Capa Para iluminar o Brasil Revista Lumière, abril/05 Prefeituras, fornecedores, empresários e governo se unem para melhorar e ampliar os sistemas de iluminação pública de todas as cidades do País Por Priscilla Negrão 50 I luminar o Brasil. Colocar um ponto de luz em cada ruazinha de cada cidade deste País. Melhorar a qualidade do sistema atual e tornálo mais econômico e eficiente. Valorizar os espaços urbanos à noite e melhorar a segurança pública e a qualidade de vida urbana. Esses são alguns dos objetivos do Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente Procel–Reluz. Mais conhecido pelo segundo nome, o Reluz foi lançado em junho de 2000 e, em 2002, prorrogado até 2010. Contudo, até hoje, dos cerca de 5.500 municípios existentes no País, apenas 1.500 já participaram ou participam do programa. Com intuito de levar o Reluz para os municípios restantes, empresários, fabricantes, fornecedores, prefeitos e concessionárias resolveram se unir para solucionar os entraves do programa e fazê-lo deslanchar de vez. O segundo seminário reunindo esse grupo aconteceu em maio, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com promoção e organização da Associação Brasileira da Indústria da Iluminação (Abilux) e apoio do Procel, da Eletrobrás e do Ministério de Minas e Energia (MME). A reunião colocou frente a frente prefeitos e concessionárias para assistirem a palestras sobre o Reluz e debaterem entraves e suas respectivas soluções. O Reluz prevê investimentos de R$2 bilhões por parte da Eletrobrás para tornar eficientes 9,5 milhões de pontos de Iluminação Pública (IP) e instalar mais 3 milhões de pontos novos no País até 2010. O programa pretende abranger 77% do potencial de conservação de energia da rede nacional de IP, atualmente composta de 14,5 milhões de pontos de iluminação, e 12,3 milhões de pontos podem ganhar mais eficiência. A meta é economizar 3.200GWh/ ano. Atingida essa meta, estima-se que o governo conseguirá reduzir a despesa dos municípios com iluminação pública em cerca de R$340 milhões por ano, com uma redução de 540 mil quilowatts (kW) no horário de ponta do sistema elétrico – aproximadamente a potência da usina nuclear de Angra I – e uma economia de 2,4 bilhões de kWh/ ano. Essa medida equivale ao consumo anual de IP das Regiões Norte e Sul reunidas ou ao consumo de uma cidade com 4,8 milhões de habitantes, aproximadamente três vezes a população da cidade de Recife (PE). “Economizando energia não precisaremos investir tanto em geração”, afirma o diretor do Departamento de Desenvolvimento de Projetos Especiais do Procel–Reluz, George Alves Soares. Conforme estimativas da Eletrobrás, os municípios brasileiros consomem 11% da energia elétrica produzida no País. Para atingir todas essas metas, entretanto, é preciso pôr o programa para funcionar plenamente em todo o País, o que não tem acontecido nos últimos dois anos. É consenso que o principal entrave ao Reluz é o vínculo nem sempre amigável entre prefeituras e distribuidoras de energia. Por causa dessa relação tempestuosa, dos R$250 milhões ofertados pela Eletrobrás para serem aplicados no Reluz no ano passado, apenas R$100 milhões foram investidos. Mesmo assim, Soares diz que 2004 foi um grande ano para o Reluz. “Tivemos muitas execuções e poucos contratos, pois foi um ano marcado pelas mudanças eleitorais, mais de 80% das prefeituras foram renovadas”, explica. Segundo ele, no ano passado foram beneficiados 419 municípios, nos quais foram eficientizados 416.193 pontos e implantados 2.508 pontos, ocasionando economia de energia de 288.755 MWh/ano e redução da demanda de 65.933kW/ano. Os investimentos totalizaram R$67,4 milhões, dos quais R$50,6 milhões foram financiados pela Eletrobrás. Entretanto, o valor total de contratos assinados em 2004 chegou a R$ 605 milhões, e o valor total de contratos em fase de análise, aprovação ou assinatura já soma R$231 milhões. De acordo com MME, em 2005 o programa tem cerca de R$400 milhões para serem tomados como empréstimo pelas distribuidoras de energia e aplicados nas cidades brasileiras. Apesar de todos os entraves, Soares acredita que com essa nova iniciativa e algumas mudanças – como a inclusão do financiamento da reciclagem das lâmpadas trocadas ou eficientizadas no programa – os níveis de empréstimos no âmbito do Reluz devem aumentar, mas ainda assim devem sobrar recursos, como em 2004. “O ritmo está mais lento do que eu esperava”, admite. Segundo ele, o grande desafio é levar o Reluz ao interior, às pequenas cidades, principalmente no Norte, Centro-Oeste e Nordeste do País. Por isso, além da parceria com a Abilux para divulgação e disseminação do programa, o Procel está também melhorando alguns quesitos, como o adiantamento de recursos, que agora é de até 20%. Antes dessa decisão, a Eletrobrás liberava para a concessionária repassar à prefeitura 10% dos recursos na primeira parcela e, conforme o avanço das obras, era liberada outra parcela de 10%. Em maio foi estabelecido que apenas a primeira parcela será de 10%, pois a partir da segunda o município poderá solicitar até 20%, de acordo com sua necessidade. Essa alteração deve acelerar as obras e facilitar a negociação com fornecedores, fabricantes e demais envolvidos. Se não chegou a muitas cidades ainda, pelo menos o Reluz trouxe benefícios aos locais por que passou. De acordo com dados da Eletrobrás, da Aneel e do ONS, o parque de iluminação pública no País saltou de 8,78 milhões de pontos em 1995 para 13,2 milhões em 2003. Em 1995, o parque contava com 7 milhões de lâmpadas a vapor de mercúrio e 600 mil a vapor de sódio. Em contrapartida, em 2004 cerca de 46,8% do parque utilizava lâmpadas a vapor de mercúrio e 46,3% empregava lâmpada a vapor de sódio. As lâmpadas mistas representam 3,3% do parque e as incandescentes, 1,93%. Essa eficientização diminuiu o consumo de energia do parque, cuja potência instalada caiu de 4GW em 1995 para 2,2GW em 2003. Segundo Soares, do Procel–Reluz, a meta é que até 2010 a participação das lâmpadas a vapor de mercúrio seja menor que 10%, Para os municípios, o Reluz possibilita, além da diminuição dos gastos públicos, redução de até 40% no consumo de energia elétrica, aumento da segurança divulgação/Nasa na foto abertura Revista Lumière, abril/05 Foto de satélite apresenta a distribuição da iluminação no planeta e revela verdadeiros “buracos negros” longe das grandes cidades 51 pública e melhoria da qualidade da iluminação pública e da imagem das cidades, o que incentiva as pessoas a freqüentarem a cidade à noite, atrai turistas e favorece o comércio, o esporte e o lazer noturno. O programa não proporciona economia de energia só por causa da eficientização, mas também porque na sua implantação é feito o recadastramento dos pontos de IP, o que pode ajudar o município a pagar a energia que verdadeiramente consome. Atualmente, a maioria das contas é feita por estimativa. Para se ter idéia, a cidade de Olinda (PE) pagava por 32 mil pontos de luz, e após o recadastramento pré-Reluz descobriu-se que existiam apenas 26 mil na cidade. 52 Trata-se de um programa criado no âmbito do MME, especificamente dentro do Procel, coordenado pelo Departamento de Desenvolvimento de Projetos Especiais (DPE). O Procel–Reluz pode ser empregado na melhoria dos sistemas de iluminação pública existentes, tanto para o retrofitting dos pontos como para a expansão desses sistemas para áreas que ainda não contam com iluminação nas ruas. O programa também permite financiar projetos de iluminação especial (destaque) e de inovação tecnológica. Seja na instalação de novos pontos, seja na melhoria dos existentes, a eficientização energética é a linhamestra do programa. Em 2004 a iluminação pública foi responsável por 3% do consumo de energia elétrica no País, que totalizou 320TWh. O segmento também foi responsável por 4,3% da demanda máxima registrada no ano passado, de 53GW. Os projetos são financiados mediante contrato de desempenho com as concessionárias de energia elétrica – distribuidoras, transmissoras e geradoras Transformando a cidade e valorizando o espaço urbano: projeto luminotécnico de Carlos Fortes e Gilberto Franco para a Estação da Luz, na capital paulista, transforma a Estação em um local mais atrativo e menos assustador ao público à noite César Araújo Revista Lumière, abril/05 Como funciona o Reluz – as quais executam os serviços em articulação com as prefeituras. O valor do financiamento corresponde a até 75% do valor total do projeto, e o restante constitui a contrapartida das concessionárias e das prefeituras, que pode ser feita por meio de serviços próprios, como transporte e mão-de-obra, e outros serviços necessários à execução dos projetos. A carência é de até 24 meses, ajustados ao cronograma de execução; a taxa de juros é de 5% e a taxa de administração, de 1,5% ao ano, ambas calculadas sobre o saldo devedor. A amortização deve ser feita em parcelas mensais, no prazo máximo de 60 meses. A fonte de recursos do programa é a Reserva Global de Reversão (RGR), um fundo federal formado pelos recursos repassados pelas concessionárias à Eletrobrás. Foi instituída pela Lei nº 5.655, de 1971, “com a finalidade de prover recursos para reversão, encampação, expansão e melhoria dos serviços públicos de energia elétrica”, conforme consta do art. 4º da lei. A RGB está incorporada ao preço da energia elétrica cobrada do consumidor final, e sua cobrança deveria terminar em 2002, mas foi prorrogada até 2010 pela Lei nº10.438, de 2002. A quota anual é fixada pela Aneel em até 2,5% sobre os investimentos das concessionárias e dos permissionários, observado o limite de 3% da receita anual, e é recolhida mensalmente. Dessa forma, hoje as concessionárias aplicam 0,5% da receita operacional líquida em projetos de eficiência energética, contudo, de acordo com a Resolução nº 492 da Aneel, a partir de 31 de dezembro de 2005 essa taxa será de 0,25%, diminuindo os recursos a serem aplicados no Reluz. Aliada a outros fatores, essa alteração faz de 2005 um ano com grande potencial de crescimento para o setor de iluminação pública. César Araújo As lâmpadas usadas na Iluminação Pública no Brasil Mercúrio 46,84% Sódio 46,35% Vapor Metálico Mistas Incandescentes 0,48% 3,30% 1,93% Halógena 0,02% Fluorescente 0,73% Compacta 0,01% Dicróica 0,00% Outras 0,34% Total 100,0% Total de lâmpadas no País 13.186.176 Tecnologias Quando se fala em Reluz, logo se pensa na substituição de lâmpadas a vapor de mercúrio pelas de sódio, entretanto há outras opções que poderiam ser cogitadas e não o são, “muitas vezes por falta de iniciativa e conhecimento”, conforme afirma o diretor técnico da Abilux, o engenheiro Isac Roizenblatt. Entre essas opções está a lâmpada de indução magnética de 165W (80lm/W), que é pouco empregada no País e quase tão eficiente quanto a de sódio de 250W (112lm/W). As lâmpadas de sódio sem mercúrio são uma alternativa ambientalmente melhor e oferecem 112lm/W. A lâmpada de sódio com mais fluxo (128 lm/W) e a de sódio com cor corrigida (IRC de 65% e 88lm/W) também são interessantes. A lâmpada a vapor metálico, apesar de consumir um pouco mais energia que a de sódio, oferece em contrapartida reprodução de cores acentuadamente mais alta. A lâmpada de 250W, por exemplo, oferece 76 lm/W e pode ser aplicada na valorização de monumentos e de avenidas, como foi feito em Fortaleza, pela Citèluz. Roizenblatt acredita que futuramente os Leds deverão ser uma das melhores alternativas para a iluminação urbana, visto que apresentam consumo baixíssimo, pequeno porte, baixa emissão de calor, alta reprodução de cores e durabilidade. Esse futuro não está nem tão distante. A Bandeirante Energia já está pesquisando o uso dos pequenos diodos na sinalização semafórica e em luminárias públicas. O Procel também tem interesse no assunto e pretende desenvolver pesquisas na área. O diretor técnico da Abilux também conta que na Europa e nos Estados Unidos em no máximo dois anos todos os semáforos serão de Leds, que já chegam a 80lm/W, no caso de vermelho, verde e âmbar, e a 50 lm/W, no caso de branco. Além da lâmpada, o conjunto ótico exige um bom reator. Roizenblatt explica que uma boa opção é o magnético de baixa perda, mas que não é vendido no País por causa do preço pouco competitivo. Assim, a melhor opção é o reator eletrônico, que oferece ganhos de 5% e é mais seguro. Entretanto, ainda é mais caro. “Acredito que com o tempo a demanda aumente e os preços caiam”, prevê. A fotocélula é outro item muito utilizado para evitar que as luminárias fiquem acesas durante o dia, por exemplo. “É um elemento pré-histórico, acredito que deve sumir com o uso dos reatores eletrônicos”, diz. Outro produto que faz parte do conjunto ótico é o capacitor, a ser especificado com cuidado. “Recomendo exigir que seja um capacitor de longa vida, que aliás já é fabricado no Brasil. Em vez de durar 10 mil horas, tem de durar 100 mil horas”, alerta. O bom funcionamento desses itens depende da qualidade da luminária que vai compor o conjunto ótico. Ela deve ser confeccionada de alumínio injetado ou fundido, com espessura mínima de 3mm. O refletor também merece atenção, por isso é fundamental que seja selado (liso e uniforme), conforme enfatiza o diretor técnico do Ilume da prefeitura de São Paulo, o engenheiro Paulo Candura. Ele explica que a geometria Revista Lumière, abril/05 Fonte: Eletrobrás/Procel 2004 53 Divulgação/Ilume-SP Revista Lumière, abril/05 54 Resultados do reluz Ítens Resultados até 2003 Resultados em 2004 Municípios Beneficiados* 402 419 Nº de Pontos - melhoria 460.724 416.193 Nº de Pontos - expansão 2.422 2.508 Economia de energia (MWh/ano) 163.743 288.755 Redução na Demanda (KW) 38.278 65.933 Valor Financiado R$ 50,1 milhões R$ 50,6 milhões Total Liberado R$ 61,9 milhões R$ 67,4 milhões * De 2000 a 2004 foram concluídas 100% das obras contratadas em 366 municípios R$ 305 milhões Valor total de contratos em análise, aprovação ou assinatura: R$ 231 milhões Valor total de contratos assinados em 2004: do refletor, principalmente no caso das lâmpadas a vapor de sódio, deve evitar a incidência de raios solares. Outra peça do conjunto, o refrator – ou difusor – envolve uma certa polêmica. Alguns defendem o uso do policarbonato, outros preferem o vidro temperado plano ou policurvo. “A diferença está na vida útil. A do policarbonato varia de três a cinco anos, ao passo que a do vidro é mais longa”, explica Candura. O conjunto ótico deve ter índice de proteção IP 65 e classe de isolamento elétrico tipo I. Candura recomenda ainda cuidado na seleção de materiais. “Se você criar um par galvânico, terá dificuldade para tirar um parafuso da luminária na manutenção, por exemplo.” Uma das novidades em equipamentos para iluminação urbana são os dispositivos de automação, como o Dali. Junto com o reator eletrônico, ele possibilita mapear a rede, informando pontos apagados, alterados, com defeito, etc. “Ele pode até sinalizar quando a lâmpada está prestes a queimar, para que seja feita a manutenção preventiva e a cidade nunca fique no escuro”, conta Roizenblatt. Todos os produtos empregados em IP são regulados por normas, nem todas compulsórias. Entretanto, o Inmetro tem planos de tornar obrigatória a certificação de diversos itens de Iluminação Pública ainda em 2005. Atualmente, o programa de etiquetagem Selo Procel conta com 17 categorias, incluindo refrigeradores, freezers, condicionadores de ar, coletores solares, lâmpadas fluorescentes, motores e reatores. O engenheiro Leonardo Rocha, do GT-Luz do Inmetro, conta que este ano devem ser incluídos no programa sistemas fotovoltaicos e eólicos, reatores eletrônicos para fluorescentes, transformadores, lâmpadas para iluminação pública, bombas de calor, ventiladores de teto e, futuramente, luminárias. Rocha explica que as lâmpadas a vapor de sódio estão em fase de etiquetagem e que concessionárias e prefeituras podem participar do GT-Luz para colaborar na definição de um padrão único. O regulamento para as lâmpadas está sendo preparado, mas o de reatores eletrônicos já está em fase de finalização e deve entrar em vigor ainda neste ano. As lâmpadas a vapor metálico também entraram na fila do programa de etiquetagem, e neste primeiro semestre estão sendo levantadas as normas pertinentes e realizados ensaios experimentais. A certificação dos relés fotoelétricos também está prevista para 2005. O Inmetro está fazendo um levantamento do mercado produtor e convidando os fabricantes a integrar o grupo de trabalho. “Foi acertada uma parceria com o Reluz para utilização apenas de relés com selo nos projetos”, adianta Rocha. A maior novidade em termos de certificação, entretanto, são os Leds, inseridos pelo Inmetro na lista de produtos a ser incluídos no programa de etiquetagem. Rocha conta que já estão sendo realizados ensaios experimentais no laboratório do Cepel e que a partir de agosto será iniciada a discussão acerca do regulamento. A etiquetagem traz, segundo Rocha, diversos benefícios aos fabricantes, como a participação no Reluz, uma especificação única para licitações, a diminuição dos custos, a maior integração entre os fabricantes e o atendimento à lei de eficiência energética – que, aliás, está em consulta pública até 27 de maio. O engenheiro Paulo Candura, do Ilume-SP, conta que este ano também teremos mudanças nas normas que regem a IP. Atualmente, existem as seguintes normas na área de IP: • NBR IEC 60598-1: editada em julho de 1999, regulamenta requisitos gerais e ensaios de luminárias; • NBR 15129: de julho de 2004, regulamenta requisitos particulares de luminárias para iluminação pública; • NBR 10304: de maio de 1998, regulamenta a luminária aberta para iluminação pública (lâmpadas a vapor metálico de 80W ou 125W e a vapor de sódio de 80W ou 70W); • NBR 10672: de maio de 1989, regulamenta luminárias para iluminação pública, fechada para lâmpada a vapor de sódio de 250W ou 400W; • NBR 5101: de abril de 1992, regulamenta procedimentos para iluminação pública. Candura explica que a partir de 1º de janeiro de 2006 as normas NBR 10304 e NBR 10672 entram em decadência e passará a valer apenas a NBR 15129, que deve ser revisada em breve. Ele acrescenta que a revisão da NBR 5101, em processo há sete anos, poderá ser finalizada em 2005. “A nova norma de IP vai fixar índices de iluminação para pedestres e introduzir o conceito de luminância. Estamos tentando também inserir exigências relativas à fotometria”, conta. Além disso, segundo ele, neste ano devem ser criados grupos de trabalho para a redação de normas inexistentes, para relé eletrônico e projetores, por exemplo. “Pretendemos revisar também a NBR 5181, que regulamenta a iluminação de túneis, mas só quando terminar a revisão da 5101 e da 15129”, revela Candura. Desafios São muitos os desafios do Reluz – a interiorização do programa, a incrementação de projetos de expansão e destaque de prédios e monumentos, a redução dos prazos de aprovação de projetos e a liberação dos recursos. No entanto, as verdadeiras barreiras para o programa resumem-se a duas questões: ambiental e política. Na questão ambiental está o problema da reciclagem das lâmpadas a vapor de mercúrio, que são trocadas pelas a vapor de sódio, mais eficientes. O mercúrio é um material tóxico classificado como resíduo sólido perigoso pela norma ABNT nº 10004, que determina que essas lâmpadas sejam recicladas e não descartadas no lixo comum. Atualmente, quem arca com o ônus da reciclagem é o próprio fabricante de lâmpadas e, em alguns casos, como em Curitiba, a prefeitura. Para tentar solucionar o problema, a Eletrobrás permitiu que fosse incluído no financiamento do Reluz o descarte ambientalmente correto dessas lâmpadas. Entretanto, George Soares, do Procel–Reluz, explica que esse financiamento só está liberado para os contratos assinados a partir de maio de 2005 e que os Revista Lumière, abril/05 Certificação a caminho 55 César Araújo Distribuição de Pontos de Luz no País Norte 157.288 (4,3%) Nordeste 608.073 (16,8%) Centro-oeste 277.586 (7,6%) Sudoeste Revista Lumière, abril/05 1.930.813 56 (53,48%) Total 3.609.680 (100%) Sul 635.930 (17,6%) Fonte: Procel/Eletrobrás contratos anteriores terão de encontrar alternativas para o problema. Por outro lado, só o financiamento não vai resolver essa questão, visto que no País há menos de dez recicladoras de lâmpadas, além de haver empecilhos de logística e estrutura, as quais a reciclagem demanda. Em algumas cidades, lâmpadas trocadas não são descartadas se estiverem funcionando. Elas são reaproveitadas na expansão de pontos de luz para bairros desprovidos de iluminação pública. “Às vezes é melhor um ponto ruim do que nenhum”, diz Soares. Entretanto, quando as lâmpadas queimam, ressurge o problema da destinação do resíduo. A segunda questão que emperra o programa é política e envolve as relações entre prefeitos e concessionárias. De um lado prefeitos reclamam que as concessionárias não querem investir no Reluz e que não aprovam os projetos, do outro lado concessionárias alegam que os municípios são maus pagadores e que os projetos apresentados precisam ser mais completos e elaborados. Como a Eletrobrás não permite que as geradoras intermedeiem os empréstimos, as prefeituras não têm outra saída a não ser se entenderem com suas concessionárias. Soares explica que, apesar de não haver empecilhos legais para as concessionárias atuarem fora de sua área de abrangência, essa não é uma prática corrente, por não oferecer viabilidade econômica. As concessionárias têm poder de negar o projeto e alegam que ao implantar o Reluz assumem um risco alto, visto que, se o prefeito não pagar, a Eletrobrás tem o direito de descontar o valor diretamente dos recebíveis da concessionária. Assim, elas só aprovam o projeto em função da credibilidade financeira do município. As prefeituras alegam que o atual sistema as deixa dependentes da boa vontade da concessionária. O secretário-adjunto da Habitação de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, Paulo de Tarso, conta que, como a concessionária tem uma política de endividamento, algumas vezes ela opta por não aplicar o Reluz em algumas cidades. “É o caso de Guarulhos”, afirma. Por outro lado, algumas experiências mostram que, quando prefeitura e concessionária se tornam parceiras, redimensionamento de braços e o aumento do número de empresas homologadas pela prefeitura como fornecedores, por exemplo. Diante do impasse entre prefeitos e concessionárias, que apresenta muitos elementos políticos, uma alternativa é o financiamento por meio do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o qual, entretanto, não aporta recursos no Reluz há três anos. Soares conta que para reverter esse quadro a Eletrobrás está negociando com o BNDES para que ela seja a avalista técnica do processo, diminuindo os riscos. “Para efetivar essa parceria falta elaborar a regulamentação”, explica Soares. É importante ressaltar que o financiamento do BNDES não terá as mesmas condições do da Eletrobrás, com os recursos da RGR. Ele terá taxa de administração de 1%, além da TJLP. Para resolver todas essas questões e atingir as metas do Reluz, é necessário conhecer as dificuldades de cada cidade, e para isso não há melhor forma que colocar as partes interessadas em discussão. O segundo seminário que aconteceu em maio, na Fiesp, foi apenas mais uma fase desse debate – o primeiro seminário foi promovido em dezembro de 2004. De acordo com o presidente da Abilux, Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, a partir de agora o evento segue para o interior. “A idéia é estimular os municípios a usar o Reluz, para quebrar o marasmo do mercado de Iluminação Pública”, conclui. Passo a passo: como entrar no Reluz Primeira Fase • Encaminhar à Concessionária, as informações necessárias à execução do projeto de iluminação pública eficiente. • Encaminhar, à Centrais Elétricas Brasileiras S. A - Eletrobrás, Departamento de Desenvolvimento de Projetos Especiais, Praia do Flamengo, 66/4º andar, Rio de Janeiro, RJ, CEP- 22210-030, cópia da correspondência enviada à Concessionária. Segunda Fase A nova versão do Guia Técnico do Procel/Reluz foi lançada em dezembro de 2004 e traz todas as informações necessárias para participar do programa, de forma clara e didática • Após a análise técnica e aprovação, pela Eletrobrás, do projeto encaminhado pela Concessionária, um contrato de financiamento será celebrado entre as empresas. • Visando à implementação do projeto, a Concessionária firmará contrato com a Prefeitura, estabelecendo as condições para pagamento do financiamento e a contrapartida do Município. Terceira Fase • Para liberação das parcelas do financiamento, a Eletrobrás fará supervisões física e financeira para avaliar o desenvolvimento do projeto. Serviço: E-mail: [email protected] Disque Reluz: 0800 560506 Fax: (21) 2514-5767 Fonte: Procel Revista Lumière, abril/05 o Reluz é até lucrativo. Mongaguá, cidade litorânea paulista, é um caso de sucesso. "Após quatro ciclos do Reluz, não há mais pontos escuros na cidade", conta o representante da prefeitura de Mongaguá, o arquiteto Otávio Mosca diz. A concessionária Elektro negociou com fabricantes e tornou o Reluz rentável. Esta é a primeira concessionária a implantar o Reluz em todos os municípios que atende. “Negociando com fabricantes e prestadores de serviço, ela criou um ciclo, um modelo de eficiência empresarial no qual todos ganham”, analisa Soares, do Procel. A AES Eletropaulo é outra concessionária que tem apostado no Reluz. Entre 2000 e 2003, investiu R$36,1 milhões na modernização de 153.502 pontos em 24 municípios, o que resultou na economia de energia de 69.102MWh/ano e na redução na demanda de ponta de 15.777kW. De acordo com Rubens Leme Filho, da diretoria de Clientes Corporativos e gerência de Eficiência Energética da AES Eletropaulo, algumas exigências da Aneel dificultam o projeto, como a questão da viabilidade econômica. “O projeto tem de ser bem-feito e provar que o resultado será mais econômico que a atual conta de luz da prefeitura”, explica. Ele lembra que a Aneel exige que seja atingido um determinado nível de custo–benefício para o projeto ser aprovado, o que freqüentemente pode ser viabilizado com pequenos acertos, como o 57