos na esquina da rua 7 de setembro com a
Rubens Arruda. Os meninos que
moravam ali faziam os campinhos
e os campeonatos. E eu me lembro,
logo que cheguei em Bauru, que
meu pai falou: ‘Não tem nada de
começar a fazer esses joguinhos
não, você vai ter de ir para a escola senão não vai jogar. Fui para
o grupo escolar Ernesto Monte,
que foi o primeiro grupo que fui
estudar, no primeiro ano”, recordou Pelé na coletiva.
Outra curiosidade de sua
vida que também não é muito conhecida, é a origem do seu apelido “Pelé”, que só existe graças
à essa cidade de passagens. Em
Três Corações, cidade mineira em
z
z
que ele nasceu, tinha um jogador
que chamavam de Bilé. Como em
Bauru não conheciam Edson direito, então não pronunciavam o
apelido certo e ao invés de “Bilé”
falavam “Pelé”.
“Mas um garoto me chamou de Pelé e fui e briguei com
ele. Peguei três dias de suspensão, chamaram meu pai e foi uma
briga danada. Daí o grupo todo,
todos os meninos, começaram a
me chamar de Pelé, e aí não teve
jeito mais de tirar o apelido. Depois é que você vai começando
a imaginar que o que acontece,
às vezes, na vida da gente não
tem muita explicação. E assim vem
acontecendo na minha vida. Muitas vezes as pessoas não sabem e
nem a gente sabe por que você é
encaminhado para certas coisas”.
Realmente, tem pequenas
coisas que podem mudar completamente a vida de uma pessoa.
Se Edson Arantes do Nascimento
não tivesse vindo morar em Bauru, provavelmente ele não teria se
tornado o “Pelé” que nós conhecemos, pelo menos não com o mesmo
nome.
z
z z
8
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
O dia em que Bauru Tremeu!
No dia 13 de agosto de
1976, um trecho da avenida Nações Unidas explodiu de repente.
De acordo com o historiador Célio Losnack, o trecho afetado pela
explosão atingiu do que hoje é a
escola SENAC, até o Supermercado Paulistão.
Segundo a versão oficial, um caminhão de combustível teria tombado na avenida Duque de Caxias, próximo ao semáforo da
parte lateral da igreja Santa
Rita e o combustível do caminhão
teria esparramado para as galerias da cidade. No parque Vitória Régia, há a nascente de um
córrego que descia pela avenida.
Esse córrego foi canalizado e foi
para esses dutos soterrados que
o combustível acabou escoando
e resultou na formação de gases
que provocaram as explosões na
maior e principal avenida da cidade. Uma bituca de cigarro teria causado o estrago.Não há registros de vítimas, mas o estrago
foi grande.
Devido à força da explosão, tampas de concreto de bueiros, foram jogadas a metros de
distância do seu local de origem,
caindo e cravando em pé na terra. O canteiro central da avenida, em quase toda sua extensão,
ficou destruído.
O acidente na Nações Unidas levou, de imediato, a imaginar que se
tratava de
um tremor de
terra ou atentado. Isso porque naquele
dia Bauru, em
plena ditadura militar, recebia a visita
do então presidente Ernesto Geisel, que havia passado pela Rodrigues pouco antes, com destino
a Jaú.
Em Springfield, diversos
presidentes já deram a honra de
sua presença pela cidade mais
famosa dos desenhos animados.
Bill Clinton, Barack Obama, Jorge W. Bush, são as mais recentes
aparições, sem contar os inúmeros
outros presidentes mais marcantes
da história norte-americana que
foram citados. Vale lembrar, que
cada pessoa que se torna personagem nos Simpsons, é dublada
por ele mesmo, ou seja, os próprios presidentes dublaram a versão original. A diferença desses
presidentes que
passaram pela
cidade e de
Geisel
por
Bauru, é que
ninguém quis
explodir o caminho por onde
eles passaram.
Até porque J.
Kennedy
foi
assassinado
fora de Springfield.
Versão 1: Ele passou, sim!
O Ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, declarou em 19 de Setembro de
2010, na OAB: Che Guevara de fato
prestigiou esse solo no ano de 1966,
em plena Ditadura Militar.
Paulo Vanucchi conversou com
um ex-soldado de Che, após uma pa-
/
/
PRETEXTO PRA NASCER
A NOVA NAÇÕES
TEORIA DA
CONSPIRAÇÃO:
SEXTA-FEIRA 13
Esse suposto atentado teria sido armado na ocasião pelo
MR8, o Movimento Revolucionário
8 de Outubro, planejava explodir
a Avenida Nações Unidas quando
o comboio presidencial passasse.
Houve uma série de investigações
sobre o caso. Seria muita coincidência acontecer um acidente desse porte, justamente quando o presidente ditatorial está na cidade?
A Avenida Nações Unidas,
sempre foi feita aos pedaços. O
então prefeito da cidade, na época da explosão da avenida, Alcides
Fransiscato, conseguiu, com a ajuda
do Governo Federal, o investimento necessário para a reconstrução
e o prolongamento da avenida. O
fato do acidente ter sido causado
justamente quando o presidente da
república passava pela cidade e
as investigações feitas após aquele
13 de agosto, ajudaram na liberação dos recursos e a ampliação da
avenida.
Hoje a Avenida Nações Unidas começa atualmente na Avenida
Moussa Tobias e termina na Rodovia Bauru-Ipauçú, com um projeto a
ser executado para seu prolongamento: a Nações Unidas Norte, que
hoje começa na confluência com a
Av. Nuno de Assis, será construída
no fundo de vale entre o Jardim
Godoy e a Bela Vista, ligando a
região central à Rodovia BauruMarília (Distrito Industrial III).
farçado na figura do velho Ramón, se
despediu de sua esposa Aleida, dos filhos e amigos. Sentia uma tristeza. Che
pegou um avião de Havana para a
Europa, e somente depois de lá partiu
para a Bolivia entrando via Peru. Uma
base em Salta, estava sendo montada
para a guerrilha. Em novembro Che já
estava em terras bolivianas e no dia 2
de dezembro de 1966 Aleida recebe
uma das primeiras cartas de Che enviada pelo peruano Juan, que depois foi
se juntar a guerrilha em Ñacahuasú.
O Brasil como podemos ver
nunca foi rota nos planos de Che, a
Versão 2: Ele não passou, não!
idéia era justamente evitar rotas co
Em meados de outubro de 1966 nhecidas, sem contar que uma visita ao
Che estava em Cuba, já novamente dis- Brasil militar e se encontrar com Ma-
riguela seria chamar muita atenção e
correr riscos desnecessários. Há ainda
o tempo que se levaria um percurso de
trem naquela época até a Bolívia, não
havia trem bala, nem uma linha direta
sem paradas, é inconsistente até nesse
ponto de tempo.
Isso faz com que o sonho da
passagem pelo revolucionário pelo
Brasil e principalmente por terras bauruenses, vá por água abaixo. Até mesmo a afirmação do Ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos,
Paulo Vanucchi, em sua passagem por
Bauru em julho deste ano, fica sem argumentos perante os dados citados nos
dizeres da ex-mulher de Che.
Diários De La Controvérsia
Um dos pontos mais controversos das histórias de Bauru é se o guerrilheiro Che Guevara teria passado pela
cidade sanduíche ou não. Os que afirmam que ele deu um pulinho por aqui
afirmam com toda a certeza, e os que
dizem que ele nem chegou perto, também afirmam com toda a certeza.
Por mais que a Arena, base governista fosse maioria na cidade, os
grupos de esquerda faziam certo
barulho na região.
lestra a respeito da vida do revolucionário. Quando perguntado sobre
a trajetória secreta feita pelos dois, o
ex-ordenança – como se chamavam os
soldados cubanos – disse a Vanucchi
que se lembrava da passagem pela
cidade. De acordo com o ex-soldado,
Che pegou um trem em São Paulo, ao
chegar de sua missão na África, desembarcando em Bauru, de onde seguiria com rumo à Bolívia, onde tinha
o objetivo de estabelecer uma base
guerrilheira, através da qual planejava unificar a América Latina.
/
/
/
/
/
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
9
Eny
e a “Casa de Borlesco”
Não há como negar, que em
toda cidade do mundo, existe alguma “casa do prazer”, “prostíbulo”,
“Casa de Borlesco”. Claro que em
Bauru não seria diferente. Porém, o
que chama a atenção é que não é
apenas uma casa para tais feitos.
Bauru teve nada mais, nada menos
que o Grande Bordel brasileiro.
Eny. Imagem retirada do livro.
A dona do recinto, Eny Cesarino, era filha dos imigrantes José
Cesarino, italiano, e de Angelina
Bassoti Cesarino, francesa. Nasceu
em 1916 no bairro da Aclimação
em São Paulo, morou em Uruguaiana e, aos 23 anos, em 1940, trabalhou como inquilina de Nair, na
Pensão Imperial. Passou a gerente,
arrendou e finalmente comprou o
“ponto” e a casa da antiga zona de
meretrício, na rua Rio Branco 5-50,
esquina com a Costa Ribeiro, em
Bauru-SP, tendo logo se destacado
dos demais lugares do ramo, pela
sofisticação e luxo que seu bordel
oferecia.
A Springfield brasileira tinha, assim como a da animação,
uma casa muito luxuosa. Os serviços mais destacados eram a qualidade das mulheres, o sigilo e discrição garantidos pela proprietária.
Na verdade, sua marca registrada.
Vinham as lindas moças de toda a
parte, recrutadas até do Paraguai,
Argentina e Uruguai. Eny investia
nelas: adiantava-lhes dinheiro para
roupas finas, jóias caras e salões
de beleza. Tudo do bom e do melhor para a clientela constituída por
gente muito rica, famosa, políticos
e afins. Segundo se diz, passaram
pelos aposentos da Eny, dois terços
de todas as assembléias legislativas
do Estado de São Paulo nos últimos
anos, muitos governadores de Estado e prefeitos da região, boa parte
dos grandes plantadores de cana e
os filhos deles e pelo menos um Presidente da República. Na memória
de quem trabalhou lá, como garçons
e novas donas de bordéis locais, iniciadas por Eny, são citados nomes
de personalidades como Chico Anísio, Juca Chaves, Clodovil, Roberto
Carlos, Vinicius de Morais, Jô Soares, Laudo Natel, Paulo Maluf, José
Sarney, Orestes Quércia, para citar
os mais conhecidos.
O fato é que a Casa de Eny
era usada como “centro de convenções” do estado, muito antes de terem sido criados os primeiros deles.
Bauru já era o lugar escolhido para
fechamento de grandes acordos de
empresas e indústrias de porte. Ao
menos é o que noticiava a imprensa
local inúmeras vezes. As comemorações de grandes negócios na Casa
da Eny, tinham que ser fechadas com
chave de ouro. A Bardahl e a Dedini
promoviam no Bordel suas convenções de final-de-ano para diretores
e representantes, além das reuniões
para os delegados das convenções
políticas, no período da ditadura
militar.
O bordel de Springfield também tinha a visita de várias personagens da cidade. Desde o faxineiro da escola, o Diretor da escola,
a irmã da Marge, homens casados
e até o prefeito, que de forma alguma, queria impedir que manifestantes demolissem e acabassem
com a casa de burlesco da cidade.
Uma situação parecida aconteceu
no grande bordel brasileiro. Nicola
Avallone Junior, ex-prefeito de Bauru, conta que delegado de polícia,
querendo agradar o Jânio Quadros,
o grande derrotado nas eleições
pelo colégio eleitoral bauruense,
fechou a Casa da Eny. O fechamento durou três horas. Avallone reabriu
com a presença do Juiz Otávio Stuchi, uma personalidade fantástica.
Foi feito um comício em prol da Eny
e foi provado ao Juiz que a grande meretriz era um elemento agregador e não desagregador para a
cidade. Só faltou a música cantada
por Homer Simpson para o real ser
totalmente imitado pela comédia
norte-americana.
Eny Sarino, como também
era conhecida, foi muito mais que
uma meretriz. Ela teve tanta visão
que transformou-se na Dama da
Caridade. Queriam tirar a zona
da 5-50 da rua Rio Branco, porque
ficava a 50 metros do cinema, na
área central. A prefeitura ajudou a
transferência do bordel para a rodovia Bauru-Ipaussu. Quem decidiu
o local foi o próprio Nicola Avallone. Ela financiava escolas, creche,
entidades de freiras. Uma mulher
fantástica, de marcante presença
na vida fraterna de Bauru.
O maior e mais luxuoso bordel do Brasil e provavelmente da
América Latina, tinha 5.000 m² de
área construída, distribuídos em 12
conjuntos, 7.000 m² de jardins e
alamedas floridas, protegidas por
muros, com a maior piscina particular da cidade, sauna, restaurante e
lanchonete, além dos 40 quartos e
suítes, com cama redonda e poltronas Luís XV, e uma suíte presidencial,
com entrada privativa. A pista de
dança, ao ar livre, tinha formato de
violão, cujo “braço” era a entrada
para a churrascaria. Tal pista remetia à imagem do corpo das mulheres
que ali estavam: Corpo Violão, com
a cinturinha bem fina, com bustos e
coxas que levavam os homens de várias partes do país à loucura. Tudo
de uma beleza e requinte inconcebíveis para um bordel, em 1963 (anos
antes do La Licorne, um dos maiores
bordeis do Brasil, na rua Maria Antônia, na capital).
Por duas décadas (1963 – 1983), o
Casarão teve sua fase áurea situado junto ao trevo rodoviário que liga
as rodovias Mal. Rondon, Cte. João
Ribeiro de Barros e Eng. João Batista Cabral Rennó – hoje oficialmente
denominado Trevo da Eny. Quando
comprado por Nicola Avallone, o
local estava abandonado. Era um
posto de gasolina.
A Casa da Eny foi uma referência na cidade, quase tão famosa
quanto o lanche. Até poucos anos
atrás, no tempo dos viajantes, era
só falar de Bauru, que a sacanagem
era logo pensada. Esse pensamento
se deve justamente a ela. O interessante é que Eny traz para a memória dos cidadãos bauruenses que viveram aquela época, uma saudade
diferente. Podemos afirmar que Eny
nos faz ter a saudade do pecado.
o
d
a
t
i
io c
d
Episó
o
ite - 5
o
N
à
ha
a
Trabal a Temporad
t
r
a
B
#
8
io da 1
d
ó
s
i
p
e
O O O O O O O O
10
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
Tudo em nome
de um raio
O dia nasceu e em Springfield
e nem o girassol agüenta o calor.
Sabe aquela sensação de estar grudando de tão quente? A maioria dos
bauruenses sabe bem como é isso. Altas temperaturas durante o dia e até
a noite. Nos Simpsons, por conta da
onda de calor, a cidade inteira está
vivendo a base do ar-condicionado,
sobrecarregando o sistema elétrico.
Mesmo estando na capacidade máxima, o prefeito, Mrs. Burns, garante
que a usina nuclear consegue suportar a grande demanda. Sem ar condicionado em casa, Homer decide
ligar seu papai-noel que canta para
que eles tenham um gostinho do inverno. É só colocar o papai-noel na
tomada que pronto: Homer causa um
blecaute em toda a Springfield. É assim que começa “Tudo em Nome da
Lei” (Papa’s Got a Brand New Badge) episódio 17 da 13ª temporada.
Em 1999, Bauru ficou conhe-
cida por ter sido a última a usar a
tomada - e causar um dos maiores
blecautes da história do Brasil. Até
agora ninguém sabe exatamente o
que foi ligado – e quem foi o Hommer da vez – para deixar o país
inteiro às escuras. Apesar do forte
calor característico de Bauru e do
período de seca que o país inteiro se
encontrava, não foi o uso dos arescondicionados que causou o grande
apagão. E mesmo assim, na época,
colocaram a culpa no clima – mas
ao contrário, em uma tempestade de
raios.
O blecaute aconteceu no dia
11 de novembro, por volta das 22h;
31 milhões de pessoas ficaram sem
luz por até quatro horas; semáfaros
pararam de funcionar, trazendo caos
no trânsito das principais capitais;
trens e metrôs ficaram paralisados,
deixando presos seus passageiros,
emissoras de rádio e TV saíram do
ar.
Depois do apagão, o governo brasileiro começou a buscar respostas para o que tinha acontecido.
Foi aí que surgiu a versão onde o culpado era uma tempestade de raios,
Quando a
que atingiu uma subestação da Comluz acaba,
Moe, dono
bar, diz “E
u vou perd
do panhia Energética de São Paulo, em
er FOX Ce
Boxing!”, q
lebrity Bauru. Desculpa essa que se mostrou
ue é um pro
grama exib
no mesmo
id tão improvável como algumas históhorário do
s Simpsons. o
Brasil, a R
No rias de Springfield. “A chance de um
ede Globo
teve que e
dois episód
xibir raio provocar um apagão é de uma
ios seguido
s da série
quinha Gon
“Chi- em um milhão. Como não havia uma
zaga”, que
estava nos
pítulos fina
cais.
rede de monitoramento estabelecida
na época, demorou dois meses para
provar que a tempestade não ocorreu”. Explica Osmar Pinto Júnior, coordenador do Grupo de Eletricidade
Atmosférica do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe).
O Ministério das Minas e Energia acabou admitindo que havia redução dos níveis de segurança e dos
padrões de serviço de manutenção.
Bem à cara de Springfield, houve até
rumores que faltavam peças para reposição. A situação foi agravada por
um longo período de escassez de chuvas que derrubou o nível dos reservatórios dos quais depende a matriz
hidrelétrica do país.
Bauru ficou conhecida no país
inteiro como a cidade do raio, e muita gente ainda acredita que ele foi o
Homer da história– ou o culpado por
tudo que aconteceu onze anos atrás.
Mas a relação da cidade com a energia (ou a falta dela), assim como em
Springfield, não para por aí.
es
d
a
d
i
s
o
i
r
u
C
gunda vez, raios foram apontados
como os culpados. A cidade escolhida dessa vez como culpada foi a
pequena Itaberá, também no interior de São Paulo, mas nem por isso
Bauru ficou de fora dos noticiários.
Seis bebês estavam internados na UTI da Maternidade Santa
Isabel - única da cidade e referência na região- quando aconteceu o
blecaute, por volta das 22h. Sem
gerador, o prédio ficou às escuras
por cerca de 40 minutos e a equipe
médica teve que agir rapidamente
para salvar os bebês que precisavam de ajuda para respirar. Sem
saber quando a energia voltaria, e
nervoso com a situação que não parecia ter solução, Sérgio Henrique
Antônio, diretor clínico e técnico da
maternidade, conseguiu entrar em
contato com a rede afiliada à rede
Globo, a TV Tem, e pediu ajuda.
“Nunca passei por uma situação
Curiosida
des
Mais um Apagão,
Mais uma Manchete
De repente, tudo escuro. De
novo? Será que é só minha casa ou
a cidade inteira? Ao olhar para
as ruas, tudo apagado também.
Ligo para o prefeito, mas ele diz
saber apenas que a falta de luz
é em todo o país. Corta. Cena
1: País sem energia, hospital sem
energia. Aparelhos ligados à pacientes param de funcionar, médicos e enfermeiras não sabem o que
fazer enquanto parentes andam
pelos corredores tentando entender o que está acontecendo. Cena
2: Cadê o gerador? Dinheiro existiu, mas local para instalação está
às moscas. Cena 3: uma emissora
de tv é que empresta um pequeno
gerador para que ninguém tenha
que ser transferido para outro lugar. E pra completar: os pacientes
são bebês, já que o hospital é uma
maternidade.
Uma maternidade, sem gerador? Coisa de Springfiel, Os
Simpsons adoram exagerar em
tudo. Springfield, só se for a brasileira: todas as cenas acima aconteceram em 2009, em Bauru.
Dez anos depois de um dos
maiores blecautes da história do
Brasil, onde Bauru foi apontado
como ‘culpado’, a falta de luz voltou a assombrar as autoridades
No episódio O Conto
de duas
Springfields, da 12ª tempo
rada dos
Simpsons, Hommer deslig
a a energia elétrica de metade da
cidade. O
hospital, também sem ge
rador, fica
sem luz no meio de uma cir
urgia. Na
cena, há o diálogo:
Enfermeira: Oh, não! Você
não pode
fazer uma cirurgia de cora
ção no escuro
(Doutor) Hibbert: Soa co
mo um desafio para mim
Krusty (na mesa de cirurg
ia) : Eu gostaria de um pedaço disso
!
da cidade - e de todo o país. Cerca de 40% do território brasileiro
foi afetado no apagão do dia 10
de novembro de 2009, e pela se-
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
tão difícil”, disse na tarde de
ontem, ainda sem dormir. “Tive
que ter bastante lucidez para
não provocar pânico nas outras
pessoas”, disse, na épocam, em
entrevista ao Jornal BOM DIA.
Com ajuda dos técnicos
da emissora, um pequeno gerador foi emprestado para que
os aparelhos da UTI voltassem
a funcionar. Mesmo assim, quatro bebês - um de dois anos, um
de um ano e sete meses e dois
récem-nascidos - foram transferidos para o Hospital de Base,
próximo a região - e com gerador. Âmbulancias do Samu foram
usadas para levar os pacientes,
berços e camas. Apenas uma
criança de 20 dias ficou no local,
pois seu estado era grave.
Sem qualquer equipamente, enfermeiras pediam lanternas
para os jornalistas da emissora
que estavam no local, enquanto
médicos iluminavam os corredores do hospital com celulares.
E o gerador?
Segundo o diretor clínico,
Sérgio Henrique, o pedido da
compra de um gerador já havia sido feita dois anos antes do
apagão, mas a resposta obtida
pela Associação Hospitalar de
Bauru era que não havia local
adequado para a instalação do
aparelho.
Foi necessário a doação
de um gerador pelo empresário
Jad Zogheib, do Grupo Confiança para que a maternidade obtivesse o aparelho. O grupo se
comprometeu a instalar o equipamento, mesmo sendo preciso
uma reforma no prédio para
isso.
Investigações
O casal disse que o buraco
foi abrindo enquanto o carro passava por cima, a profundidade
chegou a passar de 1 metro. O
provável motivo da abertura teria
sido o rompimento da tubulação.
Mas a verdadeira “simpsada” foi
quando o DAE (Departamento de
Água e Esgoto) apareceu no local para verificar a situação, mas
o veículo do departamento também caiu no buraco. Um guincho
teve que tirar os dois automóveis
de lá.
Os bauruenses já estão
cansados de saber que o asfalto da cidade é um dos piores do
estado de São Paulo, mas não
é o único lugar do mundo com
esse problema. Sim, Springfield
também é uma “buracolândia”,
e a semelhança não poderia ser
mais surpreendente. No episódio
“Marge contra o monotrilho”, em
uma das cenas aparece a avenida principal completamente esburacada, e um dos carros cai
dentro de uma das crateras.
Acontece que o Simpsons
é um desenho satírico e para fazer humor exagera a maior par-
11
Pro
blema
Na época do apagão, a
de outr
o
maternidade já estava sob de- mundo?
núncias de desvio de verba. O
Ministério Público entrou com in- a cidade tem ‘difi Não é de hoje que
culdad
vestigação para apurar a falta à energia elétrica. Se es’ relacionadas
gundo
Bra
de gerador, o que resultou em d sileira de Estudos de Sociedade
ores,
Discos
cerca de seis pessoas presas e funcio em 1968, o recém-co Voantratad
nário
uma nova diretoria para a As- Estado de da Companhia Elétrica o
do
São
sociação Hospitalar de Bauru. veira, encontr Paulo, Daildo de Oliou em
Mais de um ano depois, ape- sub-estação de Bau seu escritório, na
ru, trê
sar das prisões, ainda não há nhos, que seriam extra s seres estraterrest
ETs a
uma denuncia formalizada no pa tacaram o funcionário res. Os
lavras
e diziam
Ministério Público. Estima-se ram em desconhecidas; depois,
fugiuma a
que foi desviado 16 milhões relato, pare eronave, que segundo o
ça um
de reais, e que, atualmente, voava. Autorida furgão – mas que
des m
a dívida da AHB supera os naram o local, e enco ilitares examintraram ap
marcas estra
enas
nhas de mã
150 milhões. Além da materos em um d
arquivos do
os
local. Daild
nidade, o Hospital de Base, ra fo
o de Olive
i entrevista
ido pela Ae
um dos principais de Bauru, pelo Rep
ro
n
á
u
ti
ca,
órter ES
também está envolvido nos de São Paulo SO da TV Canal 4,
, e por vá
rios jornais
escândalos de desvio de do país.
verbas.
Bauraco
Imagine você passeando
com seu carro, num dia ensolarado, os passarinhos cantando,
sua esposa grávida do seu lado
cantando Lady Gaga. Quando
de repente, “ploft”, seu veículo cai dentro de uma cratera no
meio da rua. Sim isso aconteceu
de verdade em Bauru (tirando a
parte da Lady Gaga).
Carro caído em cratera de Bauru
V
V
Veículo caindo em cratera de
Springfield
V
V
V
te das situações. Ou seja, o que
os roteiristas usaram como uma
circunstância absurda e extrema, ocorreu de verdade em Bauru. Ponto para a Cidade Lanche.
Até o grupo A-Ha ficou admirado com nossos buracos, e tiraram
uma foto ao lado de um deles
como recordação em sua visita à
cidade.
Episódios citados
(PAGS. 10 E 11)
# Tudo em Nome da Lei”
- 17o
episódio da 13a Temporad
a.
# Um conto de Duas Sprin
gfields 2o episódio da 12a Temp
orada.
# Marge Contra o Mono
trilho 12o episódio da 4a Temp
orada
V
V
12
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
Prefeito de um,
focinho de outro
A cidade de Springfield tem
entre seus vários personagens politicamente incorretos um que os representa da forma mais literal possível:
um político completamente incorreto.
O prefeito Joe Quimby é Democrata
e conhecido por ser corrupto e populista. Existem muitos episódios em
que ele aparece, e sempre fazendo
algo ilegal, como se apropriar dos
impostos ou aceitar propina. Em um
deles ele chega até a admitir que
usa o dinheiro da cidade para pagar os assassinos de seus inimigos. Mas o episódio em que mais
mostra as ações ilegais do prefeito
é “Homer, o guarda-costas”. Nele,
Homer se torna segurança de Quimby, e por isso presencia vários atos
de corrupção. Em uma cena eles vão
para o bar do Moe, que os atende
super bem, e serve diversas bebidas de graça para eles, quando o
prefeito diz: “Sua generosidade é
enormemente apreciada em especial durante a época de inspeção
sanitária”. Moe entende a indireta
e paga propina para que ele não
faça a inspeção. Ironicamente, neste
momento, aparece um monte de baratas em cima do balcão.
Mas o desfecho da história
acontece quando o prefeito está
negociando com Tony Gordo (o ‘poderoso chefão’ da cidade), e na
fala mostra que ele concedeu o direito de fornecer leite para a escola
de Springfield aos mafiosos. Homer
acaba descobrindo que o leite é de
rata, fica em choque e sai gritando isso por onde passa. O prefeito
diz: “Ratas? Mas que trapaça! Você
prometeu que seria de cachorro”. E o que isso tem a ver com
Bauru? Tudo! A cidade também teve
um prefeito com muitas provas de
corrupção, e que chegou até a ser
preso por isso. Izzo Filho cumpriu 5
anos de prisão (de 1999 a 2004)
pela acusação de ter desviado verba federal na aplicação de recursos
em infra-estrutura dos lotes urbanizados e aceitar propina da empresa de transporte público municipal.
Em novembro de 2005 a Justiça determinou a volta dele à prisão após a condenação pelos atentados a bomba contra vereadores.
Curiosidade
s
Após a cena o b
alcão, Homer es
tá em casa cont
do bar eles pass
ando para famíli
aram na lancho
a que depois
nete do Krusty
uns trocados”, el
e o prefeito sa
e ainda diz que
iu com “mais
pediu um sanduí
quádruplo. Ele
che duplo, e eles
termina falando
deram um
que o Apu, dono
uns trocados pro
da mercearia, ta
prefeito.
m
bém deu
Bart: “Pai, você
não entende o q
ue está acontec
Lisa: “Esses troca
endo?”
dos são propina
s!”
Homer: “oh, que
rida, não seja tã
o ingênua! É ass
claro que o pre
im que o mundo
feito aceita alg
funciona! É
umas propinas,
no horário’, ora
m
a
s ele ‘faz os tren
bolas.”
s andarem
Lisa: “Não senh
or, está engana
do! Os trens sã
mento federal d
o fiscalizados p
e transportes, e
elo departaestudos recentes
Homer usa sua
mostram que...”
técnica que apre
ndeu na escola
ralisar Lisa.
de guarda-cost
as para pa-
$
$
$
Por esse crime, Izzo recebeu pena
de 8 anos e 10 meses. Desde 2009
que ele está solto em condicional. Tudo começou logo em que
Izzo foi eleito, em 1997, e prometeu um aumento de salário de até
46% para 75% dos servidores públicos. Essa notícia saiu em vários
jornais, foi muito discutida e causou
muita euforia para esses trabalhadores. Porém o que se concretizou
foi o oposto. Por assumir o cargo
após um governo bastante endividado, ele usou isso como desculpa
para atrasar o pagamento do salário dos servidores. Como sua popularidade era grande na época,
a população ainda aceitou bem no
começo. O problema é que a cada
mês que se passava, a prefeitura
atrasava ainda mais para fazer
o pagamento. Até que chegou a
um ponto em que esses servidores
não receberam o seu salário. O que o governo alegava é que
não tinha dinheiro para fazer os
pagamentos, mas para outras dívidas, que deveriam ser secundárias
ele tinha. Como no caso da Coesa
Empreiteira, que foi o que levou à
sua primeira cassação. Essa empresa surgiu “do nada” cobrando uma
dívida milionária que, segundo ela,
a prefeitura devia desde o primeiro
mandato de Izzo, que foi de 1989
a 1992. Isso fez com que algumas pessoas começassem a se perguntar o porquê dessa empreiteira
aparecer cobrando essa dívida depois de tantos anos e exatamente
no governo do mesmo prefeito. E
uma dessas pessoas foi Sandro Fernandes, que na época tinha acabado de ser eleito diretor do Sinserm
(Sindicado dos Servidores Públicos
Municipais de Bauru). Sandro,
que é advogado, foi até o Fórum
Municipal para tentar descobrir o
que estava acontecendo na realidade. E qual não foi sua surpresa
ao desarquivar o acordo feito entre
o prefeito Izzo Filho e a empreiteira
$
Coesa. O prefeito havia feito uma
alegação oficial dizendo que devia
R$1,8 milhões para a Coesa, mas a
empresa não aceitou, alegando na
verdade que eram R$4,5 milhões. E
nesse acordo constava que os dois
chegaram ao valor intermediário de
R$2,5 milhões que deveria ser pago
em 4 parcelas. Toda essa história já era suspeita, primeiro pela
demora da cobrança, segundo pela
prefeitura aceitar pagar mais do
que ela achava que devia, e terceiro, o mais estranho de tudo, é que
as 4 parcelas eram no mesmo mês.
Esse ocorrido foi o que levou ao seu
primeiro pedido de cassação. Mas
ele ainda se livrou dessa. Po r é m ,
logo depois Izzo sofreu a acusação
de participar de um esquema de cobrança de propina da empresa que
cuidava do transporte coletivo na
época. O Ministério Público apontou que as empresárias Carmem
Quággio Bresolim e Nerle Quággio
Bresolim eram obrigadas a pagar
propina mensal, sob a ameaça de
não serem liberados os valores obtidos com a venda de passes. Eram
ameaçadas ainda com a perda da
permissão para o transporte coletivo. De acordo com o MP, o esquema
teria obtido indevidamente cerca
de R$ 2,3 milhões. A empresa de
transporte coletivo acabou falindo. O segundo mandado de prisão foi
feito também por Sandro Fernandes, do Sinserm, que acabou fortalecendo o sindicato dos servidores
e praticamente dobrou o número de
filiados após essas ações. Tudo isso
significa que além de tudo Bauru
está a frente de Springfield, porque
conseguiu uma peculiaridade: punir
os atos ilegais de um político.
Episódio citado
# Homer, o guarda-costa
- 9o
episódio da 10a Temporad
a
$
$
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
13
Crônica: Uma Noite em Bauru
A madrugada estava muito
quente em Bauru, especialmente na
famosa Casa da Eny. O homenageado da noite era o recém-chegado do
espaço, Marcos Pontes. Com seus cabelos grisalhos e seu sorriso carismático, Pontes estava sentado em um longo
e luxuosos estofado, sob a luz avermelhada das luminárias de parede.
Aquela era uma noite especial, muitos
convidados ainda estavam por chegar. As luzes coloridas que piscavam
sem parar faziam os movimentos das
dançarinas parecerem quase surreais.
Longos balcões de bebidas serpeavam as extremidades do salão, onde
uma variedade incrível de bebidas
era servida. Lindas mulheres desfilavam por todos os lados. Suas curvas
sob as roupas elegantes hipnotizavam
e suas joias brilhavam altivas.
Marcos deixou a companhia
de seus amigos e fãs e resolveu sair,
pela primeira vez na noite, daquele
sofá. Já estava particularmente cansado das fotos e autógrafos. Precisava encontrar seus convidados mais
importantes. Como eles podiam ter se
atrasado tanto? O motivo começava a
preocupá-lo. Ele se infiltrou na massa
de gente, se sentindo contagiado pelo
ritmo da música. Quando chegou à outra extremidade do salão, sentou em
um dos banquinhos estofados e pediu
uma bebida.
– Lugar improvável, Puentes –
uma voz carregada pelo sotaque espanhol o fez olhar para o ocupante do
banco ao lado.
Um homem de traços marcantes,
barba por fazer e cabelos crescidos o
observava. Sua expressão parecia ser
natural e permanentemente intrigada.
Marcos via nele uma semelhança que
sua memória não conseguia recuperar. O estranho ergueu as sobrancelhas, tomou sua dose em um único gole
e depois sorriu, voltando a observar
Marcos.
– Bela noite – comentou – Pena
que estou apenas de passagem.
– Para onde está indo? – perguntou Marcos.
Uma ânimo um tanto quanto
maroto tomou seu rosto. Ele limpou o
suor da testa e se levantou.
– Sólo Dios sabe, mi amigo –
disse erguendo as palmas das mãos –
Algum lugar não tão longe quanto o
espaço.
Antes que Marcos pudesse dizer algo,
o homem deu uma piscadela e virou
as costas, desaparecendo em meio à
massa de pessoas. O astronauta riu e
um insight inundou sua mente. A semelhança era realmente incrível. O homem que deixara o balcão há pouco poderia ser irmão ou filho de Che
Guevara.
– ELES FORAM POR ALÍ! – o grito fez Marcos sair sobressaltado de
sua reflexão.
Policiais invadiam o salão e se
infiltravam entre os convidados. As
pessoas continuavam dançando e rindo, embaladas pela bebida. Mas que
diabos estaria acontecendo?
– O que está havendo, você
sabe? – perguntou Marcos confuso,
para a bela moça que estava atrás
do balcão.
– A Eny autorizou a entrada dos
policiais. Parece que uns trombadinhas
invadiram a festa... Ouvi algo sobre
eles terem roubado um tal de Bauruzinho. Você sabe o que é isso? – ela
parecia mais confusa do que o próprio
Marcos.
Com uma pontada de preocupação,
ele deixou o balcão. Seu celular tocou.
– Oi, Marcos? Aqui é o Maurício.
– O que aconteceu, vocês se
perderam no caminho? – perguntou
Marcos rindo.
– Cara, você não vai acreditar.
Um caminhão de combustível tombou
e a Nações Unidas explodiu. O corpo
de bombeiros está cercando toda a
região.
– A Nações explodida? Cara,
isso é inacreditável... Mas não tem
como você chegar aqui? Todos estão
esperando, eu disse que Maurício de
Sousa estaria aqui.
– Na verdade, já estou no caminho para casa. O Pelé também não
vai consegui chegar. Parece que o carro dele caiu em um buraco causado
pela tempestade de ontem... Acredite
se quiser amigo...
– Como assim? O carro foi engolido por um... buraco? Mas ele se
feriu? Como está? – agora o pânico
realmente começava a tomar conta
dele.
– Não, não... Está tudo bem. Ele
deve estar no num helicóptero para
São Paulo agora.
– Tudo bem. Me ligue se souber
de algo... A gente se vê em outra ocasião então.
– Ok. Desculpe Marcos, eu realmente sinto muito. Até mais.
Ótimo. Lá estavam seus dois
principais convidados, apanhados pelos excêntricos acasos de Bauru. Em
pensar que seria tão interessante reunir naquela noite seus dois amigos que
como ele, haviam começado suas carreiras naquela singular cidade...
Marcos olhou para o outro lado
do salão e viu que os policiais haviam
apreendido os quatro jovens que procuravam. A festa corria ainda mais
animada, como se a normalidade nunca tivesse sido sequer ameaçada. No
momento em que Marcos pensou em
sair para ir embora – Com medo de
que mais alguma coisa desse errado
naquela noite – o palco acendeu e a
música cessou. Todos se viraram curiosos. Eny apareceu com um microfone,
extremamente bela e elegante.
– Nessa noite, estamos reunidos
por um motivo especial – começou com
um sorriso cordial – É uma honra ter
como convidado o primeiro astronauta
desse país, Marcos Pontes.
No momento seguinte, todos se
viraram para a direção onde Marcos
estava, ainda fazendo menção de sair.
Os policiais do outro lado também pareciam interessados nele. Marcos sorriu e acenou quando um foco de luz
atingiu seu rosto.
– E para demonstrar o tamanho
de nossa honra, preparamos algo para
você, Marcos – disse Eny olhando para
o fundo do palco, onde, no segundo
seguinte, letras enormes se acenderam
em letras de néon, formando a frase
“Bauru tem orgulho de seu filho Marcos Pontes”.
Nesse instante, as luzes de todo
o salão piscaram e apagaram, fazendo tudo mergulhar na escuridão. Um
falatório se seguiu e Marcos ouviu os
policiais gritarem que os jovens apreendidos haviam fugido. Um apagão.
Era tudo o que faltava para completar a noite. Marcos riu interiormente.
Bauru continuava a mesma.
14
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
“Bom, esse quadro realmente mostra
aquilo que parece ser.”*
s
e
d
sida
o
i
r
u
ais C
ngfield
i
r
p
S
s à La velou
o
t
n
e
ntecim e Bauru re
o
c
a
s
qu
ao
Confir s marcantes os anos
im
mai
nos últ
+M
2
Bauru agrega o maior campus da Universidade
Estadual Paulista , com 19 cursos e mais de 6
mil estudantes. Diferente o que aconteceu com
os outros campus, a Unesp em Bauru foi criada
a partir da estatização de uma instituição de
ensino privado, a Universidade de Bauru. O que
talvez “explique” a falta de um Restaurante Universitário e Moradia para os alunos – obras que
são prometidas e reivindicadas há décadas.
4
Construído em 1978, um dos “pontos turísticos”
de Bauru pode ser encontrado em frente à outra grande universidade da cidade: uma réplica da Torre Eiffel, do Instituto Toledo de Ensino,
a ITE. Segundo os fundadores da universidade,
a réplica representa os valores da Revolução
Francesa, liberdade, igualdade e fraternidade.
*Sábia frase proferida por Hommer J. Simpsons.
1
Já imaginou Bauru como a capital do Estado de São
Paulo? Pois é, alguns políticos já. Paulo Maluf, nos
anos 80, sugeriu a mudança da Capital para a região central do Estado, mais para Oeste, para contrabalancear e homogeneizar a população, criando
assim um novo pólo de desenvolvimento na região.
Foi então que surgiu os boatos que Bauru seria a cidade perfeita para abrigar a capital, por estar no
centro do Estado, e ter vis de aceso rápidas a outras
cidades importantes, como Riberão Preto, Presidente
Prudente, Campinas e mesmo São Paulo. O assunto
voltou em 2008, com o Deputado Gilson De Souza,
mas não foi pra frente. Outras cidades cotadas como
possíveis capitais foram Pirassununga e Santos.
3
Dança do Quadrado: Criada no primeiro InterUnesp (jogos universitários que reúnem todos
os campus da universidade durante quatro dias)
por alunos de Bauru, virou tradição nos jogos, e
a idéia acabou se tornando sucesso no país inteiro quando foi gravada pela cantora Sharon,
no carnaval de 2008.
Francisco de Assis Pereira, o Maníaco
do Parque, passou por Bauru em 1995,
como professor de patinação. Segundo
a Revista Época divulgou (edição 13, de
17/08/1998), Francisco recebeu uma queixa na delegacia da cidade após tomar os
patins de Jonas Moreira para entregá-los
a um de seus alunos, que havia tido o apetrecho roubado.
5
Bauru: A Springfield Brasileira
Dezembro/2010
Além de Pelé, Mônica e Marcos Pontes, Bauru foi berço de outras personalidades conhecidas em todo o Brasil. Não sabe
quem? Dá uma olhada:
• Palmirinha Onofre – sim, a querida vovó da televisão brasileira nasceu em 1931, e ficou em Bauru até os anos 40,
quando mudou para São Paulo.
• Edson Celulari também nasceu aqui, em 1958, e se mudou aos 16 anos, para estudar na USP, aos dezesseis anos.
• O jornalista Luiz Carlos Azanha, atualmente na Rede Record. Foi o primeiro repórter estrangeiro a fazer uma entrevista
improvisada com um líder soviético, ao conversar com Mikhail Gorbatchev, no Kremlin, em 1988.
• Toninho Guerreiro. Jogador de futebol começou sua carreira no Noroeste, e fez história no São Paulo e Santos. Centroavante foi um dos parceiros de mais sucesso do Pelé.
• Ozires Silva , oficial da Aeronáutica e engenheiro formado pela ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica). Ajudou na
criação do grupo Embraer, foi presidente da Petrobrás até 1989 e da Varig, por três anos.
• Antônio Carlos Barbosa, dirigiu a seleção brasileira feminina de basquete por oito anos, conquistando o bronze nas
Olimpíadas de 2000.
• Luiz Edmundo Carrijo Coube. Foi prefeito de Bauru, e filho do fundador da Tilibra – que está na cidade até hoje.
7
No aeroclube de Bauru encontra-se o maior centro de vôo a vela do Brasil, com o maior número e
variedade de planadores do país. Nesse esporte,
Bauru ocupa atualmente a liderança do ranking
nacional. O atual campeão nacional da modalidade é o bauruense Henrique Navarro.
8
Bauru é sede nacional
e sul-americana do
Templo Tenrikyo, religião de origem japonesa.
Lembra da propaganda em
que um homem tentava comprar passagens para um vôo
em Bauru, mas o sistema não
identificava a cidade? Na época, o aeroporto de Bauru era
o único que não tinha nenhuma
companhia aérea funcionando. Atualmente, a cidade conta
com três linhas.
10
9
A cidade quase foi responsável
pelo fim da banda de rap Racionais MCs. Em 2005, um jovem
foi assassinado em um show da
banda em Bauru; após uma cena
aterrorizante, o vocalista Mano
Brown decidiu acabar com o conjunto – e depois, em conversa com
o restante do grupo, voltou atrás.
A banda A-HA também anunciou a última turnê
de sua carreira, e o primeiro show no Brasil foi
em Bauru, no Shopping Alameda Quality Center.
11
6
15
Dezembro/2010
Bauru: A Springfield Brasileira
16
Download

Bauru, a Springfield Brasileira Tamanho:5.73 MB