Marcos Henrique Colombo Pereira possui graduação em
Medicina Veterinária pela Universidade de Passo Fundo
(2009) e Mestrado em Produção Animal pela UNESP
Botucatu (2012). Tem experiência na área de Produção e
Reprodução Animal, atuando principalmente nos seguintes
temas: sincronização, progesterona, sanidade, doenças da
reprodução, vacas leiteiras eficiência reprodutiva. Atualmente
cursa doutorado pela UNESP Botucatu.
Expressão de estro aumenta a fertilidade e reduz perdas de gestação em protocolos
de IATF e TETF
Marcos Henrique Colombo Pereira
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Produção e Reprodução Animal
FMVZ-UNESP/Botucatu-SP
Protocolos para sincronização do ciclo estral têm sido utilizados no manejo
reprodutivo de vacas em lactação e envolvem a administração seqüencial de hormônios
para sincronizar o momento da ovulação e permitir a ovulação de um oócito fértil e
inseminação (IA) em momento pré determinado. As taxas de ovulações sincronizadas
são superiores a 80% [1] e o maior desafio é aumentar a prenhez e a manutenção da
gestação. A expressão de estro em protocolos de sincronização da ovulação pode ser um
bom preditor da fertilidade por estar associado à maior sincronização [1], melhor
ambiente hormonal pré e pós IA [1], menor incidência de ciclos curtos [2] e por
aumentar a manutenção da gestação [1, 3, 4].
Vacas em lactação têm alto metabolismo dos hormônios esteróides [5] com
menor concentração de estrógeno (E2) próximo ao estro ou ovulação [5-7].
Concentração sérica de E2 tem correlação positiva (0,57) com a proporção de vacas
apresentando comportamento de estro e intensidade de estro e correlação negativa entre
produção de leite e duração do estro (-0.45) [8]. Estratégias para aumentar E2 e
expressão de estro em protocolos têm sido avaliada em estudos, como: a adição de E2
em protocolos Ovsynch [9], tratamento com E2 para induzir ovulação [3, 10], aumento
do intervalo entre prostaglandina (PGF) e momento da IATF [11] e aumento da duração
do protocolo [1].
A hipótese deste estudo é que vacas em lactação que apresentam estro em
protocolos a base de E2/P4 tem maior prenhez e menor perda de gestação.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esta análise retrospectiva foi realizada de projetos desenvolvidos em 13
fazendas no Brasil, de janeiro de 2010 a janeiro de 2014. Foram utilizadas 7433 vacas
em lactação que ovularam ao seguinte protocolo de IATF: dispositivo intravaginal de
P4 contendo 1,9g de P4 (CIDR, Zoetis, São Paulo, SP, Brasil) novo, utilizado
previamente por 9 ou 18 dias e 2,0 mg (i.m.) de benzoato de estradiol (BE, 2,0 mL de
Estrogin, Farmavet, São Paulo, SP, Brasil) no d-11, 25 mg (i.m.) dinoprost
tromethamine (PGF; 5,0 mL de Lutalyse, Zoetis, São Paulo, SP, Brasil) no d-4, retirada
do CIDR e 1,0 mg (i.m.) de cipionato de estradiol (0,5 mL de E.C.P., Zoetis, São Paulo,
SP, Brasil) no d -2, e IATF no d-0 ou TET no d-7. No d-4 as vacas foram marcadas na
base da cauda com bastão de cera (tail-chalk) e vacas em que o tail-chalk foi removido
completamente no d-0 foram consideradas em estro.
Os ovários foram avaliados por ultrassonografia para avaliar o diâmetro do
maior folículo presente no d-0 e para avaliar a presença de CL no d-7. Vacas com CL no
d-7 foram consideradas sincronizadas ao protocolo e apenas estes animais foram
utilizados nesta análise.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
As variáveis binomiais foram analisadas utilizando procedimento GLIMMIX do
SAS (SAS Institute Inc., Cary, NC, USA) com fazendas como efeito aleatório e outras
variáveis incluídas no modelo quando apropriado (P < 0,10). O procedimento GLM foi
utilizado para determinar se cada medida individual influenciou na prenhez de forma
linear, quadrática ou cúbica. O procedimento LOGISTIC foi utilizado para terminar os
valores de intercept e slope(s) e construir as curvas utilizando os valores mínimos e
máximos para cada medida individual. Os resultados são demonstrados como média dos
quadrados mínimos. Foi considerado significativo quando P ≤ 0,05, e tendência quando
P < 0,10.
Resultados
A tabela 01 demonstra que no diagnóstico de gestação aos 32 e aos 60-d, vacas
que expressaram estro tiveram maior P/IA e P/TE e menor perda de gestação. Não
houve interação entre técnica reprodutiva e expressão de estro na prenhez e na perda de
gestação.
Tabela 1. Efeito da expressão de estro na P/IA, P/TE e perda de gestação em vacas em
lactação sincronizadas ao protocolo.
IATF
TETF
P=
Sem Estro
Estro
Sem estro
Estro
IAxTE
estro
32d
25,5 (222/846)
38,9 (1785/4584)
32,7 (193/606)
46,2 (645/1397)
0,01
<0,01
60d
20,1 (179/846)
33,3 (1530/4584)
25,1 (150/606)
37,5 (525/1397)
0,06
<0,01
Perda gestação
20,1 (43/222)
14,4 (255/1785)
22,7 (43/193)
18,6 (120/645)
0,21
0,01
Prenhez
Independente da expressão de estro (P<0,01), vacas que ovularam folículos
menores (<11 mm) ou maiores (>17 mm) apresentaram menor P/AI (Fig. 01). Não
houve efeito do diâmetro do folículo ovulatório na P/TE em vacas que expressaram
estro (P=0,34), entretanto, vacas que não expressaram estro apresentaram menor P/TE
quando ovularam folículos de maior diâmetro (P=0,05).
Prenhez (%)aos 60d
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Estro
Sem estro
TE
IA
P=0.34
P<0.01
P=0.05
P<0.01
11
16
21
11
16
Diâmetro do folículo (mm) no d0
21
Figura 1. Efeito do diâmetro do folículo no d-0 na P/IA ou P/TE aos 60 dias em vacas
que apresentaram estro ou não. IA sem estro P < 0,01; estro P < 0,01, TE sem estro
P=0,05; estro P=0,34.
Em vacas que apresentaram estro o diâmetro do folículo não impactou na perda
de gestação na IATF (P=0,43) ou TETF (P=0,34), mas em vacas que não apresentaram
estro, vacas que ovularam folículos de maior diâmetro tiveram maior perda de gestação
na IATF (P = 0,04) e TETF (P = 0,04).
Perda de gestação (%)
60
Estro
IA
50
Sem estro
TE
P=0.04
P=0.04
40
30
20
P=0.34
10
P=0.43
0
11
16
21
11
16
Diâmetro do folículo (mm) no d0
21
Figura 2. Efeito do diâmetro do folículo no d-0 na perda de gestação entre 32 e 60 dias
na IA e TE em vacas que apresentaram Estro ou não. IA sem estro P =0,04; estro P =
0,43, TE sem estro P=0,04; estro P=0,34.
Houve efeito positivo da concentração de P4 no d-7 na P/IA em vacas que
expressaram estro (P = 0,01) ou não (P = 0,02). Não houve efeito da P4 no d-7 na P/TE
(sem estro P = 0,76; estro P = 0,52).
Prenhez (%) aos 60d
Estro
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Sem estro
P=0.01
P=0.76
P=0.02
P=0.52
TE
IA
0
1
2
3
4
5
0
1
2
3
Concentração de Progesterona (ng/mL) no d7
4
5
Figura 3. Efeito da concentração de P4 no d7 na P/IA e P/TE aos 60 dias em vacas que
apresentaram estro ou não. IA sem estro P = 0,02; estro P = 0,01, TE sem estro P
=0,52; estro P = 0,76.
DISCUSSÃO
Este estudo avaliou se a expressão de estro tem efeito na prenhez e na
manutenção da gestação em protocolos de IATF e TETF. A avaliação dos ovários de
7433 vacas e a análise de P4 forneceu informações que permitem melhorar os
protocolos de sincronização. Houve efeito da expressão de estro na fertilidade de vacas
submetidas à IATF e TETF. Vacas que expressaram estro na IATF tiveram 65% de
aumento na prenhez aos 60 dias, e na TETF apresentaram 49% de aumento na
fertilidade. Também foram observadas menores perdas de gestação entre 32 e 60 dias
em vacas que expressaram estro na IATF (39,5% menos perda) e na TETF (22% menos
perda). Estes efeitos demonstram que vacas que apresentam estro podem apresentar
mudanças no ambiente uterino ou hormonal que se manifestam após o dia 7, pois tanto
na IATF como na TETF foi observado este efeito. A perda de gestação é uma medida
importante em vacas em lactação, e os resultados deste estudo ajudam a entender
possíveis causas de perdas de gestação.
Outros estudos já demonstraram aumento da fertilidade de vacas que
apresentaram estro em protocolos de IATF [9, 10]. Por exemplo, em protocolos
Heatsynch (d -10 GnRH, d -3 PGF, d -2 ECP, e d 0 IATF) vacas que apresentam estro
após tratamento com ECP apresentaram maior P/IA (42,5% [306]) em relação a vacas
que não apresentaram estro (21,1% [71]) [3]. Em outro estudo, utilizando Heatsynch, a
expressão de estro aumentou a P/IA aos 27 (43,6 vs. 17,0%; P <0,01) e 41 dias de
gestação (36,6 vs. 12,0%; P <0,01), comparado a vacas que não apresentaram estro
[12]. Em protocolos Co-Synch com IATF 48 ou 72 h após tratamento com PGF vacas
que apresentaram estro apresentaram maior P/AI aos 40 d (54,7 vs. 31,5%) e 68 d (53,3
vs. 31,5%) após IA [13]. Em protocolos a base de E2/P4 aumentos substancias na
prenhez aos 32 d (~30% mais prenhez; 51,2/39,4) e 60 d (~50% mais prenhez;
46,3/31,1) de gestação foram observados [1]. A adição de E2 (1 mg E2-17β 48 h após
PGF) em protocolos Ovsynch (GnRH-7d-PGF-60h-GnRH-16h-IATF) aumentou a
expressão de estro de 44,4% para 80,2%. Vacas com baixo escore de condição corporal
(ECC; ≤2,5) tratadas com Ovsynch tiveram menor prenhez por IA (P/IA; 28,1%) que
vacas com maior ECC (43,7%). Entretanto vacas tratadas com Ovsynch + E2, vacas
com baixo (40,0%) ou alto ECC (43,9%) apresentaram P/IA similar, sugerindo que em
vacas com baixo ECC o E2 circulante durante o proestro pode estar impactando na
fertilidade [9]. Em outro estudo, tratamento com E2 em protocolos Ovsynch aumentou a
P/IA em vacas com baixo (≤8 mm) espessura do endométrio 48 h após PGF
(Ovsynch+E2 = 37,0% vs. Ovsynch = 23,3%) [14].
Pequenas alterações nos protocolos de sincronização de ovulação possibilitam
aumentar a expressão de estro. Em estudo recente [1], o aumento da duração de 8 para 9
dias em protocolo a base de E2/P4 resultou em maior expressão de estro (62% vs. 72%)
e diminui as perdas de gestação entre 30 e 60 dias (15,2 vs. 7,8%). Da mesma forma,
Galvão et al., 2004 [12] demonstraram que vacas detectadas em estro (16,1%)
apresentaram menor perda de gestação que vacas que não apresentaram estro (29,6%).
Em estudo realizado durante o verão no Brasil [4] comparando protocolo a base de
E2/P4 com o 5 d Cosynch mostrou que o protocolo a base de E2/P4 apresentou menor
perda de gestação (11% [16/135]) comparado com o 5 d Cosycnh (19,6% [24/119]).
Vacas que apresentaram estro apresentaram menor perda de gestação,
independente do diâmetro do folículo. Uma observação interessante deste estudo foi que
ocorreu maior perda de gestação em vacas que não apresentaram estro e que ovularam
folículos de maior diâmetro. Este estudo não permite determinar os mecanismos que
resultam em baixa fertilidade e maior perda de gestação de vacas que não apresentam
estro. Entretanto E2 insuficiente no proestro pode alterar expressão de genes ou
proteínas uterinas produzindo um ambiente uterino menos compatível para manutenção
da gestação, como descrito em outras espécies [15-17]. Um estudo recente em vacas de
corte ovariectomizadas mostrou que vacas que não receberam E2 no momento pré
ovulatório mantiveram a prenhez até o dia 19, entretanto no dia 29 apresentaram menor
prenhez comparado a vacas que receberam ECP ou BE para aumentar a circulação de
E2 durante o período pré ovulatório [18]. Parece possível que parte da maior perda de
gestação de vacas em lactação comparada a vacas de corte pode ser devido ao maior
metabolismo e concentração reduzida de E2 em vacas em lactação [5-7].
Conclusões
A expressão de estro em protocolos de IATF e TETF está associada a aumento
na fertilidade. Em protocolos de IATF, a otimização do diâmetro do folículo ovulatório,
aumento da P4 no d7 após IA e expressão de estro está associada à maior fertilidade.
Entretanto na TETF, a associação de fertilidade com diâmetro do folículo ovulatório ou
P4 no d7 é menos evidente e parece estar principalmente relacionada à expressão de
estro.
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Marcos Henrique Colombo Pereira possui graduação em Medicina