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Antonio Geraldo da Silva e Francisco Assumpção: Crianças, adolescentes e a psiquiatria - 28/03/2014 - Opinião - Folha de S.Paulo
Antonio Geraldo da Silva e Francisco
Assumpção: Crianças, adolescentes e a
psiquiatria
28/03/2014 03h00
Ao longo do século 20, as sociedades atribuíram às crianças e adolescentes uma
relevância social que elas não tinham até então.
Os últimos 30 anos, especialmente, foram protagonizados pelos jovens. Vem deles as
"start-ups" e as novidades tecnológicas que estão mudando o mundo. Este novo status
quo dos jovens se dá, de certa forma, em detrimento da experiência dos mais velhos.
Mas isso é outra história.
O ponto central é que este comportamento contemporâneo de considerar crianças e
adolescentes como agentes sociais tem um preço: estudos internacionais indicam que
cerca de 20% das crianças de todo mundo carecem de tratamento psiquiátrico.
A ansiedade é o quadro mais frequente, atingindo cerca de 18% da população infantil,
de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Já os transtornos de
hiperatividade afetam aproximadamente 5% da população jovem, e os transtornos
depressivos, cerca de 4%. Há, ainda, os transtornos de conduta, pouco diagnosticados
porém de extrema relevância social.
A boa notícia é que se diagnosticados ainda na infância, tais quadros causam menos
problemas nas escolas e, mais que isso, reduzem o sofrimento de uma parcela
significativa da população infantil e de seus familiares.
Além dos pais e professores, os pediatras são os que mais convivem com as crianças
e adolescentes. Por isso, devem ficar atentos aos primeiros sintomas das doenças
mentais, como alterações no desenvolvimento e na conduta das crianças. Supor que
esses sinais "passam com a idade" ou que são traços de personalidade é
extremamente prejudicial para o jovem.
É preciso entender que a psicopatologia infantil é totalmente diversa da vivenciada por
um adulto. A criança é um ser em desenvolvimento e, nessa faixa etária, a doença
mental adquire sintomas diferentes, uma vez que desorganiza a curva de
amadurecimento e ocasiona quadros deficitários a longo e médio prazos.
Consequentemente, sua abordagem terapêutica é também específica.
O alarmante é que apenas 205 psiquiatras em todo o Brasil possuem o título de
especialista em psiquiatria da infância e adolescência. Além de ser uma janela de
oportunidade para "especialistas" aventureiros de toda a sorte, esta carência indica
descaso e falta de comprometimento das instituições envolvidas –governos, classe
médica e sociedade.
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Segundo dados do governo federal, em 2011 o investimento em ciência e tecnologia
no Brasil rondou os US$24 bilhões. O assombro é que este valor é 1.545% menor que
o investimento americano, que totalizou US$ 398,2 bilhões.
Para suprir um pouco essa lacuna no que tange à medicina, a Associação Brasileira
de Psiquiatria (ABP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acabam de acordar
uma parceria de apoio mútuo inédita no país, partilhando conhecimentos sobre
psiquiatria, crescimento e desenvolvimento infantil.
A união entre áreas correlatas do conhecimento produzido no Brasil é o primeiro de
vários passos que devem ser dados para que as questões de saúde mental infantil
possam ser minoradas ou até mesmo sanadas, em que pese a ignorância e
inoperância das instituições que por elas deveriam olhar.
ANTONIO GERALDO DA SILVA, 50, psiquiatra, é presidente da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP)
FRANCISCO ASSUMPÇÃO, 62, é psiquiatra, membro da Associação Brasileira de
Psiquiatria
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