Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Medicina da
Faculdade de Medicina de Botucatu
Princípios
As instituições de ensino superior têm sido estimuladas a transformarem-se na direção de
um ensino que valorize a eqüidade e a qualidade da assistência e a eficiência e relevância
do trabalho em saúde. No caso específico da educação médica, a mudança significa formar
médicos com habilidades adequadas às exigências da carreira profissional, a serem
exercidas com responsabilidade e curiosidade científica, e que, lhes permita recuperar a
dimensão essencial do cuidado: a relação entre humanos.
Considerando os processos de mudança no ensino em saúde, a demanda por novas
formas de trabalhar o conhecimento no ensino superior, a
política
do Ministério da
Educação (MEC), com a implantação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso
de Graduação em Medicina, identificam-se fatores que favoreçam a continuidade e
melhoria do ensino médico, de qualidade, da Faculdade de Medicina de Botucatu.
O curso de graduação em Medicina deve fornecer ao estudante fundamentos para firmar
uma base sólida, sobre o qual o aluno possa construir novos conhecimentos, garantindo-se
formação de médicos com habilidades e competências para lidar com os problemas de
saúde prevalentes e identificar e responder às necessidades de saúde do indivíduo, da
família e da comunidade. Faz-se necessário ensinar o aluno a ser independente em sua
aprendizagem, ajudá-lo a buscar conhecimento científico sólido, preparando-o para o
exercício profissional que integra técnicas científicas com compromisso, respeito e
responsabilidade social pelo paciente e sua família, atento à melhor utilização dos recursos,
com capacidade de identificar, pensar e analisar mecanismos promotores de saúde.
A prática pedagógica de nossa instituição, está aberta a novas proposições e
busca
valorizar e integrar experiências bem sucedidas, que ocorreram e ocorrem ao longo de 40
anos de história de ensino de graduação.
Transformar a educação, em medicina, implica em mudar relações de poder estabelecidas
na escola médica. Não é possível imprimir a mudança sem enfrentar conflitos inerentes a
esta questão. Abrir a escola à discussão curricular, rever o papel do professor tido como
único detentor do conhecimento, implica em entrar em contato com questões muito
cristalizadas na Instituição.
Destacam-se os seguintes princípios norteadores do atual projeto pedagógico:

Formação humanística, ética e capacitação para atuar no processo saúde-doença nos
diferentes níveis de atenção, frente à realidade do Sistema Único de Saúde (SUS) no
Brasil e as necessidades de saúde da população;
1

Priorização
da
formação
na
integralidade
da
assistência,
com
senso
de
responsabilidade social e compromisso com a cidadania;

Valorização de outros campos de saberes: saúde mental, humanismo, comunicação,
economia da saúde, saúde pública, por meio do processo ensino-aprendizagem que
privilegie o ensino da anamnese ampliada, com abordagem psíquica e contexto
relacional e familiar, reforçando o compromisso com o sujeito e seu coletivo;

Fortalecimento do aprendizado na realidade, problematizando contradições entre a
prática de atenção à saúde centrada no modelo tradicional de assistência, com foco
nas doenças, e, o processo de trabalho comprometido com a solução dos problemas de
saúde, a prevenção de doenças e a promoção da qualidade de vida da população,
levando a saúde mais perto da família, no contexto do SUS;

Construção de autonomia e postura investigadora, atualizada e crítica, tendo em vista a
medicina como uma atividade de aprendizagem permanente;

Articulação e integração efetiva entre as áreas clínicas, básicas e a saúde coletiva;

Fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional, na perspectiva de garantir a
necessária articulação de saberes para uma assistência resolutiva e de qualidade .
O Projeto Pedagógico do Curso de Medicina, reformulado em 1996 e implantado em 1997,
(grade curricular anexa) tem passado por ampla atualização e ajuste, visando adequar-se
às Diretrizes Curriculares e às demandas institucionais.
OBJETIVOS GERAIS
A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos
para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais:

estar apto a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação em
saúde, tanto em nível individual quanto coletivo;

realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da
ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se
encerra com o ato técnico, mas, sim, com a resolução do problema de saúde;

estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado,
eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos e
de práticas. Para este fim, o médico deve ter competências e habilidades para avaliar,
sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

ser acessível, sabendo escutar e entender
o paciente e sua família, mantendo a
confidencialidade das informações a ele confiadas, na interação com outros
profissionais de saúde e o público em geral;
2

fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e
materiais e de informação, da mesma forma que deve estar apto a ser empreendedor,
gestor , empregador ou liderança na equipe de saúde;

estar atento à melhor utilização dos recursos e à necessidade de educação
permanente.
PERFIL DO PROFISSIONAL
Na reforma de 1996, redefiniu-se o perfil profissional do médico, com processo amplo de
discussão na comunidade acadêmica. Propôs-se, assim, o perfil do médico com sólida
formação geral, adequado às necessidades de saúde da população, à política de saúde do
SUS vigente no país, ao mercado de trabalho médico, ao rápido progresso científico e
tecnológico, e formado dentro de princípios éticos e humanísticos.
O médico a ser formado pela Faculdade de Medicina de Botucatu deverá levar em
consideração, entre outros, os seguintes princípios:
I.
as necessidades de saúde da população;
II.
o modelo assistencial prevalente no país e os princípios constitucionais referentes à
saúde;
III.
o mercado de trabalho;
IV.
o rápido progresso científico e tecnológico;
V.
os valores éticos e humanísticos;
VI.
assistir o doente.
Seguindo os princípios definiram-se as seguintes competências e habilidades específicas:

curiosidade científica e interesse permanente pela aprendizagem, com iniciativa na
busca do conhecimento;

espírito crítico e consciência da transitoriedade de teorias e técnicas, assumindo a
necessidade da educação continuada ao longo de toda a vida profissional;

domínio dos conhecimentos básicos necessários à compreensão dos processos
relacionados à prática médica;

conhecimento dos recursos semiológicos e terapêuticos existentes na medicina de seu
tempo, tendo, acompanhado a utilização dos recursos habituais de nível primário e
secundário e, dentro do possível, de nível terciário;

saber realizar procedimentos semiológicos e terapêuticos básicos, definidos pelo
Conselho de Curso, ouvidos os departamentos;

domínio da fisiopatologia e dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos que o
capacitem a enfrentar as principais causas de morbi-mortalidade no Estado e País, a
saber:
doenças crônicas degenerativas;
3
neoplasias malignas;
traumatismos em geral, incluindo acidentes de trânsito e de trabalho, violência urbana e
suicídio;
doenças mentais e psicossociais, incluindo a dependência a drogas;
doenças relacionadas com o trabalho;
doenças infecciosas e parasitárias, incluindo infecções hospitalares;
doenças nutricionais;
saúde da mulher e planejamento familiar;
doenças resultantes de agressões ao meio ambiente;
doenças iatrogênicas.

ter conhecimento crítico das indicações, contra-indicações, limitações, confiabilidade e
relação custo/benefício dos procedimentos semiológicos e terapêuticos que utilizar;

ter iniciativa criadora e senso de responsabilidade na busca de soluções para os
problemas médico-assistenciais de sua competência;

ter visão social dos problemas médicos;

estar preparado e motivado para participar de programas que visem informar e educar
a população no sentido de preservar a saúde e prevenir doenças, incluindo: prevenção
de doenças associadas a fatores de risco, dieta, atividade física, higiene ambiental;
transmissão de informações que permitam
crítica e controle sobre o consumo de
produtos alimentícios e medicamentos; transmissão de informações sobre planejamento
familiar, tópicos especiais, como vacinações, doenças sexualmente transmissíveis e
sobre efeito de drogas que induzem dependência; implantação de medidas à prevenção
de acidentes de trabalho e de trânsito; proteção ao meio ambiente;

saber trabalhar em equipe multidisciplinar, com maturidade para fazer e receber críticas
construtivas;

aceitar engajar-se nos processos decisórios que envolvam interesse da comunidade,
garantindo a efetivação do princípio constitucional de "Saúde para Todos";

empenhar-se em obter a participação e maior autonomia dos pacientes e suas famílias
nas decisões relacionadas à prevenção de doenças, manutenção e recuperação da
saúde, respeitando-se a individualidade do sujeito;

conhecer as principais características e lidar criticamente com a dinâmica do mercado
de trabalho e com as políticas de saúde;

ter ética e sensibilidade.
Uma referência do perfil profissional do médico tem como base a realidade do Sistema
Único de Saúde no Brasil (tanto em relação à formação de médicos para a rede de
atenção, como um todo, nos diferentes níveis, como também para o Programa de Saúde da
Família).
4
A sólida formação geral do médico foi buscada na ampliação do ensino nas grandes áreas
e na integração dessas com disciplinas de conhecimento básico, ou, mesmo especializado.
A realização dos momentos integradores busca, nesse sentido, com o estudo de problemas
de saúde, a percepção da integralidade do ser humano e ainda a necessidade de visão
interdisciplinar, na compreensão do processo saúde-doença. A valorização do ensino, com
base no rápido progresso cientifico e tecnológico, tem sido realizada com a prática da
medicina Baseada em Evidências e com utilização dos problemas (seja de papel ou
concretos e da realidade), tanto no sentido de proporcionar ao estudante a necessidade de
busca constante de novos conhecimentos, como no sentido do aprender a aprender. A
formação dentro de princípios éticos e humanísticos foi buscada por meio da presença de
temas de ética integrados a outras disciplinas, nos seis anos de graduação, e com o curso
de Introdução à Medicina, ministrado ao primeiro ano de medicina, no qual se tem
trabalhado a temática da identidade profissional. A implantação do Programa de Interação,
Universidade, Serviços e Comunidade tem proporcionado aos alunos maior vivência na
comunidade priorizando práticas pautadas em princípios éticos e humanísticos.
As mudanças implementadas em1996
Embora o currículo atual contemple um excesso de conteúdos, organizados e ministrados,
prioritariamente, em disciplinas autônomas, observa-se a presença de inovações que
fogem a essa concepção, sendo necessário implementar a efetiva mudança.
As principais mudanças, implantadas em1997, referiram-se a executar o projeto de
integração disciplinar, da seguinte forma: o ensino permanece disciplinar, com momentos
integradores, com a participação de todas as disciplinas do ano (série), com núcleos
temáticos que possam abarcar os conteúdos que estão sendo ministrados em cada
disciplina (temas transversais). Esta foi uma experiência com resultados favoráveis e, até o
momento atual, ocorre duas vezes ao ano, por dez dias, no primeiro e segundo anos, na
forma de ensino baseado em problemas.
Várias disciplinas inovaram seu ensino:

ensino da Obstetrícia, passou a ser ministrado, em parte, em hospital secundário de
Botucatu, articulando o ensino com pesquisa diagnóstica, sobre condições do parto no
Município e com propostas efetivas para redução da mortalidade materna, integrando,
efetivamente, a Universidade com o Serviço de Saúde Municipal;

disciplinas agruparam-se como matérias, buscando trabalhar com a metodologia da
problematização;

disciplinas do básico vem utilizando de metodologias inovadoras e com momentos de
integração com o ensino profissionalizante;
5

disciplinas do internato integraram-se em estágios únicos, como é o caso das
disciplinas de Cirurgia Torácica e de Pneumologia;

a Saúde Coletiva III foi organizada por núcleos temáticos: Problemas em Saúde
Pública; Nutrição em Saúde Pública e Planejamento em Saúde. O modelo de ensino
centrou-se na problematização de situações vivenciadas na prática da Saúde Publica,
em Centros de Saúde, Serviços e organizações de saúde;

a Semiologia Pediátrica privilegiou a atenção integral à saúde da criança. O modelo de
ensino centrou-se na aprendizagem baseada em problemas e no aprendizado prático
da Semiologia Pediátrica, em diferentes cenários, enfatizando-se o ensino ambulatorial.
Privilegiou-se o trabalho em pequenos grupos, com orientação docente.
Ocorreu a criação da disciplina de Introdução ao Curso Médico, no início do primeiro ano,
que vem trabalhando com os estudantes a identidade profissional e a criação da disciplina
de Terapêutica Médica, que estimula adequar o uso racional de medicamentos e eliminar
ações intervencionistas desnecessárias com práticas resolutivas . O ensino de semiologia
passou a iniciar-se, precocemente, no segundo ano.
Assim, pode-se observar que o currículo da FMB, implantado em 1997, apresenta desenho
“misto”, no sentido de permanecer disciplinar, com o foco na atenção individual, no
paciente, com momentos de diversificação de cenários de ensino, nos diferentes níveis de
atenção, com abordagem por problemas de saúde que articulam o compromisso do
cuidado do sujeito e seu coletivo e de integração disciplinar. O currículo é dividido em três
ciclos: Ciclo básico (1a e 2a séries); Ciclo profissionalizante (3a e 4a séries); Internato (5a e
6a séries).
Pode-se perceber que uma deficiência do ensino médico na FMB reside na excessiva e
precoce fragmentação de conhecimentos, o que dificulta a formação de profissional com
capacidade de abordagem voltada à integralidade do processo saúde e doença. Há
necessidade de conscientização da comunidade acadêmica para reflexão crítica sobre a
formação oferecida hoje pela nossa escola e a iniciativa de mudança.
A análise do currículo atual da Faculdade de Medicina de Botucatu, com relação à seleção
dos conteúdos que fundamentam a orientação teórica, nos remete à dicotomia entre o
texto, aprovado na reforma de 1996, e o currículo efetivamente colocado em prática.
Ocorreram dificuldades técnicas e de entendimento que dificultaram o processo.
Mudanças recentes empreendidas no Projeto Pedagógico
Buscando consolidar a qualidade do ensino contemplando a formação do médico geral,
pretendida pela Instituição, esta tem mantido o compromisso de realizar as adequações
que se fizerem necessárias no Projeto Pedagógico. A Faculdade entende que a mudança
deva ocorrer dentro de dinâmica que exige um conjunto de ações coerentes e inter-
6
relacionadas em várias frentes: formação de professores, condições de trabalho,
equipamentos e instalações, organização e funcionamento de novos cenários de ensino,
integração do ensino de graduação médica ao Sistema Único de Saúde nos diferentes
níveis de atenção, avaliação, serviços de apoio e outras demandas. Para isso, há
necessidade de política clara de desenvolvimento curricular, sobre a qual a FMB se
debruça no momento atual, optando por construção participativa da comunidade
acadêmica.
Há, portanto, necessidade de revisão curricular e aperfeiçoamento contínuo do Projeto
Pedagógico. Assim, a FMB vem retomando, nos últimos anos, processo progressivo de
mudanças. Observa-se em suas comissões, conselhos, departamentos e na opinião da
maioria dos docentes o desejo e o compromisso de construir coletivamente essa mudança.
Desde 2000, tem-se investido, sob a gerência da Diretoria da FMB, no desenvolvimento do
Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP) do Curso de Graduação em Medicina da FMB. O NAP
tem como função propor políticas e modelos pedagógicos em pról do desenvolvimento da
Docência e do Ensino de Graduação em Medicina da FMB. Dentre as metas propostas há
quatro frentes de atuação: Desenvolvimento da Docência, Interação Comunitária, Interação
Básico-Clínico e Avaliação. Este Núcleo têm apoiado com infra-estrutura, recursos
humanos e materiais as iniciativas e necessidades para realizar as inovações pedagógicas
da FMB.
A partir de 2001, em consonância com as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação
em Medicina e com o Programa de Incentivo às Mudanças das Escolas Médicas no Brasil
(PROMED), proposto e financiado pelo Ministério da Saúde, o ensino médico da Faculdade
de Medicina de Botucatu abriu-se a novo debate. Destaque-se aqui, que a FMB, em 2002,
foi uma das 19 escolas médicas do Brasil selecionadas para investimento de projeto do
Ministério da Saúde, com objetivo de inovar seu ensino, na perspectiva de maior integração
ao desenvolvimento do SUS. A partir de 2003, o Ministério da Saúde, introduziu novo
incremento ao processo de mudança da FMB, por meio de diretrizes de apoio a iniciativas
inovadoras que se proponham a articular a rede de gestão e de serviços com as instituições
formadoras de profissionais da área da saúde.Buscam-se mudanças nas práticas de
formação para a integralidade da atenção à saúde da população e a educação permanente
de trabalhadores para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Para desenvolver ensino que reveja, criticamente, o modelo centrado no hospital, e no
ensino das doenças de maior complexidade, foi proposto o caminho da diversificação de
cenários, abrindo-se o curso para formação na atenção primária e secundária. Entendemos
que este desafio é difícil de ser enfrentado pois, além de envolver questões ideológicas
presentes em nossa sociedade nos remete à própria visão hegemônica de desvalorização
do médico geral e do próprio trabalho no SUS.
7
Algumas estratégias têm sido desenvolvidas no sentido de enfrentar e superar estas
questões:

oficinas para sensibilizar e dar credibilidade às práticas profissionais, com qualidade e
resolutividade, fora do ambiente do H.C.;

encontros com egressos para discussão sobre inserção no mercado de trabalho;

oficinas para busca de objetivos comuns entre graduação e Residência Médica;

oficinas para rediscussão e proposição do ensino de Semiologia, sob nova ótica, na
perspectiva de reconhecer os limites da disciplina na atualidade e estrategicamente
ensinar a Semiologia como encontro do estudante de medicina com o paciente/
indivíduo/família e a singularidade determinada pelo contexto biopsicossocial.
Embora cada vez mais sensíveis às novas necessidades dos nossos estudantes e atentos
à qualidade dos serviços a serem prestados à comunidade, os docentes têm dificuldade em
diagnosticar suas próprias fragilidades e operar mudanças concretas e eficazes na prática
com os alunos. Para que se promova uma nova forma de ensinar e aprender, tendo em
vista:

ensino em grupos menores (majoritariamente);

ensino majoritariamente fundamentado na problematização da realidade;

atividades estruturadas a partir das necessidades de saúde do SUS;

integração disciplinar;

ensino em ambientes diversificados - biblioteca, comunidade, laboratórios de simulação
e uso intensivo de informática;

avançar nas diversas formas de avaliação do estudante e do curso;
Com apoio de recursos do PROMED, tem-se desenvolvimento ações e atividades listadas
a seguir:
 atividades pedagógicas que priorizem a promoção da saúde da população.
 encontros entre os docentes da FMB, os profissionais da rede e a comunidade para
que, em parceria, criem e providenciem espaços e condições para atividades que
objetivem reunir dados sobre a realidade saúde/doença em nossa região.
 divulgação de experiências de mudança na educação médica que já venham
acontecendo, unindo profissionais da escola, comunidade e centros de saúde,
valorizando os resultados do trabalho e aqueles que os fazem.
 Implantação de instrumentos de avaliação formativa e somativa, abordando todos os
aspectos da formação (competências, habilidades, conhecimentos, atitudes) e do curso
com assessoria qualificada.
 utilização da avaliação como referência no balizamento das ações pedagógicas
empreendidas e aprimoramento dos cursos e do processo ensino/aprendizagem.
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 analise periodicamente os instrumentos utilizados, de forma a verificar sua atualidade,
eficácia e fidedignidade.
 avaliação das atividades pedagógicas realizadas, oportunizando reuniões regulares
entre os profissionais de diferentes áreas para discussão do processo de mudança em
andamento.
É importante ressaltar que o PROMED veio potencializar discussão que já estava colocada
como eixo central da agenda da instituição, para os próximos anos. Em função disso, ao
lado das ações de capacitação desencadeou-se amplo processo de discussão, por meio da
realização de várias oficinas de planejamento estratégico, contando-se com a presença de
representantes do corpo discente, docentes de todos os Departamentos da FMB e do
Instituto de Biociências, do Campus de Botucatu (responsáveis pelas disciplinas básicas do
currículo médico). Houve participação importante da direção da FMB e
da Secretaria
Municipal de Saúde.Nos grupos de trabalho, além do diagnóstico e formulação de
propostas, foram sendo construídas parcerias, assumindo-se publicamente o compromisso
com a mudança – não apenas o que mudar, mas principalmente por quê, para quê e como
mudar.
Como parte desse processo, desde 2001, desenvolve-se programa de capacitação
docente, focalizando três aspectos principais:
1. Capacitação pedagógica para melhoria do currículo e do processo ensinoaprendizagem, envolvendo trabalho de consultoria externa:

aplicação de questionários para os professores da FMB, no final de 2001, para
levantamento das principais dificuldades no processo de ensino-aprendizagem e
diagnóstico de necessidades de capacitação docente;

desenvolvimento de oficinas/cursos de capacitação pedagógica, em 2002, 2003,e 2004
focalizando os seguintes assuntos: avaliação da aprendizagem; metodologia de ensino;
multimeios no ensino médico; ensino por competências profissionais; aprendizagem
baseada em problemas, além de visitas e palestras com profissionais da área da
Pedagogia Universitária.
2.Capacitação para o exercício profissional em Medicina Baseada em Evidências
(“integração das melhores evidências de pesquisa com a habilidade clínica e preferência do
paciente”) para 50 docentes da FMB, em 2002 e 2003.
3.Capacitação em Ensino à Distância, a partir da criação do Núcleo de Educação à
Distância da FMB – NEAD, em 2001, com oferecimento de diversos cursos para docentes
interessados na área.
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AÇÕES EDUCATIVAS IMPLEMENTADAS
O ensino em diferentes cenários:
No espaço hospitalar e na atenção básica
Entendemos que novos cenários devem propiciar a participação dos alunos em ações de
promoção da saúde e área territorial definida ,com referência a uma Unidade Básica de
Saúde ou uma Equipe de Saúde da Família, no qual o estudante participe ativamente da
integralidade das ações das equipes junto às comunidades. A partir de 2003, os estudantes
do 1o ano desenvolvem atividades na atenção básica, contemplando a idéia de ensino mais
próximo da prática profissional, desde o início do curso. Neste sentido, busca-se romper
com a dicotomia preventivo/curativo, saúde coletiva/prática clínica, ações individuais/ações
coletivas
Nas reformulações feitas no projeto pedagógico do Curso de Medicina da FMB, incluíramse ações educativas no espaço hospitalar, valorizando o cuidado integral e humanizado
com o paciente.
No sentido de se considerar a necessidade de cuidar do cuidador, a FMB tem
desenvolvido, por meio da criação de serviço máximo de psicologia (em funcionamento
desde1993), trabalho de atendimento e preparo dos estudantes para a vivência hospitalar,
para o lidar com pacientes com problemas graves de saúde e para melhor enfrentar outros
sofrimentos gerados no cotidiano e na evolução do curso médico. Este trabalho tem
representado apoio significativo aos estudantes.
É necessário ressaltar, também, que a relação com a Secretaria Municipal de Saúde e a
Secretaria de Estado da Saúde é elemento facilitador das ações implantadas. As parcerias
com hospitais secundários permitem que nossos alunos participem de atividades em
hospitais de menor complexidade. Em algumas áreas básicas, como Ginecologia e
Obstetrícia, Pediatria, Saúde Pública e Clínica Médica (Geriatria e Pneumologia) os alunos
atuam no Centro de Saúde Escola de Botucatu (unidade própria da universidade, em
convênio com a Secretaria de Estado da Saúde) e nas Unidades Básicas de Saúde.
Atendem pacientes, e, comprovam na prática a importância do atendimento médico nos
diferentes níveis de complexidade e a incorporação de temáticas essenciais frente ao
quadro de saúde de nossa população, como o envelhecimento e a humanização do parto.
PROPOSTA PARA O NOVO INTERNATO
Em 1999, durante visita de representantes do MEC para recredenciamento do curso de
graduação médica da FMB foi assinalada a inadequação do internato oferecido na
Instituição, por ter sido considerado muito fragmentado e ministrado, em mais de 50% da
carga horária dos dois anos, em especialidades médicas. Concordando com a avaliação
feita pelo MEC, a Direção da Instituição e a comunidade acadêmica entenderam que o
10
Internato precisava ser reformulado, deixando de ter seu foco nas especialidades médicas
e passando a ser organizado nas grandes áreas: Pediatria, Medicina Interna, Saúde da
Mulher, Saúde Pública, Emergência e Urgência e Clínica Cirúrgica. Haveria, ainda, espaço
para estágio opcional, de escolha do estudante. Este desenho de Internato foi aprovado
pela congregação da FMB, em 2001, e está em processo de finalização. Alguns resultados
já foram alcançados. Além do aprofundamento da discussão em torno das mudanças
necessárias, houve importante movimento no sentido de melhorar o treinamento dos
docentes, no que se refere a métodos e instrumentos de avaliação. Durante todo o
processo, observamos o crescimento do interesse por parte do corpo docente em discutir e
implementar ações pedagógicas mais efetivas, reestruturando atividades do Internato.
Também foi implantado, em 2001 e consolidado em 2003, avaliação dos estágios, com a
participação de estudantes e de docentes, que tem permitido a socialização dos resultados
à comunidade acadêmica e incentivado a melhoria e aprimoramento de cada estágio. A
análise dos dados tem permitido adotar medidas úteis para o planejamento e o
desenvolvimento dos estágios de Internato e é base para discussão do novo Internato em
grandes áreas, em competências profissionais.Tem também proporcionado a criação de
cultura avaliativa, compartilhada entre alunos e docentes.
A escolha da formação, no internato, orientada por competência está fundamentada na
aprendizagem a partir da prática profissional e do contato com situações reais de saúdedoença. A abordagem de competência, assegura as dimensões técnica, ética e sóciopolíticas explicitadas nas Diretrizes Curriculares e na filosofia e missão de nossa
Faculdade. Também aparece como aspecto inovador o conjunto de desempenhos comuns
a todas as áreas e os específicos de cada uma. Essa organização gera reflexos na escolha
de atividades e cenários de ensino-aprendizagem, na grade curricular e carga horária das
áreas, bem como nos processos internos de trabalho de preceptores e internos, incluindo a
avaliação.
Foram realizadas várias oficinas de trabalho para cada grande área e Pronto Socorro,
envolvendo docentes, representantes dos estudantes, equipe do Núcleo de Apoio
Pedagógico, Coordenadores, Direção e consultores externos à Faculdade.
As áreas de competência resultaram de um processo de agrupamento das tarefas afins,
inicialmente dentro de cada grande área, e, posteriormente, entre as grandes áreas.
As
tarefas coincidentes representam o núcleo da prática profissional. Caracterizam e
diferenciam a carreira médica de outras profissões.
Dessa forma, a utilização das áreas de competência, que passam a orientar a seleção dos
conteúdos (atributos) e a organização das atividades de ensino-aprendizagem, a definição
dos cenários para desenvolvê-las e o processo de avaliação, inaugura uma nova fase para
o desenvolvimento do internato da Faculdade de Medicina.
11
São apresentados, a seguir, os desempenhos comuns a todas as áreas, segundo as
competências para o Internato.
Área de Competência: Cuidado Integral à Saúde de Indivíduos

Realiza observação clínica: Anamnese e Exame clínico

Formula hipóteses diagnósticas, baseado na observação clínica

Investiga hipótese e estabelece diagnóstico

Elabora plano para o cuidado integral à saúde: promoção, prevenção, tratamento e
reabilitação

Executa e/ou conduz o plano para o cuidado integral à saúde

Registra o atendimento realizado
Área de Competência: Cuidado Integral à Saúde de Populações

Identifica necessidades de atenção à saúde da população

Formula e prioriza problemas a partir das necessidades de saúde

Elabora plano contextualizado de intervenção sobre os problemas, visando o cuidado
integral à saúde da população

Executa e/ou conduz plano de intervenção

Registra dados, planos e resultados
Área de Competência: Organização e Avaliação do Trabalho

Organiza o próprio trabalho e participa do trabalho em equipe multiprofissional, visando
eficácia e efetividade

Atua no sistema hierarquizado de saúde, visando a integralidade do cuidado

Avalia sua aprendizagem e o trabalho em saúde
A reestruturação do internato seguiu as novas Diretrizes Curriculares do MEC,
estabelecendo a realização do mesmo nas cinco grandes áreas. Entretanto, para
manter a identidade das disciplinas, o Conselho de Curso de Graduação tomou o
cuidado de arrolar, no interior de cada área de estágio, todas as disciplinas
envolvidas com os respectivos programas, o que será utilizado por ocasião dos
concursos docentes.
AMPLIAÇÃO DO ENSINO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
A Interação Universidade - Serviço - Comunidade é uma atividade educacional
desenvolvida no curso de graduação em medicina e que tem contribuído para a mudança
educacional da Faculdade de Medicina de Botucatu. Está em desenvolvimento, desde
2003, como atividade complementar e como integração disciplinar. Centra seu foco na
família, humanizada e inserida no universo das relações históricas, culturais, sócioeconômicas e políticas da sociedade. Assim, os alunos interagem com uma série de
12
desafios e conflitos do cotidiano das famílias, inclusive na relação com a saúde e com o
cuidar da saúde, em no seu espaço de vida, na casa, no bairro e na unidade de saúde. O
processo privilegia o ensino baseado na resolução de problemas, em grupos pequenos e
com atividades estruturadas a partir das necessidades de saúde que se apresentam ao
Sistema de Saúde no Brasil (SUS). Está sendo desenvolvida desde 2003, em 11 onze
áreas de Unidades Básicas de Saúde ou do Programa de Saúde da Família com a
participação dos alunos do 1º e 2ºano médico.
As atividades acontecem em parceria com a Prefeitura de Botucatu e com a comunidade.
Os alunos participam das estratégias de proteção e de cuidados à saúde, desenvolvidas
pela rede básica do Município de Botucatu1. São características do projeto:

inserção do aluno, por meio de pequenos grupos, na equipe da Unidade Básica de
Saúde (UBS) ou da Unidade de Saúde da Família (USF), sob supervisão de tutor
didático, destacado entre profissionais de nível superior e de um docente da Faculdade
de Medicina;

integração de atividades com estudantes de enfermagem e de nutrição;

estabelecimento de vínculo com a Comunidade e com as equipes de saúde, uma vez
que os grupos de Interação, do 1º ao 6º anos, atuarão na mesma área de abrangência
da UBS ou com as famílias adstritas à equipe da USF;

desenvolvimento de atividades, apresentando aos alunos diferentes formas de inserção
da prática do trabalho médico, articulando o conhecimento médico com a realização de
ações na comunidade;

priorização de atividades de aprendizagem que tenham pertinência e relevância social,
a partir da problematização de questões, intimamente ligadas ao contexto de cada
região, ao modo de vida da população e ao perfil demográfico e epidemiológico;

ampliação do diálogo entre profissionais de saúde, entre profissionais e população,
entre profissionais de saúde e administração para tornar as relações mais equânimes;

desenvolvimento de atividades de aprendizagem
e de pesquisa que resultem em
benefícios concretos para a saúde da comunidade.
O ENSINO DA URGÊNCIA EMERGÊNCIA
Reconhecendo-se a importância da formação médica na área de urgência e emergência,
tem-se priorizado o estágio no Pronto Socorro. Os internos realizam procedimentos clínicos
e cirúrgicos, com supervisão docente, no atendimento ao paciente (em todas as fases do
ciclo biológico) que necessita de atendimento de urgência, nos diferentes níveis de
atenção: Pré-Hospitalar/ Pronto – Socorro/ UTI/ Centro Cirúrgico, desde o início do curso
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Formado por Unidades Básicas de Saúde, Centro de Saúde Escola de Botucatu, equipes de Unidades de
Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde.
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médico. Objetiva-se a percepção da necessidade do trabalho em grupo, propondo-se a
observação, a capacitação e a participação nas ações médicas no atendimento inicial das
urgências e emergências. Em 2003, houve implementação deste modelo no estágio de
internato de Pronto Socorro, valorizando-se o acolhimento com avaliação de risco,
garantindo o conhecimento e participação no
acesso referenciado dos pacientes aos
demais níveis de assistência.
AVALIAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO
A relevância do curso de medicina da FMB é enorme e tem sido destacada em nível
nacional e internacional, pelo trabalho desempenhado por seus egressos, que, ao longo
destes 40 anos se destacam como profissionais de qualidade no cenário da prática do
exercício profissional, como pesquisadores, gestores e como professores universitários. A
seleção da FMB como uma das 19 escolas médicas brasileiras no PROMED, no qual o MS
se propõe a investir para o incentivo à mudança curricular, é um fator de mobilização e de
reconhecimento da qualidade do ensino de nossa graduação em medicina.
Como apresentado, o curso médico da FMB vem realizando, em suas instâncias
acadêmicas, processo progressivo de mudanças. Neste processo, a avaliação tem sido
extremamente valorizada, no sentido de melhorar a competência dos docentes, em
métodos e instrumentos avaliativos da avaliação educacional e no desenvolvimento
pedagógico
de
ações
mais
efetivas.
Quanto à forma de avaliação educacional do desempenho dos alunos, a FMB, segue sua
organização por disciplinas. A avaliação dos estudantes dá-se de maneira convencional,
com ênfase na avaliação somativa, e em alguns casos formativa, privilegiando conceitos,
em detrimento de habilidades e atitudes. A partir do terceiro ano médico há o início de
formas de avaliação de habilidades, atitudes e competências, nos estágios voltados à
prática profissional.
Têm-se buscado valorizar o trabalho docente na graduação. Sabe-se que a promoção dos
professores nas escolas médicas, ao menos nas universidades públicas, está bastante
articulada à pesquisa. Inclusive, goza de maior prestigio o investigador em relação ao
excelente professor de graduação médica. Em outras palavras, pode-se admitir que a
dedicação ao ensino pode ficar em segundo plano, dada a enorme pressão sobre o
professor da escola médica, do qual é esperado bom desempenho em tantas áreas de
atividade. Fazer oficinas, organizar grupos de estudo, promover encontros e discussões
intra e interdepartamentais permitem melhor compreensão do que são as mudanças na
educação e os caminhos apontados pelas novas Diretrizes Curriculares do Ensino Médico.
Desde 1999, os estudantes vêm coordenando eventos que discutem a educação médica
na FMB, promovendo em âmbito interno, a divulgação de experiências que já vinham
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acontecendo, unindo profissionais da escola, comunidade e centros de saúde, valorizando
os resultados dos trabalhos e aqueles que os fazem.
Entre 2002 e 2004, realizaram-se 7 oficinas para discussão do novo Internato, com os
objetivos de promover sua adequação às novas Diretrizes Curriculares. Houve participação
de 90 professores e estudantes, definindo-se o Internato por competências, para formação
geral do médico.
Em 2003 e 2004, 123 professores e estudantes participaram de oficinas de trabalho para
analisar criticamente o projeto de reforma curricular; sensibilizar a comunidade sobre a
necessidade de mudança frente às novas Diretrizes Curriculares.
Observa-se que o quadro aqui descrito refere-se a momento de avaliação de diagnóstico,
de um momento anterior, e a identificação das necessidades presentes na mudança do
projeto pedagógico. Analisa-se o que foi proposto e o que foi, ou não, implantando. Mais
ainda discute-se o que está atualmente sendo implementado, tendo em vista o anseio da
comunidade acadêmica e a necessidade de adequação às Diretrizes Curriculares, que já se
constituem em Lei Federal.
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Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Medicina