Capa
Para iluminar
o
Brasil
Revista Lumière, abril/05
Prefeituras, fornecedores, empresários e governo se unem para melhorar e
ampliar os sistemas de iluminação pública de todas as cidades do País
Por Priscilla Negrão
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I
luminar o Brasil. Colocar um ponto de luz
em cada ruazinha de cada cidade deste País.
Melhorar a qualidade do sistema atual e tornálo mais econômico e eficiente. Valorizar os espaços
urbanos à noite e melhorar a segurança pública e
a qualidade de vida urbana. Esses são alguns dos
objetivos do Programa Nacional de Iluminação
Pública Eficiente Procel–Reluz. Mais conhecido pelo
segundo nome, o Reluz foi lançado em junho de
2000 e, em 2002, prorrogado até 2010. Contudo, até
hoje, dos cerca de 5.500 municípios existentes no
País, apenas 1.500 já participaram ou participam do
programa.
Com intuito de levar o Reluz para os municípios
restantes, empresários, fabricantes, fornecedores,
prefeitos e concessionárias resolveram se unir
para solucionar os entraves do programa e fazê-lo
deslanchar de vez. O segundo seminário reunindo
esse grupo aconteceu em maio, na Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com
promoção e organização da Associação Brasileira da
Indústria da Iluminação (Abilux) e apoio do Procel,
da Eletrobrás e do Ministério de Minas e Energia
(MME).
A reunião colocou frente a frente prefeitos e
concessionárias para assistirem a palestras sobre
o Reluz e debaterem entraves e suas respectivas
soluções. O Reluz prevê investimentos de R$2 bilhões
por parte da Eletrobrás para tornar eficientes 9,5
milhões de pontos de Iluminação Pública (IP) e instalar
mais 3 milhões de pontos novos no País até 2010.
O programa pretende abranger 77% do potencial
de conservação de energia da rede nacional de IP,
atualmente composta de 14,5 milhões de pontos de
iluminação, e 12,3 milhões de pontos podem ganhar
mais eficiência. A meta é economizar 3.200GWh/
ano.
Atingida essa meta, estima-se que o governo
conseguirá reduzir a despesa dos municípios com
iluminação pública em cerca de R$340 milhões
por ano, com uma redução de 540 mil quilowatts
(kW) no horário de ponta do sistema elétrico
– aproximadamente a potência da usina nuclear de
Angra I – e uma economia de 2,4 bilhões de kWh/
ano.
Essa medida equivale ao consumo anual de IP
das Regiões Norte e Sul reunidas ou ao consumo
de uma cidade com 4,8 milhões de habitantes,
aproximadamente três vezes a população da
cidade de Recife (PE). “Economizando energia não
precisaremos investir tanto em geração”, afirma o
diretor do Departamento de Desenvolvimento de
Projetos Especiais do Procel–Reluz, George Alves
Soares. Conforme estimativas da Eletrobrás, os
municípios brasileiros consomem 11% da energia
elétrica produzida no País.
Para atingir todas essas metas, entretanto, é
preciso pôr o programa para funcionar plenamente
em todo o País, o que não tem acontecido nos últimos
dois anos. É consenso que o principal entrave ao Reluz
é o vínculo nem sempre amigável entre prefeituras
e distribuidoras de energia. Por causa dessa relação
tempestuosa, dos R$250 milhões ofertados pela
Eletrobrás para serem aplicados no Reluz no ano
passado, apenas R$100 milhões foram investidos.
Mesmo assim, Soares diz que 2004 foi um grande
ano para o Reluz. “Tivemos muitas execuções e
poucos contratos, pois foi um ano marcado pelas
mudanças eleitorais, mais de 80% das prefeituras
foram renovadas”, explica. Segundo ele, no ano
passado foram beneficiados 419 municípios, nos quais
foram eficientizados 416.193 pontos e implantados
2.508 pontos, ocasionando economia de energia
de 288.755 MWh/ano e redução da demanda de
65.933kW/ano.
Os investimentos totalizaram R$67,4 milhões,
dos quais R$50,6 milhões foram financiados pela
Eletrobrás. Entretanto, o valor total de contratos
assinados em 2004 chegou a R$ 605 milhões, e o valor
total de contratos em fase de análise, aprovação ou
assinatura já soma R$231 milhões.
De acordo com MME, em 2005 o programa tem
cerca de R$400 milhões para serem tomados como
empréstimo pelas distribuidoras de energia e aplicados
nas cidades brasileiras. Apesar de todos os entraves,
Soares acredita que com essa nova iniciativa e algumas
mudanças – como a inclusão do financiamento da
reciclagem das lâmpadas trocadas ou eficientizadas
no programa – os níveis de empréstimos no âmbito
do Reluz devem aumentar, mas ainda assim devem
sobrar recursos, como em 2004. “O ritmo está mais
lento do que eu esperava”, admite.
Segundo ele, o grande desafio é levar o Reluz
ao interior, às pequenas cidades, principalmente no
Norte, Centro-Oeste e Nordeste do País. Por isso,
além da parceria com a Abilux para divulgação e
disseminação do programa, o Procel está também
melhorando alguns quesitos, como o adiantamento
de recursos, que agora é de até 20%.
Antes dessa decisão, a Eletrobrás liberava para a
concessionária repassar à prefeitura 10% dos recursos
na primeira parcela e, conforme o avanço das obras,
era liberada outra parcela de 10%. Em maio foi
estabelecido que apenas a primeira parcela será de
10%, pois a partir da segunda o município poderá
solicitar até 20%, de acordo com sua necessidade.
Essa alteração deve acelerar as obras e facilitar a
negociação com fornecedores, fabricantes e demais
envolvidos.
Se não chegou a muitas cidades ainda, pelo menos
o Reluz trouxe benefícios aos locais por que passou.
De acordo com dados da Eletrobrás, da Aneel e do
ONS, o parque de iluminação pública no País saltou
de 8,78 milhões de pontos em 1995 para 13,2 milhões
em 2003. Em 1995, o parque contava com 7 milhões
de lâmpadas a vapor de mercúrio e 600 mil a vapor
de sódio.
Em contrapartida, em 2004 cerca de 46,8% do
parque utilizava lâmpadas a vapor de mercúrio e
46,3% empregava lâmpada a vapor de sódio. As
lâmpadas mistas representam 3,3% do parque e as
incandescentes, 1,93%. Essa eficientização diminuiu
o consumo de energia do parque, cuja potência
instalada caiu de 4GW em 1995 para 2,2GW em 2003.
Segundo Soares, do Procel–Reluz, a meta é que até
2010 a participação das lâmpadas a vapor de mercúrio
seja menor que 10%,
Para os municípios, o Reluz possibilita, além da
diminuição dos gastos públicos, redução de até 40%
no consumo de energia elétrica, aumento da segurança
divulgação/Nasa na foto abertura
Revista Lumière, abril/05
Foto de satélite apresenta a distribuição da
iluminação no planeta e revela verdadeiros
“buracos negros” longe das grandes cidades
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pública e melhoria da qualidade da iluminação pública
e da imagem das cidades, o que incentiva as pessoas a
freqüentarem a cidade à noite, atrai turistas e favorece
o comércio, o esporte e o lazer noturno.
O programa não proporciona economia de energia
só por causa da eficientização, mas também porque na
sua implantação é feito o recadastramento dos pontos
de IP, o que pode ajudar o município a pagar a energia
que verdadeiramente consome. Atualmente, a maioria
das contas é feita por estimativa. Para se ter idéia, a
cidade de Olinda (PE) pagava por 32 mil pontos de
luz, e após o recadastramento pré-Reluz descobriu-se
que existiam apenas 26 mil na cidade.
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Trata-se de um programa criado no âmbito do
MME, especificamente dentro do Procel, coordenado
pelo Departamento de Desenvolvimento de Projetos
Especiais (DPE). O Procel–Reluz pode ser empregado
na melhoria dos sistemas de iluminação pública
existentes, tanto para o retrofitting dos pontos como
para a expansão desses sistemas para áreas que ainda
não contam com iluminação nas ruas. O programa
também permite financiar projetos de iluminação
especial (destaque) e de inovação tecnológica.
Seja na instalação de novos pontos, seja na melhoria
dos existentes, a eficientização energética é a linhamestra do programa. Em 2004 a iluminação pública foi
responsável por 3% do consumo de energia elétrica no
País, que totalizou 320TWh. O segmento também foi
responsável por 4,3% da demanda máxima registrada
no ano passado, de 53GW.
Os projetos são financiados mediante contrato
de desempenho com as concessionárias de energia
elétrica – distribuidoras, transmissoras e geradoras
Transformando a cidade e valorizando o espaço urbano: projeto luminotécnico de Carlos Fortes e Gilberto Franco para a
Estação da Luz, na capital paulista, transforma a Estação em um local mais atrativo e menos assustador ao público à noite
César Araújo
Revista Lumière, abril/05
Como funciona o Reluz
– as quais executam os serviços em articulação com as
prefeituras. O valor do financiamento corresponde a
até 75% do valor total do projeto, e o restante constitui
a contrapartida das concessionárias e das prefeituras,
que pode ser feita por meio de serviços próprios, como
transporte e mão-de-obra, e outros serviços necessários
à execução dos projetos.
A carência é de até 24 meses, ajustados ao
cronograma de execução; a taxa de juros é de 5%
e a taxa de administração, de 1,5% ao ano, ambas
calculadas sobre o saldo devedor. A amortização deve
ser feita em parcelas mensais, no prazo máximo de 60
meses.
A fonte de recursos do programa é a Reserva
Global de Reversão (RGR), um fundo federal formado
pelos recursos repassados pelas concessionárias à
Eletrobrás. Foi instituída pela Lei nº 5.655, de 1971,
“com a finalidade de prover recursos para reversão,
encampação, expansão e melhoria dos serviços
públicos de energia elétrica”, conforme consta do art.
4º da lei. A RGB está incorporada ao preço da energia
elétrica cobrada do consumidor final, e sua cobrança
deveria terminar em 2002, mas foi prorrogada até 2010
pela Lei nº10.438, de 2002.
A quota anual é fixada pela Aneel em até 2,5%
sobre os investimentos das concessionárias e dos
permissionários, observado o limite de 3% da receita
anual, e é recolhida mensalmente. Dessa forma, hoje
as concessionárias aplicam 0,5% da receita operacional
líquida em projetos de eficiência energética, contudo,
de acordo com a Resolução nº 492 da Aneel, a partir
de 31 de dezembro de 2005 essa taxa será de 0,25%,
diminuindo os recursos a serem aplicados no Reluz.
Aliada a outros fatores, essa alteração faz de 2005 um
ano com grande potencial de crescimento para o setor
de iluminação pública.
César Araújo
As lâmpadas usadas na Iluminação Pública no Brasil
Mercúrio
46,84%
Sódio
46,35%
Vapor Metálico
Mistas
Incandescentes
0,48%
3,30%
1,93%
Halógena 0,02%
Fluorescente
0,73%
Compacta
0,01%
Dicróica
0,00%
Outras
0,34%
Total
100,0%
Total de lâmpadas no País
13.186.176
Tecnologias
Quando se fala em Reluz, logo se pensa na
substituição de lâmpadas a vapor de mercúrio pelas
de sódio, entretanto há outras opções que poderiam
ser cogitadas e não o são, “muitas vezes por falta de
iniciativa e conhecimento”, conforme afirma o diretor
técnico da Abilux, o engenheiro Isac Roizenblatt.
Entre essas opções está a lâmpada de indução
magnética de 165W (80lm/W), que é pouco empregada
no País e quase tão eficiente quanto a de sódio de 250W
(112lm/W). As lâmpadas de sódio sem mercúrio são
uma alternativa ambientalmente melhor e oferecem
112lm/W. A lâmpada de sódio com mais fluxo (128
lm/W) e a de sódio com cor corrigida (IRC de 65% e
88lm/W) também são interessantes.
A lâmpada a vapor metálico, apesar de consumir
um pouco mais energia que a de sódio, oferece em
contrapartida reprodução de cores acentuadamente
mais alta. A lâmpada de 250W, por exemplo, oferece
76 lm/W e pode ser aplicada na valorização de
monumentos e de avenidas, como foi feito em Fortaleza,
pela Citèluz.
Roizenblatt acredita que futuramente os Leds deverão
ser uma das melhores alternativas para a iluminação
urbana, visto que apresentam consumo baixíssimo,
pequeno porte, baixa emissão de calor, alta reprodução
de cores e durabilidade. Esse futuro não está nem tão
distante. A Bandeirante Energia já está pesquisando o
uso dos pequenos diodos na sinalização semafórica e
em luminárias públicas. O Procel também tem interesse
no assunto e pretende desenvolver pesquisas na área.
O diretor técnico da Abilux também conta que na
Europa e nos Estados Unidos em no máximo dois anos
todos os semáforos serão de Leds, que já chegam a
80lm/W, no caso de vermelho, verde e âmbar, e a 50
lm/W, no caso de branco.
Além da lâmpada, o conjunto ótico exige um bom
reator. Roizenblatt explica que uma boa opção é o
magnético de baixa perda, mas que não é vendido no
País por causa do preço pouco competitivo. Assim, a
melhor opção é o reator eletrônico, que oferece ganhos
de 5% e é mais seguro. Entretanto, ainda é mais caro.
“Acredito que com o tempo a demanda aumente e os
preços caiam”, prevê.
A fotocélula é outro item muito utilizado para evitar
que as luminárias fiquem acesas durante o dia, por
exemplo. “É um elemento pré-histórico, acredito que
deve sumir com o uso dos reatores eletrônicos”, diz.
Outro produto que faz parte do conjunto ótico é o
capacitor, a ser especificado com cuidado. “Recomendo
exigir que seja um capacitor de longa vida, que aliás
já é fabricado no Brasil. Em vez de durar 10 mil horas,
tem de durar 100 mil horas”, alerta.
O bom funcionamento desses itens depende da
qualidade da luminária que vai compor o conjunto
ótico. Ela deve ser confeccionada de alumínio injetado
ou fundido, com espessura mínima de 3mm. O refletor
também merece atenção, por isso é fundamental que
seja selado (liso e uniforme), conforme enfatiza o
diretor técnico do Ilume da prefeitura de São Paulo, o
engenheiro Paulo Candura. Ele explica que a geometria
Revista Lumière, abril/05
Fonte: Eletrobrás/Procel 2004
53
Divulgação/Ilume-SP
Revista Lumière, abril/05
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Resultados do reluz
Ítens
Resultados até 2003
Resultados em 2004
Municípios Beneficiados*
402
419
Nº de Pontos - melhoria
460.724
416.193
Nº de Pontos - expansão
2.422
2.508
Economia de energia (MWh/ano)
163.743
288.755
Redução na Demanda (KW)
38.278
65.933
Valor Financiado
R$ 50,1 milhões
R$ 50,6 milhões
Total Liberado
R$ 61,9 milhões
R$ 67,4 milhões
* De 2000 a 2004 foram concluídas 100% das obras contratadas em 366 municípios
R$ 305 milhões
Valor total de contratos em análise, aprovação ou assinatura: R$ 231 milhões
Valor total de contratos assinados em 2004:
do refletor, principalmente no caso das lâmpadas
a vapor de sódio, deve evitar a incidência de raios
solares.
Outra peça do conjunto, o refrator – ou difusor
– envolve uma certa polêmica. Alguns defendem o uso
do policarbonato, outros preferem o vidro temperado
plano ou policurvo. “A diferença está na vida útil. A do
policarbonato varia de três a cinco anos, ao passo que
a do vidro é mais longa”, explica Candura.
O conjunto ótico deve ter índice de proteção IP 65 e
classe de isolamento elétrico tipo I. Candura recomenda
ainda cuidado na seleção de materiais. “Se você criar
um par galvânico, terá dificuldade para tirar um parafuso
da luminária na manutenção, por exemplo.”
Uma das novidades em equipamentos para
iluminação urbana são os dispositivos de automação,
como o Dali. Junto com o reator eletrônico, ele
possibilita mapear a rede, informando pontos apagados,
alterados, com defeito, etc. “Ele pode até sinalizar
quando a lâmpada está prestes a queimar, para que seja
feita a manutenção preventiva e a cidade nunca fique
no escuro”, conta Roizenblatt.
Todos os produtos empregados em IP são regulados
por normas, nem todas compulsórias. Entretanto, o
Inmetro tem planos de tornar obrigatória a certificação
de diversos itens de Iluminação Pública ainda em 2005.
Atualmente, o programa de etiquetagem Selo Procel conta
com 17 categorias, incluindo refrigeradores, freezers,
condicionadores de ar, coletores solares, lâmpadas
fluorescentes, motores e reatores.
O engenheiro Leonardo Rocha, do GT-Luz do Inmetro,
conta que este ano devem ser incluídos no programa
sistemas fotovoltaicos e eólicos, reatores eletrônicos
para fluorescentes, transformadores, lâmpadas para
iluminação pública, bombas de calor, ventiladores de teto
e, futuramente, luminárias.
Rocha explica que as lâmpadas a vapor de sódio
estão em fase de etiquetagem e que concessionárias e
prefeituras podem participar do GT-Luz para colaborar
na definição de um padrão único. O regulamento para
as lâmpadas está sendo preparado, mas o de reatores
eletrônicos já está em fase de finalização e deve entrar
em vigor ainda neste ano.
As lâmpadas a vapor metálico também entraram na fila
do programa de etiquetagem, e neste primeiro semestre
estão sendo levantadas as normas pertinentes e realizados
ensaios experimentais.
A certificação dos relés fotoelétricos também está prevista
para 2005. O Inmetro está fazendo um levantamento do
mercado produtor e convidando os fabricantes a integrar o
grupo de trabalho. “Foi acertada uma parceria com o Reluz
para utilização apenas de relés com selo nos projetos”,
adianta Rocha.
A maior novidade em termos de certificação, entretanto,
são os Leds, inseridos pelo Inmetro na lista de produtos a
ser incluídos no programa de etiquetagem. Rocha conta
que já estão sendo realizados ensaios experimentais no
laboratório do Cepel e que a partir de agosto será iniciada
a discussão acerca do regulamento.
A etiquetagem traz, segundo Rocha, diversos benefícios
aos fabricantes, como a participação no Reluz, uma
especificação única para licitações, a diminuição dos
custos, a maior integração entre os fabricantes e o
atendimento à lei de eficiência energética – que, aliás, está
em consulta pública até 27 de maio.
O engenheiro Paulo Candura, do Ilume-SP, conta que
este ano também teremos mudanças nas normas que
regem a IP. Atualmente, existem as seguintes normas na
área de IP:
• NBR IEC 60598-1: editada em julho de 1999,
regulamenta requisitos gerais e ensaios de luminárias;
• NBR 15129: de julho de 2004, regulamenta
requisitos particulares de luminárias para iluminação
pública;
• NBR 10304: de maio de 1998, regulamenta a
luminária aberta para iluminação pública (lâmpadas a
vapor metálico de 80W ou 125W e a vapor de sódio de
80W ou 70W);
• NBR 10672: de maio de 1989, regulamenta
luminárias para iluminação pública, fechada para lâmpada
a vapor de sódio de 250W ou 400W;
• NBR 5101: de abril de 1992, regulamenta
procedimentos para iluminação pública.
Candura explica que a partir de 1º de janeiro de
2006 as normas NBR 10304 e NBR 10672 entram em
decadência e passará a valer apenas a NBR 15129, que
deve ser revisada em breve. Ele acrescenta que a revisão
da NBR 5101, em processo há sete anos, poderá ser
finalizada em 2005. “A nova norma de IP vai fixar índices
de iluminação para pedestres e introduzir o conceito de
luminância. Estamos tentando também inserir exigências
relativas à fotometria”, conta.
Além disso, segundo ele, neste ano devem ser criados
grupos de trabalho para a redação de normas inexistentes,
para relé eletrônico e projetores, por exemplo. “Pretendemos
revisar também a NBR 5181, que regulamenta a iluminação
de túneis, mas só quando terminar a revisão da 5101 e da
15129”, revela Candura.
Desafios
São muitos os desafios do Reluz – a interiorização
do programa, a incrementação de projetos de
expansão e destaque de prédios e monumentos, a
redução dos prazos de aprovação de projetos e a
liberação dos recursos. No entanto, as verdadeiras
barreiras para o programa resumem-se a duas
questões: ambiental e política.
Na questão ambiental está o problema da reciclagem
das lâmpadas a vapor de mercúrio, que são trocadas
pelas a vapor de sódio, mais eficientes. O mercúrio é
um material tóxico classificado como resíduo sólido
perigoso pela norma ABNT nº 10004, que determina
que essas lâmpadas sejam recicladas e não descartadas
no lixo comum.
Atualmente, quem arca com o ônus da reciclagem
é o próprio fabricante de lâmpadas e, em alguns casos,
como em Curitiba, a prefeitura. Para tentar solucionar
o problema, a Eletrobrás permitiu que fosse incluído no
financiamento do Reluz o descarte ambientalmente
correto dessas lâmpadas.
Entretanto, George Soares, do Procel–Reluz,
explica que esse financiamento só está liberado para os
contratos assinados a partir de maio de 2005 e que os
Revista Lumière, abril/05
Certificação a caminho
55
César Araújo
Distribuição de
Pontos de Luz no País
Norte
157.288
(4,3%)
Nordeste
608.073
(16,8%)
Centro-oeste
277.586
(7,6%)
Sudoeste
Revista Lumière, abril/05
1.930.813
56
(53,48%)
Total
3.609.680
(100%)
Sul
635.930
(17,6%)
Fonte: Procel/Eletrobrás
contratos anteriores terão de encontrar alternativas para
o problema. Por outro lado, só o financiamento não vai
resolver essa questão, visto que no País há menos de dez
recicladoras de lâmpadas, além de haver empecilhos de
logística e estrutura, as quais a reciclagem demanda.
Em algumas cidades, lâmpadas trocadas não
são descartadas se estiverem funcionando. Elas são
reaproveitadas na expansão de pontos de luz para bairros
desprovidos de iluminação pública. “Às vezes é melhor
um ponto ruim do que nenhum”, diz Soares. Entretanto,
quando as lâmpadas queimam, ressurge o problema da
destinação do resíduo.
A segunda questão que emperra o programa
é política e envolve as relações entre prefeitos e
concessionárias. De um lado prefeitos reclamam que
as concessionárias não querem investir no Reluz e que
não aprovam os projetos, do outro lado concessionárias
alegam que os municípios são maus pagadores e que
os projetos apresentados precisam ser mais completos
e elaborados.
Como a Eletrobrás não permite que as geradoras
intermedeiem os empréstimos, as prefeituras não
têm outra saída a não ser se entenderem com suas
concessionárias. Soares explica que, apesar de não haver
empecilhos legais para as concessionárias atuarem fora
de sua área de abrangência, essa não é uma prática
corrente, por não oferecer viabilidade econômica.
As concessionárias têm poder de negar o projeto e
alegam que ao implantar o Reluz assumem um risco
alto, visto que, se o prefeito não pagar, a Eletrobrás tem
o direito de descontar o valor diretamente dos recebíveis
da concessionária. Assim, elas só aprovam o projeto em
função da credibilidade financeira do município.
As prefeituras alegam que o atual sistema as deixa
dependentes da boa vontade da concessionária. O
secretário-adjunto da Habitação de Guarulhos, na Região
Metropolitana de São Paulo, Paulo de Tarso, conta que,
como a concessionária tem uma política de endividamento,
algumas vezes ela opta por não aplicar o Reluz em algumas
cidades. “É o caso de Guarulhos”, afirma.
Por outro lado, algumas experiências mostram que,
quando prefeitura e concessionária se tornam parceiras,
redimensionamento de braços e o aumento do número
de empresas homologadas pela prefeitura como
fornecedores, por exemplo.
Diante do impasse entre prefeitos e concessionárias,
que apresenta muitos elementos políticos, uma
alternativa é o financiamento por meio do Banco de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o qual,
entretanto, não aporta recursos no Reluz há três anos.
Soares conta que para reverter esse quadro a Eletrobrás
está negociando com o BNDES para que ela seja a avalista
técnica do processo, diminuindo os riscos. “Para efetivar
essa parceria falta elaborar a regulamentação”, explica
Soares. É importante ressaltar que o financiamento do
BNDES não terá as mesmas condições do da Eletrobrás,
com os recursos da RGR. Ele terá taxa de administração
de 1%, além da TJLP.
Para resolver todas essas questões e atingir as
metas do Reluz, é necessário conhecer as dificuldades
de cada cidade, e para isso não há melhor forma
que colocar as partes interessadas em discussão. O
segundo seminário que aconteceu em maio, na Fiesp,
foi apenas mais uma fase desse debate – o primeiro
seminário foi promovido em dezembro de 2004. De
acordo com o presidente da Abilux, Carlos Eduardo
Uchôa Fagundes, a partir de agora o evento segue
para o interior. “A idéia é estimular os municípios a
usar o Reluz, para quebrar o marasmo do mercado de
Iluminação Pública”, conclui.
Passo a passo: como entrar no Reluz
Primeira Fase
• Encaminhar à Concessionária, as informações necessárias à execução do
projeto de iluminação pública eficiente.
• Encaminhar, à Centrais Elétricas Brasileiras S. A - Eletrobrás, Departamento
de Desenvolvimento de Projetos Especiais, Praia do Flamengo, 66/4º andar,
Rio de Janeiro, RJ, CEP- 22210-030, cópia da correspondência enviada à
Concessionária.
Segunda Fase
A nova versão do Guia Técnico do Procel/Reluz
foi lançada em dezembro de 2004 e traz todas
as informações necessárias para participar do
programa, de forma clara e didática
• Após a análise técnica e aprovação, pela Eletrobrás, do projeto encaminhado
pela Concessionária, um contrato de financiamento será celebrado entre as
empresas.
• Visando à implementação do projeto, a Concessionária firmará contrato com
a Prefeitura, estabelecendo as condições para pagamento do financiamento e a
contrapartida do Município.
Terceira Fase
• Para liberação das parcelas do financiamento, a Eletrobrás fará supervisões
física e financeira para avaliar o desenvolvimento do projeto.
Serviço:
E-mail: [email protected]
Disque Reluz: 0800 560506
Fax: (21) 2514-5767
Fonte: Procel
Revista Lumière, abril/05
o Reluz é até lucrativo. Mongaguá, cidade litorânea
paulista, é um caso de sucesso. "Após quatro ciclos do
Reluz, não há mais pontos escuros na cidade", conta o
representante da prefeitura de Mongaguá, o arquiteto
Otávio Mosca diz.
A concessionária Elektro negociou com fabricantes e
tornou o Reluz rentável. Esta é a primeira concessionária
a implantar o Reluz em todos os municípios que atende.
“Negociando com fabricantes e prestadores de serviço,
ela criou um ciclo, um modelo de eficiência empresarial
no qual todos ganham”, analisa Soares, do Procel.
A AES Eletropaulo é outra concessionária que tem
apostado no Reluz. Entre 2000 e 2003, investiu R$36,1
milhões na modernização de 153.502 pontos em 24
municípios, o que resultou na economia de energia de
69.102MWh/ano e na redução na demanda de ponta
de 15.777kW.
De acordo com Rubens Leme Filho, da diretoria de
Clientes Corporativos e gerência de Eficiência Energética
da AES Eletropaulo, algumas exigências da Aneel
dificultam o projeto, como a questão da viabilidade
econômica. “O projeto tem de ser bem-feito e provar
que o resultado será mais econômico que a atual conta
de luz da prefeitura”, explica.
Ele lembra que a Aneel exige que seja atingido
um determinado nível de custo–benefício para o
projeto ser aprovado, o que freqüentemente pode
ser viabilizado com pequenos acertos, como o
57
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