Almanaque do Médico de Província: o Erário Mineral de Luís Gomes
Ferreira (1735)
Luís Gomes Ferreira, português natural da Vila de São Pedro de Rates, se formou
cirurgião no Hospital Real de Todos-os-Santos em Lisboa e viveu na Capitania de Minas
Gerais entre os anos de 1708 e 1733, atuando como cirurgião-barbeiro.
Os cirurgiões-barbeiros tinham um aprendizado mais empírico; realizavam cirurgias,
sangrias, extraiam dentes e tratavam de ossos quebrados e músculos contundidos. Os
médicos eram os eruditos e teóricos, que prescreviam o tratamento e os
medicamentos específicos para os pacientes.
O livro Erário Mineral, cujo título significa Tesouro Público Mineral, foi escrito em 1733
e editado dois anos depois. Foi amplamente utilizado na colônia entre os séculos XVIII
e XIX. A obra de divulgação popular, que representa os primeiros passos da Medicina
no Brasil, é dividida em doze tratados e sua linguagem acessível ao homem comum.
Luís Gomes Ferreira aliou seus conhecimentos teóricos e práticos para formular
medicamentos a partir da fauna e flora nativas, e este fato o diferenciou da medicina
tradicional europeia. Como resultado da sua experiência na Colônia, Ferreira
descreveu suas observações sobre o clima, os moradores, as doenças que acometiam a
população local e o tratamento ministrado por ele mesmo em um dos primeiros
tratados de medicina em língua portuguesa.
Para além do estudo da História da Medicina, esta obra rara contém ainda descrição
de costumes, folclore, geografia, demografia e linguística da região em que viveu,
informações pitorescas para o entendimento da cultura e organização social no
período colonial brasileiro.
As imagens expostas nas telas do “Corredor da Memória” contam um pouco da
história de Luís Gomes Ferreira com reproduções artísticas do ofício de cirurgiãobarbeiro, da fauna e flora brasileira que serviram para a formulação de medicamentos
e de pinturas que evidenciam a relação entre Medicina e a crença católica.
O Centro de Memória tem sob sua guarda a primeira edição do Erário Mineral (1735),
obra rara que pertencia ao Prof. Eduardo Borges da Costa, um dos fundadores da
Faculdade de Medicina. Em 1997, por iniciativa do Prof. João Amílcar Salgado, foi
publicada uma edição fac-similar do Erário. Dada a importância da obra, em 2002, a
Fundação João Pinheiro publicou edição primorosa, em dois volumes, coordenada pela
profª Júnia Ferreira Furtado (FAFICH/UFMG) com estudos críticos, comentários,
explicações históricas, ilustrações, glossário e mapas. O texto está transcrito numa
linguagem moderna e contém notas de rodapé com comentários explicativos do
vocabulário e do contexto histórico e geográfico.
Ficha Técnica
Prof. Luciano Amedeé Peret Filho
(Coordenador)
Ethel Mizrahy Cuperschmid
Maria do Carmo Salazar Martins
(Curadoria)
Ana Luísa Moreira Silva
Angélica Siqueira de Castro
Bruna Carvalho de Oliveira Nunes
(Pesquisa, edição e montagem)
Referências
FERREYRA, Luís Gomes. Erário Mineral. Lisboa, 1735.
CASTRO, Márcia de Moura. Ex-votos Mineiros: As tábuas votivas no Ciclo do Ouro. Rio
de Janeiro: Expressão e Cultura, 1994.
FERREYRA, Luís Gomes. Erário Mineral: Luís Gomes Ferreyra. Belo Horizonte, Centro da
Memória da Medicina de Minas Gerais, 1997.
COSTA, Antônio Gilberto (et. al). Cartografia das Minas Gerais: Da capitania à província.
Belo Horizonte, Editora UFMG, 2002.
FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Erário Mineral: Luís Gomes Ferreira. Belo Horizonte,
Fundação João Pinheiro, 2002.
STARLING, Heloísa Maria Murgel; GERMANO, Lígia Beatriz de Paula; MARQUES, Rita de
Cássia. Medicina: História em Exame. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2011.
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