INTRODUÇÃO
O Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais da
Universidade de São Paulo (HPRLLP-USP), localizado em Bauru/SP, é um centro
especializado na reabilitação de portadores de lesões lábio-palatais, deficiências
auditivas, dismorfias crânio-faciais, malformações de extremidades, deficiências
múltiplas, visuais e da linguagem.
O tratamento inclui todas as etapas terapêuticas necessárias para a
reabilitação e integração social através de uma atuação multidisciplinar.
As assistentes sociais do HPRLLP, desde a sua implantação, vêm
criando estratégias de ação, em resposta às dificuldades que impeçam o acesso e a
continuidade do tratamento dos pacientes no Hospital.
Este trabalho propõe um estudo sobre a importância dessa práxis
cotidiana do Assistente Social, frente ao atendimento dos portadores de lesões
lábio-palatais,
residentes
em
Bauru.
Objetiva,
também,
a
ampliação
dos
conhecimentos técnico-científicos do Serviço Social sobre a ação profissional no
campo da saúde.
A busca desse caminho nos levou a optar pelo estudo de caso,
operacionalizado através do uso de técnicas qualitativas de pesquisa, com a
convicção de ser este o melhor procedimento para abordarmos a temática em
estudo. Esta metodologia busca retratar a realidade de forma completa e profunda,
pois revela a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação,
focalizando-a como um todo.
Nesse sentido, o presente estudo não foi realizado com grande número
de sujeitos (5 casos), uma vez que a intenção foi de nos aproximar de significados,
de vivências, estabelecendo um diálogo com nossos entrevistados, aprofundando o
quanto possível o conhecimento em relação a esses.
Com este objetivo é que, no primeiro capítulo, tratamos de questões
relacionadas à práxis no serviço social, o serviço social na saúde, as relações
sociais e a realidade social. Ainda neste capítulo citamos o serviço social e o
cotidiano, como fonte permanente de estudo para todos que desejam compreendê-la
e retirá-la da obscuridade.
No terceiro capítulo, discorremos sobre o que é a fissura lábio-palatal.
A partir do quarto capítulo, contextualizamos o HPRLLP e também a
cidade de Bauru/SP.
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1
Posteriormente, descrevemos a ação do serviço social no HPRLLP e
no Projeto Bauru. Continuando fazemos uma reflexão sobre a metodologia e os
instrumentos utilizados para a coleta dos dados.
No sexto capítulo, iniciamos a exposição do material colhido; - os
depoimentos e a composição do perfil de nossos pesquisados.
Afinal, é a perspectiva, é a forma como olhamos, como percebemos
alguma coisa, que nos permite encontrar novas possibilidades do agir profissional,
criativo e competente.
CAPÍTULO I – A AÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL
1.1
– A Práxis no Serviço Social
O
serviço
social
tem
sua
ação
voltada
primordialmente
às
necessidades humanas de uma dada classe social, ou seja, àquela formada por
grupos subalternos, pauperizados ou excluídos dos bens, serviços e riquezas da
sociedade.
A prática social tem sua origem na busca natural de existência e
subsistência em sociedade, realizada por indivíduos e grupos sociais com vistas à
satisfação mais plena de suas necessidades e motivações (CARVALHO, PAULO
NETTO, 1994).
A reflexão sobre a prática profissional do Serviço Social desenvolvida
no Projeto Bauru, no HPRLLP, é
tarefa difícil não só porque se trabalha
principalmente na mediação dominados/dominantes, mas também porque a
realidade vivida hoje é complexa, assim como é difícil a escolha dos processos e
das estratégias de ação.
A questão da confiança social tem importância significativa na práxis
social.
Percebe-se que para o resgate do trabalho competente junto aos
usuários é fundamental a articulação suficientemente capaz entre estes de forma a
introduzir uma rede de relações, capaz de introduzir e solidificar um processo de
identificação e confiança entre os mesmos. É a busca da relação dialética entre o
singular e o coletivo, entre o micro e o macrossocial.
A práxis social supõe um processo de reflexão/ação, uma atividade
humana que se despojou da consciência comum, da prática utilitária, espontaneísta,
e galgou um nível superior de consciência, que se expressa em ação criadora,
transformadora, realizante (produtiva) e gratificante (expõe o sujeito como ser total
no mundo e com o mundo) (VÁSQUEZ, 1986, p. 19).
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Ao mesmo tempo que a prática profissional do serviço social possibilita
a solução de problemas da população usuária, que é essencialmente existencial,
para eles o elemento motivador é a forma educativa como se enfrenta esses
problemas.
O serviço social em sua ação promove a organização popular e através
dessa organização geram-se os movimentos populares que são o motor principal de
transformação.
Esse trabalho ativo de ação/reflexão – a ação somente ocorre com o
envolvimento da população no sentido de desencadear a participação, estimulada
pela ação profissional, onde a combinação dos serviços se realiza também com a
própria organização da população.
“Exatamente por considerar que há um conteúdo político inerente à
prática profissional, na medida em que influi e orienta a consciência popular, é que
não se pode desvincular o papel educativo do Serviço Social da prestação do
serviço material que mediatiza a sua relação com os setores populares (...) Desta
forma, juntamente com as ações que desencadeia, o Assistente Social veicula
noções que se introjetam na consciência e no comportamento da população”
(RAICHELIS, 1988, p. 155).
As atividades do Serviço Social na área da saúde são variadas, indo
além da prestação de serviços diretos às pessoas, onde evidencia o relacionamento
do Assistente Social com as pessoas e com a comunidade envolvida.
Segundo
LOPES
(1991),
esse
conjunto
de
ações
pode
ser
resumidamente identificado como:
•
“colaboração no planejamento, na organização e administração de programas de
saúde como forma de fornecer elementos para uma primeira interpretação das
exigências sociais, considerada no seu envolvimento com pessoas;
•
colaboração no planejamento, na organização e administração dos programas de
saúde pública e atuação como membro da equipe interdisciplinar em relação ao
contexto psicossocial;
•
colaboração na área de ensino em relação à formação do Assistente Social e
demais profissionais que permite apreender a dimensão social e o significado da
relação profissional-usuário, num programa de saúde;
•
realização de pesquisas e colaboração em pesquisas como membro da equipe
de saúde.”
O serviço social desenvolve atividades numa dimensão psicossocial
sobre os diversos aspectos sociais relacionados com a doença e com o próprio
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paciente, de forma que os sujeitos envolvidos participem ativamente de um processo
contínuo de ação e reflexão.
Esse processo permite que o usuário compreenda concretamente a
situação em que se encontra e participe nas formas de ação para que se
concretizem seus reais i nteresses.
A atuação do serviço social visa também à prestação de serviços
diretos às pessoas, individualmente ou em grupo, que se envolvam em um processo
integral de ação e reflexão de sua atuação como um todo, possibilitando, assim, um
aprendizado para o desenvolvimento da mesma, eminentemente ativo e educativo.
Ressalta -se que a atuação do serviço social na área da saúde não está
circunscrita apenas à prestação de serviço direto às pessoas.
O serviço social atua também em outros programas mais amplos, seja
em nível de organização e administração dos programas de saúde pública, seja em
nível de conhecimento da “política de saúde”, procurando interpretar como a ação
institucional se processa junto às pessoas diretamente envolvidas.
1.2 - As relações sociais, serviço social e realidade social
Viver em sociedade constitui necessidade primária para todo ser
humano, pois há necessidade de se manter relações sociais uns com os outros, pois
sem estabelecer contatos permanentes, ligações, vínculos, laços, dificilmente se
consegue sobreviver, principalmente porque a produção das nossas condições de
existência, a transformação da natureza para a satisfação das nossas necessidades
são sempre uma obra coletiva.
Nessa
perspectiva,
todos
nós
somos
simultaneamente
agente
individual e expressão ativa de vários agentes coletivos (coletividade).
A reprodução das relações sociais atingem a totalidade da vida
cotidiana, expressando-se tanto no trabalho, na família, no lazer, na escola, no
poder e também na profissão.
A situação angustiante da maioria da população brasileira é de
miserabilidade, pobreza e exclusão, fato que contribui para o não acesso aos bens,
serviços e riquezas, ressaltando-se as desigualdades sociais.
A prática da assistência social, matéria-prima do serviço social em sua
atividade cotidiana, visa o enfrentamento da pobreza e a garantia dos mínimos
sociais, ao provimento de condições para atender às contingências sociais e
universalização dos direitos sociais (Lei Orgânica da Assistência Social, art. 2.º,
parágrafo único).
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Incluir os absolutamente excluídos do processo produtivo ou até
mesmo garantir aos que estão inseridos no processo produtivo, mas não conseguem
a garantia, via salário, dos mínimos sociais a que têm direito, é tarefa difícil. Porém
não impossível, necessitando uma ação efetiva, envolvida e comprometida com o
real concreto e com a população oprimida.
1.3 – A Questão da cotidianeidade
1.3.1 – A vida cotidiana
Segundo HELLER (1992), o cotidiano é a vida de todos os dias e todos
os homens, em qualquer época da história que se possa analisar.
A vida cotidiana, portanto, insere-se na história, modifica-se e modifica
as relações sociais. Mas a direção destas modificações depende estritamente da
consciência que os homens portam de sua essência e dos valores presentes ou não
do seu desenvolvimento.
1.3.3 – O cotidiano e o serviço social
O serviço social destaca-se como interventor sobre os diversos
segmentos de uma sociedade no seu cotidiano, onde as necessidades emergem,
levando o homem a exigir, quase de imediato, a satisfação dessas necessidades.
O assistente social como mediador do cotidiano dos grupos sociais
oprimidos, tentando – através da provisão ou negociação da provisão das
necessidades básicas – introduzir o conforto, o progresso, que levem à
transformação, no entanto, seria a supressão da opressão e desigualdade, visando
restaurar a solidariedade, a complementariedade, o senso comunitário, o coletivo.
CAPÍTULO II - PRECONCEITO
2.1 – Conceito
Falar sobre preconceito não é uma das tarefas mais fáceis, mas como se
pode abordar um assunto como a fissura, sem falar de preconceito, preconceito
sofrido pelos portadores de fissuras e preconceito auto-imputado (talvez o pior
deles). HELLER (1992, p. 43) diz que “quem não se liberta de seus preconceitos
artísticos, científicos e políticos acaba fracassando, inclusive pessoalmente”.
Segundo COLOVAN (1997), “Preconceitos e medidas discriminatórias
existem contra todos os tipos de “anormalidade” ou “anomalias”, muito embora
essas atitudes apresentem tonalidades de ênfase diferentes, pois a maioria das
pessoas não têm contra o portador de uma deficiência a mesma espécie de
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preconceito que alimenta contra certos grupos religiosos, sociais, desfavelados,
entre outros segmentos marginalizados socialmente.”
2.2 – Preconceito na família e idade escolar
O preconceito na família é uma carga muito pesada e difícil de ser
entendido e aceito. O fundamental nestes casos é a informação; pois quanto mais
esta família buscar esclarecimento, mais tranqüilo se dará o tratamento da pessoa
afetada.
O nascimento de uma criança portadora de fissura lábio-palatal,
geralmente causa um grande impacto na família, pois ninguém está preparado para
ter um filho com qualquer tipo de problema.
À medida que os pais obtêm informação sobre o processo de
reabilitação e com a convivência com a criança, os sentimentos de rejeição,
inconformismo e frustração vão sendo atenuados, cedendo lugar a um sentimento
de esperança e otimismo.
O preconceito pode tornar uma criança dependente, insegura, que não
toma parte das atividades sociais. “No meio escolar as crianças com fissuras ou
cicatrizes são freqüentemente encaradas como “defeituosas” e podem ser
consideradas intelectualmente inferiores por seus companheiros e até professores”
(MESQUITA, 1991, p. 10).
2.3 – Preconceito na adolescência e na idade adulta
O indivíduo vítima de preconceito na infância terá problemas maiores
de ajustamento na adolescência. Para um jovem, ser diferente implica ser inferior.
O adolescente portador de fissura sabe que possui uma diferença. Só
que em alguns casos sem generalizar, sua auto-avaliação no entanto é negativa.
Há, então, uma queda de competência nesse período, principalmente no
desempenho escolar.
O sucesso do portador de fissura dependerá basicamente do
atendimento precoce, do apoio e aceitação da família e, principalmente, de sua
aceitação pessoal, acreditando em si mesmo. O profissional da área de serviço
social contribui para isso e “encara” esse indivíduo como um ser humano dotado de
dignidade e individualidade, possuidor efetivo de insubstituíveis experiências,
ajudando-o na compreensão e na aceitação de sua limitação física, intentando
integrá-lo
na
comunidade
como
ser
produtivo,
independente,
capaz
de
autodeterminação no contexto social em que vivencia seu cotidiano.
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CAPÍTULO III – FISSURAS LÁBIO-PALATAIS 1
3.1 – O que é Fissura Labial (“Lábio Leporino”) e Palatal (“Goela de Lobo”)
As malformações congênitas do lábio e do palato constituem problema
médico-odonto-social, ocupando lugar de destaque dentre os demais processos
patológicos da mesma natureza.
As fendas do lábio apresentam múltiplas variações, podendo ser
unilaterais ou bilaterais, associando-se às deformidades nasais, que são
manifestadas já na vida intra-uterina, resultantes da falta de equilíbrio das formas
musculares.
As fendas do palato constituem-se da mesma maneira que as fendas
labiais, caracterizadas por diferenças de extensão anatômica em comprimento e
largura da fenda. Nos casos de maior amplitude, a fenda produz uma comunicação
direta entre as cavidades bucal e nasal (“goela de lobo”).
3.2 – Qual a incidência
As malformações congênitas lábio-palatais situam-se entre o 3.º e 4.º
defeito congênito mais freqüente, sendo que em nosso meio parece ocorrer na
ordem de grandeza de 1 para 650 nascimentos. Estimativa superficial sugere a
existência, atualmente, no Brasil, de aproximadamente 226 mil pacientes portadores
de fissura lábio-palatal.
3.3 – Quais são as causas
Há evidência que dois fatores, genéticos e ambientais, tomam parte
nestas anomalias, podendo atuar só ou conjugados. Tudo leva a crer que quando na
presença de uma predisposição hereditária e conjugação de fatores ambientais pode
precipitar o aparecimento de uma anomalia.
Os fatores ambientais podem ser classificados em:
1
-
nutricionais;
-
tóxicos;
-
endócrinos;
-
atômicos;
-
infecciosos;
-
psíquicos;
-
idade concepção.
Fonte: Página INTERNET – www.centrinho.usp.com.br
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7
Evidentemente essa divisão dos fatores ambientais é genérica para
todas as malformações congênitas, encontrando-se aí representadas as substâncias
ou fatores que de um ou outro modo puderam ser interpretados como agentes
causadores de deformidades congênitas, e nem todos os mencionados são
imputados como causadores de lesões lábio-palatais.
3.4 – Reabilitação
Genericamente conceituada, “a reabilitação é um serviço dinâmico de
ajuda, através de um modelo sistemático que tem como filosofia que a pessoa
deficiente tem direito a tratamento, exercendo seus deveres para com a sociedade.”
No caso das fissuras lábio-palatais, o tratamento exigirá a atuação de
toda a equipe, especialmente da cirurgia plástica, otorrinolaringologia e ortodontia.
O ideal é que o tratamento seja iniciado logo após o nascimento e se
estenda por todo o período de desenvolvimento, atingindo a fase adulta (0 a 18
anos). O tratamento exige, a rigor, a atuação de uma equipe de especialistas ao
longo de todo o crescimento, uma vez que a cirurgia por si só não resolve o
problema e, se cuidados extra-cirúrgicos não forem adotados, os resultados estéticofuncionais serão negativos, ou seja, o sucesso da reabilitação só é garantido com a
seqüência do tratamento que demanda longos anos e o abandono ou interrupção do
mesmo acarreta graves prejuízos ao paciente.
CAPÍTULO IV – O HOSPITAL DE PESQUISA E REABILITAÇÃO DE LESÕES
LÁBIO-PALATAIS
DE
BAURU
-
CONTEXTUALIZAÇÃO
No HPRLLP o processo de reabilitação global2 se dá pelo trabalho das
seguintes especialidades de profissionais: (GRACIANO, 1988):
a) Médicas: pediatria e clínica geral, otorrinolaringologia, cirurgia plástica,
genética.
b) Odontológicas: odontopediatria, clínica geral, ortodontia.
c) Enfermagem
d) Nutrição
e) Fisioterapia
f) Psicologia
Ler a respeito de reabilitação SOUZA FREITAS, J.A. de, BROSCO, H.B., FREITAS, P.Z.
Malformações congênitas lábio-palatais: fundamentos de reabilitação, experiência hospitalar na área
das dismorfias crânio-faciais. Hospital Administração Saúde, v. 18, n. 4, p. 216-221, jul./ago. 1994.
2
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8
g) Fonoaudiologia
h) Serviço Social
i) Recreação
O planejamento do tratamento pela equipe é feito com base nas
“etapas terapêuticas do processo de reabilitação das lesões lábio-palatais”, de
acordo com o tipo de fissura, idade e fase do tratamento (UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO, 1993).
A proposta dessa equipe é de interdisciplinaridade, pois sabemos que
nenhuma ciência esgota o conhecimento, sendo necessária a abertura dos
profissionais para receber complementação de outras áreas e permitir a convivência
e a contribuição mútua (GRACIANO, 1996).
4.1 – A ação do serviço social no Hospital de Pesquisa e Reabilitação de
Lesões Lábio-Palatais de Bauru
Segundo GRACIANO (1996), a demanda institucional do HPRLLP
constitui-se até hoje num eixo condutor da ação do Assistente Social como sendo “a
problemática do abandono de tratamento e suas implicações bio-psico-sociais.”
O portador de fissura é visto pela equipe do HPRLLP e especialmente
pelo Serviço Social no seu todo, com a preocupação de como superar as
dificuldades que enfrenta. E são essas dificuldades que se constituem num desafio
para o serviço social, pois o seu compromisso com o usuário é o de criar condições
de início e continuidade do tratamento, independente de suas carências, garantindo
assim uma completa reabilitação.
A necessidade de se garantir a continuidade do tratamento dos
pacientes, portadores de fissura lábio-palatal, levaram à criação e à mobilização de
recursos comunitários.
Surge, então, em 1975, a Sociedade de Promoção Social do Fissurado
Lábio-Palatal (PROFIS), com a finalidade de prestar apoio sócio-econômico às
famílias carentes para fins de transporte, alimentação, estada e medicação, em
função do tratamento, cabendo ao serviço social a investigação diagnóstica para a
prestação da assistência. Essa entidade representa uma conquista do serviço social
na viabilização do acesso à reabilitação, principalmente para a clientela socialmente
menos favorecida.
Os seus recursos são repassados aos usuários numa
perspectiva de direito e não de favor, pois parte -se do princípio de que a assistência
social é uma política social que viabilizará o tratamento e conseqüentemente a
reabilitação dos seus usuários. SPOSATI (1991) ressalta a assistência social
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enquanto uma política importante para o enfrentamento da pobreza brasileira. Diz ter
duas funções não excludentes: compensatório junto aos segmentos fragilizados da
população e de enfrentamento da pobreza e da exclusão do acesso a bens, serviços
e riquezas da sociedade.
A ação profissional do assistente social do HPRLLP, tanto no
ambulatório como na internação, inclui a veiculação de informações não só
individualizadas, mas também coletivas.
O
serviço
social
realiza
contato
permanente
com
a
equipe
interdisciplinar para esclarecimentos relacionados ao tratamento do portador de
fissura.
Acompanhar todos os casos através da prestação de
assistência
contínua, propiciando a interação entre paciente, família, hospital e comunidade
também é função do serviço social.
O serviço social do HPRLLP estimula a população usuária a buscar
diferentes formas de organização para enfrentarem os desafios decorrentes da
própria lesão, bem como das condições sociais de cada um.
4.2 – O Projeto Bauru em sua totalidade
Devido à crescente demanda de pacientes que residem em Bauru,
verificou-se a necessidade de se designar um assistente social para atuar e
favorecer a emancipação e a inclusão social da pessoa portadora de fissura lábiopalatal e sua família, sendo implantado, em 1988, o Projeto Bauru.
Esse projeto se responsabiliza pelo atendimento social através de
entrevistas para melhor seguimento dos casos, visitas a pais de recém-nascidos em
maternidades e em seus domicílios, visando apoiá-los e integrá-los ao Hospital.
O serviço social no Projeto Bauru também desenvolve trabalho em
grupo com reuniões periódicas com pais e pacientes objetivando maior interação,
participação e conhecimento de suas ansiedades, necessidades e expectativas, a
fim de se planejar uma intervenção calcada na realidade vivenciada pelos usuários
do Projeto Bauru.
Dentro do Projeto Bauru destacam-se os sub-projetos: Projeto Adoção
e Projeto Trabalho, que serão descritos a seguir.
4.2.1 – Contextualizando Bauru
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10
Segundo QUEDA (1995), Bauru é uma cidade localizada no centro
geográfico do Estado de São Paulo a 324 km da Capital. Foi fundada em agosto de
1896, portanto, tem 101 anos, sendo um município jovem, tendo hoje 292.566
habitantes. A área do município é de 675,2 km² com nível de urbanização de 98,7%
e desse modo menos de 2% da população vive no meio rural.
A base da produção do município está concentrada no setor terciário
da economia, sendo que o maior índice da população economicamente ativa se
encontra nesse setor, uma vez que há, somente na região central da cidade, dois mil
estabelecimentos comerciais.
A agricultura e a pecuária completam a vida econômica, uma vez que
existem perto de 900 propriedades agrícolas pequenas e médias que se dedicam à
suinocultura, à sericultura e aos produtos hortifrutigranjeiros.
O setor industrial, embora tenha uma história recente, vem se
estruturando através de incentivos da Prefeitura Municipal nos ramos alimentício,
têxtil, gráfico e metalúrgico.
Bauru possui em relação aos serviços de saúde 16 unidades básicas
de saúde em pontos estratégicos da cidade, 2 serviços de Pronto Socorro, 3
Hospitais Gerais, 1 Maternidade e 2 Hospitais especializados: o Instituto de
Pesquisa em Doenças Dermatológica – “Hospital Lauro de Souza Lima” e o Hospital
de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais, o “Centrinho”. Ambos são
serviços de referência para o Brasil e para a América Latina, justificada pela
excelência do serviço prestado e por ser pólo de pesquisa em área específica.
Existem, ainda, associações de moradores nos bairros da cidade, onde
os associados cumprem papel importante nas discussões e decisões da vida da
cidade.
Na área da Assistência Social, Bauru possui serviços assistenciais
desenvolvidos por entidades filantrópicas, pelas pastorais de diversas igrejas e
organizações comunitárias, sem fins lucrativos.
Bauru mantém uma rede significativa de creches; abrigos para
crianças/adolescentes em situação de abandono ou risco social; programa e
serviços complementares à educação; serviços voltados à família e idosos; projetos
voltados à melhoria habitacional, geração de renda; albergues para itinerantes ou
moradores de rua.
4.2.2 – Os sujeitos sociais do cotidiano institucional – Projeto Bauru
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No HPRLLP estão matriculados 551 pacientes, residentes em Bauru,
assim distribuídos:
TABELA 1 - DISTRIBUIÇÃO DE FREQÜÊNCIA QUANTO À CLASSIFICAÇÃO
SÓCIO-ECONÔMICA
Categoria
FR
%
Alta
1
0,18%
Média Superior
13
2,36%
Média
67
12,16%
Média Inferior
184
33,39%
Baixa Superior
167
30,31%
Baixa
56
10,16%
Falta dados
63
11,43%
Total
551
100%
Fonte: CPD – Centro de Processamento de Dados do H.P.R.L.L.P.
A tabela acima evidencia que 73,86% da população usuária, residente
em Bauru, pertencem às classes menos favorecidas, segundo critérios para
classificação sócio-econômica (GRACIANO et al, 1996), refletindo a atual situação
de crise econômica e social vivida pelos brasileiros.
TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO DE FREQÜÊNCIA QUANTO À SITUAÇÃO DE
TRATAMENTO
Categoria
FR
FR%
Em tratamento
357
64,25%
Alta hospitalar
85
15,43%
Interrupção de tratamento
2
0,36%
Abandono de tratamento
6
1,09%
Casos ignorados
25
4,54%
Tratamento suspenso
44
7,99%
Óbito
28
5,08%
Em avaliação
2
0,36%
Não caracterizados
2
0,36%
551
100%
Total
Fonte: CPD – Centro de Processamento de Dados do H.P.R.L.L.P.
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Analisando os dados da tabela acima, verificamos que 64,25% dos
pacientes encontram-se em tratamento e apenas 1,09% em abandono do mesmo.
4.2.3 – A ação do serviço social no Projeto Bauru
Especificamente, no Projeto Bauru, o profissional de serviço social se
responsabiliza pelo atendimento social, individual e grupal dos pais e pacientes de
Bauru, objetivando informar, instrumentalizar, favorecer à conscientização do
usuário, família e equipe, contribuindo
com a eliminação das causas de
impedimento à continuidade do processo de reabilitação.
A ação do assistente social compreende os seguintes serviços:
•
Realização de estudo social para acompanhamento dos casos, utilizando critério
sócio-econômico,
como
referencial
teórico
de
análise
da
conjuntura,
possibilitando uma mediação e ação reflexiva e crítica para viabilizar a
assistência social, baseada na LOAS e no ECA, contribuindo para a construção
e o exercício da cidadania.
•
Visitas às maternidades de Bauru, quando do nascimento de crianças portadoras
de fissura, para orientação aos pais e familiares.
•
Acompanhamento dos casos numa visão de totalidade, através de agendamento
prévio, para atendimento ao paciente e sua família com acompanhamentos
periódicos, conforme as necessidades e solicitação dos pacientes/familiares e
demais membros da equipe do Hospital. O assistente social no Projeto Bauru
efetua uma ação articulada com a equipe multidisciplinar do Hospital e também
com os recursos e instituições do município.
•
Atendimento para casos não agendados, através do plantão do serviço social no
Projeto Bauru, objetivando atender a situações problemáticas emergenciais que
necessitem da orientação e intervenção ou encaminhamento do serviço social.
•
Acompanhamento a casos irregulares (pacientes faltosos, abandono, suspenso e
ignorado), objetivando análise de cada caso, com vistas a prevenir o abandono
do tratamento.
•
Orientação
e
encaminhamento
para
recursos
da
comunidade,
quando
necessário.
Destacam-se no Projeto Bauru os seguintes sub-projetos:
Projeto Adoção:
Esse projeto tem por objetivo a colocação de crianças portadoras de
malformações lábio-palatais em situação de risco e abandono em lares substitutos.
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13
O serviço social no Projeto Bauru mantém um cadastro de pessoas
interessadas na adoção de crianças portadoras de malformações lábio-palatais.
Estes candidatos a adotantes podem ser:
•
Funcionários do HPRLLP de Bauru
•
Pais coordenadores
•
Familiares de outros pacientes
•
Famílias em geral
Também é mantido no Projeto Bauru o cadastro de crianças portadoras de
fissura que se encontram à disposição da Justiça, por abandono, e no aguardo de
famílias interessadas em sua guarda ou adoção.
O serviço social orienta os futuros adotantes quanto ao tratamento e à
importância da reabilitação global para o paciente. Informa sobre as condições da
criança, diagnóstico e tratamento; encaminha os interessados para atendimento com
o setor de psicologia. São realizadas visitas domiciliares com o objetivo de se
conhecerem as reais condições da família, para posteriormente ser elaborado o
relatório social.
Após o estudo do caso, o assistente social entendendo que o casal
reúne condições como candidatos a pais adotantes entra em contato com a
assistente social do Fórum para as devidas providências junto à Promotoria e o
Juizado da Vara da Infância e Juventude.
Os candidatos a pais adotantes passam por entrevista com a
assistente social e a psicóloga do Fórum, pois o órgão competente para confirmar a
elegibilidade da família adotante é o Fórum.
O serviço social do HPRLLP, através do Projeto Bauru e Programa
Adoção atua em parceria com os profissionais do Fórum, tendo como objetivo
facilitar e agilizar os trâmites legais em benefício de crianças que se encontram em
situação de abandono.
Os pacientes e familiares que fazem parte do Projeto Adoção são
atendidos pelo serviço social durante todo o processo legal e periodicamente são
agendados para acompanhamento.
Todas as informações e orientações prestadas aos interessados na
adoção destas crianças são calcadas no ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) (CADERNOS POPULARES, n. 7, 1991).
Destaca-se como resultado positivo que o serviço social, através do
Projeto Adoção, tem conseguido a colocação destas crianças em famílias
substitutas.
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O Projeto Adoção foi implantado pelo serviço social do Hospital com
apoio de toda a equipe, em 1991. A partir de sua implantação, todos os casos de
adoção foram intermediados pelo serviço social, através do Projeto Adoção.
Temos como resultado positivo, de 1991 até 1997, a adoção de 15
crianças portadoras de fissura lábio-palatal. As mesmas se encontram em lares
substitutos, em perfeita integração com suas famílias substitutas.
Projeto Trabalho:
O Projeto Trabalho consiste em oferecer orientações sobre o mercado
de trabalho e encaminhamentos de pacientes e familiares para agências de
Recursos Humanos que efetuam recrutamento e seleção de pessoal, visando
auxiliar àqueles que se encontram desempregados.
Cursos e palestras são oferecidos aos usuários, além de se buscar
convênios com escolas profissionalizantes que possam facilitar e oportunizar que
pacientes e familiares tenham acesso e oportunidade de adquirir mais conhecimento
e melhor qualificação de sua mão-de-obra.
A reabilitação global só está concretizada quando ocorre, sempre que
possível, a colocação do paciente no mercado de trabalho.
O serviço social realiza um estudo de interesses e possibilidades de
pacientes de Bauru e região, e os encaminha para a reabilitação profissional ou
profissionalização.
O Núcleo Integrado de Reabilitação e Habilitação Profissional – o NIRH
e a Sociedade de Reabilitação e Reintegração do Incapacitado – a SORRI são
programas de apoio à profissionalização e colocação no mercado de trabalho.
Dentro do Projeto Trabalho, ressalta-se o Projeto Doméstica, que tem
como objetivo facilitar o acesso e a continuidade ao tratamento, visando a
reabilitação global, oportunizando às pacientes trabalho e condições de moradia em
Bauru, visto que a maioria dessas pacientes residem em localidades distantes e
pertencem a classes menos favorecidas, com nível de escolaridade restrito e tendo
como única experiência profissional o trabalho como empregadas domésticas.
O serviço social presta informações sobre direitos e deveres, fornece
um manual com orientações do empregado e empregador, efetua visitas domiciliares
quando necessário, e procura garantir junto ao empregador, através de
esclarecimentos e acompanhamento, a necessidade da paciente ser registrada, do
pagamento mínimo inicial de 1 salário mínimo e demais direitos previstos na
legislação trabalhista.
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Buscando oferecer novas oportunidades de aprimoramento e de
conhecimento às pacientes, o serviço social planeja, organiza e executa cursos e
palestras que vão de encontro a interesses e expectativas dos pacientes e/ou
familiares.
O interesse dos usuários demonstrado na tabulação dos resultados da
pesquisa reforçou a continuidade dos trabalhos já desenvolvidos e incentivou a
criação de novos programas, voltados aos pacientes de Bauru e a seus familiares.
O serviço social no Projeto Bauru, em sua atuação na abordagem
grupal, busca a facilitação do processo relacional, cooperativo, associativo e a
construção de um projeto de vida voltado à inclusão social.
Os
instrumentos
utilizados
visam
favorecer
a
informação,
o
conhecimento, a ampliação da consciência de si mesmo, do grupo social ao qual
pertencem os seus membros, bem como o pensamento sobre o sentido da vida
cotidiana no particular e no geral, no micro-social e no macro-social.
CAPÍTULO V – METODOLOGIA DA PESQUISA
Os objetivos da presente pesquisa podem ser classificados em:
a) Objetivo Geral
- Descrever e refletir sobre a práxis do assistente social ao atendimento
dos portadores de lesões lábio-palatais e seus familiares residentes em Bauru e
ampliar os conhecimentos técnico-científicos do serviço social sobre a ação
profissional no campo da saúde.
b) Objetivos Específicos
•
Busca da teorização da ação do assistente social na sua prática cotidiana.
•
Documentação da prática do assistente social junto ao usuário e relato da
intermediação com a equipe interdisciplinar e a comunidade.
•
Identificar se os atendimentos prestados aos usuários estão de acordo com as
necessidades e expectativas do paciente e família.
•
Levantar opiniões e sugestões dos pacientes e familiares, visando a melhoria dos
serviços prestados.
•
Sugerir bases para mudanças futuras a partir da constatação dos resultados da
presente pesquisa.
A pesquisa teórica foi fundamentada em revisão bibliográfica onde procurou-
se abranger a práxis do assistente social no seu cotidiano institucional, através de
atendimentos aos portadores de lesões lábio-palatais, objetivando um maior
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conhecimento e aprofundamento dos casos, para que possamos documentar as
diferentes práticas do serviço social no Projeto Bauru.
Buscamos, ainda, na metodologia dialética o norteamento de nossa
pesquisa, para que pudéssemos penetrar o mundo dos fenômenos através da
compreensão, da contradição inerente ao fenômeno e das mudanças que ocorrem
na natureza e na sociedade.
O estudo de caso foi utilizado como técnica de investigação para coleta
dos depoimentos dos sujeitos que compõem a nossa amostra.
As entrevistas constituem-se de questões abertas, direcionadas,
possibilitando ao entrevistado uma maior liberdade para suas colocações e
movimentos.
Para melhor conhecermos e avaliarmos a ação do assistente social, no
Projeto Bauru, recorremos ao estudo de caso.
Os dados obtidos através do estudo de caso oferecem a possibilidade do
estudo da realidade social, da personalidade, das atitudes e situações sociais como
processos causais que se manifestam somente no curso de uma vida e num
momento particular dessa vida.
Como método de procedimento, utilizou-se o observacional sistemático
e o comparativo, pois considerou-se o fato de os dois, concomitantemente,
possibilitarem ressaltar as similaridades da população pesquisada.
O universo pesquisado constitui-se de 357 pacientes em tratamento
(dados de 05/98, obtidos no CPD – Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões
Lábio-Palatais), portadores de lesões lábio-palatais, residentes em Bauru.
Como amostra utilizou-se a não probabilística, intencional, onde os
elementos
da
amostra
foram
selecionados
incluindo
pré-teste,
segundo
agendamento do Hospital no período de 20/02/98 a 20/03/98. Delimitou-se uma
amostra de 5 casos de forma a representar os diferentes programas de atendimento
do Projeto Bauru, que citamos a seguir:
- Atendimento a casos novos: o assistente social do Projeto Bauru
presta atendimento aos pais de pacientes recém-nascidos, através de visitas
domiciliares, oferecendo apoio e orientações, objetivando o encaminhamento do
paciente para atendimento no Hospital.
- Projeto Adoção: no Projeto Bauru, o assistente social mantém um cadastro
de crianças em situação de abandono, e à disposição da Justiça para adoção.
- Projeto Trabalho: presta atendimento a pacientes e/ou familiares em
situação de desemprego, visando orientações e encaminhamento para agências de
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Recursos Humanos, para recrutamento e seleção, buscando desta maneira auxiliálos a encontrar trabalho, objetivando uma vida independente.
- Casos em seguimento: o serviço social no Projeto Bauru mantém
atendimento através de agendamentos prévios e atende a casos não previstos,
através de plantão permanente, para atendimentos emergenciais.
Nos atendimentos a casos em seguimento são trabalhadas situações
que refletem os problemas e as dificuldades vivenciadas pela população.
A análise dos dados objetiva uma busca qualitativa, onde pode-se
efetivar uma correlação teórico-prática, buscando assim uma maior fidedignidade
dos dados coletados.
CAPÍTULO
VI
–
CARACTERIZAÇÃO
DA
AMOSTRA
E
ANÁLISE
DOS
RESULTADOS: ESTUDO DE CASOS
Este capítulo tem como objetivo expressar a opinião dos pacientes do
HPRLLP de Bauru sobre a ação do serviço social no Projeto Bauru, através do
estudo de casos apresentados.
Constituem-se como sujeitos dessa pesquisa um total de 5 casos que
representam as diferentes práticas do serviço social no Projeto Bauru.
Tais casos são atendidos pelo serviço social no Projeto Bauru onde
são tratados vários aspectos da vida do paciente e família, suas ansiedades,
dificuldades e necessidades, visando o diagnóstico social de cada caso, análise
conjunta e intervenção, tendo como principal objetivo a reabilitação global desses
pacientes, a sua inserção na sociedade e a melhoria da qualidade de vida dos
usuários e família.
Optou-se por ouvir os pacientes e familiares por acreditarmos serem os
sujeitos mais aptos para avaliação da ação do serviço social do HPRLLP, no Projeto
Bauru. Através de entrevista semi-estruturada, abrangendo as seguintes questões:
•
Que significa, para você, ter nascido portador de fissura, ou ter um filho portador
de fissura lábio-palatal?
•
Como você entende a atuação do serviço social no Projeto Bauru?
•
O serviço social contribui para a sua reabilitação ou para a reabilitação de seu
filho?
•
Em que aspectos o serviço social e o Projeto Bauru podem melhorar seus
atendimentos? Você tem sugestões para dar?
Tais perguntas foram apresentadas aos pacientes de forma aberta e
reflexiva, tendo suas respostas gravadas e, posteriormente, fielmente transcritas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O paradigma norteador deste trabalho não permite que cheguemos a
verdades acabadas. Assim, ao seu final, ficam as indagações, principalmente porque
a ação do serviço social no Projeto Bauru é de enfrentamento aos problemas sociais
emergentes. Esta se revela no interior de cada caso por nós atendido, seja no
âmbito da família, do indivíduo, seja na realidade mais ampla, na sociedade, nas
instituições e nas políticas públicas.
Estas questões se delineiam nas entrevistas, cotidianamente, e nos
depoimentos dos pesquisados quando colocam a questão do preconceito, do
sofrimento, da exclusão, da falta de recursos que impedem acesso a bens e serviços
e a condições mais dignas de subsistências.
Em nossa ação cotidiana é imprescindível a orientação aos usuários
para se desencadear e potencializar a educação social.
Portanto, a conquista singular ou coletiva dos direitos à habitação,
creche, serviços de saúde, escola, trabalho, seguro desemprego, entre outros, deve
resultar em avanço no nível da consciência e de poder dos grupos oprimidos.
A partir dos depoimentos dos pesquisados e do longo percurso traçado
para concretização deste trabalho, pudemos observar, enxergar e constatar que
tudo possibilita que finalizemos vislumbrando condições de criar espaços concretos
de lutas e estratégias que nos auxiliem a crescer, encontrando novos rumos para
realizarmos novas ações.
O que buscamos, partindo dos sujeitos sociais no seu cotidiano
institucional, foi estar descobrindo, nas suas histórias de vida, nas suas
experiências, nas condições concretas de suas ações e nas suas percepções sobre
estas, elementos necessários à compreensão dos fenômenos que envolvem a
problemática dos portadores de lesões lábio-palatais.
O preconceito, citado por todos os depoentes, reflete a falta de
informações seguras. Desinformações, preconceitos, superstição e medos são
fatores que geram reações inadequadas tanto na família, quanto na sociedade.
“Aceitar o fato de que há mais semelhanças que diferenças entre as
pessoas, independentemente de suas variações quanto ao físico, às capacidades
sensoriais ou às habilidades intelectuais, ajuda a derrubar medos e tabus e também
a reconhecer o ganho, em escala individual e social, advindo da compreensão da
diversidade” (ZALA, 1981).
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A avaliação dos usuários do HPRLLP, quanto à ação do serviço social
no Projeto Bauru, é significativamente favorável. Acreditamos que a possibilidade de
acompanhá-los mais freqüentemente aproxima-nos de seu cotidiano. Sabemos que
a vida está contida em sua totalidade neste cotidiano e nela é que se processam
muitas mediações entre o particular e o global, entre o singular e o coletivo.
Ao
repensarmos
a
nossa
prática
social
em
suas
múltiplas
abrangências, verificamos, através dos depoimentos de nossos pesquisados, que
necessitamos dar continuidade aos trabalhos já realizados.
É importante destacar que todos os depoentes ressaltaram a
necessidade de se criar e oportunizar novos trabalhos que possibilitem inovações
que atendam às suas expectativas e necessidades, além de possibilitar uma maior
integração entre todos os pacientes e familiares de Bauru.
A questão da representatividade e da luta por direitos também foi
colocada, demonstrando com isso o interesse e a inquietação dos usuários, quanto
às desigualdades sociais e o desejo de um dia virem a exercer a cidadania plena.
É através de uma prática refletida, planejada, que busca investigação
constante com direção mais profunda e global que conseguimos introduzir e
solidificar um processo de identificação e confiança entre o profissional, pacientes e
familiares.
A prática legitimada e comprometida adquire a sua força no
desenvolvimento de um processo aberto, mobilizador de relações, reflexão e ação
intergrupos. É a ação conjunta que introduz efeitos transformadores no nível
coletivo.
Concluímos tendo a certeza de que toda prática social eficaz é produto
igualmente da “paixão”.
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www.ts.ucr.ac.cr 1 INTRODUÇÃO O Hospital de Pesquisa e