SAGRADO
SEGREDO
A Via Sacra segundo
André Luiz Oliveira
SALADA COM
PESTICIDA
Você sabe o que vem
junto no seu prato?
MICHAEL
TILSON
THOMAS
Música e emoção
através dos tempos
HUBBLE
22 ANOS DE BONS SERVIÇOS
divulgação
#
73
Ed
iç
ão
Oásis
por
Luis
Pellegrini
Editor
“O Hubble sozinho revelou mais que
milênios de observação do céu, desfez
mais crenças arrogantes e dogmáticas
do que todas ilustres cabeças realmente
pensantes que já pisaram nesta Terra”
H
á 22 anos, quando o telescópio espacial Hubble
foi lançado em órbita, ninguém, nem mesmo os
mais argutos astrônomos da Nasa, conseguiram
imaginar tudo aquilo que suas lentes conseguiriam captar e
trazer para a nós das profundezas do espaço exterior.
Uma profusão de imagens de galáxias, nebulosas, estrelas,
pulsars e buracos negros, cometas, satélites, meteoros
comprovou, desde então, que a imensidão cósmica é
literalmente povoada por milhões de corpos de todas as
formas, cores e tamanhos. E que nós, minúsculos hóspedes de um planeta minúsculo quando comparado a tudo o
mais, não temos nenhuma razão para acharmos que somos
o centro do universo, os privilegiados de Deus, o objetivo
final de toda a Criação. O Hubble sozinho revelou mais
que milênios de observação do céu, desfez mais crenças
arrogantes e dogmáticas do que todas ilustres cabeças realmente pensantes que já pisaram nesta Terra.
Nada mais justo, portanto, que o ciclo de homenagens atualmente em curso para comemorar as 22 primaveras dessa
máquina que corre em órbita ao redor do planeta. Como
se trata de uma máquina, tantos vivas destinam-se na
verdade a seus inventores, bem como aqueles que criaram
todas as incontáveis tecnologias que com ele cooperam. O
Hubble é um milagre da ciência.
Para participar das homenagens, escolhemos vinte imagens
excepcionais colhidas pelas lentes e sensores do Hubble. E
juntamos um vídeo que a Nasa fez para a ocasião, contendo mais algumas dessas imagens. Boa viagem, nas asas do
Hubble, ao espaço sideral!
oásis
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ASTRO
ASTRO
HUBBLE
22 ANOS DE
BONS SERVIÇOS
1/24
1/24
Pilares da Criação, na
Nebulosa da Águia
Quando o ônibus espacial
Discovery foi lançado pela Nasa
em 24 de abril de 1990, levando
a bordo o telescópio espacial
Hubble, ninguém, nem mesmo
os cientistas que o construíram
podiam imaginar tudo aquilo que
ele iria produzir durante os seus
22 anos de atividades.
O
A história do
Hubble em imagens
http://goo.gl/7bUbL
s resultados alcançados pelo
telescópio espacial Hubble,
em atividade no espaço há
22 anos, são simplesmente
incríveis: miríades de imagens em alta
definição das profundezas do espaço exterior, estrelas, novos sistemas planetários,
galáxias, nuvens de gás e poeira, buracos
negros, toda uma variedade de entidades
cósmicas cujo verdadeiro aspecto, até então, não fora possível imaginar.
oásis
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ASTRO
Graças ao Hubble pela primeira vez se
tornou possível ver mais longe do que as
estrelas da nossa própria galáxia, a Via
Láctea, e estudar estruturas do universo
até então desconhecidas ou pouco observadas. Esse extraordinário telescópio deu
à civilização uma nova visão do universo,
proporcionando à ciência astronômica um
salto equivalente ao dado pela luneta de
Galileu no século 17.
Não foi fácil, nem barato, construí-lo e
colocá-lo em órbita. Desde a concepção original, em 1946, a iniciativa de construir um
telescópio espacial sofreu inúmeros atrasos
2/24
e problemas orçamentais. Logo após o lançamento
ao espaço, o Hubble apresentou uma aberração esférica no espelho principal que parecia comprometer todas as potencialidades do telescópio. Porém,
a situação foi corrigida numa missão especialmente
concebida para a reparação do equipamento, em
1993. Graças a ela, o telescópio voltou à operacionalidade, tornando-se uma ferramenta vital para
a astronomia. Imaginado nos anos 40, projetado
e construído nos anos 70 e 80 e em funcionamento desde 1990, o Telescópio Espacial Hubble foi
batizado em homenagem a Edwin Powell Hubble,
que revolucionou a astronomia ao constatar que o
Universo estava se expandindo.
Os dias do Hubble, infelizmente, estão contados.
O telescópio gradualmente se aproxima da Terra,
um pouco mais a cada giro de órbita. Ele reentrará
na atmosfera terrestre, transformando-se numa bola
de fogo, em algum momento entre os anos 2019 e
2030, dependendo de vários fatores, entre os quais
está o “vento” produzido pela atividade solar. Até lá,
suas câmeras deverão permanecer em funcionamento e, até o fim, ninguém pode prever o que mais elas
serão capazes de nos revelar a respeito dos segredos
da imensidão do espaço sideral.
A galeria a seguir elenca algumas das melhores e
mais impressionantes fotografias obtidas pelo Google. Completa a série um vídeo preparado pela Nasa,
em comemoração ao 22º aniversário do telescópio.
São imagens para copiar, colar e guardar. O Hubble
colocou o universo a nosso alcance.
oásis
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ASTRO
Galáxia da Antena
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Foto: NASA, ESA, e o Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
Cachoeira de estrelas
Iguaçu, Niágara, Vitória, qualquer
grande cachoeira terrestre
pareceria reduzida a pó diante dessa
espetacular cascata cósmica. O “rio”
celeste que aparece no centro dessa
foto feita pelo Hubble é na verdade
um conjunto de grupos estelares
contendo, cada um deles, muitos
milhões de astros em formação. O que
os alimenta, segundo os especialistas,
é a contínua interação entre os
núcleos galácticos colocados na sua
extremidade superior. Mais “solitária”
é, no entanto, a galáxia inferior, onde
a cascata parece se acumular, devido a
um jogo de perspectiva, no interior de
uma espécie de pequeno lago. O inteiro
grupo é chamado Arp 194, e é um
dos sistemas estelares mais inquietos
do cosmos. Localiza-se a cerca 600
milhões de anos luz de nós.
oásis
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ASTRO
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Foto: ACS Science & Engineering Team, Hubble Space Telescope, Nasa
Buraco da fechadura
A nebulosa Buraco da Fechadura recebe o seu nome devido à sua estranha forma. Com o nome oficial
de NGC 3324, ela se sobrepõe à nebulosa Eta Carina, de maiores proporções. Ambas foram criadas pela
mega estrela Eta Carina, que é dada a erupções violentas durante os seus tempos finais. Foi observada e
discutida em 1840, quando uma espetacular explosão se tornou visível. O sistema Eta Carina parece agora
passar por um estranho período de mudança. Nebulosa de emissão que contem muito pó, a nebulosa
Buraco de Fechadura situa-se aproximadamente a 9 mil anos-luz de distância. Objeto celeste muito
fotogênico, ela pode ser observada até por pequenos telescópios. Recentemente descobriu-se que a
Buraco da Fechadura contém nuvens altamente estruturadas de gás molecular.
oásis
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ASTRO
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Foto: ACS Science & Engineering Team, Hubble Space Telescope, Nasa
Roedores galáticos
Tem medo de ratos? No espaço existem pelo
menos dois. Mas pode ficar tranquilo: estão
a quase 300 milhões de anos-luz, além do
que têm pouco a ver com nossos pequenos
roedores. Os “ratos”, na foto, são na verdade
duas galáxias em colisão, assim chamadas pelas
longas “caudas” de gás e poeira que deixam
atrás de si quando passam. As duas galáxias,
num futuro distante, irão se fundir, criando
um novo único objeto celeste.
oásis
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ASTRO
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Foto: NASA, ESA e o The Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
Janela no céu
A causa principal que deu origem a essa belíssima nebulosa planetária
foi uma estrela gigante cujo “carburante” se esgotou. Quando chegou
ao fim a fusão de hidrogênio e de hélio presentes no seu núcleo, uma
estrela perdida a mais de 10 mil anos-luz de nós começou a difundir ao
redor de si mesma camadas de azoto (em vermelho), hidrogênio (verde) e
oxigênio (azul). Também o nosso Sol, ao final da sua evolução, poderá se
comportar do mesmo modo... dentro de 5 bilhões de anos.
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa
Aprovado com distinção
Depois de um mês de paralisação –
devido a um problema técnico – o
Hubble novamente despertou. Uma
das primeiras imagens que captou foi
a deste “número 10” cósmico, que
brilha a mais de 400 milhões de anosluz de nós. Ele se formou graças à
colisão de duas galáxias. Durante
a colisão, a galáxia mais estreita (à
esquerda) passou através da outra
que, devido ao choque, mudou de
forma. Ela, agora, parece um zero.
oásis
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ASTRO
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Foto: NASA, ESA, M. Wong e I. de Pater (University of California, Berkeley)
Manchas planetárias
Na atmosfera gasosa e
turbulenta do planeta Júpiter
formou-se uma nova mancha
vermelha, que podemos admirar
nessa fota obtida pelo Hubble.
É a última a aparecer, na
extrema esquerda da imagem,
juntando-se às outras duas
manchas já conhecidas: a
Grande Mancha Vermelha (à
direita) e a Mancha Vermelha
Junior (em baixo). Todas essas
manchas são na realidade
enormes tempestades,
fenômenos frequentes na
superfície de Júpiter. A Grande
Mancha Vermelha tem diâmetro
duas vezes maior que o da Terra
oásis
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ASTRO
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Foto: D. Maoz (Tel-Aviv Univ./Columbia Univ.) et al., ESA, NASA
A galáxia dos mistérios
A trinta milhões de anos-luz
da Terra encontra-se uma
galáxia muito curiosa para os
astrônomos. Ela se chama Ngc
1512 e a sua forma em espiral
ainda não tem uma verdadeira
explicação. O tamanho dessa
galáxia é de 70 mil anos luz,
quase o tamanho da nossa Via
Láctea. O que a torna especial é
o anel de poeira que a circunda,
e que poderia ser uma verdadeira
“fábrica” de estrelas
oásis
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ASTRO
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Foto: NASA, ESA, e o Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
O último show de uma estrela
O ponto avermelhado visível no
centro da imagem é uma estrela
que, um dia, foi muito parecida com
o nosso Sol. Agora, ela é um astro
em fim de vida, que produz a seu
redor uma nuvem de gases e poeira
cintilante: a nebulosa NGC 2371.
Graças a filtros especiais, Hubble
conseguiu evidenciar as áreas onde
prevalece o hidrogênio – em verde – e
as mais ricas em oxigênio (em azul).
Os dois jatos rosados situados nos
lados opostos da estrela são de
azoto e enxofre que, nos últimos
milhares de anos, mudaram com
frequência de direção. Astrônomos
ainda não conseguiram explicar esse
comportamento
oásis
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ASTRO
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Foto: NASA, H.E. Bond e E. Nelan (Space Telescope Science Institute, Baltimore, Md.) / M. Barstow e M. Burleigh (University of Leicester, U.K.) /
J.B. Holberg (University of Arizona) Md.) / M. Barstow e M. Burleigh (University of Leicester, U.K.) / J.B. Holberg (University of Arizona)
Faróis acesos
Esta é Sirius, a estrela mais luminosa
visível aqui na Terra. Na foto ela se
tornou ainda mais brilhante graças
a uma técnica particular do sistema
fotográfico do Hubble. Graças a
esse sistema pode-se ver também, em
baixo, à esquerda, Sirius B, a pequena
estrela companheira de Sirius. Esse
pequeno ponto luminoso é tudo
o que sobrou de um astro muito
parecido com o Sol. Mas que, agora,
pode ser ainda mais “pesado” do que
o Sol: um único centímetro cúbico
dessa estrela poderia pesar, na face
da Terra, cerca de 100 quilogramas
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa
Aurora extraterrestre
Saturno também apresenta auroras e
crepúsculos. Hubble tirou várias fotos
revelando a permanência durante vários
dias de um fenômeno desse tipo na altura
do polo sul do planeta. A diferença é
que, na Terra uma autora pode durar
de poucos minutos a algumas horas,
mas em Saturno ela pode durar vários
dias. Em Saturno o fenômeno é causado
pela pressão do vento solar (um tipo de
corrente de partículas provenientes do
Sol) e não pelo campo magnético do Sol,
como ocorre em nosso planeta
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa
Olho de Gato à espreita
Esta é a nebulosa planetária NGC 6543,
conhecida como Olho de Gato, um dos
mais belos e curiosos objetos celestes jamais
encontrados. A mais recente foto obtida pelo
Hubble mostra onze, ou talvez mais, anéis de
gás concêntricos ao redor dessa nebulosa.
Quando uma estrela como o nosso Sol
envelhece, começa a expelir as suas camadas
mais externas. Ao mesmo tempo em que a
estrela-mãe se contrai, transformando-se
em uma anã branca, o gás ejetado forma
uma nuvem a seu redor. É essa nuvem que
chamamos de nebulosa planetária.
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ASTRO
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Foto: Nasa
A morte da borboleta
As lentes do Hubble captaram os
últimos espasmos de vida de uma
estrela moribunda chamada de
“Nebulosa do Inseto” devido a sua
curiosa forma, semelhante às asas
de uma gigantesca borboleta. A faixa
escura que se encontra entre as
asas deve esconder a própria estrela,
que é uma das mais quentes jamais
encontradas (suas temperaturas
superam 250 mil graus centígrados)
oásis
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ASTRO
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Foto: Hubble/Nasa
Um bracelete celeste
A galáxia AM 0644-741 parece um bracelete incrustado de diamantes.
Trata-se, no entanto, de um anel de estrelas que envolve o núcleo
amarelado daquilo que foi, há tempos, uma galáxia espiralada
normal. Esse corpo celeste dista 300 milhões de anos-luz da Terra, e
é o resultado do choque tremendo entre duas galáxias.
oásis
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ASTRO
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Foto: Hubble/Nasa
O colecionador de galáxias
Nessa fotomontagem, foram colocadas lado a lado 80 galáxias, dentre as fotografadas pelo Hubble. O
telescópio espacial proporcionou descobertas inestimáveis para a moderna pesquisa astronômica.
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa/HHT
A Bela Adormecida no Espaço
A galáxia M64 fascina os astrônomos
por causa da zona escura que
apresenta em seu interior: trata-se
de uma faixa de poeira que absorve
a luz. Por esse motivo é chamada de
Olho Negro ou de A Bela Adormecida
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa/Hubble
O Senhor dos Anéis
Esta é uma fotografia em ultravioleta dos anéis de Saturno, captada em abril
de 2003 pelo telescópio Hubble. Esse sistema de anéis só se torna bem visível para
nós a cada 15 anos, devido ao seu grau de inclinação em relação à eclíptica.
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa /Hubble
O sombrero fotogênico
Muitos a definem como a galáxia mais fotogênica do
Universo: trata-se da galáxia Messier 104 , também chamada
de Sombrero por sua forma de chapéu mexicano. Dista 28
milhões de anos-luz de nosso planeta, e é quase visível a
olho nu. Porém está rapidamente se afastando.
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa /Hubble
Primavera em Netuno
É primavera em Netuno: Isso parece
paradoxal? Pode parecer, visto que se trata
de um dos planetas mais distantes e mais
frios do Sistema Solar, distando 4 bilhões
e meio de quilômetros de nossa estrela e
com 200 graus negativos de temperatura
média em sua superfície. Apesar disso,
tudo leva a crer que também em Netuno
observa-se o fenômeno das estações do
ano. Só que, cada estação, dura cerca de 40
anos, enquanto uma inteira rotação desse
planeta ao redor do Sol dura 165 anos
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa (Hubble Space Telescope)
Formiga Cósmica
A Nebulosa da Formiga (também chamada Menzel 3, ou Mz3) é
uma dessas massas de gás expulsos de uma estrela na sua última
fase de vida (uma nebulosa planetária, como já explicamos). Sua
particularidade é apresentar uma intrigante estrutura simétrica.
É possível que essa forma seja determinada pela presença de uma
estrela que orbita nas proximidades.
oásis
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ASTRO
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Foto: Nasa (Hubble Heritage Team)
A bela morte de uma estrela
Este é o aspecto de uma estrela moribunda: a
nebulosa planetária IC 4406. Ela apresenta uma
forma retangular e forte simetria, típica das
nebulosas planetárias. Dista da Terra cerca de
5000 anos-luz. As cores da imagem são reflexos de
diversos gases presentes nessa nebulosa: o oxigênio
reflete a luz azul; o hidrogênio a luz verde; os
traços avermelhados revelam a presença de azoto
oásis
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ASTRO
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oásis
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CINEMA
CINEMA
SAGRADO
SEGREDO
A Via Sacra segundo
André Luiz Oliveira
1/6
1/9
Previsto para esta semana o
lançamento nos cinemas de
“Sagrado Segredo”, filme do
diretor André Luiz Oliveira. Seu
tema e cenário principal é a
Via Sacra, mega espetáculo de
Semana Santa realizado todos
os anos na cidade de Planaltina,
nas imediações de Brasília
Por Luis Pellegrini
N
SAGRADO
SEGREDO
http://goo.gl/EBqv0
a Bíblia, sagrado segredo é
algo que se origina de Deus e
que é retido por Ele até que
chegue o tempo devido para
a sua revelação. Mesmo assim, ela é feita
apenas àqueles a quem Ele escolhe como
dignos e aptos a receber aquela iniciação.
São muitos os sagrados segredos bíblicos.
Há, por exemplo, o da Jerusalém Celestial, o do Cordeiro de Deus, o do Trono de
Jeová, o da Devoção Piedosa, o do Sagrado
oásis
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CINEMA
Coração. No Livro do Apocalipse, aparece
o sagrado segredo de Babilônia, a Grande
– nome e epíteto de uma mulher belíssima,
porém traiçoeira, também conhecida como
A Grande Meretriz, que surge sentada
sobre uma besta de sete cabeças e dez
chifres. Exegetas da Bíblia dizem que ela
simboliza o advento de uma era terrível
em que o mundo seria invadido e dominado por falsas religiões e falsos sacerdotes,
por falsos valores morais e filosóficos, por
falsos líderes e governantes, falsos prazeres, falsas celebridades, falsos afetos e
falsos pensamentos. Um mundo virado de
pernas para o ar, portanto, muito parecido
ao mundo em que estamos vivendo. Nesse
mundo e nesse tempo, que os indianos
chamam de “Kali Yuga”, a Era de Kali, a
deusa da destruição e da transformação, a
alguns é dado receber de Deus fragmentos
das grandes verdades da sabedoria universal. São esses lampejos da glória divina,
que aparecem na forma de sagrados
segredos, que permitem a subsistência da
alma a alguns poucos “escolhidos”. Escolhidos, sim, não por capricho aleatório da
Divindade, mas simplesmente por serem
sensíveis o bastante para captar essas fulgurações que pipocam continuamente aqui
e ali, através dos meios e das situações
mais inusitadas, sem quase nunca anunciar
2/9
sua chegada.
O próprio Cristo, nos Livros de Marcos, Mateus e Lucas, orienta seus discípulos a respeito: “A
vós tem sido dado o sagrado segredo (em grego:
mysterion) do reino de Deus, mas, para os de fora,
todas as coisas ocorrem em ilustrações, a fim de
que, olhando, olhem mas não vejam, e, ouvindo,
ouçam mas não compreendam o sentido disso,
nem jamais se voltem e se lhes dê perdão.”
Foi inspirado na ideia-força dos mistérios do
reino de Deus que o cineasta André Luiz Oliveira
concebeu seu novo e belíssimo filme que tem por
título, justamente, “Sagrado Segredo”.
Também são muitos, nesta obra de André Luiz,
os sagrados segredos. O primeiro deles se desvela logo na sequência inicial (que também será
oásis
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CINEMA
O cenário principal de
Sagrado Segredo é o
mega espetáculo da
Via Sacra de Planaltina
utilizada para o final do filme): um longo carro
acompanha o rosto de um menino que, levado pela
mãe, visita pela primeira vez uma igreja católica.
Nas paredes, pregados, estão os quadros de uma
clássica Via Sacra, com todas as suas cenas de
calvário, açoites e flagelações, coroa de espinhos,
insultos, sangue, suor e lágrimas, até se chegar
à crucificação. O garoto, de rara beleza, vê cada
uma daquelas cenas do caminho ao Gólgota com
um olhar que, por si só, já valeria o filme. O olhar
misto de horror e maravilha que toda criança
tem quando, pela primeira vez, contempla algo
que lhe roubará a inocência para todo o sempre.
O cenário principal do filme é a Via Sacra de
Planaltina, nas proximidades da capital federal
Brasília, mega espetáculo de Semana Santa que se
transformou numa das mais importantes manifestações de fé e arte popular do Brasil. Diferentemente de outros eventos do gênero, que contam
com a participação de artistas profissionais, a Via
Sacra de Planaltina é encenada anualmente pela
própria população da cidade, atraindo mais de 120
mil espectadores que a acompanham emocionados
durante um dia inteiro.
3/9
André Luiz de Oliveira
e Amit Goswami
oásis
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CINEMA
4/9
No filme, os pontos
de referência são os
grandes personagens
do martírio de Cristo
Como aquele menino que penetra na Igreja na
sequência inicial, a câmera do cineasta, escondida
nas mãos de personagem histórico, penetra no
teatro da representação, tímida no início, tateando na penumbra em busca de pontos de referência, totalmente à vontade a partir de um certo
ponto, como se percebesse que ela não é intrusa,
mas também faz parte daquele imenso drama
cósmico. Os pontos de referência são os grandes
personagens do martírio de Cristo que, um a um,
aparecem e se manifestam, quais sombras de um
passado redivivo. Nele estão Herodes e Pilatos,
Anás e Caifás, Maria Madalena e Maria, mãe de
Jesus, Simão, Pedro e Judas, Barrabás e os dois
ladrões. Sobretudo, nele estão o Cristo e o povo da
Judéia – o verdadeiro juiz e carrasco que condenou e executou Jesus.
São imagens de força e grandeza, sem dúvida,
e André Luiz Oliveira sabe tirar bom partido de
toda essa riqueza cenográfica e de figuras humanas. Mas seu interesse mostra-se acentuado na
hora de gravar depoimentos de atores que interpretam personagens da Via Sacra de Planaltina.
O diretor tem bom faro e percebe que tais depoioásis
.
CINEMA
mentos desvelam mais um dos sagrados segredos
contidos em seu filme: o mistério da Imitação
de Cristo. Muito mais do que lendo relatos da
história de sua vida, muito mais do que estudando
intelectualmente suas ideias místicas e filosóficas,
e as de seus discípulos e seguidores, é através da
imitação que a interação com Cristo se torna mais
fácil, rápida e efetiva.
Não à toa esse mistério tornou-se, hoje, um
dos pilares básicos da moderna psicoterapia. A
alma (a psique) humana não consegue distinguir
entre a experiência objetiva e a subjetiva. Para o
aprendizado, o desenvolvimento e a cura da nossa
psique tanto faz se a experiência acontece no plano concreto da realidade objetiva, ou se ela
5/9
acontece no plano subjetivo da fantasia, do sonho, da imaginação. Assim sendo, a representação
teatral, espaço-tempo onde à criatividade é permitido reinar, onde qualquer situação fictícia se nos
parece real e verídica, torna-se o foro privilegiado
para que nossa psique viva com segurança as mais
extraordinárias aventuras.
É por isso que, como vemos em “Sagrado
Segredo”, a atriz amadora que interpreta Maria
Madalena pode declarar sem erro que, durante a
representação, ela “é” Maria Madalena. O mesmo
fazem os atores de Pilatos, Pedro e João. O mesmo faz o ator que carrega nos ombros a cruz de
Jesus Cristo. O mesmo faz o imenso público que,
contrito e fascinado, acompanha cada passo daquele Homem em direção ao alto do monte onde
será crucificado.
É fascinante observar os rostos dos espectadores da Via Sacra de Planaltina captados pela
câmera de André Luiz à medida que a história
avança. Tanto o aspecto físico dessas cabeças brasileiras, quanto as expressões que demonstram,
são completamente fora do tempo. Da mesma
forma que os personagens principais da história
O público, contrito e
fascinado, acompanha
cada passo das
estações do calvário
oásis
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CINEMA
do calvário, todos aqueles espectadores parecem
diretamente saídos dos tempos bíblicos para testemunhar, milênios depois, no Planalto Central do
Brasil, a mesma história de horror e glória que há
dois mil anos nos acompanha e persegue. A isto
dá-se o nome de milagre do teatro, rito do qual o
cinema é a versão mais atualizada.
Claro, a experiência humana das coisas é
sempre pendular, oscilando entre o real e o imaginário, o sagrado e o profano, a luz e a sombra.
“Sagrado Segredo” não foge a essa contingência.
Intercaladas entre os voos mágicos da paixão de
Cristo, aparecem cenas onde diretor, roteiristas e
toda a equipe do filme debatem e discutem os rumos das coisas. E também aí aparece um sagrado
segredo, na forma do choque criativo que costuma
acontecer entre a vivência puramente emocional,
afetiva e intuitiva das coisas, e a subsequente
6/9
O público de O Sagado
Segredo em Planaltina
oásis
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CINEMA
1/9
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apreciação crítica, política e intelectual dessas
mesmas coisas. Notável a briga entre os personagens que interpretam, de um lado, o diretor
– sempre pronto a mergulhar no transe sensitivo
da história filmada -, e uma roteirista – desejosa
de enquadrar toda a história dentro dos cânones
políticos da Teologia da Libertação. É a guerra
eterna da alma e do ego... Ambos vêem a mesma
coisa, porém de ângulos opostos.
A ressaltar, no filme, a presença e as falas
do físico indiano Amit Goswami. Ao estabelecer
oásis
.
CINEMA
os paralelos, as interações e as identidades que
existem entre os ensinamentos do Cristo e as
ideias da física quântica, Goswami aponta os rumos futuros do próprio cristianismo e dos demais
sistemas religiosos que irão perdurar no futuro.
Todos eles, para sobreviver, terão de casar e integrar em suas doutrinas dois fatores igualmente
importantes e complementares: a fé e a ciência.
Esta é, possivelmente, a mais alvissareira mensagem do filme: o seu sagrado segredo mais cheio
de esperança.
8/8
SAÚDE
SALADA COM
PESTICIDA
Você sabe o que vem
junto no seu prato?
oásis
.
SAÚDE
1/5
1/5
Quais são os legumes e
verduras que comumente
apresentam os maiores índices
residuais de pesticidas? O que
fazer para consumir frutas e
verduras com tranquilidade?
“A
lface, tomates, pepinos,
maçãs, pimentões, morangos: todo mundo gosta. Mas
são esses alimentos os que,
geralmente, contêm as doses residuais
mais elevadas de pesticidas capazes de
agir sobre nosso sistema endócrino, ou
seja, substâncias que podem alterar o
metabolismo hormonal”, denuncia a PAN
Europe (Pesticide Action Network), uma
rede de organizações não governamentais
oásis
.
SAÚDE
que promovem alternativas sustentáveis e
naturais ao uso de pesticidas.
O coquetel químico que reveste a maior
parte das frutas e verduras oferecidas nos
supermercados tem correlação com a redução da fertilidade, o aumento de alguns
tipos de tumores, puberdade precoce, diabetes e obesidade. Os interferentes estão
presentes também, em várias medidas, em
fármacos, cosméticos, embalagens e recipientes de plástico, revestimentos de latas,
comida para animais.
A questão é delicada e tema de constantes debates pelas autoridades da saúde
pública e privada em todos os países. Por
um lado, os alimentos que acabam sobre
nossas mesas são, pelos menos no mundo
desenvolvido ou em vias de desenvolvimento, submetidos a controles mais ou
menos severos para garantir a saúde do
2/5
Segundo dossiê da Associação
Brasileira de Saúde Coletiva
(Abrasco), um terço dos
alimentos consumidos pelos
brasileiros está contaminado
pelos agrotóxicos
consumidor. Por outro lado, ainda não se conhece bem os efeitos que tais substâncias, usadas
para evitar o ataque de pragas e insetos, ou para
melhorar a aparência e a durabilidade dos produtos, podem trazer à saúde.
Os alimentos nos quais foram encontrados os
mais altos traços de resíduos de pesticidas interferentes são: alface, tomates, pepinos, maçãs, pêssegos, pimentões e morangos. Menos contaminados são a banana, cenoura, ervilhas e os legumes e
hortaliças protegidos por uma casca mais grossa.
No Brasil, pior ainda
Enquanto o mercado mundial de agrotóxicos
cresceu 93%, o brasileiro aumentou 190%, colocando nosso país em primeiro lugar no ranking
de consumo de agrotóxicos no mundo. Além de a
substância impactar o meio ambiente, ela também
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SAÚDE
abala a segurança alimentar e a saúde da população.
Segundo dossiê da Associação Brasileira de
Saúde Coletiva (Abrasco), um terço dos alimentos
consumidos pelos brasileiros está contaminado
pelos agrotóxicos. Os alimentos que mais demandam a substância são a soja (40%), o milho (15%),
a cana e o algodão (10%), as frutas cítricas (7%), o
trigo (3%) e o arroz (3%).
Cerca de 70 milhões de brasileiros vivem em
estado de insegurança alimentar e nutricional,
sendo que 90% desta população consumem
consomem frutas, verduras e legumes abaixo da
quantidade recomendada para uma alimentação
saudável, de acordo com o IBGE. Uma alimentação desequilibrada já é ruim, mas o consumo prolongado de agrotóxicos através da comida é pior
ainda, podendo provocar doenças como câncer,
malformação congênita, distúrbios endócrinos,
neurológicos e mentais.
O ideal para a saúde coletiva seria evitar ou
reduzir o consumo dos pesticidas nos cultivos,
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hortas e na alimentação brasileira. O documento da Abrasco defende a proibição de agrotóxicos já banidos em outros países, mas ainda
liberados no Brasil, que apresentam graves riscos
à saúde humana e ao ambiente. Enquanto isso não
ocorre, os cuidados devem ser tomados por você
antes de ingerir os alimentos em casa.
Eliminando parte do risco
Deixá-los de molho no vinagre pode ser ótimo
para matar micróbios, mas nem sempre funciona
quando o assunto é tirar os agrotóxicos das frutas
e verduras. A recomendação é sempre preferir os
Há agrotóxicos feitos à base
de zinco ou estanho e à
base de metais que nem o
aquecimento elimina. Não
há como reduzir o perigo
quando eles são ingeridos
alimentos orgânicos, mas quando não é possível
adquiri-los, a lavagem dos produtos antes do consumo é imprescindível.
Se o agrotóxico utilizado for de superfície,
limitando-se a parte externa do alimento, lavar
bem com água elimina o risco, como é o caso dos
morangos e dos tomates. A dificuldade cresce nas
situações em que o agrotóxico penetra o alimento e afeta o seu interior. Nesse caso, a fervura
pode inativar os efeitos adversos dos pesticidas.
Entretanto, há agrotóxicos feitos à base de zinco
ou estanho e à base de metais que nem o aquecimento elimina e não tem como reduzir o perigo ao
ingerir.
Cinco regras para eliminar
da mesa os pesticidas
Como impedir a absorção dessas substâncias?
Podemos por em prática algumas medidas:
1. Se possível, comprar alimentos frescos pro
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SAÚDE
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venientes da agricultura orgânica: hoje, a
maior parte dos supermercados possui seções de
produtos provenientes de cultivos onde – pelo
menos oficialmente – não são utilizados pesticidas e fertilizantes químicos. Claro, em tempos de
incerteza econômica como os atuais, este não é
um conselho fácil de seguir, mas é sempre possível descobrir-se que, não longe de sua casa, existe
algum cultivador local de confiança; você também
pode, para conter as despesas, se inscrever em
algum grupo de compra solidária.
2. Lavar acuradamente frutas e verduras com
água e bicarbonato de sódio: não serve para remover completamente todos os pesticidas, porém
ajuda.
3. Despele os alimentos antes de consumi-los:
à parte os pesticidas sistêmicos, que atravessam
a pele e penetram no interior da polpa das hortaliças, a maior parte dos interferentes permanece
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SAÚDE
Onde e sempre que possível,
cultivar alguma coisa,
manter pequenas hortas no
jardim, no quintal, ou em
vasos nos terraços e balcões
concentrada na pele externa.
4. Prefira sempre os alimentos menos contaminados.
5. Onde e sempre que é possível, cultivar alguma coisa, mantenha pequenas hortas, no jardim,
no quintal, ou em vasos nos terraços e balcões.
Muitas vezes, por questão de espaço, os resultados
serão modestos, mas você sempre pode escolher
o cltivo em condições controladas das hortaliças
e legumes que geralmente contêm mais traços de
pesticidas e, assim, ter um problema a menos para
resolver.
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arte
MICHAEL
TILSON THOMAS
Música e emoção
através dos tempos
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arte
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Em conferência épica e abrangente
proferida no TED-Ideas Worth
Spreading, o maestro e musicólogo
norte-americano Michael Tilson
Thomas traça o desenvolvimento
da música clássica através do
desenvolvimento da notação musical,
a gravação e o remix
Vídeo: TED-Ideas Worth Spreading.
Tradução para o português: Lisângelo Berti.
Revisão: Maria Andrade Praia
C
Música e emoção
através dos tempos
http://goo.gl/ge3v3
omo chefe de orquestra, Michael Tilson Thomas é bem
conhecido por suas interpretações da música fortemente
emocional de Gustav Mahler. É vencedor
do prêmio Grammy pelas suas gravações
do ciclo completo das sinfonias de Mahler,
à frente da orquestra que fundou e dirige,
a San Francisco Symphony. É também fundador da New World Symphony, orquestra
cujo principal objetivo é a educação de
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arte
jovens músicos talentosos. Desde sua fundação, em 1987, essa entidade já ajudou na
formação de mais de 700 intérpretes.
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Música e emoção através dos tempos
Quando me pediram para fazer esta TEDTalk, eu ri comigo mesmo, porque, vejam só,
Ted era o nome do meu pai, e muito de minha vida, a música em especial, na verdade é
uma conversa que ainda tenho com ele, ou a parte de mim em que ele ainda existe.
E o Ted era um novaiorquino, um cara de todos os teatros, e foi um ilustrador e músico
autodidata. Ele não lia uma nota, e tinha a audição profundamente prejudicada. Ainda
assim, foi meu maior professor, Porque mesmo com o chiado do seu aparelho auditivo,
sua compreensão da música era profunda.
Para ele, mais importante do que para aonde a música vai era o que ela testemunha e
onde ela te leva. Ele fez uma pintura desta experiência, a qual ele chamou de “No Reino
da Música”. Ted adentrava neste reino todo dia pela improvisação algo no estilo da Tin
Pan Alley.
Mas ele era severo em relação a música. Ele disse, “Só existe duas coisas importantes na
música: o quê e como. E em relação a música erudita, o quê e como, são inesgotávels”.
Assim era sua paixão pela música. Meu pai e minha mãe a adoravam de verdade. Não
sabiam tudo sobre ela, mas me deram a oportunidade de descobri-la junto com eles. E
penso que inspirado por esta recordação, tem sido meu desejo experimentar e levá-la
a quantas pessoas eu possa, passá-la custe o que custar. Como as pessoas chegam à
música, como ela entra em suas vidas, realmente me fascina.
Um dia em Nova York, eu estava na rua e vi alguns garotos jogando baseball em frente
aos prédios entre carros e hidrantes. E um garoto desarrumado, forte pegou o bastão,
rebateu acertando em cheio. E por um segundo ele assistiu a bola voar longe, e então
começou, “Tá.. tatátatatatá. Tá tá tantatata”. E correu pelas bases. E eu pensei,
vejam só. Como esta peça de entretenimento aristocrático austríaco do século 18 virou
um símbolo de vitória para este garoto novaiorquino? Como isto se passou? Como ele
conseguiu ouvir Mozart?
Quando se trata de música clássica, há muita coisa para se passar, muito mais que
Mozart, Beethoven ou Tchaikovsky. Porque música clássica ainda é uma tradição viva que
remonta há mais de 1.000 anos. E cada um destes anos tem algo único e poderoso para
nos dizer sobre como é estar vivo.
A matéria prima disto, lógico, é a música do dia-a-dia. São todos os hinos e danças
da moda e baladas e marchas. Mas o que a música clássica faz é destilar todas estas
músicas, condensá-las em sua essência absoluta, e a partir dessa essência criar uma
nova linguagem, uma linguagem que apaixonadamente e sem hesitar fala sobre o que
realmente somos. É uma linguagem que ainda evolui.
Através dos séculos cresceu com as grandes obras que lembramos, como concertos
e sinfonias, mas até a mais ambiciosa obra prima pode ter como sua missão central
levá-lo de volta a um momento frágil e pessoal -- como este do Concerto para Violino de
Beethoven
Tão simples, tão sugestivo. Tantas emoções parecem estar ali dentro. Ainda que, claro,
como toda música, não seja essencialmente sobre alguma coisa. é só um padrão de tons
e silêncio e tempo.
E os tons, as notas, como sabem, são apenas vibrações. São pontos no espectro
sonoro. E mesmo os chamando de 440 por segundo, a nota Lá, ou 3.729, Si bemol,
pode confiar, é isso mesmo -- são apenas fenômenos. Mas o modo como reagimos a
diferentes combinações destes fenômenos é complexo e emocional e não totalmente
compreendido. E o modo como reagimos a eles tem mudado radicalmente ao longo dos
séculos, bem como nossas preferências por eles.
Por exemplo, no século 11, as pessoas gostavam de obras que terminassem assim. No
século 17, era mais desse jeito. E no século 21...
Agora os seus ouvidos do século 21 estão bem contentes com este último acorde, ainda
que a algum tempo atrás teria causado estranheza ou incomodado vocês ou os teria feito
sairem correndo da sala. E a razão para gostarem dele é porque herdaram, quer saibam
ou não, séculos de mudanças na prática, teoria e tendências musicais.
Na música clássica podemos seguir estas mudanças com grande precisão por conta do
poderosa e silenciosa parceira da música, o modo como ela é transmitida: a partitura. O
impulso para pôr na partitura, ou, para ser mais preciso deveria dizer, codificar a música
tem estado conosco já faz muito tempo. 200 A.C., um homem chamado Sekulos
escreveu esta canção para sua falecida esposa e a inscreveu na lápide dela no sistema
notacional dos Gregos.
E mil anos depois, este impulso de fazer a partitura tomou uma forma inteiramente
diferente. E vocês podem ver como isto aconteceu nestes trechos retiradas da Missa de
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Natal “Puer Natus est nobis”, “Por Nós Nasceu”. No século 10, pequenos rabiscos foram
usados para indicar a forma geral da melodia. E no século 12, uma linha foi desenhada,
como um horizonte musical, para melhor indicar a localização do tom.
Então no século 13, mais linhas e novas formas de notas registraram com exatidão o
conceito da melodia, e isso levou ao tipo de notação que temos hoje. A partitura não
somente transmitiu a música, registrando e codificando a música mudou suas prioridades
por completo, porque habilitou aos músicos imaginarem música em uma escala muito
mais vasta.
Movimentos inspirados de improvisação podiam ser gravados, salvos, considerados,
priorizados, feitos em intrincados padrões. A partir deste momento, música clássica
tornou-se o que essencialmente ela é, um diálogo entre dois poderosos lados de nossa
natureza: instinto e inteligência.
E a partir daí começou a existir uma real diferença entre a arte da improvisação e a
arte da composição. Um improvisador sente e toca o próximo movimento bacana,
mas um compositor considera todos os movimentos possíveis, os testando, priorizando,
até perceber como eles podem formar um padrão poderoso e coerente de absoluta e
duradoura perfeição. Alguns dos maiores compositores, como Bach, eram combinações
destas 2 coisas. Bach era como um grande improvisador com a mente de um mestre de
xadrez. Mozart ia pelo mesmo caminho.
Mas todo músico atinge um equilíbrio diferente entre fé e razão, instinto e inteligência.
E toda era musical tem diferentes prioridades destas coisas, diferentes coisas a serem
transmitidas, diferentes ‘o quês’ e ‘comos’. Assim nos primeiros 8 séculos, se tanto, desta
tradição o grande ‘o quê’ era louvar a Deus. E por volta de 1400, a música era escrita
tentando espelhar a mente de Deus como podia ser vista na disposição do céu noturno.
O ‘como’ foi um estilo chamado polifonia, música de muitas vozes em movimento
independentemente que sugeria o modo como os planetas pareciam se mover no
universo geocêntrico de Ptlomeu. Esta era verdadeiramente a música das esferas.
Este é tipo de música que Leonardo Da Vinci deve ter conhecido. E talvez sua tremenda
perfeição intelectual e serenidade significasse que algo novo devia acontecer -- um
movimento novo e radical, o qual aconteceu em 1600. Cantor: Ah, duro golpe! Ah,
perverso, cruel destino! Ah, estrelas nefastas! Ah, céus avarentos!
MTT: Este, com certeza, foi o começo da ópera, e seus desenvolvimento colocou a
música em um radical novo curso. O quê agora não era espelhar a mente de Deus, mas
seguir a turbulência emocional do homem. E o como era a harmonia, empilhando tons
para formar acordes.
E os acordes, como se descobriu, eram capazes de representar incríveis variedades de
emoções. E os acordes básicos eram aqueles que ainda usamos, as tríades, seja em
tom maior, que consideramos felizes, ou em tom menor, que entendemos como tristes.
Mas qual a diferença real entre estes 2 acordes? É apenas 2 notas no meio. Tanto o Mi
natural, e 659 vibrações por segundo, como o Mi bemol, em 622. Então qual a grande
diferença entre a felicidade e tristeza humanas? 37 apavorantes vibrações.
Então podem ver que em um sistema assim havia um enorme e sutil potencial para
representar as emoções humanas. E de fato, quando o homem começou a entender
melhor sua natureza complexa e ambivalente, a harmonia cresceu em complexidade
para refletí-la. Tornou-se capaz de expressar emoções além da capacidade das palavras.
Com toda esta possibilidade, a música clássica realmente decolou. É o tempo no qual
as grandes formas começaram sua ascensão. E os efeitos da tecnologia também
começaram a ser sentidos, porque a impressão pôs a música, as partituras, os livros de
códigos da música, nas mãos de artistas por todo lugar. E novos e melhores instrumentos
tornaram a era do virtuoso possível. Foi quando as grandes formas surgiram -- as sinfonias,
as sonatas, os concertos.
Nestas grandes arquiteturas de tempo, compositores como Beethoven podiam
compartilhar as ideias de toda uma vida. Uma obra com a Quinta de Beethoven
basicamente testifica como era possível para ele ir da tristeza e ira, no transcorrer de
uma hora e meia, no exato passo-a-passo de seu caminho, até o momento em que ele
consegue alcançar a alegria.
E assim descobriu-se que a sinfonia podia ser utilizada em questões mais complexas,
como envolventes questões culturais, tais como nacionalismo ou a busca pela liberdade
ou as fronteiras da sensualidade. Em qualquer direção que a música tenha tomado, uma
coisa até recentemente era sempre igual, que quando os músicos paravam de tocar, a
música parava.
Este momento muito me fascina. O considero muito profundo. O que acontece quando
a música para? Aonde ela vai? O que nos resta? O que permaneceu junto às pessoas
na plateia ao final de uma apresentação? É a melodia ou o ritmo ou um clima ou uma
atitude? E como isso pode mudar as suas vidas?
Para mim este é lado íntimo, pessoal da música. É a parte da comunicação. É a parte
do ‘porquê’. Para mim a mais essencial de todas. Em grande parte é algo de pessoa para
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pessoa. uma coisa de professor-aluno, músico-platéia, então por volta de 1880 veio esta
nova tecnologia primeiro mecânicamente depois analógica e depois digital que criou um
novo e miraculoso modo de passar as coisas adiante, ainda que de modo impessoal. As
pessoas agora podem ouvir música a toda hora, mesmo que não seja necessário para
elas tocar um instrumento, ler música ou mesmo ir aos concertos.
A tecnologia democratizou a música tornando tudo disponível. Disparou uma revolução
cultural na qual artistas como Caruso e Bessie Smith estavam no mesmo patamar.
E a tecnologia levou compositores a extremos tremendos, usando computadores e
sintetizadores para criar obras de complexidade intelectual impenetrável além dos meios
de músicos e plateias.
Ao mesmo tempo a tecnologia, ao assumir o papel que a pauta sempre desempenhou,
alterou o equilibrio dentro da música entre instinto e inteligência muito mais para o lado
instintivo. A cultura em que vivemos agora está repleta de música de improviso que tem
sido cortada, fatiada, separada e, Deus sabe, distribuída e vendida. Qual o efeito disso a
longo prazo para nós e para a música? Ninguém sabe.
A questão permanece: O quê acontece quando a música para? O que fica junto às
pessoas? Agora que temos acesso ilimitado à música, o que permanece junto à nos?
Permitam-me apresentar um história sobre o que quero dizer com “realmente
permanecendo conosco”. Visitava um primo meu em um retiro para idosos, e espiei um
velho bem trêmulo atravessando a sala em um andador. Ele chegou até um piano que
estava lá, e ele se aprumou e começou a tocar algo assim.
E começou a falar algo assim, “Eu... menino... sinfonia... Beethoven.” E de repente
entendi, e eu disse, “Amigo, será que você não está tentando tocar isso?”
E ele disse, “Sim, sim. Eu era um garotinho. A sinfonia: Issac Stern, o concerto, eu ouvi”.
E eu pensei, meu Deus, o quanto esta música significa para este homem que o tirou da
cama, o levou através da sala para recuperar a memória desta música que, após tudo
mais em sua vida estar se perdendo, ainda significa tanto assim para ele?
Por isso que levo toda apresentação muito seriamente, porque importa tanto assim para
mim. Nunca sei quem pode estar ali, quem pode estar absorvendo-a e o que acontecerá
em sua vida.
Mas eu estou animado agora porque há mais chances que nunca de compartilhar esta
música. É isso o que atrai meu interesse em projetos como a série de TV “Keeping Score”
com a Sinfônica de São Francisco que olha para o passado da música, e trabalha com
jovens músicos na New World Symphony em projetos que exploram o potencial dos novos
centros de apresentação artística tanto para entretenimento quanto para educação.
E é claro, a New World Symphony leva a YouTube Symphony e projetos pela internet que
chegam a músicos e a plateias por todo o mundo. E o incrível em tudo isso é que tudo
isso é apenas um protótipo. Há uma função aqui para tantas pessoas -- professores, pais,
artistas -- para juntos explorarem. Claro, grandes eventos atraem muita atenção, mas o
que importa mesmo é o que acontece a cada dia. Precisamos de suas perspectivas, sua
curiosidade, suas vozes.
Fico empolgado em conhecer pessoas que são andarilhos, chefes, programadores,
taxistas, pessoas que eu nunca teria adivinhado que amassem a música e que a estão
passando adiante. Não se preocupem em saber tudo. Se você é curioso, se tem a
capacidade de indagar, se está vivo, você sabe tudo o que precisa saber. Você pode
começar em qualquer lugar. Ande por aí. Siga pistas, Perca-se, surpreenda-se, divertido
inspirado. Todos aqueles ‘o quê’ e ‘comos’ estão por aí esperando que você descubra seus
‘porquês’, ir fundo e passar adiante.
Obrigado.
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HUBBLE - Brasil 247