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AS PINTURAS DE JOSÉ PATRÍCIO DA SILVA MANSO NA IGREJA MATRIZ DE
NOSSA SENHORA CANDELÁRIA DE ITU/SP
José Patrício da Silva Manso’s paintings in the Main Church of Nossa Senhora da Candelária (Our Lady of Candelaria), in Itu/SP
Regina Célia Esteves Benedetti, discente do curso de
Educação Artística do CEUNSP, sob orientação do
Prof. Ms. Luís Roberto de Francisco e supervisão da
Prof.ª Dra. Paula Giovana Frias
RESUMO
As pinturas da Igreja Matriz de Nossa Senhora Candelária, em Itu, atribuídas ao mestrepintor José Patrício da Silva Manso, foram descobertas em meados dos anos 2000. O que se
conhecia na Igreja era o forro da capela-mor, pintado pelo mesmo artista e restaurado no ano
de 2003. Após restauração, prospecções foram feitas nas paredes laterais do altar-mor onde
se revelaram imagens relacionadas, provavelmente, ao Antigo Testamento, atribuídas também a José Patrício da Silva Manso.
Palavras–chave: Igr eja Bar r oca Br asileir a. Pintur a. Século XVIII. Patr imônio Histór ico. José Patrício da Silva Manso.
ABSTRACT
The paintings of Nossa Senhora da Candelária Church (Our Lady of Candelaria), in Itu, assigned to the master-painter José Patricio da Silva Manso, were discovered in mid-2000.
What was known, in the same church, until that year, was the presbytery lining, painted by
the same artist and restored in 2003. After restoration, surveys were made in the side walls
of the main altar, which revealed images related, probably, to the Old Testament, also attributed to the artist José Patrício da Silva Manso.
Keywords: Br azilian Bar oque Chur ch. Painting. 18th Centur y. Historical her itage. J osé Patrício da Silva Manso.
A arte colonial no século XVIII resume-se em pinturas devocionais, com o objetivo principal de contar histórias religiosas para os fiéis que frequentavam as igrejas. Ainda
hoje, muitas igrejas se encontram com pinturas, algumas deterioradas pelo tempo e outras já
restauradas, onde temos a possibilidade de apreciar o trabalho de artistas plásticos do século
XVIII. Na cidade de Itu ainda encontramos algumas obras executadas por nomes como José
Patrício da Silva Manso e Padre Jesuíno do Monte Carmelo. Itu, conhecida como Roma Brasileira, foi chamada assim pelo Imperador Dom Pedro II, pela existência de muitas igrejas,
colégios católicos, irmandades, padres e freiras.
Pinturas desse tipo podem ser encontradas na Igreja Matriz de Nossa Senhora
Candelária, que possui o forro da capela-mor com o conjunto pictórico “Apresentação do
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Menino Jesus ao Templo” de autoria de José Patrício da Silva Manso. Em meados dos anos
2000, o forro da capela-mor passou por um restauro pelas mãos do profissional Júlio de Moraes. A fim de conhecer mais sobre as pinturas originais da construção do século XVIII, o
restaurador realizou uma prospecção e descobriu, nas paredes laterais do altar-mor, mais pinturas da época de sua construção. Por ser um monumento arquitetônico tombado pelo
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e CONDEPHAAT
(Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado
de São Paulo), foi determinado por esses órgãos que a tinta branca que cobria as paredes do
altar-mor deveria ser retirada para que as pinturas fossem totalmente reveladas.
Entre os anos de 2012 e 2013 a Igreja Matriz fechou suas portas e passou por
uma reforma que compreende a decapagem das paredes do altar-mor, a fim de revelar as pinturas encontradas e para a troca de seu piso de ladrilho hidráulico por assoalho de madeira,
obra determinada pelas esferas nacional e estadual de conservação do patrimônio histórico,
pois as pinturas reveladas não coexistiram com o piso de ladrilho hidráulico e sim com assolhado de madeira. Sendo assim, já que as paredes voltariam ao seu original, o piso deveria
acompanhar a linguagem arquitetônica da época.
A atual Igreja Matriz de Nossa Senhora Candelária é uma construção com mais
de dois séculos de existência. Sua construção durou quase dez anos e foi mantida pelo Padre
João Leite Ferraz. Inaugurada em 29 de abril de 1780, passou por diversos reparos, intervenções e alterações até os dias de hoje. Seu interior é ornamentado com acabamentos barroco e
rococó, pintura do teto da capela-mor de José Patrício da Silva Manso, talhas do artista Guilherme, quadros do altar-mor atribuídos a Jesuíno Francisco de Paula Gusmão (conhecido
posteriormente como Padre Jesuíno do Monte Carmelo) e três telas do artista plástico José
Ferraz de Almeida Junior.
Em seus quase 234 anos de existência, a igreja passou por diversas reformas e,
consequentemente, alterações em sua construção original. Duas recebem destaque: a primeira delas, em 1830, pelo Padre Elias do Monte Carmelo (filho de Padre Jesuíno do Monte
Carmelo), que compreende reparos no telhado, teto, a construção de nova torre com sinos,
instalação de cadeiras fixas na lateral da capela-mor, retoques na pintura e degraus na frente
e lateral da igreja em pedra varvito. Acredita-se que, possivelmente, nessa reforma tenha
ocorrido a primeira pintura nas paredes do altar-mor, cobrindo as obras existentes. Outra reforma, no final do século XIX, altera seu frontispício, e recebe uma nova fachada de autoria
do arquiteto Ramos de Azevedo, entre os anos de 1887 e 1889.
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Considerada o maior monumento do Barroco Paulista, pelo conjunto de sua arquitetura, talha, decoração e significado histórico, a Igreja Matriz de Nossa Senhora Candelária de Itu foi o primeiro monumento tombado pelo IPHAN no Estado de São Paulo, em
1938, e, como consequência disso, tombada pelo Condephaat, em 1982. Um de seus últimos
tesouros descobertos foram as pinturas do altar-mor atribuídas ao mestre-pintor José Patrício
da Silva Manso.
José Patrício da Silva Manso ficou conhecido como pintor de igrejas do século
XVIII. Acredita-se que tenha nascido em Sabará, Minas Gerais, talvez filho de português.
Carlos Cerqueira, que localizou seu registro de batismo, nos diz que teria nascido
em Sabará, aos 22 de março de 1740, tendo como padrinho [Felipe?] Telles da
Silva, de quem, conforme costume da época, pode ter recebido, por homenagem, o
sobrenome Silva; teria 61 anos quando faleceu em 1801. (MORAES, 2007)
Foi casado com Ângela Maria Nascimento, com quem teve quatro filhos, Anna
Isabel, batizada em Itu, e Antônio Luís, Maria Bibiana e João.
De obras que se tem conhecimento serem de sua autoria, resumem-se as pinturas
na Igreja da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco, em São Paulo (SP); Igreja da
Venerável Ordem Terceira do Carmo de São Paulo (SP); Igreja do Mosteiro de São Bento do
Rio de Janeiro (RJ); antiga Igreja de São Bento de São Paulo (SP); e, por fim, Igreja Nossa
Senhora Candelária de Itu (SP). José Patrício da Silva Manso faleceu em São Paulo, em
1801, e foi enterrado na Igreja do Mosteiro de São Bento, por sua forte relação de amizade
com os beneditinos.
As pinturas da Igreja Matriz de Itu lhe foram atribuídas por meio de um documento encontrado e transcrito pelo historiador Luís Roberto de Francisco em 1992, datado
de 28 de novembro de 1786. Trata-se de uma “Escritura de ajuste que faz Dona Maria Francisca Vieira com José Patrício da Silva Manso para douramento e pintura da nova Matriz
desta Vila”, comprovando a contratação do artista, financiada por Dona Maria Francisca.
Esse documento é parte do 2º Livro de Notas (1784-1787) do 1º Cartório de Notas da Comarca de Itu e encontra-se arquivado no Centro de Estudos do Museu Republicano em Itu.
Nas pinturas da Igreja Matriz de Nossa Senhora Candelária destaca-se o forro da
capela-mor, “Apresentação do Menino Jesus ao Templo”, restaurado em 2003 por Júlio Moraes. Na cena, um medalhão central, em que se destaca Simeão carregando o menino Jesus,
ao lado São José e Maria, envoltos de anjos, implica a santidade da Sagrada Família. As cores predominantes são vermelho, laranja, amarelo e azul. Em menor proporção, o artista utiRevista Educare CEUNSP – Número 2, Volume 1 - 2014
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lizou verde, branco, cinza e marrom. José Patrício utilizava efeitos de luz e sombra para atribuir profundidade e dramaticidade.
Nas paredes laterais, onde foram retiradas de seis a sete camadas de tinta, cenas
bíblicas diversas contam histórias, provavelmente para catequização dos fieis que frequentavam a Matriz, como era hábito no período colonial. As pinturas não foram restauradas ainda
e, por isso, não se encontram muito nítidas. Nas mesmas paredes há telas atribuídas a Padre
Jesuíno do Monte Carmelo. Em volta dessas telas, nas pinturas de José Patrício as cores la-
ranja e azul predominam com diversos tons, além de guirlandas utilizadas, parecendo molduras para cada cena.
As pinturas devocionais retratam passagens da Bíblia Sagrada. Destacamos duas
cenas: o sacrifício de Abraão, narrado no livro de Gênesis; Abraão encontra-se em movimento, olhando para o anjo, que parece tentar tirar a espada de sua mão; e a outra imagem é
de uma árvore, aparentemente torta e quase quebrada, como se relata na Bíblia Sagrada a
cena da morte de Judas Iscariotes. Por se tratarem de pinturas encomendadas, esses trabalhos
não levavam assinaturas.
A Igreja Matriz foi reaberta em junho de 2013 e suas pinturas, no altar-mor, encontram-se expostas para contemplação. A restauração foi avaliada entre seis a sete milhões
de reais, ainda sem previsão de início.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANCISCO, Luís Roberto de. Igreja Matriz de Itu: novos aspectos históricos. Revista da
Acadil, Itu, vol. VI, ano VI, 2004.
MORAES, Júlio; DUPRAT Régis; CERQUEIRA, Carlos Gutierrez. José Patrício da Silva
Manso: Um pintor colonial paulista r estaur ado. São Paulo: 9ª SR/IPHAN. 2007.
DOCUMENTAÇÃO - Museu e Arquivo Histórico Municipal de Itu. 2º Livr o de Notas
(1784-1787) do 1º Cartório de Notas da Comarca de Itu, de 28 de novembro de 1786, sob
custódia do Centro de Estudos do Museu Republicano “Convenção de Itu”: contendo escritura de ajuste que faz Dona Maria Francisca Vieira com José Patrício da Silva Manso para o
douramento e pintura da nova matriz da vila de Itu.
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