64º Congresso Nacional de BotânicaBelo Horizonte,10-15 de novembro de 2013
TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO DO CIPÓ-TITICA (Heteropsis spp.– ARACEAE)
REALIZADAS POR AGROEXTRATORES NA VISÃO DE ESTUDANTES DE
UMA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA NO AMAPÁ.
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Kézia P. Silva , Bruno C. Rosário , Ana C.Lira-Guedes , Jackson R. L. Barbosa , Luciano A. Pereira *
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Universidade do Estado do Amapá ,Pró-Reitoria de Graduação; Curso de Engenharia Florestal
3
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária; Centro de Pesquisas Agroflorestais do Amapá
*[email protected]
Introdução
Amazônia é um bioma brasileiro com potencial para a
extração de diversos tipos de produtos florestais não
madeireiros (PFNMs). Um dos PFNMs de destaque no
Amapá éo cipó-titica (Heteropsis spp.), que para muitas
famílias é a principal fonte de renda.
Devido às poucas informaçõessobre o manejo dessa
planta, a extração de suas lianas vem ocorrendo de
maneira muito rudimentar,podendo acarretar emprejuízos
paraseu estoque.
O presente trabalho objetivaconhecer astécnicas de
extração do cipó-titica realizado por agroextratores na
visão dos seus filhos, estudantes da Escola Família
Agrícola da Perimetral Norte (EFAPEN) no Amapá.
Metodologia
O trabalhofoi realizado por meio de entrevistas
semiestruturadas com seis filhos de agroextratores das
comunidades do Munguba, Tucano I e Tucano II,
localizadas nos municípios de Porto Grande e Pedra
Branca do Amapari. As entrevistas foram realizadas entre
agosto de 2012 e julho de 2013, na escola e/ou nas
residências, usando o método bola-de-neve [1].
Além das entrevistas, nas propriedades, foram realizadas
turnês-guiadas[2]com os estudantes, com intuito de
conhecer as espécies denominadas de cipó-titica.
Todo o material botânico indicado como cipó-titica foi
coletado, empregando método usual em taxonomia
edepositado no Herbário Amapaense (HAMAB) eHerbário
didático da Universidade do Estado do Amapá – UEAP.
Resultados e discussão
Foram identificadas quatro espécies de cipó titica: H.
flexuosa,H. steyermarkii,H.linearis e H. tenuispadix.
Os estudantes entrevistados tinham idade entre 15 e 19
anos. Dos seis entrevistados, apenas um estudante
afirmou não ter visto o pai coletando cipó-titica. A coleta
na maioria das vezes é realizada por grupos,
predominantemente masculino, que passam dias ou até
semanas no interior da floresta. Quando os filhos
acompanham os pais, ficam no acampamento e só
ajudam no descascamento, pois a coleta exige força e os
perigos da floresta preocupam os pais.
Quando perguntado sobre como o pai fazia para tirar o
cipó-titica,83,3% deles disseram que a coleta é feita
puxando o cipó e cortando na base, próximo ao solo. No
entanto, um dos estudantesafirmou que o pai subia na
árvore e cortava todos os cipós quando era
observadauma grande quantidade.Essa informação é
preocupante, já que os cipós são raízes alimentadoras,
que nutrem a planta-mãe, localizada no alto das árvores
hospedeiras (forófitos). Outro dado preocupante é que
apenas 33% afirmaram que os pais selecionavam os
cipós maduros e com maiores diâmetros, ou seja, a
maioria não se preocupava com a retirada de cipós
verdes, que éproibida pelaResolução 013/2009[3] e, não
são aproveitados para a fabricação de artefatos.
De acordo com 80% dos estudantes entrevistados,seus
pais coletavamentre 10 e 30 pernas de cipós/árvores, ou
cerca de 30 kg/dia. Isso evidencia que nas décadas
passadas havia um bom estoque de raízes nas
localidades estudadas, pois atualmente, além da
necessidade de caminhar alguns quilômetros para o
interior da floresta para encontrar o cipó, os forófitos
raramente apresentam mais que 20 pernas de cipós.
Para 50% dos estudantes, seus pais preferiam coletar
cipós no verão (período seco) por causa da facilidade
para entrar na floresta, muito embora, 33,3% tenham
afirmado que os pais coletavam no inverno (período
chuvoso),devido àchuva favorecer a retirada da casca do
cipó.Apenas um entrevistado disse que não tinha tempo
definido para a coleta, embora o período de reprodução
do cipó possa variar bastante em toda a Amazônia, no
Amapá houve proibição da extração desta liana [4] porque
no período de janeiro a junho acontece a floração e
frutificação da planta de cipó titica. Após a coleta, os cipós
eram transportados do interior da floresta no lombo de
animais (jumentos, burros ou cavalos).
Com relação à comercialização e uso dos cipós, 66% dos
estudantes afirmaram que os pais vendiam os cipós para
atravessadores, proporcionando uma renda de até R$
400,00/mês.Para 33,3% dos estudantes, seus pais
coletavam apenas para uso doméstico (fabricação de
paneiros e vassouras) e 16% para confeccionar sofás
para a venda.
Quando questionados se os pais ainda extraem cipós,
todos responderam que sim.A coleta é realizada para
fazer vassouras e paneiros de uso próprio e 16%
confeccionam sofás para a venda. Parece que a coleta
não é realizada para a venda in natura, por entenderem
que é uma prática ilegal, quando não é realizada com
licença emitida pelo Instituto de Meio Ambiente e
Ordenamento Territorial do Estado do Amapá (IMAP).
Conclusões
Para os estudantes a coleta de cipó-titica é feita puxando
os cipós com a força do corpo e cortando na base, para
desprendê-la do solo. Não existe consenso sobre o
período mais propício para a coleta e poucos
agroextratores selecionam os cipós considerados
maduros.
Agradecimentos
Ao Instituto de Pesquisa Científicas e Tecnológicas do
estado do Amapá – IEPA.
Referências Bibliográficas
[1] Bailey, K. D. 1982. Methods of social research.New York:
The Free Press.
[2]Albuquerque, U.P.; Lucena, R.F.P. 2004. Métodos e técnicas
para coleta de dados. In: Albuquerque U. P. (org.) Métodos e
técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife, Editora NUPEEA. p.
37-55.
[3]AMAPÁ. Governo do Estado.2009. Resolução COEMA nº
013/2009. Macapá: Conselho Estadual do Meio Ambiente
(COEMA).
[4]AMAPÁ. Governo do Estado.2009. Resolução COEMA nº
05/2002. Macapá: Conselho Estadual do Meio Ambiente
(COEMA).
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