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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE JUSSARA
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS – PORTUGUÊS/INGLÊS
E SUAS RESPECTIVAS LITERATURAS
ADILSON ANTONIO SERVINO
ASPECTOS DO HEROÍSMO EXPRESSO EM THE LAST OF THE MOHICANS
JUSSARA – GO
2012
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Adilson Antonio Servino
ASPECTOS DO HEROÍSMO EXPRESSO EM THE LAST OF THE MOHICANS
Monografia apresentada ao Departamento de Letras da
Universidade Estadual de Goiás – UEG, Unidade
Universitária de Jussara – GO, em cumprimento à
exigência para obtenção do título de Graduado em
Letras Português/Inglês e respectivas literaturas, sob
orientação do professor Evandro Rosa de Araújo.
JUSSARA – GO
2012
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É com muita satisfação que dedico mais este laborioso trabalho acadêmico à minha
querida e digníssima esposa, bem como às minhas filhas que sempre estiveram ao meu lado
apoiando e me compreendendo nas horas em que às privava de minha companhia quando este
ofício se fazia necessário para que eu me ausentasse. E ainda, à minha querida mãezinha que
durante toda vida tem me incentivado a continuar os meus estudos.
Homenageio ainda, o meu caríssimo irmão, que mesmo morando longe tem
contribuído para minha formação acadêmica. E não poderia de forma alguma deixar de
dedicar o meu sucesso nesse curso de graduação a toda direção e coordenação bem como aos
meus examinadores e ao ilustríssimo orientador que me auxiliaram de maneira significativa.
Quero também atribuir a Deus todo louvor, pois a Ele toda honra e glória. Em todo o
percurso de meu curso universitário pude perceber sua maravilhosa e misericordiosa mão não
só me ajudando, mas abençoando-me em tudo. Assim sendo, atribuo a Ele todos os méritos na
pessoa bendita de seu filho amado, Jesus Cristo.
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AGRADECIMENTOS
Acredito que palavras seriam incapazes de expressar todo o sentimento de carinho e
gratidão que nossos prestativos e dedicados professores merecem pelo trabalho desenvolvido
junto a nós acadêmicos do Curso de Letras. Desejo também prestar os meus sinceros
agradecimentos às minhas colegas de curso em que desfrutamos de uma perfeita interação
durante as atividades desenvolvidas.
Quero prestar meus sinceros agradecimentos à minha família que tanto me apoiou
reconhecendo e suportando a minha ausência. Em especial a você mui digna esposa, que
sempre acreditou em meu potencial, demonstrando interesse nos meus estudos. Agradeço o
seu incentivo sem o qual com certeza eu teria desistido deste laborioso curso acadêmico.
Quantos momentos fomos privados de estarmos juntos quando o dever, os trabalhos
universitários me chamaram, mas finalmente a vitória é nossa.
Louvo ao grande Deus, em nome do seu filho amado, em que Ele se compraz: Jesus
Cristo. Tenho a plena convicção que sem sua benção e sabedoria com certeza eu não teria
chegado até aqui. Presto a ti Senhor Jesus todos os méritos de todas as conquistas e continuo
rogando a Ti que continue comigo não só enquanto durar o Curso acadêmico, mas por toda a
minha vida profissional.
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A verdadeira demonstração de
bravura e coragem é o reflexo da
identidade moral do indivíduo face
aos ideais que moldam a sua
conduta.
Adilson Antonio Servino
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RESUMO
Foi realizado um estudo da obra de Cooper com intuito de visualizar sua criação e exaltação
do herói nacional. O autor se situa na colonização do território americano pelos europeus,
época em que culminou com a “Guerra Civil dos Sete Anos”, para então, retratá-la com as
façanhas dos indígenas em defesa dos ideais nacionalistas nas fronteiras dos Estados Unidos
da América. Segundo Moisés (2007), esse ser ficcional é um ser dotado de uma personalidade
e características indiscutíveis, mas que não pode ser confundido com a pessoa propriamente
dita. Nesse sentido, a ideia de realizar este trabalho nasceu ao analisar o heroísmo e a honra de
uma personagem da ficção romanesca em detrimento de seu código de conduta inviolável, os
quais chegavam a morrer por seus ideais. Em The Last of the Mohicans personificado no
personagem protagonista Uncas, o autor norte-americano, James Fenimore Cooper, partilha
com os estudiosos da literatura e da historiografia algumas experiências perímetricas dos
E.U.A. Em sua obra, o referido artista transmite aos seus leitores marcantes traços de nobreza
intrínseca dos índios americanos. Trata-se de uma narrativa de cunho romântico, com
informações históricas em face da harmonia existente entre o natural e o choque cultural de
civilizações, com suas crenças e costumes. Com isso surgiu a ideia de analisar a obra de
Cooper sob a visão do autor a inerente honra do herói idealizado no personagem Uncas em
The Last of the Mohicans.
PALAVRAS-CHAVE: Romance. Literatura. Historiografia. Heroísmo. O Último dos
Moicanos
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO 1 CONTEXTO HISTÓRICO E FORTUNA CRÍTICA DE 10
JAMES FENIMORE COOPER
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1.1 Um passeio pela fortuna crítica, literária e histórica de Cooper
CAPÍTULO 2
THE LAST OF THE MOHICANS E ASPECTOS DA TEORIA 20
DA PERSONAGEM
2.1 Processo de Criação da Personagem em “The Last of The
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Mohicans”
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2.2 Protagonismo X Antagonismo
2.3 A Superioridade do Protagonista na Obra Indianista
CAPÍTULO 3 HONRA E HEROÍSMO EM THE LAST OF THE MOHICANS
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3.1 A Formação Artística do Herói Expresso em Uncas
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3.2 Honra e Coragem em The Last of The Mohicans
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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INTRODUÇÃO
Este trabalho analisa a existência de determinadas personagens e, sim está focado na
análise criteriosa sob a ótica do autor norte-americano Cooper (1994) os ideais de honra,
fidelidade e nobreza inerente personificado em seu protagonista e herói idealizado – Uncas.
Para a consolidação deste trabalho serão utilizadas “Teoria do Romance” de Schüler
(1989), o qual procura promover aos seus leitores uma fascinante reflexão sobre o romance
em tempos modernos em consonância ao romance das epopéias medievais. Bem como da
“Teoria da literatura” de Souza (2007), onde o autor busca demonstrar o vasto campo da
irrealidade por meio de histórias ficcionais as quais empregam a composição e os enigmas
conceituais favoráveis ao seu entendimento. E ainda “Como analisar narrativas” de Gancho
(2004) como sendo uma importante obra auxiliadora na pesquisa e análise de textos literários
empolgantes da ficção. Citelli (1990) em sua obra “Romantismo” procurou abranger com
obras exemplificadoras sob expressão romanesca.
Em The Last of The Mohicans, Cooper faz referência ao heroísmo e honra de
personagens dentro de um romance ou mesmo em criações de cinemas “como mito do herói
individual dirigido por um código de honra ao qual não faltam os princípios de lealdade,
fidelidade e respeito”, (CITELLI, 1990. p.8). Reforça assim, a ideia de que o autor de um
romance transfere para sua criação a ascendência ficcional. Tanto esta obra como as já citadas
estão sendo objetos de estudo e análise para a fundamentação teórica deste trabalho
acadêmico.
A monografia é dividida em três capítulos: no primeiro cujo título é “Contexto
Histórico e Fortuna Crítica de James Fenemore Cooper”, foram observados alguns pontos da
biografia e bibliografia assim como a fortuna crítica do referido autor, suas principais obras,
em que período literário foi escrita e, se situa a obra em estudo ‘The Last of the Mohicans’ e
os marcantes acontecimentos da época dos U.S.A. O segundo capítulo está intitulado “The
Last of The Mohicans e Aspectos da Teoria da Personagem”, por meio do qual procurou-se
demonstrar o processo de criação da personagem.
Ainda que os termos “papéis” e “figuras dramáticas” indiquem possíveis
diferenças existentes entre pessoas e personagens, a frase “Cada uma das
pessoas que figuram em uma narração, poema ou acontecimento” obriga o
leitor a encarar a narração, o poema e o acontecimento como sendo
fenômenos de uma mesma espécie, de uma mesma natureza. E,
textualmente, a identificar pessoas e personagens (BRAIT, 2002, p.10).
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De acordo com Moisés (1994), o ficcionista cria suas personagens de acordo com sua
necessidade dentro de determinados papéis como protagonismo x antagonismo. E Cooper
(2006) procurou extrair de si o “herói” demonstrando a superioridade do protagonista na obra
indianista.
No terceiro capítulo “Honra e Heroísmo em The Last of the Mohicans” foram
analisados a formação artística do herói, expresso em Uncas e os traços marcantes de honra e
coragem dentro do romance. Dessa forma surgiu a ideia de se fazer uma pesquisa para
analisar os traços românticos e literários presentes na obra focando a honra e lealdade do herói
indígena.
Para isso, foi utilizado o personagem protagonista “Uncas”, visando estudar as
características marcantes de bravura e heroísmo. Este trabalho é importante, pois apresenta
aos estudantes do curso de Letras um pouco da literatura norte-americana e o processo de
formação do herói presente no livro The Last of the Mohicans escrito pelo autor James
Fenimore Cooper. Espera-se que ao findar este trabalho acadêmico os alunos possam ter mãos
mais um produto que discuta o heroísmo e a formação de personagens na narrativa literária.
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CAPÍTULO I CONTEXTO HISTÓRICO E FORTUNA CRÍTICA DE JAMES
FENIMORE COOPER
O capítulo tem por objetivo fazer um levantamento de dados sobre a biografia e
fortuna crítica, literária e histórica do autor norte-americano James Fenimore Cooper a fim de
delinear as razões pelas quais levaram o autor a escrever a obra The Last of the Mohicans,
bem como suas influências no campo literário.
Esta obra é mundialmente reconhecida como sendo um romance de caráter histórico,
ambientada no nordeste dos Estados Unidos da América. Ao escrever “O Último dos
Moicanos” Cooper demonstra um pouco de como transcorreu o processo pela colonização
européia, a formação do povo americano utilizando a “Guerra dos Sete anos”, que perdurou
de 1756 a 1763, como panorama para seu enredo ficcional romanesco. Época em que os
ingleses recrutavam os nativos, devido a sua agilidade para a guerra como soldados tirando
proveito da visível rivalidade existente entre as tribos indígenas. Cooper (1994) retrata ainda o
interesse dos colonizadores europeus por conquistarem as terras americanas, se fazendo valer
de seus exércitos e da força dos indígenas num fogo cruzado entre as demais tribos nativas
das fronteiras dos U.S.A.
Na obra, James Fenimore Cooper cria um protagonista, o jovem moicano com ideais
de honra e lealdade ao seu código de conduta. Narrando a ascendência de Uncas sobre seu pai
como chefe da tribo dos Moicanos dentro de um aspecto de caráter prático a nobreza e a
lealdade desse “herói” indígena que defendia seus interesses até mesmo com a própria vida,
refletindo com isso as crenças e a honra por meio de sua conduta em que acreditava.
Em The Last of the Mohicans, James Fenimore Cooper compartilha com seu leitor os
aspectos humanos desprezíveis e brutais inerentes de suas personagens, bem como o
sentimento amável e sensível em termos de fidelidade, honra e esperança. É perceptível o
conceito de companheirismo para a sobrevivência em meio ao individualismo durante aos
conflitos. Cooper (1994) partilha ainda que, por mais sagaz e inteligente que o homem possa
ser, independente de qualquer circunstância, ele precisa ser leal e amoroso. E isso é notório na
obra “O Último dos Moicanos”, salientado por seu autor a inerente sabedoria e agilidade
indígena compartilhada com os da sua tribo habituados à região.
Existe na obra de Cooper (1994) The Last of the Mohicans, sentimentos de amizade e
cumplicidade mútuos em homens de origens e culturas diferentes. Mesmo em tempos de
guerra e hostilidade dos homens brancos com suas artimanhas para adaptarem à América,
surge do intimo do autor o sentimento patriótico no herói idealizado em defesa de seu
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território. Cooper delega a Uncas, o protagonista principal de seu romance, características e
personalidades próprias de um ser leal, honrado e destemido.
De acordo com essa premissa James Fenemore Cooper narra em seu romance “The
Last of the Mohicans” com riqueza de detalhes, em estilo romântico todas as campinas e
relvas americanas, personagens marcantes de suas obras em meio à guerra entre os europeus
(franceses e ingleses) colonizadores daquele país, denominada “Guerra dos Sete Anos”. A
obra de Cooper (1994) foi escrita de forma linear retratando o conflito interno das tribos
Delawares, os Máguas e os Iroqueses.
1.1 Um passeio pela fortuna crítica, literária e histórica de Cooper
James Fenimore Cooper nasceu em Burlington no estado de New Jersey no dia 15 de
setembro no ano de 1789, ano em que a Constituição Americana entrou em vigor. Sua família
era meio Quakers e meio cristã, “sendo de origem inglesa e sueca, mas criou-se em
Cooperstown ao sul do Lago Otsego na alta New York” (EDWARD, 1960, p.29). Cooper era
o décimo segundo dos treze filhos do Juiz Willian Cooper, um político (congressista)
influente conhecido de George Washington. Estudou na escola primária de Albany em Nova
York e mais tarde frequentou o Yale College de 1803 a 1805. Desde muito cedo, ainda
criança Cooper observava os vários modos de vida e os aspectos dos homens que habitavam
nas fronteiras vivendo em colônias pioneiras.
O artista tornou-se o principal romancista dentre os escritores americanos cujas obras
literárias configuraram a literatura americana, em especial “Leatherstocking Tales”. A maioria
de suas obras foram criadas em lugares mais reservados, demonstrando o homem solitário que
foi característica marcante na personificação de seus heróis (COOPER, 1994).
No ano 1810, Cooper estava servindo na Marinha Americana quando seu pai morreu,
pediu baixa da corporação e voltou para as terras da família no ano seguinte já casado com
Susan DeLancey. Trabalhou por uma década como agricultor, investiu em lojas na fronteira,
comprou um navio baleeiro, ajudou a fundar a sociedade agrícola, serviu na milícia do estado,
criou desenhos de New York para um clube literário (COOPER, 1994).
Sua carreira como escritor começou após um desafio que sua esposa fez enquanto liam
alguns livros de romance, pois a família de Cooper tinha o costume de fazer várias leituras
durante a noite e Cooper dizia que poderia criar melhores histórias – Susan De Lancey achou
graça. Mesmo sem o crédito da esposa, o autor se tornou conhecido no panorama literário
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norte-americano com as obras The Pioneers (1823) (o primeiro dos Leatherstocking Tales),
The Last of the Mohicans (1826), The Prairie (1827), The Pathfinder (1840), e The
Deerslayer (1841) dentre outras – (COOPER, 1994).
De origem ortodoxia, Cooper desenvolveu doutrinas teológicas e políticas
pertencentes à democracia antiga com ideologias de classe (preconceitos sociais) que haviam
realizado a Revolução (DOREN, 1960). Mesmo com ideais de separação de castas, Cooper
usava em suas ficções personagens mais humildes, originados das variedades típicas de
determinadas regiões.
Até mesmo as suas grandes figuras de origem popular, Harvey Birch, Natty
Bumppo e Long Tom Coffin, contêm em si um pouco do fiel criado pessoal,
embora sejam redivididos por um elemento maior de lealdade a uma causa –
Birch à Revolução, Bumppo à vida da natureza em sua simplicidade, e
Coffin ao mar profundo (DOREN, 1960, p.31).
O modo como compunha suas obras literárias ficcionais, sob a forma de romances,
Cooper tinha influências do escritor europeu Walter Scott com características romanescas, as
quais remetem o seu leitor aos sentimentos que permeiam toda a narrativa composta pelo
autor. Depreende-se das emoções e experiências do romancista em certo momento de seu
contexto histórico: “É preciso ponderar, portanto, que ao se falar hoje em romantismo
considera-se um conjunto de experiências humanas decorrentes de uma situação histórica
precisa [...]” (CITELLI, 1990, p.9). Cooper tinha o costume ou o hábito da leitura por
clássicos modernos de onde tirava suas informações para produzir suas próprias histórias. As
suas viagens marítimas também o ajudaram nessa coleta de informações ao observar a
formação dos povos no período colonial, em especial da sua própria nação. Boa parte de suas
ficções literárias foram criadas no contexto das fronteiras americanas, “a história americana,
[...] e em particular a de Nova York, inclusive as suas antiguidades e a topografia – Cooper
costumava onhecê-la bem” (DOREM, 1960, p.31). Mesmo sendo marinheiro de profissão,
nunca usou o mar em seus romances.
Nesse sentido, compreende-se o período em que os U.S.A experimentava ou se
firmava como nação, construindo com originalidade sua própria identidade consolidada pela
democracia. A sociedade americana sob a presidência de Jackson (1829-1837) evoluía
democraticamente rumo a um novo estado de crescimento, mais precisamente para o Oeste,
“deflagrou-se uma verdadeira revolução nas instituições que, de liberais, tornaram-se
efetivamente democráticas” (RÉMOND, 1989, p.53). Basicamente são os fatores dessa
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expansão colonial formadora da personalidade americana que caracterizam as obras de
Cooper nitidamente reconhecida em seus heróis.
A formação do território americano está intrinsecamente relacionada às questões
religiosas, econômicas e sociais (CRUNDEN, 1990). Nesse cenário de expansão territorial e
firmação como nação, Cooper (1994) utiliza o choque cultural como pano de fundo para a
idealização do herói nacional personificado em “Uncas”. Firmou-se nesse contexto mesmo
tendo iniciado sua carreira como escritor com uma novela (Precaution, 1820), onde
posteriormente atraído pela arte da escrita, compôs em 1821 “The Spy”, ficção americana
sobre a recente Revolução, tendo como principal tema o amor a pátria, (DOREN, 1960).
Nota-se nesse romance a rivalidade entre ingleses e franceses travada nas guerras por espaços,
tal como em The Last of The Mohicans. Como Scott tinha grande conhecimento de sua
fronteira, essa também é uma característica herdada dele por Cooper ao traçar com riqueza de
detalhes a topografia de “O Espião”.
Sua forma peculiar de escrever remete o leitor de suas obras para o desbravamento do
território americano. Boa parte de suas criações literárias tinham como eixo norteador a moral
e o direito que todo o homem tem de viver livre que na maioria das vezes é conquistado com
bravura. Percebe-se em suas obras, essas características de criação do autor norte-americano
James Fenimore Cooper em abordar questões relacionadas ao caráter inato dos indígenas nas
fronteiras americanas.
O heroísmo e a honra são traços marcantes dos personagens protagonistas da ficção
romanesca de Cooper. Seus heróis indígenas possuem um código de conduta inviolável, os
quais chegavam a morrer por seus ideais. Em The Last of the Mohicans Cooper (1994),
compartilha com os estudiosos da literatura e da historiografia algumas dessas peculiaridades
indígenas. Esta obra transmite aos seus leitores marcantes traços de distinção próprio dos
índios norte-americanos, como se pode vê na citação abaixo.
Diferentemente dos demais guerreiros índios da trama, que se mostram
ávidos por sangue e escalpos, Uncas, em sua essência, apresenta as
características cavalheirescas do herói que, embora vivendo em bravias
florestas, tem um destino épico a cumprir (CONSOLI, 2009, p.2).
Nesse sentido, a obra O Último dos Moicanos é uma narrativa romanesca, com a
historicidade do povoamento americano pelos europeus: choque cultural de civilizações, com
suas crenças e costumes, bem como os “protagonistas” e os “antagonistas” “[...] há
personagens principais (protagonistas) e personagens secundárias (deuteragonístas) ou/e
antagônicas (antagonistas), de acordo com a importância do drama vivido particularmente por
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elas e com a perspectiva adotada pelo ficcionista (MOISÉS, 2006, p.140). Cooper (1994)
transmite aos seus leitores a inerente honra do herói idealizado no personagem Uncas em The
Last of the Mohicans.
James Fenemore Cooper narra em seu romance situando a obra no ano 1757, com
riqueza de detalhes em estilo romântico todas as campinas e relvas americanas, personagens
marcantes de suas obras em meio à guerra entre os europeus (franceses e ingleses)
colonizadores daquele país, denominada “Guerra dos Sete Anos”, período em que os exércitos
da Grã-Bretanha e França batalhavam para expandirem seus domínios nas colônias
americanas. Procurando adquirir maiores vantagens sobre os ingleses, as tropas francesas
constantemente recrutavam os índios para esta guerra, o que resultou em vários
acontecimentos trágicos.
Cooper (1994) também retrata o conflito interno das tribos Delawares, os Maguas e os
Iroqueses tendo como cenário essa natureza selvagem, tanto dos índios como das próprias
matas – terras com suas variadas cachoeiras, grutas e imensos despenhadeiros. Os princípios
das tradições indígenas pelos quais seriam capazes de sacrificarem seus próprios sonhos ou
desejos impelidos pela honra, lealdade ao seu código de conduta. No entanto, Cooper deixa
transparecer a contaminação desses deais dos povos nativos pelo contato com os povos
“civilizados” da Europa. Incorrendo ainda do “equívoco geográfico inicial dos primeiros
descobridores,” (RÉMOND, 1989, p.10) os nativos foram chamados pelos colonizadores de
“índios” e, segundo o referido autor,
a
coexistência dessas duas castas era demasiada
impossível em virtude de seus costumes e hábitos.
A coabitação das duas raças era virtualmente impossível: seus modos de vida
eram dessemelhantes demais: os índios, habituados a uma existência livre e
aventureira, seminômades, vivendo, sobretudo da caça, procuravam o abrigo
da floresta e tinham necessidade de grandes espaços. Os colonos,
agricultores, sedentários, desmatavam e cultivavam. À medida que cresciam
em número, iam penetrando cada vez mais no interior e repelindo para mais
longe as tribos (RÉMOND, 1989, p.10).
Como se percebe pela citação, os conflitos eram inevitáveis e, nesse entrave, várias
batalhas se formavam com pequenos intervalos de tréguas nessa relação entre os ocupantes
nativos das terras americanas e os que queriam tomar a força, formando assim, os “novos”
americanos “civilizados”.
As divergências entre as duas raças duraram até o século IX, surgindo desse modo a
epopéia consolizadora da história nacional: as Cruzadas. “As peripécias dessa luta de dois
séculos e meio forneceram o enredo para a maioria dos romances de Fenimore Cooper, ou
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seja, da literatura americana nascente, antes de inspirar incontáveis westerns” (RÉMOND,
1989 p.10). De acordo com a citação, entende-se que Cooper se inspirava nas lutas
desbravadoras por espaço físico – demarcação de terras – para criar suas obras literárias de
cunho romântico demonstrando a superioridade do protagonista na obra indianista.
A narração do romance de Cooper (1994) tem como espaço físico o Fort Willian
Henry e seus arredores. Era o refúgio de muitas famílias, mulheres e filhos de combatentes
durante a guerra inclusive dos índios moicanos. Lugar para onde Chingachgook, o pai de
Uncas, o chefe da tribo dos moicanos e seu irmão adotivo Hawkeye, levaram Cora e Alice
filhas do comandante britânico.
Suas ficções eram dotadas dos ideais de Scott e Byron com concepções tradicionalistas
da mulher, “fundia as suas heroínas dentro do molde mais restrito do desamparo e do decôro
(DOREN, 1960, p.32). Tendo em vista que boa parte de suas obras romanescas têm como
tema as fronteiras americanas alvo de muitas batalhas e, nesse sentido eram os homens donos
de todas as honrosas conquistas. Entende-se que seu interesse pelos limites do país está nos
desbravamentos feitos pelos colonizadores, demonstrado também em (The Pioneers, 1826),
embora não sendo tão heróico quanto “The Spy”.
Publicou em 1823 “The Pilot”, um romance que tinha como cenário as fronteiras
marítimas, inspirado no “Pirate” de Scott. Sua obra superou a do europeu em função de ter
criado um novo gênero literário fazendo crônicas do lugar onde passou sua juventude. Mais
uma vez lança mão da Revolução descrevendo uma história americana de heroísmo
parafraseada com experiências próprias (DOREN, 1960). Sua forma peculiar de como
escreveu esses três romances de maneira linear, as quais tornaram Cooper reconhecido no
campo da literatura nacionalmente, com a tendência a retratar o caráter de seus personagens
em detrimento da função que exercem.
Ainda que pudesse ter sido aristocrático em seus preconceitos, ele
compreendia as ricas diversidades que podem ser introduzidas na ficção,
pela representação de homens retirados de diferentes ofícios, os quais, pelo
menos tanto quanto as épocas ou os ambientes diversos produzem diferenças
entre os homens (DOREN, 1960, p. 35).
Segundo a citação, Cooper era um homem observador ao ponto de transferir para suas
obras literárias as experiências pessoais e a topografia do lugar observado com riqueza de
detalhes para os personagens e cenários envolvidos no enredo. Os protagonistas de suas
ficções sempre são personificação de uma figura típica de sua nação, idealizando dessa forma
o herói nacional. Cooper não obtivera muito sucesso em algumas de suas obras como teve em
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“The Spy”, mas o que o consagrou mesmo foram as aventuras de fronteira tendo seu início em
“The Pioneers”(DOREN, 1960).
O auge da carreia de Cooper veio em 1826 com a publicação de The Last of the
Mohicans (DOREN, 1960), retomando as narrativas aventurescas nos limites dos U.S.A em
fase da colonização européia. Percebe-se que Cooper trabalhou na composição dessa ficção
com a intencionalidade de exaltar as “virtudes de corpo e de alma” do seu herói indígena que
se movimenta em meio às densas matas com uma nobreza de espírito. E com uma “mente
jamais corrompida pelo contato com a injustiça humana” (DOREN, 1960, p.36).
O romantismo mais puro da história está em Uncas, o filho mais novo da
floresta, bravo, habilidoso, cortês, um amante para o qual não há esperança,
o último da orgulhosa raça dos moicanos. Que Uncas era um ideal, o próprio
Cooper o admitia então e sempre; Homero, sugeriu êle, tinha também os
seus heróis. E está clarão que os ombros de Uncas forma lançadas as
virtudes-padrão que os filósofos da época haviam ensinado o mundo a
encontrar em estado de natureza (DOREN, 1960, p.36).
Com as influências de escritores europeus em suas criações literárias, em especial de
Walter Scott, as inspirações do autor são parecidas com as gregas, tal como se refere à
citação. Essa necessidade de transferir para seu protagonista “dentro dos limites próprios da
ficção, aquilo que, em nosso “eu profundo”, gostaríamos de empreender, mas que não
levamos adiante por causa de injunções sociais (MOISÉS, 2006, p.143).
Ao longo de sua carreira como escritor, Cooper procurou compartilhar suas
experiências de fronteiras transferindo para suas personagens protagonistas em diferentes
momentos da história americana. Para isso, o artista usava figuras dramáticas com
características parecidas. Seus romances de aventura e ação tinham uma peculiaridade ao
utilizar personagens com personificações típicas de sua época, sendo que os mais estimados
do autor “eram aqueles em que êle se dedicava francamente à crítica social” (EDWARD,
1960, p.35). A partir desse pressuposto dar-se-à linearidade do personagem Natty:
Nêle, Natty volta a aparecer, vinte anos mais velho que em “The Pioneers”,
bem distanciado das planícies do Mississippi, onde a imaginação popular
sabia que Daniel Boone havia pouco que falecera. Natty reconhece a sua
derrota e ainda lamenta a floresta assassinada, mas abriu mão da ira, pela paz
da velhice. Parece-lhe que tôdas as virtudes se acabaram. Tendo sido um
valente, tem agora de ser engenhoso; os seus braços estão fracos; os seus
olhos o traíram a tal ponto que, não sendo mais o perfeito atirador, rebaixouse à condição de armador de laços (DOREN, 1960, p.37).
Depreende-se que todos os contextos de suas obras são ornamentadas pelos conflitos
entre povos nas fronteiras americanas, uns em defesa de seu território e, outros para
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conquistá-los. Diferentes experiências são vivenciadas pelas personagens de Cooper (1994)
em épocas distintas. A principal característica de seus romances era a personificação de um
herói com natureza nobre. Boa parte desses heróis serviu a causa da revolução americana
(DOREN, 1960). Isso é perceptível em “The Red Rover” (1828), “a sua trama segue a moda
romântica: um heroi, alma imperial, ferido na sua sensibilidade, [...] a ponto de poder
converter-se num momento dramático, [...] prestando serviços à Revolução” (DOREN,
1960p.38).
O que se percebe ao percorrer a fortuna crítica de James Fenemore Cooper é a figura
do herói que o consagrou como um romancista de ação. É possível observar a evolução dessa
personagem ilustre do artista ao longo de suas renomadas obras, mas em especial em “The
Spy” (1821), “The Pioneers” (1823) e “The Pilot” as quais “abriu para si (e para a literatura
norte-americana) os três grandes mundos da ficção que iria possuir: a história, a floresta e o
mar.” (EDWARD, 1960, p.29). Nota-se então, que ao descrever as experiências de fronteira
com a promessa de uma “terra virgem”, Cooper mais uma vez se concentra em um herói de
característica linear:
O mundo colocou os romances, dos quais Natty Bumppo (Deerslayer,
Hawkeye, Leatherstocking, Long Rifle) é herói à frente da obra de Cooper;
foi através dêles que conquistou o mundo. Na ordem em que os eventos
narrados acompanham a cronologia da vida do herói, encontramos “The
Deerslayer” (1841), “The Last of the Mohicans” (1826), “The Pathfinder”
(1840), “The Pioneers” (1823) e “The Praire” (1827). O primeiro nos
apresenta Natty em sua juventude e os dois seguintes em seu esplêndido
apogeu; nos dois últimos, vêmo-lo idoso e finalmente, em “The Prairie”,
assistimos à sua morte (EDWARD, 1960, p. 30).
De acordo com a citação, as escolhas do artista por fatos historicamente lineares para a
criação de seus romances ficcionais se caracterizam como fuga da realidade de uma
irrealidade criada por ele: “o ideal puritano” (EDWARD, 1960, p.33). Nesse sentido, o seu
herói idealizado segue uma trajetória histórica em meio às sucessivas lutas dos europeus pelas
posses das terras que culminaram com a expansão territorial dos Estados Unidos e do Canadá.
O que se percebe ainda, nesse retorno de Cooper ao passado, da colonização das terras
americanas pelos europeus utilizando o personagem Natty Bummppo, a visão que o autor tem
dos valores morais. Apegos estes aprendidos desde criança quando fora adotado pelo pai de
Uncas, Chingachgook. Os adventos das guerras e dos conflitos entre as tribos indígenas são
na verdade não só como pano de fundo para criação de The Last of the Mohicans, como se
constitui também sua base para a narração de todo o enredo romanesco.
18
De posse de muitos relatos e conhecimentos dos acontecimentos do passado, os quais
deram início à expansão territorial nas fronteiras americanas, Cooper transforma tudo isso em
um romance de ação e aventura. Sua trama ficcional é protagonizada pelo herói principal e a
única esperança de sobrevivência ou subsistência da tribo dos moicanos, em que os seus
maiores traços de nobreza se revelam em características honradas de bravura e coragem. O
artista também idealizou esse herói com peculiaridades épicas: ele tinha uma missão para
cumprir, salvar a integridade e a vida de uma bela donzela. Traços estes que o tornaram muito
diferente dos demais índios, pois a maioria deles eram sanguinários.
O diferencial de James Fenimore Cooper estava exatamente no seu conhecimento de
fatos anteriores ao seu nascimento e, em transformá-los em um romance. O enredo é dotado
de muita ação e perseguição, na qual a força e destreza do seu herói idealizado “Uncas” O
Último dos Moicanos, se revelam importantes faces à dependência das moças filhas do oficial
Munro, tão frágeis e incapazes de se defenderem sozinhas.
É verdade que Cooper não tinha conhecimentos de primeira mão sôbre os
índios, mas consultou as fontes mais fidedignas; ao glorificar os Delawares
contra os Iroqueses êle seguia a opinião do missionário morávio, John
Heckewelder (1743-1825), cuja caridade cristã e julgamento cavalheiresco o
atraíram poderosamente. Presume-se, levianamente, com freqüência, que
todos os índios de Cooper eram tão nobres como Uncas e Chingachgook [...]
(EDWARD, 1960, p.40).
De acordo com a citação, percebe-se que Cooper se fundamentava em fatos reais de
ordem lineares de acontecimentos na produção de seu romance ficcional, sempre retratando
de forma cavalhesca o herói indígena, símbolo de bravura e lealdade. Caracterizando-se de
fato com os traços de estilo românticos, pois nessa época utilizava-se desses recursos como
forma de escapismo do mundo real, ou seja, havia sempre um herói em defesa dos mais fracos
em uma aventura romântica, em que uma bela donzela dotada de traços nobres era alvo da
proteção do protagonista.
O estilo romântico familiarizado pelos artistas, tal como o fez James Fenimore
Cooper, é de um espírito permanente que transcendeu a história. Teve seu início em meados
dos séculos XVIII e XIX, durante as mudanças tanto no âmbito social como no cultural, tendo
aflorado com as ideologias da Revolução Francesa.
O romantismo foi um estilo de época da literatura ocidental que aflorou a
partir dos ideais da Revolução Francesa e da ascensão econômica e política
da burguesia. Ou seja, a partir da segunda metade do século XVIII, tomando
força nas primeiras décadas do século XIX. Surgiu em um momento
histórico de intensas transformações sociais, de certa forma, enquanto estilo
19
estético-literário, representou o desejo implícito de, ou colocar ordem no
caos em que se haviam transformado as sociedades européias – desejo esse
que pode ser constatado na literatura de cunho panfletário, engajada na
defesa de causas nobres – ou de evadir-se desse caos a partir da fuga da
realidade, que se expressa na ambientação das histórias no passado histórico
e na idealização de ambiente, de figuras humanas, de sentimentos e de
relações sociais (CONSOLI, 2009, p.1).
Nesse sentido se observa, de acordo com a citação, a peculiaridade do artista em
recrear os variados tipos de ambientes e situações dentro do romance ficcional. E no caso de
COOPER (1994), a ficção se projeta em um romance de ação e aventura mesclada de
perseguição, guerras e por alguns momentos de tréguas. São esses acontecimentos históricos
que eclodiram na formação do território americano em fase das muitas lutas por tomadas das
terras indígenas pelos europeus.
Boa parte dessas guerras foi financiada pelos franceses, sendo que a parte sul do
estado americano se encontrava menos industrializada em detrimento da parte norte. Os
ingleses possuíam o monopólio do norte firmado pelo poder da metrópole. Nesse entrave,
britânicos e franceses lutaram entre si, valendo-se da força e destreza dos nativos nesse “fogo
cruzado” como pode ser analisado na citação logo a seguir.
[...] os colonos ingleses recebiam da metrópole uma ajuda mais substancial
do que eles: a Marinha britânica assegurava as comunicações e interceptava
os reforços franceses. As colônias inglesas tiravam proveito de cada guerra
franco-britânica para melhorar suas posições: de conflito em conflito, o
equilíbrio de forças invertia-se em benefício delas. [...] Nessa luta contra os
franceses e seus aliados indígenas, os colonos afirmaram sua força, suas
milícias adquiriram experiência de guerra, seus oficiais distinguiram-se: um
deles, sobretudo, gozou daí em diante de uma reputação de bravura e
sangue-frio: George Washington (RÉMOND, 1989, p.12,13).
James Fenimore Cooper se baseia então, nos fatos históricos formadores da
nacionalidade americana na criação do romance ficcional “The Last of the Mohicans”. De
posse desses fatos do passado dos U.S.A, COOPER (1994), tem na personagem indígena, a
idealização do herói nacional.
20
CAPÍTULO II THE LAST OF THE MOHICANS E ASPECTOS DA TEORIA DA
PERSONAGEM
O presente capítulo tem como objetivo refletir sobre o processo de criação da
personagem na obra The Last of the Mohicans, foi analisado alguns pontos relacionados à
concepção de personagem e sua importância para a narrativa romanesca. Com a finalidade de
mostrar as diferentes tipologias das personagens e a formação delas dentro do contexto
histórico em que elas se situam e também, olhando pela ótica dos autores que fundamentam
este trabalho é necessário que remeta ao processo de criação da personagem.
Entendamos, inicialmente, o que vêm a ser personagens de romance:
“pessoas” que vivem dramas e situações dentro da narrativa, à imagem e
semelhança do ser humano, “representações”, “ilusões”, “sugestões”,
“ficções”, “máscaras”, de onde “personagens” (derivado da forma latina
persona (m), máscara). Via de regra, só “gente” pode ser personagem de
romance (MOISÉS, 2004, p.138).
As criações dos autores são personagens que vivem dentro dos romances em
conformidade com suas leis próprias no transcorrer do enredo, como salienta o autor da teoria
citada. Todo bom escritor tem em mente o seu herói (personagem) antes mesmo de levar
adiante o seu intento, ou seja, a criação de um enredo ficcional – no caso da pesquisa em
questão, no romance – o artista procura dar “vida” a sua criação fazendo se valer de
mecanismos linguísticos próprios. Delimitando o campo de atuação do personagem fictício e,
de acordo com (BRAIT, 2002, p.11), flagra-se esses seres fictícios residentes no texto que é o
espaço para sua existência.
Nesse sentido, o artista de posse dos conhecimentos feitos sobre seu trabalho dentro do
processo da criação literária, se encontra refletindo sobre as especificidades da narrativa
romanesca. O qual procura dar ênfases relevantes sobre “o caráter histórico do romance
evidencia-se desde o fato de focalizar personagens [...] nos seguidos indícios de reconstituição
temporal [...]” (MOISÉS, 2007, p.148). E isso pode ser observado na citação abaixo.
The facilities which nature had there offered to the lected. The lengthened
sheet of the Champlain stretched from the frontiers of Canada, deep within
the borders of the neighboring province of New York, forming a natural
passage across half the distance that the French were compelle to master in
order to strike their enemies (COOPER, 1994, p.12).
21
Ou seja, o artista é um pesquisador e observador ao mesmo tempo ligado “ao desejo de
autodeterminação” (CITELLI, 1990, p.9) com o herói idealizado na tentativa de “reconstruir”
com as várias facetas de suas personagens os eventos de seu contexto.
O flanco regionalista, menos saliente, mostra-se na circunstância de a
fabulação [...] o aspecto costumbrista patenteia-se no cuidado que o escritor
põe na transcrição dos pormenores sociais. A tais ingredientes, por si só
caracterizadores de romance romântico, somam-se outros que ajudam a
situar a obra nos quadros estéticos da época: a descrição da natureza, pintada
com o idealismo de quem mais imaginava a beleza paisagística que a
observava, segue um a linha melódica que se diria poética, configurando
algo como prosa lírica (MOISÉS, 2007, p.148).
Dentro dessa perspectiva, ele sonda a variação de seu personagem no decorrer de seu
enredo com ideais e leis próprias de sua criação. Assim, será possível analisar a superioridade
da protagonista ante aos algozes na obra indianista, em que se observa as influências do autor
britânico Walter Scott1 nas criações literárias de James Fenimore Cooper. Para tornar isso
possível, o capítulo divide-se em três tópicos, no primeiro com o título “Processo de Criação
da Personagem em The Last of The Mohicans”. O segundo tópico, “Protagonismo X
Antagonismo e o terceiro “A Superioridade do Protagonista na Obra Indianista”.
2.1 Processo de Criação da Personagem em “The Last of The Mohicans”
Este tópico é fundamentado por teóricos que conceituaram alguns pontos sobre a
criação da personagem, no sentido de orientar o leitor na busca de conjeturar a respeito das
várias concepções deste ser de papel. São teorias com enfoque em seres fictícios “habitando”
a narrativa do enredo com características próprias e, semelhantes às de “pessoas”
materializadas em ficção “enquanto representação de uma realidade exterior ao texto”
(BRAIT, 2002, p.11).
De acordo com teóricos da literatura, a criação parte da idealização de um sujeito
abstrato, ele surge do íntimo do criador com características e normas convenientes para a sua
existência dentro de um romance. Reconhece-se que essas criações, são indivíduos que vivem
dentro dos romances em conformidade com leis próprias no transcorrer do enredo, mas que
não deixam de ser criações inspiradas do contexto histórico do autor.
1
Consagrado criador do romance histórico, o escritor britânico Sir. Walter Scott deixou obra de influência
decisiva para o desenvolvimento do gênero (BARSA, 2001, p.181).
22
[...] “o romance é uma obra de arte com suas próprias leis, que não são as da
vida diária, e a personagem no romance é real quando vive de acordo com
tais leis”, “real não porque igual a nós outros (embora possa ser parecida
conosco) mas porque convincente”, e convincente porque realiza, dentro dos
limites próprios da ficção, aquilo que, em nosso “eu profundo”, gostaríamos
de empreender, mas que não levamos adiante por causa de injunções sociais
(MOISÉS, 2007, p.143).
Por meio da teoria supracitada, entende-se que a criação de uma personagem para ficar
eternizada em papel, parte do interesse ou desejo do autor em transferir para o romance
ficcional, na tentativa de sobrevivência ou mesmo de existência. Anseios estes que uma vez
dentro da narrativa romanesca, não tem compromisso com as leis reais, da vida diária e, sim
com a conveniência que bem lhe convier.
Deste modo, quando se analisa um romance norte-americano com os ideais de
influências morais, percebe-se uma contradição de determinados aspectos ligados a fatores da
comunidade que muitas vezes são irreais (EDWARD, 1960, p 40.), ou seja, mesmo que o
autor esteja condicionado a determinados valores éticos impostos pela sociedade, e “aos
ombros de Uncas foram lançadas as virtudes-padrão que os filósofos da época haviam
ensinado o mundo a encontrar em estado de natureza” (DOREN, 1960, p. 36), na obra The
Last of The Mohicans, seu personagem eclode, ganha vida.
The person of this individual was to the last degree ungainly without being
in any particular manner deformed. He had all the bones and joints of other
men, without any of their proportions. Erect, his stature surpassed that of his
fellows; though, seated, he appeared reduced within the ordinary limits of
the race (COOPER, 1994, p.18).
O que se percebe é que Cooper (1994) criou as personagens com características
próprias e ideais de conduta, sempre focado no “herói” nacional como tentativa de
autoafirmação de nação independente.
Em conformidade com Brait (2002), a definição focada na terminologia de “pessoa”,
exemplificando como sendo um ser real, vivo, e sujeito às leis morais pelas quais esse “ser” é
regido e, “personagem” como um ser ficcional, idealizado pelo autor de um romance. A
autora enfatiza os “papeis” das personagens em que o autor de uma determinada obra situa-os
para então desenvolver seu enredo e no caso deste estudo é a narração romanesca.
Ainda que os termos “papéis” e “figuras dramáticas” indiquem possíveis
diferenças existentes entre pessoas e personagens, a frase “Cada uma das
pessoas que figuram em uma narração, poema ou acontecimento” obriga o
leitor a encarar a narração, o poema e o acontecimento como sendo
fenômenos de uma mesma espécie, de uma mesma natureza. E,
textualmente, a identificar pessoas e personagens (BRAIT, 2002. p.10).
23
Segundo a citação há uma “simplicidade metalinguística” em fase da subversão
terminológica, isso existe na tentativa de relacionar as diferenças entre pessoas e personagens.
De acordo com a citação, um artista tem toda liberdade de expressão e de criação dentro do
romance, ele pode criar situações que muitas vezes retratam os desejos. Depreende-se que seja
nesse sentido a forma como Cooper manipula e constrói os personagens. Segundo Moisés
(2007), esse ser ficcional é um ser dotado de uma personalidade e características indiscutíveis,
mas que não pode ser confundido com a pessoa propriamente dita trata-se somente de uma
metáfora do real.
Se quisermos saber alguma coisa a respeito de personagens, teremos de
encarar frente a frente a construção do texto, a maneira que o autor
encontrou para dar forma às suas criaturas, e aí pinçar a independência, a
autonomia e a “vida” desses seres de ficção. É somente sob essa perspectiva,
tentativa de deslindamento do espaço habitado pelas personagens, que
poderemos, se útil e necessário, vasculhar a existência da personagem
enquanto representação de uma realidade exterior ao texto (BRAIT, 2002, p.
11).
Ao analisar a citação, entende-se que é necessário conhecer não só a obra do autor,
mas também as concepções literárias do artista, estudar a construção do enredo e a criação
tanto das personagens como o espaço por elas habitado. A obra do artista é o resultado de um
árduo trabalho de pesquisa na tentativa de “representar” uma realidade vivida ou não por ele
e, cabe ao estudioso de literatura ou de historiografia “vasculhar” o trabalho do artista. Assim,
ler The Last of The Mohicans é perceber todos estes aspectos em sua interioridade.
“Even your traditions make the case in my favor, Chingachgook,” he said,
speaking in the tongue which was known to all the natives who formerly
inhabited the country between the Hudson and the Potomack, and of which
we shall give a free translation for the benefit of the reader; endeavoring, at
the same time, to preserve some of the peculiarities, both of the individual
and of the language (COOPER, 1994, p.34).
Partindo desta perspectiva, o artista cria as personagens na tentativa de recriar
situações reais ou próximas com elementos que determinam essas criações bem parecidas
com indivíduos “reais”, ou seja, são baseados em pessoas que podem ser ou não do cotidiano
do artista. Como pode ser confirmado na citação abaixo que mostra um cenário ou ambiente
de guerras e guerreiros próprios do tempo vivido por Cooper.
Few men exhibit greater diversity, or, if we may so express it, greater
antithesis of character, than the native warrior of North America. In war, he
is daring, boastful, cunning, ruthless, slef-denying, and self-devoted; in
24
peace, just, generous, hospitable, revengeful, superstitious, modest, and
commonly chaste. There are qualities, it is true, which do not distinguish all
alike; but they are so far predominating traits of these remarkable people, as
to be characteristic (COOPER, 1994, p.5).
Ao analisar a citação, percebe-se que Cooper possuía conhecimento dos fatos
históricos da colonização do solo americano e, de posse dos mesmos o artista cria a ficção
romanesca utilizando como pano de fundo a “Guerra dos Sete Anos”.2
Segundo (BRAIT, 2002, p.35) idealiza-se “a personagem não apenas como reprodução
dos seres vivos, mas como modelos a serem imitados, identificando personagem-homem e
virtude e advogando para esses seres o estatuto de moralidade humana que supõe imitação”.
Nesse sentido, o artista influenciado por outros escritores europeus procurou desenvolver
estilos característicos do romance histórico, relacionando-o com o mundo externo à narrativa.
Mesmo sendo um ser fictício, a personagem é quem desenvolve toda a ação e, em The Last of
the Mohicans as ações do enredo são permeadas e somente têm condições de sobreviver em
função do personagem “Uncas”.
A personagem é um ser fictício responsável pelo desempenho do enredo; em
outras palavras, é quem faz a ação. Por mais real que pareça, a personagem é
sempre invenção, mesmo quando se constata que determinadas personagens
são baseadas em pessoas reais ou em elementos da personalidade de
determinado indivíduo (GANCHO, 2004, p.17).
Percebe-se que a personagem como sendo pertencente a uma narrativa de cunho
romântico é identificada por suas falas e ações. Precisa participar de todo desenrolar do
enredo, ou seja, são “as figuras dramáticas de um romance: “pessoas” que vivem episódios e
circunstâncias dentro da narrativa, semelhantes a do ser humano (MOISÉS, 2004, p.138). Na
maioria das vezes, são representações históricas de acontecimentos vividos por “pessoas” da
sociedade ou ainda, são baseadas em fatos reais. Podendo haver certas semelhança ou
coincidência na narrativa ficcional.
[...] é chamada de ficção, isto é, imaginação de algo que não existe
particularizado na realidade, mas no espírito de seu criador. [...] cria o seu
próprio universo, semanticamente autônomo em relação ao mundo me que
vive o autor, com seus seres ficcionais, seu ambiente imaginário, seu código
ideológico, sua própria verdade: [...] é fruto de imaginação, pois o caráter
ficcional é uma prerrogativa indeclinável da obra literária. Se o fato narrado
pudesse ser documentado, se houvesse perfeita correspondência entre os
elementos do texto e do extratexto, teríamos então não arte, mas história,
crônica, biografia (D’ONOFRIO, 1995, p.19).
2
A competição pelas riquezas do continente levou à deflagração de hostilidades entre a Grã-Bretanha e a
França, em 1754, que prosseguiram com a guerra na Europa, de 1756 a 1763 (HEALE, 1991, p.12).
25
Depreende-se pela citação, que a obra literária não tem nenhum compromisso em
retratar com fidelidade os fatos reais ou históricos. O que se percebe em The Last of The
Mohicans, é que Cooper utiliza como pano de fundo, eventos relacionados à colonização das
terras americanas pelos europeus durante a “Guerra dos Sete Anos” nas fronteiras dos E.U.A.
No entanto, há uma “equivalência da verdade, a verossimilhança, que é a característica
indicadora do poder ser do poder acontecer” (D’ONOFRIO, 1995, p.20), justamente por se
utilizar acontecimentos históricos.
Distinguimos uma verossimilhança interna à própria obra, conferida pela
conformidade com seus postulados hipotéticos e pala coerência de seus
elementos estruturais: a motivação e a causalidade das seqüencias narrativas,
a equivalência dos atributos e das ações das personagens, a isotopia, a
homorritmia, o paralelismo, etc.; e uma verossimilhança externa, que
confere ao imaginário a caução formal do real pelo respeito às regras do bom
senso e da opinião comum (D’ONOFRIO, 1995, p.20).
Pode ser analisado que na obra The Last of The Mohicans de acordo com a citação, os
elementos tanto estruturais típicos dos romances de aventura, os quais narram as ações das
personagens quanto os fatores externos da narrativa. Depreende-se de aspectos artísticos de
Cooper (1994) em sua composição ficcional valendo-se de mecanismos da mímese e a da
verossimilhança a fim de aproximar ao máximo possível o seu leitor dos fatos narrados ao
processo de colonização das terras americanas na tentativa de exaltação do “herói” nacional.
E essa aproximação da realidade criada por Cooper (1994) é comprovada pela citação abaixo.
[...] considerando que o critério do verossímil subordina o que seriam as
duas faces da mímese: “externa”, ligada à relação de seu objeto temático
com as referências exteriores de tempo e espaço; e “interna”, referente à
seleção e disposição estrutural do material verbal do mito; - torna-se didático
e oportuno o desdobramento dicotômico da verossimilhança, em externa e
interna;3 (COSTA, 1992, p.54).
O que se percebe é que o artista ao compor a obra de aventura, transferiu para The Last
of The Mohicans, eventos tanto relacionados a fatos externos – colonização pelos europeus;
guerras – quanto a episódios internos da narrativa: o romance. E no próximo tópico será
analisada sob essa perspectiva, a oposição de características de valores, culturas e caráter
permeadas pelas vertentes protagonistas e antagonistas.
3
O desdobramento do critério da verossimilhança, em externa e interna, não faz parte do texto explícito da
Poética, sendo, entretanto, uma forma operatória adequada para avaliar a teoria minético-estrutural, que
Aristóteles propõe para a arte literária. Luiz Costa Lima, em ensaio que escreveu sobre a Poética, aborda a
referida distinção entre os dois níveis da verossimilhança (A estética aristotélica da suspensão do juízo. In:
Estruturalismo e teoria da literatura. Petrópolis, Vozes, 1973).
26
2.2 Protagonismo X Antagonismo
Mine ear is open, and my heart prepared:
The worst is worldly loss thou canst unfold:Say, is my kingdom lost?
SHAKESPEARE
O livro trata-se de uma narrativa de cunho romântico, com informações históricas em
fase da harmonia existente entre o natural e o choque cultural de civilizações, com suas
crenças e costumes, bem como os “protagonistas” e os “antagonistas” “[...] há personagens
principais (protagonistas) e personagens secundárias (deuteragonístas) ou/e antagônicas
(antagonistas), de acordo com a importância do drama vivido particularmente por elas e com a
perspectiva adotada pelo ficcionista” (MOISÉS, 2004, p.140).
O que se entende pela citação é que o artista não somente cria um mundo imaginário
emanado dele, como também ações do enredo para a ficção romanesca. Ao passar pelo
processo de criação das personagens, sejam elas protagonistas ou antagonistas, está dentro do
“ponto de vista” do artista e, fatos relacionados ao caráter delas.
Não há conveniência em substituir o termo tradicional personagem por
ator[...]. Personagem (palavra derivada de persona, a máscara do teatro
romano) é tão teatral quanto ator. Máscaras a esconder o caráter esquivo das
personagens definem bem os entes que povoam o mundo romanesco
(SCHULER, 1989, p.40).
Dessa forma, busca-se fazer uma reflexão sobre o heroísmo na obra “O Último dos
Moicanos” de James Fenimore Cooper. Enfatizando a teoria do romance em confronto com os
aspectos pertinentes à análise de textos literários, por meio do qual procurará demonstrar o
processo de criação do herói. Onde é possível perceber “os mecanismos utilizados pelos
ficcionistas na composição do romance, seja na sua estrutura, no desenvolvimento da ação, na
descrição da natureza, seja na criação das personagens” (MOISÉS, 2004, p.144). E Cooper
desenvolveu isso com riqueza de detalhes nas campinas norte-americanas dizendo que “The
facilities which nature had there offered [...] forming a natural passage across half the distance
[...] whose waters were so limpid as to have been exclusively selected by the Jesuit
missionaries to perform the typical purification[…]” (COOPER, 1994, p.12), bem como se
projetando na suas personagens.
Ora, a origem da criação da personagem obedece a tais mecanismos, o
primeiro e o segundo fundidos praticamente num só, e o outro, formado da
projeção do “eu” do ficcionista. [...] e a personagem do romance é real [...]
não porque igual a nós outros (embora possa ser parecida conosco) [...].
Entretanto, “por mais imaginativo que possa ser, um escritor forma suas
27
personagens partindo da vida e largamente de si próprio”. Com efeito, em
certa medida, sempre o ficcionista extrai as personagens de dentro de si, pois
mesmo quando emprega a observação ou a memória, transforma tudo em
matéria própria, identificando os dados lembrados ou observados com suas
mais profundas vivências (MOISÉS, 2006, p. 145).
Nas palavras de Moisés (2004), o ficcionista cria suas personagens de acordo com sua
necessidade dentro de determinados papéis como protagonismo x antagonismo. E Cooper
(1994) procurou desenvolver o “herói” demonstrando a superioridade do protagonista na obra.
“Uncas is right! It would not be the act of men to leave such harmless things to their fate, [...]
These Mohicans [...] will do what man’s thoughts can invent, to keep such flowers, which,
though so sweet, were never made for the wilderness” (COOPER, 1994, p. 52-53.). Nesse
sentido, o protagonista da narrativa romântica de caráter linear, “é a personagem principal –
herói: é o protagonista com características superiores às de seu grupo;” (GANCHO, 2004,
p.18). O enredo da história só existe em razão desse “herói” com as narrativas das ações mais
importantes sob a ótica do artista.
Aos olhos da mente de Cooper, [...] o romantismo mais puro da história está
em Uncas [...] o apêlo perene da juventude cortada na flor. A ação e o
cenário do romance estão no mesmo plano imaginário das personagens. A
floresta, em que todos os seus acontecimentos têm lugar, rodeia-os com uma
majestade imutável, uma calma venerável, uma profundeza de significação
que torna mais agudo, por contraste, o senso de perigo que jamais se reduz
(DOREN, 1960, p.36 e 37).
Observa-se a parte intrínseca da historiografia a qual o romance tradicional está
intimamente ligado e, por sua vez, está associado às façanhas heróicas fortemente empregadas
nas narrativas romanescas: a idealidade bélica. Assim, depreende-se que “a personagem
conserva na Idade Média o caráter de força representativa, de modelo humano moralizante
“[...] que conduzem a uma ação virtuosa, e que a personagem deve ser a reprodução do
melhor do ser humano” (BRAIT, 2002, p.36). São qualidades identificadas nas personagens
de Cooper em sua obra. O artista procurou reproduzir no “herói” todo o ideal puritano “The
man is, most manifestly, a disciple of Apollo,”[...]. “It cannot be!” Said the young Indian,
springing to his feet withe youthful eagerness. “All but the tips of his horns are hid!”
(COOPER, 1994, p.27, p.39).
Na narrativa de The Last of The Mohicans é percebido o processo de composição
artística do autor que lança mão da criatividade relacionando ao processo de composição tanto
do cenário quanto do enredo com ações repletas de bravuras. Assim, retomando fatos
históricos entrelaçados à imaginação do artista “ou projeção do “eu” do romancista”
28
(MOISÉS, 2004, p.144), Cooper descreve-os ao seu estilo – como pode ser observado na
citação abaixo.
“These Indians know the nature of the Woods, as it might be by instinct!”
returned the scout, dropping his rifle, and turning away like a man who was
convinced of his error. “I must leave the buck to your arrow, Uncas, or we
may kill a deer for them thieves, the Iroquois, to eat” (COOPER, 1994,
p.39).
De acordo com a citação, Cooper utiliza fatos relacionados “a memória, a observação
e a imaginação” (MOISÉS, 2004, p.145) na idealização do herói nacional e a oposição das
personagens em função de seu caráter facilmente identificados pelas vertentes de
protagonismo x antagonismo. Nesse sentido, Cooper (1994) procura com seu estilo,
demonstrar a nobreza de espírito do protagonista “Uncas” demandada por sua superioridade
aos demais personagens em especial aos antagonistas. É basicamente o que será disposto no
tópico seguinte.
2.3 A Superioridade do Protagonista na Obra Indianista
Before these fields were shorn and till’d,
Full to the brim our rivers flow’d;
The melody of waters fill’d
The fresh and boundless wood;
And torrents dash’d, and rivulets play’d,
And fountains spouted in the shade.
BRYANT
Em The Last of The Mohicans, Cooper (1994) cria um protagonista, o jovem moicano
Uncas com ideais de honra e lealdade ao seu código de conduta. O autor narra a possível
ascendência de Uncas “cortado na flor da juventude” (DOREN, 1960, p.36) sobre seu pai
Chingachgook, como chefe da tribo dos Moicanos, refletindo com isso as crenças e a honra
por meio de sua conduta em que acreditava. Sendo “Uncas” a esperança do pai, para
perpetuação ou continuação da tribo, como pode ser comprovada na citação abaixo.
“[…]As for me, the son and the father of Uncas, I am a blazed pine, in a
clearing of the palefaces. My race has gone from the shores of the salt lake,
and the hills of the Delawares. But who can say that the serpent of his tribe
has forgotten his wisdom? I am alone –” (COOPER, 1994, p. 414).
29
De acordo com a citação, o “extrair” personagens de dentro do artista é um resultado
das observações feitas por ele e, são frutos da memória – imaginação. A origem da criação
desta personagem obedece a tais mecanismos, o primeiro e o segundo fundidos praticamente
num só, e o outro, formado quando o ficcionista “emprega a observação ou a memória,
transforma tudo em matéria própria, identificando os dados lembrados ou observados com
suas mais profundas vivências” (MOISÉS, 2004, p.145). Desse modo, Cooper se baseou em
aspectos históricos ligados à formação da nacionalidade americana no período da colonização
pelos europeus antes de seu nascimento.
The Mohicans were the possessors of the country first occupied by the
Europeans in this portion of the continent. They were, consequently, the first
dispossessed; and the seemingly inevitable fate of all these people, who
disappear before the advances, or it might be termed the inroads of
civilization, as the verdure of their native forests falls before the nipping
frost, is represented as having already befallen them. There is sufficient
historical truth in the picture to justify the use that has been made of it
(COOPER, 1994, p. 7).
Percebe-se pela citação, os fatos históricos da ocupação do estado americano pelos
europeus desencadearam várias lutas pelas conquistas das terras. Guerras entre os franceses e
ingleses e as tribos Delawares, os Maguas e os Iroqueses. “É verdade que Cooper não tinha
conhecimentos de primeira mão sôbre os índios, mas consultou as fontes mais fidedignas ao
glorificar os Delawares contra os Iroqueses [...] (EDWARD, 1960, p.40), porém, percebe-se
com riqueza de detalhes uma narrativa linear de cunho romântico e dramático onde as ações
se desencadeiam em períodos de confrontos e tréguas.
Embora Cooper tenha vivido num tempo posterior ao período da colonização européia,
o artista pode retratar em sua composição literária, The Last of The Mohicans, partindo
largamente de sua imaginação e de recursos históricos, detalhes das guerras entre franceses e
ingleses em que os nativos ficaram “num foco cruzado”. Tendo em vista que algumas tribos
foram sujeitadas à “briga” que não era suas. Assim, os Moicanos lutavam apenas por seus
ideais a fim de manter seu código de conduta.
No desenrolar da narrativa romanesca de Cooper é reforçado pela citação, o impasse
entre essas tribos nativas e os colonizadores europeus. Assim, ao analisar este romance de
aventura desse artista percebe-se a superioridade de seus personagens indígenas em sua
ficção. Obra que fez de Cooper um escritor reconhecido nacionalmente, ao criar romances
ligados à vida nas fronteiras americanas. Suas narrativas são delineadas em torno dos
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personagens indígenas permeadas pelas ações de muita aventura dotadas de bravura e
coragem.
“Listen,” repeated the Indian, resuming his earnest attitude. “When his
English and French fathers dug up the hatchet, Le Renard struck the warpost
of the Mohawks and went out against his own nation. The palefaces have
driven the redskins from their hunting grounds, and now, when they fight, a
white man leads the way (COOPER, 1994, p.120).
Depreende então, pela citação que o “herói” nacional criado por Cooper é responsável
pelas ações no romance – The Last of The Mohicans. Com isso, percebe-se que a formação do
antagonismo e protagonismo na obra se consolidam “enquanto processo geradores de
personagens” (MOISÉS, 2004, p.145), parte amplamente da projeção do artista em transferir
para sua criação como resultado de suas observações e memória sua concepção de
personagem imaginário ou real, ganhando “vida” e “características” peculiares dentro da
narrativa – o texto.
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CAPÍTULO III HONRA E HEROÍSMO EM THE LAST OF THE MOHICANS
O capítulo apresenta aos estudantes do curso de Letras um pouco da literatura norteamericana e o processo de formação do herói presentes no livro The Last of the Mohicans
escrito pelo autor James Fenimore Cooper. O texto discute o sujeito herói na narrativa
literária. Tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o heroísmo na obra “O Último dos
Moicanos” de Cooper. Enfatizando a teoria do romance em confronto com os aspectos
pertinentes à análise de textos literários mediante o pressuposto construtivo da análise do
gênero narrativo.
Assim, fala-se em romance de ação quando predomina o nível fabular: o
autor dá mais importância à intriga, o que acontece no romance de aventura,
de capa e espada, reconstrução histórica. É chamado romance de
personagem a narrativa em que se dá preferência à caracterização do
protagonista e de outros atores [...] (D’ONOFRIO, 1995, p.117, 118).
O capítulo faz uma pesquisa para analisar os traços românticos e literários presentes na
obra focando a honra e lealdade do herói indígena. Para isso foi utilizado o personagem
protagonista em The Last of the Mohicans “Uncas”, visando estudar as características
marcantes de bravura e heroísmo. Analisa sob a ótica de James Fenimore Coopre, a temática
de seu trabalho que o consagrou como escritor americano. Tendo em vista “a imaginação de
Cooper, [...] havendo logrado sucesso num romance histórico [...] volta-se agora, [...] para o
tema da Fronteira” (DOREN, 1960) dedicando-se a temas relacionados aos limites dos E.U.A.
em seus romances históricos e de aventura.
O que está em foco é levantar uma discussão sobre o trabalho do autor na formação
artística e heróica do protagonista “Uncas”, e fazer uma análise sob a égide do artista em sua
composição literária na idealização do ‘herói’ nacional e sua superioridade dentro da obra
indianista. Onde se observa o deslumbre de Cooper sobre as florestas que incutiram em seus
personagens características próprias e “virtudes de corpo e de alma, combina êle uma nobreza
de espírito [...] Que Uncas era o ideal [...]” (DOREN, 1960).
É pertinente ressaltar os traços marcantes do romantismo presentes na obra, bem como
as características que o configuram e, a formação artística tanto do herói quanto de seu caráter
consolidado por sua bravura e coragem dentro desta narrativa linear.
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3.1 – A Formação Artística do Herói Expresso em Uncas
Para a consolidação da formação artística do ‘herói’ na aventura romântica, Cooper
constrói sua personagem-protagonista sob a égide de um caráter bravo, de sentimentos
movidos pela harmonia com a natureza e valores tanto morais quanto de honra e proteção às
ideologias representadas pela tribo dos Moicanos. Nesse sentido, Cooper (1994) compõe o
enredo da obra em função das ações desenvolvidas pelo protagonista e “herói” personificado
em “Uncas”.
O narrador mostra com riqueza de detalhes os elementos conflitantes entre as tribos
rivais dos moicanos, as campinas, as grutas quase inexploráveis, os rios caudalosos com
cachoeiras e animais selvagens. O artista transfere para a obra The Last of The Mohicans, toda
essa relva e os habitantes nativos como forma de exaltação tanto do território nacional como
do “herói” propriamente dito.
But the rifle of Uncas was deliberately raised toward the heavens, directing
the eyes of his companions to a point where the mystery was immediately
explained. A ragged oak grew on the right bank of the river, nearly opposite
to their position, which, seeking the freedom of the open space, had inclined
so far forward that its upper branches overhung that arm of the stream which
flowed nearest to its own shore. Among the topmost leaves, which scantily
concealed the gnarled and stunted limbs, a savage was nestled, partly
concealed by the trunk of the tree […] (COOPER, 1994, p.86).
O que se observa na obra, tal como o da citação, são ações que se desenvolvem ao
longo da narrativa, as quais são desencadeadas por uma série de eventos aventurescos em que
o personagem “Uncas” é o protagonista dessas ações. Mesmo sendo uma obra de ficção, não
se pode negar o cunho de verdade no romance, Cooper utiliza fatos relacionados ao passado
da colonização nas fronteiras americanas. No entanto, sua imaginação artística transcende o
seu tempo criando um ser imaginário, uma personagem lendária que muito se assemelha a um
Hércules, ou um Odisseu das grandes epopeias.
[...] a coerência estrutural da obra, [...] a fuga para o mundo da imaginação,
[...] mas nunca idênticas às do mundo real. A literatura de ficção supera a
antítese do ser e do não se, do real e do imaginário: a personagem artística é,
porque foi criada por seu autor, e, ao mesmo tempo, não é, porque nunca
existiu no plano histórico (D’ONOFRIO, 1995, p.20,21).
De acordo com a citação, a formação artística do protagonista é externa ao mundo real,
sendo apenas uma imitação da realidade ou da imaginação do “eu” do ficcionista, ou seja, é
fruto da sua imaginação. Seu trabalho é fruto de muita reflexão, consolidando-o ao eclodir de
33
sua figura dramática, ou seja, “A personagem é um ser que pertence à história e que, portanto,
só existe como tal se participa efetivamente do enredo, isto é, se age ou fala” (GANCHO,
2004). Desse modo, a narrativa na obra The Last of The Mohicans se configura como aventura
romântica e de ação onde o enredo dá ‘vida’ às personagens.
O que se pode perceber nesse tópico é que os reflexos do autor de romance histórico
são analisados sob o contexto das ações e características dos personagens envolvidos na
narrativa. E sobre tudo, na formação artística do ‘herói’ nacional.
3.2 – Honra e Coragem em The Last of The Mohicans
A narrativa romântica é permeada por ações que desenvolvem com atos de bravura e
coragem. Consolida-se então, como uma obra romanesca por si tratar de uma ficção linear
onde a presença do ‘herói’ é fundamental para que se ocorra todo o desenrolar da narrativa em
função da frágil donzela que é salva pelo protagonista.
Existem em O Último dos Moicanos são ações engajadas de muito heroísmo de um
bravo em favor de uma frágil donzela, desenvolvendo com isso um dos aspectos importantes
da tendência romântica do período. Cooper (1994) personifica em “Uncas” um selvagem de
caráter nobre não corrompido pelo contato com os europeus. Os ideais do jovem moicano,
representante indígena dos legados de seu pai “Chingachgook” eram honra e lealdade
configurando “o mito do herói individual dirigido por um código de honra ao qual não faltam
os princípios de lealdade, fidelidade e respeito (CITELLI, 1990, p.8).
Em sua composição, Cooper (1994), narra a nobreza de espírito de “Uncas”,
possuindo uma mente jamais corrompida, vivendo em perfeita harmonia com a exuberante
natureza que o cercava. Um jovem descendente da tribo dos Moicanos, que se tornava cada
vez mais nobre à medida que ia crescendo. E, mesmo com esse contato com os homens de
culturas diferentes das tribos indígenas, eles não influenciaram o caráter do herói idealizado
por Cooper, onde o qual vivia em plena harmonia com a natureza em seu estado expressivo de
contemplação e respeito as suas origens que se configura como retorno a identidade, mais um
aspecto que a obra romântica tinha que focar.
“There is a principle in that,” He Said, “different from law of the woods; and
yet it is fair and noble to reflect upon.” Then, heaving a heavy sigh, probably
among long abandoned, he added, “It is what I would wish to practice
myself, as one without a cross of blood, though it is not always easy to deal
with an Indian as you do believe your scent is not greatly wrong, when the
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matter is duly considered, and keeping eternity before the eyes, though much
depends on the natural gifts, and the force of temptation” (COOPER, 1994,
p.325).
Observa-se desta forma, segundo a citação é que mesmo em meio às guerras tanto dos
europeus pela conquistas das terras americanas e do Forte William Henry, o caráter de
“Uncas” permaneceu intacto. Ao analisar a obra, percebe-se a intencionalidade de James
Fenimore Cooper em conduzir o enredo focando “o último da orgulhosa raça dos moicanos”
(DOREN, 1960) para sua grandeza de espírito e mente nunca contaminada, diferentemente de
seu pai Chingachgook que sofreu mudanças com o passar dos anos ao se entristecer.
Paralelo ao protagonista “Uncas”, existem outras personagens que alteram de alguma
seu comportamento e sentimento ao longo da narrativa. Isso ocorre devido a vários fatores ou
situações pelas quais são submetidas às personagens no enredo. Como é uma narrativa
romântica e de aventura, não seria de se estranhar que boa parte desses acontecimentos
fossem em virtude dos confrontos e guerras. Muitas das ações emocionantes se
desenvolveram em meio às fugas, como pode ser comprovado pela citação abaixo.
A perseguição compõe quase todo o enrêdo. O grupo perseguido, mudando
de Forte Edward para Fort William Henry, conta com duas môças para
dificultar a sua fuga e para aumentar a tragédia da captura. Mais tarde, uma
vez capturadas as môças, a simpatia se transfere – coisa desusada em Cooper
– para os perseguidores que vão em seu socorro (DOREN, 1960, p.37).
Percebe-se desse modo, que a narrativa de Cooper (1994) compreende as ações de
bravura, honra e cavalherismo por parte das tribos Hawkeye e dos Moicanos. São os
protetores das filhas inglesas Cora e Alice do Coronel Munro, os quais são incumbidos da
tarefa de conduzi-las até ao Fort William Henry para se encontrarem com seu pai. No entanto,
são perseguidos e impedidos no meio do caminho, passando de perseguidos a perseguidores a
fim de salvá-las dos seus algozes.
Para a consolidação do “herói” nacional personificado em “Uncas” como “[...] um
símbolo “vivo” de nosso “eu profundo” (MOISÉS, 2006), Cooper (1994) confere ao
protagonista Uncas “as virtudes-padrão que os filósofos da época haviam ensinado o mundo a
encontrar em estado de natureza” (DOREN, 1960). Em contrapartida, transfere para os
antagonistas as implicações relativas ao contato com os homens da “civilização moderna”. E,
nesse entrave com o intuito de proteger as donzelas, os “mocinhos” percorrem “Nessa tarefa,
Hawkeye e os moicanos vêem-se diante da capacidade feroz do hurão Magua, que faz o vilão,
contra o herói Uncas, tem qualidades físicas iguais às de Uncas, e é o seu oposto pelas
qualidades morais” (DOREN, 1960).
35
Durante toda a narrativa ocorrem várias passagens de muito suspense seguidas de lutas
e fugas. Como é de características do romance de aventura, o “herói” se desdobra para salvar
a donzela em perigo.
The singers were dwelling on one of those low, dying chords, which teh ear
devours with such greedy rapture, as if conscious that it is about to lose
them, when a cry that seemed neither human nor earthy rose in the outward
air, penetrating not only the recesses of the cavern, but to the inmost hearts
of all who heard it. It was followed by a stillness apparently as deep as if the
waters had been checked in their furious progress at such a horrid and
unusual interruption. “What is it?” murmured Alice, after a few moments of
terrible suspense (COOPER, 1994, p.69).
Na obra são citadas várias cavernas que muitas vezes funcionavam como esconderijo
para os protagonistas em meio às guerras, servindo de rota de fuga. Consolidando assim,
como uma obra romântica e de aventura. Características essas facilmente identificadas nos
personagem, pois Uncas possuía traços do romantismo em seu perfil, uma vez que era de
poucas palavras, porém era objetivo sendo muito leal, mantendo um caráter elevado, honrado
e corajoso.
Essas ações de bravura e coragem são um marco forte da obra, tendo em vista a
missão épica de Uncas, salvar uma mocinha branca de origem europeia, a qual depende da
força e instintos selvagens do “herói”. Características estas típicas das narrativas de aventuras
próprias do contexto dos romances históricos e, do período de James Fenimore Cooper.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A finalidade de se fazer esta monografia foi mostrar em um trabalho acadêmico as
diferentes tipologias das personagens em sua formação dentro do contexto histórico em que
elas se situam e também, olhando pela ótica dos autores que fundamentam este trabalho
acadêmico, o processo de criação da personagem. Bem como as conformidades de existências
dessas personagens no tempo e espaço do enredo ficcional com suas próprias leis.
É importante destacar que este trabalho tem como eixo norteador a honra e o heroísmo
expressos nos personagens da obra do autor norte-americano James Fenemoure Cooper “The
Last of the Mohicans”, a qual foi o objeto de análise e estudo. Procurou-se apresentar neste
trabalho as formas peculiares do artista em compor a narrativa de cunho romântico-histórico
e, as razões que o levaram a contextualizar os adventos durante as guerras entre os europeus
que se desencadearam na formação da civilização americana.
De acordo com essa premissa o autor narra em seu romance ficcional com riqueza de
detalhes em estilo romântico todas as campinas e relvas americanas, personagens marcantes
de suas obras em meio a “A Guerra dos Sete Anos” entre os europeus (franceses e ingleses)
colonizadores daquele país, e também retrata o conflito interno das tribos Delawares, os
Máguas e os Iroqueses.
Considerando o tema e os objetivos da pesquisa, este tornou-se instigante numa
perspectiva relevante em função de contribuir para a valorização da literatura americana,
pouco difundida no território brasileiro com foco no assunto pesquisado e para os estudantes
de Letras e pesquisadores da historiografia. Tendo em vista os resultados da análise de textos
literários de cunho romântico e histórico como “A opção pelo passado histórico enquanto
tempo da narrativa caracteriza uma das mais marcantes facetas da ficção romântica: a evasão,
ou fuga da realidade” (CONSOLI, 2009).
É pertinente ressaltar que dentre os objetivos previstos para este trabalho, foi possível
analisar a imaginação artística de Cooper em que na obra analisada, o enredo muito se
assemelha às grandes epopéias. Na verdade, o artista não possuía recursos da historiografia
que os pudessem ajudar em sua composição literária, mas isso não o impediu de produzir uma
ficção a seu estilo, tal como é exemplificada pela citação abaixo.
Cooper não tinha, como Scott, o recurso dos conhecimentos históricos, a que
recorrer quando a inventiva o abandonava, assim como também não possuía
o temperamento brando de Scott, quando se via envolvido numa discussão;
mas, quando a sua inventiva fugia do mundo dos costumes estabelecidos,
sôbre o qual estava construída a arte de Scott, Cooper fazia apenas com a
37
imaginação o que Scott, com as suas qualidades subsidiárias, não era capaz
de superar (DOREN, 1960, p.48).
Segundo a citação, Cooper superou com a obra The Last of The Mohicans as
influências que sofrera das literaturas produzidas pelo escritor britânico Walter Scott mesmo
reconhecendo, segundo DOREN (1960) “sua própria inferioridade, com relação a Scott”.
Entende-se que o trabalho de Cooper foi fundamental para a formação da cultura literária dos
norte-americanos para sua autoafirmação no campo do gênero da narração ficcional.
Com relação à natureza do caráter das personagens na obra indianista, bem como seus
atos de bravura e coragem aliados aos ideais de conduta, estes se desenvolveram na narrativa
do artista sob a égide da conotação do romance histórico levando o leitor a considerar que:
[...]a existência de uma paixão de Uncas por Alice, o extremo sacrifício do
jovem índio permite avaliar esse amor como desmesurado. [...] Uncas arrisca
a vida e, consequentemente, a continuidade genealógica da tribo moicana em
nome de uma paixão que sequer sabe se é correspondida (CONSOLI, 2009,
p.9).
Entende-se pela citação que os atos típicos dos heróis épicos, em que este vive e morre
em função da proteção da bela e indefesa donzela a fim de ter a atenção, amor e respeito dela.
Ações essas que se desenvolveram na trama ficcional sem, contudo se ver a influência do
homem branco refletindo nos ideais da cultura moicana.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS
BRAIT Beth. A Personagem: Série Princípios, 7ª edição. Editora Ática – São Paulo; 2002.
CITELLI, Adilson. Romantismo: Série Princípios. Editora Ática – São Paulo; 1990.
COOPER, James Fenimore. The Last of The Mohicans: Penguin Popular Classics, 1994.
COSTA, Lígia Militz da. A Poética de Aristóteles – Mímese e verossimilhança. Editora
Ática, 2006
CRUNDEN, Robert M. Uma Breve História da Cultura Americana: (tradução, Álvaro Sá),
Rio de Janeiro; Nordica, 1990.
D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do Texto: prolegômenos e teoria da narrativa. Editora Ática
S.A. São Paulo (SP); 1995.
DOREN, Carl Van. O Romance Americano: (tradução de Neil R. da Silva), Belo Horizonte;
Editora Itatiaia Limitada, 1960.
EDWARD Wagenknecht. Panorama do Romance Americano: (tradução, Esther de
Carvalho), Belo Horizonte; Editora Itatiaia Limitada,1960.
GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas: 8. Ed – São Paulo; Ática, 2004.
MOISÉS, Massaud. A Criação Literária – prosa: São Paulo; Cultrix, 2006
MOISÉS, Massaud. A Literatura Brasileira Através dos Textos: São Paulo; Cultrix, 2007.
RÉMOND, René. História dos Estados Unidos: (tradução Álvaro Cabral), São Paulo;
Martins Fontes, 1989.
SCHÜLER Donaldo. Teoria do Romance: Série Princípios, São Paulo; Ática, 1989.
SOLETRAS, Ano IX, Nº17. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2009 Má[email protected]
– acessado em 26/03/2012.
SOUZA, Roberto Acízelo Quelha de. Teoria da Literatura: 10. Ed. – São Paulo; Ática,
2007.
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