Ministério da Saúde
FIOCRUZ
Fundação Oswaldo Cruz
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Pós-Graduação em Medicina Tropical
VANESSA LIMA NEIVA
Aspectos biológicos e potencial vetorial de Triatoma sherlocki Papa, Jurberg, Carcavallo,
Cerqueira & Barata, 2002 (Hemiptera: Reduviidae: Triatominae) em condições de
laboratório.
Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo
Cruz como parte dos requisitos para obtenção
do título de Mestre em Ciências.
Orientadoras: Profª. Drª. Jane Margaret Costa Von Sydow
Profª. Drª. Teresa Cristina Monte Gonçalves
RIO DE JANEIRO
2014
i
Ficha catalográfica elaborada pela
Biblioteca de Ciências Biomédicas/ ICICT / FIOCRUZ - RJ
N417
Neiva, Vanessa Lima
Aspectos biológicos e potencial vetorial de Triatoma sherlocki Papa, Jurberg,
Carcavallo, Cerqueira & Barata, 2002 (Hemiptera: Reduviidae: Triatominae) em
condições de laboratório / Vanessa Lima Neiva. – Rio de Janeiro,
2014.
viii, 94 f. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado) – Instituto Oswaldo Cruz, Pós-Graduação em Medicina
Tropical, 2014.
Bibliografia: f. 82-93
1. Triatoma sherlocki. 2. Infecção natural. 3. Capacidade vetorial. 4. Comportamento
de alimentação e de defecação. 5. Resistência ao jejum.
I. Título.
CDD 616.9363
ii
Ministério da Saúde
FIOCRUZ
Fundação Oswaldo Cruz
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Pós-Graduação em Medicina Tropical
VANESSA LIMA NEIVA
Aspectos biológicos e potencial vetorial de Triatoma sherlocki Papa, Jurberg, Carcavallo,
Cerqueira & Barata, 2002 (Hemiptera: Reduviidae: Triatominae) em condições de
laboratório.
ORIENTADORAS: Profª. Drª. Jane Margaret Costa Von Sydow
Profª. Drª. Teresa Cristina Monte Gonçalves
Aprovada em: _24_/_03_/_2014_
EXAMINADORES:
Profª. Drª. Jacenir Reis dos Santos Mallet - Presidente (IOC-Fiocruz)
Profª. Drª. Catarina Macedo Lopes (IOC-Fiocruz)
Prof. Dr. Carlos Eduardo Almeida (UNESP- SP)
Prof. Dr. Carlos José Moreira (IOC-Fiocruz)
Prof. Dr. Márcio Eduardo Felix - Revisor (IOC-Fiocruz)
Rio de Janeiro, 24 de Março de 2014
iii
Dedico
Aos meus pais: exemplos de vida e trabalho, força
motriz da minha perseverança e resistência.
Ao Maurílio Freitas Mendonça por acreditar em
meus ideais, pelo incentivo e apoio na concretização de um
sonho.
À Dra. Jane Costa pela competente orientação e
oportunidades, por confiar e investir em meu potencial, os
quais foram fundamentais para o meu desenvolvimento
profissional.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, antes de tudo, pois sem ele nada é possível.
À Dra. Teresa Cristina Monte Gonçalves, por aceitar a minha coorientação, especialmente
pelo seu exemplo de profissionalismo, ética e dedicação à pesquisa. Pelos seus ensinamentos,
questionamentos e correções feitos de forma carinhosa, os quais amenizaram as dificuldades
do percurso da realização vocacional.
À valiosa amiga Dra. Catarina Macedo Lopes, pela sua generosidade, presença afetuosa, por
me ensinar o valor de se aliar a competência profissional e a humanidade, pela sua
participação com ricas sugestões ao longo de toda a etapa experimental e redação da
dissertação.
À Dra. Jacenir Reis dos Santos Mallet, pela alegria com que me recebeu e disponibilizou o
insetário do seu laboratório para o estabelecimento das colônias e realização dos
experimentos, o qual foi imprescindível para o desenvolvimento e concretização desse
trabalho.
À Fundação Oswaldo Cruz e ao Instituto Oswaldo Cruz, por me permitir a honra de dar
continuidade à minha formação nessa Instituição que tanto admiro.
À Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, pela atenção e
presteza quanto às solicitações dos alunos. Sobretudo pela sensibilidade e preocupação em
construir em conjunto com alunos, professores e pesquisadores um curso de pós-graduação de
qualidade.
Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, pela atenção e por
compartilhar seus conhecimentos sobre as doenças tropicais.
Aos professores: Dra. Nildimar Honório Rocha, Dra. Alda Maria da Cruz, Dra. Ângela
Cristina Veríssimo Junqueira, Dra. Martha Cecília Suarez Mutis e Dr. Jerônimo Alencar,
pelos exemplos de docentes e pesquisadores, pela contribuição não só na aquisição de
conhecimento, mas principalmente na construção de um pensamento crítico, fundamental para
a formação de jovens cientistas.
À minha família: irmãos, primos, tios, avós, pelo apoio, orações e pela presença amiga que
ajudou a aliviar as pressões.
Às amigas Kerla Joeline e Miriam Palomino, pelo apoio, incentivo e parceria ao longo da
realização dos créditos.
À amiga Márcia Ximena Gumiel, pelo auxílio com as análises estatísticas e discussão dos
resultados.
v
Às mestrandas Nathália Cordeiro Correia e Cátia Cabral Silva, do Laboratório de
Biodiversidade Entomológica, pelo auxílio nos experimentos e manutenção das colônias de
triatomíneos.
Às amigas: Amanda, Raquel, Lucila, Josiane e Ariane, pela forma cordial com que me
receberam e pela boa convivência no dia-a-dia do Laboratório de Transmissores de
Leishmanioses, Setor de Entomologia Médica e Forense.
À equipe do Laboratório de Transmissores de Leishmaioses, pelo apoio.
Ao Dr. Carlos Eduardo Almeida, por me incentivar a aprofundar os meus conhecimentos
sobre T. cruzi e T. sherlocki e efetuar as coletas dos triatomíneos.
À equipe da Secretaria de Vigilância em Saúde do Estado da Bahia, pelo auxílio às coletas
dos triatomíneos.
À equipe do Laboratório de Biodiversidade Entomológica: Dr. Márcio Felix, Danielle Cerri,
Dr. Sandor Buys, Renata Amaro, Cauan, Aline e Elen, pelo apoio.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, e a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, FAPERJ, pelas bolsas de estudo.
Aos membros da banca examinadora, pela disponibilidade e competência na análise deste
trabalho, enriquecendo-o com críticas e sugestões.
vi
O senhor é o meu pastor e nada me faltará. Deitar-me faz em verdes
pastos, guia-me mansamente às águas tranqüilas, refrigera a minha
alma, guia-me pelas veredas da justiça por amor do teu nome. Ainda
que eu andasse pelo vale da sombra da morte não temeria mal algum,
porque tu estás comigo, a tua vara e o teu cajado me consolam,
preparas para mim uma mesa na presença dos meus inimigos, unges a
minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda, certamente que a
bondade e a misericórdia me seguirão por todos os dias da minha vida
e habitarei a casa do senhor por longos dias.
Salmos 23.
vii
Esse trabalho foi desenvolvido no Laboratório de
Biodiversidade Entomológica e no Laboratório de
Transmissores de Leishmanioses - Setor de Entomologia
Médica e Forense do Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ.
viii
Índice
RESUMO .................................................................................................................................. xi
ABSTRACT .............................................................................................................................xii
I.
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
1. Doença de Chagas. .......................................................................................................... 1
2. Trypanosoma cruzi ......................................................................................................... 8
2.1. Taxonomia ............................................................................................................. 8
2.2. Ciclo biológico ...................................................................................................... 9
2.3. Hospedeiros vertebrados de T. cruzi ..................................................................... 9
3. Subfamília Triatominae ............................................................................................... 10
3.1. Taxonomia ........................................................................................................... 10
3.2. Domiciliação ....................................................................................................... 11
3.3. Controle vetorial no Brasil .................................................................................. 13
3.4. Complexo Triatoma brasiliensis ......................................................................... 14
3.5. Triatoma sherlocki .............................................................................................. 19
4. Parâmetros biológicos dos vetores e sua importância para a transmissão de T. cruzi .. 22
4.1. Ciclo biológico .................................................................................................... 22
4.2. Comportamento alimentar e de defecação .......................................................... 23
4.3. Resistência ao jejum ............................................................................................ 24
II. OBJETIVOS ........................................................................................................................ 25
1. Geral ............................................................................................................................. 25
2. Específicos .................................................................................................................... 25
III. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 26
1. Área de estudo .............................................................................................................. 27
2. Coleta de Triatoma sherlocki........................................................................................ 31
3. Infecção natural por T. cruzi ......................................................................................... 32
4. Ciclo biológico.............................................................................................................. 32
5. Comportamento alimentar e de defecação .................................................................... 33
6. Resistência ao jejum ..................................................................................................... 36
7. Análises estatísticas ...................................................................................................... 36
IV. RESULTADOS ................................................................................................................. 38
1. Espécimes de Triatoma sherlocki coletados ................................................................. 38
2. Infecção natural por T. cruzi ......................................................................................... 40
3. Ciclo biológico.............................................................................................................. 40
ix
4. Comportamento alimentar e de defecação .................................................................... 44
5. Resistência ao jejum ..................................................................................................... 58
V. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 59
1. Insetos coletados ........................................................................................................... 59
2. Infecção natural por T. cruzi ......................................................................................... 60
3. Parâmetros biológicos ................................................................................................... 62
3.1. Ciclo biológico .................................................................................................... 63
3.2. Comportamento de alimentação e de defecação ................................................. 70
3.3. Resistência ao jejum ............................................................................................ 76
VI. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 80
VII. PERSPECTIVAS .............................................................................................................. 81
VIII.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 82
IX. ANEXO ............................................................................................................................. 94
x
RESUMO
Aspectos biológicos e potencial vetorial de Triatoma sherlocki Papa, Jurberg, Carcavallo,
Cerqueira & Barata, 2002 (Hemiptera: Reduviidae: Triatominae) em condições de
laboratório.
Triatoma sherlocki foi encontrada no distrito de Santo Inácio, município de Gentio do
Ouro, no estado da Bahia, Brasil. No ambiente natural habita complexos rochosos,
apresentando infecção natural por Trypanosoma cruzi. Em Encantado, um assentamento de
garimpo de pedras ornamentais, foi realizado o primeiro registro de ninfas e adultos no
interior dos domicílios. Informações sobre seus aspectos biológicos e comportamentais são
inexistentes, tornando-se necessários para o conhecimento do seu potencial vetorial. No
presente estudo avaliaram-se diferentes parâmetros biológicos de T. sherlocki para inferir sua
capacidade vetorial. Para isso, foram efetuadas coletas no ambiente silvestre e domiciliar em
2009, quando foi feita a pesquisa para presença de T. cruzi-like, e em 2010, para o
estabelecimento de colônias mantidas em condições controladas de temperatura (24,6 ± 1,3
ºC) e umidade relativa (71,6% ± 6,3) (não controlada). Tais colônias deram suporte aos
estudos do ciclo biológico, do comportamento alimentar e de defecação e da resistência ao
jejum. A taxa de infecção natural foi obtida pelo exame microscópico de fezes dos
triatomíneos. Para o estudo do ciclo biológico e do comportamento alimentar e de defecação,
foram selecionados aleatoriamente 123 ovos a apartir de trinta casais mantidos juntos. Assim,
acompanhou-se o desenvolvimento de ovo-adulto e o seu comportamento de alimentação e de
defecação após a alimentação até 10 min. Os insetos foram alimentados semanalmente em
camundongos Mus musculus. A resistência ao jejum foi estudada através da seleção aleatória
de um grupo de 50 ovos e 50 ninfas de 2º a 5º estádio, perfazendo um total de 350 espécimes,
os quais foram alimentados semanalmente em camundongos e observados diariamente para
registrar a eclosão ou ecdise. Posteriormente, cada triatomíneo foi observado individualmente
para o registro do período de resistência ao jejum até a morte. Durante as coletas de campo,
471 espécimes foram capturados, 170 em 2009 e 301 em 2010. Dos 170 espécimes coletados
em 2009, 145 foram examinados para presença de T. cruzi-like, dos quais 20% estavam
positivos. Em relação ao ciclo biológico, T. sherlocki apresentou tempo médio de
desenvolvimento de ovo-adulto de 325,0 ± 40,0, indicando que esta espécie apresenta 1
geração por ano. O número de repastos sanguíneos variou de 1 até 11, dependendo do estádio
de desenvolvimento. Essa característica aumenta o contato vetor-hopedeiro, aumentando a
probalidade de aquisição ou transmissão de T. cruzi. A taxa de mortalidade total foi baixa
(6,5%) em relação a outras espécies de triatomíneos, mostrando que T. sherlocki adaptou-se
bem as condições de laboratório. Entre os principais resultados obtidos no estudo do
comportamento alimentar e de defecação, destaca-se o curto intervalo de tempo entre a
alimentação e a defecação dos primeiros estádios ninfais de T. sherlocki, médias 1,38 min.
para o 1º estádio e 2,15 min. para o 2º estádio, sendo que 63,2% (n=114) das ninfas de 1º
estádio e 56,7% (n=60) das ninfas de 2º estádio defecaram até 1 min. após a 1ª e a 2ª
alimentações, respectivamente. As ninfas dos demais estádios demoraram mais para defecar,
mas apresentaram média de defecação após a alimentação até 10 min. inferior a 4,00 min. O
fato dos estádios imaturos defecarem logo após a alimentação sugere que são eficientes na
transmissão de T. cruzi. Os resultados de resistência ao jejum de T. sherlocki demonstraram
que as ninfas de 1º estádio são mais sensíveis à privação alimentar, enquanto que as de 5º
estádio são mais resistentes, média de 156,5 dias (5 meses e 22 dias) com máxima de 236,0
dias (~ 8 meses). Assim como em outras espécies de triatomíneos, esta espécie resiste a
prolongados períodos de jejum e seus estádios de desenvolvimento apresentam diferentes
potenciais de transmissão de T. cruzi, segundo os parâmetros biológicos aqui analisados.
xi
ABSTRACT
Biological Aspects and vectorial potential of Triatoma sherlocki Papa, Jurberg,
Carcavallo, Cerqueira & Barata, 2002 (Hemiptera: Reduviidae: Triatominae) in
laboratory conditions.
Triatoma sherlocki has been found in Santo Inácio district, municipality of Gentio do Ouro, in
Bahia state, Brazil. In the natural environment inhabits rocky complex presenting natural
infection by Trypanosoma cruzi. In Encantado, a small artisan quarry-mining community, it
was done the first record of nymphs and adults in the human dwellings. Information about
their biological and behavioral aspects is lacking, making it necessary for the knowledge of its
vectorial potential. In the present study it was evaluated different biological parameters of T.
sherlocki to infer their vectorial capacity. For this, samples were collected in the wild
environment and in the human dwellings in 2009 and in 2010 for the establishment of
colonies maintained under laboratory conditions (24.6 ± 1.3 °C, RH = 71.6 ± 6.3%). The rate
of natural infection was obtained by microscopic examination of feces of triatomines. To the
study of the biological cycle and feeding and defecation behaviors, 123 eggs were randomly
selected from thirty couples kept together. So the development of egg to adult and their
feeding and defecation behaviors after feeding up to 10 min were accompanied. The insects
were fed weekly on mice Mus musculus. The resistance to starvation was studied by randomly
selecting a group of 50 eggs and 50 nymphs of 2nd to 5th instar, which were fed weekly on
mice and observed daily to record hatching or moulting. Thereafter, each triatomine was
observed individually for the record of the period of resistance to starvation unto death.
During field sampling, 471 specimens were collected, 170 in 2009 and 301 in 2010. Of the
170 specimens collected in 2009, 145 were examined for the presence of T. cruzi-like, of
which 20% were positive. Regarding the biological cycle, T. sherlocki showed average
development time from egg to adult of 325.0 ± 40.0 days, indicating that this species has one
generation per year. The number of blood meal ranged from 1 to 11 depending on the instar of
development. This feature increases the vector-host contact, increasing the likelihood of
acquisition or transmission of T. cruzi. The overall mortality rate was low (6.5%) compared to
other species of triatomines, showing that T. sherlocki has well adapted to laboratory
conditions. Among the main results obtained in the study of feeding behavior and defecation
highlights the short time interval between feeding and defecation of the early nymphal instar
of T. sherlocki, average time of 1.38 minutes for the 1st instar and 2.15 minutes for the 2nd
instar, and the 63.2% (n = 114) of the 1st nymphal instar and 56.7% (n = 60) of the 2nd
nymphal instar defecated until 1 minute after the 1st and 2nd feeds, respectively. The nymphs
of remaining instars took longer to defecate, but had an average time of defecation after
feeding up to 10 min lower to 4.00 min. The fact of the immature instars defecates after
feeding suggests that they are efficient in the T. cruzi transmission. The results of starvation
resistance of T. sherlocki demonstrated that the 1st nymphal instar is more sensitive to food
deprivation, while the 5th nymphal instar is more resistant, averaging 156.5 days (5 months
and 22 days) with maximum of 236.0 days (~ 8 months). As in other species of triatomines,
this species withstands prolonged periods of starvation and their instars of development have
different potential transmission of T. cruzi, according to the biological parameters analyzed.
xii
Lista de figuras
Figura 1.1. Distribuição de casos de infecção por Trypanosoma cruzi, com base em
estimativas oficiais e status de transmissão vetorial, em nível mundial, 2006-2009. Fonte:
Adaptado de WHO, 2010.
Figura 1.2. Distribuição de casos de doença de Chagas aguda pela via de transmissão
vetorial, com base em dados oficiais do SINAN, em nível nacional, 2001-2006. Fonte: MSSVS, 2013.
Figura 1.3. Distribuição de casos de doença de Chagas aguda pela via de transmissão
vetorial, com base em dados oficiais do SINAN, no estado da Bahia, 2001-2006. Fonte MSSVS, 2013.
Figura 1.4. Distribuição de casos de doença de Chagas aguda pela via de transmissão
vetorial, com base em dados oficiais do SINAN, em nível nacional, 2007-2013. Fonte: MSSVS, 2013.
Figura 1.5. Membros do complexo de espécies Triatoma brasiliensis: A. Triatoma
brasiliensis brasiliensis (verde), B. Triatoma brasiliensis macromelasoma (roxo), C.
Triatoma juazeirensis (vermelho), D. Triatoma sherlocki (laranja) e E. Triatoma melanica
(azul). F. Mapa de hipótese Ms (linhas) e os dados de ocorrência (pontos) para todos os
membros. G. Dados de ocorrência (pontos) e distribuições potenciais atuais para todos os
membros. Fonte: Adaptado de Costa et al dados não publicados.
Figura 1.6. Triatoma sherlocki.
Figura 3.1: Pontos de coleta de Triatoma sherlocki e distância em linha reta entre as
localidades de Santo Inácio e Encantado, município de Gentio do Ouro, Bahia, Brasil.
Figura 3.2. Município de Gentio do Ouro, Bahia, Brasil. Fonte: Google Earth, 2013.
Figura 3.3. A. Casas construídas de concreto encontradas no distrito de Santo Inácio, Gentio
do Ouro, Bahia. B. ruas pavimentadas, C. ecótopo silvestre onde foram coletados espécimes
de Triatoma sherlocki, D. detalhe das fendas (seta sólida), buracos (seta tracejada) e fezes de
roedores (seta pontilhada) nos complexos rochosos.
Figura 3.4. Tipo de casas encontradas na Vila de Encantado, Gentio do Ouro, Bahia. A. Folha
de palmeira, B. Rochas, C. Barro, D. Ecótopo Silvestre.
Figura 3.5. A. Caixas com 123 frascos de Borrel usados para acondicionar individualmente
os espécimes de T. sherlocki para estudo do ciclo biológico e comportamento alimentar e de
defecação. B. Frasco de Borrel identificado, com papel filtro dobrado em sanfona para
aumentar a área de deslocamento e absorver a umidade. C. Observação do tempo, cronômetro
(cr); do comportamento alimentar e de defecação em recipiente forrado com papel toalha (pt)
xiii
com T. sherlocki (Ts) e camundongo (c). D. Ninfa de 5º estádio alimentando-se. E. Ninfa de
5º estádio ingurgitada. F. Pesagem dos espécimes antes e após a alimentação.
Figura 3.6. A. Frascos de Borrel contendo os espécimes usados para o estudo da resistência
ao jejum (n=350). B. Detalhe do frasco com fêmea e exúvia.
Figura 4.1. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki nos diferentes estádios: ninfas
de 1º (n=123), 2º (n=120), 3º (n=117), 4º (n=117), 5º (n= 114) que realizaram de 1 até 11
repastos em cada fase de desenvolvimento.
Figura 4.2. Percentual de mortalidade de Triatoma sherlocki.
Figura 4.3. Número de adultos de Triatoma sherlocki (machos e fêmeas) que apresentaram
anomalias.
Figura 4.4. Adultos de T.sherlocki normal e apresentando anomalias morfológicas, indicadas
pelas setas azuis. A. Normal. B. Abdome com deformações nos conexivos do quinto e do
sexto segmentos. C. Deslocamento da cabeça para a esquerda. D. Deslocamento da cabeça
para baixo. E. Tíbia incompleta.
Figura 4.5. Tempo decorrido entre o oferecimento da fonte alimentar e a picada para iniciar o
repasto sanguíneo de Triatoma sherlocki. São mostrados os percentis 25 e 75 (limites das
caixas mais próximos e mais distantes de zero, respectivamente), as medianas (linha sólida
dentro da caixa), e as médias (lozango azul). O número de observações testadas em cada
grupo é mostrado entre parênteses. Letras diferentes representam diferenças estatísticas
significativas (Testes de Kruskal-Wallis seguido de comparações de Dunn, p <0,05). *Até o
dia 30/11/2013, das 34 N5 que atingiram a fase adulta, 17 realizaram alimentação (13 machos
e 4 fêmeas). As demais ninfas de quinto estádio continuarão sendo estudadas para obtenção de
dados mais consistentes referentes à fase adulta.
Figura 4.6. A. Duração da alimentação (tempo de sucção). B. Peso ganho absoluto. C. Peso
ganho relativo de Triatoma sherlocki. São mostrados os percentis 25 e 75 (limites das caixas
mais próximos e mais distantes de zero, respectivamente), as medianas (linha sólida dentro da
caixa) e as médias (lozango azul). O número de observações testadas em cada grupo é
mostrado entre parênteses. Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas
(Testes de Kruskal-Wallis e Dunn, P <0,05;). *Até o dia 30/11/2013, das 34 N5 que atingiram
a fase adulta, 17 realizaram alimentação (13 machos e 4 fêmeas). As demais ninfas de quinto
estádio continuarão sendo estudadas para obtenção de dados mais consistentes referentes à
fase adulta.
Figura 4.7. Porcentagem de alimentações com defecação durante o repasto de Triatoma
sherlocki nos diferentes estádios: ninfas de 1º (n=256), 2º (n= 251), 3º (n= 256), 4º (n=280),
5º (n=631) estádios e machos (n=23) e fêmeas (n=17).
xiv
Figura 4.8. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki que defecaram até 1min. após
a alimentação. A. Primeira alimentação: ninfas de 1º (n=114), 2º (n=111), 3º (n=84), 4º
(n=50) e 5º (n=64) estádios. B. Segunda alimentação: ninfas de 1º (n=66), 2º (n=60), 3º
(n=37), 4º (n=12) e 5º (n=21) estádios.
Figura 4.9. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki que defecaram em diferentes
intervalos de tempo até 10 min. após o primeiro repasto sanguíneo.
Figura 4.10. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki que defecaram em diferentes
intervalos de tempo até 10 min. após o segundo repasto sanguíneo.
Figura 4.11. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki que defecaram em diferentes
intervalos de tempo até 10 min. após o terceiro repasto sanguíneo.
Figura 4.12. Porcentagem de alimentações com defecação até 10 min. após a alimentação de
Triatoma sherlocki nos diferentes estádios: ninfas de 1º (n=256), 2º (n= 251), 3º (n= 256), 4º
(n=280), 5º (n=631) estádios e machos (n=23) e fêmeas (n=17). * Até o dia 30/11/2013, das
34 N5 que atingiram a fase adulta, 17 realizaram alimentação (13 machos e 4 fêmeas), das
quais se observou 3 defecações (1 para fêmea e 2 para macho). As demais ninfas de quinto
estádio continuarão sendo estudadas para obtenção de dados mais consistentes referentes à
fase adulta.
Figura 4.13. Tempo decorrido entre o fim do repasto e a defecação de Triatoma sherlocki (até
10 min.). São mostrados os percentis 25 e 75 (limites das caixas mais próximos e mais
distantes de zero, respectivamente), as medianas (linha sólida dentro da caixa), e as médias
(lozango azul). O número de observações testadas em cada grupo é mostrado entre parênteses.
Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas (Testes de Kruskal-Wallis
e Dunn, p<0,05). *Até o dia 30/11/2013, das 34 N5 que atingiram a fase adulta, 17 realizaram
alimentação (13 machos e 4 fêmeas), das quais se observou 3 defecações (1 para fêmea e 2
para os machos). As demais ninfas de quinto estádio continuarão sendo estudadas para
obtenção de dados mais consistentes referentes à fase adulta.
Figura 4.14. Porcentagem dos espécimes de T. sherlocki, ninfas de 1º (n=121), 2º (n=119), 3º
(n=117), 4º (n=116) e 5º (n=114) estádios que giraram o corpo para defecar durante ou após a
alimentação até 10 min.
Figura 4.15. Representação esquemática do comportamento de defecação observado para
alguns espécimes de Triatoma sherlocki. A. Giro de 180º. B. Giro de 170º. C. Giro de 160º.
D. Giro de 90º. c: camundongo, T: triatomíneo.
xv
Lista de Tabelas
Tabela 1.1. Casos de doença de Chagas aguda por modo de transmissão, com base em dados
oficiais do SINAN, em nível nacional de 2001 a 2006. Fonte: MS-SVS, 2013.
Tabela 1.2. Casos de doença de Chagas aguda por modo de transmissão, com base em dados
oficiais do SINAN, em nível nacional de 2007 a 2013. Fonte: MS-SVS, 2013.
Tabela 3.1. Algumas características climáticas e ambientais obtidas pelo sistema de
informação geográfica (SIG) para as duas áreas conhecidas de ocorrência de T. sherlocki.
Fonte: Adaptado de Almeida et al 2009.
Tabela 4.1. Localidades de coleta, ecótopo, coordenadas geográficas, data da coleta, estádio
evolutivo e número de espécimes de Triatoma sherlocki coletados.
Tabela 4.2: Índice de infecção natural de Triatoma sherlocki coletados em 2009, nas
localidades de Santo Inácio e Encantado, município de Gentio do Ouro, Bahia.
Tabela 4.3. Duração das fases de desenvolvimento (em dias) de Triatoma sherlocki.
Tabela 4.4. Número de alimentações em cada fase de desenvolvimento de Triatoma
sherlocki.
Tabela 4.5: Avaliação das defecações durante e após o repasto de Triatoma sherlocki.
Tabela 4.6. Resistência ao Jejum (em dias) de T. sherlocki.
Tabela 5.1. Comparação das médias de duração das fases de desenvolvimento de várias
espécies de triatomíneos.
Tabela 5.2. Comparação das médias do número de alimentações para várias espécies de
triatomíneos.
Tabela 5.3. Comparação dos dados de resistência ao jejum (em dias) de diferentes espécies de
triatomíneos (Adaptado de Cortéz & Gonçalves 1989, Caileaux et al 2011).
xvi
I. INTRODUÇÃO
1. Doença de Chagas.
A Tripanosomíase Americana ou doença de Chagas foi descoberta há mais de um
século por Carlos Justiniano Ribeiro das Chagas, na ocasião da construção da Estrada de
Ferro Central do Brasil, em Minas Gerais. Durante o seu trabalho na campanha de controle da
Malária, Carlos Chagas identificou o primeiro caso humano da doença e subsequentemente
reconheceu o agente etiológico, Trypanosoma (Schizotrypanum) cruzi, o inseto hematófago
vetor [Conorhinus sp., depois Panstrongylus megistus (Burmeister, 1835)] e o reservatório
silvestre (tatu), determinando assim o ciclo de transmissão (Lent 1999). Cento e cinco anos
após a sua descoberta, a doença de Chagas é considerada uma doença tropical negligenciada
por apresentar, entre outros fatores, forte associação com a pobreza, desenvolver-se melhor
em áreas tropicais, além de oferecer pouco incentivo à indústria farmacêutica para investir em
novos medicamentos, uma vez que as pessoas afetadas por essa enfermidade fazem parte de
um mercado com baixo poder aquisitivo (WHO 2010), o que persiste até hoje.
Inicialmente a doença de Chagas foi considerada uma enzootia, pelo fato do parasito
circular entre mamíferos e triatomíneos silvestres presentes nos biótopos naturais. No entanto,
o homem e os animais domésticos passaram a fazer parte do ciclo do protozoário e a doença
tornou-se uma zoonose, espalhando-se pela América Latina em função das ações antrópicas
em biótopos naturais e fatores de natureza política, social e econômica (Dias & Borges 1979,
Foratini 1980). O desenvolvimento da doença, entre os humanos, é favorecido em locais
esquecidos pelo progresso socioeconômico, onde as habitações humanas são precárias, sem
saneamento, onde não há acesso a água potável, aos serviços de saúde e principalmente onde
há desmatamento intensivo. O homem, ao se estabelecer em casas mal construídas, oferece
aos insetos vetores condições propícias para a colonização. As habitações humanas
construídas com materiais disponíveis nos ambientes rurais ou silvestres favorecem a
colonização das espécies no domicílio e essa é uma das condições fundamentais para a
transmissão da infecção (Silveira 2000, WHO 2010). No entanto, focos urbanos de
triatomíneos estão sendo encontrados em habitações precárias nas periferias das cidades, tais
como em Cochabamba (Bolívia); São Luís, Maranhão (Brasil) (Marcondes, 2011).
A principal forma de transmissão desse parasito é a vetorial e ocorre quando os
triatomíneos, ao realizar o repasto sanguíneo, defecam durante ou após a alimentação
eliminando formas infectantes do parasito que entram no organismo do hospedeiro por meio
de lesões da pele ou atravessam as mucosas intactas. Entretanto, a transmissão também pode
ocorrer: pela via vertical, a partir da mãe infectada para o recém-nascido durante a gravidez
1
pela via transplacentária ou durante parto; pela transfusão de sangue e pela doação de órgãos,
a partir de doadores portadores da doença de Chagas para receptores sadios; pela via oral,
ingestão de alimentos, tais como sucos de frutas silvestres contaminados com T. cruzi
provenientes de fezes dos triatomíneos ou quando o próprio inseto é triturado durante a
produção do suco, ou também pela ingestão acidental do inseto por crianças; e ainda por
acidentes de laboratório (Silveira 2011).
A Tripanossomíase Americana apresenta uma fase aguda, de curta duração, que na
maioria dos pacientes progride para uma fase crônica. A fase aguda é geralmente
assintomática, entretanto em 10% dos casos os sinais clínicos começam entre 6 e 10 dias após
a infecção e se caracterizam por um quadro febril passageiro e inespecífico, linfoadenopatia,
esplenomegalia branda e, mais raramente, uma intensa miocardite (Rassi et al 2000).
Segundo Rassi et al (2000), após uma fase aguda sintomática ou não, os pacientes
evoluem para uma fase crônica silenciosa, podendo permanecer assintomáticos (fase
indeterminada) ou evoluir para uma forma cardíaca, digestiva ou mista. Na forma cardíaca,
ocorre principalmente miocardite crônica progressiva e fibrosante e/ou hipertrofia do coração.
Essas alterações podem se manifestar por meio de arritmias e insuficiência cardíaca
congestiva. A forma cardíaca é a principal responsável pela ocorrência de morte súbita, que é
um fenômeno considerado como a principal causa de morte por doença de Chagas. Os
pacientes com a forma digestiva apresentam alterações hipertróficas no esôfago
(megaesôfago) e colón intestinal (megacólon), que levam a problemas como disfagia e
constipação intestinal, respectivamente. A forma mista é caracterizada pelo comprometimento
cardíaco e digestivo simultaneamente.
Atualmente, não se dispõe de vacinas ou fármacos profiláticos para o controle da
doença de Chagas e o medicamento utilizado no tratamento de pacientes na fase aguda, no
Brasil, é o benznidazol (Rochagan®, Roche), o qual é de uso limitado devido à alta
toxicidade. Além disso, esse fármaco apresenta eficiência limitada na fase crônica da doença,
onde a maior parte dos diagnósticos é realizada, embora ainda assim seja utilizado no
tratamento de pacientes crônicos (Dias 2006).
Estima-se que cerca de 10 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas com T.
cruzi, das quais a maioria concentra-se em áreas endêmicas de 21 países da América Latina:
Argentina, Belize, Bolívia (Estado Plurinacional da Bolívia), Brasil, Chile, Colômbia, Costa
Rica, Equador, El Salvador, Guiana Francesa, Guatemala, Guiana, Honduras, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Venezuela (República Bolivariana da
Venezuela) e Uruguai. Entretanto, apesar da doença de Chagas originalmente estar restrita às
Américas do Sul e Central, vem se expandindo como um problema global, emergindo em
2
outras regiões não endêmicas, tais como: América do Norte (Canadá e Estados Unidos da
América), região do Pacífico Ocidental (principalmente Austrália e Japão) e região Européia
(Bélgica, França, Itália, Espanha, Suíça e Reino Unido, Áustria, Croácia, Dinamarca,
Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Romênia e Suécia) (WHO 2010)
(Figura 1.1). A ocorrência desta doença fora da América Latina resulta das migrações da
população das áreas endêmicas para áreas não endêmicas, onde a transmissão subsequente
ocorre pela transfusão de sangue, doação de órgãos e pela via vertical. Há relato de casos
entre os viajantes que retornam da América Latina e até mesmo de crianças adotadas (WHO
2010, Coura & Viñas 2010).
Figura 1.1. Distribuição de casos de infecção por Trypanosoma cruzi, com base em estimativas oficiais e
status de transmissão vetorial, em nível mundial, 2006-2009. Fonte: Adaptado de WHO, 2010.
No Brasil, cerca de cinco milhões de pessoas foram infectadas com T. cruzi na década
de 70, estimando-se em 100 mil casos novos por ano e uma mortalidade superior a 10 mil
casos anuais (Schofield & Dias 1999). A partir da implementação do programa nacional de
controle da doença de Chagas de 1975-1983, esses números decresceram gradativamente
(Silveira et al 1984). Após os primeiros anos do estabelecimento das medidas de controle,
uma pesquisa em nível nacional sobre a soroprevalência da doença de Chagas concluída em
1980 constatou uma redução na prevalência de 4,2% em áreas rurais e 3,1% na população
total (Camargo 1987). Entretanto, os altos índices de morbi-mortalidade dessa enfermidade
ainda fazem da doença uma importante moléstia com grande impacto social no Brasil (Dias
3
1995, Nota Técnica IOC, 2011). Em 2005, o sistema de saúde público gastou oito milhões de
reais com 2.392 pessoas que foram hospitalizadas com doença de Chagas crônica (MS 2006).
Além dos casos crônicos, entre os anos de 2001 e 2006, 25 estados notificaram casos de
doença de Chagas aguda (DCA), perfazendo um total de 2.476 casos, dos quais 1.603 foram
transmitidos pela via vetorial (Figura 1.2, Tabela 1.1), mostrando que essa doença parasitária
pode continuar impactando a economia nacional.
Vetorial
até 77
77 --| 153
153 --| 230
230 --| 306
306 --| 383
Figura 1.2. Distribuição de casos de doença de Chagas aguda pela via de transmissão vetorial, com base em
dados oficiais do SINAN, em nível nacional, 2001-2006. Fonte: MS-SVS, 2013.
Na Região Nordeste do Brasil, considerada área endêmica, os inquéritos nacionais de
prevalência de casos e de vetores mostraram que a mesma foi a segunda em número de
infectados e índice de infestação triatomínica entre 1975 e 1980 (Castro Filho & Silveira
1984). Segundo Vinhaes e Dias (2000), a prevalência da infecção, o adoecimento e a
mortalidade pela doença de Chagas diminuíram no país após a implementação das medidas de
controle. O Inquérito sorológico realizado em escolares de 7 a 14 anos em 14 estados
brasileiros, entre 1987-1989, mostrou que o estado da Bahia acompanhou a tendência de
redução dos índices epidemiológicos nacionais, apresentando 0,03% de soro-reagentes de um
total de 26.657 amostras processadas. Recentemente, entre os anos de 2001 a 2006, dos 2.476
casos de DCA notificados no Brasil, o estado da Bahia se destacou, ocupando o 1º lugar em
notificações (501), sendo que a maioria dos casos (383) foi por transmissão vetorial (Tabela
4
1.1,
Figura
1.2,
Figura
1.3)
(MS-SVS
2013)
http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php.
Tabela1.1. Casos de doença de Chagas aguda por modo de transmissão, com base em dados oficiais do
SINAN, em nível nacional de 2001 a 2006. Fonte: MS-SVS, 2013.
UF Notificação
Ign/Branco
Transfusional
Vetorial
Transplacentária
Total
Rondônia
29
2
12
0
43
Acre
1
0
0
0
1
Amazonas
6
0
17
0
23
Pará
26
0
151
0
177
Amapá
3
0
67
0
70
Maranhão
5
0
9
0
14
Piauí
14
0
147
0
161
Ceará
32
0
24
0
56
Rio Grande do Norte
132
1
112
0
245
Paraíba
26
2
82
0
110
Pernambuco
143
0
158
1
302
Alagoas
6
0
57
2
65
Sergipe
39
1
82
0
122
Bahia
114
3
383
1
501
Minas Gerais
33
2
62
0
97
Espírito Santo
12
2
23
0
37
Rio de Janeiro
29
1
13
0
43
São Paulo
16
0
22
2
40
Paraná
18
0
13
0
31
Santa Catarina
37
0
37
0
74
Rio Grande do Sul
91
2
88
1
182
Mato Grosso do Sul
14
0
15
0
29
Mato Grosso
6
0
5
0
11
Goiás
16
0
21
0
37
Distrito Federal
2
0
3
0
5
850
16
1603
7
2476
Total
Ign.: Ignorado
Nos últimos anos observa-se que o cenário epidemiológico da doença de Chagas no
Brasil vem apresentando tendências de mudanças, com frequentes notificações de casos de
DCA pela via de transmissão oral. De acordo com dados oficiais do Sistema de Informação de
Notificação de Agravos (SINAN), entre os anos de 2007 a 2013, 19 estados notificaram 1.009
casos de DCA, sendo que a maioria dos casos (946) foram registrados na Região Norte. Dos
19 estados que registraram casos de DCA, 6 notificaram 713 casos pela via de transmissão
oral, sendo que a maioria desses casos (692) se concentra na Região Norte (Amazonas, Pará,
5
Amapá e Tocantins). A ocorrência de surtos de doença de Chagas tem sido especialmente
importante no estado do Pará, destacando-se pelo alto número de casos (534) de infecção por
T.
cruzi
pela
ingestão
de
alimentos
(Tabela
1.2,
Figura
1.4)
http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php.
Vetorial
até 19
19 --| 38
38 --| 57
57 --| 76
76 --| 95
Figura 1.3. Distribuição de casos de doença de Chagas aguda pela via de transmissão vetorial, com base
em dados oficiais do SINAN, no estado da Bahia, 2001-2006. Fonte MS-SVS, 2013.
Vetorial
até 7
7 --| 14
14 --| 20
20 --| 27
27 --| 34
Figura 1.4. Distribuição de casos de doença de Chagas aguda pela via de transmissão vetorial, com base em
dados oficiais do SINAN, em nível nacional, 2007-2013. Fonte: MS-SVS, 2013.
6
Embora o número de casos pela via vetorial tenha caído sensivelmente, é importante
salientar que, neste mesmo período (2007-2013), em 15 estados foram notificados 68 casos da
doença de Chagas originados por esse modo de transmissão, mostrando que essa via ainda
encontra-se disseminada em todas as regiões do Brasil. Estes dados evidenciam que as
espécies nativas de triatomíneos ainda representam ameaça para as populações que vivem em
áreas endêmicas, bem como em áreas anteriormente consideradas não endêmicas para essa
enfermidade, como o estado do Pará, onde foram notificados 34 casos pela via de transmissão
vetorial (Tabela 1.2, Figura 1.4). De acordo com os dados do SINAN (2007-2013), os estados
Sergipe, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina não notificaram
casos de DCA desde 2007, o que poderia ser explicado pela eficiência do controle vetorial ou
falhas na detecção e/ou notificação de DCA (Figura 1.4).
Tabela 1.2. Casos de doença de Chagas aguda por modo de transmissão, com base em dados oficiais do
SINAN, em nível nacional de 2007 a 2013. Fonte: MS-SVS, 2013.
UF Notificação
Ign/Branco Transfusional Vetorial Vertical Acidental Oral Outro Total
Rondônia
0
0
2
0
0
0
0
2
Acre
0
0
1
0
0
0
0
1
Amazonas
3
0
5
0
1
50
0
59
Roraima
1
0
0
0
0
0
0
1
187
4
34
2
0
534
0
761
Amapá
4
3
2
0
0
77
0
86
Tocantins
3
0
2
0
0
31
0
36
Maranhão
3
0
7
0
1
20
0
31
Piauí
2
0
3
0
0
0
0
5
Ceará
0
0
1
0
0
0
0
1
Rio Grande do Norte
0
0
1
0
0
0
0
1
Paraíba
0
0
1
0
0
0
0
1
Pernambuco
2
0
0
0
0
0
0
2
Espírito Santo
0
0
0
0
0
1
1
2
Rio de Janeiro
0
0
1
0
0
0
0
1
Rio Grande do Sul
0
0
0
1
0
0
1
2
Mato Grosso do Sul
0
0
2
0
0
0
0
2
Mato Grosso
1
0
3
0
0
0
0
4
Goiás
8
0
3
0
0
0
0
11
214
7
68
3
2
713
2
1009
Pará
Total
Ign.: Ignorado
7
2. Trypanosoma cruzi
2.1. Taxonomia
O parasito Trypanosoma cruzi é um protozoário flagelado pertencente à ordem
Kinetoplastida, família Trypanosomatidae, caracterizado pela existência de um único flagelo e
de cinetoplasto, organela que se localiza próximo ao núcleo e contém o DNA mitocondrial
(Telleria et al 2006). O gênero Trypanosoma é um dos mais importantes dentro da família
Trypanosomatidae por incluir uma série de espécies causadoras de doenças humanas
importantes, como o próprio T. cruzi. Com base no comportamento do parasito nos seus
hospedeiros, principalmente no vetor, o gênero Trypanosoma foi dividido em dois grupos. O
primeiro, chamado de Stercoraria, inclui tripanossomas que se desenvolvem no tubo digestivo
do triatomíneo, progredindo no sentido da porção intestinal com liberação de formas
infectantes pelas fezes, tais como T. cruzi. O segundo, chamado de Salivaria, inclui
tripanossomas que se desenvolvem inicialmente no tubo digestivo e que posteriormente
atravessam o epitélio digestivo e atingem as glândulas salivares, onde se encontram as formas
infectantes que são transmitidas pela forma inoculativa. Neste grupo incluem-se outros
tripanossomas, como é o caso do Trypanosoma rangeli Tejera, 1920 (Hoare 1964, Rey 2008).
De acordo com Zingales (2011), Trypanosoma cruzi é representado por populações
que circulam em hospedeiros mamíferos e insetos vetores. Estas populações, também
denominadas isolados ou cepas, apresentam grande heterogeneidade de comportamento
biológico, variações na sensibilidade a drogas e tropismo tissular. A explicação para esta
diversidade fenotípica reside no fato de T. cruzi ser um organismo diplóide que se multiplica
predominantemente por divisão binária. Desta forma, o genoma de cada população poderia
evoluir independentemente.
Atualmente, a classificação taxonômica busca refletir, com a maior precisão possível,
a história evolutiva dos taxa. Além disso, quando o organismo em estudo é de importância
médica, é desejável que os dados que levam à identificação taxonômica das unidades sejam de
relevância clínica e/ou epidemiológica. Estudos moleculares possibilitaram a caracterização
de tipos e subtipos de T.cruzi, considerando-se o ponto de vista epidemiológico e de
patogenia. A classificação proposta atualmente divide os tipos e subtipos de T. cruzi em seis
linhagens: TCI, TCII, TCIII, TCIV, TCV, TCVI (Souto et al 1996, Brisse et al 2001, Zingales
et al 2009).
8
2.2. Ciclo biológico
Durante o ciclo de vida, T. cruzi apresenta basicamente quatro formas distintas
dependendo do hospedeiro em que se encontre. Nos hospedeiros vertebrados são observadas
as formas amastigotas intracelulares e tripomastigotas sanguíneas, enquanto nos hospedeiros
invertebrados ocorrem as formas epimastigotas e tripomastigotas metacíclicas (Tyler &
Engman 2001). Este parasito apresenta um ciclo de vida heteroxênico alternado entre
hospedeiros invertebrados (triatomíneos), que atuam como seus vetores, e também uma
grande variedade de hospedeiros mamíferos. Durante a fase no hospedeiro invertebrado, que
se infecta pela ingestão de sangue durante o repasto sanguíneo, formas tripomastigotas
sanguíneas sofrem diferenciação no estômago, originando formas esferomastigotas que ainda
se transformam em epimastigotas. Em seguida, se aderem à superfície do intestino
multiplicando-se intensamente. Na forma de epimastigotas migram para o intestino posterior
atingindo o reto, transformando-se em tripomastigotas metacíclicas, os quais são eliminados
nas fezes e urina do inseto vetor (Tyler & Engman 2001).
Uma vez que as formas infectivas são depositadas na pele dos hospedeiros mamíferos,
elas encontram as primeiras barreiras do sistema imune inato, como a pele e mucosas, que
constituem barreiras físicas, e posteriormente com o sistema complemento (Kipnis & Da
Silva 1989). No hospedeiro vertebrado, as formas tripomastigotas metacíclicas infectam as
células nucleadas e diferenciam-se em amastigotas, uma forma proliferativa intracelular.
Posteriormente, os amastigotas se diferenciam em formas tripomastigotas sanguíneas, as quais
rompem as células hospedeiras e atingem a corrente sanguínea, podendo infectar novas
células do hospedeiro ou serem ingeridas por triatomíneos na ocasião de um novo repasto. No
intestino médio do triatomíneo, os parasitos transformam-se em epimastigota, reiniciando o
ciclo (Tyler & Engman 2001).
2.3. Hospedeiros vertebrados de T. cruzi
Mais de 180 espécies de mamíferos domésticos, sinantrópicos e silvestres são passíveis
de estarem infectados com T. cruzi e participarem do ciclo de transmissão do parasito. Estes
hospedeiros compõem oito ordens da classe Mammalia: Marsupialia, Edentata, Chiroptera,
Carnivora, Rodentia, Primates, Lagomorpha, Artiodactyla (Jansen et al 1999, WHO 2002).
Apesar da identificação de um grande número de espécies de mamíferos naturalmente
infectados com T. cruzi, considera-se como hospedeiro reservatório uma espécie ou um grupo
de espécies responsáveis pela manutenção em longo prazo de um dado parasito em um
ambiente. Assim, estudos mais aprofundados são necessários para elucidar o papel de
9
algumas espécies na manutenção e/ou transmissão de T. cruzi na natureza (Noireau et al
2009).
Os Marsupialia (gambás) e os Xenarthra (tatus e tamanduás) têm uma interação antiga
com T. cruzi, sendo considerados os primeiros hospedeiros deste parasito (Deane et al 1984).
Curiosamente, espécies do gênero Didelphis apresentam uma interação única com T.cruzi,
pois esses animais são capazes de manter concomitantemente formas amastigotas de
multiplicação nos tecidos e formas epimastigotas de multiplicação e diferenciação em suas
glândulas de odor, sugerindo sua atuação tanto como reservatório como vetor de T. cruzi
(Deane et al 1984). De maneira adicional, demonstrou-se que a metaciclogênese de T. cruzi
na luz da glândula odorífera ocorre sem a adesão do parasito e pode ser significativa
(envolvendo até 50% dos T. cruzi presentes), no entanto, a capacidade “vetorial” de
Didelphidae em condições naturais ainda é desconhecida (Carreira et al 2001).
No ambiente doméstico, o ser humano é o reservatório mais importante de T. cruzi
conforme demonstrado por estudos de investigação da fonte alimentar, realizados a partir do
conteúdo intestinal de triatomíneos, em países como Brasil, Chile, Costa Rica e Venezuela
(WHO 2002). Adicionalmente, outros fatores podem ser considerados, tais como: a
espectativa de vida dos seres humanos, com mais de 60 anos, e a parasitemia, que pode
permanecer positiva por mais de 40 anos. No entanto, é importante ressaltar o papel
significativo que desempenham os cães e gatos na dinâmica de transmissão, uma vez que são
encontrados infectados com T. cruzi com frequência e também pelo fato de serem
considerados animais sentinelas. Os anfíbios, répteis e aves são refratários à infecção, devido
ao efeito lítico mediado pelo complemento do sistema imune do hospedeiro, entretanto,
participam na manutenção de colônias de triatomíneos no peridomicílio (Kolien & Shaub
2000, WHO 2002).
3. Subfamília Triatominae
3.1. Taxonomia
Os triatomíneos são insetos pertencentes à ordem Hemiptera, subordem Heteroptera,
família Reduviidae, subfamília Triatominae. A principal característica biológica dos
triatomíneos é sua condição hematofágica obrigatória. Todos os triatomíneos necessitam
alimentar-se de sangue para completar o seu ciclo de desenvolvimento, entretanto, esses
insetos podem exercer o coprofagismo, a predação (ingestão da hemolinfa de outros
invertebrados) e a cleptohematofagia, quando se alimentam de sangue de animais vertebrados
através da perfuração do intestino de outros insetos hematófagos (Sandoval et al 2000). Os
10
triatomíneos, também conhecidos como “barbeiros”, “vinchucas”, “chirimanchas”, “chupões”
e “bicudos”, entre outros, apresentam coloração geral do corpo negra com padrão de
elementos que variam do amarelo claro ao marrom, laranja e várias tonalidades de vermelho.
Esses insetos são facilmente reconhecíveis por apresentarem um par de asas do tipo
hemiélitros e aparelho bucal picador sugador, que permanece alojado em uma bainha ou
rostro quando em repouso (Lent & Wygodzinsky 1979).
Supõe-se que os integrantes da subfamília Triatominae evoluíram a partir de grupos de
reduvídeos predadores que habitavam ninhos de animais, sendo a hematofagia obrigatória
resultado de uma modificação evolutiva que se originou da hematofagia facultativa (Dujardin
et al 1999, Paula et al 2005). Assim, a origem polifilética dos triatomíneos está fortemente
apoiada na hipótese do comportamento e dos hábitos alimentares de grupos de triatomíneos
que mantinham relações estreitas com determinados hospedeiros vertebrados. Entretanto, a
origem dos triatomíneos é controversa, e muitos defendem a hipótese clássica de
monofiletismo, que sustenta que a adaptação à hematofagia, que é considerada uma
sinapomorfia do grupo, pode ter ocorrido uma única vez e, dessa forma, todas as espécies
compartilham um ancestral comum exclusivo (Lent & Wygodzinsky 1979, Hypša et al 2002).
Assim, o monofiletismo dos triatomíneos poderia ser suportado por três possíveis
autapomorfias: i) hábito hematofágico, ii) presença de uma conexão membranosa flexível
entre o 2º e 3º segmentos do rostro facilitando a sucção e iii) perda das glândulas de cheiro
abdominais dorsais das ninfas (Lent & Wygodzinsky 1979, Galvão 2003).
Atualmente, a sufamília Triatominae é composta por 147 espécies, classificadas em 5
tribos e 18 gêneros. As tribos Rhodniini e Triatomini compreendem os gêneros de maior
importância epidemiológica (Rhodnius, Triatoma e Panstrongylus) enquanto as tribos
Alberproseniini, Bolboderini, Cavernicolini têm menor importância. A distribuição geográfica
dos triatomíneos abrange principalmente a região Neotropical, no entanto, 14 espécies são
encontradas no Velho Mundo: seis do gênero Linchosteus, encontradas na Índia, e oito do
gênero Triatoma, que ocorrem na África, Ásia e Austrália (Lent & Wygodzinsky 1979,
Galvão et al 2003, Forero et al 2004, Poinar 2005, Costa et al 2006, Galvão & Angulo 2006,
Bérenger & Blanchet 2007, Costa & Felix 2007, Martínez et al 2007, Sandoval et al 2007,
Jurberg et al 2009, Schofield & Galvão 2009, Gonçalves et al 2013, Jurberg et al 2013,
Poinar, 2013).
3.2. Domiciliação
A domiciliação dos triatomíneos é um dos principais fatores para o aumento do risco de
transmissão de T. cruzi para os seres humanos (Lent & Wygodzinsky 1979). As hipóteses
11
elaboradas para explicar o processo de domiciliação são controversas, admitindo-se que pode
ter surgido a partir de um simples oportunismo das espécies de triatomíneos silvestres frente a
escassez de fontes de alimento naturais ou a partir de um possível processo gradual de
adaptação, onde o isolamento domiciliar tenderia, cada vez mais, à diferenciação desse
comportamento. Esta diferenciação resultaria na possibilidade de evolução no sentido de
população acentuada ou estritamente sinantrópica (Forattini 1980).
Segundo Futuyma (1995), o termo adaptação pode ser definido como o processo pelo
qual uma característica, devido ao aumento que confere o valor adaptativo, foi moldada por
forças específicas de seleção natural, fixando a variação genética. Essas características
permitem o desenvolvimento de uma certa harmonia com o ambiente, possibilitando o ajuste
das espécies para a sua sobrevivência em um determinado local. As características préadaptativas ao sofrerem pequenas mudanças adaptativas, em virtude do processo evolutivo,
atuam positivamente para a fixação de um novo caráter (Bock 1959). No caso dos
triatomíneos, o ecletismo alimentar pode ser considerado uma característica pré-adaptativa
que favoreceu o estabelecimento das populações no ecótopo domiciliar (Aragão 1975, 1983).
Adicionalmente supõe-se que a adaptação ao ambiente antrópico pode ter favorecido a
dispersão dos triatomíneos, não somente pela atuação de processos mecânicos associados à
dispersão, mas pela pressão genético-seletiva a que as populações são submetidas no novo
ambiente, uma vez que o domicílio minimiza as diferenças ambientais, sendo relativamente
uniforme mesmo em diferentes condições climáticas (Forattini 1980, Aragão 1983). Em
revisão realizada por Schofield e Dias (1999), os autores teorizam que o processo de
domiciliação em triatomíneos pode ser considerado como uma extensão da rota evolutiva do
hábito predador para o hábito hematofágico em ninhos-abrigo, onde o hábitat domiciliar
representa um novo tipo de “ninho” de vertebrado. Os autores mencionam ainda que a
domiciliação representa uma especialização.
Os triatomíneos eram originalmente silvestres, mas algumas espécies tornaram-se
domiciliadas em função de uma série de fatores. Entre os fatores determinantes da
colonização dos triatomíneos nas habitações humanas estão às modificações antrópicas
ambientais que conduziram ao desaparecimento de hospedeiros vertebrados, em uma dada
região, que serviam como fonte alimento para esses insetos hematófagos, levando à busca por
alimento no interior das casas. A natureza e qualidade das construções, assim como as
condições de armazenamento de materiais e colheitas dentro e ao redor da casa são
importantes determinantes da colonização do domicílio por esses vetores. Habitats
intradomiciliares e peridomiciliares podem criar micro-habitats favoráveis que conferem
proteção contra predadores. Entre os micro-habitats podem-se destacar rachaduras e fendas
12
nas paredes de barro ou de concreto, junções entre os tijolos, espaços entre pedaços de
madeira da cama, embaixo de colchões, em telhados feitos de telhas ou folhas de palmeiras e
pisos de terra. Outros fatores incluem a disponibilidade de sangue abundante dos seres
humanos (WHO 2002).
A constatação de que a epidemiologia da doença da Chagas está estritamente
relacionada com a domiciliação dos vetores, onde a transmissão vetorial é favorecida pela
coabitação vetor-homem, foi importante para a proposição de uma classificação dos
triatomíneos, que levam em consideração o seu grau de domiciliação ou sinantropia, os quais
se relacionam com o seu potencial vetorial (Silveira & Rezende 1994, Silveira 1999). Dessa
forma, as espécies podem ser reunidas nos seguintes grupos: i) espécies estritamente
domiciliadas ou excepcionalmente encontradas em ecótopos naturais; ii) espécies encontradas
em ambos os ecótopos domésticos e silvestres, com frequentes colônias domiciliadas; iii)
espécies silvestres, principalmente, mas às vezes capturados no ambiente doméstico; e iv)
espécies encontradas exclusivamente nos ecótopos silvestres (Zeledón 1974).
Esta classificação apresenta também importantes implicações para o controle, pois
dependendo do grau de adaptação de diferentes espécies vetoras a ecótopos artificiais,
principalmente o domicílio humano, a vulnerabilidade do triatomíneo ao controle será maior
ou menor. Espécies introduzidas, alóctones, são passíveis de eliminação e, uma vez
eliminadas, isso pode significar a interrupção da transmissão vetorial em determinada área,
desde que não existam, neste local, espécies nativas e desde que se impeça a reinfestação a
partir de outras áreas. Considerando as espécies autóctones, o controle esperado é a
eliminação de colônias domiciliadas e o impedimento da recolonização pela manutenção de
ações de vigilância entomológica. Por meio dessas ações evita-se a continuidade do risco de
transmissão (Silveira & Dias 2011).
3.3. Controle vetorial no Brasil
A doença de Chagas não pode ser erradicada por se tratar de uma zoonose, uma vez que
o protozoário circula entre homens e animais. O grande número de animais reservatórios
também torna impossível a eliminação de todas as fontes de infecção. Adicionalmente, não há
vacinas eficazes ou tratamentos antiparasitários disponíveis para cura na fase crônica da
doença. Dessa forma, o controle da transmissão vetorial por meio da aplicação de inseticidas
para matar triatomíneos domiciliados, juntamente com a melhoria das casas para torná-las
refratária a colonização dos vetores, são as medidas disponíveis e viáveis para reduzir as
oportunidades de interação entre os vetores e seres humanos e, consequentemente, a
transmissão de T. cruzi (WHO 2013).
13
No Brasil, o Programa Nacional de Controle da Doença de Chagas foi implementado
em 1975-1983, quando o principal vetor, Triatoma infestans Klug, 1834, espécie alóctone e
estritamente domiciliada, infestava domicílios de 700 municípios em 12 estados brasileiros
(Silveira et al 1984). Em 1991, o Brasil uniu-se a Iniciativa do Cone Sul, um consórcio
internacional formado por Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai, e mais tarde
Peru, com o objetivo principal de reduzir a transmissão vetorial através da aplicação de
inseticidas contra T. infestans (Silveira & Vinhaes 1999). A definição adotada para
eliminação deste vetor foi “a falta de detecção de espécimes de T. infestans nos domicílios por
um período mínimo de três anos em uma área com vigilância entomológica estabelecida”.
Após 15 anos de esforços, em 2006, na Conferência da Iniciativa do Cone Sul, a Organização
Pan-Americana de Saúde (OPAS) certificou o Brasil como livre da transmissão vetorial por T.
infestans (Silveira & Dias 2011, Gurgel-Gonçalves et al 2012a).
Embora o Brasil tenha conquistado o status de interrupção da transmissão vetorial por
T. infestans em seu território, atualmente ainda são detectados focos residuais desse vetor
(Silveira 2011). A existência de focos remanescentes de T. infestans torna imperativo a
manutenção de ações de vigilância que impeçam o repovoamento e a dispersão dessas
populações no território nacional. Outra questão importante é que apesar da quase completa
eliminação das populações de T. infestans, espécies de vetores nativas começaram e/ou
continuaram invadindo o domicílio, o que possibilitou, em alguns casos, a colonização das
habitações humanas e estruturas peridomiciliares (Costa 1999, Almeida et al 2000, Costa &
Lorenzo 2009, Silveira 2011). As espécies autóctones representam grande desafio para o
controle vetorial, porque ao contrário das espécies introduzidas domiciliadas, que são
passíveis de eliminação, as espécies nativas não podem ser eliminadas do intradomicílio, visto
que podem eventualmente restabelecer colônias a partir de focos vizinhos ou silvestres.
Assim, faz-se necessário a sustentabilidade dos níveis de controle alcançados para a
transmissão vetorial domiciliar, a fim de evitar a reemergência ou emergência da doença de
Chagas nas diferentes regiões do país (Silveira, 2011).
3.4. Complexo Triatoma brasiliensis
Complexo de espécies crípticas pode ser definido como um conjunto de duas ou mais
espécies indistinguíveis por métodos morfológicos (pelo menos superficialmente) e que são
ou foram classificadas em um mesmo táxon (Bickiford et al 2000). Outros autores consideram
que tais espécies devam apresentar ainda divergência evolutiva recente, sejam separáveis
apenas no nível molecular, ocorram em simpatria e apresentem isolamento reprodutivo
14
(Stebbins 1950 apud Bickiford et al 2000). A ocorrência de complexos é comum entre os
artrópodes, inclusive nos de importância médica, como os triatomíneos. Os membros do
gênero Triatoma são agrupados em complexos e subcomplexos com base em semelhanças
morfológicas, distribuição geográfica, importância epidemiológica, relações filogenéticas
entre outros. Até a presente data, não há consenso sobre as características que definem
complexos (Usinger et al 1966, Costa e Lorenzo 2009, Rosa et al 2012).
Triatoma brasiliensis foi descrita por Neiva em 1911, a partir de exemplares
provenientes de Caicó, Rio Grande do Norte. Posteriomente, Neiva e Lent (1941), ao
examinarem exemplares oriundos do município de Espinosa, Minas Gerais, conferiram o
status subespécífico a esse novo padrão: Triatoma brasiliensis melanica Neiva & Lent, 1941,
por se considerar uma variação do padrão cromático de T. brasiliensis. Anos mais tarde,
Galvão (1956), com base em espécimes dos municípios de Petrolina, estado de Pernambuco e
Curaçá, estado da Bahia, ilustrou e caracterizou uma nova subespécie em uma chave
taxonômica: Triatoma brasiliensis macromelasoma Galvão, 1956. Mais tarde, Lent e
Wygodzinsky (1979) sugeriram uma sinonímia para as subespécies de T. brasiliensis,
afirmando que formas intermediárias poderiam ser encontradas na natureza.
Estudos foram desenvolvidos visando a geração de dados que oferecessem mais suporte
para a elucidação do status taxonômico, história evolutiva e importância epidemiológica das
diferentes unidades evolutivas de T. brasiliensis. Pesquisas conduzidas sobre essas diferentes
populações, tais como “brasiliensis”, coletadas em Caicó (RN); “melanica”, coletada em
Espinosa (MG), “macromelasoma” coletada em Petrolina (PE) e “juazeirensis”, coletadas em
Juazeiro (BA), mostraram que T. brasiliensis é uma espécie politípica compreendendo
diferentes populações com potenciais epidemiológicos distintos (Costa et al 1997a, Costa et
al 1997b, Costa & Marchon-Silva 1998, Monteiro et al 2004).
De forma adicional, outras pesquisas indicaram diferenças nessas populações, como
estudos morfológicos, que demonstraram diferenças na ornamentação no exocório dos ovos e
na coloração dos adultos (Costa et al 1997a). Do mesmo modo, estudos isoenzimáticos por
eletroforese mostraram, através da análise de nove loci, significativas distâncias genéticas
(Costa et al 1997b). Outra importante contribuição foi obtida através de estudos ecológicos
com os quais foi possível provar por modelagem de nicho ecológico que os padrões de
coloração dessas diferentes populações são estáveis e não influenciados pelos diferentes
ambientes em que estão distribuídas, além de mostrar também na matriz de distância
ecológica a diferenciação de cada um dos membros do complexo T. brasiliensis (Costa et al
2002). Além disso, estudos biológicos detectaram baixa compatibilidade reprodutiva em
15
cruzamentos experimentais entre as populações “brasiliensis” e “melanica” (Costa et al
2003b).
Mediante o desenvolvimento de estudos moleculares por análise das sequencias de
DNA mitocondrial do gene Cyt B foi possível detectar distâncias genéticas significantes entre
as unidades evolutivas (Monteiro et al 2004). Essas evidências mostraram que as quatro
populações distintas (“brasiliensis”, “melanica”, “macromelasoma” e “juazeirensis”) são
entidades taxonômicas. Através da técnica de agrupamento de clados e análises
filogeográficas, foi possível demonstrar ainda que os taxa acima mencionadas foram resultado
de expansão populacional seguida por fragmentação ocorrida no passado e que a
diferenciação ocorreu devido ao isolamento por distância geográfica, mostrando quatro
agrupamentos bem definidos, e demonstrando também que as unidades evolutivas “juazeiro”
e “melanica” apresentaram maior distância genética em relação ao taxon “brasiliensis”
(Monteiro et al 2004).
A
avaliação
integrada
das
evidências
geradas
pelos
estudos
supracitados
fundamentaram a proposição de que a espécie T. brasiliensis trata-se de um grupo
monofilético, sendo considerado um complexo de espécies denominado “complexo de
espécies Triatoma brasiliensis”, o qual é composto por: Triatoma brasiliensis brasiliensis,
Triatoma brasiliensis macromelasoma, Triatoma juazeirensis Costa & Felix, 2007 e Triatoma
melanica (Figura 1.5 A-C e E).
16
A
B
C
F
T. b. brasiliensis
Neiva, 1911
T. b. macromelasoma
Galvão, 1956
G
T. juazeirensis
Costa & Felix, 2007
T. sherlocki
Papa et al 2002
T. melanica Neiva
& Lent 1941
Fotos: Vanessa Lima Neiva
E
D
Figura 1.5: Membros do complexo de espécies Triatoma brasiliensis: A. Triatoma b. brasiliensis (verde), B. Triatoma b. macromelasoma (roxo), C.
Triatoma juazeirensis (vermelho), D. Triatoma sherlocki (laranja) e E. Triatoma melanica (azul). Escala: 0,5 cm. F. Mapa de hipótese Ms (linhas) e os
dados de ocorrência (pontos) para todos os membros. G. Dados de ocorrência (pontos) e distribuições potenciais atuais para todos os membros. Fonte:
Adaptado de Costa et al dados não publicados.
17
Em 2009, Mendonça et al realizaram o sequenciamento de fragmentos do DNA
mitocondrial (Cyt B e RNA ribosomal 16S) de Triatoma sherlocki Papa, Jurberg, Carcavallo,
Cerqueira & Barata, 2002, sugerindo sua inclusão neste complexo de espécies (Figura 1.5 D).
Costa et al (2013), com base nos resultados dos estudos multidisciplinares, elaboraram chave
de identificação incluindo os cinco membros do complexo de espécies T. brasiliensis.
O complexo T. brasiliensis apresenta-se distribuído em 12 estados do Brasil, ocorrendo
principalmente nos biomas caatinga e cerrado (Costa et al 2003a, Almeida et al 2009). Os
integrantes deste complexo apresentam diferenças em termos de importância epidemiológica,
considerando a sua distribuição geográfica, a taxa de infecção natural por T. cruzi e a
capacidade de infestar o peridomicílio e colonizar o interior das casas (Costa et al 2003a,
Costa et al 2006, Costa & Felix 2007, Almeida et al 2009).
Entre os membros do complexo, T. b. brasiliensis é considerado o mais importante
vetor da doença de Chagas em áreas semi-áridas do nordeste brasileiro, uma vez que
apresenta uma das mais altas taxas de infecção por T. cruzi, exibe altos índices de infestação
intradomiciliar em alguns estados, além da sua ampla distribuição geográfica, sendo
encontrado em: Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Em Goiás e Tocantins sua presença é eventual e parece estar correlacionada ao transporte
passivo desses vetores, já que através de buscas exaustivas nesses estados não foi possível
encontrar T. b. brasiliensis no ambiente silvestre (Costa et al dados não publicados).
Costa et al (dados não publicados) analisaram o potencial de distribuição de cada
membro do complexo T. brasiliensis, por meio da aplicação da modelagem de nicho
ecológico, e avaliaram o potencial para colonizar novas áreas atualmente (Figura 1.5 G) e em
resposta às mudanças climáticas para o período 2020-2050 (Figura 1.5 F). Os resultados
sugerem que, apesar de não ocorrerem mudanças na distribuição dos membros do complexo
em grande escala em reação às mudanças climáticas nesta região, a subespécie mais provável
para colonizar novas áreas é T. b. brasiliensis. Projeções da modelagem sugerem que este
vetor poderia encontrar condições adequadas na parte central do cerrado, em Tocantins e
Goiás, noroeste de Minas Gerais e oeste da Bahia. Corroborando esses dados deve-se
considerar que esta subespécie é conhecida por ter alta variabilidade genética (Costa et al
1997b, Monteiro et al 2004) e hábitos alimentares ecléticos, incluíndo sangue humano (Costa
et al 1998, Alencar 1987), de tal forma que pode ser capaz de explorar novas possibilidades
ambientais e ecológicas. Além disso, este vetor é encontrado em outros ecótopos diferentes do
intradomicílio, como no ambiente silvestres (pedregais) e no peridomicílio (galinheiros,
currais, pombais, etc) (Costa et al 2003a).
18
Triatoma melanica está distribuido no estado de Minas Gerais (Figura 1.5 E, G),
apresenta hábitos exclusivamente silvestres (predregais), podendo, eventualmente, invadir o
domicílio, principlamente nos períodos mais secos. Apesar de ser encontrada naturalmente
infectada por T. cruzi (Costa et al 1998), ainda não foi encontrada colonizando o interior das
casas (Costa et al 2003a).
Triatoma b. macromelasoma precisa ser melhor estudado quanto à suscetibilidade ao
parasito T. cruzi, pois ainda não foi encontrado positivo para esse protozoário (Costa et al
1998, Gumiel 2011). Sua distribuição geográfica está restrita ao estado de Pernambuco, com
exceção da zona da mata e da região metropolitana (Figura 1.5 B, G). Entretanto, essa
subespécie é capturada com frequência no peridomicílio, mas pode também ser encontrada no
interior do domicílio, formando numerosas colônias (Costa et al 1998, 2003a).
Triatoma juazeirensis é encontrado com facilidade no peridomicilio e no ambiente
silvestre (pedregais), e também invadindo e colonizando o interior das casas. Encontra-se
distribuída no estado da Bahia e alguns espécimes foram capturados no sudoeste de
Pernambuco (Figura 1.5 E, G). Espécimes coletados recentemente no ambiente silvestre no
estado da Bahia apresentaram taxa de infecção natural por T.cruzi (Costa et al, comunicação
pessoal).
Triatoma sherlocki parece estar restrito à região noroeste central do estado da Bahia
(município de Gentio do Ouro) (Figura 1.5 D, G). Embora tenha sido considerado
exclusivamente silvestre, recentemente foram encontradas ninfas e adultos no intradomicílio
na localidade de Encantado, indicando que essa espécie encontra-se em um possível processo
de domiciliação. Espécimes coletados no ambiente silvestre nas adjacências dos domicílios
das localidades de Santo Inácio e de Encantado apresentaram taxa de 10,9% de infecção
natural por T. cruzi (Almeida et al 2009).
3.5. Triatoma sherlocki
Em 1975, 127 espécimes silvestres de uma espécie não identicada foram coletados na
localidade de Santo Inácio, município de Gentio do Ouro, estado da Bahia. Esta mesma região
era reconhecida como de ocorrência de Triatoma bahiensis Sherlock & Serafim, 1967,
Triatoma pessoai Sherlock & Serafim, 1967 e Triatoma lenti Sherlock & Serafim, 1967. Em
1979, Lent e Wygodzinsky estudaram essas três espécies em busca de caracteres morfológicos
e morfométricos que permitissem a separação específica, no entanto, encontraram apenas
variações que não eram suficientes para caracterizá-las, o que levou esses autores a
sinonimizar essas espécies.
19
Cerqueira (1982) apud Papa et al (2002) realizou um estudo de morfologia e
biogenética por meio de cruzamentos experimentais entre T. brasiliensis (provavelmente T.
juazeirensis, pois foi coletado na Bahia) e espécimes silvestres coletados em Santo Inácio,
visando avaliar a compatibilidade genética por meio da obtenção de híbridos. Após um estudo
morfológico, concluiu-se que a espécie (não identificada) poderia ser uma subespécie de T.
brasiliensis, classificando-a como Triatoma brasiliensis santinacensis Cerqueira, 1982. As
tentativas de obtenção de híbridos em laboratório dos espécimes silvestres e T. lenti não
tiveram sucesso ou demonstraram que os híbridos apresentavam dificuldades de adaptação,
com altos índices de mortalidade durante os estádios ninfais (Cerqueira 1982 apud Papa et al
2002, Heitzemann-Fontenele 1983).
Apesar de T. sherlocki ter sido primeiramente descrito como uma subespécie de T.
brasiliensis, um estudo morfológico detalhado comparativo dos espécimes coletados em 1975
em Santo Inácio e de T. lenti foi realizado. Esse estudo compreendia as comparações das
estruturas fálicas, do escutelo, do pronoto, do conexivo e das asas anteriores e posteriores.
Através das análises morfológicas comparativas foi possível identificar características
morfológicas específicas e consistentes, tais como as estruturas da genitália, as asas anteriores
reduzidas e as manchas vermelho-alaranjadas do conexivo e pernas, o que levou a descrição
Foto: Vanessa Lima Neiva
de Triatoma sherlocki como uma nova espécie (Figura 1.6) (Papa et al 2002).
Figura 1.6. Triatoma sherlocki. Escala: 0,5 cm.
Triatoma sherlocki foi originalmente considerado como exclusivamente silvestre na
ocasião da sua descrição, em 2002. Entretanto, anos mais tarde, Almeida et al (2009),
realizando pesquisas entomológicas em 2007 e 2008 no município de Gentio do Ouro,
20
reportaram pela primeira vez a ocorrência dessa espécie no ambiente silvestre em uma outra
localidade, Encantado, onde foi realizado também o primeiro registro de um possível processo
de colonização do domicílio. Essas investigações foram conduzidas nas localidades de Santo
Inácio e Encantado no ambiente silvestre e domiciliar, visando vistoriar e realizar a coleta
desse vetor em diferentes ecótopos, e no laboratório pesquisar a presença de T. cruzi, bem
como discutir suas implicações epidemiológicas.
Em Encantado, das 19 casas pesquisadas, 6 estavam positivas para T. sherlocki no
intradomicílio: dois machos e duas fêmeas foram encontrados em casas de barro; dois
machos, duas fêmeas e três ninfas em casa de barro e rocha e dois machos em casas
construídas apenas com rochas. Apesar da presença de ninfas e adultos no interior das casas,
observou-se baixo número de exemplares. Adicionalmente, foi detectada uma alta diversidade
de predadores, especialmente aranhas, como Bothriurus asper Pocock, 1893, possivelmente
responsável pela baixa densidade de triatomíneos (Almeida et al 2009). De acordo com
registros da FUNASA, em sua localidade-tipo (Santo Inácio), embora ocorram invasões
domiciliares, nunca foi constatado qualquer indício de domiciliação de T. sherlocki.
No ecótopo silvestre foram coletados 70 espécimes de T. sherlocki, dos quais 64 foram
examinados para infecção por T. cruzi. Dos 64 espécimes examinados, 10,9% apresentaram
infecção natural por T. cruzi (Almeida et al 2009). Este ambiente natural incluía formações
rochosas desprovidas de vegetação, onde este vetor colonizava fendas, fragmentos de rochas e
sua superfície, sendo capturados no momento em que saíam para o repasto noturno (Almeida
et al 2009). Em seu micro-hábitat, este triatomíneo divide seu abrigo com roedores, Kerodon
rupestris (Wied-Neuwied, 1820), animal muito comum neste tipo de ambiente (Cerqueira
1982 comunicação pessoal apud Mendonça et al 2009). Triatoma sherlocki é uma espécie
braquíptera e experimentos de laboratório determinaram que ela não é capaz de voar,
entretanto a sua capacidade de dispersão pode ser favorecida por pernas longas (Almeida et al
2012).
Aspectos ecológicos sobre T. sherlocki foram registrados, tais como: captura de ninfas e
adultos nas habitações humanas da localidade de Encantado, registros de invasões dos
domicílios em Santo Inácio, existência de populações silvestres nas duas localidades, estudos
sobre a infecção natural por T. cruzi. Entretanto, aspectos de sua biologia e estudos sobre a
eficiência na transmissão desse protozoário são inexistentes. Experimentos para caracterizar a
biologia e aspectos comportamentais das diferentes espécies de triatomíneos são
imprescindíveis para apoiar as atividades de vigilância entomológica da doença de Chagas,
tendo também importância operacional nas atividades de controle e/ou eliminação de espécies
que apresentem tendências à domiciação.
21
4. Parâmetros biológicos dos vetores e sua importância para a transmissão de T.
cruzi
Os estudos dos parâmetros biológicos são especialmente importantes para determinar o
potencial vetorial dos triatomíneos, pois fornecem informações específicas sobre os diferentes
graus de comportamento e interação entre as espécies vetoras e o hospedeiro (Dias 1956).
Distintas características biológicas podem ser detectadas entre espécies, entre os estádios de
desenvolvimento ou entre machos e fêmeas da mesma espécie, os quais podem apresentar
diferentes capacidades infectivas (Zeledon et al 1977, Reisenman et al 2011). Por esses
motivos, o desenvolvimento desses estudos é de crucial importância, visto que a
generalização dos resultados obtidos para algumas espécies podem levar a conclusões
equivocadas. As investigações sobre a biologia dos vetores são de grande interesse para o
controle vetorial, pois fornecem informações úteis para auxiliar o planejamento das medidas
de controle dos vetores em diferentes áreas endêmicas, além de gerar informações úteis para a
manutenção de colônias em condições de laboratório (Perlowagora-Szumlewicz 1969, Costa
1999).
Segundo Lent e Wygodzinsky (1979), todas as espécies de triatomíneos são vetores
potenciais, mas somente algumas espécies apresentam condições essenciais para passar de
vetor potencial para vetor efetivo da doença de Chagas em humanos. Entre as características
destacadas por esses autores, encontra-se o curto intervalo de tempo entre a alimentação e a
defecação, parâmetro diretamente associado à eficiência na transmissão de T. cruzi. Além do
comportamento alimentar e de defecação, outros parâmetros podem atuar de forma indireta,
aumentando as chances de transmissão, tais como: a fecundidade, a fertilidade e a
longevidade, que permitem estimar a capacidade de colonização (Perlowagora-Szumlewicz
1969, Brasileiro 1984). Adicionalmente, vários autores ressaltaram a importância da
resistência ao jejum, estratégia de sobrevivência que permite ao vetor manter-se vivo por
longos períodos de privação alimentar, favorecendo a reinfestação do domicílio após a
aplicação do inseticida (Pellegrino 1952, Perlowagora-Szumlewicz 1969, Gonçalves et al
1989, Cailleaux et al 2011).
4.1. Ciclo biológico
Os aspectos bionômicos dos triatomíneos têm sido estudados desde a descoberta da
doença de Chagas em 1909, quando Neiva em 1910 publicou as primeiras informações sobre
P. megistus, ainda situado no gênero Conorhinus. O ciclo de vida dos triatomíneos, assim
como outros parâmetros biológicos, varia de acordo com as condições ambientais onde vivem
22
e é fortemente influenciado pela disponibilidade de fontes sanguíneas adequadas (Lent &
Wygodzinsky 1979). Vários estudos demonstraram que o período de incubação dos ovos e o
tempo de desenvolvimento ninfal e adulto tornam-se mais curtos em temperaturas mais
elevadas (Perlowagora-Szumlewicz 1969, Juarez 1970, Rangel 1982). Desta forma, algumas
espécies apresentam duas gerações por ano. Isso aumenta a sua capacidade proliferativa em
relação às espécies que exibem apenas uma geração por ano, favorecendo o aumento da
densidade das colônias intradomiciliares e consequentemente a interação vetor-hospedeiro,
uma vez que o inseto precisa satisfazer suas necessidades tróficas. Segundo Juarez (1970), o
número de repastos sanguíneos realizados pelos vetores ao longo de sua vida tem grande
importância epidemiológica, uma vez que quanto mais contatos ocorrerem entre vetor e
hospedeiro, maior será a possibilidade de aquisição e/ou transmissão do T. cruzi.
4.2. Comportamento alimentar e de defecação
Os estudos sobre o comportamento alimentar e de defecação dos triatomíneos
proporcionam uma maior compreensão dos hábitos destes insetos relacionados à transmissão
de T. cruzi. O primeiro estudo onde se avaliou a rapidez com que os triatomíneos eliminam
dejeções foi realizado por Wood (1951), demonstrando que as espécies da América do Norte
Triatoma protracta (Ulher, 1894), Triatoma rubida (Ulher, 1894) e Paratriatoma hirsuda
Barber, 1938 não apresentam um comportamento de defecação que favoreça a transmissão de
T. cruzi para humanos. No Brasil, quem primeiramente realizou observações em condições de
laboratório sobre o comportamento alimentar e de defecação dos triatomíneos foi Dias (1956).
Em seu estudo, foi demonstrado que Rhodnius prolixus Stål, 1859 era dotado de
características biológicas que favoreciam a transmissão de T. cruzi em relação às outras
espécies: Triatoma infestans, Rhodnius neglectus Lent, 1954, Triatoma sordida (Stål, 1859),
Panstrongylus megistus e Triatoma vitticeps (Stål, 1859). Desde então, vários autores
estudaram esse comportamento, gerando importantes informações para inferir sobre a
capacidade vetorial para várias outras espécies de triatomíneos.
De acordo com Guarneri et al (2000), quanto mais eficiente é a espécie no processo de
alimentação, mais curto será seu tempo de contato com o hospedeiro e maior será a sua
chance de sobrevivência. Por outro lado, espécies que necessitam de longos períodos de
tempo para a alimentação apresentam maior probabilidade para a transmissão de T. cruzi, pois
o contato prolongado com o hospedeiro aumenta a chance de defecação durante a alimentação
(Zeledón et al 1977, Galvão et al 1995). Outro fator relevante proposto por Zeledón et al
(1977) refere-se ao fato de espécies que defecam até 10 minutos após realizarem um repasto
23
sanguíneo serem consideradas vetores potencialmente eficazes de T. cruzi, uma vez que esses
vetores ainda estariam em contato com o seu hospedeiro. Dessa forma, vários estudos com o
intuito de ampliar os parâmetros para definir de forma precisa o potencial vetorial das
diversas espécies de triatomíneos foram realizados, tais como: T. infestans (Dias 1956,
Zeledón et al 1977, Rodriguez et al 2008); R. prolixus (Dias 1956, Zeledón et al 1977); P.
megistus (Dias 1956); T. sordida (Dias 1956, Crocco & Catalá 1996); T. brasiliensis (Soares
et al 2000); Triatoma pseudomaculata Corrêa & Espinola, 1964 (Heitzmann-Fontenelle 1972,
Gonçalves et al 1997); T. vitticeps (Gonçalves et al 1988); Triatoma rubrovaria (Blanchard,
1843) (Almeida et al 2003); Triatoma maculata (Ericsson, 1848) (Luitgards-Moura et al
2005); Rhodnius ecuadoriensis (Lent & León, 1958) (Villacís et al 2008); Rhodnius neglectus
(Barreto-Santana et al 2011); Triatoma rubida (Reisenman et al 2011, Martinez-Ibarra et al
2012).
4.3. Resistência ao jejum
Com relação a resistência ao jejum, é importante ressaltar a sua importância para o
entendimento do aspecto epidemiológico, uma vez que esse parâmetro pode afetar a
capacidade destes insetos de suportar longos períodos de privação alimentar (Pellegrino
1952). Desta forma, os insetos permanecem refugiados em profundas fendas nas paredes das
casas por um tempo suficiente para escapar de inseticidas de ação residual (Dias 1965,
Perlowagora-Szumlewicz 1969, Cortéz & Gonçalves 1998). Essa estratégia permite a
sobrevivência dos insetos que escaparam do inseticida, propicia a repopulação do
intradomicílio e possibilita o transporte passivo, principalmente nas formas jovens. Em
hábitats naturais, as espécies que suportam longos períodos de jejum, devido a uma eventual
escassez de alimento, podem se dispersar favorecendo a colonização de novos hábitats e
consequentemente o aparecimento de novos casos da doença de Chagas (Pellegrino 1952).
Este estudo analisou as características bionômicas de T. sherlocki, um dos vetores da
doença de Chagas considerado de menor importância epidemiológica devido a sua limitada
distribuição geográfica e também por ser encontrado predominantemente em ambiente
silvestre. Entretanto, estudos recentes reportaram que populações silvestres apresentam
significativas taxas de infecção natural e podem estar em um possível processo de
domiciliação na localidade de Encantado, Gentio do Ouro, Bahia, o que ressalta a relevância
de se aprofundar os conhecimentos sobre essa espécie.
24
II. OBJETIVOS
1. Geral
Avaliar experimentalmente características biológicas relacionadas ao potencial vetorial
de Triatoma sherlocki.
2. Específicos
 Avaliar a taxa de infecção natural por T. cruzi dos espécimes de T. sherlocki coletados
nas localidades de Santo Inácio e Encantado, município de Gentio do Ouro, Bahia,
Brasil.
 Registrar aspectos do ciclo biológico de T. sherlocki em condições de laboratório.
 Analisar o comportamento alimentar e de defecação de T. sherlocki em condições de
laboratório.
 Determinar a resistência ao jejum de T. sherlocki em condições de laboratório.
25
III. MATERIAL E MÉTODOS
Fluxograma da realização do presente estudo:
Coleta de
T. sherlocki
2009
Santo Inácio
Encantado
2010
Santo Inácio
Infecção natural
por T. cruzi
Estabelecimento
de colônias
Comportamento
alimentar e de
defecação
Aspectos do
ciclo biológico
Organização dos
dados
Análises
estatísticas
26
Resistência ao
jejum
1. Área de estudo
O estado da Bahia [12º58’16”S; 38º30’39”O (capital)] está situado ao sul da Região
Nordeste do Brasil. O clima tropical é predominante na Bahia, mas no sertão o clima é o
semiárido e os índices pluviométricos são baixos, resultando em longos períodos de seca.
Fitogeograficamente, a Bahia possui três grandes formações vegetais: a caatinga, vegetação
predominante; a floresta tropical úmida, que se distribui na região ocidental; e o cerrado, que
ocupa a região sudeste do estado. Dentre os estados nordestinos, a Bahia apresenta a maior
extensão territorial, 567.295,669 Km², sendo composta por 417 municípios (IBGE 2013)
(Figura 3.1).
O município de Gentio do Ouro (11º26’14”S; 42º30’50”O), área conhecida para a
ocorrência de T. sherlocki, localiza-se na região noroeste do estado da Bahia, possui
3.699,872 Km2 de extensão e uma população estimada em 10.622 habitantes (2010) (IBGE
2013) (Figuras 3.1 e 3.2). Este município encontra-se próximo à região conhecida como
Chapada da Diamantina, cujo território é formado por 24 municípios, caracterizando-se por
áreas planálticas e serranas, intercaladas por depressões periféricas e interplanálticas. O
território de Gentio do Ouro apresenta formações rochosas que se inserem no bioma caatinga,
um mosaico de vegetação formado por indivíduos de pequeno a médio porte, com arbustos
espinhosos e plantas xerófilas, adaptadas ao clima semiárido (Foratini 1980).
O distrito de Santo Inácio (11º06’46”S; 42º43’06”O) e a vila de Encantado
(11º13’20”S; 42º46’37”O) constituem as duas localidades estudadas, localizadas entre 37 a 42
Km do centro de Gentio do Ouro. Estas comunidades se situam nas porções mais altas do
município (aproximadamente 596 m de altitude) e não apresentam diferenças acentuadas em
termos de características climáticas básicas (Tabela 3.1).
Santo Inácio foi colonizado logo após a descoberta do ouro na região, por volta de 1840.
Apresenta-se como um distrito bem estruturado em relação à vila de Encantado, possui
somente algumas ruas pavimentadas com paralelepípedo e fornecimento de energia elétrica
(Figura 3.3 A-B). A economia local atualmente baseia-se na extração de diamantes em
pequena escala e ecoturismo. De acordo com a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde),
existem 151 habitações neste distrito, com uma população de aproximadamente 350
habitantes. Todas as casas são feitas de concreto e algumas com anexos para animais
domésticos (Almeida et al 2009). O ambiente silvestre apresenta-se com formações rochosas
com arbustos espinhosos, típicas do clima semiárido (Figura 3.3 C-D).
27
Gentio do Ouro
Brasil
Bahia
Figura 3.1: Pontos de coleta de Triatoma sherlocki e distância em linha reta entre as localidades de Santo Inácio e Encantado, município de Gentio do
Ouro, Bahia, Brasil.
28
Figura 3.2: Município de Gentio do Ouro, Bahia, Brasil. Fonte: Google Earth, 2013.
Tabela 3.1. Algumas características climáticas e ambientais obtidas pelo sistema de informação geográfica
(SIG) para as duas áreas conhecidas de ocorrência de T. sherlocki. Fonte: Adaptado de Almeida et al (2009).
Localidades
Encantado
Santo Inácio
Temperatura média anual (ºC)
24,8
24,8
Média de variação da temperatura diurna (ºC)
13,7
13,8
Temperatura máxima do mês mais quente (ºC)
33,4
33,7
Temperatura mínima do mês mais frio (ºC)
15,2
14,8
Precipitação anual (mm)
736
692
Precipitação do mês mais chuvoso (mm)
127
122
0
0
598
595
Precipitação do mês mais seco (mm)
Elevação (m)
29
Fotos: Vanessa Lima Neiva
Figura 3.3. A. Casas construídas de concreto encontradas no distrito de Santo Inácio, Gentio do Ouro, Bahia.
B. ruas pavimentadas, C. ecótopo silvestre onde foram coletados espécimes de Triatoma sherlocki, D.
fendas (seta sólida), buracos (seta tracejada) e no detalhe fezes de roedores (seta pontilhada) nos complexos
rochosos.
Encantado consiste em uma pequena comunidade de mineração informal estabelecida
há aproximadamente 10 anos, localizada em uma área de difícil acesso. Possui apenas 19
casas construídas de forma precária com materiais disponíveis no ambiente: barro e rochas,
folhas de palmeira, rochas e ainda somente barro (Figura 3.4 A-C). As casas são inseridas, em
alguns casos, diretamente no ambiente silvestre, onde também se observou poucas alterações
nos habitats naturais ao redor desta vila em relação a Santo Inácio (Figura 3.4 D). Segundo
Almeida et al (2009), estima-se que 95 pessoas residam em Encantado, trabalhando na
extração de rochas ornamentais. No entanto, nem todos são residentes permanentes, alguns
migram para outros locais durante a época das chuvas (novembro a março) para trabalhar na
agricultura. A distância em linha reta entre Santo Inácio e Encantado é de 13,7 km (Figura
3.1). As localizações geográficas e as distâncias foram estimadas usando um GPS
TrackMaker (Junior 2007).
30
Fotos: Vanessa Lima Neiva
Figura 3.4. Tipo de casas encontradas na Vila de Encantado, Gentio do Ouro, Bahia. A. Folha de
palmeira, B. Rochas, C. Barro, D. Ecótopo Silvestre.
2. Coleta de Triatoma sherlocki
As coletas foram realizadas em diferentes pontos das localidades de Santo Inácio e
Encantado, em Maio de 2009 e Agosto de 2010. As pesquisas entomológicas contaram com o
apoio de técnicos da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), sendo realizadas no ecótopo
intradomiciliar, peridomiciliar e silvestre. O ecótopo intradomiciliar foi definido como
ambientes de unidades domiciliares fechadas por portas, compreendendo casas ou anexos,
onde principalmente humanos circulam. Os ecótopos peridomiciliares foram caracterizados
como o ambiente no entorno da casa, em um raio de 50 m, onde animais domesticados
(caprinos, suínos, bovinos e galinhas) dormem ou são criados. O ambiente silvestre foi
determinado após um raio de 200 m, onde não se avistava casas e sim inúmeras formações
rochosas, ecótopos onde triatomíneos são encontrados.
As capturas no intradomicílio foram realizadas durante o dia, sendo examinados fendas
nas paredes, atrás de mobiliáriarios, objetos encostados na parede e os espaços em baixo das
camas e outros móveis. Da mesma forma, no peridomicílio, foram vistoriadas pilhas de telhas,
31
pedras e madeiras. As coletas no ecótopo silvestre foram iniciadas ao pôr do sol às 17:00h e
se estenderam até às 20:00h, momento em que não se avistou mais triatomíneos, sendo as
capturas feitas manualmente e com o auxílio de pinças.
Os espécimes coletados foram acondicionados em recipientes plásticos (4x4x9 cm),
devidamente rotulados com as informações de procedência, e transportados para o laboratório
para o estabelecimento de colônias mantidas no Laboratório de Transmissores de
Leishmanioses-Setor de Entomologia Médica e Forense do Instituto Oswaldo CruzFIOCRUZ em condições controladas de temperatura 24,6 ± 1,3°C e umidade relativa 71,4 ±
6,3% (não controlada). A identificação taxonômica foi realizada com base no trabalho de
Papa et al (2002). Tanto as colônias quanto os espécimes selecionados para os estudos dos
parâmetros biológicos foram alimentados semanalmente em camundongos Mus musculus
(Linnaeus, 1758), anestesiado com cloridrato de xilazina 2%, dose 0,08 ml/100g de peso
como pré-anestésico, e cloridrato de quetamina 5%, dose 0,2 ml/100g de peso como
anestésico geral, ambos pela via intraperitonial, procedimento aprovado pelo Comitê de Ética
no Uso de Animais (CEUA) da Fundação Oswaldo Cruz, licença LW-18/11.
3. Infecção natural por T. cruzi
O índice de infecção natural foi determinado apenas para os espécimes coletados em
2009. A pesquisa de T. cruzi foi conduzida conforme protocolo de Dias et al (2007) pela
obtenção de fezes e urina dos triatomíneos por compressão abdominal, diluída em solução
salina a 0,15 M e observada entre lâmina e lamínula, examinada ao microscópio óptico no
aumento de 160X. O índice de infecção natural por T. cruzi foi calculado conforme a fórmula
seguinte:
í
í
4. Ciclo biológico
O ciclo biológico foi estudado entre os meses de outubro de 2012 e novembro de 2013,
utilizando espécimes da segunda geração das colônias fundadas com os exemplares coletados
em 2010. Ninfas de 5º estádio foram selecionadas aleatoriamente, separadas por sexo de
acordo com a metodologia de Lent & Wygodzisky (1979), e mantidas em recipientes plásticos
(4x4x9 cm). Esses recipientes tiveram seus fundos forrados com papel filtro e tiras do mesmo
32
papel dobradas em sanfonas para absorver a umidade e proporcionar maior área de
deslocamento aos insetos. Procedeu-se a alimentação semanal com camundongos, conforme
mencionado previamente. Para obtenção de ovos, 30 casais foram formados, mantidos juntos
em recipiente plástico (9 cm de altura x 8 cm de diâmetro), com tampa apresentando uma
abertura de 7 cm de diâmetro forradas com voal e com papel filtro no seu interior, como
mencionado acima, e alimentados em camundongos, seguindo os mesmos procedimentos
supracitados.
Os 123 ovos obtidos de T. sherlocki foram agrupados pela data de oviposição para
determinar o período de incubação. Após a eclosão, as ninfas de 1º estádio foram
individualizadas em frascos de Borrel (9 cm de altura x 3 cm de diâmetro), forrados com
papel filtro e devidamente numerados para acompanhar o desenvolvimento do ciclo biológico
(Figura 3.5 A e B). Os espécimes, mantidos sob condições controladas de temperatura (24,6 ±
1,3°C) e umidade relativa 71,4 ± 6,3% (não controlada), foram alimentados individualmente
em camundongo, uma vez por semana, e observados diariamente para se determinar: período
de incubação dos ovos (em dias), número de vezes em que foi oferecida a alimentação,
número de vezes em que o inseto alimentou-se, período de duração de cada estádio (em dias)
e taxa de mortalidade (M). Esta foi calculada com base na seguinte fórmula:
5. Comportamento alimentar e de defecação
O estudo do comportamento alimentar e de defecação foi realizado com o mesmo grupo
de insetos usado para o estudo do ciclo biológico, bem como a alimentação em camundongo
Mus musculus conforme mencionado previamente (Figura 3.5 C e D). Para todos os
espécimes, foram registrados os seguintes parâmetros: tempo para iniciar a alimentação (em
minutos); duração da alimentação (em minutos); tempo entre a primeira picada e o fim da
ingestão de sangue; tempo de defecação durante a alimentação, tempo de defecação até 10
minutos após o término da alimentação; peso ganho absoluto (pabs) e relativo (prel). A
pesagem dos espécimes foi realizada em balança de precisão (modelo Shimadzu Ay220).
A primeira alimentação foi realizada de 7 a 10 dias após a eclosão dos ovos, passando
posteriormente a ser oferecida semanalmente até que os espécimes atingissem a fase adulta.
Cada inseto foi colocado no interior de um recipiente plástico (12 cm diâmetro x 4 cm de
33
altura) forrado com papel toalha. A fonte de sangue (camundongo) foi posicionada em frente
ao triatomíneo a uma distância de 7 cm (Figura 3.5 C) e a alimentação oferecida por um
período de 15 minutos, sob baixa iluminação, visando registrar o tempo de início do repasto.
Os insetos que se recusaram a sugar foram submetidos à nova tentativa de alimentação na
próxima semana. Os triatomíneos se alimentavam até a saciedade. Nesta etapa registrou-se o
tempo de duração do repasto e de defecações ocorridas durante o repasto e nos 10 minutos
posteriores a este (Figura 3.5 D e E). A quantidade de sangue ingerida representada pelo peso
ganho absoluto e relativo foi obtida através da pesagem dos espécimes antes e após a
alimentação (Figura 3.5 F) e calculados de acordo com as seguintes fórmulas (Gonçalves et al
1997, Reisenmam et al 2011):
34
cr
c
Ts
Fotos: Vanessa Lima Neiva e Raquel Alexandra B. da Silva
pt
Figura 3.5. A. Caixas com 123 frascos de Borrel usados para acondicionar individualmente os espécimes
de T. sherlocki para estudo do ciclo biológico e comportamento alimentar e de defecação. B. Frasco de
Borrel identificado, com papel filtro dobrado em sanfona para aumentar a área de deslocamento e absorver
a umidade. C. Observação do tempo, cronômetro (cr); do comportamento alimentar e de defecação em
recipiente forrado com papel toalha (pt) com T. sherlocki (Ts) e camundongo (c). D. Ninfa de 5º estádio
alimentando-se. E. Ninfa de 5º estádio ingurgitada. F. Pesagem dos espécimes antes e após a alimentação.
35
6. Resistência ao jejum
Para este estudo, foi seguido o protocolo de Cortéz e Gonçalves (1998). Um grupo de
50 ovos e 50 ninfas de 2º a 5º estádio, perfazendo um total de 350 espécimes, da segunda
geração, foi selecionado aleatoriamente das mesmas colônias fundadas em 2010. Esses insetos
foram alimentados semanalmente em camundongos e observados diariamente para registrar a
ecdise, os ovos foram observados diariamente para registrar a eclosão. Posteriormente, cada
triatomíneo foi mantido em frascos de Borrel (9 cm de altura x 3 cm de diâmetro) numerados,
fechados com voal, contendo no seu interior papel filtro e tiras do mesmo papel dobradas em
sanfonas (Figura 3.6 A e B). As observações diárias possibilitaram determinar a resistência ao
B
A
Fotos: Vanessa Lima Neiva
jejum das ninfas e adultos até a morte.
Figura 3.6. A. Frascos de Borrel contendo os espécimes usados para o estudo da resistência ao jejum
(n=350). B. Detalhe do frasco com fêmea e exúvia.
7. Análises estatísticas
Ciclo biológico, comportamento alimentar, de defecação e resitência ao jejum – Alguns
cálculos dos valores mínimo, máximo, média e desvio padrão para todos os parâmetros
avaliados foram realizados utilizando o software Microsoft Excel 2007.
Comportamento alimentar e de defecação – O teste de Lilliefors (uma variação do teste
de Kolmogorov Smirnov, que permite trabalhar com um número maior de 50 amostras) foi
utilizado para verificar a distribuição dos dados. Uma vez que os dados não apresentavam
distribuição normal, optou-se por testes não paramétricos. O teste Kruskal Wallis (Siegel &
Castellan 1998) foi aplicado para analisar a variação dos dados contínuos (início da
36
alimentação, duração da alimentação, peso ganho absoluto, peso ganho relativo e tempo para
defecação até 10 min.) entre os estádios de desenvolvimento de T. sherlocki (ninfas de 1º, 2º,
3º, 4º, 5º estádios, machos e fêmeas), os quais foram considerados categorias de variáveis
independentes. O Teste de post hoc de Dunn foi usado quando obtivemos resultados
significantes para estabelecer quais grupos diferem entre si. Em todos os casos as diferenças
foram consideradas estatisticamente significantes quando p<0,05. Os gráficos gerados e as
análises foram feitas como o auxilio do software R.3.0.2 (R Development Core Team 2013) e
os pacotes nortest, psych, outlier, stats foram implementados no programa R.
O percentual de espécimes que defecaram em diferentes intervalos de tempo até 10 min.
(
após a alimentação (1ª, 2ª e 3ª alimentação) foi calculado conforme a seguinte
fórmula:
37
IV. RESULTADOS
1. Espécimes de Triatoma sherlocki coletados
Um total de 471 espécimes de T. sherlocki foi coletado, dos quais 170 foram
provenientes das investigações realizadas em 2009 (28 machos, 34 fêmeas e 108 ninfas) e 301
das investigações realizadas em 2010 (78 machos, 55 fêmeas e 168 ninfas). As pesquisas
entomológicas foram realizadas nos ecótopos intradomiciliar, peridomiciliar e silvestre nas
duas localidades de estudo (Tabela 4.1).
Na expedição realizada em 2009, em Encantado, somente o peridomicílio apresentou-se
negativo para a presença de triatomíneos. Neste ecótopo, animais domésticos tais como
caprinos, bovinos, suínos e principalmente galinhas foram ausentes, no entanto, observou-se a
presença de cães. Nesta localidade, a maioria dos exemplares foi coletada no ambiente
silvestre (92) e três ninfas foram capturadas no intradomicílio. Ainda em 2009, em Santo
Inácio, assim como em Encantado, não foram observados triatomíneos no ecótopo
peridomiciliar, embora em muitas casas tenha se verificado a presença de anexos para
animais. A maioria dos espécimes foi capturada no ecótopo silvestre (74) e apenas um
espécime adulto foi capturado no intradomicílio (Tabela 4.1).
Nas pesquisas entomológicas realizadas em 2010, as quais foram conduzidas somente
na localidade de Santo Inácio, não foram observados triatomíneos no ecótopo peridomiciliar,
embora em muitas casas tenha se verificado a presença de anexos para animais. Nesta coleta,
todos os espécimes foram capturados no ambiente silvestre (301) (Tabela 4.1).
38
Tabela 4.1. Localidades de coleta, ecótopo, coordenadas geográficas, data da coleta, estádio evolutivo e número de espécimes de Triatoma sherlocki
coletados.
Município
Localidade
Ecótopo
Data
Macho
Fêmea
Ninfas
Total
Encantado
Silvestre
11º12’32,6”S
42º46’27,4”O
22/5/2009
10
5
18
33
Gentio do Ouro
Encantado
Silvestre
11º12’32,6”S
42º46’27,4”O
23/5/2009
7
16
36
59
Gentio do Ouro
Encantado
Intradomicílio
11º12’32,6”S
42º46’27,4”O
23/5/2009
-
-
3
3
Gentio do Ouro
Santo Inácio
Silvestre
11º06’40,9”S
42º43’04”O
20/5/2009
5
6
26
37
Gentio do Ouro
Santo Inácio
Silvestre
11º03’16,8”S
42º48’26”O
21/5/2009
5
7
25
37
Gentio do Ouro
Santo Inácio
Intradomicílio
11º13’18,6”S
42º46’37,5”O
24/5/2009
1
-
-
1
28
34
108
170
Gentio do Ouro
Coordenada Geográfica
Total
Gentio do Ouro
Santo Inácio
Silvestre
11º1’33.816”S
42º43’5.592”O
15/8/2010
33
28
89
150
Gentio do Ouro
Santo Inácio
Silvestre
11º5’32.737”S
42º42’27.644”O
12/8/2010
15
13
24
52
Gentio do Ouro
Santo Inácio
Silvestre
11º7’24.636”S
42° 39’52.128”O
13/8/2010
15
6
33
54
Gentio do Ouro
Santo Inácio
Silvestre
11º 8’14.878”S
42° 43’52.345”O
11/8/2010
9
6
13
28
Gentio do Ouro
Santo Inácio
Silvestre
11/8/2010
6
2
9
17
78
55
168
301
-
-
Total
39
2. Infecção natural por T. cruzi
A pesquisa de T. cruzi-like foi realizada nos espécimes coletados em 2009. Dos 170
espécimes coletados, 145 foram examinados e 29 estavam positivos, o que resultou em uma
taxa de infecção natural de 20%. Os adultos apresentaram maior índice de infecção natural
33,8% (21/62) em relação aos estádios imaturos 9,6% (8/83). Dos 76 espécimes examinados
oriundos de Encantado, somente os coletados no ambiente silvestre estavam positivos para T.
cruzi-like (32% - 25/76); enquanto em Santo Inácio, dos 66 exemplares coletados no ecótopo
silvestre apenas 3 estavam positivos, resultando em uma taxa de infecção natural de 4,5%.
Ainda que o índice de infecção natural seja menor em Santo Inácio, é importante salientar que
o único espécime macho capturado no intradomicílio estava positivo para T. cruzi-like (Tabela
4.2).
Tabela 4.2: Índice de infecção natural de Triatoma sherlocki coletados em 2009, nas localidades de Santo
Inácio e Encantado, município de Gentio do Ouro, Bahia.
Total
Infecção
Natural
(%)
Positivo/Examinado
Localidade
Ecótopo
Col.
N3
N4
N5
Macho Fêmea
Encantado
Silvestre
33
-
-
1/16
3/10
1/5
5/31
16,1
Encantado
Silvestre
59
1/4
0/2
6/16
4/7
9/16
20/45
44,4
Encantado
Intradomicílio
3
-
-
0/2
-
-
0/2
0,0
Santo Inácio
Silvestre
37
0/2
1/5
1/6
2/33
6,0
Santo Inácio
Silvestre
37
0/6
-
0/15
1/5
0/7
1/33
3,0
Santo Inácio
Intradomicílio
1
-
-
-
1/1
-
1/1
100,0
0/12 7/59
10/28
11/34
29/145
20,0
0,0
35,7
32,3
20,0
Total
Infecção
Natural (%)
170 1/12
8,3
0/10 0/10
11,8
Col.: Espécimes coletados
3. Ciclo biológico
Duração das fases de desenvolvimento - A oviposição dos 123 ovos utilizados para o
estudo do ciclo biológico ocorreu de 24/09 a 29/10/2012, os quais eclodiram a partir de 01/11
a 07/12/2012. O período de incubação dos ovos variou de 36,0 a 46,0 dias, com média de 41,0
± 2,1 dias. Verificou-se que o tempo requerido para o desenvolvimento de cada fase foi
decrescente até o 2º estádio, voltando a crescer até o 5º estádio. O menor período médio de
40
desenvolvimento registrado foi de 29,2 ± 3,3 dias para N2 e o maior foi 142,4 ± 37,1 dias para
N5.
O período de desenvolvimento de ovo à fase adulta (34 adultos) ocorreu de 24/09/2012
a 30/11/2013. A média de duração do ciclo biológico da oviposição a muda imaginal foi de
325,0 ± 40,0 dias com um período mínimo de 255 e máximo de 410 dias (Tabela 4.3).
Tabela 4.3. Duração das fases de desenvolvimento (em dias) de Triatoma sherlocki.
Fase de
desenvolvimento
Espécimes
(n)
Ovo
Duração em dias
Mín.
Máx.
Média
± DP
123
36
46
41,0
2,1
N1
123
29
48
36,4
3,7
N2
120
22
40
29,2
3,3
N3
117
22
55
34,5
4,9
N4
117
35
73
48,8
7,9
N5
34*
84
231
142,4
37,1
255
410
325,0
40,0
Total
Mín.: Mínimo, Máx.: Máximo, DP: Desvio Padrão. *Até o dia 30/11/2013, 34 N5 atingiram a fase
adulta. As demais ninfas de quinto estádio continuarão sendo estudadas para obtenção de dados mais
consistentes.
Número de repastos oferecidos e realizados - Durante o ciclo de desenvolvimento
foram oferecidas 5.223 alimentações, das quais 1.713 se concretizaram. O 1º, 2º e 3º estádios
apresentaram as menores médias de alimentação: 2,0 ± 0,5 (mínimo de 1, máximo de 4), 2,1 ±
0,6 (mínimo de 1, máximo de 3) e 2,2 ± 0,7 (mínimo de 1, máximo de 4), respectivamente, as
quais não apresentaram diferenças estatísticamente significantes (teste Kruskal Wallis e Dunn,
P <0,05). As ninfas de 4º estádio diferiram das ninfas de 1º e 2º estádios, mas foram
semelhantes às ninfas de 3º estádio. Entre todos os estádios ninfais, as ninfas de 5º estádio
apresentaram a maior média de alimentação, 5,3, com mínimo de 2 e máximo de 11. Ao
aplicarmos o teste de Kruskal Wallis seguido do teste de Dunn, verificamos que essa
diferença apresentada pelo 5º estádio foi estatisticamente significativa em relação aos demais
estádios ninfais (P <0,05), mas semelhante aos machos (Tabela 4.4).
Conforme representado na Figura 4.1, a maioria das ninfas de 1º, 2º, 3º e 4º estádios
necessitaram de 2 repastos para mudarem para próxima fase de desenvolvimento, enquanto a
maioria, 67,5% das ninfas de 5º estádio, realizou mais de 4 repastos para fazer a muda
imaginal. Destas, dois espécimes fizeram até 11 repastos.
41
Tabela 4.4. Número de alimentações em cada fase de desenvolvimento de Triatoma sherlocki.
Fase de
desenvolvimento
N1
N2
N3
N4
N5
Macho
Fêmea
Espécimes
(n)
123
120
117
117
114
13/24*
4/10*
AO
Nº de repastos sanguíneos
AR
Mín.
493
535
570
684
2690
184
67
256
251
256
280
631
23
16
Máx.
1
1
1
1
2
1
1
Média
± DP
cd
4
3
4
5
11
4
6
± 0,5
± 0,6
± 0,7
± 0,7
± 2,1
± 0,64
± 0,79
2,0
cd
2,1
bc
2,2
b
2,4
a
5,3
a
0,19
d
0,13
Espécimes de T. sherlocki (%)
AO.: Número de alimentações oferecidas, AR.: Número de alimentações realizadas, DP: Desvio padrão. Letras
diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas (teste Kruskal Wallis e Dunn, p>0,05). *Até o
dia 30/11/2013, das 34 N5 que atingiram a fase adulta, 17 realizaram alimentação (13 machos e 4 fêmeas). As
demais ninfas de quinto estádio continuam sendo estudadas, para obtenção de dados referente à fase adulta.
100.0
90.0
80.0
70.0
60.0
50.0
40.0
30.0
20.0
10.0
0.0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Número de repastos
N1
N2
N3
N4
N5
Figura 4.1. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki nos diferentes estádios: ninfas de 1º
(n=123), 2º (n=120), 3º (n=117), 4º (n=117), 5º (n= 114) que realizaram de 1 até 11 repastos em cada
fase de desenvolvimento.
Tabela 7: Número de alimentações oferecidas (AO) e número de alimentações realizadas (AR) em cada
fase de desenvolvimento de Triatoma sherlocki
Mortalidade e ocorrência de anomalias – Das 123 ninfas que iniciaram o experimento,
34 atingiram a fase adulta (24 machos e 10 fêmeas) até o dia 30/11/2013. As demais ninfas de
5º estádio continuarão sendo estudadas até tornarem-se adultas. O maior percentual de
mortalidade foi registrado no 1º e 2º estádios (2,4%) seguido pelo 4º estádio (1,6%). No 3º
estádio não houve morte e no 5º, até o momento todas permanecem vivas. A mortalidade total
registrada durante a fase ninfal foi de 6,5% (8/123) (Figura 4.2).
42
Dos 34 insetos que atingiram a fase adulta, 33,3% dos machos (8/24) e 70% das fêmeas
(7/10) apresentaram deformações morfológicas na cabeça, abdome e pernas (Figura 4.3). As
anomalias observadas na cabeça incluíam deslocamento da mesma para baixo, para cima, para
a esquerda e para a direita em relação ao eixo do corpo. O abdome apresentou deformações no
conexivo do quinto e do sexto segmentos. As deformações das pernas incluíram atrofia do
fêmur e tíbia, sendo que em alguns casos esta se apresentou torcida ou incompleta (Figura
4.4).
Espécimes de T. sherlocki (%)
Mortalidade
10.00
9.00
8.00
7.00
6.00
5.00
4.00
3.00
2.00
1.00
0.00
6.5
2.4
2.4
1.6
0.0
N1
N2
0.0
N3
N4
N5
Total
Figura 4.2: Percentual de mortalidade de Triatoma sherlocki
Adultos com anomalias
Número de espécimes
40
30
34
24
20
10
15
8
10
7
0
Machos
Fêmeas
Espécimes
Total
Anomalias
Figura 4.3. Número de adultos de Triatoma sherlocki (machos e fêmeas) que apresentaram anomalias.
43
A
B
C
D
E
Figura 4.4. Adultos de T.sherlocki normal e apresentando anomalias morfológicas indicadas pelas setas
azuis. A. Normal. B. Abdome com deformações nos conexivos do quinto e do sexto segmentos. C.
Deslocamento da cabeça para a esquerda. D. Deslocamento da cabeça para baixo. E. Tíbia das pernas
posterior incompletas.
4. Comportamento alimentar e de defecação
Tempo para iniciar a alimentação – De acordo com a Figura 4.5, a média do tempo
para iniciar a alimentação diminuiu ligeiramente do 1º ao 2º estádio, voltando a crescer a
partir do 3º estádio até a fase adulta. Ao aplicar o teste de Kruskal Wallis (H = 719.3146, df =
6, p<0, 005), constatou-se que inicialmente as diferenças foram estatisticamente
significativas, entretanto, apesar das ninfas de 1º, 2º e 3º estádios apresentarem as menores
médias de tempo para iniciar a alimentação, 1,63 min. (mínimo 0,01 min., máximo 14,59
min.), 1,61 min. (mínimo 0,01 min., máximo 14,47 min.) e 1,69 min. (mínimo 0,02 min.,
máximo 12,5 min.), respectivamente, somente o 1º estádio apresentou diferença
estatisticamente significativa em relação ao 2º e 3º estádios, que foram semelhantes (teste post
44
hoc Dunn, p<0,05). O 4º estádio diferiu de todos os estádios de desenvolvimento, enquanto
que o 5º estádio apresentou tempo semelhante ao das fêmeas. As médias dos tempos das
fêmeas, 8,81 min. (mínimo 2,02 min., máximo 14,34 min.), e machos, 8,12 min. (mínimo
2,07 min., máximo 14,55 min.), não apresentaram diferenças de acordo com o teste post hoc
Dunn (p<0,05) que mostrou também que os adultos demoraram mais para iniciar a
Média
b
ab
a
N5
(693)
Fêmea
(19) *
Macho
(24) *
Mediana
c
d
e
d
N1
(279)
N2
(284)
0
Inicio da alimentação (min.)
15
10
5
alimentação em relação às ninfas de 1º, 2º, 3º e 4º estádios.
N3
(277)
N4
(304)
Figura 4.5. Tempo decorrido entre o oferecimento da fonte alimentar e a picada para iniciar o repasto sanguíneo
de Triatoma sherlocki. São mostrados os percentis 25 e 75 (limites das caixas mais próximos e mais distantes de
zero, respectivamente), as medianas (linha sólida dentro da caixa), e as médias (lozango azul). O número de
observações testadas em cada grupo é mostrado entre parênteses. Letras diferentes representam diferenças
estatísticas significativas (Testes de Kruskal-Wallis seguido de comparações de Dunn, p <0,05). * Até o dia
30/11/2013, das 34 N5 que atingiram a fase adulta, 17 realizaram alimentação (13 machos e 4 fêmeas). As
demais ninfas de quinto estádio continuarão sendo estudadas para obtenção de dados mais consistentes referentes
à fase adulta.
Duração da alimentação e peso ganho absoluto e relativo – A duração da alimentação
foi crescente do 1º até o 4º estádio, a partir do 5º estádio houve um decréscimo acentuado até
a fase adulta. Embora as diferenças na duração da alimentação sejam significativas de acordo
com o teste de Kruskal Wallis (H = 91.3251, df = 6, p<0,05), o teste post hoc de Dunn
mostrou que a diferença entre o 1º estádio, 13,87 min. (mínimo 0,02 min., máximo 31,29
min.), machos, 14,33min. (mínimo 3,3 min., máximo 24,4 min.) e fêmeas, 14,45 min.
(mínimo 1,07 min., máximo 25,0 min.), não foram significativas. O 4º estádio apresentou
maior tempo de duração da alimentação, 24,05 min. (mínimo 0,24 min., máximo 60,57 min.),
em relação aos demais estádios de desenvolvimento, sendo esta diferença estatisticamente
significativa (teste post hoc Dunn, p<0,05). O tempo de duração da alimentação do 2º estádio,
16,23min. (mínimo 0,28 min., máximo 40,18 min.), diferiu do 3º estádio, 19,42 min. (mínimo
45
1,02 min., máximo 48,43 min.), mas este foi semelhante ao 5º estádio, 19,69 min. (mínimo
0,56 min., máximo 53,36min.) (teste post hoc de Dunn, p<0,05) (Figura 4.6 A).
As médias do peso absoluto (diferença entre o peso após a alimentação e o peso antes da
alimentação) foram crescentes do 1º até o 5º estádio, decrescendo na fase adulta, sendo essas
diferenças estatisticamente significativas (testes Kruskal Wallis, H= 925.7473, df = 6,
p<0,05). O maior peso absoluto médio foi registrado para as ninfas de 5º estádio, 104,88 mg,
onde também se observou ampla variação deste parâmetro (mínimo 0,1 mg, máximo 417,2
mg). Apesar da diferença ser inicialmente significativa, ao aplicar o teste post hoc de Dunn,
constatou-se que o valor obtido para as ninfas (5º estádio) foi semelhante ao das fêmeas,
76,68 mg (mínimo 5,8 mg, máximo 175,7 mg) e ao dos machos, 68,89 mg (mínimo 10,6 mg,
máximo 140,7 mg). A menor média de peso absoluto foi observada para o 1º estádio, 4,19 mg
(mínimo 0,1 mg, máximo 10,2 mg); seguido do 2º estádio, 12,31 mg (mínimo 0,1 mg,
máximo 37,5 mg); 3º estádio, 31,91 mg (mínimo 0,1 mg, máximo 96,9 mg); e 4º estádio,
76,41 mg (mínimo 0,1, máximo 248,6 mg), os quais diferiram entre si (teste post hoc de
Dunn, p<0,05). As médias das ninfas de 4º estádio não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas em relação às das fêmeas e machos (teste post hoc de Dunn,
p<0,05) (Figura 4.6 B).
Ao se estabelecer uma relação entre o peso ganho absoluto e o peso corporal inicial,
obteve-se o valor do peso ganho relativo. O peso relativo decresceu do 1º estádio até a fase
adulta, sendo que entre os adultos, os machos apresentaram maior peso relativo do que as
fêmeas. As diferenças observadas foram significativas segundo o teste Kruskal Wallis (H=
925.7473, df = 6, p<0,05). O 1º estádio apresentou maior peso relativo, 1,92 (mínimo 0,02,
máximo 6,8) em relação aos demais estádios de desenvolvimento, sendo essa diferença
estatisticamente significativa (teste post hoc de Dunn, p<0,05). A média do peso relativo do 2º
estádio, 1,71 (mínimo 0,02, máximo 7,04), foi semelhante ao do 3º estádio, 1,55 (mínimo 0,0,
máximo 6,05), e este não apresentou diferenças significativas em relação ao 4º estádio, 1,39
(mínimo 0,0, máximo 6,05). Os menores pesos relativos foram observados para as ninfas de
5º estádio, 0,65 (mínimo 0,0, máximo 4,09); fêmeas, 0,32 (mínimo 0,03, máximo 0,78); e
machos, 0,4 (mínimo 0,05, máximo 0,91), os quais não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas (testes post hoc de Dunn, p<0,05) (Figura 4.6 C).
46
80
60
Média
Mediana
a
b
40
b
c
d
cd
20
cd
0
Duração da alimentação (min.)
A
N3
(257)
N4
(283)
N5
(599)
Fêmea
(14*)
300
a
Macho
(20*)
Média
Mediana
200
b
ab
ab
100
Peso absoluto (mg)
B
N2
(248)
400
N1
(245)
c
d
0
e
6
C
N1
(253)
N2
(254)
a
b
N3
(257)
N4
(285)
N5
(634)
bc
3
4
5
Macho
(23) *
Média
Mediana
c
2
d
d
d
Fêmea
(17)*
Macho
(23)*
0
1
Peso relativo
Fêmea
(17) *
N1
(253)
N2
(254)
N4
(285)
N3
(257)
N5
(634)
Figura 4.6. A. Duração da alimentação (tempo de sucção). B. Peso ganho absoluto. C. Peso ganho relativo de
Triatoma sherlocki. São mostrados os percentis 25 e 75 (limites das caixas mais próximos e mais distantes de
zero, respectivamente), as medianas (linha sólida dentro da caixa) e as médias (lozango azul). O número de
observações testadas em cada grupo é mostrado entre parênteses. Letras diferentes indicam diferenças
estatisticamente significativas (Testes de Kruskal-Wallis e Dunn, P <0,05). *Até o dia 30/11/2013, das 34 N5
que atingiram a fase adulta, 17 realizaram alimentação (13 machos e 4 fêmeas). As demais ninfas de quinto
estádio continuarão sendo estudadas para obtenção de dados mais consistentes referentes à fase adulta.
47
Defecações durante a alimentação – De um total de 5.223 repastos oferecidos, 1.713
foram realizados (Tabela 4.5). Deste total, 5,1% das defecações ocorreram durante a
alimentação (Figura 4.7). Todos os estádios ninfais defecaram durante a alimentação, a
porcentagem de defecações decresceu do 1º até o 5º estádio, sendo que as ninfas de 1º estádio
apresentaram maior porcentagem de defecação (16,4% de 256), seguida das ninfas de 2º
estádio (9,2% de 251). Entre os estádios ninfais, a menor porcentagem de defecações durante
a alimentação foi registrada para as ninfas de 5º estádio (1,3%). Para a fase adulta não foram
registradas defecações durante a alimentação, entretanto, ressalta-se que os adultos ainda
estão em observação (Tabela 4.5, Figura 4.7).
Tabela 4.5: Avaliação das defecações durante e após o repasto de Triatoma sherlocki.
Fase de
desenvolvimento
Espécimes
(n)
AO (n)
AR (n)
ADD (%)
ADA (%)
N1
123
493
256
16,4
72,7
N2
120
535
251
9,2
70,9
N3
117
570
256
3,5
48,4
N4
117
684
280
2,1
30,0
N5
114
2690
631
1,3
15,4
Macho
13/24*
184
23
0,0
8,7
Fêmea
Total
4/10*
123
67
5.223
16
1.713
0,0
5,1
6,3
39,2
AO.: Número de alimentações oferecidas, AR.: Número de alimentações realizadas, ADD.: Porcentagem
de alimentações com defecação durante, ADA.: Porcentagem de alimentações com defecações após a
alimentação até 10 min. *Até o dia 30/11/2013, das 34 N5 que atingiram a fase adulta, 17 realizaram alimentação
(13 machos e 4 fêmeas). As demais ninfas de quinto estádio continuarão sendo estudadas, para obtenção de dados
referente à fase adulta.
Espécimes de T. sherlocki (%)
Defecação durante a alimentação
50,0
45,0
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Defecação
16,4
9,2
3,5
N1
N2
N3
5,1
2,1
1,3
N4
N5
0,0
0,0
Fêmea * Macho *
Total
Figura 4.7. Porcentagem de alimentações com defecação durante o repasto de Triatoma sherlocki nos diferentes
estádios: ninfas de 1º (n=256), 2º (n= 251), 3º (n= 256), 4º (n=280), 5º (n=631) estádios, e machos (n=23) e
fêmeas (n=17).
48
Porcentagem de espécimes que defecaram até 1min. após a alimentação – Entre os
estádios ninfais, no primeiro minuto de observação, o 1º e o 2º estádios foram os que
apresentaram maior porcentagem de espécimes que defecaram após o fim da primeira (1º
estádio, 63,2% de 114; 2º estádio, 45,9% de 111) e da segunda (1º estádio, 60,6% de 66; 2º
estádio 56,7% de 60) alimentações (Figura 4.8 A e B). A menor porcentagem de defecações,
nas mesmas condições, foi registrada para as ninfas de 5º estádio (23,4% de 64) e para as
ninfas de 3º estádio (18,9% de 37) na primeira e na segunda alimentação, respectivamente
(Figura 4.8 A e B). Dos 19 espécimes que defecaram após o fim da terceira alimentação (4
N1, 4 N2, 2 N3 e 9 N5), apenas uma ninfa de 1º estádio e uma ninfa de 5º estádio defecaram
em menos de 1 minuto (Figura 4.11).
Espécimes de T. sherlocki (%)
A 100,0
Primeira alimentação
90,0
80,0
70,0
63,2
Defecação
60,0
45,9
50,0
40,0
29,8
30,0
30,0
23,4
20,0
10,0
0,0
N1
B
N2
N3
N4
N5
Segunda alimentação
100,0
Espécimes de T. sherlocki (%)
90,0
80,0
70,0
60,6
60,0
Defecação
56,7
50,0
40,0
25,0
30,0
18,9
20,0
19,5
10,0
0,0
N1
N2
N3
N4
N5
Figura 4.8. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki, que defecaram até 1min. após a alimentação. A.
Primeira alimentação: ninfas de 1º (n=114), 2º (n=111), 3º (n=84), 4º (n=50) e 5º (n=64) estádios. B. Segunda
alimentação: ninfas de 1º (n=66), 2º (n=60), 3º (n=37), 4º (n=12) e 5º (n=21) estádios.
49
Porcentagem de espécimes que defecaram em diferentes intervalos de tempo até 10min.
após a alimentação.
As Figuras 4.9-4.11 mostram as porcentagens de defecações em diferentes intervalos de
tempo, incluindo todos os espécimes que se alimentaram e defecaram até 10 minutos após a
alimentação. Nestas Figuras, observa-se que o número de espécimes que realizaram
alimentação seguida de defecação decresceu da primeira até a terceira alimentação, por esse
motivo, o número total de espécimes para o cálculo das porcentagens obtidas diferem em cada
alimentação. Na primeira alimentação, nos primeiros 31 segundos de observações, verificouse que as porcentagens de espécimes que defecaram na primeira alimentação decresceram do
1º-5º estádio, sendo que as ninfas de 1º (51,8%) e 2º (36,0%) estádios apresentaram as
maiores porcentagens de espécimes que defecaram, enquanto que a menor porcentagem foi
registrada para as ninfas de 5º estádio (12,5%). Na segunda alimentação, observou-se que a
porcentagem de espécimes que defecaram em menos de 31 segundos apresentou escala
descendente do 1º-3º estádio, voltando a crescer no 4º estádio e diminuindo no 5º estádio. Da
mesma forma, as maiores porcentagens foram registradas para as ninfas de 1º (56,1%) e 2º
estádio (46,7%), sendo que as ninfas de 5º estádio apresentaram menor percentual (9,5%).
As Figuras 4.9 e 4.10 mostram uma tendência de equiparação nas porcentagens de
defecação em menos de 31 segundos para todos os estádios na primeira e na segunda
alimentações, além disso, mostram também que os maiores percentuais de defecações
ocorrem até 5 minutos para todos os estádios de desenvolvimento, com registros de menores
percentuais após 5 minutos até 10 minutos. Na terceira alimentação, dos 19 espécimes que
defecaram (4 N1, 4 N2, 2 N3 e 9 N5), apenas uma ninfa de 1º estádio e uma ninfa de 5º
estádio defecaram em menos de 31 segundos. Apesar de um menor número de espécimes
defecar na terceira alimentação, também registrou-se maior percentual de defecações até 5
minutos e menor percentual após 5 minutos até 10 minutos (Figura 4.11).
50
Espécimes de T. sherlocki (%)
Primeira alimentação
60.0
55.0
50.0
45.0
40.0
35.0
30.0
25.0
20.0
15.0
10.0
5.0
0.0
N1 (n=114)
N2 (n=111)
N3 (n=84)
N4 (n=50)
N5 (n=64)
Intervalos de tempo
Figura 4.9. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki que defecaram em diferentes intervalos de tempo até 10 min. após o primeiro repasto sanguíneo.
51
Espécimes de T. sherlocki (%)
Segunda Alimentação
60.0
55.0
50.0
45.0
40.0
35.0
30.0
25.0
20.0
15.0
10.0
5.0
0.0
N1 (n=66)
N2 (n=60)
N3 (n=37)
N4 (n=12)
N5 (n=21)
Intervalos de tempo
Figura 4.10. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki que defecaram em diferentes intervalos de tempo até 10 min. após o segundo repasto sanguíneo.
52
Terceira Alimentação
100.0
Espécimes de T. sherlocki (%)
100.0
80.0
N1 (n=4)
60.0
N2 (n=4)
N3 (n=2)
40.0
N5 (n=9)
20.0
0.0
Intervalos de tempo
Figura 4.11. Porcentagem dos espécimes de Triatoma sherlocki que defecaram em diferentes intervalos de tempo até 10 min. após o terceiro repasto sanguíneo.
53
Porcentagem de alimentações seguidas de defecação até 10min. – Dos 1.713 repastos
realizados, 39,2% foram seguidos de defecação até 10 minutos. Considerando os estádios
ninfais, as maiores porcentagens foram observados para as ninfas de 1º (72,7%) e 2º (70,9%)
estádios, seguido das ninfas de 3º estádio (48,4%), e o menor percentual foi para as ninfas de
5º estádio (15,4%), mostrando uma escala descendente do 1º- 5º estádio (Figura 4.12).
Espécimes de T. sherlocki (%)
Defecação após a alimentação
100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
72,7
Defecação
70,9
48,4
39,2
30,0
15,4
6,3
N1
N2
N3
N4
N5
8,7
Fêmea * Macho *
Total
Figura 4.12. Porcentagem de alimentações com defecação até 10 min. após a alimentação. de Triatoma
sherlocki nos diferentes estádios: ninfas de 1º (n=256), 2º (n= 251), 3º (n= 256), 4º (n=280), 5º (n=631) estádios
e machos (n=23) e fêmeas (n=17). *Até o dia 30/11/2013, das 34 N5 que atingiram a fase adulta, 17 realizaram
alimentação (13 machos e 4 fêmeas), das quais se observou 3 defecações (1 para fêmea e 2 para macho). As
demais ninfas de quinto estádio continuarão sendo estudadas para obtenção de dados mais consistentes referentes
à fase adulta.
As médias dos tempos de defecação até 10 minutos após a alimentação para todos os
estádios ninfais estão representadas na Figura 4.13. Os valores assumiram escala crescente do
1º até o 4º estádio, decrescendo no 5º estádio. Apesar das diferenças no tempo de defecação
serem estatisticamente significativas (Kruskal Wallis, H = 81.2625, df = 4), as comparações
realizadas pelo teste post hoc de Dunn mostraram semelhanças para alguns estádios. As ninfas
de 1º estádio foram as que apresentaram menor média de tempo para defecação após o
repasto, 1,38 min. (mínimo de 0,02 min., máximo de 9,03 min.), sendo esse tempo diferente
do tempo registrado para as ninfas de 2º estádio, 2,15 min. (mínimo 0,01 min., máximo 9,45
min.) (teste post hoc de Dunn, p<0,05). As ninfas de 4º estádio necessitaram de mais tempo
para defecar, o qual representou o maior valor observado, média 3,73 min. (mínimo 0,01 min.,
máximo 9,57 min.), entretanto, esse tempo foi semelhante ao tempo das ninfas de 3º estádio,
3,01 min. (mínimo 0,03 min., máximo 9,59 min.) e de 5º estádio, 3,34 min. (mínimo 0,07
min., máximo 9,48 min.) (testes post hoc de Dunn, p<0,05).
54
9
Média
a
a
N3
(124)
N4
(83)
N5
(95)
6
8
b
4
c
0
2
Tempo de defecação (min.)
Mediana
a
N1
(184)
N2
(174)
Figura 4.13. Tempo decorrido entre o fim do repasto e a defecação de Triatoma sherlocki (até 10 min.). São
mostrados os percentis 25 e 75 (limites das caixas mais próximos e mais distantes de zero, respectivamente), as
medianas (linha sólida dentro da caixa), e as médias (lozango azul). O número de observações testadas em cada
grupo é mostrado entre parênteses. Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas (Testes de
Kruskal-Wallis e Dunn, p<0,05). *Até o dia 30/11/2013, das 34 N5 que atingiram a fase adulta, 17 realizaram
alimentação (13 machos e 4 fêmeas), das quais se observou 3 defecações (1 para fêmea e 2 para machos). As
demais ninfas de quinto estádio continuarão sendo estudadas para obtenção de dados mais consistentes referentes
à fase adulta.
Durante o estudo do comportamento de defecação, observou-se que alguns espécimes
apresentavam um comportamento peculiar. Após um período de alimentação, retiravam o
rostro e quando iam defecar giravam o corpo, deslocavam-se para trás de maneira que o ápice
do abdome se posicionasse próximo ou na direção da região da picada. Os giros observados
foram de 90º, 160º, 170º, 180º e 270º, sendo que o mais frequente foi o de 180º. Esse
comportamento foi observado tanto nas defecações realizadas durante a alimentação quanto
nas defecações realizadas após a alimentação. Algumas defecações foram registradas após 4
minutos ou até 7 minutos, quando o triatomíneo já havia se afastado do hospedeiro. Mas no
momento da defecação, o inseto girava, andava para trás e depositava suas fezes próximo ao
camundongo (Figuras 4.14 e 4.15).
55
Espécimes de T. sherlocki (%)
16.0
14.9
14.0
12.0
10.0
8.0
7.5
6.5
5.1
6.0
4.0
2.6
2.0
0.0
N1
N2
N3
N4
N5
Giro
Figura 4.14. Porcentagem dos espécimes de T. sherlocki, ninfas de 1º (n=121), 2º (n=119), 3º (n=117), 4º
(n=116) e 5º (n=114) estádios que giraram o corpo para defecar durante ou após a alimentação até 10 min.
56
A
2
1
c
c
180⁰
T
2
1
c
c
c
T
B
4
3
T
T
3
c
4
c
c
T
170⁰
T
T
T
C
2
1
c
3
c
4
c
c
T
160⁰
T
T
T
D
2
1
c
4
3
c
c
c
T
90⁰
T
T
T
Figura 4.15. Representação esquemática do comportamento de defecação observado para alguns espécimes de
Triatoma sherlocki. A. Giro de 180º. B. Giro de 170º. C. Giro de 160º. D. Giro de 90º. c: camundongo, T:
triatomíneo.
57
5. Resistência ao jejum
Na tabela 4.6 observa-se a resistência ao jejum para cada fase de desenvolvimento de T.
sherlocki, considerando o número de dias desde a eclosão ou muda até a morte. O maior
tempo de sobrevivência à privação alimentar ocorreu no 5º estádio, com média de 156,5 ±
39,7 dias (mínimo 73,0, máximo 236,0 dias) (5 meses e 22 dias). O menor tempo registrado
foi 57,3 ± 9,3 dias para 1º estádio, com variação de 34,0 - 71,0 dias de sobrevivência. As
médias de sobrevivência assumem escala ascendente do 1º estádio até o 5º estádio,
diminuindo na fase adulta. O período médio de sobrevida na fase adulta foi menor, os machos
mostraram-se mais resistentes, com média de 112,0 ± 20,5 dias (mínimo 78,0, máximo 156,0)
(~ 4 meses), que as fêmeas, com média de 109,0 ± 23,6 dias (mínimo 62,0, máximo 170,0) (3
meses e 20 dias).
Tabela 4.6. Resistência ao jejum (em dias) de T. sherlocki.
Fase de
desenvolvimento
Espécimes (n)
N1
Resistência ao jejum (dias)
Mínima
Máxima
Média
± DP
50
34,0
71,0
57,3
9,3
N2
50
22,0
142,0
90,3
25,3
N3
50
56,0
152,0
104,7
23,6
N4
50
91,0
204,0
146,0
21,8
N5
50
73,0
236,0
156,5
39,7
Macho
50
78,0
156,0
112,0
20,5
Fêmea
50
62,0
170,0
109,0
23,6
58
V. DISCUSSÃO
1. Insetos coletados
No Brasil, após a implementação do Programa Nacional de Controle da Doença de
Chagas, através da borrifação de inseticidas de ação residual, vigilância entomológica e
melhoria das habitações humanas; o número de capturas de T. infestans diminuiu na maioria
dos estados brasileiros, existindo hoje apenas focos residuais em alguns estados, tais como a
Bahia (Silveira 2011, Gurgel-Gonçalves et al 2012a). Porém, ao mesmo tempo em que se
observou queda na população dessa espécie nos ecótopos artificiais, verificou-se aumento
considerável da presença de espécies nativas, tais como: T. sordida, T. b. brasiliensis, T.
pseudomaculata, P. megistus, T. rubrovaria (Vinhaes & Dias 2000, Almeida et al 2000,
Costa et al 2003a). Adicionalmente, estudos entomológicos demonstraram que espécies
anteriormente consideradas silvestres passaram a ser capturadas no domicílio e,
consequentemente, poderiam estar iniciando a colonização do intradomicílio, tais como T.
sherlocki em Encantado, Gentio do Ouro, Bahia (Almeida et al 2009).
No presente estudo, foram realizadas investigações entomológicas no município de
Gentio do Ouro, região de ocorrência de T. sherlocki. Os dados de coleta demonstraram que a
maioria dos espécimes foi coletada no ecótopo silvestre nas duas localidades estudadas: Santo
Inácio e Encantado. Entretanto, as pesquisas realizadas no domicílio resultaram na captura de
espécimes no interior das casas, três ninfas em Encantado e um adulto em Santo Inácio. Os
dados sobre a ocorrência de ninfas no intradomicílio aqui apresentados estão de acordo com
os resultados reportados previamente por Almeida et al (2009).
Durante o presente estudo não foram capturados espécimes no peridomicílio em
nenhuma das duas comunidades estudadas. Na localidade de Encantado, verificou-se que,
neste ecótopo, os animais domésticos comumente observados em outras comunidades criados
para alimentação, tais como caprinos, suínos, bovinos e aves, foram ausentes. A ausência de
animais que poderiam servir de fonte alimentar para os triatomíneos no peridomicílio,
eventualmente, pode ser o motivo que levou T. sherlocki a invadir e/ou colonizar as casas em
busca de alimento (Almeida et al 2009). Adicionalmente, os tipos de habitações humanas
encontradas nesta vila, construídas de forma precária com materiais disponíveis no ambiente,
muitas vezes os mesmos materiais que compõem os abrigos no ambiente silvestre onde vive
T. sherlocki (rochas), tais como só rochas, só barro, barro e rochas e folhas de palmeira,
podem ter favorecido a instalação de colônias no interior das casas.
O distrito de Santo Inácio, ao contrário de Encantado, é bem estruturado e urbanizado,
com domicílios construídos de alvenaria. Nesta localidade, foi coletado apenas um adulto no
59
intradomicílio, sugerindo que o tipo de habitação pode ter dificultado o estabelecimento de
colônias no interior das casas. Esse dado está de acordo com informações da Secretaria de
Saúde de Irecê (Almeida et al 2009), que tem reportado invasões esporádicas de adultos no
intradomicílio.
Mendonça (2011), ao estudar a estrutura genética de T. sherlocki com o objetivo de
verificar se o processo de domiciliação estaria associado com a dispersão passiva entre as
localidades antropizadas (Encantado e Santo Inácio), demonstrou que as populações
provenientes dessas duas localidades não apresentaram relação genética, sugerindo que a
presença de insetos no intradomicílio, nas duas localidades, era proveniente de focos
silvestres adjacentes aos domicílios. O fato das populações que estão colonizando o domicílio
serem oriundas dos ecótopos silvestres representa uma dificuldade para a eliminação de T.
sherlocki, uma vez que as invasões e/ou colonização de espécies nativas a partir dos focos
silvestres são contínuas, evidenciando a necessidade da vigilância entomológica (Silveira &
Dias 2011).
2. Infecção natural por T. cruzi
No presente estudo, a detecção de T. cruzi foi realizada por meio do exame de fezes à
fresco dos triatomíneos em microscópio óptico, por esse motivo julgamos mais adequado o
uso do termo T. cruzi-like, uma vez que não foi feita a coloração das lâminas para a
identificação específica do protozoário (Junqueira ACV In Coura et al 2011). Um total de 145
espécimes de T. sherlocki, provenientes de Santo Inácio e Encantado, foram examinados para
a presença de T. cruzi-like, dos quais 20% estavam positivos. Embora os triatomíneos tenham
sido amostrados nas mesmas localidades anteriormente estudadas por Almeida et al (2009),
os resultados aqui apresentados mostraram índices de infecção natural de T. sherlocki
superiores. A diferença nos índices pode ter sido em função de, no presente estudo, termos
realizado coletas em pontos diferentes e devido ao fato do número de exemplares examinados
ser superior ao analisado por esses autores (10,9% - 7/64). Ao compararmos com os membros
do complexo T. brasiliensis, esta porcentagem de infecção natural é superior às obtidas para
as populações “juazeirensis” (0,0% - 0/30), “macromelasoma” (0,0% - 0/56), “melanica”
(5,3% - 4/75) e “brasiliensis” (15,1% - 11/73), reportadas por Costa et al (1998). No entanto,
o índice de infecção natural pode estar sendo subestimado, porque só foi realizado o exame
microscópico das fezes dos espécimes. A utilização de técnicas mais sensíveis, como a da
PCR (reação em cadeia da polimerase) poderia resultar em uma taxa de infecção superior à
60
obtida (Cominetti et al 2013). Além disso, a dissecção de todo o tubo digestório do
triatomíneo poderia também contribuir com o aumento da taxa de infecção natural.
O índice de infecção natural por T. cruzi-like, incluindo espécimes de Encantado e
Santo Inácio dos ambientes domiciliar e silvestre, foi maior para os adultos, 33% (21/62), em
relação aos estádios imaturos, 9,6% (8/83). Essa diferença pode ser explicada pelo fato de no
ambiente silvestre os triatomíneos exibirem uma relação íntima com hospedeiros silvestres
não refratários de T. cruzi. Sendo assim, nesse caso, a presença de maior taxa de infecção na
fase adulta pode ser explicada pela maior capacidade de dispersão e consequentemente maior
chance de contato com o hospedeiro infectado, uma vez que o inseto necessitou realizar várias
alimentações ao longo do seu ciclo de desenvolvimento (Juarez 1970).
Em Encantado, os espécimes examinados coletados no intradomicílio (2 ninfas de 5º
estádio) não estavam positivos para T. cruzi-like, enquanto que um exemplar adulto macho
capturado no intradomicílio em Santo Inácio apresentou infecção natural por esse protozoário.
Almeida et al (2009) sugeriram que em Encantado T. sherlocki encontra-se em um possível
processo de domiciliação. Assim, parece plausível pensar que, ao longo do seu
desenvolvimento no intradomicílio, essas ninfas ainda não haviam tido a oportunidade de
contato com um hospedeiro infectado com T. cruzi-like, por isso apresentaram negatividade
para esse parasito. Segundo dados da Secretaria de Saúde de Irecê (Almeida et al 2009),
invasões esporádicas de adultos no intradomicílio nesta localidade são frequentes.
Adicionalmente, conforme mostrado por Mendonça (2011), os espécimes que estão invadindo
o intradomicílio nessas duas localidades são oriundos de focos silvestres adjacentes. Logo, em
Santo Inácio, a infecção natural desse espécime adulto poderia ser atribuída às maiores
chances de contato dos adultos com hospedeiros infectados por T. cruzi-like no ambiente
silvestre, ao contrário das ninfas encontradas no intradomicílio em Encantado.
Os exemplares coletados no ambiente silvestre provenientes do distrito de Santo Inácio
apresentaram menor taxa de infecção natural (4,5% - 3/66) em relação aos da localidade de
Encantado coletados no mesmo ambiente (32% - 25/76). Segundo Almeida et al (2009),
Encantado é um assentamento informal de garimpo cujas habitações humanas precárias, em
alguns casos, encontram-se diretamente inseridas no ambiente silvestre, sendo muitas vezes
difícil identificar o peridomicílio. Esta vila é composta por apenas 19 casas, estimando-se em
95 o número de pessoas residentes, mas nem todos são moradores permanentes. Nesta vila,
observações in loco associadas aos dados de perfis de NDVI (Normalized Difference
Vegetation Index) indicaram que Encantado apresenta maior área de vegetação que Santo
Inácio; mostraram também que esta localidade apresenta menos alterações antrópicas no
ambiente silvestre em relação à Santo Inácio (Almeida et al 2009). O fato de Encantado
61
apresentar biótopos silvestres mais preservados poderia favorecer a ocorrência ou a maior
densidade de hospedeiros silvestres não refratários de T. cruzi nos complexos rochosos,
coabitando com T. sherlocki, aumentando sua chance de se infectar com o parasito ao se
alimentar, o que explicaria a maior taxa de infecção natural por T. cruzi-like nesta localidade.
O estado da Bahia não apresenta notificação de casos de doença de Chagas aguda desde
2007. Segundo os dados do SINAN, no período de 2001 a 2006 a Bahia foi o estado que mais
notificou casos de DCA pela via vetorial (383). No entanto, no período de 2007-2013 não
houve notificação de casos, contrariamente às outras regiões do país, o que poderia ser
explicado pela eficiência no controle vetorial, falhas na detecção e/ou notificação de DCA,
baixa capacidade vetorial de triatomíneos que ocorrem no domicilio nessa região, baixa
densidade de colônias domiciliadas ou ausência de infecção natural por T. cruzi. Entretanto,
no presente estudo, os resultados mostraram que espécimes de T. sherlocki coletados nas
adjacências das habitações das duas localidades estudadas, no ambiente silvestre, apresentam
altas taxas de infecção natural por T. cruzi-like, sendo que a maioria entre os adultos. Os
resultados aqui apresentados mostraram também que um exemplar adulto de T. sherlocki
coletado no intradomicílio estava infectado por T. cruzi-like, indicando que essas invasões
e/ou colonizações do domicílio, ao tornarem-se frequentes, impõem risco de transmissão deste
protozoário para os humanos, o que poderia favorecer a emergência ou reemergência de casos
da doença de Chagas na região.
3. Parâmetros biológicos
As características biológicas dos triatomíneos estão relacionadas com a espécie e as
condições ambientais e são influenciadas pela acessibilidade a fonte alimentar adequadas
(Lent & Wygodzinsky 1979). Desde a descoberta da doença de Chagas, em 1909, vários
pesquisadores estudaram os aspectos biológicos dos triatomíneos, fornecendo importantes
contribuições para o conhecimento das espécies que compõem esta subfamília, principalmente
as que têm importânicia epidemiológica, contribuindo assim para as ações de controle. Entre
as espécies mais estudadas encontra-se o T. infestans, principal vetor do parasito T. cruzi.
Na literatura existente, verifica-se que na faixa de 20°C a 35°C obtém-se o
desenvolvimento de modo satisfatório de T. infestans, tendo-se como boas as temperaturas
entre 25°C e 30°C (Pessoa & Barros 1939, Ryckman & Ryckman 1966). Ryckman e
Ryckman (1966) afirmam que os triatomíneos podem sobreviver em variados graus de
umidade relativa do ar, desde 10 até 90%, com inconvenientes para os extremos. Esse autor
62
recomenda como satisfatória para o crescimento rápido e reprodução de muitas espécies a
umidade relativa de 50-60%.
De acordo com Canale et al (1998), os experimentos realizados sob condições de
laboratório à temperatura e umidade relativa constantes e o oferecimento da alimentação em
períodos regulares não condizem com as condições que normalmente são encontradas no
ambiente natural, onde existem variações climáticas drásticas que influenciam no
metabolismo do inseto, em suas necessidades tróficas e consequentemente no ciclo biológico.
Adicionalmente, as comparações entre os dados sobre sua biologia disponíveis são difíceis,
devido às diferenças no desenho experimental, especialmente em relação à temperatura e
umidade (muitas vezes não controladas), a frequencia da alimentação, fontes alimentares e
métodos de análise estatística para avaliar os resultados.
Embora o presente estudo tenha sido realizado sob condições de laboratório com
temperatura controlada média de 24,6 ± 1,3⁰C e umidade relativa média (não controlada) de
71,4 ± 6,3%, foi possível estimar a biologia e o comportamento de T. sherlocki. A
extrapolação desses dados de laboratório para populações naturais permite um conhecimento
aproximado sobre estes parâmetros de forma comparativa entre as diversas espécies, além de
possibilitar inferências sobre a sua capacidade vetorial.
3.1. Ciclo biológico
No presente estudo, a média do período de incubação dos ovos de T. sherlocki foi de
40,9 ± 2,1 dias. Esses resultados diferem dos encontrados por Lima-Neiva et al (2012), que
obtiveram média de 20,2 dias, variando de 14 a 28 dias, possivelmente devido ao fato do
estudo não ter sido realizado sob condições controladas e sim em temperatura e umidade
ambientes da cidade do Rio de Janeiro, com médias de temperatura de 27⁰C e umidade
relativa de 75,5% no período do estudo. Ao compararmos esses dados com os de outras
espécies, verificamos que a média do período de incubação aqui registrado foi superior à
observada por Soares et al (2000) para T. brasiliensis (média de 25 ± 1 dias) e T.
pseudomaculata (média de 19 ± 1 dias) alimentados em camundongos e mantidos em
temperatura similar de 24 ± 2ºC e umidade relativa 56 ± 6 %. Gonçalves et al (1988),
estudando o ciclo biológico de T. vitticeps sob temperatura mínima de 25 ± 2º C e máxima de
28 ± 2º C, umidade relativa 80 ± 2%, usando como fonte alimentar camundongos, registraram
média de 20 ± 1 dias para o período embrionário. Vários autores têm mostrado que o
desenvolvimento embrionário dos ovos de diversas espécies de triatomíneos é influenciado
63
pela temperatura, como demonstrado pela primeira vez por Neiva (1913) e posteriormente por
Perlowagora-Szumlevicz (1969) para T. infestans. Rangel (1982) avaliou os efeitos desta
variável durante o período de incubação dos ovos de outras 13 espécies, notando que para
ovos incubados entre 30°C e 34°C, o período de incubação foi menor do que no grupo
controle, mantido a 25 ± 3°C.
Em relação à duração das fases de desenvolvimento das ninfas, foram registradas
médias de duração dos estádios ninfais superiores aos observados para T. infestans por Juarez
(1970), que avaliou o desenvolvimento do ciclo biológico usando diferentes fontes de sangue
(camundongos e galinhas) sob diferentes temperaturas (25 e 30°C), em umidade relativa de 60
a 70%, com espécimes com e sem infecção por T. cruzi. Apesar de, no presente estudo, as
médias de duração das formas imaturas serem maiores que as obtidas por este autor,
verificou-se que os resultados estão mais próximos dos valores obtidos para os lotes mantidos
em temperatura de 25°C, com médias até três vezes superiores às observadas para os lotes
mantidos sob temperatura de 30°C. Isso indica que a temperatura média usada no presente
estudo (24,6°C) pode ter condicionado o metabolismo de T. sherlocki, tornando mais longo o
período de desenvolvimento ninfal.
As médias do período de duração dos estádios ninfais aqui reportadas são superiores às
observadas por Soares et al (2000) para T. brasiliensis, mas são inferiores às médias obtidas
para o 2º, 3º e 4º estádios e superior às médias do 1º e 5º estádios de T. pseudomaculata
(temperatura média de 24 ± 2ºC e umidade relativa de 56 ± 6%). Verificou-se também que no
presente trabalho os dados são superiores aos obtidos por Gonçalves et al (1988) para o 1º, 2º
e 5º estádios e ligeiramente inferiores aos dados do 3º e 4º estádios de T. vitticeps
(temperatura mínima média de 25 ± 2ºC e máxima média de 28 ± 2ºC, umidade relativa média
80 ± 2%). A média de duração decresce de N1 para N2, em seguida aumenta até a N5.
Embora variações ao longo do desenvolvimento ninfal já tenham sido registradas para outras
espécies, os triatomíneos tendem a mostrar escala ascendente no seu período de
desenvolvimento de N1-N5 (Juarez 1970). Uma vez que não se registrou variações acentuadas
na temperatura, pois esta era contolada, a queda na média de duração do período de
desenvolvimento da N2 poderia ser atribuída à variação da umidade relativa e/ou a
características intrínsecas de T. sherlocki.
A média do período de desenvolvimento do ciclo completo de ovo a adulto de T.
sherlocki evidenciou a ocorrência de uma geração por ano (325 dias), superior às médias
obtidas para quase todas as espécies relacionadas na Tabela 5.1, exceto T. nitida Usinger,
1939, que apesar do autor não ter informado, apresentou médias superiores em todas as fases
de desenvolvimento (Galvão et al 1995). Incluem-se também, em destaque, as espécies que
64
foram estudadas sob condições similares, tais como, T. infestans (Juarez 1970) e T.
brasiliensis (Soares et al 2000), vetores de maior importância epidemiológica, e Triatoma
rubida (Martínez-Ibarra et al 2012), vetor de menor importância epidemiológica (Tabela 5.1).
65
Tabela 5.1. Comparação das médias de duração das fases de desenvolvimento de várias espécies de triatomíneos.
Espécie
Ovo
N1
N2
N3
N4
N5
Total
T (⁰C)
UR
(%)
Fonte
alimentar
Rhodnius neglectus
12,9
18,6
22,5
24,4
30,8
45,4
156,4
28,0
75,0
cam.
Barreto-Santana et al 2011
Rhodnius robustus
17,5
23,4
28,5
40,7
46,3
47,2
204,7
28,0
75,0
cam.
Barreto-Santana et al 2011
Rhodnius brethesi
17,0
18,5
16,0
21,3
20,9
38,6
*
27,0
*
Rocha et al 2004
Triatoma sherlocki
41,0
36,4
29,2
34,5
48,8
142,4
325,0
24,4
71,6
cam.
cam.
Triatoma infestans
*
18,3
18,6
23,1
27,7
88,1
175,8
25,0
60-70
cam.
Juarez 1970
Triatoma infestans
*
11,7
18,1
16,6
14,6
25,7
81,7
30,0
60-70
cam.
Juarez 1970
Triatoma bras. brasiliensis
Triatoma pseudomaculata
25,0
19,0
23,0
25,0
24,0
33,0
23,0
48,0
27,0
52,0
44,0
55,0
160,0
212,0
24,0
24,0
56,0
56,0
cam.
cam.
Soares et al 2000
Soares et al 2000
Triatoma maculata
Triatoma recurva
Triatoma protracta
Triatoma rubida
Triatoma nitida
*
20,7
21,1
17,4
*
17,8
14,7
35,4
13,3
54,6
20,8
31,1
37,2
15,6
60,6
20,9
40,2
47,1
18,7
180,3
24,9
67,1
43,4
25,6
228,2
41,4
91,1
57,1
36,2
217,1
120,0
259,9
201,2
125,9
*
27,6
25,0
25,0
25,0
28,0
77,5
55,0
55,0
55,0
80,0
cam.
coelho
coelho
coelho
pombo
Triatoma vitticeps
Triatoma rubrovaria
20,0
*
22,0
28,4
26,0
53,8
35,0
27,4
55,0
24,7
93,0
36,1
*
*
25-28
27,63
80,0
77.49
cam.
cam.
* Não informado, cam.: camundongo, T.: temperatura, UR.: umidade relativa.
66
Autor
Este trabalho
Luitgards-Moura et al 2005
Martínez-Ibarra et al 2012
Martínez-Ibarra et al 2012
Martínez-Ibarra et al 2012
Galvão et al 1995
Gonçalves et al 1988
Almeida 2000
Segundo Juarez (1970), o número de repastos realizados pelos triatomíneos tem
importância epidemiológica, pois quanto maior o número de contatos entre vetor e
hospedeiro, maior a chance do triatomíneo adquirir a infecção ou de transmitir T. cruzi para o
hospedeiro. Considerando essa premissa e comparando os resultados do presente estudo com
a literatura, verificou-se que as ninfas de 5º estádio apresentaram média de repastos superior
às de Rhodnius brethesi Matta,1919 (Rocha et al 2004); T. infestans (Juarez 1970); T.
maculata (Luitgards-Moura et al 2005); T. recurva, T. protracta e T. rubida (Martínez-Ibarra
et al 2012); T. pseudomaculata (Gonçalves et al 1997); e semelhante à média de T. nitida
(Galvão et al 1995) (Tabela 5.2). Os demais estádios ninfais apresentaram médias do número
de repastos ligeiramente superiores às médias obtidas por Juarez (1970) para os mesmos
estádios ninfais de T. infestans em condições semelhantes. Em relação às demais espécies,
verifica-se que os resultados do presente estudo são comparáveis aos valores obtidos para as
espécies mantidas em 25ºC, com exceção de T. recurva (Tabela 5.2).
Gonçalves et al (1988), ao estudar T. vitticeps alimentados em camundongos e mantidos
sob condições ambientais (média mínima de 25ºC e média máxima de 28ºC, umidade relativa
80 ± 2%), concluiu que esta espécie não pode ser considerada um bom transmissor de T.
cruzi, entre outros motivos, porque a maioria das ninfas de 1º, 2º, 3º e 4º estádios realizou
apenas um repasto e a maioria das ninfas de 5º estádio realizou até dois repastos para mudar
para a fase seguinte. Neste estudo, apesar de observarmos que pelo menos 7,7% das ninfas de
1º, 2º, 3º e 4º estádios necessitaram de apenas um repasto para realizarem a muda, a maioria,
54%, necessitou de dois repastos para mudarem para próxima fase de desenvolvimento. Já as
ninfas de 5º estádio, 5,3% (6/114) precisaram de no mínimo dois repastos, mas a maioria,
67,5%, realizou mais de quatro repastos para fazer a muda imaginal e destas, dois espécimes
fizeram até onze repastos. Portanto, o presente estudo demonstra que o fato de T. sherlocki ao
realizar número de alimentações superior ao de espécies vetoras de maior (T. infestans e T.
brasiliensis) e menor (T. vitticeps) importância epidemiológica, indica que esta espécie
necessita de mais contato com o hospedeiro, o que consequentemente aumentaria as chances
de adquirir T. cruzi e também haveria maiores chances de defecação e transmissão do parasito
causador da doença de Chagas.
67
Tabela 5.3. Comparação das médias do número de alimentações para várias espécies de triatomíneos
Espécie
N1
N2
N3
N4
N5
T (⁰C)
UR (%)
Fonte
alimentar
Rhodnius brethesi
1,57
1,24
1,26
1,32
1,73
27,0
*
cam.
Rocha et al 2004
Triatoma sherlocki
2,0
2,1
2,2
2,4
5,3
24,4
71,6
cam.
Este trabalho
Triatoma infestans
1,2
1,3
1,2
1,9
4,2
25,0
60-70
cam.
Juarez 1970
Triatoma maculata
1,1
1,7
2,1
2,1
3,9
27,6
77,5
cam.
Luitgards-Moura et al 2005
Triatoma recurva
2,1
4,3
3,9
4,4
3,1
25,0
55,0
Coelho
Martínez-Ibarra et al 2012
Triatoma protracta
1,6
1,8
2,3
2,7
3,3
25,0
55,0
Coelho
Martínez-Ibarra et al 2012
Triatoma rubida
1,2
1,9
2,7
2,9
4,6
25,0
55,0
Coelho
Martínez-Ibarra et al 2012
Triatoma nitida
2,7
3,4
6,1
6,1
5,2
28,0
80,0
Pombo
Galvão et al 1995
Triatoma pseudomaculata
2,4
2,6
3,2
3,5
3,0
28,0
80,0
cam.
Gonçalves et al 1997
Triatoma rubrovaria
1,2
4,6
1,7
1,65
2,29
27,63
77.49
cam.
Almeida 2000
* Não informado, cam.: camundongo, T.: temperatura, UR.: umidade relativa.
68
Autor
A maior porcentagem de mortalidade foi observada para as ninfas de 1º e 2º estádios
(2,4%) e menor porcentagem para as ninfas de 3º (0%) e 5º estádio (0% de 34 que atingiram a
fase adulta), o que não é considerado por vários autores como comum nas espécies de
triatomíneos, que geralmente apresentam taxas elevadas de mortalidade no 1º e 5º estádios
(Correia 1962, Lent & Valderrama 1977, Galvão et al 1995). Supõe-se que as possíveis
causas de morte das ninfas foram: (i) inanição, ninfas de 1º estádio (3 espécimes),
impossibilidade de se alimentar devido a uma deformação no último segmento do aparelho
bucal (1 espécime), pois observou-se que este não conseguiu inserir o rostro no camundongo
para efetuar a alimentação; (ii) impossibilidade de sucção de sangue (2 espécimes),
possivelmente devido a problemas nas estruturas envolvidadas com a sucção; (iii) problemas
no aparelho digestório, ninfas de 2º estádio (3 espécimes), pois a ninfa se alimentou e
ingurgitou, mas ficou muito tempo com o abdome cheio e morreu, indicando aparente
problema de digestão; (iv) morte sem causa aparente, um dos espécimes morreu na mesma
semana em que realizou a muda para o 2º estádio; (v) inanição (1 espécime), devido a
problemas de sucção, observamos que as ninfas inseriam a rostro no camundongo,
permanecia assim durante muito tempo, mas continuava com o abdome vazio, sem ingestão
de sangue; (vi)
ninfas de 4º estádio (2 espécimes), morte pode ser atribuída a trauma
inadvertido (Juarez 1970), pois as ninfas realizaram alimentação, ingeriram sangue, mas
morreram dias depois ingurgitadas.
A mortalidade total registrada foi de 6,5%, taxa essa considerada muito baixa quando
comparada com as de outras espécies de triatomíneos, indicando que T. sherlocki apresenta
boa adaptabilidade às condições de laboratório. Os resultados obtidos estão de acordo com os
observados para T. infestans (3,4%) por Juarez (1970). O autor sugere que baixa mortalidade
demonstra que a espécie tem boa vitalidade, adaptando-se ao ambiente a que é submetida, ou
seja, o confinamento do frasco de Borrel. Porcentagens elevadas de mortalidade podem ser
atribuídas ao excesso de manuseio (Costa & Jurberg 1990), dificuldades de adaptação a fonte
alimentar (Correia 1962), confinamento de muitos espécimes em um mesmo recipiente,
manuseio (Juarez 1970) e condições de criação apossimbióticas (Lake & Friend 1968).
Apesar do registro de baixa mortalidade para essa espécie, nas condições em que o
estudo foi desenvolvido, registrou-se ocorrência de anomalias morfológicas nos adultos que
parecem não influenciar na sua sobrevida. Conforme mencionado, dos 123 ovos que iniciaram
o experimento, 34 atingiram a fase adulta até o dia 30/11/2013, as demais ninfas de 5º estádio
continuarão sendo observados para obtenção de dados referentes à fase adulta. Entre os
adultos, observou-se uma taxa de 44,1% (15/34) de espécimes que apresentaram deformidade,
sendo 70% fêmeas (7/10) e 33,3% machos (8/24). Este fenômeno já foi observado para outras
69
espécies, nas quais se verificou que anomalias durante a muda imaginal ou a interrupção da
muda podem ocorrer e elevar a taxa de mortalidade (Lent & Valderrama 1977, Costa et al
1987).
No presente estudo, a taxa de mortalidade foi baixa e embora os adultos apresentem
deformidades, que poderiam ser também atribuídas ao confinamento, estas parecem não
comprometer a sobrevivência e habilidade de alimentação de T. sherlocki, pois todos os
espécimes permanecem vivos e realizam a alimentação normalmente.
3.2. Comportamento de alimentação e de defecação
O registro do tempo decorrido entre o oferecimento da fonte alimentar e o ato de picar
permitiu avaliar a agressividade e voracidade na procura do alimento. Triatoma sherlocki
tende a ser agressivo no ambiente silvestre, saindo do seu abrigo, fendas das pedras, para
picar. Em condições experimentais, verificou-se que o ato de picar rapidamente foi observado
nos primeiros estádios, porém sua ocorrência decaiu à medida que se avançava nos estádios
posteriores. Esta correlação foi observada para T. vitticeps (Gonçalves et al 1988), porém não
foi observada para outras espécies, tais como: T. infestans, T. dimidiata e R. prolixus (Zeledón
et al 1977); T. brasiliensis e T. pseudomaculata (Soares et al 2000); T. rubida (Reisenman et
al 2011); T. rubida, T. protracta e T. recurva (Martínez-Ibarra et al 2012).
No presente estudo, a alimentação foi oferecida semanalmente e os espécimes
alimentaram-se até a saciedade, sugerindo que os últimos estádios ninfais poderiam ter
acumulado reservas nutritivas. De acordo com Juarez (1982), este comportamento ocorre
porque no momento da muda deve existir na ninfa uma reserva de sangue no tubo digestivo
que justifica a ausência da procura pelo repasto. Assim, os dados demonstram que as ninfas de
1º, 2º e 3º estádios de T. sherlocki parecem ser mais agresssivas e vorazes em relação aos
últimos estádios ninfais e adultos.
A realização do repasto sanguíneo possibilita a interação entre vetor e hospedeiro e o
contato prolongado aumenta a probabilidade de interrupção da alimentação e, portanto,
aumenta o risco de exposição do hospedeiro ao material fecal do triatomíneo (Zeledón et al
1977, Reisenman et al 2011). Neste sentido, de acordo com alguns autores, as espécies que se
alimentam em mais de 10 minutos poderiam ser consideradas importantes vetores potenciais
de T. cruzi (Zeledón et al 1977). Triatoma sherlocki apresenta média de tempo de duração da
alimentação superior a 10 minutos em todos as fases de desenvolvimento, sendo que esse
tempo de alimentação aumenta de acordo com a progressão dos estádios ninfais e diminui a
partir do 5º estádio até a fase adulta. Correlação semelhante foi observada para outras
70
espécies, as quais apresentaram aumento do tempo de duração da alimentação até N5, como
T. vitticeps (Gonçalves et al 1988), e com diminuição na fase adulta, como por exemplo R.
prolixus (Zeledón et al 1977) e T. pseudomaculata (Soares et al 2000). Adicionalmente, essa
correlação (aumento até N5 e diminuição na fase adulta) não foi observada para outras
espécies, como T. infestans e T. dimidiata (Zeledón et al 1977); T. brasiliensis (Soares et al
2000), T. rubida (Reisenman et al 2011) e, para triatomíneos mexicanos, T. rubida, T.
protracta e T. recurva (Martínez-Ibarra et al 2012). Logo, esse parâmetro sugere que T.
sherlocki mantém contato prolongado com o hospedeiro, conferindo maiores chances de
interrupção da alimentação e consequente defecação, aumentando o risco de transmissão.
Segundo Reisenman et al (2011), a quantidade de sangue ingerida pode ser determinada
pelo peso absoluto (diferença entre peso após a alimentação e peso antes da alimentação) e
peso relativo (diferença entre peso após a alimentação e peso antes da alimentação/peso antes
da alimentação). Os resultados obtidos mostraram que a variação no tempo de sucção está
diretamente relacionada com a variação do peso absoluto, este último foi crescente do
primeiro até o quinto estádio, decrescendo na fase adulta. No entanto, foi observada uma
exceção a essa relação (duração da alimentação e peso absoluto), pois apesar das ninfas de 4º
estádio apresentarem um maior tempo de sucção, tiveram menor peso absoluto em relação às
ninfas de 5º estádio, onde se observou menor tempo de sucção e maior peso absoluto. Esta
variação observada com o decorrer dos estádios de desenvolvimento foi estatisticamente
significativa (teste Kruskal Wallis) e é semelhante às observações de Barreto-Santana et al
(2011) para Rhodnius neglectus e Rhodnius robustus Larrousse, 1927. Entretanto, ressalta-se
que, ao realizar o teste de comparações de Dunn, observou-se que apesar das diferenças das
médias de duração da alimentação serem significativas entre o 4º e o 5º estádios e adultos
(machos e fêmeas), o peso absoluto não apresentou diferenças estatisticamente significativas
entre o 4º estádio, fêmeas e machos; bem como não mostrou diferença significativa entre o 5º
estádio, fêmeas e machos. Esses dados sugerem que os adultos ingerem, mais rapidamente,
quantidade de sangue semelhante a ingerida pelas ninfas de 4º e 5º estádios.
Ao se estabelecer uma relação entre peso absoluto (diferença entre o peso após a
alimentação e o peso antes da alimentação) e peso antes da alimentação, obteve-se o peso
relativo e verificou-se que as ninfas de 1º estádio foram as que sugaram maior quantidade de
sangue proporcional, com ingestão de sangue 1,92 vezes superior ao próprio peso, sendo que
as fêmeas foram as que apresentaram menor peso relativo, média de 0,32. Diferente do que se
observou em relação ao peso absoluto, o peso relativo demonstrou relação inversa com a
duração da alimentação, decrescendo na medida em que se avançaram os estádios de
desenvolvimento N1-Adultos, enquanto que a duração da alimentação aumenta de N1-N4 e
71
diminui de N5-Adultos; tais diferenças de peso foram estatisticamente significativas (teste
Kruskal Wallis). No entanto, apesar das diferenças do peso relativo serem estatisticamente
significativas, segundo o teste Kruskal Wallis, o teste de Dunn mostrou que não houve
diferença significativa entre ninfas de 2º e 3º estádios, ninfas de 3º e 4º estádios, e ninfas de 5º
estádio, fêmeas e machos. Na relação peso relativo e duração da alimentação, verifica-se que
as ninfas de 1º estádio ingerem quantidade de sangue superior (proporcional ao seu próprio
peso) em menor intervalo de tempo do que os demais estádios de desenvolvimento, enquanto
que o 5º estádio e os adultos ingerem menor quantidade de sangue proporcional em um
período de tempo superior (5º estádio) ou semelhante (adultos) às ninfas de 1º estádio.
Reisenmam et al (2011), estudando T. rubida, estabeleceram essa relação e observaram que as
ninfas de 2º e 3º estádios apresentaram maior capacidade de ingestão proporcional de sangue.
De acordo com esses resultados, as ninfas de 1º estádio de T. sherlocki ingerem mais sangue
de forma mais rápida do que as dos demais estádios de desenvolvimento. Em uma análise
geral, os imaturos se alimentam mais e, portanto, ganharam peso (absoluto e relativo) igual ou
superior aos adultos. Devido à emissão de fezes durante o período do experimento, a
quantidade sangue ingerida foi ligeiramente subestimada.
O comportamento de defecação é um parâmetro importante na transmissão de T. cruzi,
sendo consideradas mais eficazes as espécies que defecam durante ou logo após o fim da
alimentação. Esta característica foi estudada primeiramente por Wood (1951), que
demonstrou que, em geral, espécies da América do Norte, tais como Triatoma protracta,
Triatoma rubida e Paratriatoma hirsuta Barber, 1938, não defecam após a alimentação em
um período de tempo efetivo para a transmissão de T. cruzi para o homem. Por outro lado,
Dias (1956) mostrou que alguns dos mais importantes vetores da América do Sul, tais como
R. prolixus, T. infestans, P. megistus e T. sordida, defecaram em um curto intervalo de tempo
após alimentação. Uma exceção entre os triatomíneos da América do Sul foi T. vitticeps, o
qual levou mais tempo para defecar, característica também observada por Gonçalves et al
(1988). Desde então, vários autores estudaram o comportamento de defecação e
demonstraram que este comportamento varia não só entre espécies, mas também entre os
estádios de desenvolvimento dentro da mesma espécie (Zeledón et al 1977, Gonçalves et al
1988, Soares et al 2000, Reisenman et al 2011, Martínez-Ibarra 2012). Aqui também foi
observado que o comportamento de defecação varia com os estádios de desenvolvimento.
Todos os estádios ninfais defecaram durante a alimentação, ao passo que os adultos (17/34),
observados até 30/11/2013, não defecaram. Calculando-se a porcentagem de alimentações
com defecações durante a alimentação, verificou-se que do total de 1.713 alimentações
realizadas, ao longo do ciclo de desenvolvimento, 5,1% ocorreram com defecação durante
72
alimentação. A porcentagem de defecação decresceu de N1-Adultos, sendo que o maior valor
foi registrado para as ninfas de 1º estádio (16,4%, n=256).
Segundo Lent e Wygodzinsky (1979), o vetor potencial passa a vetor efetivo quando
defeca em curto intervalo de tempo após a alimentação. Considerando essa premissa,
calcularam-se as porcentagens dos espécimes que defecaram em menos de 1 minuto após o
fim da alimentação. Dessa forma, constatou-se que a porcentagem de defecações até 1 minuto
após a alimentação decresceu de N1-N5, sendo que 63% (72/114) das ninfas de 1º estádio e
45,9% (51/111) das ninfas de 2º estádio apresentaram essa característica na primeira
alimentação. Na segunda alimentação, a porcentagem decresceu de N1-N3, aumentando até
N5, entretanto, a maioria das ninfas de 1º (60,6%, 40/66) e 2º (56,6%, 34/60) estádios
defecaram em menos de 1 minuto, indicando que os primeiros estádios de T. sherlocki
apresentam condições essenciais para a transmissão de T. cruzi para o hospedeiro e poderiam
ser considerados vetores eficientes de T. cruzi. Na terceira alimentação, poucos espécimes
defecaram em menos de 1 minuto (1/4 N1 e 1/9 N5). Esses resultados diferem das
observações realizadas por Almeida (2000) para T. rubrovaria, cujas ninfas de 1º estádio
apresentaram porcentagem inferior a 10% na 1º alimentação e inferior a 50% na 2º
alimentação. Entretanto, no presente estudo, os dados assemelham-se às porcentagens obtidas
por aquele autor para ninfas de 2º estádio (T. rubrovaria, 40<X<50% e 60<X<70% na 1ª e 2ª
alimentações, respectivamente), os quais são similares (45,9%) na 1º alimentação e inferiores
(56,7%) na 2º alimentação. Até a presente data, 30/11/2013, dos espécimes adultos
observados (17, 13 machos e 4 fêmeas), nenhum defecou em menos de 1 minuto após a
alimentação. O estudo da fase adulta terá continuidade até se observar um maior número de
espécimes para obtenção de dados mais consistentes.
Embora o risco de transmissão seja maior quando o triatomíneo defeca durante ou logo
após o processo de hematofagia, a transmissão de T. cruzi pode ocorrer se insetos
ingurgitados mantiverem contato com o hospedeiro após a alimentação, eliminando urina e/ou
fezes na tentativa de se livrar de líquidos para começar a restaurar o balanço hídrico e
diminuir o peso corporal (Lourenço-de-Oliveira 2005). Alguns autores propõem que espécies
que defecam até 10 minutos após o fim da alimentação são vetores potencialmente efetivos de
T. cruzi, pois ainda estariam em contato com o hospedeiro (Zeledón et al 1977).
No presente estudo, a porcentagem total de alimentações seguidas de defecações até 10
minutos de T. sherlocki foi superior (39,2%) às defecações realizadas durante o repasto
(5,1%), sendo que todos os estádios (ninfas e adultos) defecaram até 10 minutos após a
alimentação. Zeledón et al (1977), utilizando um modelo experimental em que submeteram os
espécimes ao jejum e ofereceram apenas uma alimentação, verificaram que a porcentagem de
73
defecações após a alimentação até 10 minutos dos estádios ninfais mantiveram-se altas para
R. prolixus (todos os estádios ninfais = 90-100%); para T. infestans foi crescente de N1-N3
(N1=70%, N2=80-90%, N3=80-90%), decrescendo para N4 (N4=80%), voltando a crescer
para N5 (80-90%); e para T. dimidiata foi crescente de N1-N3 (N1=40-50%, N2=60-70%,
N3=70%), decrescendo para N4 (60-70%), voltando a crescer para N5 (70-80%).
Neste estudo, onde os espécimes não foram submetidos ao jejum (o jejum foi
voluntário) e foi realizada uma ou mais alimentações (de acordo com as necessidades tróficas
para mudar para a fase seguinte), ocorreu uma inversão nesses valores, onde as porcentagens
decresceram de N1-Adultos, sendo que as ninfas de 1º e 2º estádios apresentaram maior
percentagem de defecações, 72,7% e 70,9% respectivamente. Essa diminuição na
porcentagem de defecações até 10 minutos após a alimentação de N1-N5 também foi
observada pata T. rubida (N2=60-70%, N3=50-60%, N4=30-40%, N5=30%) por Reisenman
et al (2011), os quais seguiram protocolo similar ao de Zeledón et al (1977). O presente
estudo seguiu protocolo semelhante ao de Galvão et al (1995), que ao estudarem o
comportamento de defecação após a alimentação até 20 minutos (tempo superior ao
observado neste estudo), ao longo do desenvolvimento do ciclo biológico de Triatoma nitida,
consideraram que essa espécie apresentou baixo potencial vetorial, pois todos os estádios de
desenvolvimento apresentaram baixas porcentagens de defecação. Os resultados obtidos aqui
diferem dos reportados por estes autores e demonstram que as porcentagens de defecações de
T. sherlocki (N1=72,7%, N2=70,9%, N3=48,9%, N4=30,0%, N5=15,4%) são superiores aos
1º (38%), 2º (23%) e 3º (18%) estádios, semelhante ao 4º estádio (31%) e inferior ao 5º
estádio (25%) de T. nitida.
Adicionalmente, observou-se que o 1º e 2º estádios foram os que apresentaram menor
média de tempo para defecar até 10 minutos após a alimentação, 1,38 min. e 2,15 min.,
respectivamente, os quais apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre si e em
relação aos demais estádios de desenvolvimento (testes Kruskal Wallis e Dunn, p<0,005). Já
as ninfas de 3º (3,01 min.), 4º (3,73 min.) e 5º (3,34 min.) estádios demoraram mais para
defecar em relação às ninfas de 1º e 2º estádios e não apresentaram diferenças significativas
entre si (teste de Dunn, p<0,005). Esses dados, juntamente com as porcentagens de defecação,
indicam que, sob este aspecto, os primeiros estádios (N1 e N2) de T. sherlocki apresentam
maior potencial vetorial de T. cruzi, enquanto que as ninfas de 3º estádio podem ser
consideradas vetores com potencial intermediário de transmissão e as ninfas de 4º e 5º
estádios com baixo potencial de transmissão.
As observações referentes à fase adulta estão em andamento, mas até o dia 30/11/2013,
dos 34 adultos observados, 17 realizaram alimentação (13 machos e 4 fêmeas), dos quais
74
apenas três defecaram após a alimentação até 10 minutos (2 machos e 1 fêmea). Apesar do
baixo número de espécimes observados não ter significância estatística, os dados informam
que dos dois machos que defecaram após a alimentação, o 1º espécime defecou em 1,16 min.
e o 2º em 9,00 min. e a fêmea defecou após a alimentação em 4,04 min., os três antes de 10
minutos após o fim da alimentação. Além disso, é importante enfatizar que os registros de
invasão das casas em Santo Inácio feitos pela FUNASA são de espécimes adultos,
corroborando o achado deste trabalho, onde um espécime foi coletado no intradomicílio,
estando positivo para T. cruzi-like. Outro fato importante é que tanto em Santo Inácio quanto
em Encantado os adultos coletados no ecótopo silvestre das adjacências dos domicílios foram
os que apresentaram maior taxa de infecção natural por T. cruzi-like, 35,7% dos machos e
32,3% das fêmeas. O estudo da fase adulta terá continuidade até obtermos um maior número
de espécimes para a geração de dados mais consistentes. Esses resultados serão incluídos no
artigo que será publicado posteriormente. Assim, considerando apenas os dados referentes aos
estádios ninfais e à luz da hipótese proposta por Zeledón et al (1977), os resultados sugerem
que T. sherlocki apresenta potencial intermediário de transmissão de T. cruzi, pois as ninfas
apresentam diferenças no comportamento de defecação e, consequentemente, diferentes
potenciais de transmissão desse parasito.
No decorrer do trabalho, alguns espécimes apresentaram comportamento peculiar,
importante do ponto de vista epidemiológico. Quando defecavam, em meio à alimentação ou
após o fim da alimentação, giravam o corpo de maneira que o ápice do abdome se posicionava
próximo ou na região da picada, e ao defecar depositavam as fezes muito próximas ao orifício
da mesma (giros de 90º, 160º, 170º e 180º). Esse comportamento foi observado para todos os
estádios de desenvolvimento, entretanto, o 5º estádio foi o que apresentou maior porcentagem
de espécimes (14,9%). Essa característica, de eliminar fezes e urina nas adjacências da picada,
associada ao ato de coçar levando o material fecal para o orifício da picada, aumenta o risco
de contágio caso o inseto esteja infectado por T. cruzi. Este comportamento de giro foi
observado por Heitzmann-Fontenelle (1972) para T. pseudomaculata, que observou que esta
espécie realiza um giro de 180º, depositando suas fezes sobre a ferida da picada no
hospedeiro.
De acordo com as observações realizadas, dentre as formas jovens, as ninfas de 1º e 2º
estádios podem ser consideradas vetores com alto potencial de transmissão, entretanto, como
não há indícios de transmissão transovariana nos triatomíneos (Lent & Wygodzinsky 1979),
teoricamente, as defecações das ninfas de 1º estádio seriam menos propensas a estarem
infectadas com T. cruzi. Além disso, os primeiros estádios não apresentam relação estreita
com o hospedeiro vertebrado em relação às ninfas de 5º estádio e aos adultos devido à baixa
75
dispersão, dificilmente deixando a colônia em busca da fonte alimentar, podendo realizar a
cleptohematofagia (ato de sugar o sangue de triatomíneos recém-alimentados) (Miles et al
1981, Salvatella et al 1994), o que poderia comprometer a transmissão do agente etiológico da
doença de Chagas. Assim, diante dos diferentes aspectos biológicos analisados, índice de
infecção natural por T. cruzi, informações adicionais de distribuição geográfica, bem como
dos indícios de domiciliação de T. sherlocki e das informações disponíveis para outras
espécies de maior e menor importância epidemiológica, tais como T. infestans, T. brasiliensis,
T. nitida e T. vitticeps, os dados do presente estudo sugerem que T. sherlocki poderia ser
considerado um vetor com eficiência intermediária de transmissão de T. cruzi.
3.3. Resistência ao jejum
Segundo Pellegrino (1952), o período prolongado de jejum é de grande importância
epidemiológica, uma vez que nos ambientes naturais, em condições adversas, em uma
eventual situação de escassez de alimento, esta característica possibilita a dispersão dos
triatomíneos para outros locais e subsequente desenvolvimento, assim que as condições
tornem-se favoráveis. Esse comportamento dos vetores é especialmente importante no
contexto da emergência ou reemergência da doença de Chagas. Esta zoonose é influenciada
por mudanças climáticas ocasionadas pelo aquecimento global e pelo uso irrestrito dos
recursos naturais pelo homem, os quais acarretam a degradação dos biótopos silvestres com
consequente mudança da sua biodiversidade, contribuindo, dessa forma, para a sua dispersão
(Araujo-Jorge & Medrano-Mercado 2009).
No caso de espécies domiciliadas, a resistência ao jejum representa um mecanismo de
escape contra a ação de inseticidas, que são aplicados em áreas endêmicas. As espécies que
resistem a longos períodos de privação alimentar podem influenciar nos resultados das
campanhas de controle, pois podem se esconder em fendas profundas na parede das casas, que
são inacessíveis a ação dos inseticidas ou ao seu possível efeito residual (Dias 1965,
Perlowagora-Szumlewicz 1969). Devido à necessidade de se conhecer esse comportamento
para as diferentes espécies de triatomíneos, vários estudos sobre a resistência ao jejum têm
sido realizados por vários autores (Tabela 5.4). Entretanto, devido às diferenças no desenho
experimental dos estudos, tais como diferentes temperaturas, umidade relativa e fonte
alimentar; as comparações dos resultados disponíveis na literatura são dificultadas. Apesar
disso, os resultados do presente trabalho foram comparados com os dados de outras espécies
disponíveis na literatura, sendo utilizado como base uma tabela elaborada por Cortéz e
Gonçalves (1998), adaptada por Cailleaux et al (2011), para alguns comentários.
76
Os resultados sobre a resistência ao jejum de T. sherlocki em diferentes estádios
submetidos a condições controladas de temperatura de 24,6 ± 1,3ºC e umidade relativa (não
controlada) de 71,6 ± 6,3% demonstraram que, como regra geral entre os triatomíneos, esta
espécie resiste a prolongados períodos de jejum. De acordo com Lent e Wygodzinsky (1979),
os parâmetros biológicos dos triatomíneos variam de acordo com as condições ambientais
onde vivem e são influenciados pela disponibilidade de fontes sanguíneas adequadas. Neste
estudo, observou-se que a resistência ao jejum apresentada por T. sherlocki nas diferentes
fases de desenvolvimento do ciclo biológico é superior àquela observada para outras espécies
de triatomíneos, aproximando-se das espécies que foram estudadas sob temperaturas de 25 e
26ºC (Tabela 5.4). Entretanto, observou-se exceção para alguns estádios de algumas espécies
que apresentaram valores mais altos sob essas temperaturas, tais como: ninfas de 3º, 4º e 5º
estádios de T. sordida (25ºC) estudadas por Juarez (1982) e ninfas de 1º e 3º estádios de T.
vitticeps (25ºC) observadas por Silva (1985) (Tabela 5.4). Por outro lado, espécies que foram
estudadas em temperatura de 28ºC apresentaram valores superiores aos de T. sherlocki em
alguns estádios: ninfas de 1º e 3º estádios de Dipetalogaster maximus (Ulher, 1894) (28ºC)
observadas por Costa et al (1987) (Tabela 5.4).
Outro fato importante diz respeito aos adultos, verificou-se que, em uma análise geral,
machos e fêmeas foram mais resistentes do que os mesmos de todas as espécies relacionadas
na Tabela 5.4, com média de 112,0 dias (~ 4 meses) para os machos e 109,0 dias (3 meses e
20 dias) para as fêmeas. No presente estudo, as ninfas de 1º estádio de T. sherlocki são mais
sensíveis à privação alimentar, enquanto que as de 5º estádio são mais resistentes, média de
156,5 dias (5 meses e 22 dias), com máxima de 236,0 dias (~ 8 meses). A resistência dos
adultos assemelha-se à das ninfas de 3º estádio e, ao comparar machos e fêmeas, verificou-se
que as fêmeas são ligeiramente mais sensíveis que os machos (Tabela 5.4). É importante
enfatizar que os espécimes usados neste estudo tiveram os estádios precedentes ou
progenitores alimentados em camundongos semanalmente até a muda para o estádio em que
foram realizadas as observações. Em razão disso, o período longo de resistência ao jejum
também poderia ser atribuído ao acúmulo de reserva nutritiva no corpo gorduroso, encontrado
na hemocele dos insetos (Juarez 1982). Logo, a alta resistência ao jejum apresentada por T.
sherlocki, sobretudo para as ninfas de 5º estádio e adultos, além do fato de T. sherlocki
completar seu ciclo de desenvolvimento ovo-aduto em um ano, sugere que esta espécie, ao
concretizar sua domiciliação, pode resistir à ação residual do inseticida, sendo recomendados
dois tratamentos por ano para o seu controle.
77
Tabela 5.4. Comparação dos dados de resistência ao jejum (em dias) de diferentes espécies de triatomíneos. (Adaptado de Cortéz & Gonçalves1998 e
Caileaux et al 2011).
Espécie
N1
N2
N3
N4
N5
Macho
Fêmea
T (⁰C)
UR (%)
Fonte alimentar
Autor
Cavernicola lenti
15,5
33,5
40,2
71,5
75,6
41,7
44,8
28,0
90,0
camundongo
Costa e Jurberg 1989
Dipetalogaster maximus
58,0
85,0
115,0
103,0
124,0
80,0
78,0
28,0
65,0
camundongo
Costa et al 1987
Dipetalogaster maximus
67,0
74,0
89,0
82,0
83,0
59,0
52,0
28,0
65,0
pombo
Costa et al 1987
Rhodnius neglectus
13,0
22,0
30,5
41,0
66,5
51,5
57,5
26,0
75,0
♦
Costa et al 1967
Rhodnius prolixus
44,6
91,0
164,9
161,6
114,7
♦
♦
a
♦
pássaro
Feliciangeli 1980
Rhodnius stali
23,4
40,5
70,3
119,6
160,0
52,6
46,5
a
65,3
camundongo
Cailleaux et al 2011
Triatoma brasiliensis
33,3
44,2
40,2
48,0
58,4
52,3
42,6
30,0
70-80
camundongo
Costa e Perondini 1973
Triatoma b. brasiliensis
35,8
40,0
50,5
67,9
♦
♦
♦
29,1
71,8
camundongo
Costa e Marchon-Silva 1998
Triatoma b. macromelasoma
38,3
42,4
60,8
76,7
♦
♦
♦
29,1
71,8
camundongo
Costa e Marchon-Silva 1998
Triatoma b. melanica
38,7
39,8
62,3
80,5
♦
♦
♦
29,1
71,8
camundongo
Costa e Marchon-Silva 1998
Triatoma brasiliensis sp
43,3
50,1
56,6
68,0
♦
♦
♦
29,1
71,8
camundongo
Costa e Marchon-Silva 1998
Triatoma sherlocki
57,3
90,3
104,7
146,0
156,5
112,0
109,0
24,4
71,6
camundongo
Este trabalho
Triatoma dimidiata
29,9
32,9
80,9
79,8
118,8
73,3
73,0
a
♦
galinha
Zeledón et al 1970
Triatoma infestans
60,2
49,4
♦
86,3
76,4
♦
♦
a
♦
galinha
Perlowagora-Szumlewicz 1969
Triatoma lecticularia
45,8
61,0
88,7
123,4
162,3
88,9
83,6
♦
♦
pombo
Jurberg e Costa 1989
Triatoma nitida
56,3
63,0
102,5
158,0
114,3
58,6
66
28,0
80,0
camundongo
Galvão et al 1996
Triatoma rubrofasciata
21,6
24,1
46,8
77,9
101,5
* 51,4
* 51,4
48,13
80,53
101,79
135,13
179,08
70,54
68
70,0
77.49
camundongo
camundongo
Cortez e Gonçalves 1998
Triatoma rubrovaria
29,0
27,63
Triatoma sordida
22,3
33,6
54,8
76,7
108,0
38,3
40,7
30,0
60-70
camundongo
Juarez e Silva 1982
Triatoma sordida
46,7
72,2
118,0
176,7
217,8
54,9
63,9
25,0
60-70
camundongo
Juarez e Silva 1982
Triatoma vitticeps
37,0
91,0
136,0
177,0
180,0
63,0
58,0
a
♦
camundongo
Gonçalves et al 1989
Triatoma vitticeps
67,0
81,6
122,0
108,1
112,9
73,6
61,5
25,0
70,0
galinha
Silva 1985
Triatoma vitticeps
40,8
54,9
66,3
76,4
80,2
45,4
45,1
30,0
70,0
galinha
Silva 1985
Triatoma vitticeps
50,6
42,5
46,2
51,0
71,5
26,7
33,6
26,0
75,0
galinha
Moreira e Spata 2002
Almeida et al 2003
♦ sem informação; b.: brasiliensis; *: autor avaliou os exemplares adultos sem especificar machos e fêmeas; T: temperatura; a: ambiente; UR: umidade relativa.
78
Assim, diante dos diferentes aspectos biológicos analisados (ciclo biológico,
comportamento alimentar e de defecação, resistência ao jejum, índice de infecção natural por
T. cruzi) associados a informações adicionais de distribuição geográfica, bem como dos
indícios de domiciliação de T. sherlocki e das informações disponíveis para outras espécies de
maior e menor importância epidemiológica, tais como T. infestans, T. brasiliensis, T. nitida e
T. vitticeps, os dados do presente estudo sugerem que T. sherlocki parece ser um vetor com
eficiência intermediária de transmissão de T. cruzi.
A Bahia, historicamente um dos estados com maior número de casos da doença de
Chagas por transmissão vetorial, teve seu quadro epidemiológico drasticamente transformado,
assim como outras áreas endêmicas após as medidas de controle voltadas para T. infestans
(Silveira & Vinhaes 1999). Entretanto, devido a rápidas respostas adaptativas dos
triatomíneos às pressões antrópicas e mudanças ambientais, tais como observadas para T.
sordida e T. rubrovaria (Diotaiuti et al 1995, Almeida et al 2000), bem como especificamente
as mudanças contínuas observadas no estado da Bahia devido às atividades de mineração, de
desmatamento, de agricultura e, aliado a isso, a descrição de novas espécies de triatomíneos, o
monitoramento entomológico e ações profiláticas, tais como as melhorias habitacionais, são
imprescindíveis para a manutenção da ausência ou baixos números de casos de doença de
Chagas aguda neste estado e nos demais estados do Brasil. É importante também o emprego
de novas ferramentas de monitoramento ambiental e entomológico, as quais estão propiciando
análises mais abrangentes e precisas para controlar essa endemia (Gurgel-Gonçalves et al
2012b).
79
VI. CONCLUSÕES
 As coletas realizadas e observações efetuadas em campo nas duas localidades estudadas
mostraram indícios de colonização de T. sherlocki em Encantado e de invasão em Santo
Inácio;
 No exame microscópico de fezes de 145 espécimes observou-se que 29 (20%) estavam
positivos para T. cruzi-like, destes, um espécime macho foi capturado no intradomicílio em
Santo Inácio, evidenciando risco de transmissão para a população dessas localidades;
 Por meio do estudo do ciclo biológico foi possível verificar que T. sherlocki completa o
seu ciclo ovo-adulto, nas condições de laboratório, em uma média de 325 dias, o que
possibilitou o desenvolvimento de uma geração anual;
 Através da avaliação dos parâmetros do comportamento alimentar e de defecação foi
possível verificar que os estádios ninfais de T. sherlocki apresentam diferenças nestas
características compatíveis com potencial vetorial variável de T. cruzi, segundo o estádio de
desenvolvimento. As ninfas de 1º e 2º estádios podem ser consideradas vetores eficientes,
enquanto que as ninfas de 3º, 4º e 5º estádios apresentam potencial intermediário de
transmissão;
 A alta resistência ao jejum e o fato de T. sherlocki completar seu ciclo de desenvolvimento
ovo-adulto em um ano, indicam que esta espécie, ao concretizar sua domiciliação, pode
resistir à ação residual do inseticida, sendo recomendados dois tratamentos por ano para o seu
controle.
80
VII. PERSPECTIVAS
 Analisar os dados sobre o comportamento alimentar e de defecação da fase adulta para
avaliar o seu potencial vetorial;
 Verificar a susceptibilidade de T. sherlocki à infecção por diferentes subpopulações de T.
cruzi;
 Avaliar o comportamento biológico vetorial por meio da dinâmica de eliminação de formas
metacíclicas de diferentes isolados de T. cruzi;
 Identificar prováveis fontes alimentares de T. sherlocki em ecótopos naturais e artificiais
por meio da técnica ELISA;
 Identificar os possíveis hospedeiros silvestres de T. cruzi, bem como realizar a
caracterização molecular das subpopulações do parasito desses hospedeiros;
 Realizar atividades educativas para informar a população das localidades estudadas sobre
medidas preventivas a serem adotadas, direcionadas para evitar a transmissão vetorial e oral
de T. cruzi, bem como integrar as comunidades às ações de vigilância entomológica.
81
VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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IX.
ANEXO
94
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INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Medicina Tropical