PERCEPÇÃO DAS MULHERES CEGAS SOBRE UMA TECNOLOGIA
ACESSÍVEL
Mariana Gonçalves de Oliveira1
Lorita Marlena Freitag Pagliuca2
Introdução: Os avanços tecnológicos que vem acontecendo na sociedade obriga a
enfermagem a se atualizar e desenvolver novas tecnologias que sejam acessíveis a toda a
população1. Os instrumentos desenvolvidos pelos enfermeiros pouco são divulgados, assim
como as tecnologias criadas para auxiliar seu trabalho2. No entanto, a criação de novas
tecnologias não serve somente para o profissional, mas também para a clientela que tem o
interesse em modificar as condições de vida para que possam realizar seu auto cuidado e ter
uma vida independente. Dessa forma, a enfermagem tem utilizado das tecnologias como
forma de assistir a sua clientela nos diversos ambientes de educação e assim capacitá-los para
atuar na melhoria de sua saúde e atingir um completo bem estar físico, mental e social. No
contexto desse estudo, a tecnologia utilizada é um manual que é conceituado como material
educativo ou pequeno livro com noções essenciais acerca de ciência ou técnica3. Acredita-se
que o uso de um manual educativo como instrumento de apoio terapêutico formulado em
literaturas pertinentes, contém propostas para promover saúde4. Neste sentido, corrobora-se
Souza5, ao afirmar que a principal finalidade do material didático é fornecer apoio aos dois
atores do processo, neste caso, educador (profissional de saúde) e educandos (cegas), nas
tarefas pedagógicas, motivando e reforçando o aprendizado. Objetivo: Investigar a percepção
das mulheres cegas sobre um manual educativo acessível. Metodologia: Trata-se de um
estudo exploratório e descritivo, realizado no Laboratório de Comunicação em Saúde
(LabCom_Saúde) do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC)
por meio da infraestrutura física e tecnológica no período de abril 2012. Os sujeitos foram
mulheres cegas com vida sexualmente ativa ou não, maiores de 18 anos, alfabetizadas em
Braille. Foram contatados de forma aleatória, através de um banco de dados de deficientes
visuais mantido pelo Projeto Pessoa com Deficiência: Investigação do Cuidado de
Enfermagem. Os dados foram coletados através de um Instrumento, analisados e organizados
em quadros para melhor compreensão dos resultados. A pesquisa foi submetida ao Comitê de
Ética em Pesquisa da UFC e aprovada conforme protocolo número 283/11. Atendeu aos
preceitos ético-legais recomendados pela Resolução nº 196/96. Resultados: Participaram oito
mulheres cegas, todas residentes na capital do Estado, a idade variou entre 21 e 41 anos. A
maioria era casada, duas eram solteiras. Duas não eram cegas desde o nascimento. Uma
apresentou nível superior em andamento, as outras o ensino médio completo ou incompleto.
Os resultados foram divididos em duas categorias: percepção das mulheres acerca do manual
e estrutura do manual. Quanto a primeira categoria, foi relatado a satisfação em visualizar um
material acessível a deficiência delas através de vários momentos exteriorizando a palavra
“bacana” que exprime algo ótimo ou bom. Houve a afirmação de duas participantes em que
não conheciam nada parecido com o manual ao alcance delas. Uma mencionou que queria um
manual para ela, pois queria compartilhar com os amigos e familiares cegos. Foi percebido
1
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: [email protected]
2
Enfemeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem da Universidade
Federal do Ceará. Pesquisadora do CNPq. E-mail: [email protected].
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por cinco mulheres que o manual poderia ser usado não só por elas, mas também pelos
profissionais e qualquer pessoa que tenha interesse em utilizá-lo. Assim como foi reforçado
por elas que esse manual pode ser usado nas consultas aos cegos facilitando a compreensão
das orientações, pois como foi dito por elas, pode ser associado o conteúdo com a prática. Em
relação a estrutura do manual, uma das participantes afirmou que o tamanho do material
estava bom e o fato dele ter sido encadernado é melhor do que se tivesse sido grampeado.
Outra participante referiu sobre o uso de figuras em autorelevo e com descrição de como
realizar a leitura delas. Uma das mulheres citou a vantagem do manual ser impresso porque
poderia ser levado para qualquer lugar continuou afirmando que foi melhor do que se fosse no
computador, no qual algumas pessoas não tem acesso. Uma delas indagou sobre o uso de
frente e verso das folhas que não foi utilizado. Também houve elogios pelo fato do manual
está escrito em tinta e Braille simultaneamente obedecendo ao desenho universal, não
realizando exclusão das pessoas cegas. Foi elogiada a linguagem utilizada. O manual
educativo é um recurso que tem a função de oferecer a população diferente forma de
promoção da saúde. Segundo exposto, as mulheres cegas mostraram-se satisfeitas com o
material. Percebeu-se que a estrutura do manual precisa passar por pequenos ajustes a partir
das percepções das participantes do estudo. O objetivo do material educativo acessível é
incluir essa parcela da população na sociedade. Considerações finais: Os usos de
tecnologias, no caso o manual, constituem-se em intervenções mediadas pelo conhecimento,
atitude, compromisso e responsabilidade do profissional, enquanto base para as práticas
transformadoras. O manual é um meio de promover saúde, pois transmite informações de
maneira diferente saindo daquele modelo biomédico. As tecnologias hoje desenvolvidas
devem obedecer ao sistema de inclusão social. Implicações para a enfermagem: Diante do
exposto, torna-se fundamental o desenvolvimento de tecnologias em saúde. Dessa forma, a
enfermagem deve enfatizar o uso e a construção de manuais acessíveis a toda clientela e que o
mesmo seja um instrumento facilitador de orientações, promoção da saúde e educação em
saúde, assim contribuirá para a qualidade de vida e autonomia da clientela.
Descritores:
Pessoas com deficiência visual; Promoção da saúde; Desenvolvimento tecnológico.
Eixo:
O que e para que pesquisar: limites e possibilidades das linhas e grupos de pesquisa em
enfermagem.
Área temática:
Tecnologia em Saúde e Enfermagem
Referências:
1. Silva GRF, Cardoso MVLML. Percepção de mães sobre um manual educativo sobre
estimulação visual da criança. Rev Eletr Enf. [periódico na Internet] 2009; 11(4):847-57.
Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v11/n4/v11n4a10.htm
2. Silva GRF, Cardoso MVLML. Material didático para a promoção da saúde ocular da
criança. Rev Paul Enferm. 2007; 26(1):12-6.
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3. Ferreira ABH. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira; 2010.
4. Oliveira MS, Fernandes AFC, Sawada NO. Manual educativo para o autocuidado da
mulher mastectomizada: um estudo de validação. Texto Contexto Enferm. 2008; 17(01):11523.
5. Souza OSH. A valorização dos recursos didáticos na construção do conhecimento das
pessoas com necessidades especiais. Reflex Ação. 1998; 6(2):23-32.
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