Zulmira Conceição Ferreira Pinto
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Universidade Fernando Pessoa
Porto, 2013
i
Zulmira Conceição Ferreira Pinto
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Universidade Fernando Pessoa
Porto, 2013
ii
Zulmira Conceição Ferreira Pinto
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Trabalho
apresentado
à
Universidade
Fernando Pessoa como parte dos requisitos
para a obtenção do grau de Mestre em
Ciências da Educação: Educação Especial,
realizado sob orientação da Prof.ª Doutora
Tereza Ventura.
_______________________________________
iii
Resumo
Uma criança sobredotada, é um ser com potencialidades “superiores”, que não estão
concretizadas, mas estão ao seu alcance. Cabe-nos aos profissionais da educação, saber
educá-los e encaminhá-los sempre no sentido do desenvolvimento máximo desse
potencial.
Neste estudo visa-se a sensibilização dos professores para a problemática da
sobredotação, contribuindo para um maior conhecimento das características e das
necessidades das crianças e jovens sobredotados em idade escolar. Pretende-se também
com este trabalho dar um contributo para o aumento do conhecimento sobre a temática
em causa e, nomeadamente para a procura de soluções educativas mais ajustadas às
características e necessidades destas crianças.
Sendo esta investigação um estudo de caso, abarca, para além da população constituída
pelos docentes da ilha de S. Miguel (incluindo a professora titular de turma do aluno
sobredotado), os encarregados de educação da criança em questão.
Dado que, no que respeita a esta temática, por vezes as dúvidas subsistem, procura-se
dar ênfase a alguns aspetos teóricos, insistindo-se na definição de conceitos com valor
operacional, suscetíveis de contribuir para a estruturação de uma intervenção educativa
mais eficaz. Segue-se depois a articulação dos resultados com a literatura científica
pertinente de modo a confirmar as hipóteses colocadas inicialmente e a levantar novas
pistas, passiveis de serem aprofundadas futuramente, em novas investigações.
Palavras-chave: Perceção dos Professores, Formação, Criança Sobredotada, Família.
Abstract
A gifted child is a being with potential "superior", which are not implemented, but are at
your fingertips. It behooves us to education professionals, learn to educate them and
guide them always in the direction of maximum development of this potential.
This study aims to raise awareness of teachers to the issue of giftedness, contributing to
a better understanding of the characteristics and needs of gifted children and young
people of school age. It is also intended with this paper to contribute to increased
iv
knowledge about the topic in question, and in particular for seeking educational
solutions more suited to the characteristics and needs of these children.
As this research a case study, includes, in addition to the population constituted by the
faculty of the island of S. Miguel (including the professor's class of gifted students), the
guardians of the child in question.
Given that, with regard to this issue, sometimes the doubts persist, seek to emphasize
some aspects of theoretical, insisting on the definition of concepts with operational
value, likely to contribute to the development of an educational intervention more
effective. Then follows the articulation of the results with the scientific literature in
order to confirm the assumptions made initially and get new leads, liable to be
investigated in the future.
Keywords: Perception of Teachers, Training, Child gifted, Family.
v
Dedicatória
A todos os que mais amo e que me
amam com a mesma veemência.
Pelo apoio e ensinamentos que
formaram os alicerces da minha
história e pela companhia, força e
coragem ao longo da trajetória que
me levou à concretização deste
sonho.
vi
Agradecimentos
A todos os participantes, que, direta ou
indiretamente,
fizeram
com
que
esta
investigação chegasse a bom porto. À
Professora Doutora Tereza Ventura, pelo
profissionalismo e pela sincera amizade e
disponibilidade que sempre revelou para
comigo.
A todos, Muito Obrigada!
vii
Índice
Resumo ............................................................................................................................ iv
Abstract ............................................................................................................................ iv
Dedicatória....................................................................................................................... vi
Agradecimentos .............................................................................................................. vii
I – Conceção do Estudo .................................................................................................... 1
1 - Introdução................................................................................................................ 1
2 - Revisão da Literatura .............................................................................................. 7
i.
Definição de Sobredotação ................................................................................ 7
ii.
A Sobredotação e o Ensino em Portugal ...................................................... 14
iii.
A escola e a Criança Sobredotada ................................................................ 22
iv.
Identificação da Criança Sobredotada .......................................................... 25
v.
O Não Reconhecimento do Talento por Parte da Escola ............................. 29
vi.
Respostas Educativas para Crianças Sobredotadas ...................................... 32
vi.i. Programas de Aceleração ............................................................................ 33
vi.ii. Programas de Enriquecimento ................................................................... 34
vi.iii. Programa de Segregação ........................................................................... 34
vii.
Interação Professor / Educador com a Criança Sobredotada versus a
inadaptação do aluno à escola ................................................................................ 37
viii. A Criança Sobredotada e sua Família .......................................................... 40
II. Estudo Empírico ........................................................................................................ 43
1-
Estudo Comparativo e Complementar ................................................................ 43
2-
A Metodologia e Estrutura da Investigação ....................................................... 45
i.
Objetivos Gerais .............................................................................................. 46
ii.
Objetivos Específicos ................................................................................... 46
iii.
Abordagem Quantitativa .............................................................................. 46
iii.i. Hipóteses Gerais ......................................................................................... 46
iii.ii. Sub-Hipóteses ............................................................................................ 47
iv.
Abordagem Qualitativa ................................................................................ 47
viii
iv.i. Questões ...................................................................................................... 47
v.
Quadro de Operacionalização ...................................................................... 50
vi.
População Alvo e participantes .................................................................... 52
vii. Descrição dos Instrumentos ............................................................................. 57
vii.i. Questionário (Anexo 8) .............................................................................. 57
vii.ii. Escala de Avaliação para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico
(Anexo 9) ............................................................................................................ 58
vii.iii. Entrevista Semiestruturada à Professora Titular de Turma (Anexo 10) .. 60
vii.iv. Entrevista Semiestruturada aos Pais (Encarregados de Educação) (Anexo
11) ....................................................................................................................... 60
vii.v. Blog (Anexo 12) ........................................................................................ 61
III. Apresentação de resultados ...................................................................................... 63
1.
Abordagem quantitativa: análise descritiva e teste das hipóteses ...................... 63
2.
Abordagem qualitativa e resposta às questões colocadas ................................... 96
IV. Triangulação e Discussão dos Resultados .............................................................. 109
V. Considerações Finais, limitações e perspetivas ....................................................... 118
VI. Bibliografia............................................................................................................. 121
Índice de imagens
Figura 1- Modelo de Sobredotação dos três anéis, Pereira (2000), última versão .......... 9
Índice de Quadros
Quadro 1 - Aspetos positivos e negativos da Criança Sobredotada ............................... 27
Quadro 2 - Características de aprendizagem e problemas coexistentes em crianças
sobredotadas (adaptada de Falcão (1992)) ..................................................................... 38
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Tem alunos com NEE? Quantos? .................................................................. 64
Tabela 2 - Qual o nível em que se encontra informado para reconhecer uma criança
sobredotada? ................................................................................................................... 66
Tabela 3 - Conhecimento de crianças sobredotadas. ...................................................... 67
Tabela 4 - Tipo de características que a criança sobredotada revela. ............................. 68
ix
Tabela 5 - A sua formação é adequada para ensinar alunos sobredotados? ................... 70
Tabela 6 - Como considera a abordagem específica à temática "crianças sobredotadas"
na formação básica dos docentes? .................................................................................. 71
Tabela 7 - Qual o tipo de formação que considera mais adequada para a temática
"crianças sobredotadas" na formação de professores. .................................................... 72
Tabela 8 - O seu currículo de formação inclui uma abordagem a esta temática? .......... 73
Tabela 9 - Considera que se justifica a existência de cursos de pós-graduação ou
especialização na temática "crianças sobredotadas"? ..................................................... 74
Tabela 10 - Qual o nível de importância que atribui à abordagem de cada uma das
seguintes matérias nos currículos de formação de docentes? ......................................... 75
Tabela 11 - Qual o seu grau de conhecimento relativamente à atual legislação que
obriga à diferenciação pedagógica no caso de crianças com capacidades excecionais? 76
Tabela 12 - Parece-lhe correto englobar o ensino a crianças sobredotadas na Educação
Especial, em termos de legislação e tratamento? ........................................................... 76
Tabela 13 - Acha que as crianças sobredotadas deverão estar integradas ...................... 77
Tabela 14 - Qual considera, das seguintes soluções, aquela que deverá ser adotada no
processo de ensino de crianças sobredotadas? ............................................................... 78
Tabela 15 - Quais os principais obstáculos que o professor poderá encontrar no bom
acompanhamento dos alunos sobredotados? .................................................................. 79
Tabela 16 - Sente-se capaz de acompanhar, a nível escolar, uma criança sobredotada? 80
Tabela 17 - Caso necessite de recorrer a outras ajudas profissionais, quem procuraria
para ajudar nessa tarefa? ................................................................................................. 80
Tabela 18 - No caso de ser capaz de adotar estratégias para desenvolver as capacidades
do aluno sobredotado, que repercussões acha que daí advirão, a nível do seu
desempenho escolar? ...................................................................................................... 82
Tabela 19 - Acha que, nas suas aulas, a criatividade, a intuição e a imaginação são
valorizadas, curricularmente, em termos de conteúdo e processo? ................................ 83
Tabela 20 – Teste do Qui-quadrado - Formação vs preparação ..................................... 84
Tabela 21 - Formação vs preparação .............................................................................. 84
Tabela 22 - Teste do Qui-quadrado – Formação vs identificação .................................. 85
Tabela 23 - Formação vs identificação ........................................................................... 85
Tabela 24 - Teste do Qui-quadrado – Conhecimento vs identificação........................... 86
Tabela 25 - Conhecimento vs identificação ................................................................... 86
x
Tabela 26 - Consistência interna das dimensões da escala de avaliação para professores
do 1º Ciclo do Ensino Básico ........................................................................................ 88
Tabela 27 - Escala de avaliação para professores do 1º Ciclo do Ensino Básico ........... 90
Tabela 28 - Estatísticas descritivas das dimensões ......................................................... 90
Tabela 29 - Significância das diferenças por género ...................................................... 91
Tabela 30 - Significância das diferenças por ano de escolaridade ................................. 92
Tabela 31 - Teste de Tukey – Conhecimento dos alunos vs perceção das suas
competências sociais....................................................................................................... 92
Tabela 32 - Teste de Tukey - Conhecimento dos alunos vs perceção das suas
competências atléticas .................................................................................................... 92
Tabela 33 - Teste de Tukey - Conhecimento dos alunos vs perceção da sua auto estima
globa. .............................................................................................................................. 93
Tabela 34 - Significância das diferenças por ano curricular em que o aluno se encontra
........................................................................................................................................ 94
Tabela 35 - Teste de Tukey – Ano de escolaridade em que se encontra o aluno vs
perceção das suas competências atléticas ....................................................................... 94
Índice de Gráficos
Gráfico 1 - Género dos inquiridos por questionário e escala de avaliação..................... 53
Gráfico 2 - Idade dos inquiridos por questionário e escala de avaliação ....................... 53
Gráfico 3 - Formação dos inquiridos por questionário e escala de avaliação ................ 54
Gráfico 4 - Tempo de serviço dos inquiridos por questionário e escala de avaliação .... 54
Gráfico 5 - Situação profissional dos inquiridos por questionário e escala de avaliação 55
Gráfico 6 - Na sua turma tem alunos com NEE? ........................................................... 64
Gráfico 7 - Se respondeu "sim" na questão 6, quantos alunos tem com NEE? .............. 65
Gráfico 8 - Se respondeu "sim" na questão 6, quantos pensa que são sobredotados? .... 65
Gráfico 9 – Qual o nível em que se encontra informado para reconhecer uma criança
sobredotada? ................................................................................................................... 66
Gráfico 10 - Conhece algum caso de criança sobredotada? ........................................... 67
Gráfico 11 - Se respondeu sim, na questão anterior, nesta e nas questões 12, 13 e 14,
assinale que tipo de características a criança sobredotada? Vertentes educativas e
comportamentais. ............................................................................................................ 68
xi
Gráfico 12 - Vertentes educativas e comportamentais - Níveis de motivação intrínseca
........................................................................................................................................ 69
Gráfico 13 - Vertentes educativas e comportamentais - Expressão criativa (em qualquer
domínio) ......................................................................................................................... 69
Gráfico 14 - Vertentes educativas e comportamentais - Interação com os pares ........... 70
Gráfico 15 - A sua formação é adequada para ensinar alunos sobredotados? ................ 71
Gráfico 16 - Como considera a abordagem específica à temática "crianças
sobredotadas" na formação básica dos docentes? .......................................................... 72
Gráfico 17 - Qual o tipo de formação que considera mais adequada para a temática
"crianças sobredotadas" na formação de professores? ................................................... 72
Gráfico 18 - O seu currículo de formação inclui uma abordagem a esta temática? ....... 73
Gráfico 19 - Considera que se justifica a existência de cursos de pós-graduação ou
especialização na temática "crianças sobredotadas"? ..................................................... 74
Gráfico 20 - Qual o nível de importância que atribui à abordagem de cada uma das
seguintes matérias nos currículos de formação de docentes? ......................................... 75
Gráfico 21 - Qual o seu grau de conhecimento relativamente à atual legislação que
obriga à diferenciação pedagógica no caso de crianças com capacidades excecionais? 76
Gráfico 22 - Parece-lhe correto englobar o ensino a crianças sobredotadas na Educação
Especial, em termos de legislação e tratamento? ........................................................... 77
Gráfico 23 - Acha que as crianças sobredotadas deverão estar integradas: ................... 77
Gráfico 24 - Qual considera, das seguintes soluções, aquela que deverá ser adotada no
processo de ensino de crianças sobredotadas? ............................................................... 78
Gráfico 25 - Quais os principais obstáculos que o professor poderá encontrar no bom
acompanhamento dos alunos sobredotados? .................................................................. 79
Gráfico 26 - Sente-se capaz de acompanhar, a nível escolar, uma criança sobredotada?
........................................................................................................................................ 81
Gráfico 27 - Caso necessite de recorrer a outras ajudas profissionais, quem procuraria
para ajudar nessa tarefa? ................................................................................................. 81
Gráfico 28 - No caso de ser capaz de adotar estratégias para desenvolver as capacidades
do aluno sobredotado, que repercussões acha que daí advirão, a nível do seu
desempenho escolar? ...................................................................................................... 82
Gráfico 29 - Acha que, nas suas aulas, a criatividade, a intuição e a imaginação são
valorizadas, curricularmente, em termos de conteúdo e processo? ................................ 83
Gráfico 30 - Género dos alunos considerados os melhores da turma ............................. 87
xii
Gráfico 31 - Distribuição, por ano letivo, dos alunos considerados os melhores da turma
........................................................................................................................................ 87
Gráfico 32 – Competências avaliadas pela escala de avaliação para professores do 1º
Ciclo do Ensino Básico .................................................................................................. 88
Gráfico 33 - Distribuição dos alunos, por género, tendo em conta os diferentes domínios
em que foram avaliados. ................................................................................................. 91
Gráfico 34 - Distribuição dos alunos, por número de anos em que o professor os
acompanha, tendo em conta os diferentes domínios em que foram avaliados. .............. 93
Gráfico 35 - Distribuição dos alunos, por ano curricular em que se encontra, tendo em
conta os diferentes domínios em que foram avaliados. .................................................. 94
Gráfico 36 - Depoimento da professora titular ............................................................... 96
Gráfico 37 - Sobredotação no sistema educativo português. Opiniões dos professores
sobre as publicações do blog ........................................................................................ 100
Gráfico 38 - Sobredotação na sociedade portuguesa - Opinião dos professores sobre as
publicações do blog ...................................................................................................... 101
Gráfico 39 - A criança sobredotada em contexto familiar - Depoimento dos pais ...... 104
Gráfico 40 - Postura da família face ao papel da escola - Depoimento dos pais.......... 105
Índice de Anexos
Anexo 1 - Declaração de Consentimento Informado (Professora Titular de Turma) ...... 2
Anexo 2 - Declaração de Consentimento Informado (Encarregados de Educação) ......... 3
Anexo 3 - Documentação do Núcleo de Educação Especial, referente ao aluno
sobredotado (Relatório Circunstanciado) ......................................................................... 4
Anexo 4 - Documentação do Núcleo de Educação Especial, referente ao aluno
sobredotado (Relatório Técnico-Pedagógico) ................................................................ 13
Anexo 5 - Documentação do Núcleo de Educação Especial, referente ao aluno
sobredotado (Projeto Educativo Individual) ................................................................... 22
Anexo 6 - Relatório de Avaliação Psicológica ............................................................... 30
Anexo 7 - Registo de Avaliação final 2º ano do aluno sobredotado .............................. 44
Anexo 8 - Questionário .................................................................................................. 47
Anexo 9 - Escala para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico ................................. 54
Anexo 10 - Entrevista Semiestruturada à Titular de Turma ........................................... 56
Anexo 11 - Entrevista Semiestruturada aos Encarregados de Educação........................ 67
xiii
Anexo 12 – Blog ............................................................................................................. 73
xiv
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
I – Conceção do Estudo
1 - Introdução
Já muito se falou sobre crianças e jovens sobredotados e normalmente o que se
evidencia são as suas características cognitivas e muito se fala também dos termos
“génio” ou “prodígio”, na referência a um sobredotado. Mesmo na classe dos
profissionais da educação tais termos e ideias ainda continuam presentes.
Bastos (2009), no seu estudo afirma que:
“As crianças sobredotadas, sendo potencialmente capazes e talentosas, podem, por vezes,
revelar dificuldades escolares de adaptação, assumindo comportamentos inadequados como: indisciplina,
tédio, frustração, ansiedade, desinteresse, podendo redundar, tudo isto, num fraco rendimento escolar”
Neste seguimento, cabe à escola adaptar-se a todo o tipo de necessidade de cada criança
sempre com o intuito de seguir um só caminho, partir das suas dificuldades e
potencialidades e levá-la a atingir o máximo sucesso. Para que estes resultados sejam
atingidos na sua plenitude, as crianças devem ser incluídas em estruturas educativas da
melhor forma possível. O verdadeiro desafio com estas crianças é torná-las indivíduos
dotados de sucesso na sociedade que os espera do lado de fora do portão da escola que
frequentam. (DEB,1998; Serra, 2005; Declaração de Salamanca, 1994)
Com esta investigação pretende-se reafirmar a premência da adaptação da escola à
realidade dos alunos sobredotados e do papel dos professores no processo de
ensino/aprendizagem dos mesmos. São, sem dúvida, duas traves mestras na construção
profissional e individual destas crianças que apresentam características específicas que
devem ser potenciadas. No que respeita ao papel do professor, Bastos (2009) menciona
que “As perceções que os professores têm, sobre estes alunos e suas características
específicas, poderão ser uma mais-valia ou um fator inibidor do seu desenvolvimento”.
Neste seguimento, e como profissional da educação, desenvolver esta investigação é
para a autora, em primeiro plano, uma busca de melhor preparação no que respeita ao
reconhecimento/identificação de crianças sobredotadas, as suas características e
necessidades e essencialmente, da capacidade de agir numa perspetiva o mais adequada
possível e que vá de encontro ao desenvolvimento ótimo das capacidades destas
crianças.
1
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
No que respeita à relevância social desta problemática e no seguimento das pesquisas
feitas, conclui-se que foram realizados, nos últimos anos, alguns estudos que abordam a
sobredotação. No entanto, os estudos efetuados concluem que, em Portugal, ainda se
verifica a ausência de uma política de apoio à sobredotação. (Fleith, 2010; Pocinho
2009; Bastos, 2009)
Nas palavras de Manuela da Silva, presidente do Centro Português para a Criatividade,
Inovação e Liderança (CPCIL):
“Em Portugal não existe nada. Há uma legislação que aponta para o respeito pelo ritmo de
aprendizagem de cada um e há legislação que aponta para igualdade de oportunidades, mas na prática não
há formação de base de professores, o que os leva a fazer o que sempre fizeram: privilegiar a
aprendizagem pela memorização. Na legislação vigente existem apenas pessoas medíocres, na média ou
abaixo da média ou seja, não há sobredotados em Portugal. As pessoas não têm coragem de legislar novas
formas de perspetivar o futuro, mas os recursos humanos são o futuro e temos de investir nessa área.”
Pode dizer-se que existe ainda um longo caminho a percorrer até que se atinja um
patamar ótimo no que respeita à sobredotação no nosso país. Pretende-se com o presente
estudo dar mais um passo em frente na clarificação do conceito tendo em atenção todas
as suas implicações práticas.
Existe uma necessidade crescente de preparação dos profissionais da Educação, que os
capacite para identificar e desenvolver estratégias adequadas que respondam às
necessidades destas crianças.
É importante que os professores estejam sensibilizados e atentos a esta problemática,
para que se desencadeie uma melhoria do ambiente escolar para estas crianças. Helena
Serra, da direção da APCS (Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas), defende
que é preciso acabar com a ideia de que o sobredotado é infalível. As crianças
sobredotadas podem mesmo estar muito "aprimoradas" numas áreas, e noutras estarem
num patamar comum às restantes ou terem mais lentidão na aquisição de aptidões.
Nas pesquisas efetuadas, e que se referem a estudos desenvolvidos nesta área, é de
mencionar que existem já algumas investigações realizadas nos últimos anos em
Portugal, o que revela uma crescente preocupação com esta problemática, como afirma
Bastos (2009):
2
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel “Em Portugal, a questão da sobredotação só nos últimos anos mereceu maior atenção.
Atualmente verifica-se um interesse crescente pela questão, estando a decorrer diversas iniciativas ao
nível de colóquios, seminários, palestras, criação de novas associações e propostas de legislação
adequada.”
Respeitante especificamente ao tema que se pretende desenvolver nesta investigação,
existe um estudo terminado em 2009, por Anabela Bastos que aborda a sobredotação
também na perspetiva dos professores. O referido estudo foi desenvolvido numa cidade
do Norte de Portugal Continental (Paços de Ferreira).
Neste seguimento estabeleceu-se como objetivo inicial, saber até que ponto a existência
de sobredotados no arquipélago dos Açores é uma realidade, reconhecida ou não. Após
contacto com a Secretaria Regional de Educação, Ciência e Cultura, com a finalidade de
saber da existência de alunos sobredotados nos Açores, constatou-se a necessidade de
investigar a sobredotação na Região Autónoma dos Açores, mais propriamente na ilha
de S. Miguel, uma vez que, nas palavras da pessoa competente consta que: “a
sinalização de alunos sobredotados é um despiste que exige recursos humanos
especializados e treinados pelo que esta Direção Regional não dispõe da informação
solicitada.”. Este estudo tomou, a partir desta resposta, uma importância ainda maior,
assumindo o compromisso de tentar saber se realmente estão sinalizadas crianças
sobredotadas na ilha de S. Miguel e como são tratadas ao nível do ensino.
Tendo em conta o contexto em que foi feita a investigação de Bastos (2009),
verificou-se de toda a pertinência, aplicar o mesmo tipo de estudo, tendo como alvo os
professores, desta feita num contexto socioeconómico e cultural bem diferente, como o
que existe na Região Autónoma dos Açores, mais em particular na ilha de S. Miguel,
assumindo uma abordagem comparativa e complementar. Pretende-se neste seguimento,
comparar, validar, contrapor e aumentar as diferentes dimensões e perspetivas, tendo em
conta um contexto e uma realidade particulares.
Bastos (2009), concluiu no seu estudo que: “As crianças e jovens sobredotados
necessitam de acompanhamento na escola, na família e na sociedade. A ausência de
uma política de apoio à sobredotação impedirá uma intervenção educativa eficaz.”
No que respeita ao facto de os professores estarem preparados para identificar e
trabalhar com crianças sobredotadas a mesma investigadora menciona no seu estudo
3
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
que: “(…) alguns docentes por falta de formação ou vontade, não reconhecem um aluno
com características específicas, mesmo que este evidencie capacidades acima da
média.”
Tendo em conta a experiência pessoal de conhecimento do crescente número de
crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE) na Ilha de S. Miguel,
considera-se interessante e premente conhecer e analisar a realidade existente no
contexto escolar, mais propriamente no que respeita ao conhecimento dos professores
sobre a sobredotação. Neste seguimento, estabeleceu-se como objetivo geral: contribuir
para a compreensão da sobredotação em contexto escolar. Colocando-se desde logo,
numa abordagem qualitativa, as seguintes hipóteses a testar:
- O conhecimento, a formação e o trabalho com crianças sobredotadas são fatores
facilitadores para a identificação e atendimento à criança sobredotada e para o
reconhecimento desta como uma criança com Necessidades Educativas Especiais
(NEE);
- O género, o ano curricular em que se encontram os alunos, e o tempo de conhecimento
dos alunos, por parte do professor (continuidade letiva), são fatores que influenciam a
perceção dos professores na identificação de características relacionadas com o
autoconceito, em crianças com ótimo desempenho escolar, em diferentes domínios
(Competência Escolar, Conduta/Comportamento, Aceitação Social, Competência
Atlética, Aparência Física e Autoestima Global).
Foram aplicados dois instrumentos de recolha de dados: um inquérito por questionário e
uma escala de avaliação para professores do 1º ciclo, instrumentos utilizados no estudo
de Bastos (2009), na tentativa de dar resposta às hipóteses colocadas, no pendor
quantitativo.
A existência de um pendor qualitativo verifica-se fundamental, numa investigação deste
género, uma vez que se pretende conhecer opiniões de indivíduos sobre a problemática
da sobredotação. Sendo a presente investigação comparativa e complementar à de
Bastos (2009), verificou-se a necessidade de ir mais além, abordando a problemática
numa perspetiva qualitativa. Neste seguimento optou-se pela criação de um fórum de
discussão on-line, dito Blog, com publicações de comentários e vídeos sobre a
4
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
sobredotação e crianças sobredotadas, onde os participantes, incitados à participação
através do inquérito por questionário, colocaram as suas opiniões.
Aquando da recolha de dados para este estudo, a investigação tomou um outro rumo –
um estudo de caso. Surgiu uma criança, incluída numa das escolas do púbico alvo,
sinalizada como sobredotado. Um menino com sete anos de idade que frequentava o
segundo ano de escolaridade, numa escola do 1º Ciclo do Ensino Básico, na cidade de
Ponta Delgada. Neste seguimento, no presente estudo fez-se também uma abordagem à
realidade de uma criança sobredotada em contexto socioeconómico, familiar e escolar
na ilha de S. Miguel. Para efetuar tal abordagem, com o intuito de aferir qual a realidade
escolar e familiar de uma criança sobredotada, e fazendo parte integrante do pendor
qualitativo do estudo, foram aplicadas, junto dos encarregados de educação e da
professora titular de turma do menino em questão, entrevistas semiestruturadas com
perguntas abertas e formuladas com a finalidade de dar resposta às questões de
investigação colocadas. No discurso dos pais, tentou-se dar resposta às seguintes
questões: i) quais os interesses manifestados pela criança sobredotada?; ii) quais as
capacidades excecionais apresentadas pela criança sobredotada?; iii) qual a relação que
a criança estabelece com os familiares e conhecidos?; iv) como é que a crianças
sobredotada seleciona as suas amizades?; v) como se apresenta a criança sobredotada,
no que respeita ao comportamento/atitudes no seu dia-a-dia?; vi) como se apresenta a
criança sobredotada no que respeita a aspetos relacionados com a autoestima, aparência
física e competência atlética?; vii) qual a opinião dos pais, face às respostas dadas pela
escola, à criança sobredotada?. Já no depoimento da professora titular de turma
obtiveram-se dados para dar resposta às seguintes questões: i) a continuidade letiva
favorece as relações interpessoais do aluno sobredotado?; ii) o aluno sobredotado é
considerado uma criança com Necessidades Educativas Especiais (NEE)?; iii) o
comportamento do aluno sobredotado dificulta a sua identificação?; iv) a adoção de
estratégias pedagógicas diferenciadas facilita a aprendizagem do aluno sobredotado?; v)
a falta de conhecimentos e/ou formação, na área da sobredotação, dificulta a ação do
professor com o aluno sobredotado?; vi) a falta de recursos na escola dificulta a ação do
professor e o desenvolvimento do aluno sobredotado? e vii) quais as capacidades
excecionais do aluno sobredotado, que facilitam e/ou dificultam a sua aprendizagem?
Neste seguimento, tomou-se assim como segundo objetivo desta investigação:
5
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
contribuir para a compreensão da sobredotação em contexto familiar e na relação
escola/família.
Mediante o exposto, e diretamente relacionado com o aluno sobredotado acima
mencionado, este estudo incidiu sobre a o tipo de atuação da professora titular de turma
para com o aluno em questão, o testemunho dos pais, no que respeita à vida familiar da
mesma criança e também na recolha de dados complementares e relevantes como os que
constem em relatórios que atestem a sua sobredotação.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
2 - Revisão da Literatura
i. Definição de Sobredotação
O conceito de sobredotação tem sofrido, ao longo do tempo, evoluções em diferentes
direções, assim como o conceito de “inteligência”.
Até aos anos 60, e segundo alguns autores como Pereira (1998) e Feldhusen e Jarwan
(2000), predominou uma leitura reducionista das altas habilidades, associando-se a
sobredotação ao elevado QI.
A sobredotação estava associada ao elevado rendimento académico e ao QI acima dos
140, que nascia com o indivíduo e perdurava toda a vida. No entanto, a partir da década
de 60 o conceito de sobredotação sofreu algumas alterações significativas, após algumas
investigações mais direcionadas para a componente educativa.
Após pesquisa sobre a temática, pode afirmar-se que existem vários conceitos e
modelos de sobredotação, tornando-se assim mais difícil chegar a uma teoria útil e
equilibrada.
No que respeita à sobredotação, existe desde há muitos anos, uma preocupação e
interesse no seu estudo, tendo como linha de fundo a definição de sobredotação. Embora
não no nosso país, existem, desde há muitos anos, estudos sobre a temática.
A sobredotação é uma problemática muitíssimo complexa, não sendo possível escolher
uma definição universal e consensual que defina uma criança como sobredotada. No
entanto, é basilar estabelecer um conjunto de princípios que possibilitem a construção
de uma definição.
Assentando nesta linha de reflexão, existe a necessidade de apresentação de um
panorama bem delimitado com o intuito de facilitar não só o entendimento desta
temática como também ajudar a projetar a intervenção educativa.
Neste seguimento, um programa de intervenção educativa é o mais ajustado a um dado
aluno, quanto maior for o informação recolhida sobre o mesmo, respeitante a diversas
áreas do desenvolvimento e do saber, como capacidades, emoções, expectativas,
necessidades, contextos em que interage.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
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Corrobora o apresentado, Serra (2001) cit in Serra (2004) quando define aluno
sobredotado como:
“(…) alguém que possui um conjunto de vincadas características pessoais, entre as quais se
salientam: perceção e memória elevadas, raciocínio rápido, habilidade para conceptualizar e abstrair,
fluência de ideias, flexibilidade de pensamento, originalidade e rapidez na resolução de problemas,
superior inventividade e produtividade, elevado envolvimento na tarefa, na persistência, entusiasmo,
grande concentração, fluência verbal, curiosidade, independência, rapidez na aprendizagem, capacidade
de observação, sensibilidade e energia, auto direção, vulnerabilidade e motivação intrínseca”.
Ainda nas palavras da mesma autora (2004), podemos conhecer outras definições mais
singulares sobre sobredotação, que levam a uma abordagem da sobredotação dando
ênfase a situações mais precisas da componente humana.
Citando Serra (2004):
“ Na teoria das inteligências múltiplas, desenvolvida por Howard Gardner (1994), a mente
humana é multifacetada, existindo várias capacidades distintas que podem receber a denominação de
inteligência: lógico-matemática, linguística, musical, físico-cinestésica, espacial, interpessoal e
intrapessoal, naturalista; Na teoria da criatividade o enfoque é colocado na atividade de criar, de produzir
aquilo que é simultaneamente inusitado e útil, envolvendo a capacidade de perceber possibilidades,
tolerar ambiguidades, recombinar, pensar independentemente, planear, julgar sem preconceitos e perceber
analogias.”
Não existe nenhum modo ideal de se medir a inteligência. Renzulli (1984), defende que
se deve evitar a prática tradicional de acreditar que se conhecer o Q.I. de uma pessoa,
também se conhece a sua inteligência.
Seguem-se algumas definições atuais:
 Segundo Silva (1992), “o sobredotado é todo o indivíduo que apresenta
capacidade acima da média em áreas diversas. Que podem surgir isoladas ou em
combinação.”.
 Falcão (1992), afirma também que:
“Uma Criança sobredotada é aquela que possui um potencial humano de nível superior e frequência
constante em qualquer uma, ou mais, das áreas operacionais das I.M (inteligências múltiplas),
permitindo prognosticar, se fornecidas adequadas oportunidades de desenvolvimento, um elevado
grau de competência específica, quer na solução de problemas, quer na criação de produtos.”.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
 Alencar (1986), menciona ainda que:
“São consideradas crianças sobredotadas e talentosas as que apresentam notável desempenho e/ou
elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspetos, isolados ou combinados: a) Capacidade
intelectual superior; b) Aptidão académica específica; c) pensamento criador ou produtivo; d)
Capacidade de liderança; e)Talento especial para artes visuais, artes dramáticas e musica; f)
Capacidade psicomotora.”.
Das conceções mais atuais, destaca-se o modelo de sobredotação citado por Pereira
(2000), designado de “três anéis”. Este modelo foi desenhado e proposto pelo professor
norte-americano Joseph Renzulli.
Renzulli (1994), apresenta um modelo fatorial, defendendo que para haver sobredotação
devem confluir três elementos interdependentes: capacidade intelectual acima da média,
mas não necessariamente excecional; criatividade elevada e persistência na tarefa. A
presença solitária de qualquer um dos anéis “não faz a sobredotação”.
Motivação
Específica
Elevada
Criatividade
Elevada
Aptidão
Acima da
média
Estatuto Socioeconómico e cultural
Modelos e estilos educativos familiares
Condições Macrossociais “Espírito da Época”
Figura 1- Modelo de Sobredotação dos três anéis, Pereira (2000), última versão
A evolução da definição de sobredotação não foi feita à custa da exclusão e/ou
substituição de uns aspetos por outros, mas antes no acrescento e/ou integração de
múltiplas dimensões nessa definição. Tal como referem Almeida e Oliveira (2000):
“Esta situação parece-nos particularmente presente na teoria dos “três anéis” de Renzulli onde, a
par da inteligência, se acrescentam duas outras dimensões psicológicas na definição de sobredotação: a)
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel os altos níveis de implicação na tarefa, ou seja, níveis elevados de tempo, esforço, energia e perseverança
nas tarefas; e b) os níveis de originalidade ou de criatividade nesse desempenho.”
No passado, os testes de QI eram o único indicador da existência de sobredotados. O
Sobredotado seria aquele que nos testes de inteligência obtinha resultados
significativamente acima da média.
Referente à relação entre elevado QI e sobredotação Pocinho (2009),valida esta ligação
mencionando que tal associação foi defendida por alguns psicólogos, especificamente
formados na área da psicometria, seguindo os passos de Lewis Terman (1916). Esta
relação continua, em parte, atual, uma vez que sobredotação e QI elevado continuam,
por parte de muitos a ser sinónimos.
Nas palavras da mesma autora podemos ler que:
“Segundo Johnsen (2004), todas as crianças sobredotadas apresentam um potencial de alta
performance nas áreas incluídas na definição federal americana de aluno sobredotado ou talentoso, ou
seja: “[...] ‘gifted and talented’ when used in respect to students, children, or youth means students,
children, or youth who give evidence of high performance capability in areas such as intellectual,
creative, artistic, or leadership capacity, or in specific academic fields, and who require services or
activities not ordinarily provided by the school in order to fully develop such capabilities.”
No entanto, os testes que têm vindo a sofrer contestação, por não contemplarem áreas
consideradas importantes para determinar a sobredotação como: a criatividade, a
persistência e a concentração nas tarefas. São também considerados frágeis, pouco
fiáveis, subjetivos e não eficazes.
Deste modo, os testes de QI para além de não disponibilizarem informação relevante
para a organização e intervenção educativa também nem sempre conseguem identificar
a sobredotação, uma vez que não dão conta das características do desempenho e níveis
de excelência intelectual dos sujeitos, em múltiplas áreas da sua atividade não
contempladas nos testes.
Hoje, procura-se definir as características de sobredotação apoiadas no desempenho
manifestado nas situações de interação que estabeleçam com os outros, os objetos e
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
conceitos. À escola, cabe-lhe a responsabilidade de criar oportunidades e experiências
de aprendizagem favoráveis ao desenvolvimento e expressão da sobredotação.
Neste seguimento e no que respeita à definição de sobredotação, Bastos (2009) afirma
que:
“Renzulli advoga que é da interação destas três características que resultará um desempenho
superior. Assim, Renzulli, Reis e Smith (1981, p.27) definem a sobredotação como: “uma interação entre
os três grupos básicos de traços humanos acima referidos, e que as crianças sobredotadas e com talento são
as que possuem ou são capazes de desenvolver este conjunto de traços e de aplicá-los a qualquer área
potencialmente valiosa da realização humana”.
Na sequência dos trabalhos de Renzulli (1984), é possível estabelecer um conjunto de
características comportamentais das crianças sobredotadas.
► No plano das aprendizagens:

O vocabulário é avançado para a idade e para o nível escolar;

Têm hábitos de leitura independente por iniciativa própria; preferências
por livros que normalmente interessam crianças mais velhas;

Revelam domínio rápido da informação e facilidade na evocação de
factos;

Têm fácil compreensão de princípios subjacentes, capacidades para
generalizar conhecimentos, ideias, soluções;

Apresentam resultados e/ou conhecimentos excecionais numa ou mais
áreas de atividade ou conhecimento
► No plano motivacional:

Têm tendência para iniciar as suas próprias atividades;

Revelam persistência na realização e finalização de tarefas;

Buscam a perfeição;

Revelam aborrecimento face a tarefas de rotina.
► No plano da criatividade:

Apresentam curiosidade perante um grande número de coisas;
11
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -

Revelam originalidade na resolução de problemas e relacionamento de
ideias;

Têm pouco interesse pelas situações conformistas.
► No plano da liderança:

Apresentam autoconfiança e tendência para assumir a responsabilidade
das situações;

Revelam fácil adaptação às novas situações e às mudanças rotineiras.
► No plano social e do juízo moral:

Revelam interesse e preocupação pelos problemas do mundo;

Apresentam ideias e ambições muito elevadas;

Fazem juízo crítico face às suas capacidades e às dos outros;

Revelam interesse pelo relacionamento com indivíduos mais velhos.
No estudo de Bastos (2009), quando referindo palavras de Helena Serra: “É importante
desmistificar a ideia de que uma criança sobredotada é um génio diferente, desligado do
mundo real”.
O conceito de sobredotação, segundo Alencar (1986), é um conceito psicológico a ser
inferido a partir de uma constelação de traços ou características de uma pessoa, sendo
uma tarefa difícil ou mesmo impossível propor uma definição precisa e aceite
universalmente a seu respeito.
Pocinho (2009), cita na sua publicação o Modelo Diferenciado de Sobredotação e
Talento apresentado por Gagné (2000, 2004). Este último autor vai mais longe na sua
definição de sobredotação, evidenciando a forma como os “talentos específicos podem
emergir das influências e interações ambientais.” Patenteia também a necessidade de
desagregar os termos sobredotação e talento.
Neste seguimento, para o mesmo autor (2000, 2004), ser sobredotado é uma questão de
genética, enquanto os talentos “são o produto de uma interação de predisposições
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
naturais com o ambiente, ou seja, contextos físicos e sociais que envolvem o indivíduo,
nomeadamente a família e a escola.”
Remetendo-se também à influência do meio, Serra (2004) afirma que:
“Cada criança traz em si uma combinação essencial e substancialmente única de traços,
características e atributos, oriundos não somente da sua constituição e plano genético, como também
derivados de muitos fatores de influência presentes no ambiente a que é exposta, dentro dos vários grupos
a que pertence; realçando-se a importância da qualidade da interação entre estes dois conjuntos de fatores
determinantes. Na família, a criança encontra modelos peculiares e maneiras próprias de interpretar o que
acontece à sua volta, aprendendo a comportar-se de forma idêntica à do grupo familiar, tendo este talentos
especiais ou não.”
Em jeito de conclusão, Fleith (2007) menciona que, a sobredotação:
“ (…) devido a sua natureza multidimensional, abarca uma infinidade de variáveis e
características que se manifestam simultaneamente, mediando o desenvolvimento de comportamentos
superdotados. As conceções teóricas-empíricas, ao apresentarem visões diferenciadas e até mesmo
conflituantes sobre a sobredotação, acentuam ainda mais a complexidade deste objeto de estudo e
imprimem a necessidade de uma compreensão cada vez mais holística e distanciada da visão
unidimensional associada ao conceito de QI. Essa visão limitada tem sido substituída por uma visão
multidimensional que envolve sistemas biológicos, psicológicos, emocionais, sociais, históricos e
culturais.”
De todas as definições de sobredotação anteriormente apresentadas, toma-se como
ponto de partida para o estudo empírico a de Serra (2004), por ser a que mais se
identifica com os objetivos deste estudo. A autora enfatiza a importância dos fatores
ambientais e da interação do indivíduo com os mesmos realçando também a importância
e o papel da família no desenvolvimento da criança sobredotada, aspetos investigados
também no presente estudo. A validade da conceituação da autora mencionada, está já
assumida no modelo apresentado por Pereira (2000), este por sua vez, sendo da autoria
de Renzulli (1994).
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
ii. A Sobredotação e o Ensino em Portugal
Segundo Martins (2010), a Organização Mundial da Saúde define o aluno sobredotado
como uma pessoa com um quociente intelectual igual ou superior a 130 (sendo a média
de 80-120), enquanto que, o Ministério da Educação considera sobredotadas as crianças
com esse mesmo quociente intelectual, mas que apresentam um nível de rendimento
intelectual superior em variadas capacidades e aptidões e que, para além disso, aprendem
com facilidade os conteúdos de qualquer matéria ou área. Valoriza não só as capacidades
cognitivas, como as psicológicas e sociais, como o desempenho académico, a
criatividade, a motivação, a personalidade, a resposta a diferentes contextos e problemas
e uma excelente produtividade.
Bastos (2009), afirma na sua investigação que:
“Historicamente, as primeiras conceções de sobredotação aparecem ligadas a conceitos
tradicionais de genialidade. Desde uma abordagem psicométrica, que avaliava sobretudo a sobredotação a
um nível intelectual, segundo Galton, citado por Pereira (1998), passando pela investigação das
diferenças individuais com o estudo das características físicas e psicológicas dos sujeitos levado a cabo
por Terman (1925, in Pereira, 1998), com a introdução de modelos multifatoriais (modelos de
Thursthone, 1938, Guilford, 1956, in Pereira, 1998) na qual se procurava, através de uma metodologia
comparativa, a existência de uma estrutura singular, própria do sobredotado e que explique a sua
atuação.”
Prosseguindo nas palavras de Bastos (2009), a mesma afirmar que:
“(…) a sobredotação deixou de ter por base de sustentação o conceito originário que a apontava
como uma capacidade intelectual (inteligência), para passar a ser entendida como um apêndice do
próprio indivíduo, isto é, o sobredotado será um indivíduo tal qual outro, acrescido de competências
e capacidades eloquentes particularizadas, que lhe permitirão uma maior ênfase em campos tão
variados como a “capacidade intelectual, aptidões artísticas, criatividade, motivação, liderança,
habilidades artísticas, habilidades psicomotoras e habilidades mecânicas” (Renzulli, 1996, in ANEIS,
2000), e que se refletem na “capacidade verbal, variedade de interesses, curiosidade, memória a curto e a
longo prazo, persistência, independência, criatividade, sensibilidade, sentido de valoração das “coisas”,
pensamento
abstrato,
ação
e
sociabilidade”(Centro Português para a Criatividade, Inovação e
Liderança).”
Alicia Rodríguez Díaz-Concha, presidente da Associação Espanhola de Pessoas
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Sobredotadas e com Talento, cit. in Martins (2010), afirma que, “o sobredotado deverá
possuir três características essenciais: inteligência extraordinária, grande capacidade de
trabalho e elevado grau de criatividade.”.
Nas palavras de Bastos (2009):
“Em Portugal, a questão da sobredotação só nos últimos anos mereceu maior atenção.
Atualmente, verifica-se um interesse crescente pela questão, estando a decorrer diversas iniciativas ao nível
de colóquios, seminários, palestras, criação de novas associações e propostas de legislação adequada.”
No nosso país, e no que toca a estudos nesta área, temos como pioneira a Universidade
de Coimbra, através da sua Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Aqui
foram realizados vários estudos na área da avaliação da precocidade, da entrada
antecipada na escola, da progressão de alunos que foram acelerados em termos
escolares e avaliação de provas cognitivas e de criatividade com objetivos claros de
avaliação diferencial destes alunos.
Dois dos maiores estudos no que respeita a esta temática, efetuados em Portugal, foram
os realizados por Ilídio Falcão (1988), na tese de mestrado em Educação, que em 1992
seria publicada sob o título “ Crianças sobredotadas: Que sucesso escolar?”, e o
primeiro doutoramento em Psicologia na área da sobredotação, realizado por Marcelino
Pereira (1998), sob o título “Crianças sobredotadas, estudos de caracterização”.
Fazendo uma abordagem mais reduzida, por datas e estudos de mestrado e
doutoramento, por um período compreendido entre 1998 e 2010, pode-se afirmar,
segundo Miranda e Almeida (2010) que, em Portugal, entre 1998 e 2009, no que
respeita a estudos de Doutoramento no tema da sobredotação, foram realizados e
publicados apenas 5. No que respeita a estudos de Mestrado no tema da sobredotação,
desta vez entre 2000 e 2010, verificam-se 21 estudos publicados. De mencionar que a
recolha de dados feita pelos autores mencionados anteriormente, baseou-se nos estudos
disponibilizados online, nos repositórios abertos das Universidades e Institutos
Politécnicos portugueses, no repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal
(ACAAP) na UMIC – Agência para a sociedade do Conhecimento, no Gabinete de
Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior (GPEARI), no Depósito de Dissertações e Teses Digitais
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
(DiTed) e nos resultados obtidos a partir do motor de busca Google, considerando as
palavras “sobredotação”, “sobredotadas”, “sobredotados” e “excelência”.
A Divulgação da problemática da sobredotação em Portugal, teve início uns anos antes
e ficou a dever-se ao aparecimento e entusiasmo de algumas associações privadas.
Em 1986 nasceu em Portugal uma importante associação, a APCS (Associação
Portuguesa das crianças sobredotadas).
Em agosto de 1986, realizou-se a 1ª conferência portuguesa de Crianças Sobredotadas
no Porto, com especialistas estrangeiros. Tal acontecimento foi a melhor forma de
introduzir o tema e a sua relevância educativa no nosso país.
Fleith et al (2010) mencionam que:
“(…) destacamos os representantes dos Estados Unidos ligados ao World Council for Gifted and
Talented Children (WCGTC) e vários académicos do Brasil com que Portugal manteve fortes ligações a
partir de então. Esta Associação promoveu, de seguida, a 2ª Conferencia Nacional sobre Crianças
Sobredotadas, optando pelo tema “A escolha do modelo de atendimento do sobredotado mais adequado
para Portugal”. Esta reunião decorreu também na cidade do Porto, em Março de 1987, e contou com a
presença do Presidente do WCGTC, Harry Passow. Várias recomendações ao governo e ao sistema
educativo foram difundidas na comunicação social tomando os programas de intervenção em curso
noutros países. Na sequência destas Conferencias, em Novembro de 1987, realiza-se o primeiro curso
sobre “Educação de Sobredotados”, orientado por Doroty Sisk e Hilda Rosselli da Universidade da
Florida do Sul, promovido pela APCS e destinado a professores e outros profissionais vinculados à
Associação. A par das atas e outras publicações associadas às duas conferências realizadas, a APCS edita
uma brochura, em formato de livro, intitulada “Deixem-me passar: Orientações para pais e professores de
crianças sobredotadas”, que teve bastante difusão na comunidade educativa.”
Em Março de 1989, foi criado o CPCIL (Centro Português para a Criatividade Inovação
e Liderança). Este centro tem vindo a realizar várias ações no âmbito da sobredotação e
das crianças sobredotadas. É uma instituição que atua significativamente na formação
de professores, consultoria junto do Ministério da Educação e apoio às famílias e
escolas.
No que respeita à intervenção, existe uma parceria entre a CPCIL e o Ministério da
Educação português em que, segundo Fleith et al (2010), foram desenvolvidas algumas
atividades no âmbito da sobredotação como:
16
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel “ (…) a realização em Lisboa da “Conferencia sobre Sobredotação” de âmbito Europeu em 1987,
a implementação do projeto de Apoio ao Desenvolvimento Precoce (PADP) em escolas básicas da
Grande Lisboa entre 1996 e 1998, ações de formação para professores em todo o País, edição em 1998 de
uma brochura da autoria de Jorge Senos e Teresa Diniz, com tiragem de 15.000 exemplares, intitulada
“Crianças e Jovens Sobredotados: Intervenção Educativa”, difundida pelas escolas públicas do País
(Miranda e Almeida, 2002).”
Em Maio de 1995, surgiu a Associação Portuguesa para o Estudo da Problemática da
Inteligência, Criatividade e Talento (APEPICTa). Nas palavras de Fleith et al (2010),
esta associação tem por objetivo:
“(…) desenvolver o estudo e a realização de ações de sensibilização, formação e investigação
dos problemas inerentes ao estudo do trinómio inteligência, talento e criatividade. Esta Associação com
ligações ao Centro “Huerta Del Rey” em Espanha, teve a seu cargo a organização do II Congresso da
Federação Ibero-Americana do Word Concil for Gifted and Talented Children, na cidade da Maia em
Outubro de 1996, sobre a problemática socioeducativa dos alunos sobredotados.”
Em 1998 foi fundada a ANEIS (Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na
Sobredotação) que tem vindo a realizar ao longo dos últimos anos inúmeras atividades
tendo em vista, sobretudo, melhorar a qualidade de vida das crianças sobredotadas.
Sobre esta associação, Fleith et al (2010) mencionam que, a mesma tem desenvolvido
várias atividades no âmbito da sobredotação, tais como:
“Vários seminários e colóquios, envolvendo principalmente académicos portugueses, brasileiros
e europeus, têm sido anualmente organizados com o objetivo de discutir o conceito, a avaliação e o
atendimento dos alunos sobredotados ou, ainda, para sensibilizar as famílias e a formação de
profissionais. Das várias iniciativas que decorreram nos anos subsequentes à criação da ANEIS destaca-se
o “First European Council for High Ability Research Seminar” do European Council for High Ability em
parceria com a Universidade do Minho em 2000, ou os seus congressos nacionais realizados anualmente
em diferentes regiões do País. Esta associação desenvolve igualmente o Programa de Enriquecimento em
Domínios da Aptidão, Interesse e Socialização (PEDAIS), que se iniciou na cidade de Braga e se
estendeu a outras Delegações noutras capitais de Distrito. A ANEIS organiza um Campo de Férias
“Estimulo ao Talento e à Cooperação…” (ETC…) para adolescentes talentosos de todo o País, com a
duração de uma semana nas férias de verão e cuja 1ª edição teve lugar em Julho de 2000.”
Um outro acontecimento importante e recente, no que respeita à discussão da
sobredotação em Portugal, tratou-se do 1º Seminário Ibérico sobre sobredotação, em
abril de 2008, organizado pela Universidade Fernando Pessoa, sob a coordenação da Dr.ª
Ana Costa. Este seminário realizou-se no seguimento da criação de uma unidade
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
curricular, no 2º ciclo de Bolonha em Portugal, denominada Psicologia da Sobredotação
e do Talento. Nas palavras de Ana Costa cit. in Reis (2008), o referido acontecimento
contribuiu uma vez mais para abordar a sobredotação tentando acabar com alguns mitos
existentes, tendo como objetivo debater a problemática da identificação e
acompanhamento de uma criança sobredotada: “Queremos que este tema comece a ter
visibilidade, para que as crianças sobredotadas possam ser avaliadas o mais
precocemente possível, ser bem acompanhadas e bem estimuladas. Isto são coisas que
não acontecem atualmente.” É clara a importância que a sobredotação assume nas
instituições de ensino superior em Portugal, apontando para a importância de estudar a
sobredotação.
De mencionar ainda, no mapa dos acontecimentos marcantes em Portugal sobre a
sobredotação, os Congressos Internacionais da ANEIS, que têm vindo ao longo dos
últimos anos a debater a sobredotação, sob os mais variados temas, com a participação
de especialistas e investigadores portugueses e estrangeiros, na área, dirigindo-se aos
mais diversos públicos. Cita-se o Congresso Internacional de 2011 subordinado ao tema
“Sobredotação e Talento: atenção da escola à diversidade” e o de 2012 com o tema
“Sobredotação: práticas inclusivas promotoras de talentos”.
No que respeita à Legislação Portuguesa existente até aos dias de hoje, o decreto-lei
nº3/2008 de 7 de Janeiro, que diz respeito a todas as crianças com Necessidades
Educativas Especiais e que regulamenta a sua integração na escola regular, com o
objetivo da construção de uma escola inclusiva e para todos, não contempla em nenhum
dos aspetos referenciados as crianças sobredotadas.
Serra (2005) afirma que o Ministério da Educação tem já assumido teoricamente a
sobredotação em algumas publicações, mencionando que:
“Sobredotação constitui a expressão de um conjunto de fatores interatuantes que resultam na
manifestação de um desempenho saliente. (…) O ambiente educativo em que se processa o
desenvolvimento das crianças e, particularmente, a escola, joga um papel decisivo na sobredotação
cabendo-lhe a responsabilidade de criar oportunidade e experiências de aprendizagem favoráveis ao
desenvolvimento e expressão da sobredotação. (…) A atenção às diferenças individuais e ao contexto de
aprendizagem implica uma flexibilização da organização escolar, das estratégias de ensino, da gestão dos
recursos e do currículo, por forma a proporcionar o desenvolvimento maximizado de todos, de acordo
com as características pessoais e as necessidades individuais de cada um. (…)
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Nas palavras publicadas pelo Ministério da Educação, continua a não estar bem clara a
operacionalização dos recursos que se revelam indispensáveis à concretização do
processo ensino/aprendizagem tendo em conta as diferenças e necessidades individuais
de cada criança. Na prática ainda existe um longo caminho a percorrer até que essas
lacunas sejam preenchidas.
Como citado, em jeito de conclusão, em DEB (1998):
“Existe a necessidade primordial de sensibilização dos professores para a problemática da
sobredotação, contribuindo deste modo para um maior conhecimento das características e das
necessidades das crianças e jovens sobredotados em idade escolar, bem como para o conhecimento de
algumas pistas processuais e soluções educativas mais ajustadas àquelas características e necessidades.
(…) o ajustamento da qualidade das respostas educativas produzidas pela escola relativamente aos alunos
sobredotados, poderão contribuir para a construção de uma prática pedagógica mais centrada nas
particularidades psicológicas, sociais e cognitivas que fazem de cada criança e jovem um sujeito único,
cujo direito à diferença e à valorização das suas potencialidades e competências deverá constituir a
finalidade central do sistema educativo.”
No ex-território Português de Macau existe, desde 1996, legislação específica para a
sobredotação (D.L. Nº 33/96/M de 1 de Julho). Na Região Autónoma da Madeira existe
também desde 1997, legislação específica para a sobredotação (Decreto regulamentar
regional nº13 – A/97/m de 15 de Julho).
A inclusão dos alunos sobredotados na educação especial em Portugal, tal como em
muitos outros países, é vista de forma questionável pois, a educação especial, foi
sempre associada a crianças deficientes e esta palavra tem ainda hoje um peso negativo
na sociedade.
É urgente eliminar o estigma do “coitadinho” e todos os preconceitos que teimam em
existir quando se fala de necessidades educativas especiais. Possivelmente a utilização
de outro termo possibilitaria a frequência de todos os alunos neste ensino, o que seria
mais benéfico para todos.
Pocinho (2009) menciona na sua publicação que:
“Em Portugal, a Região Autônoma da Madeira (R.A.M) destaca-se face ao Continente, pela
maior tradição e trabalho feito nos campos da identificação e apoio aos sobredotados (ANTUNES;
ALMEIDA, 2008). A Divisão Coordenadora de Apoio à Sobredotação (D.C.A.S.), da Direção Regional
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel de Educação Especial e Reabilitação, Secretaria Regional de Educação e Cultura sedeada na R.A.M.,
colabora na identificação, observação, orientação, encaminhamento e acompanhamento de crianças e
jovens sobredotados ou potencialmente sobredotados. Na linha de Renzulli (1986), esta divisão considera
a sobredotação como confluência de uma aptidão acima da média aliada a uma elevada criatividade e a
um alto nível de motivação nessa (s) áreas (s). Nesta perspetiva, encara o processo de identificação de
crianças e jovens com características de sobredotação como sendo um processo evolutivo e complexo que
procura dar oportunidade para que as crianças desenvolvam os seus talentos.”
Em Portugal, mais propriamente em Território Continental e Região Autónoma dos
Açores, há ainda um longo caminho a percorrer no âmbito do atendimento escolar às
crianças sobredotadas e muitas investigações deverão ser feitas de forma a colmatar o
conhecimento e a mudar as práticas face às suas necessidades específicas.
Fleith et al (2010) na sua publicação refere que:
“A Legislação Portuguesa atual apenas contempla a aceleração ou o salto de ano, e circunscrita
ao Ensino Básico (os primeiros nove anos de escolaridade). Esta medida educativa aparece designada por
“casos especiais de progressão” (Despacho Normativo 1 de 2005 de 5 de Janeiro) e destina-se a “alunos
que revelem capacidades excecionais de aprendizagem, que apresentem um adequado grau de maturidade
e, o desenvolvimento das competências previstas para o ciclo que frequentam”. A legislação prevê ainda
(Despacho Normativo 50 de 2005 de 9 de Novembro) que se apliquem os “planos de desenvolvimento” a
alunos que manifestem capacidades excecionais de aprendizagem, podendo esses planos integrar as
seguintes modalidades de apoio (a) pedagogia diferenciada na sala de aula; (b) programas de tutoria para
apoio a estratégias de estudo e aconselhamento ao aluno; e, (c) atividades de enriquecimento curricular
em qualquer momento do ano letivo ou início de um novo ano escolar (Almeida e Oliveira, 2010;
Miranda, Almeida, e Almeida, 2010).”
Pode afirmar-se que, no que respeita à sobredotação, é escassa a legislação que recorre
efetivamente a este termo. A abordagem à sobredotação passa quase exclusivamente
pela sensibilização e iniciativa própria dos educadores, professores e técnicos que todos
os dias são confrontados com as mais diversas problemáticas existentes. O Ensino em
Portugal está focado na resposta a crianças com necessidades educativas especiais
relacionadas com o insucesso e não no reconhecimento da sobredotação como uma
necessidade educativa especial não relacionada com o insucesso
Fleith et al (2010) acrescenta ainda que:
“O recente Decreto-Lei 3/2008 que enquadra a Educação Especial circunscreve-a “aos alunos
com limitações significativas ao nível da atividade e participação num ou vários domínios da sua vida,
20
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel decorrentes de alterações funcionais e estruturais de carácter permanente, resultando dificuldades
continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, do relacionamento interpessoal e da participação
social” (Miranda, Almeida, e Almeida, 2010, p. 42). Finalmente, por despacho do Secretário de Estado da
Educação de 16 de Maio de 2008, os pedidos de ingresso antecipado na escola passam a ser dirigidos ao
Diretor do Agrupamento de Escolas ou ao Diretor Regional.”
Após o exposto, e no que respeita à forma como a sobredotação é vista pelo ensino
português, torna-se evidente a pertinência desta investigação, com a finalidade de
contribuir para a compreensão desta problemática e da forma como é lidada na escola.
O estudo empírico veio essencialmente aferir até que ponto os professores (da Região
Autónoma dos Açores – Ilha de S. Miguel, uma das zonas de Portugal onde não existe
legislação específica sobre sobredotação), são conhecedores da problemática em estudo,
no que respeita à legislação existente, se consideram uma criança sobredotada uma
criança com Necessidades Educativas Especiais às quais a lei existente se aplica ou se
reconhecem a falta de apoio legislativo nesta área.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
iii. A escola e a Criança Sobredotada
Um dos grandes desafios que atualmente se coloca aos profissionais de educação é o da
construção de uma educação assente no conceito de inclusão. A escola inclusiva
confronta-se com a necessidade de ser capaz de desenvolver uma pedagogia centrada
nas necessidades e características específicas de cada criança e de as educar a todas com
sucesso. A atitude social, a colaboração e cooperação, os serviços de apoio
especializado, o desenvolvimento profissional dos docentes, o envolvimento parental,
entre outros, são aspetos basilares para a construção conjunta deste projeto.
Estas interações, ao nível dos diferentes contextos em que a criança se insere,
enquadram-se num panorama mais vasto da evolução do desenvolvimento e do
conhecimento humano e refletem-se no domínio da educação. Assim, verifica-se a
influência de um conjunto de princípios teóricos que de certa forma norteiam os
profissionais sobre o que vão ensinar e como ensinar, e justificam as orientações e a
legislação em vigor.
Serra (2005) refere que:
“Como educadores, importa ter consciência de que a maneira como estruturamos o ambiente
para as crianças, modifica a sua estrutura biológica e neurológica. Quando a cérebro se torna mais
acelerado e mais integrativo nas suas funções, o indivíduo expressa características que identificamos
como inteligência elevada. Pode comprovar-se que algumas dessas características são resultados diretos
de modificações na estrutura do cérebro. Essas mudanças vão continuar a ocorrer enquanto houver
estimulação apropriada, pelo que o aluno deve sentir desafios, dirigidos ao seu nível de desenvolvimento,
dado que o crescimento pode não continuar e o indivíduo, de fato, pode perder potenciais.”
O princípio de inclusão constitui um aspeto importante no desenvolvimento
educacional, social, emocional e pessoal da criança e constitui um desafio na formação
e nas práticas profissionais de docentes.
Os pontos 7 e 8 da Declaração de Salamanca (1994) evidenciam o que se acabou de
dizer. O ponto 7 refere que o princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em
que todos os alunos devem aprender juntos.
“ (…) As escolas inclusivas devem (…) garantir um bom nível de educação para todos, através
de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de
22
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel recursos e de uma cooperação com as respetivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios
e de serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola.”
No ponto 8 é mencionado que “(...) A pedagogia inclusiva é a melhor forma de
promover a solidariedade entre os alunos com necessidades educativas especiais e os
seus colegas.”
No que diz respeito aos alunos sobredotados, a escola apresenta por vezes muitas
dificuldades na sua compreensão, revelando-se impotente na satisfação das suas
necessidades educativas e como consequência, alguns sobredotados desenvolvem
problemas de inadaptação escolar.
Serra (2005) afirma que:
“Por vezes, o contexto escolar parece não compreender o aluno sobredotado, impedindo-o de
intervir quando e como gostaria, subaproveitando as suas realizações. Tais comportamentos originam
frustrações, que se manifesta em comportamentos desajustados, de oposição, automarginalizando-se dos
demais, numa tentativa de chamar a atenção sobre si próprio, um modo inconsciente de solicitar ajuda e
apoio.”
Sendo o papel fundamental da escola o desenvolvimento das capacidades humanas, é
urgente que adote medidas de apoio e estímulo ao “crescimento” das potencialidades do
aluno sobredotado, entre as quais se destacam a formação especializada de professores e
um processo de ensino/aprendizagem diferenciado. A possível falta de conhecimentos
dos professores sobre as diversas problemáticas dos seus alunos, neste caso da
sobredotação, pode constituir um entrave à identificação precoce de sobredotados e ao
desenvolvimento de práticas pedagógicas que estimulem as suas potencialidades.
A criança sobredotada apresenta um conjunto de características especiais que pressupõe,
por parte da escola, o desenvolvimento de condições especialmente adaptadas, com o
objetivo de promover a sua integração escolar, familiar e social.
Partindo da necessidade de uma escola verdadeiramente inclusiva, a evolução deste
conceito passa a responder não só à criança, mas também à família (tornando-a mais
informada e participante ativa) e a todos os outros participantes em contextos próximos
da criança.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Nesta fase de transformação da escola, perante a criança com NEE, e, mais
especificamente em relação à criança sobredotada, pretende-se uma prática de
diferenciação pedagógica realizada de uma forma colaborativa, de parceria e de
corresponsabilidade – escola, família e comunidade.
O papel da escola é determinante em todas as fases do desenvolvimento de uma criança.
Este papel pode assumir-se como mais desafiante no caso de se referir a uma criança
sobredotada. Tomam-se as palavras de Serra (2005), para prosseguir na investigação,
reportando ao momento em que a mesma autora refere que “o contexto escolar parece
não compreender o aluno sobredotado”, dando ênfase ao ambiente devidamente
estruturado para uma boa estimulação e o desenvolvimento ótimos da criança. Com o
presente estudo, pretendeu-se conferir, junto dos professores inquiridos, em particular
da professora titular de turma, até que ponto o seu local de trabalho e a sua postura é de
inclusão face à sobredotação.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
iv. Identificação da Criança Sobredotada
Um dos grandes problemas, com o qual é preciso lidar na sobredotação, diz respeito à
identificação das crianças sobredotadas, apresentando esta questão da identificação dois
aspetos importantes: a sua dependência da definição adotada sobre sobredotação e das
técnicas e instrumentos de avaliação utilizados.
Segundo Almeida e Oliveira (2000 cit in Martinho, 2006), a identificação dos alunos
sobredotados não é tarefa fácil. Ela exige o contributo dos pais, educadores, professores
e psicólogos, entendendo-se que o processo para por uma fase inicial de despiste
(avaliação de screening), e numa fase posterior de diagnóstico mais aprofundado (fase
de identificação, confirmação e explicitação).
Ainda os mesmos autores (2000), referem que:
“Temos proposto que esta avaliação tome diversas dimensões dos sujeitos que não apenas as
cognitivo-académicas (multidimensional), que seja feita ao longo de diferentes momentos e contextos
(validade ecológica), e que recorra a diferentes agentes (multireferêncial). Todas estas características
tornam a identificação um processo e não uma decisão delimitada a um dado momento ou espaço (multietápica).”.
No estudo de Bastos (2009), a investigadora menciona que:
“Na opinião de diversos autores, esta identificação deve ser efetuada o mais precocemente
possível. Whitmore (1980), propõe que a mesma se efetue no momento de entrada no sistema escolar,
porque quanto mais cedo se proceder à identificação, mais facilmente se poderá responder,
adequadamente, às necessidades inerentes à sobredotação e, assim, inverter processos crónicos e
acentuados de baixo rendimento (Clark, 1992; Whitmore, 1980).”
A mesma autora acrescenta ainda que:
“ (…) a
identificação
precoce
destas
crianças permite
proporcionar-lhes
ambientes
pedagógicos adequados, motivadores e que possibilitem e facilitem a otimização das suas aptidões, ao
mesmo tempo que se evitam problemas como o desinteresse escolar que se pode vir a manifestar
(…)”
Castro (2006) é uma outra investigadora que no seu estudo e no que respeita a esta
problemática, menciona que:
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel “ Como confirmou Renzulli, 1992, a identificação pelos professores das crianças sobredotadas
carece de um conhecimento prévio do que a sobredotação implica: uma prévia e adequada formação sobre
esta problemática.”
Também Bastos (2009) menciona que “A fase de identificação de sobredotados não se
constitui como um momento mas sim como um processo multi-etápico.”. Aliás, pode
afirmar-se que a seleção do tipo de instrumento depende da estratégia utilizada e da
situação em causa, sendo que o processo de identificação deve ter carácter dinâmico e
contínuo e, realizar-se ao longo de todo o processo de ensino aprendizagem da
criança/jovem, recorrendo sempre a diversos instrumentos.
Segundo Almeida e Oliveira, (cit. in Bastos, 2009) existem diversos instrumentos de
identificação de sobredotados, que apresentam, tais como:
“Provas psicológicas estandardizadas na área cognitiva; Provas académicas de incidência
curricular; Escalas de observação para pais e professores; Redação de ensaios breves; Inventários e testes
de criatividade; Grelhas para entrevistas de anamnese; Apreciação de produções no domínio das artes;
Escalas de autoavaliação (personalidade, autoconceito; Grelhas de observação direta da realização; Relatos
sobre histórias de aprendizagem e Escalas de motivação e ocupação dos tempos livres.”
Os sistemas de identificação de sobredotados incluem processos variados passando por
medidas subjetivas, provas objetivas e formais e métodos mistos.
Na realidade Suíça, os avanços no campo da sobredotação são levados a acabo também
por diversas instituições como a Association Suisse pour les Enfants Précoces (ASEP).
O trabalho desenvolvido pela mesma é-nos apresentado através de diversas publicações
disponíveis on-line.
No que respeita ao reconhecimento de uma criança sobredotada em contexto escolar, in
ASEP (2009), Catherine Leiser, professora de física em París (Fénelon Lycée), após ter
observado crianças durante 11 anos, listou características típicas que ela própria acredita
serem capazes de definir a sobredotação em alguns deles. Tratam-se de aspetos
negativos e positivos que são combinados entre si. No quadro abaixo apresentam-se os
ditos aspetos:
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Positivos
Rápido
Curioso
Intuitivo
Boa memória
Capacidade de trabalho real ou potencial
Imaginação
Originalidade
Personalidade e caracter fortes
Negativos
Não é muito académico
Falta de profundidade do pensamento
Falta de método
Falta de motivação
Forma superficial ou insuficiente de
estudar
Ineficiente em tarefas rotineiras
Falta de foco
Mau uso da intuição
Quadro 1 - Aspetos positivos e negativos da Criança Sobredotada
Fleith (2007) menciona que, nem todos os sobredotados apresentam as mesmas
características de desenvolvimento e comportamento, sendo de referir no entanto que
algumas características lhes são comuns. A mesma autora, cita Winner (1998), para
destacar como características de uma criança sobredotada, as seguintes:
 Preferência por novos arranjos visuais;
 Desenvolvimento físico precoce (sentar, engatinhar e caminhar);
 Maior tempo de atenção e vigilia, reconhecendo desde cedo os seus cuidadores;
 Precocidade na aquisição da linguagem e conhecimento verbal;
 Curiosidade intelectual, com elaboração de perguntas em nível mais avançado e
persistência para alcançar a informação desejada;
 Aprendizagem rápida com instrução mínima;
 Super reatividade e sensibilidade;
 Alto nível de energia que pode ser confundido com hipercinesia ou
hiperatividade.
Em relação às características relacionadas com a escola, a autora também destaca:
 Leitura precoce, boa memória para informação verbal e/ou matemática;
 Destaque em raciocínio lógico e abstrato;
 Preferência por brincadeiras individuais;
 Preferência por amigos mais velhos, próximos a ele em idade mental;
 Interesse por problemas filosóficos, morais, políticos e sociais;
 Assincronia entre as áreas intelectual, psicomotora, linguística e percetual.
A identificação de uma criança sobredotada, cabe não só à escola ou a um professor,
mas sim a um conjunto de intervenientes, dos quais fazem parte os pais e psicólogos,
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
que através de uma complementaridade de opiniões e resultados de avaliações
efetuadas, chegam a um diagnóstico de sobredotação. Isto porque ser sobredotado não é
apenas ser portador de um elevado Q.I., como acima se referiu, mas sim reunir um
conjunto de características específicas, associadas também a grande apetência em
determinada(s) área(s), que por vezes podem até apontar para outros caminhos. A parte
empírica do presente estudo, debruça-se sobre a identificação das crianças sobredotadas
aos olhos dos professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, da professora titular de turma
do aluno sobredotado e dos seus pais.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
v. O Não Reconhecimento do Talento por Parte da Escola
Um dos grandes problemas que é preciso resolver diz respeito ao «talento»
desperdiçado por incapacidade da escola na identificação das crianças sobredotadas.
Segundo Almeida e Oliveira (2000), a escola, apesar de ser socialmente reconhecida
como instituição pedagógica por excelência, convive bastante mal com a diferença. A
sua organização traduz uma maior preocupação com a idade das crianças do que com as
reais capacidades e competências possuídas, pelo menos nes fases iniciais de
desenvolvimento.
O princípio da escola pública tida como ideal, seria o de ser efetivamente para todos,
proporcionando a cada criança meios e recursos que permitam maximizar sempre as
suas potencialidades e minimizar qualquer tipo de handicap.
Hosberger (2006) refere que:
“L’école publique est l’école de tous les enfants. Les enfants surdoués ne sont pas des adultes en
miniature mais des enfants qui ont besoin d’un cadre sécurisant et exigeant. En se formant pour travailler
avec ce type d’enfants, les enseignants découvrent leur propre capacité à trouver des façons d’agir avec
certains de leurs élèves dont le fonctionnement leur échappait. Apprendre à travailler avec ces enfants,
c’est se donner les capacités de comprendre et d’accompagner des élèves qui autrement resteraient en
marge. C’est se donner les moyens, dès le début de la scolarité, d’intégrer des enfants qui nous
apprennent beaucoup et c’est enfin éviter leur échec. L’école publique ne devrait plus passer à côté d’un
tel potentiel. Dans ce sens, les projets entrepris par des établissements sont riches, prometteurs et méritent
d’être encouragés et élargis.”
Muitos sobredotados não encontram na escola o meio mais adequado para o
desenvolvimento das suas capacidades, mas apesar disso muitos indivíduos
supostamente sobredotados tornaram-se personalidades famosas cuja marca perdura na
sociedade até à atualidade tais como:
 Pasteur: considerado um aluno medíocre e que em química, ficava no 15º lugar
entre 22 alunos;
 Einstein: descrito, pelo professor, como mentalmente lento, pouco sociável,
sempre com sonhos tolos e que foi expulso da escola;
 Napoleão: deixou a escola sem nenhuma distinção, em 42º lugar;
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
 Zola, La Fontaine, Balzac e Tolstoi: não apresentavam evidências de talento na
escola (Tolstoi foi mesmo descrito como incapaz e sem motivação para aprender).
 Gauguin, Turner, Manet e Rodin: considerados alunos com fraco rendimento
escolar.
O talento desperdiçado por parte da escola persiste até aos dias de hoje, devido ao facto
da escola não ter a capacidade para identificar e apoiar este tipo de alunos, por falta de
recursos humanos e materiais. Almeida et alii (2000) referem que:
“(…) quando se trata de avaliar o desempenho ou as habilidades do aluno, os professores
tendem a centrar-se nas dimensões cognitivas e, obviamente, nas suas aprendizagens. Este resultado, pelo
menos, permite-nos pensar de novo que, quando está em causa a identificação de alunos sobredotados
pelos professores, existe uma valorização maior nas habilidades cognitivas e do rendimento escolar dos
alunos, em detrimento das áreas relacionadas com as expressões. (…) Estes resultados remetem-nos para
a necessidade de um maior esclarecimento e formação dos professores dentro da temática da
sobredotação.”.
Para que seja possível identificar alunos sobredotados, é necessário formar professores,
técnicos especializados, providenciar recursos materiais e criar legislação adequada, de
forma a dar apoio ao talento que passa pela escola e que muitas vezes não é
reconhecido.
Existem alguns indicadores que os professores podem utilizar na observação que faz
dos seus alunos, tais como:
 Capacidade de verbalizar;
 Capacidade de imaginação;
 Capacidade de liderança;
 Rapidez de compreensão;
 Respostas originais;
 Habilidade para inventar situações novas.
Silva (1999) afirma que existe a necessidade de:
“Um sistema educativo aberto à inovação e à diferença, investindo forte na formação de
agentes educativas de mentalidade renovada e inovadora, capazes de utilizar e acreditar em todas as suas
capacidades criativas e de liderança para detetar nas crianças os seus pontos fortes e os pontos fracos de
30
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel modo a, respeitando a individualidade de cada um, serem capazes de estimular e desenvolver capacidades
latentes ou manifestas através de um grande número de estratégias e técnicas.”
Todos os professores devem ajudar as crianças a tornarem-se mais sensíveis aos
estímulos do meio que os rodeia, devem valorizar o pensamento criativo, a resposta
diferente, incentivar a manipulação livre de objetos e ideias, desenvolver a tolerância a
ideias novas, incentivar desde o início uma aquisição de conhecimentos numa grande
variedade de áreas, entre outros.
Ser professor de um sobredotado é, segundo Novaes (1979):
“(…) um “Desafio”, porque o aluno sobredotado é curioso, inquiridor, instável, por vezes
irritado e agressivo, exigindo muito da sua pessoa; ‘conflito’, porque nem sempre está preparado
psicologicamente para enfrentá-lo e sente-se inseguro, inferiorizado e perseguido, porquanto é o aluno
que sabe mais, que faz perguntas difíceis e que abala o seu status de saber e autoridade.”.
Nem sempre a escola reconhece o talento da criança sobredotada e lida adequadamente
com a problemática. Tomam-se as palavras de Almeida et alli (2000), para afirmar que,
no que concerne à avaliação do desempenho dos alunos, os professores ainda se centram
muito nos resultados académicos numa dimensão cognitiva, subvalorizando aptidões
excecionais, por exemplo, em áreas como as expressões. Talvez pela dificuldade de
identificação, a falta de técnicos especializados ou desconhecimento total sobre a
problemática, esse talento não é devidamente reconhecido nem valorizado, ficando por
vezes camuflado entre comportamentos/atitudes e algumas dificuldades em outras áreas.
Na parte empírica do presente estudo, é com o testemunho dos pais e da professora
titular de turma que é verificada a veracidade, neste caso, das afirmações acima feitas.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
vi. Respostas Educativas para Crianças Sobredotadas
As crianças sobredotadas são, acima de tudo, crianças e têm direito a ser tratadas como
tal, seres únicos. O mais importante é a realização da pessoa, e para atingir essa
realização plena é necessário conhecer as suas capacidades e ter acesso a oportunidades
iguais para as desenvolver e colocá-las ao serviço da comunidade. O ritmo mais rápido
e todas as características subjacentes à sua situação, não podem ser esquecidas.
Bastos (2009) menciona na sua investigação que:
“As crianças sobredotadas apresentam, inquestionavelmente, Necessidades Educativas Especiais,
e por esse facto necessitam de respostas diversificadas que passam pela flexibilização e adequação
curricular e por uma efetiva diferenciação de métodos e estratégias educativas.”
Ao sistema educativo, segundo afirma Silva (1999), cabe estar:
“(…) aberto à inovação e diferença, investindo forte na contínua formação de agentes
educativos de mentalidade renovada e inovadora, capazes de utilizar e acreditar em todas as suas
capacidades criativas e de liderança, para detetar nas crianças os seus pontos fortes e os pontos fracos de
modo a, respeitar a individualidade de cada um.”
O que se espera de um profissional de educação, não só para com crianças sobredotadas,
é que implante estratégias e técnicas abrangentes a um grande número de crianças.
Em muitos países, existe legislação específica no sentido de que a sociedade através da
escola, preste os apoios adequados às crianças sobredotadas. Em Portugal o diploma
mais recente nesta área, é o Decreto-lei 3/2008 que fala na “abertura da escola a alunos
com necessidades educativas especiais, numa perspetiva de escola para todos”. No
entanto ao ler o decreto-lei 3/2008 verifica-se que o seu conteúdo se refere
exclusivamente a alunos com deficiências, deixando de fora os alunos sobredotados.
Assim, e no mesmo Decreto-lei, artigo 1º, aparece como objeto e âmbito do mesmo:
“O presente decreto -lei define os apoios especializados a prestar na educação pré -escolar e nos
ensinos básico e secundário dos sectores público, particular e cooperativo, visando a criação de condições
para a adequação do processo educativo às necessidades educativas especiais dos alunos com limitações
significativas ao nível da atividade e da participação num ou vários domínios de vida, decorrentes de
alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao
nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e
da participação social.”
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Existem vários métodos ou modalidades de atendimento ao sobredotado, no entanto
diversos autores como por exemplo, Falcão (1992); Ministério da Educação (1998),
Peixoto e Vilas Boas (2003); destacam as seguintes: Programas de Aceleração,
Enriquecimento e Segregação.
vi.i. Programas de Aceleração
Este tipo de resposta educativa está contemplado na legislação e possibilita o ingresso
no 1º ano do 1º Ciclo, com cinco anos, até ao início do ano escolar (isto se a avaliação
psicopedagógica, concluir que existe precocidade excecional), segundo despacho
173/ME/91 de 23 de Agosto.
Ao aluno que revele capacidades de aprendizagem excecionais e um adequado grau de
maturidade, a par do desenvolvimento das competências previstas para o ciclo que
frequenta, pode permitir-se progredir mais rapidamente no ensino básico, beneficiando
de uma das seguintes hipóteses:
 Concluir o 1º ciclo com nove anos, completados até 31 de Dezembro do ano
respetivo, podendo para isso completar o 1º ciclo em três anos;
 Transitar de ano de escolaridade antes do final do ano letivo, uma única vez, ao
longo do 2º e 3º ciclos.
A possibilidade referida anteriormente, só pode ser levada a cabo se houver pareceres
concordantes do encarregado de educação, dos Serviços especializados de Apoio
Educativo (SEAE) ou psicólogo e do Conselho Pedagógico, sob proposta do professor
titular ou do Conselho de turma, segundo o Despacho normativo nº 30/ 01 de 19 de
Julho.
Na Publicação da ASEP (2007) é mencionado que, este método de atendimento encerra
certas limitações, nomeadamente no que respeita a aspetos psicológicos da criança em
questão:
“Le principal inconvénient de l’accélération repose sur l'accroissement du décalage physique, voire
moteur, avec les autres enfants, dans le cas d’un deuxième saut de classe notamment. Il faut savoir qu’il
ne constitue cependant ni une solution définitive, ni une solution idéale pour tous les enfants. Les enfants
avec un QI supérieur à 145 notamment se satisferont difficilement d’un seul saut de classe.”
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
vi.ii. Programas de Enriquecimento
Segundo o constante no documento do Ministério da Educação (1998), este método
consiste:
“(…) na integração da criança sobredotada no sistema regular de ensino, operando alterações
nas oportunidades educativas devidas à especificidade das suas necessidades… recorrendo-se sobretudo à
adaptação dos conteúdos curriculares e à mobilização de recursos educativos orientados para a
diversificação da oferta de oportunidades educativas no contexto da sala de aula regular.”
Este tipo de resposta destina-se a grupos com capacidades heterogéneas, com o objetivo
de estimular e desenvolver projetos e programas de estudo, a investigação de tópicos
ensinados (incluindo novas unidades de estudo), assim como acrescentar conteúdos ao
programa normal.
É importante dar liberdade na escolha dos tópicos a serem aprofundados, sendo o papel
do professor o de facilitador de aprendizagens, oferecendo ao sobredotado a opção de
escolher os critérios e profundidade desejados.
vi.iii. Programa de Segregação
Tal como o nome indica, este programa consiste na formação de turmas destinadas a
alunos do 1º Ciclo, com alunos de um ou mais níveis, orientada por um professor
especializado.
Neste método, teria que se ter em conta alguns aspetos:
 Evitar a segregação completa;
 Selecionar professores bem qualificados (que conheçam a área da
sobredotação);
 Encorajar outra área, que não a da inteligência
 Haver comunicação professor - professor e professor - pais
Existem realmente vários tipos de programas com vista ao desenvolvimento ótimo de
todas as capacidades das crianças e jovens sobredotados, no entanto é necessário que,
numa perspetiva inclusiva, exista o convívio com crianças menos talentosas, para evitar
atitudes “orgulhosas” por parte das crianças sobredotadas.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
As crianças sobredotadas exigem sempre mais e as estruturas pessoais e físicas, não
estão sensibilizadas e aptas a corresponder às necessidades – conseguir uma boa e
equilibrada estimulação do seu potencial, o que nem sempre é fácil.
A escola, sempre que possível, deve implementar estratégias de diferenciação
pedagógica, no entanto, por vezes o que acontece é que se “desperdiça” talento, por
incapacidade da escola adequar situações, em prol das capacidades e talentos especiais,
destas crianças.
No seu estudo Bastos (2009) afirma que:
“(…) a educação e as correlações existentes no ato educativo serão fundamentais na
consecução quer dos objetivos propostos, quer na relação professor/aluno, o que facilitará ao
professor o despiste e enquadramento do, ou dos alunos que apresentem as características de
sobredotação. Uma escola, qualquer que ela seja, não tem, ou não deve ter, outro objetivo senão o de
promover, relativamente a todos os alunos que a integram, o sucesso escolar, na sua mais correta
expressão.”
Serra (2004) afirma que:
“Na verdade a aceitação das características da criança e das consequentes necessidades, muitas
vezes não acontece. E a recusa em aceitar a diferença começa muitas vezes, em casa, na família, onde
naturalmente, o amor existe.
A criança começa a aperceber-se de que desgosta aqueles que ama, pela sua forma de ser e de
estar. Esforça-se consciente e inconscientemente por responder às expectativas dos outros e ao que
exigem dela… chegando a ser uma violência que provoca a si própria.”
Enquanto, não há legislação nesse sentido, é necessário encontrar o equilíbrio de
proporcionar o enriquecimento de vida da criança sobredotada, pela disponibilidade dos
estímulos oferecidos e pelas relações afetivas, tanto em contexto familiar, como escolar.
Almeida e Oliveira (2000 cit in Boas e Peixoto, 2003), afirma que:
“A escola, apesar de ser socialmente reconhecida como instituição pedagógica por excelência,
convive bastante mal com a diferença. A sua organização, pelo menos nas fases iniciais, traduz uma
maior preocupação com a idade das crianças do que com as reais capacidades e competências possuídas.”
Em jeito de conclusão e no que respeita às respostas educativas para as crianças
sobredotadas, apoiou-se a presente investigação nas palavras de Bastos (2009), quando
35
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
se refere à criança sobredotada como uma criança, efetivamente, com Necessidades
Educativas Especiais e que necessita de respostas educativas que sejam flexíveis e
adequadas às suas necessidades. É finalidade do estudo empírico saber que
características apresenta o aluno sobredotado em causa e que respostas lhe estão a ser
facultadas pela escola, para o desenvolvimento ótimo das suas capacidades. Pretende-se
também verificar até que ponto vai o atendimento prestado pela escola ao nível da
resposta que consegue dar através dos recursos disponíveis. Tal é feito junto da
professora titular que evidencia a necessidade de implementação de estratégias
educativas diferenciadas para a criança sobredotada, no sentido lato de inclusão.
36
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
vii. Interação Professor / Educador com a Criança Sobredotada versus a inadaptação
do aluno à escola
O professor/educador, sendo aquele que melhor conhece a criança, observando a forma
como esta lida e resolve as situações, tem um papel facilitador, na medida em que pode
fornecer os materiais adequados e possibilitar uma gama de atividades de tal forma rica
e estimulante, que proporcionem à criança o estabelecimento de novas relações e
conceitos.
Bastos (2009) acrescenta ainda que:
“(…)devem ser proporcionados ambientes que favoreçam a criatividade, que incentivem a
curiosidade
e
o
gosto
por
aprender,
que proporcionem experiências e oportunidades de
desenvolvimento em que exista encorajamento e um bom suporte emocional, onde as crianças
encontrem recetividade ao desenvolvimento das suas capacidades.”
No processo de educação que se quer de qualidade cabe ainda ao educador planificar e
avaliar. Ao planificar pretende atender ao grupo, às suas famílias, à sua comunidade
envolvente. O que é planeado deve corresponder aos interesses e necessidades do grupo
em questão. Segundo as Orientações Curriculares (1997), “cabe, assim, ao educador
planear situações de aprendizagem que sejam suficientemente desafiadoras, de modo a
interessar e a estimular cada criança”.
O sobredotado, frequentemente, constrói uma imagem negativa da escola, não se
identificando com os seus projetos, manifestando diversos problemas escolares.
(Pocinho (2009); Serra (2004,2005); Bastos (2009)). O papel do educador/professor é
extremamente importante para o desenvolvimento socio emocional de todas as crianças,
e das sobredotadas em particular. É urgente que os educadores/professores identifiquem
e lidem de forma apropriada com as diferentes características de personalidade destas
crianças o mais precocemente possível, de modo a minimizar os problemas de
inadaptação dos sobredotados ao meio em geral.
Para compreender os sobredotados é necessário sensibilizar técnicos, providenciar
recursos e criar legislação adequada, para que se possa avançar no sentido de prestar a
ajuda que a criança sobredotada necessita.
37
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Também Falcão (1992, cit. in Martinho, 2006), apresenta um quadro em que estabelece
uma correlação entre as características gerais do sobredotado e os possíveis problemas
coexistentes.
Características
Problemas coexistentes
Forte sentido de observação; recetividade natural; sentido
Possibilidade de rejeição social, defesa do próprio sistema de
do que é importante; vontade de examinar o que não é
valores, intolerância.
comum.
Poder de abstração, de conceptualização e de síntese;
Resistência ocasional a instruções, omissão de detalhes e
interesse pela aprendizagem indutiva e pela resolução de
rejeição de atividades de rotina.
problemas; prazer na atividade intelectual.
Interesse pelas relações causa/efeito, capacidade de se
Dificuldade em aceitar o que não é lógico, o superficial, os
relacionar; interesse pela aplicação de conceitos; gosto pela
conhecimentos mal estruturados e pouco definidos.
verdade.
Gosto pela estruturação e ordem, pela consistência, seja de
Invenção dos próprios sistemas, por vezes incompatíveis com
valores ou de números.
os pré-estabelecidos pela escola.
Capacidade de retenção, de organização do conhecimento.
Aversão à rotina e à repetição; necessidade de dominar, desde
muito cedo, as capacidades de fundamentação.
Competência verbal, muito vocabulário; facilidade de
Necessidade
prematura
de
leitura,
de
vocabulário
expressão; interesse pela leitura, mais informação em áreas
especializado; oposição dos pais à leitura gera fuga para o
avançadas.
verbalismo…
Atitude de indagação e curiosidade intelectual, motivação
Falta de estimulação familiar e escolar apropriada.
intrínseca.
Espírito crítico, ceticismo, avaliação e autocrítica.
A atitude crítica em relação aos outros; desencorajamento,
exigência interna excessiva.
Criatividade e espírito inventivo; gosto por novas maneiras
Rejeição do que é conhecido; necessidade de inventar
de fazer, interesse pela livre expressão.
constantemente.
Poder de concentração e atenção.
Resistência à interrupção, quando concentrado nas atividades.
Persistência, comportamento dirigido para os seus objetivos.
Obstinação, certo desligamento do desnecessário e secundário.
Sensibilidade, intuição, empatia com os outros, necessidade
Necessidade de sucesso e reconhecimento; sensibilidade a
de suporte emocional.
críticas; vulnerabilidade à rejeição dos outros.
Energia, perspicácia, períodos de esforço voluntário intenso
Frustração com a inatividade ou ausência de progressos,
precedendo a invenção.
impaciência.
Independência no trabalho e no estudo; preferência pelo
Pressões e discordância com pais e colegas; problemas de
trabalho individual, autoconfiança, necessidade de liberdade
rejeição e revolta.
de ação e de movimentos; isolamento.
Versatilidade e virtuosidade; diversidade de interesses e
Falta de homogeneidade no trabalho de grupo; necessidade de
capacidades, muitos passatempos; competência em formas
individualização e ajuda para explorar e desenvolver
de arte tais como a música e o desenho.
interesses, como também para adquirir competências básicas.
Quadro 2 - Características de aprendizagem e problemas coexistentes em crianças sobredotadas (adaptada
de Falcão (1992))
38
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Bastos (2009) menciona no seu estudo que:
“O não atendimento adequado à criança sobredotada, como criança diferente que é, pode gerar
comportamentos negativos que a levam a contestar toda a escolaridade de modo a poder considerar-se que
os sobredotados, paradoxalmente, são, por vezes, crianças inadaptadas.”
Acrescenta ainda a mesma autora que:
“Efetivamente, acontece existir um desfasamento entre o que o sobredotado procura e o que a
escola lhe oferece, daí, toda uma série de consequências que põem em causa a sua própria personalidade e
a própria escola.”
Tal como se pode verificar no apresentado anteriormente, muito dos problemas e
dificuldades apontadas situam-se na área sócio emocional. Por este motivo as propostas
de intervenção nestes grupos de alunos devem incluir, para além do desenvolvimento de
aspetos meramente cognitivos, componentes intrapessoais e interpessoais que
promovam o desenvolvimento sócio emocional.
A interação positiva entre dois intervenientes, provocará quase certamente resultados
positivos, sendo que o oposto também se verifica. O ambiente escolar é, até certo ponto,
determinante na maneira como uma criança desenvolve o seu apreço ou não pelas
aprendizagens. O ambiente que se gera é sempre melhor, se houver um bom
conhecimento das necessidades quer da criança sobredotada quer do professor titular de
turma, no que respeita à sobredotação. Assim sendo, é necessário ter presentes, tanto as
características do aluno sobredotado, como os problemas que daí podem advir.
39
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
viii.
A Criança Sobredotada e sua Família
O nascimento de uma criança, em qualquer núcleo familiar faz com que,
inevitavelmente, todos os membros da família tenham que reestruturar os seus papéis.
As relações marido-mulher, genitores-criança e irmão-irmão, caso existam, ficam desde
logo comprometidas positiva ou negativamente.
Cada criança, desde o seu primeiro contato com o mundo, está inserida num
determinado núcleo familiar, o que lhe confere desde o primeiro instante um lugar só
seu na sociedade em que acaba de se inserir.
É na família que surge o primeiro diagnóstico e o comprovar das necessidades que a
criança apresenta. Surge uma grande inquietação: como será o seu percurso escolar? As
famílias das crianças sobredotadas necessitam de estabelecer um diálogo com os
professores, uma vez que a situação em si, se torna um pouco incomportável, e aquando
do diagnóstico surgem imensas dúvidas que necessitam de uma resposta pedagógica o
mais satisfatória possível.
Honsberg (2006) corrobora com o apresentado mencionando que:
“De leur côté, les familles des enfants concernés ont besoin de pouvoir dialoguer avec des
enseignants qui les comprennent. Souvent des parents désemparés prennent contact avec les enseignants
en expliquant qu’ils ne savent pas quoi faire avec leur enfant. Le bilan établi par un psychologue assure
que leur fils ou leur fille a de grandes compétences et peut poursuivre une scolarité avec des exigences
élevées. Eux-mêmes se sont aperçus que leur enfant avait des compétences singulières, car comme
l’affirme Jeanne Siaud-Facchin, «les parents sont les meilleurs prédicteurs! Malgré les critiques dont on
les accable souvent, les parents ne se trompent pas dans 80% des cas1» lorsqu’ils soupçonnent que leur
enfant est surdoué.”
Desde esse primeiro momento em que nasce, cada criança influencia e é influenciada
por diversos fatores emocionais, culturais e sociais que são particulares do grupo do
qual passa a ser parte integrante.
Existem, nos dias que correm vários tipo de famílias, sendo que, a ideia da família
tradicional, tem vindo a declinar ultimamente pelas mais diversas razões, endógenas e
exógenas ao núcleo.
Fleith (2007), referindo-se a Stratton (2003), vai mais longe no que toca à definição de
40
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
família no seu sentido mais atual, fazendo também referência a novos formatos
familiares que surgiram nas últimas décadas referindo que:
“Algumas tipologias de família são genuinamente novas, como famílias de homossexuais ou
com filhos concebidos por meio de inseminação artificial, enquanto outras sempre existiram, mas só
receberam uma denominação recentemente, como no caso das “famílias reconstituídas”.”
A mesma autora acrescenta ainda que, “Independentemente da tipologia, as estatísticas
têm mostrado um aumento crescente de crianças que vivem em lares com apenas um
genitor.”
Em qualquer núcleo familiar, os genitores são os grandes responsáveis na formação da
criança, pois são estes a fonte primária e direta de influência social e psicológica. Fleith
(2007) menciona que:
“É na relação entre a criança e seus genitores que se estabelecem os intercâmbios culturais por
meio dos quais os valores, as crenças e as práticas são transmitidos de uma geração para outra. Portanto,
os valores e as crenças parentais constituem o principal ponto de contato entre a cultura social mais ampla
e a cultura pessoal e exercem influência nas práticas dos genitores dirigidas às suas crianças.”
No caso das crianças sobredotadas, podemos dizer que as suas famílias têm o dever de
aperfeiçoar e/ou desenvolver as capacidades demonstradas pela criança. Neste sentido é
urgente instigar os pais e a família, esclarecendo-os, para que compreendam o quanto a
sua postura é importante na orientação do seu descendente. O papel no desenvolvimento
da criança passa em grande parte pela estimulação por parte dos pais, das
potencialidades apresentadas pela criança sobredotada.
Neste seguimento Fleith (2007) afirma que:
“Em geral, as famílias de crianças superdotadas interagem com suas crianças em casa,
perguntando e respondendo questões, discutindo e se engajando em atividades de leitura e conversas
frequentes. A superdotação se desenvolve em famílias de diferentes níveis econômicos. “Pais pobres de
crianças superdotadas são responsivos e estimulantes e provêm oportunidades para leitura, brinquedo e
conversa” (Winner, 1998, p. 148). Portanto, os valores culturais que priorizam a educação constituem
importante fator de desenvolvimento da superdotação.”
O ambiente familiar de uma criança sobredotada deve estar de acordo com as suas
necessidades ao nível da sua motivação e interesses. É na interação com os pais e
41
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
irmãos e através do acesso a diversas fontes de informação que lhe estão à disposição,
que a criança sobredotada desenvolve as suas capacidades.
Também Virgolim (2007) dá especial enfoque ao papel da família no desenvolvimento
das capacidades da criança sobredotada, expondo que:
“Pais afetuosos e preparados, assim como um professor motivador, enamorado pela disciplina
que ensina, podem aumentar a probabilidade da criança e do jovem a desenvolverem as habilidades
necessárias para dar, no futuro, contribuições expressivas à humanidade e, ainda, ter uma qualidade de
vida mais satisfatória. Apesar de a inteligência geral apresentar uma grande predisposição genética, outras
habilidades cognitivas relacionadas à superdotação podem desenvolver-se ou declinar-se em função das
experiências vivenciadas. Neste ponto, a família aprece em posição de destaque.”
O papel da família, é parte integrante do desenvolvimento de cada ser humano e no caso
da criança sobredotada, esse papel é igualmente importante. Todas as crianças
“dependem” do seu núcleo familiar, em primeira instância, para que, nas relações
estabelecidas, desenvolvam as suas potencialidades e encontrem soluções para as suas
dificuldades. Como menciona Virgolim (2007), cabe à família proporcionar à criança
sobredotada
vivências
que
desenvolvam
as
suas
capacidades
e
atenuem
simultaneamente os seus handicaps.
No presente estudo é junto da família que se verificam as potencialidades mais
evidentes da criança sobredotada, seguindo-se o contexto sociocultural, escolar e
familiar, identificando-se o “tratamento” que lhe é dado pelos diversos intervenientes.
42
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
II. Estudo Empírico
1- Estudo Comparativo e Complementar
Em pesquisas anteriores ao início desta investigação, referentes a estudos desenvolvidos
nesta área, tomou-se conhecimento da existência de algumas investigações realizadas
nos últimos anos no nosso país, o que revela uma crescente preocupação com esta
problemática. Um desses estudos é o de Bastos (2009), e foi sobre este, que surgiu a
presente investigação, que visa estabelecer uma comparação e dar uma visão
complementar ao nível do conteúdo, no que respeita à área da sobredotação.
A autora mencionada desenvolveu a sua investigação tendo com objetivo de reflexão:
“as perceções que os professores têm acerca dos alunos com características específicas
(elevadas capacidades físicas ou cognitivas ou competências académicas específicas ou raciocínio lógicodedutivo ou pensamento criativo ou produtivo, etc.) e o impacto delas em sede escolar.”
Importa referir ainda que, a dita investigação foi ela também um estudo de caso,
incidindo por sua vez, num aluno surdo implantado, assumindo especificidades que não
se verificam na presente investigação, uma vez que, esta última, também ela um estudo
de caso, incide desta feita, sobre um aluno sobredotado, sem qualquer patologia clínica
devidamente confirmada associada.
De um modo geral Bastos (2009) investigou até que ponto os professores possuíam
sensibilidade e conhecimento, para conseguirem reconhecer e intervir junto de alunos
sobredotados, e quais as repercussões que desse facto advieram.
Bastos (2009), apresentou a seguinte pergunta de partida para o seu estudo: “Em que
medida a comunidade educativa possui conhecimentos acerca da sobredotação e qual o
tipo de influência que esse conhecimento tem na educação?”
Partindo da pergunta apresentada a autora refere como objetivo geral, o estudo da
relação da escola com a sobredotação, e como objetivos específicos os seguintes:
observar como é que a escola compreende e envolve os alunos sobredotados;
compreender os alunos sobredotados a partir das suas peculiaridades e especificidades;
perceber se os alunos sobredotados apresentam competências fora do comum; e analisar
43
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
a relação entre o envolvimento que a escola proporciona aos alunos sobredotados e o
desempenho dos mesmos.
Após terminada a investigação e analisados os dados recolhidos, Bastos (2009)
apresenta como conclusões:
“Considerando os objetivos e as questões do presente estudo, podemos, pois concluir que: i) os
professores não se sentem capazes de sinalizar ou acompanhar, a nível escolar, uma criança sobredotada;
ii) os professores não se encontram suficientemente informados sobre a problemática da sobredotação, e
como tal, não reconhecem e não compreendem estes alunos a partir das suas peculiaridades e
especificidades; iii) a escola não compreende estes alunos; iv) a escola não reconhece que estes alunos
apresentam competências fora do comum e parte significativa da comunidade escolar continua alheada da
problemática da sobredotação.”
Acrescenta ainda que: “as crianças e jovens sobredotados necessitam de
acompanhamento na escola, na família e na sociedade.”. Refere também, a ausência de
uma política de apoio como impedimento para uma intervenção educativa eficaz,
remetendo para a necessidade, por parte dos professores, em adequar as suas práticas e
avaliar as suas metodologias, a fim de contribuírem para o efetivo crescimento dos
alunos sobredotados.
De alguma relevância ainda, Bastos (2009) menciona que: “As limitações inerentes a
este estudo e o facto de se tratar de apenas um caso estudado não nos permite
generalizar para outra população.”
Após a tomada de conhecimento das especificidades do estudo de Bastos (2009),
prosseguiu-se na realização desta investigação, tomando a primeira como base, para
uma construção mais rica do saber, complementando aspetos que convergiram ou
divergiram dos estudados, tendo em conta a realidade sociocultural da população alvo
do estudo atual.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
2- A Metodologia e Estrutura da Investigação
A metodologia aplicada tem duas componentes empíricas articuladas baseando-se num
estudo de caso, abrangendo todos os professores do 1º Ciclo do Ensino Básico da Ilha
de S. Miguel e, em particular um menino sobredotado, a frequentar o segundo ano de
escolaridade numa escola de S. Miguel, sua família e professora titular de turma. Foi
feita uma abordagem qualitativa e quantitativa, com triangulação de resultados.
Fala-se de uma abordagem quantitativa, uma vez que neste estudo se parte de hipóteses
pré-definidas como respostas (incompletas) e provisórias às perguntas de partida, a
testar recorrendo a técnicas e instrumentos pré-definidos para a recolha de dados, os
mais relevantes dos quais foram um inquérito por questionário e uma escala de
avaliação para professores do 1º Ciclo do Ensino Básico. Tratando-se o presente estudo
de uma investigação comparativa e complementar de um outra já existente, estes
instrumentos foram os mesmos usados pela investigadora do referido estudo. Foram
ainda aplicadas entrevistas semiestruturadas à encarregada de educação do menino
sobredotado em questão e à professora titular de turma do mesmo, nas quais se
recolhem também, a par de informações qualitativas, valores de variáveis pré-definidas.
Para abordar qualitativamente, as opiniões dos professores, aprofundando-a, a par dos
instrumentos referidos, foi utilizado para recolha de dados, um fórum de discussão online, onde os professores deram as suas opiniões sobre alguns títulos, comentários e
artigos publicados. A referência e o convite à participação neste fórum de discussão
estiveram presentes no questionário que foi distribuído a cada professor, estendendo-se
ainda o convite a outros professores conhecidos dos inquiridos (divulgação em bola de
neve).
Foi feita uma análise do conteúdo das respostas obtidas com o intuito de triangular
resultados quantitativos com os obtidos qualitativamente através da aplicação de todos
os instrumentos de recolha de dados. A triangulação pretendida nesta investigação, não
se reporta apenas a amplificação do universo de dados conhecidos e tratados na
literatura acima referida, mas visa também comparar e aumentar o campo de visão
apresentado por Bastos (2009).
45
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
i. Objetivos Gerais
Os objetivos representam a meta final que se pretende alcançar. Como objetivos gerais
foram definidos os seguintes:
- Contribuir para a compreensão da sobredotação em contexto escolar;
- Contribuir para a compreensão da sobredotação em contexto familiar.
ii. Objetivos Específicos
- Verificar se os professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, possuem conhecimentos e/ou
formação adequada para identificar e trabalhar com alunos sobredotados e se os
consideram crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE);
- Verificar como se apresenta a criança sobredotada em contexto familiar, ao nível das
relações interpessoais, comportamentos e aptidões específicas, e qual a postura da
família face à escola.
iii. Abordagem Quantitativa
iii.i. Hipóteses Gerais
H.G.1. O conhecimento, a formação e a experiência de trabalho com crianças
sobredotadas são fatores facilitadores para a identificação e atendimento à criança
sobredotada e para o reconhecimento desta como uma criança com Necessidades
Educativas Especiais (NEE);
H.G.2. O género, o ano curricular em que se encontram os alunos e o tempo de
conhecimento dos alunos, por parte do professor (continuidade letiva), são fatores que
influenciam a perceção dos professores na identificação de características relacionadas
com o autoconceito, em crianças com ótimo desempenho escolar, em diferentes
domínios
(Competência
Escolar,
Conduta/Comportamento,
Competência Atlética, Aparência Física e Autoestima Global)
46
Aceitação
Social,
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
iii.ii. Sub-Hipóteses
H.G.1.1. Os professores com conhecimento e/ou formação em sobredotação, estão mais
preparados para trabalhar com os alunos sobredotados;
H.G.1.2. Os professores com conhecimento e/ou formação em sobredotação, são mais
capazes de identificar os alunos sobredotados;
H.G.1.3. Os professores com conhecimento e/ou formação em sobredotação,
reconhecem o aluno sobredotado como uma criança com Necessidades Educativas
Especiais (NEE);
H.G.1.4. A experiência pessoal de trabalho com a criança sobredotada, incita os
professores na procura de informação e formação acerca da sobredotação.
H.G.2.1. A identificação de características, relacionadas com o autoconceito, em vários
domínios e em crianças com ótimo desempenho escolar, está relacionada com o tempo
de acompanhamento desses alunos (continuidade letiva);
H.G.2.2. A identificação de características, relacionadas com o autoconceito, em vários
domínios e em crianças com ótimo desempenho escolar, está relacionada com o ano
curricular em que os alunos se encontram;
H.G.2.3. A identificação de características, relacionadas com o autoconceito, em vários
domínios e em crianças com ótimo desempenho escolar, difere, no que respeita ao
género dos alunos em questão.
iv. Abordagem Qualitativa
iv.i. Questões
Questão 1: Segundo a professora titular, a continuidade letiva favorece as relações
interpessoais do aluno sobredotado?
Questão 2: Segundo a professora titular, o aluno sobredotado é considerado uma
criança com Necessidades Educativas Especiais (NEE)?
47
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Questão 3: Segundo a professora titular, quais as capacidades excecionais do aluno
sobredotado, que facilitam e/ou dificultam a sua aprendizagem?
Questão 4: Segundo a professora titular, o comportamento do aluno sobredotado
dificulta a sua identificação?
Questão 5: Segundo a professora titular, a adoção de estratégias pedagógicas
diferenciadas facilita a aprendizagem do aluno sobredotado?
Questão 6: Segundo a professora titular, a falta de conhecimentos e/ou formação, na
área da sobredotação dificulta a ação do professor com o aluno sobredotado?
Questão 7: Segundo a professora titular, a falta de recursos na escola dificulta a ação do
professor e o desenvolvimento do aluno sobredotado?
Questão 8: Na opinião dos professores participantes no blog, os sobredotados estão
todos sinalizados em Portugal?
Questão 9: Na opinião dos professores participantes no blog, a falta de conhecimentos
e/ou formação sobre sobredotação, são barreiras à identificação e acompanhamento de
um aluno sobredotado?
Questão 10: Na opinião dos professores participantes no blog, as escolas estão munidas
de Recursos Humanos necessários para atender ao aluno sobredotado?
Questão 11: No discurso dos pais, quais os interesses manifestados pela criança
sobredotada?
Questão 12: No discurso dos pais, quais as capacidades excecionais apresentadas pela
criança sobredotada?
Questão 13: No discurso dos pais, qual a relação que a criança estabelece com os
familiares e conhecidos?
Questão 14: No discurso dos pais, como é que a crianças sobredotada seleciona as suas
amizades?
Questão 15: No discurso dos pais, como se apresenta a criança sobredotada, no que
respeita ao comportamento/atitudes no seu dia-a-dia?
48
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Questão 16: No discurso dos pais, como se apresenta a criança sobredotada no que
respeita a aspetos relacionados com a autoestima, aparência física e competência
atlética?
Questão 17: Qual a opinião dos pais, face às respostas dadas pela escola, à criança
sobredotada?
Como forma de identificação de possíveis distorções nos resultados deste estudo foram
colocadas outras variáveis (contextuais) para as quais se recolheram valores. São elas as
que a seguir se enunciam no quadro de operacionalização.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
v. Quadro de Operacionalização
Nome
Nível de habilitações
Tipo
Domínio
Ordinal
Bacharel; Licenciatura; Pós-Graduação; Mestrado.
Métrica de Intervalo
0 a >20 anos
Situação profissional
Ordinal
0a5
6 a 10
11 a 20
>20
Professor do Quadro de Escola; Professor do Quadro de Zona Pedagógica; Professor Contratado.
Existência de crianças com NEE na turma
Nominal
Sim; Não.
Quantos alunos com NEE
Ordinal
1; 2; 3; 4; 5; >5.
Quantos sobredotados
Ordinal
0; 1; 2; >2.
O nível de informação para reconhecimento de uma
criança sobredotada
Ordinal
0 - Nenhuma informação; 1- Pouca Informação; 2 – Suficiente informação; 3 – Muita Informação.
Conhecimento de algum sobredotado
Nominal
Sim; Não.
Conhecimento das caraterísticas apresentadas por
uma criança sobredotada
Nominal
Possuir formação adequada para ensinar
sobredotados
A importância de uma abordagem específica à
temática “crianças sobredotadas” na formação
básica dos docentes
O tipo de formação mais adequada para a temática
“crianças sobredotadas” na formação de
professores
Ordinal
1 – Estilo de Aprendizagem (a-capacidade elevada; b-rapidez na aprendizagem; c-preferência por temas complexos; d-avidez
de saber; e-conhecimentos profundos em domínios específicos; f-interesses múltiplos);
2- Níveis de Motivação Intrínseca (a-maturidade no julgamento; b-tendência em iniciar as suas próprias tarefas; c-busca de
perfeição; d-avidez de saber; e-persistência na realização e na finalização das tarefas);
3 – Expressão Crítica (a-ideias inesperadas/originais; b-preferência para lidar com abstrações; c-apreciação de qualidades
estéticas; d-tendências para respostas imaginativas e emocionais);
4 – Interação com os pares (a-comportamento cooperativo; b-sensibilidade interpessoal; c-sociabilidade; d-habilidade de
trato com pessoas e grupos).
0 - Nada adequada; 1- Pouco adequada; 2 – Suficientemente adequada; 3 – Muito adequada.
Ordinal
0 - Desnecessária; 1- Necessária; 2 – Fundamental; 3 – Imprescindível.
Ordinal
Disciplina integrada na licenciatura; Um curso de especialização ou pós-graduação; Ambas.
Possuir formação que aborde esta temática
Nominal
Sim; Não.
Tempo de Serviço
50
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Justificação da existência de cursos de
pós-graduação ou especialização nesta temática
Nominal
Sim; Não.
O nível de importância atribuído a diferentes
matérias nos currículos de formação de docentes
Ordinal
Grau de conhecimento relativamente à atual
legislação que obriga à diferenciação pedagógica no
caso de crianças com capacidades excecionais
É correto englobar o ensino a crianças sobredotadas
na Educação Especial, em termos de legislação e
tratamento
As crianças sobredotadas deverão ser integradas
Ordinal
0 - Nada importante; 1- Pouco importante; 2 – Importante; 3 – Muito importante.
Para: a-Identificação do sobredotado; b-Legislação ligada à sobredotação; c-Adaptações curriculares; d-Estratégias a adotar
no seu comportamento; e- Todos os domínios a,b,c,d.
0 - Inexistente; 1- Pouco; 2 – Suficiente; 3 – Muito.
Nominal
Sim; Não.
Ordinal
0 – No ensino regular integrado numa turma; 1- No ensino regular em classes especiais; 2 – Em escolas especiais.
Qual das soluções deverá ser adotada no processo de
ensino de crianças sobredotadas
Possíveis obstáculos que o professor poderá
encontrar no bom acompanhamento dos alunos
sobredotados
Nominal
Capacidade de acompanhar a nível escolar uma
crianças sobredotada
Quais as ajudas profissionais para ajudar nessa
tarefa
Quais as repercussões ao nível do desempenho
escolar advindas da implementação de estratégias
adequadas por parte do professor
Ordinal
1- Aceleração do processo de ensino; 2 – Integração em turmas regulares com um tratamento indiferenciado; 3 – Integração
em turmas regulares introduzindo alterações no processo de ensino aprendizagem..
1-Rejeição da turma em que o aluno sobredotado está inserido; 2- Número excessivo de alunos por turma; 3 – Falta de
formação por parte dos docentes; 4 – Falta de tempo para dar mais apoio a estes alunos; 5 – Exigências de cumprimento de
programas; 6 – Falta de apoio de técnicos na área da psicologia da educação; 7 – Falta de sensibilização, por parte da
comunidade educativa para esta problemática; 8 – Outro. Qual? (quais)
Sim; Sim, mas recorrendo a outros profissionais; Não.
Nominal
Psicólogo; Professor especializado; Médico escolar.
Ordinal
1 - Nada significativas; 2- Pouco significativas; 3 – Bastante significativas; 4 – Muito significativas.
Valorização nas aulas da criatividade, intuição e
imaginação em termos de conteúdo e processo
Nominal
Sim; Não; Não sabe.
Nominal
51
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
vi. População Alvo e participantes
A população alvo desta investigação, no que respeita à vertente quantitativa, foi
constituída pelos professores do 1º Ciclo do Ensino Básico da Ilha de S. Miguel.
Fizeram parte da amostra todos os professores a desempenhar funções de professor do
1º Ciclo do Ensino Básico na Ilha de S. Miguel que responderam aos instrumentos
aplicados, nomeadamente os inquéritos e a escala de avaliação para professores do 1º
ciclo. O grupo de participantes na vertente qualitativa do estudo, foi constituído pelos
professores que deixaram as suas opiniões no fórum on-line, cito Blog, pela titular de
turma do aluno sobredotado e pelos encarregados de educação do mesmo. No que
respeita à recolha dos dados junto dos dois últimos intervenientes mencionados, estes
advieram, através da aplicação de entrevistas semiestruturadas aos mesmos.
Após serem recolhidos os inquéritos por questionário e as opiniões apresentadas on-line
pelos professores aderentes ao fórum, seguiu-se a análise e tratamento dos dados e
informações a fim de que testar as hipóteses e dar resposta às questões complementares
colocadas no estudo.
A análise estatística foi efetuada com o SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) versão 20.0 para Windows.
No que respeita à população em estudo, mais concretamente referente aos inquéritos por
questionário e à escala de avaliação para professores do 1º Ciclo, esta constituiu-se por
cento e vinte e quatro docentes, a lecionar ao 1º Ciclo do Ensino Básico, nas escolas da
ilha de S. Miguel. Mais de metade (80,6%) é do género feminino, 62,9% têm entre
trinta e quarenta e cinco anos, 71,% são licenciados e 72,6% são professores do quadro
de escola.
Seque-se a caracterização mais particular da supramencionada população:
52
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Gráfico 1 - Género dos inquiridos por questionário e escala de avaliação
Da referida população, a maioria é constituída por mulheres, mais precisamente 80,6%
(cem docentes), sendo os restantes 19,4%, respeitantes aos participantes do sexo
masculino (vinte e quatro docentes).
Gráfico 2 - Idade dos inquiridos por questionário e escala de avaliação
Dos docentes anteriormente mencionados, apurou-se que, a moda de idades se situa dos
trinta aos quarenta e cinco anos, correspondendo a 62.9% dos inquiridos (setenta e oito
docentes), seguida de uma percentagem de 24,2% (trinta docentes), que apresenta mais
de quarenta e cinco anos. Na população em estudo é mais reduzido o número de
professores com idades inferiores a trinta anos, nomeadamente 12,9% (dezasseis
docentes).
53
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Gráfico 3 - Formação dos inquiridos por questionário e escala de avaliação
A formação do pessoal docente inquirido é um fator importante nesta investigação.
Neste sentido conseguiu-se, através do inquérito por questionário, saber que a maioria
dos docentes possui formação ao nível da licenciatura, nomeadamente 71% (oitenta e
oito docentes), seguindo-se o grau de pós graduados, com 21% (vinte e seis docentes).
Com percentagem menor encontram-se os níveis de bacharelato, com 4,8% (seis
docentes) e o de mestrado com apenas 3,2% (quatro docentes).
Gráfico 4 - Tempo de serviço dos inquiridos por questionário e escala de avaliação
No que respeita ao tempo de serviço docente da população em estudo conseguiu-se
aferir que, numa percentagem de 34,7% (quarenta e três docentes), encontram-se os
professores com tempo de serviço compreendido entre onze e vinte anos, seguindo-se
54
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
de 27,4% (trinta e quatro docentes), com mais de vinte anos de tempo de serviço. Muito
próximo desta percentagem, com 26,6% (trinta e três docentes), encontram-se os que
têm entre seis e dez anos de serviço e por último, representando 11,3% (catorze
docentes), aparecem os professores que têm até cinco anos de serviço.
Gráfico 5 - Situação profissional dos inquiridos por questionário e escala de avaliação
Mais se acrescenta que, ainda referente à população em estudo, a maioria dos
professores se encontra efetivo em Quadro de Escola, representando 72,6% (noventa
docentes), sendo que os restantes 27,4% (trinta e quatro docentes) são Professores
Contratados. Não se verificou nenhum caso de docentes efetivos em Quadro de Zona
Pedagógica.
Torna-se a esta altura necessário também fazer uma caracterização dos restantes
intervenientes no estudo empírico, como são a professora titular de turma, os
encarregados de educação e os participantes no blog.
No que concerne à professora titular de turma, trata-se de uma docente do 1º Ciclo do
Ensino Básico, com idade compreendida entre os trinta e os quarenta e cinco anos de
idade, com formação profissional ao nível da Licenciatura, com dezanove anos de
serviço docente e pertencente ao quadro de escola da Escola Básica Integrada do canto
da Maia, na cidade de Ponta Delgada, ilha de S. Miguel.
55
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Referente aos encarregados de educação, frisa-se plural, uma vez que os pais sempre
fizeram questão de que isso fosse mencionado. Sendo que, no que respeita à
responsabilidade de encarregado de educação, nos momentos necessários, esta é
partilhada pelos dois genitores. Neste sentido, prossegue-se à caracterização dos dois
intervenientes, mencionando que as idades do pai e da mãe estão também
compreendidas entre os trinta e os quarenta e cinco anos, com formação profissional ao
nível do Doutoramento (no caso do pai) e da Licenciatura (no caso da mãe). Trata-se de
genitores com uma fratria de quatro crianças, sendo a sobredotada, do sexo masculino e
o primeiro (mais velho) da fratria. É pertinente ainda mencionar que se trata de uma
família de nível socioeconómico e cultura de classe média-alta. De referir ainda que a
criança sobredotada é-o de forma comprovada pelas entidades e pessoas competentes,
como atesta a documentação em anexo. (Anexos 3,4,5 e 6)
No que respeita aos participantes do blog, não é possível fazer uma caracterização
pormenorizada dos mesmos, devido à anonimidade com que foram publicadas as
opiniões. Pelos conteúdos, devido ao apelo ao comentário e pelo tipo de comentários,
podemos inferir apenas que se trata de professores.
56
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
vii. Descrição dos Instrumentos
Para proceder à recolha de dados do pendor quantitativo do estudo, optou-se pela
aplicação de dois instrumentos estruturados: o Questionário (Anexo 8), destinado aos
professores do 1º Ciclo, em exercício de funções nas escolas da ilha de S. Miguel, e a
Escala de Avaliação para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico (Anexo 9), aplicada
à mesma população. Tanto o Questionário como a Escala foram instrumentos aferidos e
validados no estudo A perceção dos professores sobre os alunos sobredotados versus o
alheamento da escola – de Anabela Bastos, sob a orientação de Helena Serra, em 2009,
no Porto. Os dados obtidos farão desta investigação, um estudo comparativo e
complementar ao mencionado.
No que respeita ao pendor qualitativo deste estudo, optou-se pela aplicação de
entrevistas semiestruturadas, à Professora Titular de Turma do aluno sobredotado e aos
Encarregados de Educação (Pais), e pela recolha de opiniões num fórum on-line, cito
blog (Anexo 12), ao qual foi dado acesso a todos os inquiridos pelo Questionário e
divulgado posteriormente, em efeito bola de neve, a outros professores, que através da
divulgação fossem tomando conhecimento da sua existência. De mencionar ainda que o
Guião das entrevistas semiestruturadas, antes da sua aplicação, foram submetidos à
análise de peritos especialistas na área/temática em causa, tendo sido validado pelos
mesmos. (Anexos 10 e 11)
vii.i. Questionário (Anexo 8)
O Questionário foi um instrumento que chegou à população em estudo através da
modalidade on-line, sendo implementado no servidor Serveymonkey. A divulgação
junto dos professores do 1º Ciclo foi feita via e-mail, através de todas as Unidades
Orgânicas da ilha de S. Miguel, e após autorização por parte das entidades competentes,
nomeadamente da Secretaria Regional de Educação Ciência e Cultura, de modo a
chegar a todos os professores que em cada uma delas trabalhava. Do e-mail rececionado
por cada professor constava um link de acesso direto ao questionário em questão.
O Inquérito por Questionário, estava dividido em duas partes distintas, sendo a primeira
composta por cinco questões, referente aos dados pessoais de cada inquirido, permitindo
57
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
a caracterização da população em estudo, no que respeita ao género, idade, nível de
habilitação, tempo de serviço e situação profissional. Da segunda parte do mesmo,
constaram vinte e quatro questões, que se propunham observar: se a criança sobredotada
é considerada pelos professores como uma criança com Necessidades Educativas
Especiais; qual o nível de informação para reconhecimento de uma criança sobredotada;
o conhecimento de uma criança sobredotada e quais as características que lhe
reconhecem; o reconhecimento da necessidade de formação adequada para trabalhar
com alunos sobredotados, no que respeita à identificação dos sobredotados, da
legislação existente e das adaptações curriculares e estratégias a adotar; o conhecimento
da legislação existente e integração das crianças sobredotadas no ensino regular ou em
classes/escolas especiais; a capacidade de acompanhamento de uma criança sobredotada
e os possíveis obstáculos que poderão advir; a pertinência da ajuda de outros
profissionais (psicólogos, professores especializados ou médicos), no acompanhamento
da criança sobredotada; até que ponto a adoção de estratégias adequadas repercutem
num bom desempenho escolar do aluno sobredotado; e, se na atividade letiva diária, os
professores valorizam a criatividade, a intuição e a imaginação, ao nível de conteúdo e
processo.
Tratou-se de um questionário, todo ele composto por questões de resposta fechada,
umas de escolha múltipla de apenas uma resposta possível, outras de escolha de vários
itens apresentados em escalas de Likert devidamente explicitadas.
vii.ii. Escala de Avaliação para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico
(Anexo 9)
A escala de Avaliação para Professores do 1º Ciclo foi aplicada à mesma população do
Inquérito por Questionário, seguindo a mesma via de divulgação e o seu preenchimento
efetuou-se, por parte dos professores, após ao términus do Inquérito por Questionário.
A supramencionada escala, como refere Bastos (2009),
“(…) foi elaborada à luz da Escala SPPC de Harter (1985), embora com algumas modificações e
adaptações, uma vez que se destina a Professores dos 1º, 2º e 3ºciclos do Ensino Básico que
avalia a forma como os professores avaliam os alunos nos seis domínios avaliados pela SPPC. Foi
elaborada com o objetivo de apurar até que ponto os professores, em geral, apresentam conhecimentos
sobre as características específicas dos sobredotados e sobre as práticas a adotar no seu processo
educativo.”
58
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
A referida escala, denominada SPPC (Self-Perception Profile for Children) de Harter
(1985) é conhecida a nível internacional e avalia o autoconceito, intervindo diretamente
com crianças e jovens. No caso desta investigação, tal como na investigação de Bastos
(2009), a intervenção tem por base efetivamente um(a) criança, avaliando-o(a) nos
mesmos domínios a que se destina, mas desta feita preenchida efetivamente pelo
professor dessa criança, uma vez que, o que se pretende, com a sua aplicação, é saber a
perceção dos professores no que respeita à avaliação dos alunos nos domínios que a
escala avalia. De mencionar ainda que a aplicação da escala considera os alunos por
género, ano escolar em que se encontra e tempo de conhecimento do mesmo, por parte
do professor (continuidade letiva).
No caso da investigação em curso, a escala utilizada foi apenas aplicada a professores do
1º Ciclo, uma vez que foi esta a população em estudo.
A escala apresenta-se estruturada numa escala de Likert, possibilitando quatro opções de
resposta: Raramente (1); Poucas vezes (2); Algumas vezes (3) e Quase sempre ou
sempre (4). A escala é composta por 39 itens distribuídos de forma a avaliar os seis
domínios a que se propunha, nomeadamente: Competência Escolar (itens 1,2,3,4,5,6,7,8
e 9), Conduta/Comportamento (itens 10,11,12,13 e 14), Aceitação Social (itens 15, 16,
17, 18, 19 e 20), Competência Atlética (itens 21, 22, 23, 24, 25, 26 e 27), Aparência
Física (itens 28, 29, 30, 31 e 32) e Autoestima Global (itens 33, 34, 35, 36, 37, 38 e 39).
Aos professores foi pedido que aplicassem a escala ao (à) aluno (a) que considerassem
ter maiores capacidades, nos seis domínios apresentados, sem que estes estivessem
explicitados. Em suma, a escala foi aplicada por cada professor, ao aluno (a) que
consideraram ser o (a) melhor da turma.
Pretendeu-se com a aplicação da escala supramencionada saber: qual a predominância do
género (masculino ou feminino), no que respeita a ser o(a) melhor aluno(a); se a
continuidade letiva (mais de uma ano letivo com o aluno) favorece a identificação de
características de autoconceito, na criança com ótimo desempenho escolar; o ano letivo
em que se encontra o aluno influencia a clareza da identificação das características de
autoconceito, na criança com ótimo desempenho escolar.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
vii.iii. Entrevista Semiestruturada à Professora Titular de Turma (Anexo 10)
A entrevista semiestruturada à professora titular de turma, é parte integrante do estudo
com a finalidade de aferir dados qualitativamente. Foi aplicada à titular da turma, onde
o aluno sobredotado se encontrava matriculado, sob a forma de vinte e três questões,
respondidas pessoalmente em resposta aberta.
Com a aplicação da mesma entrevista, pretendeu-se obter, no discurso da professora,
informações pertinentes para esta investigação como: a importância da continuidade
letiva e períodos de tempo mais longos com o mesmo professor (titular), favorecem as
relações interpessoais do aluno sobredotado; se o aluno sobredotado é considerado um
aluno com Necessidades Educativas Especiais; o desconhecimento inicial, por parte da
professora, acerca da sobredotação; se trabalhar com um aluno sobredotado é um
desafio que exige o recurso a estratégias pedagógicas diferenciadas; se capacidades
excecionais como memória, raciocínio lógico e vocabulário avançado, são facilitadores
da aprendizagem do aluno sobredotado; se a manifestação de interesses não comuns à
maioria das crianças, dificulta a integração inicial do aluno sobredotado numa turma e
condiciona as suas amizades; se o comportamento do aluno sobredotado pode confundir
a sua identificação; se a falta de formação na área da sobredotação, de legislação
específica e de bibliografia e documentação com conteúdos teóricos e práticos sobre a
temática, assim como a falta de apoios de profissionais na área, para além dos
psicólogos, são vistos como fatores que dificultam a ação do professor.
vii.iv. Entrevista Semiestruturada aos Pais (Encarregados de Educação) (Anexo
11)
A entrevista semiestruturada aos Encarregados de Educação (pai e mãe), é parte
integrante do estudo com a finalidade de, tal como a entrevista à professora titular de
turma, aferir dados qualitativamente. O Guião de entrevista foi elaborado e sujeito a
validação, por parte de peritos competentes, de modo a ser o mais fiável possível. Foi
aplicado aos Encarregados de Educação, sob a forma de vinte e sete questões, colocadas
pessoalmente e de resposta aberta. Foi feita uma análise do conteúdo das respostas
obtidas com o intuito de triangular resultados com os obtidos qualitativamente através
da aplicação dos restantes instrumentos de recolha de dados.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Com a aplicação da entrevista mencionada, conseguiram obter-se, no discurso dos
encarregados de educação, informações que foram organizadas em duas categorias (não
identificadas na organização das perguntas efetuadas): características da criança
sobredotada em contexto familiar e postura da família face ao papel da escola. No
conjunto das respostas às questões colocadas, pretendia-se saber, e no que respeita à
primeira categoria, se a criança sobredotada: revela interesse por assuntos não muito
comuns às outras crianças o que interfere diretamente nas suas brincadeiras e na seleção
das suas amizades; estabelece boas relações interpessoais com familiares e conhecidos
assumindo a posição de líder; apresenta aptidão para atividades desportivas, boa
autoestima, e preocupação com estilo de vida saudável e manifesta preferências
profissionais futuras improváveis para uma criança da sua idade. Diretamente com a
criança sobredotada, mas no que respeita às expectativas e/ou receios dos pais,
pretendia-se verificar ainda, a possível existência de alguma preocupação no que
concerne ao percurso escolar do filho, ao nível de acompanhamento e apoios prestados e
se o filho será um bom contributo para a sociedade em que está inserido (Açoriana). No
que respeita à postura da família face ao papel da escola, a entrevista tinha como
finalidade aferir se o elevado Q.I. apresentado por uma criança sobredotada, assim
como grande aptidão, em algumas áreas do saber, determinam o diagnóstico de
sobredotação aquando do ingresso na escola; se a boa aceitação por parte da escola,
determina a boa adaptação da criança sobredotada ao contexto escolar e quais os apoios
de que a criança sobredotada dispõe na escola.
vii.v. Blog (Anexo 12)
Para melhor aferir as opiniões dos professores acerca da sobredotação foi criado
também um fórum on-line – blog, de recolha de pareceres a partir de publicações
constantes do mesmo. O blog foi intitulado de “A perceção do professor sobre o aluno
sobredotado: Sobredotado – criança mal entendida”. A adesão à participação no blog,
não foi tão significativa como a resposta aos outros instrumentos aplicados, no entanto,
nas opiniões deixadas, conseguiu-se material com conteúdo de grande importância para
esta investigação. De mencionar que, o total de professores que deixaram a sua opinião,
perfez cinquenta e seis.
61
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
No blog inseriram-se conteúdos como pontos de partida para discussão, em que
constavam sete publicações de conteúdo distinto, com citações de autores conceituados
na área da sobredotação, vídeos de apresentações power point e de reportagens feitas
por um canal televisivo, com apresentação de crianças sobredotadas. No mesmo blog,
havia ainda referência a “sítios” on-line, de interesse sobre sobredotação.
Através dos comentários recolhidos, sobre as publicações acima mencionadas, desejavase recolher informações organizadas em duas categorias – A Sobredotação no Sistema
Educativo Português e A Sobredotação na Sociedade Portuguesa. Neste seguimento, e
referente à primeira categoria mencionada, pretendia-se saber, na opinião dos
professores participantes se: os sobredotados estão todos sinalizados em Portugal; se
existe uma grande dificuldade na identificação de uma criança sobredotada; se é
reconhecida a falibilidade destas crianças; se as escolas estão munidas de pessoal
qualificado para lidar com a sobredotação; se a burocracia, a falta de formação e
conhecimentos sobre a sobredotação, são vistos como entraves à sinalização e
acompanhamento de um aluno sobredotado e se existe a necessidade de diferenciação
pedagógica, para com um aluno sobredotado. No que respeita à segunda categoria,
pretendia-se aferir se: ainda se verifica, na sociedade portuguesa, a existência de mitos
associados à sobredotação; se os participantes conhecem crianças sobredotadas e
possuem conhecimentos sobre a temática em estudo.
62
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
III. Apresentação de resultados
1. Abordagem quantitativa: análise descritiva e teste das hipóteses
Inicia-se a apresentação dos resultados obtidos neste estudo empírico, pela apresentação
da informação recolhida através do inquérito por questionário que foi aplicado à
população em estudo já anteriormente mencionada.
A análise estatística incluiu estatística descritiva – frequências absolutas e relativas,
médias e desvios padrão – e estatística inferencial. Para testar a significância das
diferenças foram utilizados como referência para aceitar ou rejeitar a hipótese nula um
nível de significância (α) ≤ 0,05. No entanto, e para os casos onde foram encontradas
diferenças significativas para um nível (α) ≤ 0,10 estas foram devidamente comentadas.
Para testar as diferenças em função do género usou-se o teste t de Student para amostras
independentes pois foram comparadas duas amostras e as variáveis dependentes são de
tipo quantitativo. Para testar as diferenças em função do ano curricular e do tempo de
conhecimento do aluno usou-se o Anova One-Way pois compararam-se quatro amostras
e as variáveis dependentes são de tipo quantitativo. Os pressupostos destes testes,
nomeadamente o pressuposto de normalidade de distribuição e o pressuposto de
homogeneidade de variâncias foram analisados com os testes de Kolmogorov-Smirnov
e teste de Levene. Nas amostras com dimensão superior a 30 aceitou-se a normalidade,
de acordo com o teorema do limite central. Quando a homogeneidade de variâncias não
se encontrava satisfeita usou-se a correção de Welch. A Hipótese Geral 1 foi analisada
com o teste de independência do Qui-quadrado. O pressuposto do Qui-quadrado de que
não deve haver mais do que 20,0% das células com frequências esperadas inferiores a 5
foi analisado. Nas situações em que este pressuposto não estava satisfeito usou-se o
teste do Qui-quadrado por simulação de Monte Carlo. As diferenças foram analisadas
com o apoio dos resíduos ajustados estandardizados.
A análise estatística foi efetuada com o SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) versão 20.0 para Windows.
Neste seguimento, pretende-se a esta altura a confirmação da primeira Hipótese Geral:
63
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
H.G.1. - O conhecimento, a formação e a experiência de trabalho com crianças
sobredotadas são fatores facilitadores para a identificação e atendimento à criança
sobredotada e para o reconhecimento desta como uma criança com Necessidades
Educativas Especiais (NEE);
Cerca de 77,0% dos docentes indicaram que, na sua turma têm alunos com NEE
(Necessidades Educativas Especiais), dos quais, 35,4% afirma serem dois alunos e
30,2% três alunos. Apenas três professores (3,2%) indicam ter um aluno sobredotado na
sua turma.
Frequência
Percentagem
Percentagem
válida
Percentagem
acumulada
1 alunos
20
16,1
20,8
20,8
2 alunos
34
27,8
35,4
56,2
3 alunos
29
24,2
30,2
86,4
4 alunos
4
3,2
4,2
90,6
5 alunos
2
1,7
2,1
92,7
>5 alunos
7
5,2
7,3
100,0
Total
96
78,2
100,0
System
28
21,8
Total
124
100,0
Tabela 1 - Tem alunos com NEE? Quantos?
Gráfico 6 - Na sua turma tem alunos com NEE?
Os professores informaram que, na turma, com a qual trabalham, verifica-se a existência
de crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE). Responderam à questão
64
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
colocada, de forma afirmativa 77,4% dos inquiridos, sendo que os restantes 22,6
trabalham com turmas que não possuem alunos com NEE.
Gráfico 7 - Se respondeu "sim" na questão 6, quantos alunos tem com NEE?
No seguimento da questão anterior, e para os professores que responderam
afirmativamente, foi-lhes perguntado o número total de alunos com NEE na sua turma.
Verifica-se pelo apresentado que, na existência de crianças com NEE, nas turmas do
ensino regular, a prevalência é de um a três alunos com NEE, por grupo de crianças,
verificando-se a maior percentagem na existência de duas crianças (35,4%), seguida da
existência de três (30,2%).
Gráfico 8 - Se respondeu "sim" na questão 6, quantos pensa que são sobredotados?
65
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Depois de se saber da existência de alunos com NEE nas turmas regulares, e da
quantidade por turma, os professores foram questionados, a fim de se saber se, desses
alunos, consideram algum (uns) sobredotado (s). Quase todos os inquiridos (96,8%),
afirmaram não considerem nenhum dos seus alunos com NEE, como alunos
sobredotados. Existe no entanto alguns professores, embora num número muito
reduzido, que colocam a hipótese da existência de alunos sobredotados, ou que, pelo
menos apresentam características que inferem para que pensem assim.
71,0% dos docentes considera que tem pouca informação para reconhecer uma criança
sobredotada.
Frequência
Percentagem
Percentagem
válida
Percentagem
acumulada
Muita informação
3
2,4
2,4
2,4
Nenhuma informação
11
8,9
8,9
11,3
Pouca informação
88
71,0
71,0
82,3
Suficiente informação
22
17,7
17,7
100,0
Total
124
100,0
100,0
Tabela 2 - Qual o nível em que se encontra informado para reconhecer uma criança sobredotada?
Gráfico 9 – Qual o nível em que se encontra informado para reconhecer uma criança sobredotada?
Após a colocação da questão anterior, prosseguiu-se questionando os professores acerca
do nível de informação que possuem para serem capazes de reconhecer uma criança
sobredotada. Após análise do resultado, verifica-se que existe uma percentagem de 71%
dos professores que afirmam possuir pouca informação, seguidos daqueles que se
afirmam suficientemente informados (17,7%).
66
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Quase 9,0% indica que conhece crianças sobredotadas.
Frequência
Percentagem
Não
112
91,1
Sim
12
8,9
Total
124
100,0
Tabela 3 - Conhecimento de crianças sobredotadas.
Gráfico 10 - Conhece algum caso de criança sobredotada?
Quando questionados sobre o conhecimento de alguma criança sobredotada, 91,1% dos
professores afirmam não conhecer nenhuma criança sobredotada.
Verificou-se que, as características que os professores identificam na criança
sobredotada que conhecem, no que respeita aos estilos de aprendizagem são a
capacidade elevada e conhecimentos profundos em domínios específicos; referente à
sua motivação intrínseca, mencionaram ser a busca de perfeição; no domínio da
expressão criativa mencionaram a prevalência de ideias inesperadas ou originais; e no
que se refere à interação com os pares afirmaram que as crianças se apresentam como
sociáveis e cooperativas.
Vertentes Educativas e Comportamentais
Estilo de Aprendizagem
a)
Capacidade elevada
8
67
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel b)
Rapidez na aprendizagem
7
c)
Preferência por temas complexos
6
d)
Avidez de saber
5
e)
Conhecimentos profundos em domínios específicos
8
f)
Interesses múltiplos
1
Níveis de Motivação Intrínseca
a)
Maturidade no julgamento
5
b)
Tendência em iniciar as suas próprias atividades
5
c)
Busca de perfeição
7
d)
Persistência na realização e na finalização das tarefas
1
Expressão Criativa (em qualquer domínio)
a)
Ideias inesperadas/originais
8
b)
Preferência para lidar com abstrações
4
c)
Apreciação de qualidades estéticas
2
d)
Tendência para respostas imaginativas e emocionais
7
Interação com os Pares
a)
Comportamento cooperativo
7
b)
Sensibilidade interpessoal
2
c)
Sociabilidade
8
d)
Habilidade de trato com pessoas e grupos
3
Tabela 4 - Tipo de características que a criança sobredotada revela.
Gráfico 11 - Se respondeu sim, na questão anterior, nesta e nas questões 12, 13 e 14, assinale que tipo de características a
criança sobredotada? Vertentes educativas e comportamentais.
Aos professores que responderam afirmativamente na questão anterior, foi-lhes pedido
que indicassem, tendo em conta essa criança, as características que conseguissem
68
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
identificar na mesma, no que respeita às vertentes educativas educacionais, mais
especificamente no que respeita aos estilos de aprendizagem. Neste seguimento, os
professores, assinalaram como características mais predominantes a capacidade elevada
(72,7%) e os conhecimentos profundos em domínios específicos (72,7%), sendo que a
rapidez na aprendizagem aparece em terceiro lugar com 54,5%.
Gráfico 12 - Vertentes educativas e comportamentais - Níveis de motivação intrínseca
No que respeita à identificação de características relacionadas com os níveis de
motivação intrínseca, os professores inquiridos indicam a busca de perfeição (54,5%),
como a característica mais observada, seguindo-se a tendência da criança sobredotada
em iniciar as suas próprias atividades, com 45,5%.
Gráfico 13 - Vertentes educativas e comportamentais - Expressão criativa (em qualquer domínio)
69
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Referente às características apresentadas, e no que respeita à expressão criativa, os
professores
referem
como
mais
observadas
a
apresentação
de
ideias
inesperadas/originais (63,3%) e a tendência para respostas imaginativas e emocionais
(54,5%).
Gráfico 14 - Vertentes educativas e comportamentais - Interação com os pares
Como último item a aplicar na criança sobredotada conhecida, apareceu a interação com
os pares. Neste item os professores mencionaram como características mais observáveis
a sensibilidade interpessoal (63,3%) e em igual percentagem (27,3%), a sociabilidade de
trato com pessoas e grupos.
Dos professores inquiridos, 75% considera ter formação pouco adequada para ensinar
alunos sobredotados e apenas 4% (n=5) indica que não tem.
Frequência
Percentagem
Percentagem
válida
Percentagem
acumulada
Nada adequada
5
4,0
4,0
4,0
Pouco adequada
93
75
75
79,0
Suficientemente adequada
26
21,0
21,0
100,0
Total
124
100,0
100,0
Tabela 5 - A sua formação é adequada para ensinar alunos sobredotados?
70
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Gráfico 15 - A sua formação é adequada para ensinar alunos sobredotados?
Os professores inquiridos, admitem que, da informação que possuem sobre a
sobredotação, consideram-na ser pouco adequada para ensinar alunos sobredotados
(75%), seguindo-se no entanto de um grupo que afirma que possui formação
suficientemente adequada (21%).
Aos professores inquiridos, e no que respeita à importância da abordagem à temática em
estudo, na formação básica dos docentes, soube-se que, destes, 60,5% considera-a
necessária e 29,8% considera até fundamental.
Frequência
Percentagem
Percentagem
válida
Percentagem
acumulada
Fundamental
37
29,8
29,8
29,8
Imprescindível
12
9,7
9,7
39,5
Necessária
75
60,5
60,5
100,0
Total
124
100,0
100,0
Tabela 6 - Como considera a abordagem específica à temática "crianças
sobredotadas" na formação básica dos docentes?
71
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Gráfico 16 - Como considera a abordagem específica à temática "crianças sobredotadas" na
formação básica dos docentes?
A formação mais adequada para a temática para a temática “crianças sobredotadas” na
formação de professores é a pós-graduação (33,9%) e a Disciplina integrada na
Licenciatura (28,2%). Verificou-se que 37,9% dos inquiridos mencionou ambas como a
formação mais adequada.
Frequência
Percentagem
Ambas
47
37,9
Disciplina integrada na Licenciatura
35
28,2
Um curso de especialização ou pós-graduação
42
33,9
Total
124
100,0
Tabela 7 - Qual o tipo de formação que considera mais adequada para a
temática "crianças sobredotadas" na formação de professores.
Gráfico 17 - Qual o tipo de formação que considera mais adequada para a temática "crianças
sobredotadas" na formação de professores?
72
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Sendo considerada necessária e fundamental, pelos professores, a abordagem à
sobredotação na sua formação, estes acrescentam ainda que, tal formação deveria fazer
parte quer duma disciplina integrada na Licenciatura quer dum curso de especialização
ou pós-graduação. Concluiu-se como sendo as duas, uma vez que 37,9% dos inquiridos
assinalaram a opção - ambas. De salientar no entanto que, entre a opção de disciplina
integrada na licenciatura e o curso de especialização ou pós-graduação, é a segunda que
reúne mais professores, 33,9% em relação aos 28,2% da primeira.
Apesar da necessidade da abordagem à temática em estudo, na formação dos
professores, apenas 19,4% indica que teve no programa curricular do curso abordagem à
temática da sobredotação.
Frequência
Percentagem
Não
100
80,6
Sim
24
19,4
Total
124
100,0
Tabela 8 - O seu currículo de formação inclui uma abordagem a esta temática?
Gráfico 18 - O seu currículo de formação inclui uma abordagem a esta temática?
Concluiu-se ainda que, no currículo de formação de 80,6% dos professores inquiridos,
não consta formação referente à temática em estudo. No entanto, existem já, alguns
professores (19,4%),que são detentores de alguma formação em sobredotação.
73
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Uma maioria muito elevada (89,5%) considera que se justifica a existência de cursos de
pós-graduação ou especialização na temática “crianças sobredotadas”.
Frequência
Percentagem
Não
13
10,5
Sim
111
89,5
124
100,0
Total
Tabela 9 - Considera que se justifica a existência de cursos de pósgraduação ou especialização na temática "crianças sobredotadas"?
Gráfico 19 - Considera que se justifica a existência de cursos de pós-graduação ou
especialização na temática "crianças sobredotadas"?
A esta altura da investigação, conseguiu-se saber que, 89,5% dos professores são da
opinião de que se justifica a existência de cursos de pós-graduação ou especialização na
temática “crianças sobredotadas”. Existe no entanto, numa percentagem de 10,5%,
professores que ainda consideram que tal não se justifica.
Adaptações curriculares, Estratégias a adotar no seu comportamento e Identificação do
sobredotado são as matérias consideradas, pelos professores inquiridos, como as mais
importantes nos currículos de formação dos docentes.
Pouco
importante
importante
Muito
importante
Identificação do sobredotado
%
1,3%
56,0%
42,7%
Legislação ligada à sobredotação
%
3,8%
62,8%
33,3%
Adaptações curriculares
%
2,4%
42,2%
55,4%
Estratégias a adotar no seu comportamento
%
1,6%
43,5%
54,8%
74
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel Todos os domínios a), b), c), d).
%
0,0%
37,2%
62,8%
Tabela 10 - Qual o nível de importância que atribui à abordagem de
cada uma das seguintes matérias nos currículos de formação de
docentes?
Gráfico 20 - Qual o nível de importância que atribui à abordagem de cada uma das seguintes matérias nos currículos de
formação de docentes?
No que concerne ainda à formação, na área da sobredotação, os professores foram
inquiridos sobre a importância que dão a temas como a identificação do sobredotado, a
legislação existente ligada à sobredotação, as adaptações curriculares e as estratégias a
adotar no seu comportamento. Neste sentido, e dentro das opções apresentadas, as
opiniões baseiam-se essencialmente na atribuição de importante e muito importante a
cada tema. São assim identificados, dento do nível “importante”, como mais valorizado,
a legislação ligada à sobredotação, a identificação do sobredotado e as adaptações
curriculares. Dento do nível “muito importante”, foram mencionadas as adaptações
curriculares, as estratégias a adotar no seu comportamento e a identificação do
sobredotado. Verificou-se ainda a existência de alguns professores que mencionaram
como “importante” e “muito importante”, a abordagem a todos os itens apresentados.
A avaliar pelas respostas obtidas, os docentes estão a necessitar de formação sobre
legislação relativa à sobredotação. 75,8% menciona ter pouca conhecimento da
legislação.
75
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel Frequência
Percentagem
Percentagem
válida
Percentagem
acumulada
Inexistente
12
9,7
9,7
9,7
Muito
1
,8
,8
10,5
Pouco
94
75,8
75,8
86,3
Suficiente
17
13,7
13,7
100,0
Total
124
100,0
100,0
Tabela 11 - Qual o seu grau de conhecimento relativamente à atual legislação que obriga à diferenciação pedagógica
no caso de crianças com capacidades excecionais?
Gráfico 21 - Qual o seu grau de conhecimento relativamente à atual legislação que obriga à
diferenciação pedagógica no caso de crianças com capacidades excecionais?
Referente ao conhecimento da atual legislação, que obriga à diferenciação pedagógica,
no caso de crianças com capacidades excecionais, 75,8% dos professores afirma ter
pouco conhecimento e 13,7%, conhecimento suficiente. Existe ainda uma percentagem
de 9,7%, que afirma não conhecer a legislação existente.
Dos docentes inquiridos, 74,2 % concorda que se deve englobar o ensino a crianças
sobredotadas na Educação Especial, em termos de legislação e tratamento.
Frequência Percentagem
Não
32
25,8
Sim
92
74,2
Total
124
100,0
Tabela 12 - Parece-lhe correto englobar o ensino a crianças sobredotadas na Educação Especial, em termos de
legislação e tratamento?
76
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Gráfico 22 - Parece-lhe correto englobar o ensino a crianças sobredotadas na Educação
Especial, em termos de legislação e tratamento?
Sobre o fato de englobar o ensino de crianças sobredotadas na Educação Especial, em
termos de legislação e tratamento, 74,2% dos inquiridos refere ser correto, contrapondo
com os restantes 25,8%, que são da opinião de que não é correto.
80,6% dos docentes, considera que as crianças sobredotadas deverão estar integradas
no ensino regular integrado na turma e 15,3% no ensino regular em classes especiais.
Frequência
Percentagem
Percentagem
válida
Percentagem
acumulada
Em escolas especiais
5
4,0
4,0
4,0
No ensino regular em classes especiais
19
15,3
15,3
19,4
No ensino regular integrado na turma
100
80,6
80,6
100,0
Total
124
100,0
100,0
Tabela 13 - Acha que as crianças sobredotadas deverão estar integradas
Gráfico 23 - Acha que as crianças sobredotadas deverão estar integradas:
77
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Pelo observado, 80,6% dos professores refere que as crianças sobredotadas deverão
estar integradas nas turmas do ensino regular e 15,3% defende que estas deverão ser
integradas no ensino regular, no entanto, em classes especiais. Existe ainda uma
pequena percentagem (4%) que acha que as crianças sobredotadas deverão ser
integradas em escolas especiais.
A maioria dos docentes (67,0%), considera que a integração em turmas regulares
introduzindo alterações no processo de ensino/aprendizagem deverá ser a solução
adotada no processo de ensino de crianças sobredotadas.
Aceleração do processo de ensino
Integração em turmas regulares introduzindo alterações
no processo de ensino/aprendizagem
Total
Frequência
Percentagem
33
33,0
67
67,0
124
100,0
Tabela 14 - Qual considera, das seguintes soluções, aquela que
deverá ser adotada no processo de ensino de crianças sobredotadas?
Gráfico 24 - Qual considera, das seguintes soluções, aquela que deverá ser adotada no processo de
ensino de crianças sobredotadas?
78
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Dos professores que mencionaram que as crianças sobredotadas devem ser integradas
no ensino regular, integradas na turma, foi-lhes pedido que indicassem qual (ais), das
soluções apresentadas, considerava ser as adotadas no processo ensino aprendizagem.
Neste seguimento, 67% dos inquiridos mencionaram as alterações no processo de
ensino aprendizagem como a mais relevante e 33% defende a aceleração do processo de
ensino.
Os obstáculos mais designados que o professor poderá encontrar no bom
acompanhamento dos alunos sobredotados são a falta de formação e a falta de apoio de
técnicos na área da psicologia da educação (20,9%) e falta de tempo para dar mais apoio
a estes alunos (17,5%).
Freq.
%
Rejeição da turma em que o aluno sobredotado está inserido
17
4,2
Número excessivo de alunos por turma
57
14,2
Falta de formação por parte dos docentes
84
20,9
Falta de tempo para dar mais apoio a estes alunos
70
17,5
Exigência de cumprimento de programas
52
13,0
Falta de apoio de técnicos na área da psicologia da educação
84
20,9
Falta de sensibilização, por parte da comunidade educativa para esta problemática
37
9,2
Total
401
100,0
Tabela 15 - Quais os principais obstáculos que o professor poderá
encontrar no bom acompanhamento dos alunos sobredotados?
Gráfico 25 - Quais os principais obstáculos que o professor poderá encontrar no bom acompanhamento dos alunos
sobredotados?
79
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
De um modo mais pormenorizado, no que se refere aos principais obstáculos que o
professor poderá encontrar no bom acompanhamento dos alunos sobredotados, 66,9%
vão para a falta de formação por parte dos docentes, 66,1% para a falta de apoio de
técnicos na área da psicologia da educação, 56,5% para a falta de tempo para dar mais
apoio a estes alunos e 46,8%, para o número excessivo de alunos por turma. São assim,
na opinião dos docentes, a falta de formação por parte dos docentes, a falta de apoio de
técnicos na área da psicologia da educação, a falta de tempo para dar mais apoio a estes
alunos e o número excessivo de alunos por turma, os obstáculos mais significativos no
acompanhamento ao aluno sobredotado.
Apenas 8,9 considera que não se sente capaz para acompanhar uma criança sobredotada.
Por sua vez, 83,9% dos professores, considera que é capaz, mas com o apoio de outros
profissionais, de preferência de um psicólogo (51,9%).
Freq.
%
Não
11
8,9
Sim
Sim, mas recorrendo a ajuda de outros profissionais
9
7,3
104
83,9
Total
124
100,0
Tabela 16 - Sente-se capaz de acompanhar, a nível escolar, uma criança sobredotada?
Freq.
%
Psicólogo
109
51,9
Professor especializado
Médico escolar
93
44,3
8
3,8
Total
210
100,0
Tabela 17 - Caso necessite de recorrer a outras ajudas
profissionais, quem procuraria para ajudar nessa tarefa?
80
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Gráfico 26 - Sente-se capaz de acompanhar, a nível escolar, uma criança sobredotada?
Quanto ao fato de se sentirem capazes de acompanhar um aluno sobredotado, a maioria
dos professores (83,9%), refere que se sente capacitado, no entanto necessitaria da ajuda
de outros profissionais. Existe uma pequena percentagem de 7,3%, que se apresenta
como capaz de acompanhar o aluno sobredotado, sem apoio.
Gráfico 27 - Caso necessite de recorrer a outras ajudas profissionais, quem procuraria para
ajudar nessa tarefa?
No caso de se verificar a necessidade de recorrer a outras ajudas, no acompanhamento
do aluno sobredotado, é mencionado com maior importância o psicólogo (88,7%),
seguido do professor especializado (74,2%).
81
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
A implementação de estratégias para desenvolver as capacidades do aluno sobredotado,
tem repercussões bastante significativas (82,3%) ou muito significativas (12,9%) no
desempenho escolar do aluno.
Freq.
%
Bastante significativas
102
82,3
Muito significativas
16
12,9
Pouco significativas
6
4,8
124
100,0
Total
Tabela 18 - No caso de ser capaz de adotar estratégias para desenvolver as
capacidades do aluno sobredotado, que repercussões acha que daí advirão, a
nível do seu desempenho escolar?
Gráfico 28 - No caso de ser capaz de adotar estratégias para desenvolver as capacidades do aluno
sobredotado, que repercussões acha que daí advirão, a nível do seu desempenho escolar?
Partindo da hipótese que o professor, no acompanhamento ao aluno sobredotado, adota
estratégias diferenciadas, para o desenvolvimento das suas capacidades, 82,3% dos
professores acredita que a repercussão no desempenho escolar, será bastante positiva,
seguindo-se os que acham que conseguiriam repercussão muito significativa no
desempenho escolar, numa percentagem de 12,9%.
82
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Por último, 87,1% dos inquiridos, considera que nas suas aulas, a criatividade, a
intuição e a imaginação são valorizadas em termos de conteúdo e processo.
Freq.
%
Não
5
4,0
Não sabe
11
8,9
Sim
108
87,1
Total
124
100,0
Tabela 19 - Acha que, nas suas aulas, a criatividade, a intuição e a imaginação
são valorizadas, curricularmente, em termos de conteúdo e processo?
Gráfico 29 - Acha que, nas suas aulas, a criatividade, a intuição e a imaginação são
valorizadas, curricularmente, em termos de conteúdo e processo?
Uma criança sobredotada pode apresentar características como a criatividade, a intuição
e a imaginação. Os professores foram também questionados acerca da valorização
destas características, em contexto de sala de aula, em termos de conteúdo e processo. A
maioria (87,1%), refere que tal situação se verifica, 4% diz que não e 8,9% não sabe.
Verificou-se, e a titulo de sumário, na operacionalização da H.G.1. da investigação, que:
- Os professores com formação em sobredotação afirmam que estão mais preparados
para trabalhar com os alunos sobredotados do que os professores sem formação nessa
83
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
área (29,2% vs 2,0%), sendo a diferença estatisticamente significativa, teste exato de
Fisher = 17,360, p = ,000.
Valor
gl
Sig.
Pearson Chi-Square
22,924
2
,000
Likelihood Ratio
19,678
2
,000
Fisher's Exact Test
17,360
N of Valid Cases
000
124
Tabela 20 – Teste do Qui-quadrado - Formação vs
preparação
Sente-se capaz…
Formação
Não
Sim
11
0
11
% sente-se capaz…
100,0%
0,0%
100,0%
% formação
11,0%
0,0%
8,9%
% do total
8,9%
0,0%
8,9%
2
7
9
% sente-se capaz…
22,2%
77,8%
100,0%
% formação
2,0%
29,2%
7,3%
% do total
1,6%
5,6%
7,3%
87
17
104
Freq.
Não
Freq.
Sim
Total
Freq.
Sim, mas recorrendo a
% sente-se capaz…
83,7%
16,3%
100,0%
ajuda de outros profissionais
% formação
87,0%
70,8%
83,9%
% do total
70,2%
13,7%
83,9%
100
24
124
% sente-se capaz…
80,6%
19,4%
100,0%
% formação
100,0%
100,0%
100,0%
% do total
80,6%
19,4%
100,0%
Freq.
Total
Tabela 21 - Formação vs preparação
- Os professores com formação em sobredotação afirmam que têm suficiente
informação para reconhecer uma criança sobredotada (54,2% vs 9,0%), sendo a
diferença estatisticamente significativa, teste exato de Fisher = 23,485, p = ,000.
Valor
gl
Sig.
Pearson Chi-Square
28,070
3
,000
Likelihood Ratio
23,473
3
,000
84
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel Fisher's Exact Test
23,485
N of Valid Cases
,000
124
Tabela 22 - Teste do Qui-quadrado – Formação vs
identificação
Reconhecer
Formação
Não
Sim
2
1
3
% reconhecer…
66,7%
33,3%
100,0%
% formação
2,0%
4,2%
2,4%
% do total
1,6%
0,8%
2,4%
10
1
11
% reconhecer…
90,9%
9,1%
100,0%
% formação
10,0%
4,2%
8,9%
% do total
8,1%
0,8%
8,9%
79
9
88
% reconhecer…
89,8%
10,2%
100,0%
% formação
79,0%
37,5%
71,0%
% do total
63,7%
7,3%
71,0%
9
13
22
% reconhecer…
40,9%
59,1%
100,0%
% formação
9,0%
54,2%
17,7%
% do total
7,3%
10,5%
17,7%
100
24
124
% reconhecer…
80,6%
19,4%
100,0%
% formação
100,0%
100,0%
100,0%
80,6%
19,4%
100,0%
Freq.
Muita informação
Freq.
Nenhuma informação
Freq.
Pouca informação
Freq.
Suficiente informação
Freq.
Total
Total
% do total
Tabela 23 - Formação vs identificação
- A proporção de professores que conhecem crianças sobredotadas e que afirmam que
têm suficiente informação para reconhecer uma criança sobredotada como um aluno
com Necessidades Educativas Especiais (NEE), é maior do que a proporção de
professores que não conhecem crianças sobredotadas e que afirmam que têm suficiente
informação para reconhecer uma criança sobredotada como um aluno com NEE (41,7%
vs 15,2%), sendo a diferença estatisticamente significativa, teste exato de Fisher =
7,391, p = ,043.
85
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel Valor
gl
Sig.
Pearson Chi-Square
8,209
3
,042
Likelihood Ratio
7,639
3
,054
Fisher's Exact Test
7,391
N of Valid Cases
,043
124
Tabela 24 - Teste do Qui-quadrado – Conhecimento vs
identificação
Reconhecer
conhece
Não
Sim
2
1
3
% reconhecer…
66,7%
33,3%
100,0%
% formação
1,8%
8,3%
2,4%
% do total
1,6%
0,8%
2,4%
11
0
11
100,0%
0,0%
100,0%
% formação
9,8%
0,0%
8,9%
% do total
8,9%
0,0%
8,9%
82
6
88
% reconhecer…
93,2%
6,8%
100,0%
% formação
73,2%
50,0%
71,0%
% do total
66,1%
4,8%
71,0%
17
5
22
% reconhecer…
77,3%
22,7%
100,0%
% formação
15,2%
41,7%
17,7%
% do total
13,7%
4,0%
17,7%
112
12
124
% reconhecer…
90,3%
9,7%
100,0%
% formação
100,0%
100,0%
100,0%
90,3%
9,7%
100,0%
Freq.
Muita informação
Freq.
Nenhuma informação
% reconhecer…
Freq.
Pouca informação
Freq.
Suficiente informação
Freq.
Total
Total
% do total
Tabela 25 - Conhecimento vs identificação
O segundo instrumento de recolha de dados utilizado nesta investigação foi, tratou-se da
escala de avaliação para professores do 1º Ciclo, que foi aplicada aos mesmos
indivíduos que responderam ao inquérito por questionário.
Pretende-se desta feita, confirmar a H.G.2. - O género, o ano curricular em que se
encontram os alunos e o tempo de conhecimento dos alunos, por parte do professor
(continuidade letiva), são fatores que influenciam a perceção dos professores na
identificação de características relacionadas com o autoconceito, em crianças com ótimo
86
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
desempenho
escolar,
em
diferentes
domínios
(Competência
Escolar,
Conduta/Comportamento, Aceitação Social, Competência Atlética, Aparência Física e
Autoestima Global).
Um pouco mais de metade da amostra dos melhores alunos, em que os docentes
pensaram, para responder à escala para professores, baseada na escala SPPC de Harter e
elaborada por Bastos (2009), são do género feminino (54%).
Gráfico 30 - Género dos alunos considerados os melhores da turma
Os melhores alunos estão distribuídos, mais ou menos uniformemente, pelos 4 anos de
escolaridade do 1º Ciclo do Ensino Básico. Assim, 33,1% frequenta o 3º ano, 23,4% o
2º ou o 4º ano e 20,2% frequenta o 1º ano.
Gráfico 31 - Distribuição, por ano letivo, dos alunos considerados os melhores da turma
A consistência das dimensões, foi avaliada com recurso ao coeficiente de consistência
Alfa de Cronbach. Os valores obtidos variam entre um mínimo de 0,777 (razoável) na
dimensão comportamentos e um máximo de 0,966 (excelente) na dimensão
competências atléticas. Estes valores validam a escala utilizada enquanto instrumento de
investigação. A categorização dos valores do Alfa tem como referência os valores
publicitados em Hill (2005).
87
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel Alfa de
Cronbach
Nº de itens
Competências escolares
,823
9
Comportamentos
,777
5
Aceitação social
,909
6
Competências Atléticas
,966
7
Aparência física
,932
5
,921
7
Autoestima global
Tabela 26 - Consistência interna das dimensões da escala de
avaliação para professores do 1º Ciclo do Ensino Básico
Gráfico 32 – Competências avaliadas pela escala de avaliação para
professores do 1º Ciclo do Ensino Básico
A distribuição das respostas dos professores, na escala usada, pode ser apreciada na
Tabela 27 - Escala de avaliação para professores do 1º Ciclo do Ensino Básico. Nela
se evidenciam em cinza claro, as respostas mais frequentes (moda). A afirmação com a
qual os professores mais concordaram quando pensam no melhor aluno da turma é tem
maior capacidade intelectual que a maioria os seus colegas (77,4%) e aquela com que
menos concordaram foi envolveu-se frequentemente em conflitos (47,2%).
Raramente
Colocou muitas questões na sala de aula.
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
Falou muito sem ser solicitado.
Habitualmente fez os trabalhos de casa às várias disciplinas.
Respondeu rápida e acertadamente às solicitações do(a)
professor(a), qualquer que seja o tema.
Tem maior capacidade intelectual que a maioria os seus colegas.
Tem um vocabulário rico para a idade e o ano de escolaridade
que frequenta.
Compreendeu com facilidade a informação transmitida e
88
4
3,2
3
2,4
Poucas
vezes
Algumas
vezes
Quase sempre
ou sempre
Total
3
2,4
8
6,5
5
4,1
4
3,2
3
2,4
3
2,4
9
41
33,1
55
44,4
28
22,8
45
36,3
25
20,2
31
25,0
40
80
64,5
57
46,0
90
73,2
75
60,5
96
77,4
87
70,2
75
124
100,0
124
100,0
123
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
124
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel recorda-a com facilidade.
Aplicou os conhecimentos adquiridos numa matéria, noutra
matéria diferente.
Cumpriu adequadamente as obrigações e os deveres escolares.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Assumiu responsabilidades e obrigações.
Comportou-se bem na sala de aula.
Relacionou-se facilmente com os adultos.
Envolveu-se frequentemente em conflitos.
Comportou-se bem no recreio escolar.
Relacionou-se facilmente com os pares.
Foi-lhe fácil fazer amigos.
Tem os amigos que deseja.
Tem muitos amigos.
É conhecido e estimado pelos colegas.
É mais popular do que a maioria dos seus colegas.
Empenhou-se na prática de desportos e atividades físicas.
Deu importância à prática de desportos e atividades físicas.
Foi bom/boa em todos os desportos.
Obteve êxito em desportos novos.
Foi persistente e ativo(a) nas atividades físicas.
Preferiu participar em vez de observar os jogos e desportos.
É mais competente em desportos e atividades físicas do que a
maioria dos seus colegas.
Gosta do seu corpo.
Gosta do seu aspeto físico.
Acha que o seu peso e altura estão adequados.
Acha a sua aparência física adequada.
Tem melhor aparência física do que a maioria dos seus colegas.
Gosta do tipo de pessoa que é.
89
2
1,6
3
2,4
2
1,6
58
47,2
2
1,6
2
1,6
6
4,8
12
9,8
4
3,3
4
3,2
12
9,7
13
10,5
8
6,5
12
9,7
22
17,7
1
,8
2
1,6
7,3
33
26,6
8
6,5
24
19,4
9
7,3
6
4,8
47
38,2
17
13,7
13
10,5
20
16,1
31
25,2
34
27,6
38
30,6
57
46,3
41
33,3
44
35,5
50
40,3
52
41,9
47
37,9
46
37,1
54
43,5
15
12,2
16
13,0
18
14,8
18
14,5
24
19,5
20
16,3
32,3
68
54,8
66
53,2
71
57,3
61
49,2
64
51,6
12
9,8
72
58,1
68
54,8
78
62,9
74
60,2
67
54,5
62
50,0
48
39,0
55
44,7
53
42,7
50
40,3
50
40,3
46
37,1
39
31,5
35
28,2
90
73,2
88
71,5
83
68,0
86
69,4
85
69,1
82
66,7
60,5
21
16,9
50
40,3
26
21,0
52
41,9
54
43,5
6
4,9
33
26,6
41
33,1
26
21,0
18
14,6
22
17,9
18
14,5
6
4,9
23
18,7
23
18,5
12
9,7
9
7,3
23
18,5
27
21,8
13
10,5
18
14,6
19
15,4
20
16,4
20
16,1
12
9,8
21
17,1
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
123
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
123
100,0
123
100,0
124
100,0
123
100,0
123
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
124
100,0
123
100,0
123
100,0
122
100,0
124
100,0
123
100,0
123
100,0
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel Está satisfeito consigo próprio.
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Gosta de ser tal como é.
Está satisfeito(a) com a forma como faz as coisas.
Gosta da maneira como conduz a sua vida.
Tem melhor comportamento do que a maioria dos seus colegas.
Tem mais autoestima do que a maioria dos seus colegas.
21
16,9
19
15,3
19
15,3
20
16,4
15
12,1
23
18,5
4
3,2
81
65,3
83
66,9
83
66,9
83
68,0
51
41,1
79
63,7
22
17,7
22
17,7
22
17,7
19
15,6
54
43,5
22
17,7
124
100,0
124
100,0
124
100,0
122
100,0
124
100,0
124
100,0
Tabela 27 - Escala de avaliação para professores do 1º Ciclo do Ensino Básico
Na Tabela 28 - Estatísticas descritivas das dimensõe, podem apreciar-se as
estatísticas descritivas, valores mínimos e máximos, médias e respetivos desvios padrão
das dimensões da escala. A dimensão mais valorizada foi competências escolares (3,48)
e a menos valorizada foi a dimensão competências atléticas (2,59).
N
Mínimo Máximo Média
Desvio
padrão
Competências escolares
123
2,11
4,00
3,48
,38
Comportamentos
123
1,80
4,00
3,20
,50
Aceitação social
121
1,67
4,00
2,85
,56
Competências Atléticas
123
1,00
4,00
2,59
,75
Aparência física
121
1,80
4,00
2,97
,49
Autoestima global
122
1,86
4,00
3,03
,50
Tabela 28 - Estatísticas descritivas das dimensões
Perceção dos professores e género dos alunos
No que respeita à perceção dos professores, tendo em conta o género dos alunos,
encontraram-se as seguintes diferenças estatisticamente significativas:
Feminino
Masculino
M
Dp
M
Dp
Sig.
Competências escolares
3,53
,35
3,43
,43
,202
Comportamentos
3,34
,43
3,05
,55
,001 *
Aceitação social
2,97
,50
2,71
,60
,012 *
Competências Atléticas
2,48
,79
2,75
,70
,048 *
Aparência física
3,06
,50
2,88
,47
,049 *
90
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel Autoestima global
* p ≤ ,05
,47
3,15
2,89
,52
,003 *
Tabela 29 - Significância das diferenças por género
Comportamentos, t(120) = 3,261, p = ,001, os professores tendem a avaliar
significativamente melhor os comportamentos das alunas do que o comportamento dos
alunos (3,34 vs 3,05).
Aceitação social, t(118) = 2,594, p = ,012, os professores têm uma perceção
significativamente mais positiva da aceitação social das alunas do que dos alunos (2,97
vs 2,71).
Competências atléticas, t(120) = -1,997, p = ,048, os professores têm uma perceção
significativamente mais positiva das competências atléticas dos alunos do que das
alunas (2,75 vs 2,48).
Aparência física, t(118) = 1,987, p = ,049, os professores têm uma perceção
significativamente mais positiva da aparência física das alunas do que dos alunos (3,06
vs 2,88).
Autoestima global, t(119) = 3,005, p = ,003, os professores têm uma perceção
significativamente mais positiva da autoestima global das alunas do que dos alunos
(3,15 vs 2,89).
Gráfico 33 - Distribuição dos alunos, por género, tendo em conta os
diferentes domínios em que foram avaliados.
Perceção dos professores e tempo de acompanhamento dos alunos (continuidade
letiva)
No que respeita à continuidade letiva, encontraram-se as seguintes diferenças
estatisticamente significativas:
91
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
1 ano
2 anos
3 anos
4 anos
M
Dp
M
Dp
M
Dp
M
Dp
Sig.
Competências escolares
3,53
,37
3,50
,37
3,40
,38
3,51
,54
,530
Comportamentos
3,30
,50
3,14
,45
3,13
,57
3,33
,57
,325
Aceitação social
2,96
,62
2,84
,50
2,67
,54
3,06
,53
,089 *
Competências Atléticas
2,89
,69
2,45
,80
2,42
,72
2,56
,76
,025 **
Aparência física
3,07
,57
2,97
,40
2,84
,49
3,07
,49
,240
3,16
,55
3,03
,43
2,83
,49
3,13
,51
,043 **
Autoestima global
* p ≤ ,10 ** p ≤ ,05
Tabela 30 - Significância das diferenças por ano de escolaridade
Aceitação social, F(3, 117) = 2,228, p = ,089, o teste de comparação múltipla a
posteriori de Tukey indicou que, os professores que conhecem os alunos há mais tempo
(4 anos) percecionam de forma significativamente mais positiva as competências sociais
dos seus melhores alunos, do que os que os conhecem há 1 ano (2,96 vs 3,06).
Tempo
N
Subset for alpha = 0.05
1
3 anos
31
2,66
2 anos
38
2,83
1 ano
41
4 anos
11
Sig.
2
2,83
2,96
3,06
3,06
,081
,177
Tabela 31 - Teste de Tukey – Conhecimento dos alunos vs
perceção das suas competências sociais
Competências Atléticas, F(3, 119) = 3,221, p = ,025, o teste de comparação múltipla a
posteriori de Tukey indicou que, os professores que conhecem os alunos há menos
tempo (1 ano) percecionam de forma significativamente mais positiva as competências
atléticas dos seus melhores alunos, do que os que os conhecem há 4 anos (2,89 vs 2,56).
Tempo
N
Subset for alpha = 0.05
1
3 anos
33
2,42
2 anos
39
2,44
4 anos
10
2,56
1 ano
41
Sig.
2
2,56
2,89
,167
,244
Tabela 32 - Teste de Tukey - Conhecimento dos alunos vs perceção das suas
competências atléticas
92
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Auto estima global, F(3, 118) = 2,807, p = ,043, o teste de comparação múltipla a
posteriori de Tukey indicou que, os professores que conhecem os alunos há menos
tempo (1 ano) percecionam de forma muito próxima a auto estima global dos seus
melhores alunos, do que os que os conhecem há 4 anos (3,16 vs 3,13).
N
Tempo
Subset for alpha = 0.05
1
2
3 anos
32
2,83
2 anos
39
3,02
3,02
4 anos
11
3,13
3,13
1 ano
40
Sig.
3,16
,111
,135
Tabela 33 - Teste de Tukey - Conhecimento dos alunos vs
perceção da sua auto estima globa.
Gráfico 34 - Distribuição dos alunos, por número de anos em que o
professor os acompanha, tendo em conta os diferentes domínios em que
foram avaliados.
Perceção dos professores e ano curricular em que o aluno se encontra
No que respeita à perceção dos professores sobre os seus melhores alunos, tendo em
conta o ano curricular em que se encontra, encontraram-se as seguintes diferenças
significativas:
1º ano
2º ano
3º ano
4º ano
M
Dp
M
Dp
M
Dp
M
Dp
Sig.
Competências escolares
3,50
,37
3,42
,35
3,55
,32
3,42
,51
,421
Comportamentos
3,20
,55
3,17
,43
3,22
,50
3,24
,57
,951
Aceitação social
2,90
,68
2,80
,45
2,90
,57
2,80
,57
,819
93
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel Competências Atléticas
2,90
,76
2,66
,74
2,43
,76
2,51
,72
,082*
Aparência física
3,11
,52
2,97
,41
2,91
,50
2,97
,53
,479
Autoestima global
* p ≤ ,10 ** p ≤ ,05
3,20
,52
3,05
,45
2,94
,49
3,00
,54
,222
Tabela 34 - Significância das diferenças por ano curricular em que o aluno se encontra
Competências Atléticas, F(3, 119) = 2,289, p = ,082, o teste de comparação múltipla a
posteriori
de
Tukey
indicou
que,
os
professores
percecionam
de
forma
significativamente mais positiva as competências atléticas dos alunos do 1º ano do que
as dos alunos do 4º ano (2,90 vs 2,51).
Tempo
N
Subset for alpha = 0.05
1
1º ano
25
2,90
2º ano
29
2,66
3º ano
41
4º ano
28
Sig.
2
2,66
2,43
2,51
2,51
,247
,364
Tabela 35 - Teste de Tukey – Ano de escolaridade em que
se encontra o aluno vs perceção das suas competências
atléticas
Gráfico 35 - Distribuição dos alunos, por ano curricular em que se
encontra, tendo em conta os diferentes domínios em que foram avaliados.
94
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
A esta altura, e a título de sumário, no que respeita à operacionalização da H.G.2. da
investigação, verificou-se que:
- Na aplicação da escala, avaliando cada aluno nas diferentes competências a que se
propunha, nos diferentes itens apresentados, verificou-se, através da frequência das
respostas dadas, que os professores afirmam que, o seu melhor aluno é-o porque
apresenta maior capacidade intelectual que a maioria dos seus colegas e é aquele que
apresenta um melhor comportamento, sendo o que menos se envolve frequentemente
em conflitos. É ainda pertinente salientar que, a dimensão mais valorizada pelos
professores na avaliação dos seus melhores alunos é a dimensão das competências
escolares e a menos valorizada a que respeita às competências atléticas;
- No que respeita ao género dos alunos, considerados os melhores da turma, verificou-se
que estes se encontram distribuídos de forma mais ou menos uniforme, pelos quatro
anos de escolaridade do 1º Ciclo do Ensino Básico. No entanto, é de mencionar que,
destes, os professores percecionam como o seu melhor discente, numa percentagem um
pouco superior, crianças do sexo feminino comparativamente com as do sexo
masculino.
- Ainda no que concerne ao género dos alunos avaliados, os professores tendem a
percecionar, significativamente melhor, nas diferentes dimensões a avaliar, discentes do
sexo feminino do que discentes do sexo masculino. De todas as dimensões avaliadas,
apenas a dimensão das competências atléticas, é percecionada de forma mais positiva
nos alunos do que nas alunas avaliadas.
- Os professores percecionam de forma significativamente mais positiva as
competências atléticas dos alunos do 1º ano do que as dos alunos do 4º ano.
- Os professores que conhecem os alunos há mais tempo (4 anos), percecionam de
forma significativamente mais positiva as competências sociais dos seus melhores
alunos, do que os que os conhecem há apenas 1 ano, sendo que, no que respeita às
competências atléticas e à autoestima global, a perceção inverte-se quando se tem em
conta a continuidade letiva.
95
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
2. Abordagem qualitativa e resposta às questões colocadas
Prosseguindo com a apresentação dos resultados, passa-se a esta altura, à análise
qualitativa do estudo. Com a informação recolhida junto da professora titular de turma,
através da entrevista semiestruturada, se inicia a apresentação dos resultados obtidos
para o pendor qualitativo. A entrevista (cujo extrato transcrito se encontra em anexo 10)
foi toda ela voltada para o tema da sobredotação, tomando como base um aluno
sobredotado, designado por A., inserido na turma do ensino regular. Através da análise
de conteúdo, seleção e categorização de unidades de conteúdo foi possível a extração de
dados a tratar estatisticamente.
Através das palavras da professora titular de turma, consegue-se dar resposta às
questões 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 colocadas anteriormente em 2.iv.i. e fazer uma representação
quantitativa apresentada no gráfico que se segue.
Gráfico 36 - Depoimento da professora titular
a) A continuidade letiva e períodos de tempo mais longos com o mesmo professor (titular),
favorecem as relações interpessoais do aluno sobredotado;
b) O aluno sobredotado é visto como um aluno com Necessidades Educativas Especiais;
c) Desconhecimento inicial dos professores e crença em mitos existentes sobre a sobredotação são
barreiras no atendimento ao aluno sobredotado;
d) Trabalhar com um aluno sobredotado é um desafio que exige o recurso a estratégias pedagógicas
diferenciadas;
e) Capacidades excecionais como memória, raciocínio lógico e vocabulário avançado, são
facilitadores da aprendizagem do aluno sobredotado;
96
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel f)
A manifestação de interesses não comuns à maioria das crianças, dificulta a integração inicial do
aluno sobredotado numa turma e condiciona as suas amizades;
g) Características como ser pacífico, não conflituoso e afável, favorecem as relações interpessoais
do aluno sobredotado;
h) Características como ser espontâneo e intuitivo, interferem no cumprimento das regras de sala de
aula, dificultando, por vezes, também a sua identificação como sobredotado e confundindo com
outra (s) problemática (s);
i)
A maturidade e o comportamento do aluno sobredotado, em contexto de sala de aula/escola,
depende de um ambiente familiar estimulante e organizado;
j)
O nível de concentração na realização das tarefas de sala de aula depende do interesse pelo tema;
k) Impor tempo para a realização das tarefas facilita a sua conclusão;
l)
O apoio psicológico é um facilitador da aprendizagem de um aluno sobredotado;
m) A falta de alguns recursos na escola é vista como entrave ao desenvolvimento ótimo das
capacidades do aluno sobredotado;
n) O acesso, por parte da família, aos recursos inexistentes na escola, facilita o desenvolvimento das
capacidades do aluno sobredotado;
o) A falta de formação na área da sobredotação, de legislação específica e de bibliografia e
documentação com conteúdos teóricos e práticos sobre a temática, assim como a falta de apoios
de profissionais na área, para além dos psicólogos, são vistos como fatores que dificultam a ação
do professor.
Neste gráfico, verifica-se que os aspetos mais relevantes, mencionados pela docente
são: o desconhecimento inicial sobre a sobredotação como barreira no atendimento ao
aluno sobredotado; a necessidade de recurso a estratégias pedagógicas diferenciadas no
atendimento ao aluno sobredotado e a manifestação, por parte deste, de interesses não
comuns à maioria das crianças, como dificuldade de integração inicial do aluno
sobredotado numa turma e condicionante das suas amizades.
Num grau de importância um pouco menor aparecem ainda aspetos como: a
continuidade letiva e períodos de tempo mais longos com o mesmo professor (titular),
como facilitador das relações interpessoais do aluno sobredotado; as capacidades
excecionais como memória, raciocínio lógico e vocabulário avançado, como
facilitadores da aprendizagem do aluno sobredotado; a interferência de características
como ser espontâneo e intuitivo, no cumprimento das regras de sala de aula e, por vezes,
também a sua identificação como sobredotado e confundindo com outra (s)
problemática (s), contrapondo com as características como ser pacífico, não conflituoso
e afável, no favorecimento das relações interpessoais do aluno sobredotado; e a falta de
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
recursos na escola como entrave ao desenvolvimento ótimo das capacidades do aluno
sobredotado.
Seguem-se algumas afirmações retiradas do discurso da docente em questão, que
atestam a veracidade do afirmado no parágrafo anterior:
“(…) o ano passado investiguei mais porque era tudo novidade para mim e não sabia muito
bem como havia de dar a volta à questão. Agora já percebi perfeitamente que um aluno
sobredotado não tem que ser bom em tudo, pode até inclusivamente, se não for bem
acompanhado, ser um mau aluno, pode ter uma área forte e ser menos bom noutras áreas,
principalmente, penso que já domino essas características e já sou mais capaz de, quando e se
me aparecer mais algum aluno com essas características, identifica-lo como sobredotado.”
“A diferenciação pedagógica verificou-se todos os dias, usando atividades e estratégias que
estejam de acordo com os interesses e com o nível de maturidade dele. (…) Todas as estratégias
implementadas têm surtido efeito uma vez que ele este ano está muito mais motivado para vir
para a escola.”
“(…) ele no início não se integrava no grande grupo propriamente, era muito seletivo,
tentando encontrar 1 ou 2 colegas que fossem o mais parecidos possível com ele e as
brincadeiras eram muito centradas no manuseamento de livros por exemplo, ou inventava jogos
de imaginação, o que nem sempre motivava os restantes. (…). Se for com o tipo de criança que
também tem algum interessa nas áreas que ele tem interesse, ele consegue estabelecer uma boa
relação, se for uma criança que está mais virada por exemplo para os jogos de luta ou futebol,
como ele não gosta destas áreas, não se integra muito bem no grupo. De referir que não noto
que exista discriminação ou que ele seja expulso do grupo, mas também não o chamam o que
leva a ele não se integrar nesse grupo.”
Ainda no que respeita aos seus interesses, a professora titular de turma realça o papel da
família no acesso a experiências que vão de acordo com as suas necessidades.
“Ao nível dos interesse de mencionar que são um bocadinho diferentes, mas é um aspeto que
não sei até que ponto estará ligado com a maturidade ou se com o ambiente familiar em que o
A. vive. É uma família muito voltada para os livros, que lhe faculta um ambiente muito
estimulante e organizado, o que facilita e condiciona o seu comportamento.”
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
A professora titular de turma, na altura em que se realizou a entrevista, acompanhava o
aluno já há dois anos letivos consecutivos, o aluno estava a terminar o segundo ano de
escolaridade, ao nível de aquisição de competências de segundo e terceiro ano, tendo
iniciado o seu percurso escolar ao nível do 1º Ciclo com a referida professora. Exposto
este facto, a mesma acrescentou ainda ser este uma mais-valia na aprendizagem do
aluno, fazendo com que este estabelecesse uma relação de amizade e confiança com a
professora, promotora de maior confiança, na realização das suas atividades e evolução
na aquisição das suas competências. O mesmo não se verifica na relação com os outros
professores que o acompanham “Noto que em relação aos outros professores não há aquela
relação de afetividade tão grande com o A. como aquela que eu tenho, justifico isso mais uma
vez com a diferença de tempo despendido com o aluno.”
Na turma em que se inseria o A., e nas palavras da docente, à questão “Tem algum
aluno com NEE? De que tipo?”, este foi considerado um aluno com Necessidades
Educativas Especiais: “Apenas o próprio A. É uma aluno sobredotado e foi-lhe diagnosticado
sobredotação do tipo intelectual, daí que o considere um aluno com Necessidades Educativas
Especiais.”.
“O A. tem uma excelente memória e capacidade raciocínio lógico. (…) possuindo também um
bom vocabulário, uma boa construção frásica, interpreta muito bem e faz inferências tendo em
conta o que está no texto, justificando sempre. De mencionar como área forte também a
comunicação, uma vez que ele consegue expressar muito bem uma ideia, sendo que por vezes
muito lentamente, uma vez que ele tem várias ideias ao mesmo tempo e revela alguma
dificuldade em selecionar uma ou outra e desenvolvê-la. Isto revela-se na escrita, sendo os
textos dele por vezes confusos por isso mesmo, o A. junta várias ideias e o texto por vezes fica
confuso de se perceber.” Acrescenta ainda que: “A nível geral ainda é muito difícil ele estar
sentado corretamente na sala de aula. Ao nível da participação tem que ser sempre o primeiro
a falar e dizer tudo o que sabe, se de repente um assunto lhe faz lembrar outro, ele não se inibe
e tem que perguntar naquela hora mesmo que não tenha nada a ver. Mesmo que se imponha ali
uma regra de “tu agora não falas”, “espera pela tua vez”, ele tem que levar a sua avante. Não
é uma criança insolente nem mal-educada, nem nada do género, mas acho que tem essa
necessidade e é muito intuitivo, tem que ser mesmo naquela hora, o que por vezes perturbava o
normal funcionamento da aula.” Menciona ainda que: “No início do ano passado o A. não
tinha esse perfil, até nem era o melhor aluno da turma, porque não gostava de estar na escola,
como já sabia ler e escrever a escola não lhe fazia sentido. No início pensei “Sobredotado mas
em que aspeto? Não vejo nada ali de sobredotado.”. Depois, à medida que fui diferenciando o
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
trabalho, as aprendizagens, realmente notou-se que ele é um aluno com uma grande
capacidade de aprendizagem e que já possui muitos conceitos não da sua faixa etária mas sim
de um nível superior.”
“Tomo como barreira o meu desconhecimento científico, no início, o que levou a ter que
pesquisar. (…) Sinto que existe falta de apoio de especialistas nessa área, um psicólogo por
mais especializado que seja ainda domina muito mais a parte teórica do que a parte prática.
Faltam os recursos necessários nas nossas salas de aula e muito importante também, a falta de
legislação específica, que aborde concretamente esta problemática, que a assuma como uma
Necessidade Educativa Especial e que contemple, por exemplo, medidas como a redução de
turma, na existência de um aluno sobredotado. (…) A escola pública, e esta em concreto, não
tem condições para responder às necessidades de alunos sobredotados.”
A apresentação dos resultados prossegue, ainda referente à perceção dos professores,
mas desta feita, num modo mais lato, uma vez que, ao invés da professora titular, que
falou sobre um caso específico, trata-se de dados recolhidos junto de professores, não
identificados, que deixaram as suas opiniões no blog.
Através das palavras dos docentes mencionados, conseguiu-se dar resposta às questões
8, 9 e 10 colocadas anteriormente em 2.iv.i. e fazer uma representação quantitativa
como a apresentada no Gráfico 37 - Sobredotação no sistema educativo português.
Opiniões dos professores sobre as publicações do blog e Gráfico 38 - Sobredotação na
sociedade portuguesa - Opinião dos professores sobre as publicações do blog.
Gráfico 37 - Sobredotação no sistema educativo português. Opiniões
dos professores sobre as publicações do blog
a)
Os sobredotados não estão todos sinalizados em Portugal;
100
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel b) O Ensino em Portugal está focado na resposta a NEE relacionadas com o insucesso e não no
reconhecimento da sobredotação como uma NEE não relacionada com o insucesso;
c)
As escolas não estão munidas de pessoal qualificado para lidar com a sobredotação;
d) A burocracia, a falta de formação e conhecimentos sobre a sobredotação, são vistos como
entraves à sinalização e acompanhamento de um aluno sobredotado;
e)
Dificuldade na identificação de uma criança sobredotada;
f)
Necessidade de diferenciação das estratégias de trabalho com uma criança sobredotada;
g) A existência de um aluno sobredotado na turma como uma mais-valia para os restantes
alunos;
h) Uma criança sobredotada também é falível em algumas áreas.
Gráfico 38 - Sobredotação na sociedade portuguesa - Opinião dos professores sobre as publicações do
blog
a) Prevalência na sociedade dos mitos acerca da sobredotação;
b) Experiência individual com sobredotados /conhecimentos sobre sobredotação;
c) Prevalência, na nossa sociedade, da ausência dos conhecimentos científicos acerca da
sobredotação.
Nos gráficos apresentados consegue-se ter uma visão ampla de que, na opinião dos
docentes em geral, e no que respeita à temática da sobredotação e crianças
sobredotadas, são tomados como aspetos de maior importância: a burocracia, a falta de
formação e de conhecimentos sobre a sobredotação, como entraves à sinalização e
acompanhamento de um aluno sobredotado; a dificuldade na identificação de uma
criança sobredotada; o facto de que os sobredotados não estão todos sinalizados em
Portugal; a experiência individual com sobredotados / conhecimentos sobre
sobredotação. São mencionados ainda, com um grau de importância um pouco menor: o
facto de as escolas não estarem munidas de pessoal qualificado para lidar com a
101
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
sobredotação; a prevalência na sociedade dos mitos acerca da sobredotação e a
necessidade e importância da diferenciação das estratégias de trabalho com uma criança
sobredotada.
Seguem-se algumas opiniões, recolhidas do referido blog que atestam o explicitado no
parágrafo anterior:
“Atulhados em papéis, grelhas de cálculo de médias de final de período e afins... pode ser que,
de repente, questões de grande importância, como dar mais atenção aos pormenores de cada
aluno, em vez de o ver como um todo em bruto, pode levar a uma má interpretação das suas
problemáticas e/ou capacidades.”
“Acho que devem existir muitas crianças com grandes capacidades nas nossas escolas, mas o
sistema e a burocracia a que estamos sujeitos acaba por ser, se calhar, um entrave para o fato
de estarmos despertos para este tipo de problemática. O facto de serem crianças que
apresentam altas capacidades apenas em algumas áreas e por vezes aspetos menos positivos na
sua conduta, acho que pode também levar a que se ponha de parte a possibilidade existência de
sobredotação.”
Perante as opiniões anteriores verifica-se o perigo da burocracia na sinalização e
acompanhamento de um aluno sobredotado.
“Perante o apresentado não será fácil identificar uma criança sobredotada. Eu pessoalmente,
só por mim, acho que seria apenas capaz de suspeitar de que a criança teria capacidades
acima da média. Teria que estudar o caso com outros profissionais.”
“Duvido que os sobredotados estejam todos identificados. Não estou muito por dentro do
assunto, mas pelo que vi, a identificação de um sobredotado não está aos olhos de cada um, é
necessário certo conhecimento do problema para identificar características de sobredotação,
uma vez que estas estão bastante camufladas.”
“Como professora quase em final de carreira já tive crianças sobredotadas. Os casos com que
lidei não eram crianças boas a tudo, longe disso, mas com grande aptidão para certas áreas.
Sempre achei que as nossas escolas estão muito mal preparadas para receber esse tipo de
crianças. Continua a apostar-se muito no ensino especial direcionado para as crianças com
dificuldades de aprendizagem e muito pouco para as sobredotadas, que são afinal também
crianças com necessidades especiais, com grandes potenciais e para as quais nada se faz.”
102
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
“Já trabalhei com crianças sobredotadas e através dessa experiência constatei que existem
alguns mitos, nomeadamente a noção que as pessoas têm de que um sobredotado é sempre bom
aluno, e que a maioria tem uma personalidade excêntrica. O fato é que muitas destas crianças e
jovens não têm o acompanhamento adequado na escola e por esse fato tornam-se
problemáticos a nível comportamental. Realmente os seus centros de interesse são variados e
quando se dedicam a fundo a uma área apresentam uma motivação infinita, uma curiosidade
ímpar, e uma abordagem criativa que alimenta um pensamento divergente. Realmente nessas
situações atingem a excecionalidade.”
“Ainda existe muito a ideia de que uma criança sobredotada é um "expert" e pronto! Eu
também tinha essa ideia até me deparar com um menino que era sobredotado. E o mais
engraçado é que às primeiras vistas, friso às primeiras, não dava mesmo a entender a sua
problemática... Temos que estar sensibilizados para esta problemática para conseguirmos ser
eficazes na nossa ação e não causar danos nas aprendizagens e na personalidade destas
crianças.”
Verifica-se a consciência de que existem crianças, que podem ser efetivamente
sobredotadas, mas que, ou por falte de formação e/ou conhecimento sobre a temática,
estas estão ainda por identificar. Os professores que já trabalharam com crianças
sobredotadas, afirmam também que, a identificação e o apoio a estas crianças, é por
vezes inadequado uma vez que logo desde o início a problemática é confundida com
outras.
“É preciso ler sobre o assunto para não cair na ideia reducionista que um sobredotado é bom
em tudo...Acredito sinceramente que a nossa sociedade, as escolas em que trabalhamos e o
próprio sistema de ensino não estará muito preparado para dar resposta eficaz às necessidades
destas crianças e que existem ainda mais mitos do que conhecimento da realidade...Isto da
Escola Inclusiva e para todos é muito bonito no papel, porque na realidade, nem todos se
importam com as necessidades individuais de cada aluno. No que respeita à sobredotação, se
calhar, e pela dificuldade de identificação da criança como tal ou dificuldade de adequar as
atividades de sala de aula a estas crianças, a falha no que respeita à inclusão poderá ser mais
visível e prejudicial para estas crianças e suas famílias.”
“Acredito que existem ainda muitos mitos no que respeita à sobredotação. Há necessidade de
formação nesta área e sensibilização da comunidade escolar para lidar com estas crianças.”
“Entrar um menino como o André na sala acho que seria acima de tudo um desafio muito
grande.... Teria que adotar muitas e diferenciadas estratégias de trabalho para que ele não
103
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
desmotivasse em relação à escola. Teria realmente de trabalhar com ele mas, acho que teria
também de recorrer a outros especialistas como um professor especializado ou psicólogo para
poder desenvolver as altas capacidades do André e motivá-lo para a realização de outras.
Pedagogicamente seria um grande desafio sem dúvida...”
“Não minto que pela minha experiência mais facilmente adequava a minha prática pedagógica
a crianças não sobredotadas. Mas se tivesse uma criança como o André esforçar-me-ia para
dar resposta aos seus interesses e necessidades. Sem dúvidas procuraria adquirir uma maior
informação sobre o tema e caso necessitasse pedia apoio especializado.”
Nas palavras dos professores, as escolas não estão ainda munidas dos Recursos
Humanos necessários para o adequado atendimento aos alunos sobredotados, e existem
ainda alguns mitos no que respeita à sobredotação. Trabalhar com uma criança
sobredotada é visto pelos professores como um desafio que exige a adoção de
estratégias adequadas para dar resposta aos seus interesses e necessidades.
O último instrumento utilizado no pendor qualitativo, foi a entrevista semiestruturada
aos encarregados de educação (pais). Através desta entrevista, conseguiram-se aferir
dados de elevada relevância no que respeita à caracterização da criança sobredotada em
contexto familiar e à opinião da família face ao papel desempenhado pela escola. De
mencionar que, através das palavras dos pais, conseguiu-se dar resposta às questões 11,
12, 13, 14, 15, 16, e 17 colocadas anteriormente em 2.iv.i. e fazer uma representação
quantitativa como a apresentada no Gráfico 39 - A criança sobredotada em contexto
familiar - Depoimento dos pais e Gráfico 40 - Postura da família face ao papel da escola
- Depoimento dos pais.
Gráfico 39 - A criança sobredotada em contexto familiar - Depoimento dos pais
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel a)
Crescimento e desenvolvimento iniciais da criança (6 meses - 2 anos) dentro da
normalidade, também no que respeita à fala;
b) Revela interesse por assuntos não muito comuns às outras crianças o que interfere
diretamente nas suas brincadeiras e na seleção das suas amizades;
c)
Apresenta muita curiosidade e questiona tudo opinando de forma muito crítica;
d) Grande capacidade de memória e percurso escolar normal (correspondência idade - ano que
frequenta);
e)
Boa relação com os outros, mantendo posição de líder e exigindo respostas às suas questões;
f)
Apresenta aptidão para atividades desportivas, boa autoestima, e preocupação com estilo de
vida saudável;
g) Autonomia na realização dos trabalhos de casa;
h) Preferências profissionais futuras, bastante improváveis para uma criança da sua idade;
i)
Preocupação no que concerne ao percurso escolar do filho, ao nível de acompanhamento e
apoios prestados;
j)
Preocupação fundamental da família - felicidade do filho proporcionando-lhe o máximo de
experiências e estímulos enriquecedores;
k) Convicção de que o filho será um bom contributo para a sociedade em que está inserido
(Açoriana).
Gráfico 40 - Postura da família face ao papel da escola - Depoimento dos pais
a)
O elevado Q.I. apresentado por uma criança sobredotada, assim como grande aptidão, em
algumas áreas do saber, determinam o diagnóstico de sobredotação aquando o ingresso na
escola;
b) A boa aceitação por parte da escola, determina a boa adaptação da criança sobredotada ao
contexto escolar;
c)
Continuidade letiva (mesmo professor) e o interesse e empenho do professor, impulsionam
tanto o rendimento escolar como o desenvolvimento da criança sobredotada;
d) Trabalhar autonomamente provoca desconcentração e caligrafia descuidada;
e)
Apoio prestado pela escola apenas ao nível psicológico.
105
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Apresenta-se primeiramente, uma caracterização da criança sobredotada em contexto
familiar, mencionando que, na opinião dos pais, e como característica mais relevante, o
interesse por assuntos não muito comuns às outras crianças, o que interfere diretamente
nas suas brincadeiras e na seleção das suas amizades. Seguiu-se a referência a outras,
não menos importantes como: o facto de apresentar muita curiosidade e questionar tudo,
opinando de forma muito crítica; grande capacidade de memória e percurso escolar
normal (correspondência idade - ano que frequenta); boa relação com os outros,
mantendo posição de líder e exigindo respostas às suas questões; aptidão para atividades
desportivas, boa autoestima, e preocupação com estilo de vida saudável; preferências
profissionais futuras, bastante improváveis para uma criança da sua idade; a
continuidade letiva (mesmo professor) e o interesse e empenho do professor, são tidos
como impulsionadores do rendimento escolar e desenvolvimento da criança
sobredotada; e a boa aceitação por parte da escola, como fator determinante na boa
adaptação da criança sobredotada ao contexto escolar.
Seguem-se algumas das afirmações dos encarregados de educação (pais), que justificam
o referido no parágrafo anterior:
“Desde muito pequeno, revelou muito interesse por tudo o que aparecesse nos livros e
documentários que se relacionasse com astronomia, Egipto, Leonardo da Vinci, dinossauros e
história de Portugal.”
“O A. é uma criança que seleciona os seus verdadeiros e amigos mais chegados de acordo com
os seus interesses desde que estes sejam comuns. Sendo que se relaciona também facilmente
com os restantes colegas. Ele mesmo costuma afirmar “Tenho dois mais a minha família
toda.””
“Sim, muitas! Colocar questões sempre foi e é o seu forte. As notícias são sempre um bom mote
para uma pergunta. Tudo lhe desperta curiosidade e implica uma questão, fato que contribui
para que seja uma criança que se distrai facilmente.”
É característica do sobredotado o interesse por assuntos pouco comuns para uma criança
da sua idade e elevada curiosidade, questionando sempre tudo, factos que condicionam
a seleção das suas brincadeiras e amizades.
106
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
“No contar das histórias tinha uma particularidade que era o apontar para as imagens
ilustrativas da parte narrada após termos nós contado a história uma vez, queria ele recontá-la
através das imagens. Tal reconto era realmente fiel à história, chegando a corrigir um ou outro
fato que tivéssemos alterado, tudo isto antes dos 3 anos. Era uma criança que memorizava à
primeira o texto e numa segunda oportunidade de reconto fazia-o de uma forma fidedigna.”
Verifica-se que a criança sobredotada apresenta-se como uma criança com elevado Q.I.
e grande capacidade de memória.
“A sua relação com os adultos, de um modo geral é boa, embora seja de todos eles o que tem
mais dificuldade em perceber que não se interrompe uma conversa de adultos, não sendo nunca
desrespeitador com os adultos, é uma atitude que advém da sua impulsividade e necessidade de
resolução das suas questões.”
“É uma criança que no geral gosta de si, no entanto não é vaidoso nem percebe como é bonito,
não se preocupa se está todo sujo ou não.”
“Sim, ele dá muito importância à prática de desporto e atividades físicas encontrando-se a
praticar várias modalidades de desporto. É uma criança que reconhece também a sua
importância como sendo práticas saudáveis e revela-se também amigo do ambiente.”
A criança sobredotada consegue manter uma boa relação com os adultos assim como
com as outras crianças, assumindo a posição de líder. Apresenta-se como uma criança
com aptidão e interesse pela prática de desporto, com boa auto estima, mas pouco
cuidado com a sua aparência.
“Acreditamos que ele terá um futuro brilhante, entre ser astronauta paleontólogo ou pianista…
Não podemos sonhar com o percurso escolar perfeito, tenho sim que pensar agora que ele irá
criar as suas asas e será muito feliz de certeza.”
“A atual professora acompanha o A. desde setembro de 2010, início do 1º ano de escolaridade.
A professora titular de turma, desde o primeiro momento demonstrou-se interessada,
encarando o A. como um desafio constante, sem nunca baixar os braços nem desenvolver
esforços para que o nosso filho se sentisse o mais confortável e motivado possível na escola.”
“Quando o A. entrou para a escola, tivemos desde logo a preocupação de colocar os
responsáveis a par das nossas inquietações. Tínhamos a séria preocupação de não querer um
107
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
rótulo para o nosso filho, mas desde o primeiro contacto temos a dizer que, na escola realmente
todos foram impecáveis, desde o pessoal auxiliar à professora titular.”
Com a entrevista aos pais da criança sobredotada constatou-se que existe uma
preocupação dos genitores com o percurso escolar do filho, acompanhada também da
consciência de possíveis resultados académicos menos positivos.
É de salientar a satisfação dos genitores com a boa aceitação, por parte da escola e da
professora titular, do seu filho como criança sobredotada, verificando um empenho
excecional por parte da última.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
IV. Triangulação e Discussão dos Resultados
Considera-se que a sobredotação se apresenta como uma problemática de grande
relevância no universo da investigação científica. Na operacionalização do presente
estudo, verificou-se uma vez mais essa importância. É uma realidade existente e
disfarçada. Persistem ainda algumas dúvidas em muitos dos que diretamente estão
implicados, no reconhecimento, identificação e acompanhamento de crianças
sobredotadas, em contexto escolar. Todo este processo merece a preocupação atenta de
investigadores e intervenientes responsáveis, para que o objetivo máximo da qualidade
do atendimento a estas crianças se verifique. Existe a necessidade de uma triangulação
de intervenção ao nível legislativo, escolar e familiar para com as crianças sobredotadas.
Tendo em consideração os resultados obtidos através dos instrumentos aplicados, podese concluir que as hipóteses colocadas no início do estudo, estão de acordo com as
conclusões obtidas e as questões complementares foram respondidas.
Foi definida, como finalidade primordial deste estudo, aferir junto da população
docente, quais os conhecimentos e/ou formação adequada para identificar e trabalhar
com alunos sobredotados e se estes são considerados crianças com Necessidades
Educativas Especiais (NEE), assim como verificar como se apresenta a criança
sobredotada em contexto familiar, ao nível das relações interpessoais, comportamentos
e aptidões específicas, e qual a postura da família face à escola.
Verifica-se através das investigações existentes que, é necessário entender que
sobredotação abarca um conjunto de características, pertencentes a indivíduo, que
conjugadas e interligadas, fazem de um ser, efetivamente um sobredotado. São elas:
capacidade intelectual acima da média, mas não necessariamente excecional;
criatividade elevada e persistência na tarefa. A presença solitária de qualquer uma das
caraterísticas “não faz a sobredotação”. A ideia de associar sobredotação apenas ao
conceito de elevado Q.I. verifica-se limitada, tendo vindo a ser substituída por uma
visão multidimensional que envolve dimensões biológicas, psicológicas, emocionais,
sociais, históricas e culturais. De enfatizar a importância dos fatores ambientais e da
interação do indivíduo com os mesmos realçando também a importância e o papel da
109
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
família no desenvolvimento da criança sobredotada (Alencar, 1989; Falcão, 1992; Silva,
1992; Renzulli, 1994; Serra, 2004; Honsberg, 2006; Fleith, 2007).
Ser sobredotado não é efetivamente ser apenas portador de um Q.I. elevado, sendo que
existem determinadas áreas do saber em que o sobredotado se revela menos capaz.
Facto que se verifica nas opiniões dos participantes do blog, que, revelando experiência
com alunos sobredotados, afirmam ainda existir alguns mitos, nomeadamente a noção
de que um sobredotado é bom em tudo e que a maioria tem uma personalidade
excêntrica. Corrobora também, com o apresentado, nomeadamente no que respeita à
importância do meio e da família, a professora titular de turma do aluno sobredotado,
afirmando que a família é “uma família muito voltada para os livros, que lhe faculta um
ambiente muito estimulante e organizado, o que facilita e condiciona o seu
comportamento.”
Neste seguimento, verifica-se ainda, a inexistência de uma nitidez da sobredotação em
contexto escolar. Os alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) existem
realmente, e por turma, nos dados recolhidos junto dos intervenientes inquiridos por
questionário. Verifica-se uma predominância relevante de 2 a 3 alunos. No entanto
persistem ainda certas reticências em tomar o aluno sobredotado como uma criança com
NEE, quer ao nível da legislação existente quer, efetivamente pelo apurado, em
contexto de sala de aula, juntos dos profissionais de educação intervenientes no estudo.
São muito poucos os profissionais que, tendo por base os seus melhores alunos ao nível
do desempenho escolar, indicam a possibilidade da existência de sobredotação nas suas
salas de aula. Destes, de mencionar a relevância que dão a certas características nas
diferentes vertentes educativas e comportamentais, nomeadamente: Estilos de
Aprendizagem (Capacidade elevada e conhecimentos profundos em domínios
específicos); Motivação Intrínseca (Busca de perfeição); Expressão Criativa
(Prevalência de ideias inesperadas ou originais); Interação com os Pares (Sociabilidade
e Cooperativismo). (Renzulli, 1984; Boas,2003; Serra, 2005; Bastos, 2009;)
É essencialmente em contexto escolar que se deve centrar a atenção no que respeita à
sobredotação, uma vez que a população docente inquirida por questionário, no presente
estudo, ainda não se considera suficientemente informada e formada para acompanhar
alunos sobredotados, assumindo neste sentido a necessidade que existe na abordagem a
esta temática, na formação básica de docentes assim como através de cursos de
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
pós-graduação e/ou especialização na área, para uma melhor e mais correta ação. A
própria professora titular de turma do aluno sobredotado em estudo afirmou que, até ao
contacto com o referido aluno, não possuía informação suficiente acerca da temática,
pelo que teve de investigar, e concorda com a necessidade de formação dos professores
na área da sobredotação. Verificou-se também, junto dos participantes no estudo, que,
temas como as adaptações curriculares, estratégias a adotar face ao seu comportamento
e a identificação do sobredotado como tal, são considerados de grande importância e em
falta no currículo dos mesmos. Face às lacunas assumidas, fica deste modo, e até certo
ponto, comprometido o atendimento a crianças sobredotadas, uma vez que a escola
parece não compreender essas crianças (Serra, 2005; Castro, 2006; Bastos, 2009). Estas
afirmações são também corroboradas pelos professores participantes do blog que
afirmam a necessidade de formação para melhor ação, acreditando também que
trabalhar com uma crianças sobredotada seria um desafio em que teriam que ajustar a
sua postura e adotar estratégias adequadas.
As dificuldades e lacunas encontradas não se restringem apenas ao reconhecimento e
acompanhamento da criança sobredotada. Verifica-se a falta de atendimento a estas
crianças de modo mais específico também ao nível da legislação existente, uma vez que
no universo a que se aplica o presente estudo – a Região Autónoma dos Açores – não
existe legislação específica para o atendimento da sobredotação, como é o caso de uma
outra realidade, também ela portuguesa, em que tal se verifica – A Região Autónoma da
Madeira. No que respeita ao território de Portugal Continental, consta na legislação
existente (Despacho Normativo 1 de 2005 de 5 de Janeiro e Despacho Normativo 50 de
2005 de 9 de Novembro) que, deve existir uma diferenciação pedagógica no caso de
crianças com capacidades excecionais e são contempladas apenas como medidas de
atendimento, a aceleração ou o salto de ano e a aplicação de planos de desenvolvimento
sob várias modalidades de apoio. No entanto, e apesar destas crianças manifestarem
efetivamente necessidades educativas especiais/específicas, por sua vez, no Decreto-Lei
3/2008, que enquadra a educação especial, esta temática não é referida, uma vez que são
considerados alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) aqueles que,
apresentem limitações significativas ao nível da atividade e participação num dos vários
domínios da sua vida. Em suma, o Ensino em Portugal está focado na resposta às NEE
relacionadas com o insucesso e não no reconhecimento da sobredotação como uma NEE
não relacionada com o insucesso. (Fleith et al,2010; DEB, 1998; Hosberger, 2006;
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
Bastos, 2009; ASEP, 2007). Estas considerações são também corroboradas pelos
resultados da presente investigação: quer a professora titular de turma quer os
professores inquiridos e os participantes do blog, afirmaram maioritariamente a falta de
legislação específica no âmbito da sobredotação, na Região Autónoma dos Açores e a
necessidade e importância da existência da mesma, concordando que a existente reduz
apenas uma criança com NEE aquela que apresenta insucesso escolar, principalmente ao
nível académico. Os mesmos intervenientes na investigação partilham da opinião de que
se deve englobar o ensino das crianças sobredotadas na educação especial em termos de
legislação e tratamento. A professora titular de turma acrescenta ainda que o aluno em
estudo é considerado com NEE pela escola referindo-se ainda à falta de legislação
específica, no que respeita à inexistência de medidas educativas mais adequadas, como
por exemplo a redução do número de alunos por turma.
Reportando a investigação aos intervenientes no estudo e concretamente à realidade
existente na Região Autónoma dos Açores, mais propriamente à ilha de S. Miguel,
verifica-se o reconhecimento da necessidade de inclusão, inserindo as crianças
sobredotadas em turmas do ensino regular, implementando alterações no seu processo
de ensino/aprendizagem, concordando também que, todo este processo requer a
intervenção e apoio de vários intervenientes, nomeadamente população docente e
serviços de psicologia. Na literatura existente, constata-se a necessidade de
proporcionar, acima de tudo, um ambiente escolar que favoreça a criatividade, que
proporcione experiências e oportunidades de desenvolvimento que levem ao bem-estar
da criança no contexto escolar e que a repercussão no desenvolvimento das suas
capacidades, seja a mais significativa possível. (Novaes, 1979; Almeida e outros, 2000;
Silva, 1999; Bastos 2009; Orientações Curriculares,1997). Resultante do presente
estudo constata-se que o atendimento a um aluno sobredotado é visto, quer pela
professora titular de turma, quer pelos participantes no blog, como um “desafio”, no que
respeita ao empenho necessário e diversificado, ao nível da sua ação, para o
desenvolvimento ótimo das capacidades da criança sobredotada. Os professores
inquiridos, manifestaram a sua opinião afirmando a necessidade de inclusão do aluno
sobredotado no ensino regular, no entanto, verificou-se também a existência de alguns
obstáculos ao sucesso desta inclusão, mais uma vez a falta de formação e a falta de
apoio de técnicos especializados na área, nomeadamente professores especializados e
psicólogos.
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
No que respeita particularmente à perceção dos professores, população alvo do presente
estudo, acerca das características específicas possíveis de serem apresentadas e
avaliadas nos comportamentos/atitudes das crianças acompanhadas, e no sentido de
aferir quais as que se evidenciam nos diferentes domínios apresentados, procedeu-se à
aplicação da escala de avaliação de autoconceito de Harter, tendo por base os melhores
alunos, no que respeita ao desempenho apresentado, nos vários domínios que se
propunha serem observados.
Concluiu-se que, nos diferentes domínios (Competência Escolar, Conduta /
Comportamento, Aceitação Social, Competência Atlética, Aparência Física e
Autoestima Global), os resultados obtidos confirmam, através da existência de
diferenças significativas, a influência de variáveis como o género do aluno, a
continuidade letiva e o ano curricular em que estes se encontram, na perceção dos
professores, na identificação de características relacionadas com o autoconceito, em
crianças com ótimo desempenho escolar. De mencionar que, no presente estudo, como
comparativo e complementar do estudo de Bastos (2009), foi-se mais além na
investigação, procedendo-se, especificamente no que respeita à aplicação da escala de
avaliação para professores do 1º ciclo do Ensino Básico, ao aprofundamento do objetivo
da aplicação da mesma, na medida em que, se aferiu a influência de variáveis como o
género dos alunos a continuidade letiva e o ano curricular em que se encontram os
mesmos, na perceção dos professores inquiridos. No estudo de Bastos (2009),
verifica-se apenas a perceção dos professores de modo linear, apenas revelando a
perceção dos professores sobre os seus alunos, dos diferentes domínios, sem
especulação da interferência de outras variáveis. Com reporte aos resultados obtidos e
comparados com os de Bastos (2009), verifica-se uma concordância, na medida em que
os professores inquiridos, de um modo geral, e no que respeita ao aluno avaliado,
concordam com a existência de maiores capacidades intelectuais destes alunos,
comparativamente com os restantes colegas, o seu raro envolvimento em conflitos com
os seus pares, como características fulcrais que o(a) tornam o(a) melhor aluno(a) da
turma. Neste sentido, das dimensões apresentadas, a mais valorizada foi a das
Competências Escolares e a menos valorizada foi a das Competências Atléticas.
Prosseguindo, é pertinente e apropriado mencionar que os resultados que se seguem
apresentam-se como complementares ao estudo de Bastos (2009). No caso particular do
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
género das crianças avaliadas, concluiu-se que, é nas alunas que os professores
identificam como características mais positivas, em relação aos alunos, os
Comportamentos apresentados, a Aceitação Social, a Aparência Física e a Autoestima
Global. É apenas no domínio das Competências Atléticas, que os professores
mencionam ser os alunos a apresentar níveis mais positivos do que as alunas. No que
respeita ao tempo em que o professor acompanha o aluno (continuidade letiva), fazendo
a comparação nos extremos de 1 e 4 anos, os resultados divergem, na medida em que,
no que respeita às dimensões percecionadas de maneira mais significativa (Aceitação
Social, Competências Atléticas e Autoestima Global), apenas no primeiro domínio
mencionado, é nos alunos acompanhados há 4 anos que se verifica uma maior perceção
deste. É no acompanhamento aos alunos por período de um ano que se verifica uma
maior prevalência dos domínios das Competências Atléticas e Autoestima Global.
Finalmente, e respeitante ao ano curricular em que se encontram, as diferenças
significativas evidenciam-se ao nível das Competências Atléticas, sendo mais
percetíveis nos alunos acompanhados há apenas um ano, do que nos que já são
acompanhados há 4 anos. Poderá aqui haver interferência de outras variáveis, ligadas à
evolução (idade) do aluno.
Confrontando os resultados obtidos por via qualitativa na investigação, através das
entrevistas aplicadas à professora titular do aluno sobredotado e aos encarregados de
educação e as opiniões deixadas no blog divulgado, consegue-se estabelecer uma
relação de harmonia entre estes resultados e os obtidos quantitativamente, assim como
com a literatura científica pertinente. De mencionar que, o depoimento da professora
titular de turma corrobora as opiniões dos professores participantes no blog e a opinião
dos encarregados de educação, no que respeita à conceção que possuem sobre a ação da
escola, em particular em assuntos fulcrais como o atendimento específico ao nível da
intervenção educativa com as crianças sobredotadas e no que respeita aos recursos
humanos disponíveis para apoiar o aluno.
A professora titular de turma, assim como os encarregados de educação, afirmaram
que, o facto de esta estar a acompanhar o aluno há dois anos consecutivos é um fator
benéfico, no que respeita às relações interpessoais estabelecidas. A primeira
interveniente, descreve a relação estabelecida entre ambos (professora-aluno), dando
ênfase à necessidade de construção de um ambiente cimentado na amizade e
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
compreensão mútua, para a promoção do desenvolvimento ótimo das capacidades, de
modo a responder positivamente às necessidades do aluno em causa, assim como ao
importante papel da família no desenvolvimento da criança sobredotada. A professora
titular de turma, corroborando a literatura científica pertinente (Virgolim, 2007; Fleith,
2007), classifica ainda os pais como facilitadores do desenvolvimento da criança
sobredotada, permitindo o acesso a experiências e recursos de que a mesma necessita. A
mesma interveniente, corroborando a restante população participante e a literatura
científica pertinente (Bastos, 2009; Serra, 2004,2005), considera que o aluno
sobredotado é uma criança com Necessidades Educativas Especiais, que apresenta
capacidades excecionais que facilitam a sua aprendizagem e um comportamento que, de
início confluiu para a convicção de não existência de sobredotação. Na sua atividade
letiva, também em acordo com a restante população em estudo e a literatura científica
pertinente (Bastos, 2009; Serra, 2004, 2005; Declaração de Salamanca, 1994;
Hosberger, 2006; Novaes, 1979), a professora titular do aluno em estudo, afirma a
necessidade de uma atitude inclusiva face à sobredotação através da adoção de
estratégias pedagógicas diferenciadas, com a finalidade de facilitar a aprendizagem do
aluno sobredotado. No entanto, a falta de conhecimentos e/ou formação na área da
sobredotação e a falta de recursos na escola, são fatores identificados como dificultando
a sua ação, no desenvolvimento ótimo das capacidades do aluno sobredotado. (Bastos,
2009; Almeida e outros, 2000; Serra, 2004, 2005, 2006)
No caso particular da intervenção da família nesta investigação, conseguiu-se aferir
factos importantes, essencialmente no que respeita às características apresentadas por
uma criança diagnosticada como sobredotada em contexto familiar, ao nível de
domínios como Conduta/Comportamento, Competência Escolar, Competência Atlética
e Autoestima Global. A intervenção da família (Encarregados de Educação)
corroborando a restante população participante e a literatura científica pertinente
(Martinho 2006; Bastos, 2009; Serra, 2005, 2006) atestou a existência de determinadas
características de aprendizagem numa criança sobredotada. Soube-se que a criança em
questão apresenta interesse por assuntos não muito comuns às outras crianças, o que
interfere diretamente nas suas brincadeiras e na seleção das suas amizades, que
apresenta muita curiosidade e questiona tudo, opinando de forma muito crítica,
estabelecendo uma boa relação com os outros, sendo também uma criança que apresenta
uma grande capacidade de memória. É uma criança que, no que respeita à competência
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
escolar, se apresenta como um aluno com um percurso escolar dito “normal” até à data,
muito em parte, devido à intervenção “incansável” (nas palavras dos encarregados de
educação) da mesma professora (continuidade letiva), na implementação de estratégias
pedagógicas diferenciadas, resultando nos bons resultados obtidos ao nível das
diferentes áreas curriculares trabalhadas.
No domínio da competência Atlética os pais, corroborando o discurso da professora
titular de turma, mencionaram que a criança apresenta aptidão para diversas atividades
desportivas, praticando vários desportos. No que respeita à Autoestima global, é uma
criança que apresenta boa autoestima e preocupação com estilo de vida saudável. Posto
isto, através das palavras da professora titular de turma e dos encarregados de educação,
verifica-se que, também os professores inquiridos e no que respeita à perceção dos
mesmos, na aplicação da escala de avaliação aos seus melhores alunos, são tomadas
como mais importantes as competências da Conduta/Comportamento e Competência
Escolar em detrimento das restantes. No entanto, no caso da criança em estudo, e no que
respeita à Competência Atlética e Autoestima Global, sendo a nossa criança um menino,
acompanhado pela mesma docente pelo período de dois anos letivos consecutivos,
verifica-se a convergência dos resultados obtidos. Os pais partilham, com os demais
participantes na investigação e a literatura científica pertinente, da importância dum
fator: a boa aceitação por parte da escola, que determinou a boa adaptação da criança
sobredotada ao contexto escolar no desenvolvimento do seu filho. (Bastos, 2009; Serra,
2004, 2006)
Em síntese e em termos comparativos, nem todas as conclusões de Bastos (2009), são
corroboradas em S. Miguel. Tal como na investigação da referida autora, também em S.
Miguel se verificou que os professores inquiridos não se encontram suficientemente
formados e/ ou informados sobre a temática da sobredotação, revelando por isso alguma
dificuldade em identificar/sinalizar, compreender e acompanhar um aluno sobredotado.
No entanto, consideram necessária a abordagem à temática em estudo na formação de
docentes. Ainda como no estudo da mesma autora (Bastos, 2009), é também dada
importância à ausência de uma política de apoio/legislação específica, na medida em
que é pouco o conhecimento acerca da mesma já existente, por parte dos professores
inquiridos, facto que, também na população em estudo desta investigação, leva à
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
consciência da necessidade de adequar as suas práticas e avaliar as suas metodologias, a
fim de contribuírem para o bom desenvolvimento dos alunos sobredotados.
No entanto, no caso da presente investigação, verificou-se o não alheamento por parte
da escola em que o aluno sobredotado se encontra. Contrapondo Bastos (2009), a
escola, no caso específico da professora titular do aluno em questão, corroborando
também a opinião dos encarregados de educação, reconheceu competências fora do
comum na criança e verificou-se boa aceitação, compreensão e empenho para com o
aluno em estudo.
Sendo o presente estudo comparativo e complementar do de Bastos (2009), importa a
esta altura mencionar algumas particularidades constatadas nos resultados obtidos que
vieram “enriquecer” a temática em estudo. Tendo por base o conjunto de professores
inquiridos (tendo em conta também os resultados obtidos através da escala de avaliação
para professores) e referindo os participantes no blog e a professora titular de turma,
verificou-se ainda que, a proporção de professores que conhecem crianças sobredotadas
e que afirmam que têm suficiente informação para reconhecer uma criança sobredotada
como um aluno com Necessidades Educativas Especiais (NEE), é maior do que a
proporção de professores que não conhecem crianças sobredotadas e que afirmam que
têm suficiente informação para reconhecer uma criança sobredotada como um aluno
com NEE; a experiência pessoal de trabalho com a criança sobredotada, incita os
professores na procura de informação e formação acerca da sobredotação; e o tempo de
acompanhamento desses alunos (continuidade letiva), o ano curricular em que os alunos
se encontram e o género dos alunos em questão, são fatores que determinam a perceção
dos professores no que respeita à identificação de características, relacionadas com o
autoconceito (em vários domínios), em crianças com ótimo desempenho escolar.
Tratando-se a presente investigação de um estudo de caso vasto, e tendo em
consideração as peculiaridades e especificidades que lhe são inerentes, foi investigada
também a importância do papel da família no desenvolvimento da criança sobredotada,
assim como a postura da família face ao papel da escola, sendo de acrescentar a esta
altura que, comparativamente com o estudo de Bastos (2009), e no que respeita aos
resultados obtidos, constataram-se factos importantes de serem expostos. Assim sendo,
acrescenta-se que, na realidade familiar em estudo, a criança sobredotada apresenta
características que o definem como tal em outros depoimentos e na literatura científica
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
pertinente; trata-se de uma família estruturada e empenhada em atender adequadamente
às necessidades da criança que vê a escola como parceira na construção do seu filho.
V. Considerações Finais, limitações e perspetivas
Posto todo o apresentado anteriormente, parece prevalecer, mais uma vez a
complexidade associada à problemática da sobredotação, em contexto tão particular
como é o contexto escolar, e no que respeita aos intervenientes que diretamente se
relacionam com a criança sobredotada e dos quais depende o ótimo desenvolvimento
das suas capacidades e minimização dos seus handicaps.
Investigar a sobredotação, no que respeita à qualidade e quantidade de formação
existente na área e ao nível de conhecimento existente sobre a legislação e atendimento
ao aluno sobredotado, foram os pilares desta investigação, na medida em que se propôs
desde logo inferir acerca da ação do professor junto de crianças sobredotadas em
contexto de sala de aula, tendo em conta as limitações existentes e verificadas na
literatura existente.
Em suma, verificou-se, convergindo com a literatura e estudos recentemente efetuados
que, ainda nos dias de hoje, e na realidade existente, a sobredotação não é uma
problemática facilmente compreendida. Existe ainda um longo caminho a percorrer no
que respeita a esta temática, no sentido de chegar ao ponto em que a criança
sobredotada seja percebida, devidamente identificada e incluída num sistema educativo
que acolhe, compreende e tem como objetivo principal o desenvolvimento ótimo do seu
potencial, tendo sempre em conta as suas características muito particulares. No entanto
é de mencionar, o esforço desenvolvido por professores empenhados e realmente
preocupados com as crianças, no sentido de procurar informação e formação acerca da
sobredotação de modo a agir da forma mais responsável possível.
Tendo em conta que a população em estudo é composta por pessoas idóneas e nas quais
se pode confiar para participação numa investigação deste nível, é a esta altura possível
conferir como verdadeiras as afirmações feitas no que respeita aos resultados obtidos,
dentro do contexto sociocultural a que estes pertencem. Pode-se também aferir
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A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
tendências e nelas apoiar linhas de ação, possíveis de ser comparadas com outras
investigações aplicadas a outros contextos existentes.
Considera-se como limitação do estudo, mas também como valor no seu âmbito de
aplicação, o contexto sociocultural em que a população alvo de insere, tratando-se de
uma realidade muito particular, principalmente no que respeita às oportunidades
orientadas para o desenvolvimento global das crianças quer no seio da família, quer em
contexto escolar. É sabida a limitação existente, pelo facto de se tratar de uma ilha, no
acesso por exemplo a situações e experiências promotoras de desenvolvimento, às quais
outras crianças, em contextos mais favorecidos acedem com facilidade. De mencionar
que, mesmo assim, a família da criança em estudo tenta, sempre que possível,
proporcionar à criança sobredotada experiências o mais enriquecedoras e motivadoras
possível.
Como linhas de desenvolvimento deste estudo considera-se de interesse aprofundar e
responder:
- A importância da formação do pessoal docente, na área da sobredotação, para uma
melhor ação quer ao nível da identificação, quer ao nível do acompanhamento de um
aluno sobredotado;
- A necessidade de inclusão dos alunos sobredotados no Regine Educativo Especial,
como alunos com Necessidades Educativas Especiais de carácter permanente.
- O papel inclusivo da escola, como promotora de um ambiente propício ao
desenvolvimento ótimo do aluno sobredotado.
- O papel da família, como facilitador no desenvolvimento da criança sobredotada,
promovendo o acesso a experiências e recursos que respondam às suas necessidades.
- O reforço da relação Escola – Família – Comunidade promovendo um ambiente
propício ao desenvolvimento ótimo do aluno sobredotado.
A esta altura da investigação, continuar a investigar em sobredotação continua a ser
pertinente devido às limitações inerentes a um estudo de caso, que não permitem
generalizar a outras populações e/ou contextos. Tendo por base a presente investigação,
será
possível
partir
para
ouros
estudos
119
com
sobredotados,
em
contextos
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
socioeconómicos, culturais e escolares particulares, com o objetivo de contribuir um
pouco mais para a compreensão da sobredotação, para a chamada de atenção, dos
governantes e entidades legislativas para a problemática em estudo, com a finalidade
principal de dar respostas adequadas às crianças sobredotadas.
Importa investigar pela pertinência das conclusões a que se chega, contribuindo de
forma significativa para o desenvolvimento e aprofundamento das temáticas /
problemáticas em estudo, procurando colmatar determinadas lacunas existentes.
Através desta investigação, e nas palavras da professora titular de turma, surge a
questão da dificuldade em abordar a sobredotação através de uma vertente mais prática:
“Sinto que há muita falta de documentação, não no sentido teórico, documentação com
exemplos práticos: o que se faz com um aluno com estas características, que tipo de
exercícios, que tipo de atividades, porque não é fácil.” Levantam-se assim as seguintes
questões: Como responder à criança sobredotada? Que estratégias usar especificamente?
Que tipo de atividades, pedagogicamente adequadas e estimulantes existem, para
motivar a criança sobredotada? Seria interessante prosseguir na investigação
relacionando várias crianças sobredotadas, suas famílias e responsáveis escolares e
associações especializadas, com o intuito de operacionalizar diferentes estratégias e
aplicar medidas educativas específicas, tendo como objetivo principal a verificação da
necessidade de dar a devida importância à sobredotação.
De forma conclusiva, considera-se como objetivo final desta investigação: promover a
discussão sobre a temática em estudo, alertando para as lacunas que se verificaram, na
realidade estudada, no atendimento às crianças sobredotadas, em diferentes contextos.
120
A Perceção dos Professores sobre os Alunos Sobredotados
- Um Estudo de Caso na Ilha de S. Miguel -
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Legislação consultada
 Decreto-Lei nº 3 de 2008 de 7 de janeiro.
 Decreto-Lei nº 33/96/M de 1 de julho.
 Decreto regulamentar regional nº13 – A/97/m de 15 de julho
 Despacho normativo nº 30/ 01 de 19 de julho.
 Decreto-Lei nº 319/91 de 23 de agosto: Regime educativo para alunos com
N.E.E (Necessidades Educativas Especiais).
 Despacho Normativo nº173/ME/91 de 23 de agosto.
126
-
Anexos
1
Anexo 1 - Declaração de Consentimento Informado (Professora Titular de Turma)
2
Anexo 2 - Declaração de Consentimento Informado (Encarregados de Educação)
3
Anexo 3 - Documentação do Núcleo de Educação Especial, referente ao aluno
sobredotado (Relatório Circunstanciado)
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Anexo 4 - Documentação do Núcleo de Educação Especial, referente ao aluno
sobredotado (Relatório Técnico-Pedagógico)
13
14
15
16
17
18
19
20
21
Anexo 5 - Documentação do Núcleo de Educação Especial, referente ao aluno
sobredotado (Projeto Educativo Individual)
22
23
24
25
26
27
28
29
Anexo 6 - Relatório de Avaliação Psicológica
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
Anexo 7 - Registo de Avaliação final 2º ano do aluno sobredotado
44
45
46
Anexo 8 - Questionário
INQUÉRITO POR QUESTIONARIO
O presente inquérito está inserido no âmbito de um trabalho de investigação,
para a obtenção do grau de Mestre em Ciências da educação, Especialização em
Educação Especial pela Universidade Fernando Pessoa.
O objetivo desta investigação é revelar a opinião que os docentes do 1º ciclo
de escolaridade têm sobre o tema: a sobredotação. O principal objetivo deste inquérito é
a recolha de dados para a elaboração da componente experimental de uma fase de
Mestrado. Pretende-se que seja observável o nível de conhecimento que os professores
das classes regulares possuem acerca da sobredotação e se os professores consideram
alunos sobredotados como sendo alunos com Necessidades Educativas Especiais.
O questionário é anónimo e os dados recolhidos serão tratados globalmente e
destinam-se a fins científicos.
A sua colaboração é imprescindível para o êxito desta investigação.
Desde já agradeço a sua atenção e colaboração.
Em cada questão assinale com um a alínea que diz respeito à sua resposta.
1.
Género
a) Feminino
b) Masculino
2.
Idade
____ anos.
3.
Formação
a) Bacharel
b) Licenciatura
c) Pós-Graduação
d) Mestrado
4.
Tempo de Serviço
a) De 0 a 5 anos
b) De 6 a 10 anos
c) De 11 a 20 anos
d) + de 20 anos
5.
Situação profissional em que se encontra.
a) Professor do Quadro de Escola
b) Professor do Quadro de Zona Pedagógica
c) Professor Contratado
Nas questões que se seguem, assinale com um
resposta.
47
x a opção que diz respeito à sua
6.
Na sua turma tem alunos com NEE (Necessidades Educativas
Especiais)?
Sim
Não
Se respondeu “sim” na questão 6, quantos alunos tem com NEE?
7.
1
2
3
4
5
>5
8. Se respondeu “sim” na questão 6, destes, quantos pensa que são
sobredotados?
0
9.
1
2
Qual o nível em que se encontra informado para reconhecer uma
criança sobredotada?
Nível
0 – Nenhuma informação
1 – Pouca informação
2 – Suficiente informação
3 – Muita informação
10.
Conhece algum caso de criança sobredotada?
Sim
11.
Não
Se respondeu sim, assinale que tipo de características a criança
sobredotada revela (pode assinalar mais do que uma, mas apenas as que se
aplicarem ao aluno em causa)?
Vertentes Educativas e Comportamentais
Estilo de Aprendizagem
a) Capacidade elevada
b) Rapidez na aprendizagem
c) Preferência por temas complexos
d) Avidez de saber
e) Conhecimentos profundos em domínios específicos
48
f)
Interesses múltiplos
12– Vertentes Educativas e Comportamentais
Níveis de Motivação Intrínseca
a) Maturidade no julgamento
b) Tendência em iniciar as suas próprias atividades
c) Busca de perfeição
d) Persistência na realização e na finalização das tarefas
13– Vertentes Educativas e Comportamentais
Expressão Criativa (em qualquer domínio)
a) Ideias inesperadas/originais
b) Preferência para lidar com abstrações
c) Apreciação de qualidades estéticas
d) Tendência para respostas imaginativas e emocionais
14– Vertentes Educativas e Comportamentais
Interação com os Pares
a) Comportamento cooperativo
b) Sensibilidade interpessoal
c) Sociabilidade
d) Habilidade de trato com pessoas e grupos
15. A sua formação é adequada para ensinar alunos sobredotados?
Nível
0 – Nada adequada
1 – Pouca adequada
2 – Suficientemente adequada
3 – Muita adequada
49
16. Como considera a abordagem específica à temática “crianças
sobredotadas” na formação básica dos docentes?
Nível
0 – Desnecessária
1 – Necessária
2 – Fundamental
3 – Imprescindível
17. Qual o tipo de formação que considera mais adequada para a temática
para a temática “crianças sobredotadas” na formação de professores?
Disciplina integrada na licenciatura
Um curso de especialização ou pós-graduação
Ambas
18. O seu currículo de formação inclui uma abordagem a esta temática?
Sim
Não
19. Considera que se justifica a existência de cursos de pós-graduação ou
especialização na temática “crianças sobredotadas”?
Sim
Não
20. Qual o nível de importância que atribui à abordagem de cada uma das
seguintes matérias nos currículos de formação de docentes?
Definição dos níveis:
0 – Nada importante
1 – Pouco importante 2- Importante 3- Muito importante
Nível
0
a) Identificação do sobredotado
b) Legislação ligada à sobredotação
c) Adaptações curriculares
d) Estratégias a adotar no seu comportamento
e) Todos os domínios a), b), c), d).
50
1
2
3
21. Qual o seu grau de conhecimento relativamente à atual legislação que
obriga à diferenciação pedagógica no caso de crianças com capacidades
excecionais?
Nível
0 – Inexistente
1 – Pouco
2 – Suficiente
3 – Muito
22. Parece-lhe correto englobar o ensino a crianças sobredotadas na
Educação Especial, em termos de legislação e tratamento?
Sim
Não
23. Acha que as crianças sobredotadas deverão estar integradas:
Opções
0 – No ensino regular integrado na turma
1 – No ensino regular em classes especiais
2 – Em escolas especiais
24. Responder a esta questão, apenas se assinalou a primeira opção na
questão anterior. Qual considera, das seguintes soluções, aquela que
deverá ser adotada no processo de ensino de crianças sobredotadas?
(Pode sinalizar mais do que uma opção)
Opções
1 – Aceleração do processo de ensino
2 – Integração em turmas regulares com um
tratamento indiferenciado
3– Integração em turmas regulares introduzindo
alterações no processo de ensino aprendizagem
51
25. Quais os principais obstáculos que o professor poderá encontrar no bom
acompanhamento dos alunos sobredotados (pode indicar mais do que
uma opção).
1. Rejeição da turma em que o aluno sobredotado está inserido
2. Número excessivo de alunos por turma
3. Falta de formação por parte dos docentes
4. Falta de tempo para dar mais apoio a estes alunos
5. Exigência de cumprimento de programas
6. Falta de apoio de técnicos na área da psicologia da educação
7. Falta de sensibilização, por parte da comunidade educativa
para esta problemática
8. Outro
Qual? (quais) ________________________________________________
26. Sente-se capaz de acompanhar, a nível escolar, uma criança
sobredotada?
Sim
Sim, mas recorrendo a ajuda de outros profissionais
Não
27. Caso necessite de recorrer a outras ajudas profissionais, quem
procuraria para ajudar nessa tarefa? (pode sinalizar mais do que uma
opção)
Psicólogo
Professor especializado
Médico escolar
28. No caso de ser capaz de adotar estratégias para desenvolver as
capacidades do aluno sobredotado, que repercussões acha que daí
advirão, a nível do seu desempenho escolar?
52
Nível
1 – Nada significativas
2 – Pouco significativas
3 – Bastante significativas
4 – Muito significativas
29. Acha que, nas suas aulas, a criatividade, a intuição e a imaginação são
valorizadas, curricularmente, em termos de conteúdo e processo?
Sim
Não
Não sabe
Obrigada pela Colaboração!
53
Anexo 9 - Escala para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico
ESCALA PARA PROFESSORES DO 1º CICLO
Nome do(a) aluno(a): ____________________________________________________
Escola: __________________________________ Ano: _______ Turma: __________
Há quanto tempo conhece o(a) aluno(a): ___________________________________
INSTRUÇÕES
Por favor lei cada um dos seguintes itens e considere a frequência com que
observou a presença de cada uma das características ou condutas no(a) aluno(a) acima
identificado(a). Coloque uma cruz na coluna correspondente de acordo com a seguinte
escala: (Se não observou alguma característica, devido à disciplina que leciona, não
assinale).
1. Raramente
2. Poucas vezes
3. Algumas vezes
4. Quase sempre ou sempre
1 2 3 4
1- Colocou muitas questões na sala de aula.
2- Falou muito sem ser solicitado.
3- Habitualmente fez os trabalhos de casa às várias disciplinas.
4- Respondeu rápida e acertadamente às solicitações do(a) professor(a),
qualquer que seja o tema.
5- Tem maior capacidade intelectual do que os seus colegas.
6- Tem um vocabulário rico para a idade e o ano de escolaridade que
frequenta.
7- Compreendeu com facilidade a informação transmitida e recorda-a com
facilidade.
8- Aplicou os conhecimentos adquiridos numa matéria, noutra matéria
diferente.
9- Cumpriu adequadamente as obrigações e os deveres escolares.
10- Assumiu responsabilidades e obrigações.
11- Comportou-se bem na sala de aula.
12- Relacionou-se facilmente com os outros.
13- Envolveu-se frequentemente em conflitos.
14- Comportou-se bem no recreio escolar.
15- Relacionou-se facilmente com os pares.
16- Foi-lhe fácil fazer amigos.
17- Tem os amigos que deseja.
18- Tem muitos amigos.
19- É conhecido e estimado pelos colegas.
20- É mais popular do que a maioria dos seus colegas.
21- Empenhou-se na prática de desportos e atividades físicas.
22- Deu importância à prática de desportos e atividades físicas.
23- Foi bom/boa em todos os desportos.
24- Obteve êxito em desportos novos.
25- Foi persistente e ativo(a) nas atividades físicas.
54
26- Preferiu participar em vez de observar os jogos e desportos.
27- É mais competente em desportos e atividades físicas do que a maioria dos
seus colegas.
28- Gosta do seu corpo.
29- Gosta do seu aspeto físico.
30- Acha que o seu peso e altura estão adequados.
31- Acha a sua aparência física adequada.
32- Tem melhor aparência física do que a maioria dos seus colegas.
33- Tem melhor aparência física do que a maioria dos seus colegas.
34- Está satisfeito(a) consigo próprio.
35- Gosta de ser tal como é.
36- Está satisfeito(a) com a forma como faz as coisas.
37- Gosta da maneira como conduz a sua vida.
38- Tem melhor comportamento do que a maioria dos seus colegas.
39- Tem mais autoestima do que a maioria dos seus colegas.
OBSERVAÇÕES
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Obrigada pela sua colaboração
55
Anexo 10 - Entrevista Semiestruturada à Titular de Turma
Entrevista Semiestruturada à Professora Titular de Turma
Bom dia, agradeço ter acedido a conceder-me esta pequena entrevista para falarmos do
A.
Nome do aluno: João Maria de Potes Cordovil Cardoso Dias
Nome do Pai: Nuno Pedro Martins Cardoso Dias
Nome da Mãe: Maria Helena Gago da Câmara de Potes Cordovil C. Dias
Habilitações do Pai: : Licenciatura em Direito – Pós Graduação em Direito
Ambiental e Urbanismo – Doutoramento em Direito Público
Habilitações da Mãe: Licenciatura em Geografia e Planeamento Regional – Plano
Formação Educacional
1. Em que data recebeu o aluno?
R: Recebi o aluno em setembro de 2010.
2. Em que turma é que se encontra o A?
R: Encontra-se numa turma de segundo ano, com todos os alunos ao nível 2, à exceção
dele que está ao nível 2/3.
3. Quantos alunos tem a turma?
R: A turma o ano passado tinha 23 alunos, este ano tem 22.
4. Qual a média de idades dos alunos da turma?
R: A média de idades dos alunos é de 7 anos, à exceção de um que teve um adiamento
de matrícula no Jardim de Infância e tem 8.
5. Tem algum aluno com NEE? De que tipo? (considera o A. uma criança com
NEE)
R: Apenas o próprio A. É uma aluno sobredotado e foi-lhe diagnosticado sobredotação
do tipo intelectual, daí que o considere um aluno com Necessidades Educativas
56
Especiais. Neste momento é um aluno que não usufrui de apoio do Núcleo de Educação
Especial, tendo apenas apoio psicológico. Isto porque como ele está estável a nível
emocional e psicológico, achou-se por bem que não haveria necessidade deste apoio.
6. O conselho de turma teve conhecimento e acesso aos relatórios que o A.
possui no seu processo?
R: Portanto, não tiveram acesso à documentação uma vez que em reuniões de Conselho
de Núcleo e de Avaliação foram sempre tomando conhecimento das características do
aluno.
7. Depois de terem contato com o A., qual foi a reação dos professores,
referente ao aluno e, se é do seu conhecimento, ao constante nos relatórios?
R: No início a reação é sempre “sobredotado, então sabe tudo”. Eu própria no início não
acreditei muito, confesso o meu desconhecimento, tinha um bocadinho a perceção de
que um sobredotado é um aluno muito bom em todas as áreas, um aluno com uma
grande capacidade de comunicação, que gostava da escola e gostava de aprender. No
início do ano passado o A. não tinha esse perfil, até nem era o melhor aluno da turma,
porque não gostava de estar na escola, como já sabia ler e escrever a escola não lhe fazia
sentido. No início pensei “Sobredotado mas em que aspeto? Não vejo nada ali de
sobredotado.”. Depois, à medida que fui diferenciando o trabalho, as aprendizagens,
realmente notou-se que ele é um aluno com uma grande capacidade de aprendizagem e
que já possui muitos conceitos não da sua faixa etária mas sim de um nível superior.
Houve realmente necessidade de diversificar o trabalho para que ele demonstrasse as
suas capacidades, porque ao trabalhar ao nível dos outros ele sentia-se desmotivado. Por
parte dos outros colegas do conselho de turma, para ser sincera, não vejo essa
57
diferenciação pedagógica, nem no Inglês nem na Expressão Física e Motora. O A. é
tratado de maneira igual aos restantes colegas. Mas também, como ao nível da
Educação Física ele é um aluno que tem menos apetência, sendo um aluno apenas de
suficiente nesta área, revelando alguma descoordenação motora, e ao nível do Inglês era
uma área que ele também não dominava, passam a ser áreas em que as aquisições serão
ao nível dos restantes colegas. Depreendo daí que, se calhar, não houve a necessidade
de diferenciação, o que não quer dizer que no próximo ano letivo não se revele
necessária. No que respeita à reação dos colegas do Conselho de turma face ao fato de o
A. ser um aluno sobredotado foi a nível geral a mesma que a minha, até porque ao nível
do comportamento ele foi muito difícil, porque era um aluno que dificilmente
concentrava a atenção, dispersava muito, mesmo sentar-se, ainda hoje não lhe é fácil
estar sentado corretamente durante um período de 45 minutos fato que põe em causa o
diagnóstico tendo em conta a ideia inicial que tínhamos de sobredotado.
8. Os colegas do conselho de turma têm alguma opinião formada sobre o A?
Qual/quais?
R: Bem, as opiniões diferem uma vez que, para quem está com ele um dia inteiro, como
é o meu caso, estabelece-se uma relação diferente, porque ao longo do dia ele tem
variações de humor e de comportamento distintas. Um professor que vem lecionar
durante apenas 45 minutos e apanha um momento menos positivo do A., claro que a sua
reação irá ser diferente, acaba por ser mais difícil estabelecer uma empatia com o aluno
por parte dos professores, como existe comigo por exemplo. Trabalhar com o A. foi até
um desafio que aceitei de espírito aberto, e também para saber até que ponto eu era
capaz de lidar com ele, porque nunca tinha tido um aluno com estas características. Por
vezes pode-se dizer que se verifica nos outros colegas um certo distanciamento, porque
58
ele é uma criança que contesta tudo, argumenta e justifica sempre o que está a dizer, o
que às vezes em 45 minutos uma pessoa não tem o tempo nem a disponibilidade para
lhe dar a atenção necessária, como eu que estou o dia inteiro com ele. Noto que em
relação aos outros professores não há aquela relação de afetividade tão grande com o A.
como aquela que eu tenho, justifico isso mais uma vez com a diferença de tempo
despendido com o aluno.
9. Que tipo de capacidades o A. tem mais desenvolvidas?
R: O A. tem uma excelente memória e capacidade raciocínio lógico. Como eu costumo
dizer “ele às vezes na sua falta de lógica tem lógica.”, porque tenta encontrar uma
justificação que, mesmo não seja lógica é coerente, conseguindo arranjar um fio
condutor para justificar uma determinada posição. De mencionar como área forte
também a comunicação, uma vez que ele consegue expressar muito bem uma ideia,
sendo que por vezes muito lentamente, uma vez que ele tem várias ideias ao mesmo
tempo e revela alguma dificuldade em selecionar uma ou outra e desenvolvê-la. Isto
revela-se na escrita, sendo os textos dele por vezes confusos por isso mesmo, o A. junta
várias ideias e o texto por vezes fica confuso de se perceber. De mencionar que o A.
possui também um bom vocabulário, uma boa construção frásica, interpreta muito bem
e faz inferências tendo em conta o que está no texto, justificando sempre.
10. Qual(ais) a(s) área(s) em que o A. apresenta maiores dificuldades?
R: O A. apresenta dificuldades na área da escrita, não ao nível nem da sintaxe nem da
ortografia mas na estruturação das ideias como já referi.
11. O A. integrou-se bem na turma? Como descreveria tal integração?
59
R: A nível geral eu penso que sim, se bem que ele no início não se integrava no grande
grupo propriamente, era muito seletivo, tentando encontrar 1 ou 2 colegas que fossem o
mais parecidos possível com ele e as brincadeiras eram muito centradas no
manuseamento de livros por exemplo ou inventava jogos de imaginação o que nem
sempre motivava os restantes. Não era aquele tipo de criança capaz de mobilizar o
diálogo nem a turma, mantendo-se um pouco distante e mais seletivo. Atualmente já
alargou mais o leque de amizades mas mesmo assim não se pode dizer que ele é líder
dentro da turma. Por vezes até, como ele tem aquelas teorias muito elaboradas, quando a
está a explicar nota-se um certo aborrecimento por parte dos colegas porque não estão a
acompanhar o raciocínio, não é que não seja uma criança querida na turma mas não
causa aquele impacto de líder quando chega. No geral é uma turma que não o põe de
parte mas também não tem quele grande interesse pelo A.
12. Acha que, de um modo geral, o A. é um aluno que tem facilidade em
socializar? Como descreveria a forma como estabelece relações sociais?
R: É mais ou menos o que eu já expliquei. Se for com o tipo de criança que também tem
algum interessa nas áreas que ele tem interesse, ele consegue estabelecer uma boa
relação, se for uma criança que está mais virada por exemplo para os jogos de luta ou
futebol, como ele não gosta destas áreas não se integra muito bem no grupo. De referir
que não noto que exista discriminação ou que ele seja expulso do grupo, mas também
não o chamam o que leva a ele não se integrar nesse grupo.
13. A nível emocional e relacional com os outros como é o A.?
60
R: Vai de encontro ao mencionado na questão anterior, mas é um miúdo muito afável e
não é nunca de discriminar. É uma criança que quando magoa alguém gosta sempre de
pedir desculpa, é pacífico e não é conflituoso.
14. No que respeita à maturidade, está ao nível esperado para a idade do
aluno?
R: Ao nível da maturidade eu acho que o A. tem a maturidade referente à sua idade, no
que se refere ao comportamento, ao nível das relações e brincadeiras por exemplo, são
adequados à sua idade. Ao nível dos interesse de mencionar que são um bocadinho
diferentes, mas é um aspeto que não sei até que ponto estará ligado com a maturidade
ou se com o ambiente familiar em que o A. vive. É uma família muito voltada para os
livros, que lhe faculta um ambiente muito estimulante e organizado, o que facilita e
condiciona o seu comportamento.
15. Como é o comportamento do A. na sala de aula?
R: Ao longo do dia é como o clima de S. Miguel (risos). Se as atividades forem voltadas
para o interesse dele, por exemplo uma aula de Estudo do Meio, ele está muito
concentrado, tendo no entanto de ser sempre o primeiro a falar, tem que dizer tudo o que
sabe e até ao fim, mesmo que não seja a vez dele falar, se assim não for ele
desconcentra-se e está sempre de dedo no ar. Se for uma atividade qua não tem tanto
interesse para ele, vai fazendo devagarinho. Eu costumava por exemplo marcar-lhe meia
hora para fazer uma atividade, o A. levava cerca de vinte e cinco minutos sem fazer
quase rigorosamente nada, chegava aos últimos 5 minutos fazia tudo. Portanto, ele sabia
que tinha que gerir aquele tempo e deixava sempre para o fim do género “eu sei fazer
isto, por isso os últimos 5 minutos bastam para o fazer.”. Até que comecei a dar-lhe
61
menos tempo para fazer as tarefas. Durante essas atividades de menor interesse revela
uma postura de quem está a pensar em qualquer coisa completamente alheio ao que se
está a passar na sala de aula. Mas acho que será como qualquer aluno, quando suscita
interesse revela-se mais atento quando não lhe interessa está mais desatento. A nível
geral ainda é muito difícil ele estar sentado corretamente na sala de aula, ao nível da
participação tem que ser sempre o primeiro a falar e dizer tudo o que sabe, se de repente
um assunto lhe faz lembrar outro, ele não se inibe e tem que perguntar naquela hora
mesmo que não tenha nada a ver. Mesmo que se imponha ali uma regra de “tu agora não
falas”, “espera pela tua vez”, ele tem que levar a sua avante. Não é uma criança
insolente nem mal-educada nem nada do género mas acho que tem essa necessidade e é
muito intuitivo, tem que ser mesmo naquela hora, o que por vezes perturba o normal
funcionamento da aula.
16. Qual a relação do A. Com os colegas de turma?
R: O A. a nível geral é muito afável, simpático. De um modo geral não cria conflitos, se
há algum conflito pede sempre desculpa, porque tem também essa cultura de casa.
17. O A. Tem algum(a) grande amigo(a) na turma? Qual acha que será a razão
para que seja essa criança e não outra?
R: Tem, tem um outro menino, seu grande amigo o B. A grande razão para essa
amizade é a semelhança de interesses, o B também quer ser paleontólogo, o B também
gosta de dinossauros, a sua família é muito semelhante à família do A. e desde o início
houve uma grande empatia. Para além da escola têm ambos atividades extracurriculares
em comum como os escuteiros, a catequese, a nível familiar também têm uma relação
próxima. É realmente o seu grande amigo, tanto que a nível de textos por vezes lá vem o
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nome dele, notando-se que existe realmente uma grande empatia, mas friso mais uma
vez, principalmente devido à semelhança das características e interesses.
18. Qual o nível de conhecimento em que se encontra, no que respeita à
sobredotação, agora que tem um aluno sobredotado?
R: Eu penso que agora tenho um conhecimento médio sobre o assunto, também não
tenho tido muito tempo para investigar, confesso que o ano passado investiguei mais
porque era tudo novidade para mim e não sabia muito bem como havia de dar a volta à
questão. Agora já percebi perfeitamente que um aluno sobredotado não tem que ser bom
em tudo, pode até inclusivamente, se não for bem acompanhado, ser um mau aluno,
pode ter uma área forte e ser menos bom noutras áreas, principalmente penso que já
domino essas características e já sou mais capaz de, quando e se me aparecer mais
algum aluno com essas características já sou capaz de o identificar. Neste caso confesso
que se os pais não tivessem vindo já com a ideia de que ele tinha alguma coisa de
diferente e não tivessem desencadeado o processo de avaliação, eu se calhar no início ia
ter mais dificuldade em lidar com o A. porque não sabia bem até que ponto a sua
postura era de falta de educação, uma inadaptação à escola, uma vez que não tinha
mesmo conhecimento do que era um aluno sobredotado. Agora já estou mais desperta
para isso, pelo menos para desconfiar de que poderá haver ali uma sobredotação.
19. Pode-me facultar as notas do A. referentes ao período transato?
R: Sim, com certeza, já lhas dou. Em relação ao ano anterior o A. subiu as suas notas no
que respeita ao Português, uma vez que o ano passado era apenas aluno de Bom,
precisamente pela parte da escrita, uma vez que ele não gostava de escrever e foi preciso
inventar 1001 estratégias, por exemplo a escrita de um livro, com o objetivo de
desenvolver o gosto pela escrita. Hoje em dia, não é que goste muito mas já não tem
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aquela aversão. Nos testes intermédios do 2º ano, ele obteve Satisfaz Bem quer no
Português quer na Matemática, quase 100% nas duas provas, errando apenas uma ou
outra questão apenas por distração.
20. É feita alguma diferenciação pedagógica com o A.? Quais as estratégias a
que recorre no processo de ensino/aprendizagem do A.?
R: A diferenciação pedagógica verificou-se todos os dias, principalmente ao nível da
Matemática, usando atividades e estratégias que estejam de acordo com os interesses e
com o nível de maturidade dele. Este ano desenvolveu conteúdos do 2º ano que ainda
não tinham sido trabalhados e essencialmente conteúdos ao nível do 3º ano
principalmente no que respeita a situações problemáticas e exercícios para trabalhar o
raciocínio. No que respeita ao Português ao nível do funcionamento da língua já
trabalhou muitos conteúdos do 3º ano. No que respeita ao Estudo do Meio, os conteúdos
são os mesmos, o que varia é o grau de aprofundamento. Por exemplo ele faz pesquisas
sobre os diversos temas. Quando demos as plantas o A. teve curiosidade em saber o que
era a fotossíntese e fez uma pesquisa sobre a mesma. Depois eu aproveito essas
informações para transmitir à restante turma, sendo ele a apresentar o resultado do seu
trabalho, para que os outros não se sintam “à parte”. Todas as estratégias implementadas
têm surtido efeito uma vez que ele este ano está muito mais motivado para vir para a
escola.
21. Que tipos de apoios são prestados a A. pela escola?
R: Um dos apoios prestados é o apoio psicológico. Uma das medidas que constam do
Projeto Educativo Individual (PEI), o apoio do ensino especial, em regime de
consultadoria, não tem sido prestado mas se eu tiver alguma dúvida poderei consultar os
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meios ao dispor. De resto não tem sido necessário mais nenhum tipo de apoio. Uma
outra medida constante do PEI é o enriquecimento curricular prestado por mim à
medida que o nível de aprendizagem dele vai subindo e os interesses vão mudando.
22. Acha que a escola está preparada, para responder às necessidades deste tipo
de aluno?
R: Não, não. Era preciso por exemplo uma biblioteca com livros atualizados. Nesse
aspeto o A. tem muita sorte em ter a família que tem, há coisas que a escola não pode
dar. Há enciclopédias, livros, filmes, que, ou teria que ser eu a arranjar sozinha ou
então, se não tivesse a família que tem, não veria as suas necessidades satisfeitas. No
que respeita ao acesso aos meios de informação e comunicação, nomeadamente internet
e computador, tenho a facilidade de estar aqui ao lado da sala de informática da escola,
o que facilita o acesso à diversa informação de que o A. necessita. Caso a sala de aula
ficasse num outro bloco, não teria esse apoio. Dentro da própria sala também faltam
recursos como um “datashow”, um quadro interativo, e outros equipamentos
necessários para o visionamento e dinamização de outras atividades. A escola pública, e
esta em concreto, não tem condições para responder às necessidades de alunos
sobredotados.
23. Quais são as principais barreiras com que se depara normalmente para
atender este tipo de aluno?
R: Tomo como barreira o meu desconhecimento científico, no início, o que levou a ter
que pesquisar. Os pais foram ao Continente e contactaram com uma Associação, mas o
feedback que me deram não foi nada de concreto, indo de encontro ao que eu já fazia ou
ainda mais. Sinto que há muita falta de documentação, não no sentido teórico,
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documentação com exemplos práticos: o que se faz com um aluno com estas
características, que tipo de exercícios, que tipo de atividades, porque não é fácil. Na
minha formação inicial tive uma cadeira que falava de Dificuldades de Aprendizagem e
de Necessidades Educativas Especiais, mas numa abordagem teórica, não mencionando
sequer a sobredotação. Sinto que existe falta de apoio de especialistas nessa área, um
psicólogo por mais especializado que seja ainda domina muito mais a parte teórica do
que a parte prática. Faltam os recursos necessários nas nossas salas de aula e muito
importante também, a falta de legislação específica, que aborde concretamente esta
problemática, que a assuma como uma Necessidade Educativa Especial e que
contemple, por exemplo, medidas como a redução de turma, na existência de um aluno
sobredotado.
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Anexo 11 - Entrevista Semiestruturada aos Encarregados de Educação
Entrevista Semiestruturada aos Encarregados de Educação
Boa tarde. Agradeço ter acedido a conceder-me esta pequena entrevista para falarmos
do A.
1. Como era o A. quando era bebé? Desde os 6 meses mais ou menos até aos 2
anos.
R: Durante esta faixa etária o A. revelou-se uma criança dita normal. Hoje em dia,
percebemos que desde muito cedo conseguia já ter a perceção da vida. Adorava ouvir
música, desde os seus 6/7 meses, reagindo à mudança de uma para outra diferente.
2. Com que idade é que o A. começou a falar fluentemente e de forma
compreensível?
R: O A. começou a falar com fluência com 2 anos.
3. Quais eram as brincadeiras preferidas do A.?
R: Era uma criança que gostava de trabalhar com tudo. Começou a fazer puzzles muito
cedo, com menos de 2 anos, e não estamos a falar de puzzles de cubos, tratavam de
puzzles de peças pequeninas com 25 a 30 peças. Na altura não achámos nada de muito
especial, mas hoje realmente não somos da mesma opinião.
4. Quais as principais fontes de interesse do A. desde pequeno?
R: Desde muito pequeno, revelou muito interesse por tudo o que aparecesse nos livros e
documentários que se relacionasse com astronomia, Egipto, Leonardo da Vinci,
dinossauros e história de Portugal.
5. É uma criança que sempre colocou e coloca muitas questões? Sobre que
assuntos em especial?
R: Sim, muitas! Colocar questões sempre foi e é o seu forte. As notícias são sempre um
bom mote para uma pergunta. Tudo lhe desperta curiosidade e implica uma questão,
fato que contribui para que seja uma criança que se distrai facilmente. Ordens simples
como por exemplo “A, vai buscar as meias.” podem por exemplo deixar de ser
realizadas se, pelo caminho houver uma qualquer coisa que lhe desperte interesse.
6. Mais ou menos, com que idade é que começou a demonstrar grande
interesse por livros?
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R: Achamos que o A. revelou interesse por livros desde sempre, tinha ainda apenas
alguns mezinhos de vida. Iniciou claro pelo interesse em ver a imagem, progredindo
para o encontrar da imagem nomeada, solicitando sempre que lhe contássemos histórias.
No contar das histórias tinha uma particularidade que era o apontar para as imagens
ilustrativas da parte narrada após termos nós contado a história uma vez, queria ele
recontá-la através das imagens. Tal reconto era realmente fiel à história, chegando a
corrigir um ou outro fato que tivéssemos alterado, tudo isto antes dos 3 anos. Era uma
criança que memorizava à primeira o texto e numa segunda oportunidade de reconto
fazia-o de uma forma fidedigna.
7. Quando é que o A. começou a ler com fluência?
R: No que respeita à leitura podemos dizer que, por volta dos 3 anos e meio já juntava
as letras e sílabas, fazendo já a leitura de palavras simples. A leitura foi, desde muito
cedo, um dos seus interesses de eleição.
8. Quando começou a ler gostava de ler historinhas ou outro tipo de livros?
R: Quando iniciou realmente a ler, demonstrou bastante interesse por enciclopédias,
essencialmente aquelas que abordam temas do seu interesse
9. Quando é que o A. foi diagnosticado como sobredotado? Qual foi a entidade
responsável pelo diagnóstico?
R: Quando o A. tinha 5 anos foi submetido a uma avaliação no colégio que frequentava.
Desta avaliação a psicóloga verificou que o nosso filho tinha Q.I. acima da média mas
as coisas ficaram por aí. Na interrupção letiva de Verão que se seguiu falamos com a
Dr.ª Carina, a psicóloga que o segue atualmente. Quando o A. entrou para a escola onde
se encontra atualmente, a mesma psicóloga, sensibilizada e interessada pelo caso,
efetuou nova avaliação e realmente as coisas encaminharam-se para que o nosso filho
fosse tratado como sobredotado e apoiado de acordo com as suas necessidades.
10. Como é que foi a adaptação do A. ao Jardim de Infância?
R: Durante o seu percurso no Jardim de Infância, o A. teve todos os anos uma
educadora diferente, não sendo isso razão para que não se adaptasse ou estranhasse o
jardim, apenas a educadora dos seus 4 anos é que não o estimulava muito, em parte
devido às regras impostas pelo colégio. Em termos de adaptação desde o primeiro dia
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quando chegávamos lá no final do dia para o ir buscar o seu comentário era “O quê, já!!
Vão tomar um café!”.
11. Como foi a adaptação do A. à escola?
R: No que respeita à sua entrada na escola podemos dizer que esta fase foi ótima para o
A. Ele adaptou-se desde logo à sua professora, até porque houve umas duas semanas em
que optaram por coloca-lo numa turma do segundo ano e as coisas não correram muito
bem, ele próprio fez de tudo para voltar à sua professora inicial e à sua turma do 1º
primeiro ano, revelando o quanto ele se adaptou bem e vinculou desde logo à sua
professora.
12. Foi-lhe fácil fazer amigos?
R: No que respeita ao fato de se relacionar com as outras crianças, foi-lhe fácil fazer
amigos. Foi uma criança que sempre procurou relacionar-se com as outras, gostando de
ser aceite pelos outros nas brincadeiras mais sérias, não alinhando em disparates para
que seja aceite, o que para nós é ótimo, revelando a sua maturidade.
13. O A. tem muitos amigos?
R: O A. é uma criança que seleciona os seus verdadeiros e amigos mais chegados de
acordo com os seus interesses desde que estes sejam comuns. Sendo que se relaciona
também facilmente com os restantes colegas. Ele mesmo costuma afirmar “Tenho dois
mais a minha família toda.”
14. Como é a relação do A. com os irmãos?
R: Nas suas relações no núcleo familiar o A. revela-se muito amoroso, protetor, muito
atencioso com os irmãos, embora por vezes se revele um pouco “desligado” quando
direciona a sua atenção para coisas do seu interesse próprio.
15. Como é a relação do A. com os adultos, familiares e amigos da família?
R: A sua relação com os adultos, de um modo geral é boa, embora seja de todos eles o
que tem mais dificuldade em perceber que não se interrompe uma conversa de adultos,
não sendo nunca desrespeitador com os adultos, é uma atitude que advém da sua
impulsividade e necessidade de resolução das suas questões. É uma criança que inicia
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uma conversa com muita facilidade, exigindo por parte dos adultos tempo para o ouvir
até ao final.
16. Quando o A. ingressou na escola e transmitiu aos responsáveis,
nomeadamente à professora titular de turma, o diagnóstico de
sobredotação, qual foi a reação da comunidade escolar?
R: Quando o A. entrou para a escola, tivemos desde logo a preocupação de colocar os
responsáveis a par das nossas inquietações. Tínhamos a séria preocupação de não querer
um rótulo para o nosso filho, mas desde o primeiro contacto temos a dizer que, na
escola realmente todos foram impecáveis, desde o pessoal auxiliar à professora titular.
Transmitimos a informação, não de que seria sobredotado mas sim de que estava
avançadinho para a sua idade. Falámos com a psicóloga para que lhe fosse feita uma
avaliação e com a professora titular de turma, a qual foi desde logo impecável connosco.
Quando a psicóloga realmente confirmou o diagnóstico não foi grande surpresa para
nós, até então não queríamos muito encarar essa possibilidade.
17. As capacidades do A. foram bem aceites e reconhecidas pela professora?
R: A professora titular de turma, desde o primeiro momento demonstrou-se interessada,
encarando o A. como um desafio constante, sem nunca baixar os braços nem
desenvolver esforços para que o nosso filho se sentisse o mais confortável e motivado
possível na escola.
18. Em que ano está o A.?
R: O A. encontra-se numa turma de segundo ano.
19. A atual professora acompanha-o desde quando?
R: A atual professora acompanha o A. desde setembro de 2010, início do 1º ano de
escolaridade.
20. Quais são os apoios de que o A. dispõe atualmente (pedagógicos,
psicológicos, etc.)?
R: Um dos apoios prestados é o apoio psicológico. Uma outra medida que consta do
Projeto Educativo Individual (PEI) é o apoio do ensino especial, em regime de
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consultadoria, que será prestado no caso da professora titular ter alguma dúvida na sua
ação. De resto, e até ao presente, não tem sido necessário mais nenhum tipo de apoio.
21. O A. por norma, faz os trabalhos de casa, às várias disciplinas, com ou sem
ajuda?
R: Normalmente ele faz os seus trabalhos sem ajuda, inicia-os no ATL mas como
raramente os termina lá, nós depois revemos os trabalhos em casa com ele mais numa
postura de supervisionar essencialmente a qualidade do que ele fez, no que respeita à
qualidade da caligrafia por exemplo, uma vez que a mesma de vez em quando é um
pouco descuidada.
22. As “notas” do A. são boas?
R: As notas dele são boas, são de Satisfaz Bem e Satisfaz Muito Bem, de mencionar
que, este ano letivo, foram melhores do que o ano passado.
23. O A. dá importância à prática de desportos e atividades físicas? Quais?
R: Sim, ele dá muito importância à prática de desporto e atividades físicas encontrandose a praticar várias modalidades de desporto. É uma criança que reconhece também a
sua importância como sendo práticas saudáveis e revela-se também amigo do ambiente.
24. Como gosta o A. de ocupar os tempos livres. O que mais gosta de fazer?
R: Essencialmente ocupa os seus tempos livres fazendo por vezes algumas pesquisas
sobre dúvidas e inquietações que lhe surgem e costuma ler também.
25. No que respeita à autoestima, o A. é uma criança que gosta do seu corpo, do
seu aspeto físico?
R: É uma criança que no geral gosta de si, no entanto não é vaidoso nem percebe como
é bonito, não se preocupa se está todo sujo ou não. O A. percebe que está avanço em
certas coisas havendo certas situações em que encara isso com normalidade e outras em
que se revela um pouco “convencidinho”
26. Como acha que será o futuro do A.?
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R: Acreditamos que ele terá um futuro brilhante, entre ser astronauta paleontólogo ou
pianista… Não podemos sonhar com o percurso escolar perfeito, tenho sim que pensar
agora que ele irá criar as suas asas e será muito feliz de certeza.
27. Acha que a nossa sociedade, em especial o meio em que vive (ilha de S.
Miguel), está preparado para responder às necessidades de crianças como o
A.?
R: Achamos que em lado nenhum ele terá as respostas de que necessitará, ninguém
tem… Cabe-nos a nós pais, tentar proporcionar o máximo de experiências e estímulos.
As coisas também se criam, se ele quiser desenvolver a sua vida cá, porque aqui tem
qualidade de vida, é o seu dever dar o melhor pelas suas raízes, pela sua terra. Acho que
ele irá ser um bom contributo para a sociedade açoriana. Onde ele vai chegar não
interessa, o que nos interessa realmente é que seja feliz e bom cidadão.
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Anexo 12 – Blog
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Zulmira Conceição Ferreira Pinto A Perceção dos Professores sobre