PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 479 •ANO XLIII
NOVEMBRO 2013 • MENSAL • € 1,50
O TRIDENTE
NA OPERAÇÃO
ACTIVE ENDEAVOUR
E
m 15 de Fevereiro de 1113, por meio da
Bula Pie Postulatio Voluntatiso, o Papa Pascoal II reconhecia formalmente a Ordem
do Hospital. Comemoram-se este ano nove séculos de existência desta Ordem, embora a sua
atividade tivesse começado antes do reconhecimento oficial por Sua Santidade. Tudo começou
em 1048, com a fundação de um hospital em
Jerusalém, por comerciantes de Amalfi. O seu
objetivo era essencialmente prestar assistência a
todos aqueles que se dirigiam em peregrinação
à Terra Santa. Essa função assistencial tem-se
mantido até aos nossos dias. Em 1099, o hospital era dirigido por um leigo, de nome Gerardo.
No hospital existia uma capela dedicada a São
João de Alexandria. Ainda antes da instituição
formal da Ordem, o referido hospital adotou São
João Baptista como patrono. Por esse motivo, os
seus membros também são conhecidos como
Frei António Manoel de Vilhena.
«Hospitalários de São João de Jerusalém».
Grão-Mestre da Ordem de Malta entre 1722 e 1736.
A Ordem de São João nasceu num contexto
em que à peregrinação se associava a cruzada, ca de oitenta municípios e freguesias. Quatro
para libertar a Terra Santa da ocupação mu- dos Grão-mestres da Ordem foram portugueçulmana. Por esse motivo, a ordem assumiu ses. Frei D. Afonso de Portugal (1135-1207),
também um cariz militar. Ao longo dos séculos filho bastardo de D. Afonso Henriques, foi o
assumiu um papel fundamental na luta contra 11.º Grão-Mestre entre 1202 e 1206. Frei D. Luís
o domínio muçulmano no Mediterrâneo. Com
a queda de São João de Acre, em
1291, os cavaleiros transferem a sua
sede para Chipre e passados poucos
anos para a ilha de Rodes. A partir daí
a Ordem de São João passa a dispor
de uma importante componente naval. Expulsos de Rodes por Solimão,
o Magnífico, recebem de Carlos V a
ilha de Malta, passando a ser também
designada por Ordem de Malta. Em
1798 a ilha é ocupada pelas tropas
de Napoleão Bonaparte e os cavaleiros são expulsos. A partir de 1834 a
sede da Ordem instala-se em Roma,
gozando contudo de extraterritorialidade. Passa a designar-se Ordem
Soberana Militar de Malta e assume-se essencial- Mendes de Vasconcelos (1541-1623) foi o
mente como uma ordem assistencial.
55.º Grão-Mestre de 17 de novembro de
A ligação desta ordem militar a Portugal re- 1622 a 7 de março de 1623. Se estes exermonta aos primeiros anos da nacionalidade. ceram curtos mandatos, o mesmo já não se
Os cavaleiros Hospitalários participam no passou com os outros dois. Frei D. António
processo de reconquista, tendo ficado liga- Manoel de Vilhena (1663-1736), foi o 66.º
dos a diversas povoações ao longo do país. A Grão-Mestre entre 19 de junho de 1722 e
título de curiosidade refira-se que a Cruz de 10 de dezembro de 1736. Finalmente, Frei
Malta aparece nos brasões heráldicos de cer- D. Manuel Pinto da Fonseca (1671-1783), 68.º
Grão-Mestre desde 18 de janeiro de 1741 até
23 de janeiro de 1773).
Em traços gerais, são estes os assuntos abordados na exposição: «900 anos de História, Cultura
e Solidariedade, ao serviço de uma Cultura Humanista: A Ordem de Malta e a Marinha». Tendo como base um friso cronológico, são contados os nove séculos de história da Ordem. Nessa
viagem no tempo são apresentados todos os que
dirigiram a Ordem, desde o leigo Gerardo até ao
atual Grão-Mestre, Fra’ Matthew Festing, recebido pelo Papa Francisco. São ainda evocados
diversos momentos importantes para a sua história, nomeadamente a fixação nos diferentes
locais que serviram de sede. Não é esquecida a
ligação a Portugal e são também apresentados
alguns episódios em que existiu uma ligação
mais estreita entre a Marinha Portuguesa e a
Ordem, como foi o caso do bloqueio da ilha de
Malta, dirigido pelo Marquês de Niza.
Patente no Pavilhão das Galeotas, do Museu de
Marinha, a exposição foi inaugurada no dia 5 de
setembro. Na cerimónia de inauguração, presidida pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, estiveram presentes diversos elementos da
Ordem de Malta, nomeadamente o Presidente
do Conselho e da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana Militar
de Malta, D. Augusto de Albuquerque
de Athayde, Conde de Albuquerque.
Esteve igualmente presente o Embaixador Miguel de Polignac de Barros,
que representa a Ordem de Malta em
Portugal.
Usou inicialmente da palavra o
Contra-almirante António Bossa Dionísio, diretor da Comissão Cultural da
Marinha, que sublinhou os pontos de
ligação entre a Ordem e a Marinha
Portuguesa. Seguiu-se uma intervenção de D. Augusto de Albuquerque de
Athayde, que explicou a importância
histórica da Ordem ao longo dos tempos e o seu papel na sociedade contemporânea.
Finalmente, o comissário da exposição, Professor
Doutor João Charters de Almeida e Silva, proporcionou uma visita guiada à mesma, explicando
os pontos mais relevantes.
Colaboração da COMISSÃO
CULTURAL DA MARINHA
SUMÁRIO
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Publicação Oficial da Marinha
Periodicidade mensal
Nº 479 • Ano XLIII
Novembro 2013
SNMG2
NRP Tridente ao serviço de Portugal
Diretor
CALM EMQ
Luís Augusto Roque Martins
Chefe de Redação
CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira
Redação
1TEN TSN - COM Ana Alexandra G. de Brito
Secretário de Redação
SCH L Mário Jorge Almeida de Carvalho
10
Os Mergulhadores da Armada
Resumo histórico
14
Colaboradores Permanentes
CFR Jorge Manuel Patrício Gorjão
CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos
CFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa
1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves
A Musealização do Barracuda
Administração, Redação e Publicidade
Revista da Armada
Edifício das Instalações
Centrais da Marinha
Rua do Arsenal
1149-001 Lisboa - Portugal
Telef: 21 321 76 50
Fax: 21 347 36 24
Endereço da Marinha na Internet
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Tiragem média mensal:
4500 exemplares
Preço de venda avulso: € 1,50
Revista anotada na ERC
Depósito Legal nº 55737/92
ISSN 0870-9343
ANUNCIANTES:
ROHDE & SCHWARZ, Lda.
18
Uma fotografia
2 testemunhos
ORDEM SOBERANA MILITAR DE MALTA
INTERNATIONAL CONGRESS OF MARITIME MUSEUMS / ACADEMIA DE MARINHA
ÉPOCA BALNEAR 2013 / SECRETÁRIA DE ESTADO DA DEFESA NACIONAL
VISITA AUTORIDADE MARÍTIMA NACIONAL
NRP JACINTO CÂNDIDO NO MAR DOS AÇORES
INSTITUTO HIDROGRÁFICO ORGANIZA O SEMINÁRIO INTERNACIONAL
“O CONTRIBUTO DA HIDROGRAFIA PARA O DESENVOLVIMENTO E A
SEGURANÇA DOS ESTADOS COSTEIROS”
ESCOLA NAVAL
PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL
TOMADAS DE POSSE
ESCOLA NAVAL / NOTÍCIAS
COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA
VEÍCULOS AÉREOS NÃO-TRIPULADOS NA MARINHA
A RESILIÊNCIA NO SERVIR. CLASSE CACINE
UM DIA A BORDO DO CACINE
VIGIA DA HISTÓRIA 59 / CLUBE DE PRAÇAS DA ARMADA
CURSO “OLIVEIRA E CARMO”
SAÚDE PARA TODOS 8
NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (28)
QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIO
NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS
100 ANOS DE SUBMARINOS EM PORTUGAL
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CONTRACAPA
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
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INTERNATIONAL CONGRESS OF MARITIME MUSEUMS
decorrem 150 anos sobre a sua criação.
No programa do Congresso estiveram envolvidas instituições com forte representatividade no
domínio do Mar e da Museologia Marítima, ou
seja, não apenas os museus portugueses membros do ICMM.
Cascais, com as suas infraestruturas camarárias,
foi o núcleo central do ICMM 2013, o qual teve
um programa académico e social diversificado.
O Congresso trouxe a Portugal diretores de museus marítimos, historiadores e imprensa científica de todos os continentes, num total de 127
participantes oriundos de 25 países.
O Congresso foi aberto pelo CALM Bossa Dionísio, Diretor da Comissão Cultural da Marinha,
e pelo Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Dr. Carlos Carreiras.
Perante uma plateia mundial, o CALM Bossa
Dionísio enalteceu a história marítima portuguesa e o seu contributo para a história mundial,
bem como o papel do Museu de Marinha que,
como guardião dessa história, celebra este ano
150 anos desde a sua fundação.
O Dr. Carlos Carreiras fez um apelo à criação de
uma nova vaga de descobrimentos através da criação de uma comunidade dos países marítimos que
“se dediquem à proteção do recurso mais valioso
que temos, sobre o qual ainda pouco sabemos e
será no futuro uma resposta às necessidades económicas dos países marítimos e dos seus povos”.
O autarca anunciou ainda a criação do Centro do
Mar em Cascais que vai albergar conhecimento
português e internacional.
Frits Loomeijer, presidente do ICMM, declarou
que a seleção de Cascais e Lisboa para receber
este evento deveu-se à excelente candidatura
apresentada no último Congresso ocorrido em
2011 em Washington DC, e que seguramente
tudo o que vai ocorrer na semana do Congresso
irá provar a adequabilidade da escolha.
Durante o Congresso
a presidência do ICMM
passou para o Dr. Kevin
Fewster, Diretor do Royal
Museums Greenwich, e
foi decidido que o próximo Congresso, a ocorrer
em 2015, será em Hong
Kong e Macau.
Foto 1SAR FZ Pereira
A
Comissão Organizadora do International
Congress of Maritime Museums (ICMM)
decidiu atribuir a Portugal a organização
do Congresso de 2013, o qual ocorreu no período de 8 a 15 de setembro.
O ICMM é um evento bienal de grande relevo
no domínio técnico-científico no âmbito da salvaguarda, conservação, proteção e divulgação do
património marítimo e dos aspetos museológicos
conexos, o qual visa incentivar a cooperação
entre os participantes e a divulgação do trabalho
que desenvolvem junto de entidades congéneres.
Cada ICMM ocorre em local selecionado mediante a avaliação das candidaturas apresentadas
por parte dos seus membros. A escolha da candidatura portuguesa confirma uma vez mais a vocação de Portugal, em particular das áreas metropolitanas de Lisboa e de Cascais, para acolher eventos
de projeção internacional em que os assuntos do
Mar assumem uma importância estratégica.
A candidatura foi apoiada, entre outros, pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e pelo
Presidente da Câmara Municipal de Cascais.
A escolha e a organização
do ICMM 2013 são de inegável prestígio para Portugal,
potenciando a sua imagem
e a dos Museus envolvidos.
Para o Museu de Marinha,
revestiu-se de especial significado, porquanto em 2013
Colaboração da
COMISSÃO CULTURAL
DA MARINHA
ACADEMIA DE MARINHA
ALMIRANTE SENNA BITTENCOURT NA ACADEMIA DE MARINHA
N
a sessão de 17 de Setembro, na Academia de Marinha, antes da ordem do dia,
teve lugar uma breve cerimónia de recepção ao académico Vice-almirante Armando de Senna Bittencourt.
Depois de ler o seu currículo, o Presidente Vieira Matias lembrou que o novo confrade
exerce, desde 2004, o cargo de Director do Património Histórico e Documentação da
Marinha do Brasil, em que sucedeu ao saudoso Almirante Max Justo Guedes, membro
emérito da Academia de Marinha.
Dizendo que a eleição apenas pecava por tardia, o Almirante Vieira Matias referiu que
era uma “honra e privilégio” para a Academia poder contar com a experiência e o conhecimento que o Almirante Senna Bittencourt tem da cultura marítima dos dois países.
Depois da entrega do Diploma e a imposição do Colar Académico, o confrade Senna
Bittencourt proferiu palavras de agradecimento, salientou as suas raízes portuguesas e
referiu a forte ligação de “maritimidade entre os dois países irmãos”.
Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA
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NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
N
primeiros 10 países do mundo com as menores taxas de mortalidade por afogamento
nas zonas balneares de jurisdição marítima.
Durante a conferência de imprensa, na
praia do Guincho, considerada recentemente pela estação televisiva norte-americana
CNN como uma das 10 melhores praias urbanas da europa, pelas suas características
de beleza invulgar e de condições únicas
para a prática de surf e kitesurf, decorreu em
simultâneo uma demostração prática dum
equipamento de salvamento inovador, uma
bóia de assistência a banhistas, mecanizada
e autónoma de controlo remoto.
Na presente época balnear, com um dos
verões mais quentes nos últimos 20 anos em
Portugal, e atendendo aos fatores
geopolíticos a nível mundial, os
portugueses visitaram as nossas
praias cerca de 63 milhões de vezes, a que se juntaram cerca de 12
milhões de turistas, na sua maioria
na qualidade de banhistas.
Apesar da elevada afluência às
praias apenas 2 dos 12 casos mortais se ficaram a dever a afogamento em praias vigiadas.
Foto 1SAR FZ Pereira
o passado dia 4 de setembro, ocorreu na praia do Guincho no Município de Cascais, uma conferência de
imprensa sob a égide da Autoridade Marítima Nacional (AMN) presidida pelo Ministro
da Defesa Nacional, Dr. Pedro José Aguiar-Branco, e com a presença do Presidente da
Câmara Municipal de Cascais, do Almirante
Autoridade Marítima Nacional e do
Vice-Almirante Diretor-geral da Autoridade Marítima e Comandante
Geral da Polícia Marítima.
O Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) apresentou o balanço dos
primeiros 4 meses da época balnear
de 2013, realçando a envolvência
dos diversos projetos desenvolvidos
pelos parceiros institucionais na vertente da responsabilidade social, que
muito contribuíram para que Portugal,
no âmbito da segurança balnear, estivesse novamente posicionado nos
SECRETÁRIA DE ESTADO DA DEFESA NACIONAL
VISITA AUTORIDADE MARÍTIMA NACIONAL
a quinta-feira, dia 19 de setembro, a Secretária de Estado
Adjunta e da Defesa Nacional,
Dra. Berta Cabral, promoveu uma visita à Autoridade Marítima Nacional
(AMN), a qual, nos termos institucionalmente definidos no âmbito da Defesa Nacional, se encontra sob a sua
tutela direta.
A intenção manifestada pela governante era, precisamente, conhecer
toda a vasta estrutura de órgãos e serviços que integram a AMN, bem como
o quadro de atribuições que a lei lhes
comete e a textura das suas atividades, e cuja
identidade, génese histórica e competências
os distinguem das demais.
A Secretária de Estado foi recebida pelo Almirante Autoridade Marítima Nacional e pelo Vice-almirante diretor-geral da Autoridade Marítima (DGAM) e comandante-geral da Polícia
róis, tendo almoçado nesta Direção
após ter assistido a apresentações
práticas da embarcação do Grupo
de Ações Tácticas (GAT) da Polícia
Marítima e de uma lancha do ISN.
A governante teve a oportunidade
de, na Capitania do Porto de Lisboa,
e após colocar algumas questões,
proferir umas palavras sobre o enquadramento da AMN, a sua orientação governamental para solidificação deste setor da Defesa Nacional
que se encontra sob sua tutela, e a
forma como vê o imprescindível papel da Marinha no apoio ao exercício da Autoridade Marítima.
A Secretária de Estado manifestou a sua satisfação pelos resultados da visita.
Foto 1SAR A Dias
N
ÉPOCA BALNEAR 2013
Marítima (CGPM), tendo visitado a Direção
de Combate à Poluição do Mar, onde assistiu
a uma apresentação sobre o serviço e respetiva atividade, a Capitania do Porto de Lisboa,
onde lhe foi realizado um briefing pelo VALM
DGAM/CGPM e pela sua equipa, o Instituto
de Socorros a Náufragos e a Direção de Fa-
Colaboração da DIREÇÃO-GERAL
DA AUTORIDADE MARÍTIMA
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
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SNMG2
P
NRP TRIDENTE AO SERVIÇO DE PORTUGAL
ouco mais de três anos após o seu aumento
ao efetivo na Marinha Portuguesa, o submarino Tridente partiu da Base Naval de Lisboa
para o cumprimento de mais uma missão, desta
vez a sua primeira integração numa força permanente da NATO.
Com a missão bem estudada, guarnição treinada e pronta, o NRP Tridente largou silenciosamente, ao serviço de Portugal, no passado dia 5
de setembro de forma a integrar o Standing NATO
Maritime Group 2 (SNMG2), participando na
Operação ACTIVE ENDEAVOUR sob o controlo
operacional do COMSUBNATO1.
A Operação ACTIVE ENDEAVOUR é uma
operação da NATO no Mar Mediterrâneo – a
única ao abrigo do artigo 5º do Tratado do
Atlântico Norte – centrada na campanha internacional de combate contra o terrorismo e que
tem como objetivo a condução de operações
navais e aéreas, no Mediterrâneo, incidindo na
dissuasão, defesa e proteção contra atividades
associadas ao terrorismo.
Após análise dos procedimentos e feitos alcançados no ano anterior pelo submarino Arpão, o
Tridente procurava elevar a fasquia e colocar a
arma submarina portuguesa no centro das atenções da NATO. “Ser relevantes” foi o mote e
lema passado à guarnição pelo Comandante do
navio, CTEN Amaral Henriques.
Após semanas de intensa preparação para a
missão, que se misturou com as férias de verão,
todos os militares e unidades de apoio tiveram de
“correr” para poderem ter a “sua parte” pronta.
Alguma ansiedade pairava na guarnição,
em particular nos elementos mais modernos,
para os quais esta seria a sua primeira missão
real ao serviço da Arma Submarina, ansiedade
acentuada pelas tensões vividas nos países do
Norte de África com as muito faladas “primaveras árabes”. Mas esta ansiedade foi sempre
enquadrada pelos camaradas mais antigos e
experientes que despistavam os sentimentos de
alguma expectativa com histórias das suas façanhas nos submarinos da classe Albacora, sobre
a participação na Operação SHARP GUARD (no
embargo à antiga Jugoslávia no Mar Adriático) e
do disparo do torpedo para afundamento do N/M
Bandim, que era um perigo à navegação por estar
a flutuar em meias águas. Foram também abordadas as várias passagens em imersão no Estreito
de Gibraltar, conhecidas pela sua especificidade,
cujo último resistente, o saudoso Barracuda, atravessara pela derradeira vez na sua última navegação em 2009 e que permitiu a consolidação e
transferência de toda a experiência acumulada ao
longo de décadas às novas gerações, permitindo
que o Tridente já o tivesse passado por 4 vezes na
sua curta vida, antes de partir para esta missão.
O trânsito para a área de operações pautou-se
pela tranquilidade e ainda não tocara o despertador,
que dava início à patrulha, e o Tridente já detetava e
relatava contactos de interesse. Mais uma vez, procurava a excelência e responder ao comandante
no sentido de colocar o navio como referência para
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NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
este tipo de missões, o que era imperioso.
Os primeiros dias foram de alguma azáfama,
mas desengane-se quem pense que era no Tridente! Azáfama na estrutura do COMSUBNATO para
receber, compilar e dar seguimento ao volume de
informação que, na sua patrulha silenciosa, o Tridente ia enviando em reports constantes. Os poucos céticos estavam convencidos e a guarnição
entusiasmada. Cumprindo bordada após bordada
com um brilho nos olhos, sempre em busca de
mais e mais informação… Informação de tudo o
que se movia à nossa volta, onde eram classificados e verificados visualmente todos os contactos,
de forma a apurar se haveria algum relacionado
com atividades ilícitas.
Trinta e quatro homens, aos comandos de uma
excelente plataforma com um conjunto de sensores avançados e poderosos, exploravam o navio ao
limite das capacidades. Ora procurando avidamente contactos suspeitos e padrões de tráfego na zona,
ora efetuando treino próprio na área operacional e
na área de limitação e reação a avarias, pois o adestramento da guarnição para os exigentes padrões
de segurança que garantam a segurança máxima é
sempre essencial quer seja numa missão real quer
seja numa qualquer outra navegação. Quando um
submarino entra em imersão nunca é exercício.
E, após mais de 300 horas de patrulha à cota periscópica, cerca de 1300 milhas percorridas, a lista
de relatos efetuados amontoava-se. Mais de 1400
contactos identificados, muitos deles reveladores
dos padrões de comportamento da área, um dos
objetivos principais da missão. Foram igualmente
relatados todos os comportamentos suspeitos detetados assim como os contactos de particular in-
teresse para a Operação ACTIVE ENDEAVOUR e
Comando da Força Naval Permanente da Aliança
Atlântica, tanto no ambiente marítimo como em
pontos de interesse em terra.
No âmbito desta operação o submarino Tridente
conduziu operações no Mediterrâneo Ocidental
onde, efetuando patrulha discreta de vigilância para
controlo do tráfego marítimo, permitiu às instâncias
de controlo operacional da Aliança o permanente
conhecimento do cenário e a caracterização dos
padrões de comportamento na área de ação de
interesse dos países da NATO, onde se focou na
deteção de navios com comportamentos suspeitos,
seguimento de navios mercantes classificados
como de interesse ligados a atividades ilícitas,
deteção de pequenas embarcações ligadas ao
tráfico de droga e imigração ilegal, deteção de
navios de guerra de países não-NATO, bem
como recolha de informação operacional relevante na área de operações.
O Tridente tornava-se assim num elemento
chave para a valorização da ação da patrulha, já
que só a partir de um elemento dissimulado no
ambiente é possível atuar nele sem o influenciar.
Assim, mais uma vez está testemunhada uma das
mais-valias da arma submarina… a possibilidade de efetuar vigilância, recolher e gravar dados,
relatando-os para os comandos superiores, sem
que os visados tenham sequer a ideia que está
um meio naval a operar e a recolher informação
nas suas áreas de interesse.
Terminada que estava a primeira parte da
missão, a integração na SNMG2, a guarnição,
exausta, estudava com afinco a próxima tarefa
a cumprir. A cidade de Cartagena, em festa, esperava o Tridente como que para o saudar pelos
resultados obtidos. Coincidentemente, decorriam as festas anuais da cidade, onde se comemoravam os 2.222 anos da Batalha entre cartagineses e romanos. Nada como a comemoração
de uma batalha épica para receber os guerreiros
lusitanos que regressavam do mar.
Ainda antes de atracarmos, a guarnição regozijava-se com os primeiros reconhecimentos dos
nossos comandos NATO, onde se podiam ler frases
do COMSUBNATO como “…your crews ability
to provide superior intelligence for OAE.” Ou “you
not only increased MARCOMS operational awareness today but for future missions to come” ou do
HQ MARCOM “Tridente’s recent operations …
were a model to be emulated by future operators”.
O sentimento de dever cumprido, enaltecido pelas
cativantes mensagens de apreço recebidas dos mais
altos responsáveis operacionais da missão, veio demonstrar o reconhecimento do mote dado pelo
Comandante do navio – “Ser relevantes”. O brilho
nos olhos dos 34 militares submarinistas embarcados era o bastante para perceber a alegria de quem,
ao longo de 12 dias, trocara o Sol e atmosfera de
verão que ficara em Lisboa, por 12 horas diárias de
trabalho, onde o dia e a noite eram marcados pelo
obstinado acender e apagar de luzes que nos forçavam a iludir o corpo e a mente de que aquelas luzes
artificiais substituíam o Sol que teimava em continu-
ar a percorrer o seu eterno ciclo entre nascimento
e ocaso. Por nós, apenas visível pelas binoculares
do periscópio e pelo ecrã apelidado de “janela para
o mundo”, pelo espaço reduzido e falta de privacidade, característica de quem dedica a sua vida
profissional à Arma Submarina, aquela que garante
a terceira dimensão do território nacional.
Mas como há séculos atrás se ouvia “terra à vista”,
na manhã de 23 de setembro voltávamos a avistar
costa amiga e a expetativa de uns dias de descanso exortavam a guarnição para mais uma faina de
atracação rigorosa e sem surpresas.
Cartagena em festa recebeu-nos de braços abertos. O oficial de ligação, oficial submarinista espanhol que já anteriormente navegara na classe
Tridente, que prontamente se voluntariou para
receber os camaradas submarinistas portugueses,
complementou toda a componente logística preparada e passava as primeiras impressões do que
seria a estadia em Cartagena.
As excelentes relações que caracterizam as
duas Armas Submarinas, Espanhola e Portuguesa, cimentadas pelos vastos anos de cooperação
desde o início de operação dos submarinos da
classe Albacora nos meados dos anos 60 do
século passado, foram mais uma vez estendidas e reavivadas nos cumprimentos prestados
pelo Comandante Amaral Henriques ao VALM
Zumalacárregui, Comandante da Base Naval
de Cartagena e pelo Capitan-de-navio Sierra
Mendez, COMSUBMAR2 e Comandante da
Esquadrilha de submarinos da Armada Espanhola. Ambos reforçaram a importância das
relações bilaterais que sempre existiram entre
a comunidade submarinista ibérica. De forma
a dar continuidade às convicções expressadas
pelas entidades oficiais foi dada a bordo do Tridente uma receção à comunidade submarinista
espanhola onde foi demonstrado aos nuestros
hermanos a característica Nacional de bem receber, em qualquer parte do Mundo, na qual
maravilhados pelas qualidades técnicas e capacidades operacionais do nosso navio, estavam
também comprazidos ao degustarem as iguarias
preparadas pela equipa da taifa de bordo. Um
momento sem dúvida memorável de convívio
entre irmãos do submundo marinho.
E se outrora os Romanos perderam a batalha
contra Cartagineses, mais de 2000 anos depois,
os Portugueses equilibraram a “batalha” com uma
conquista pacífica das gentes locais… na largada
do Tridente, algumas lágrimas ficaram no porto,
mas após o merecido descanso estava em boa
hora de nova travessia do Estreito de Gibraltar a
caminho de Lisboa.
Na viagem de regresso a Portugal embarcou um
oficial submarinista espanhol, em virtude da Marinha Espanhola estar no processo de aquisição dos
novos submarinos da classe S80. O embarque teve
como objetivo a passagem de informação, não
sensível, relativa às capacidades que um submarino moderno apresenta, reforçando a cooperação e
amizade que une há várias décadas as duas Marinhas e as duas Esquadrilhas de Submarinos ibéricas.
A passagem do Estreito de Gibraltar em imersão
é um momento de particular solenidade no seio da
comunidade submarinista. Não só pelo simbolismo
que lhe está associado, mas principal e maioritariamente pela sua grande complexidade técnica de
execução. A passagem do Estreito carece de uma
preparação em termos de cálculo das condições
ideais, incluindo tempos, cotas e velocidades de
passagem, tendo em conta as profundidades das diversas camadas de água, com densidades diferentes, que causam correntes de intensidade superior,
que se não forem corretamente calculadas podem
duplicar o tempo de passagem, e com isso todas
as complicações inerentes à redução da autonomia
da bateria do submarino e controlo da qualidade
do ar ambiente. O encontro das águas atlânticas
com as mediterrânicas, apesar de uma superficial
calma, encerram complexas e revoltas camadas subaquáticas, que com diferentes camadas e sentidos,
resultam numa camada de turbulência que pode
“atirar” o navio para o meio da intensa navegação
à superfície ou para os perigosos montes submarinos que estrangulam as profundezas do Estreito. O
rigoroso conhecimento da posição do navio, utilizando os complexos métodos da navegação inercial e da navegação por sondas, assim como o total
e completo controlo da plataforma, faz com que a
passagem do Estreito em imersão seja um esforço
conjunto e coordenado da vertente operacional e
técnica do navio.
As águas mediterrânicas ficavam no passado depois de se ter atravessado o Estreito em imersão profunda, e sem demora novamente se preparavam os
exercícios de interação com a Marinha Espanhola,
onde participaram as fragatas ESPS Santa Maria,
ESPS Canarias e uma aeronave de patrulha marítima – P3M. Marcados pela excelente oportunidade
de treino conjunto entre marinhas amigas, as séries ficaram marcadas pela azáfama de terem sido
realizadas com intenso tráfego de navegação mercante, onde, apesar das dificuldades, foi mais uma
excelente oportunidade de treino para a guarnição,
conjugando a componente operacional com a de
segurança e classificação de alvos.
Trocadas as impressões pós-exercício, o saldo foi
assegurado como positivo por todos os intervenientes.
Já a caminho de Portimão, ultimavam-se os pre-
parativos para a honrosa receção ao Chefe do
Estado-Maior-General das Forças Armadas, General PILAV Luís Araújo. A guarnição estava entusiasmada. A presença do General CEMGFA comprovava não só o reconhecimento da competência
demonstrada pelo navio, mas também o interesse
do mais alto nível do Comando Militar Nacional
em conhecer o navio e guarnição que estiveram
integrados numa força NATO, em patrulha.
Aperaltado o navio e orgulhosa a guarnição,
embarcava pontualmente ao largo de Portimão a
bordo do submarino Tridente, o General CEMGFA
acompanhado pelo Comandante Naval, VALM
Monteiro Montenegro. O momento era curto e o
programa exigente, pelo que não existiram momentos calmos. Num par de horas procurou dar-se
uma imagem rigorosa das capacidades do submarino exploradas à exaustão pela sua guarnição que,
procurando cumprir o lema dado pelo Comandante, se esforçava por tornar uma vez mais relevante a sua participação na missão que findava,
demonstrando a capacidade, conhecimentos e
vontade para desempenhar missões futuras.
E foi efetivamente relevante a presença do General CEMGFA no Tridente porque horas após o
final da visita, ainda se trocavam palavras e ideias
dos momentos vividos a bordo e particularmente das palavras proferidas à guarnição, as quais
demonstraram grande apreço pelos resultados
obtidos no decorrer da participação na Operação ACTIVE ENDEAVOUR e pela especificidade da condição de submarinista. Foi sem dúvida
uma honra inesquecível que ficará nas memórias desta missão e da guarnição, especialmente
quando o General CEMGFA concebeu a honra
de colocar o distintivo do submarino no peito,
tornando-se assim em mais um valioso elemento
da comunidade submarinista portuguesa.
Mesmo depois de 29 dias de uma missão
cheia de atividade, faltava ainda a participação
no Exercício SEA BORDER no âmbito da iniciativa (cooperação de segurança) 5+5, e que se
realizou ao largo do Algarve. Aqui foram testadas
e melhoradas as formas de colaboração e coordenação entre unidades militares aeronavais dos
países participantes, Portugal, Espanha e Tunísia.
Após a última tarefa desta grande missão, apenas algumas horas separavam os militares do
Tridente de suas casas. Sem cessar na atenção,
pairava no ar o sentimento de regresso. As famílias
ainda desconheciam o sucesso da missão, mas essa
é mais uma condição do submarinista onde o silêncio e a distância são mais umas das contingências
inerentes e bem conhecidas por quem abraçou a
missão de servir a Marinha e o País numa arma cuja
discrição a torna tão temível e respeitada.
A expressão “Silenciosamente ao serviço de Portugal” carrega com ela muito do que é ser submarinista e de como este sente a sua missão… com
“zelo, aptidão e honradez”.
Colaboração do COMANDO DO
NRP TRIDENTE
Notas:
1COMSUBNATO – Comando Operacional de submarinos NATO, no Atlântico, Mar Mediterrâneo e Índico.
2 COMSUBMAR – Comando Operacional de submarinos espanhol.
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
7
NRP JACINTO CÂNDIDO NO MAR DOS AÇORES
LARGADA DA BASE NAVAL
DE LISBOA RUMO AO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES
RELEMBRANDO O DIA QUE
CONQUISTÁMOS OUTROS
MARES
No dia 30 de abril de 2013, pelas 15 horas,
o NRP Jacinto Cândido largou da Base Naval
de Lisboa, com 80 militares na sua guarnição,
rumo ao Arquipélago dos Açores para cumprir
mais uma comissão na Zona Marítima. O início
do trânsito ficou marcado pelas condições de
mar adversas e, consequentemente, pelas dificuldades de estabilidade de rumo e pela sensibilidade de certos militares ao mar, visto que nos
dois primeiros dias, rumámos sempre com
mar pelo través de estibordo. Somente no dia
antes da chegada, com a melhoria das condições climatéricas, foi possível a realização de
treino interno, incidindo na área de Limitação
de Avarias (LA), operação do navio em avaria
(exercícios de máquinas e avaria no leme) e
Homem ao Mar.
Pela manhã do dia 3 de maio atracámos no
porto de Ponta Delgada, tendo sido efetuados
os devidos cumprimentos protocolares, do
comandante do navio às entidades militares
e civis da região. No dia seguinte, dia 4 de
maio, o navio largou e fundeou na bacia de
manobra do porto de Ponta Delgada, para
participar nas festas do Senhor Santo Cristo
dos Milagres, tendo efetuado 19 salvas de artilharia; após a sua participação voltou a atracar no cais atribuído neste Porto, aí permanecendo até largar para o seu primeiro cruzeiro,
no dia 6 de maio. Durante a navegação o navio praticou os portos de Praia da Vitória (Ilha
Terceira) e Vila do Porto (Ilha de Santa Maria) de forma a desembarcar diverso material
embarcado no âmbito da tarefa de transporte
logístico. Em Vila do Porto, foram prestados
cumprimentos protocolares ao Presidente da
Câmara Municipal de Vila do Porto e organizada uma visita à ilha para a guarnição com
o apoio da Câmara Municipal.
No dia 9 de maio, de forma a participar na
Final Coordination Conference do exercício
ACOR13, realizada sob a égide do Comando
Operacional dos Açores, o navio atracou no
Porto de Ponta Delgada. Durante esta estadia,
foi realizada a bordo, por elementos da PSP,
uma palestra subordinada ao tema do consumo de álcool, habilitação legal e condução.
No âmbito desta palestra foram esclarecidos
os riscos que advêm do consumo excessivo
de álcool, alguns mitos associados ao mesmo
e os limites de álcool no sangue legais na prática da condução. Ainda relacionado com a
condução de veículos e dados os diversos perigos existentes, foi realçada a importância de
cumprir os limites de velocidade e a legislação
em vigor. Apesar de se tratar de um tema bastante presente para a maioria da guarnição, foi
relevante na medida em que permitiu esclarecer algumas dúvidas e relembrar certos aspetos indispensáveis, quer a nível de segurança,
quer a nível de saúde.
No âmbito das comemorações do dia da
Marinha, o NRP Jacinto Cândido permaneceu
atracado no cais das Portas do Mar, no porto de
Ponta Delgada, entre os dias 17 e 20 de maio.
Durante a estadia, o navio abriu a visitas, tendo
recebido a bordo alunos do ensino básico e preparatório, turistas e visitantes locais da ilha de
São Miguel, num total de 1405 visitas. Em coordenação com o Comando da Zona Marítima
8
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
HÁ MAR E MAR,
HÁ IR E VOLTAR…
O navio saiu para o mar, depois do pôr-do-sol, no dia 20 de maio, para iniciar o segundo
cruzeiro. O primeiro porto praticado foi Vila do
Porto na Ilha de Santa Maria da qual o navio
recebeu a visita das escolas locais. O navio
atracou na Praia da Vitória (Terceira) no dia
24 pela manhã, no Porto da Horta (Faial) em
27 e por fim em Vila da Praia Ilha da Graciosa
em 29, tendo finalizado o cruzeiro em 31 de
maio atracando no Porto de Ponta Delgada. O
segundo cruzeiro permitiu conjugar na perfeição as tarefas cometidas ao navio na área
de fiscalização marítima, com as ações de
treino próprio na área de navegação, marinharia, LA e artilharia.
A qualidade da informação transmitida ao
navio pela Inspeção Regional das Pescas e
Comando da Zona Marítima dos Açores, no
âmbito do panorama das embarcações pesqueiras, permitiu realizar ações de fiscalização marítima de uma forma mais eficiente,
revelando-se determinante na vectorização
do navio para alvos de interesse. Neste capítulo é de realçar a relevância da partilha
do panorama MONICAP, permitindo otimizar as ações de patrulha e fiscalização,
aumentando a capacidade de planeamento
e, em última análise, potenciando o treino
interno do navio.
Neste cruzeiro, as passagens pelas várias
ilhas foram também acompanhadas dos
respetivos cumprimentos protocolares e, na
maioria, de visitas proporcionadas à guarnição, sendo de realçar a excelente colaboração das câmaras municipais locais.
O REPOUSO DO MILITAR
dos Açores, criou-se a oportunidade de realizar
batismos de mergulho, onde os mergulhadores
de bordo colaboraram na atividade.
No último dia, por ocasião do dia da Marinha e do 12º aniversário dos escuteiros marítimos de São José, foi celebrada uma missa de
sufrágio e deposição de coroa de flores no monumento aos marinheiros mortos na I Grande
Guerra, com participação de militares da guarnição. Ao final do dia, ocorreu a bordo uma
cerimónia de entrega de prémios das regatas
realizadas, presidida por sua excelência Almirante Pires da Cunha, Comandante da Zona
Marítima dos Açores.
A estadia no Porto de Ponta Delgada, entre
cruzeiros, permitiu à guarnição conhecer as
belezas naturais da Ilha de São Miguel. O navio aproveitou o encontro com a natureza do
Parque da Paz para fazer o típico “Almoço
do Cozido”, sendo esse prato confecionado,
pela equipa taifa de bordo, nas altas temperaturas das fumarolas das Furnas. Essa mesma
estadia tornou-se mais produtiva por ter sido
possível realizar um treino de armamento
portátil na carreira de tiro para os elementos da
guarnição que desempenham funções de plantão, Sargento de Dia e Oficial de Dia.
Largámos no dia 9 de maio para o nosso
terceiro e último cruzeiro na Zona Marítima
dos Açores.
TERCEIRO E ÚLTIMO CRUZEIRO
Após saída de Ponta Delgada, o rumo foi direto para o Porto de Pipas na Ilha Terceira, onde
se atracou pela manhã do dia 10 de junho, de
forma a participar nas comemorações do Dia
de Portugal, de Camões e das Comunidades
Portuguesas (promovidas pelo Gabinete do Representante da República na Região Autónoma
dos Açores), realizadas no Solar da Madre de
Deus em Angra do Heroísmo, com participação do Comandante e um pelotão de 16 militares da guarnição na cerimónia militar. Durante
esta estadia o navio abriu a visitas.
Largámos de Porto de Pipas na manhã de
11 de junho para atracar no Cais Comercial
do Porto de Praia da Vitória, de forma a embarcar pessoal e material do Exército com
destino à Horta. Nesse mesmo dia foi dado
início ao exercício ACOR13 – CPX. Este tipo
de exercício revela a extrema importância
da coordenação dos vários meios e centros
de comando e controlo das várias entidades
participantes. O âmbito deste exercício é a
simulação de vários sinistros, quer a nível de
catástrofes naturais, quer a nível de grandes
acidentes, criando então dessa forma a necessidade de coordenação entre entidades
para resolução dos mesmos. Participaram
no exercício o SRPCBA (Serviço Regional
de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores) e
os três ramos das Forças Armadas, cabendo
ao navio simular o apoio na zona costeira
do sinistro a nível de Busca e Salvamento e
a atracação no porto sinistrado para apoio às
entidades locais no combate ao sinistro. O
exercício foi, na sua maioria, simulado a nível de comando e controlo através de mensagens, permitindo ao navio continuar atracado
no Cais Comercial da Praia da Vitória. No decorrer do mesmo, foi proporcionado aos oficiais uma visita ao SRPCBA. Esteve incluída
a visita às instalações (onde se encontrava a
decorrer o ACOR13) e aos vários centros de
comando e controlo, finalizando a visita com
a ida ao parque de treino, onde possibilitou
o conhecimento dos vários meios e cenários
de treino de combate a sinistros, com a possibilidade aberta de voltar com a guarnição de
forma a desenvolver ações de treino LA.
No dia 12 atracámos no Porto da Horta
na Ilha do Faial para aproveitar mais uma
vez o espírito náutico que o Café Peters tem
para nos oferecer. No dia seguinte, no período matinal, rumámos em direção ao Grupo Ocidental do arquipélago e no dia 14 de
manhã atracámos na Ilha das Flores. Após
cumprimentos protocolares, foi organizada
uma visita à ilha para a guarnição, com a
colaboração da Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores, onde foi possível visitar
o ponto mais ocidental da Europa. No dia a
seguir deixámos a Ilha das Flores por forma a
exercer ações de fiscalização marítima junto
ao Grupo Ocidental.
Em 16 de junho, fundeámos no Corvo,
onde o Comandante efetuou cumprimentos
protocolares ao presidente da Câmara, e a
guarnição desfrutou (por bordadas) de uma
visita à ilha, recorrendo às embarcações semi-rígidas de bordo. De referir a extrema importância deste dia 16 de junho, por representar o
dia da unidade, onde o navio apagou as suas
43 velas de idade ao serviço de Portugal.
Suspendemos ferro no final da tarde e rumámos de volta para o Grupo Central e Orien-
tal onde, por motivos de desembarque de
material logístico, atracámos no Cais Militar
de Praia da Vitória em 18 de junho, em Vila
do Porto, Ilha de Santa Maria, no dia 19 de
manhã e o fundeadouro de Ponta Delgada
de tarde. Depois do material desembarcado,
máquinas avante toda a força, rumo oeste-noroeste, direção Porto de Pipas, objetivo:
presença naval nas Festas Sanjoaninas.
O NRP Jacinto Cândido permaneceu atracado de 20 a 25 de junho no Porto de Pipas,
cado a grande mais-valia que este centro pode
representar para as guarnições dos navios em
comissão na ZMA.
O navio largou na manhã do dia 25, voltando a fundear em Angra do Heroísmo na manhã do dia 26 de junho, de forma a participar
no exercício FOCA 132 (sob a égide do Exército). Após um briefing de segurança efetuado
em terra (cais-porto de Pipas), embarcou-se
45 militares do exército (e respetivo material
e armamento) por embarcações semi-rígida
de bordo e uma lancha do ISN da Capitania
do Porto de Angra do Heroísmo, de seguida efetuou-se o seu transporte até à Praia da
Vitória a Sul da Ilha Terceira, onde após o
navio ter fundeado no interior do porto, desembarcou os militares por embarcações de
bordo e Capitania Local.
ENSINANDO OS MAIS
JOVENS
Um grupo de cadetes do Curso Vice-Almirante Mendes Cabeçadas Júnior (22 cadetes)
e respetivo Diretor de instrução da Viagem,
juntaram-se à guarnição do NRP Jacinto Cândido no dia 21 de junho em Angra do Heroísmo, para realizarem a Viagem de Instrução
de 3º ano da Escola Naval, cujo objetivo foi
proporcionar a oportunidade de pôr em prática a teoria lecionada na Escola Naval e de assimilar alguns conhecimentos importantes sobre a vida a bordo, aproveitando ainda para
conhecer as ilhas que constituem o arquipélago. Em 3 de julho, efetuou-se o RENDEZ-VOUS com o NRP João Roby, onde se encontravam embarcados os restantes cadetes
do curso, tendo-se cumprido um programa
seriado, que incluiu exercícios de manobras
e evoluções, aproximações RAS e exercícios
de comunicações. Os navios navegaram em
companhia até dia 5 de junho, tendo atracado de braço-dado no porto de Ponta Delgada, podendo, finalmente os cadetes, visitar os
vários pontos de interesse da ilha.
MISSÃO CUMPRIDA…
período no qual se abriu o navio a visitas.
Durante a estadia foi possível a concretização da ação de treino LA no Centro de Treino
dos Serviços Regionais de Proteção Civil e
Bombeiros dos Açores. As instalações mostraram ser bastante completas para a realização
de um treino eficaz nas áreas de combate a incêndios (Classe A, B e C), Busca e Salvamento
Urbano (U-SAR), emergência médica e desencarceramento de vítimas, tendo sido identifi-
O navio atracou pelas 10 horas do dia 15
de julho de 2013 na Base Naval de Lisboa,
com um sentimento de missão cumprida,
sendo visível a grande satisfação e o orgulho
de ter efetuado mais uma missão com sucesso e encontrando as suas famílias em paz, totalizando na comissão à Zona Marítima dos
Açores 1793 horas e 52 minutos de missão,
573 horas e 22 minutos de navegação, num
total de 6675 milhas percorridas, tendo a
oportunidade de visitar todas as ilhas do arquipélago, transportou um total de cerca de 14
toneladas de material diverso entre ilhas, efetuou 26 ações de fiscalização no mar, sendo 8
presumivelmente infratoras. De mencionar que
totalizou um total de cerca de 2600 visitantes
durante a comissão.
Colaboração do COMANDO DO
NRP JACINTO CÂNDIDO
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
9
OS MERGULHADORES DA ARMADA
O
RESUMO HISTÓRICO
s Mergulhadores da Armada
tomada pelos Destacamentos, ficando
e a sua Escola foram criados
cometidas à Escola de Mergulhadores
por Diploma Real assinado
exclusivamente tarefas de instrução.
por D. Carlos I em 1899, onde se menNo prosseguimento da edificação
cionava, pela primeira vez e de forma
da capacidade de Guerra de Minas,
muito sumária, a natureza de atuação
prevista no Sistema de Forças Naciodos Mergulhadores da Marinha. Apenal 04 - Componente Operacional, e
sar de se considerar este documento
considerando ainda a necessidade de
como a primeira referência, existem
garantir condições para que os demais
duas menções a mergulhadores, que
organismos pudessem contribuir eferemontam uma a 1171, em que Um
tivamente para o cumprimento deste
valoroso soldado português a quem
desiderato, foi criado em 2008 o Desa história nem ao menos o nome cotacamento de Mergulhadores Sapadomentou, aproveitando a treva da noite
res nº 3 (DMS3-MW).
aproximou-se do dromon, abriu-lhe
um enorme rombo nas obras-vivas suORGANIZAÇÃO
ficiente para o navio soçobrar; e outra
Os Destacamentos de Mergulhadoa 1580, que refere nadadores portures Sapadores são unidades operaciogueses, nadando debaixo de água,
nais organizadas de forma a executar
atacam navios espanhóis fundeados
ações no quadro das missões da Marino Rio Tejo, procurando danificar-lhes
nha. Cada Destacamento é composto
o casco.
por secções ou equipas, que podem
Em 1899, a principal missão dos meratuar de forma independente e disgulhadores era no âmbito do Socorro
persa geograficamente, e constituído
a Náufragos e da Salvação Marítima.
por militares habilitados com o curso
Mais tarde, em 1961, foi instituído o
de formação ou de especialização em
atual Quadro de Mergulhadores e, em
mergulhador-sapador.
1964, as primeiras unidades operacioCom a entrada em vigor da Lei Orgânais que, a partir de 1966, prestaram
nica da Marinha e a sua regulamentaserviço no Comando da Defesa Marítição subsequente, estas unidades ficama da Guiné, então com potencialidaram na Dependência Administrativa
des e valências militares, inclusive na
da Esquadrilha de Submarinos, sendo
área da Inativação de Engenhos Exploo Comando Operacional atribuído ao
Mergulho Militar. As missões de interesse
sivos (IEE). Estas unidades, denominadas Secção de Mergulhadores Sapadores nº 1 público, designadamente as relativas ao So- Comando Naval.
A Esquadrilha de Submarinos possui na sua
e nº 2, passaram, em 1973, a Destacamento corro a Náufragos e à Salvação Marítima,
continuaram a ser asseguradas pela Escola estrutura o “Agrupamento de Mergulhadode Mergulhadores Sapadores nº 1 e nº 2.
res”, que assegura o aprontamento e o apoio
Com o fim da Guerra do Ultramar os Des- de Mergulhadores.
Quando, em 1992, foi reativado o Desta- logístico, a formação, o treino, a manutentacamentos foram extintos, ficando a totalidade das missões atribuída à Escola de camento de Mergulhadores Sapadores nº 2 ção das qualificações e a avaliação do nível
Mergulhadores que, com o então Centro de (DMS2), toda a atividade operacional foi re- de prontidão e do desempenho dos militares
que lhe estão atribuídos. ProInstrução de Minas e ContraORGANOGRAMA DA ESQUADRILHA DE SUBMARINOS
move, igualmente, o aprovimedidas, responsabilizou-se
(CAPACIDADE DE MERGULHO)
sionamento, armazenagem e
pela formação dos militares
distribuição de todo o mateda Marinha na área do Merrial de mergulho para utilizagulho Militar e da IEE.
ção na Marinha.
Até finais da década de 90,
elementos da Força Aérea,
PSP e GNR frequentaram
AS MISSÕES
cursos relativos à IEE. A nível
E AS TAREFAS
internacional, efetuaram-se
alguns cursos para militares
A sua extensa orla marída Marinha Espanhola, no
tima e a configuração das
âmbito dos engenhos conrespetivas ZEE e Plataforma
vencionais terrestres e subContinental implicam uma
marinos.
dependência de Portugal
O Destacamento de Merdas atividades económicas
gulhadores Sapadores nº 1
ligadas ao mar. A Marinha,
(DMS1) foi reativado em
no âmbito das suas missões,
1988, dada a necessidadesempenha um papel fulde de existir uma unidade
cral, cabendo aos merguoperacional especialmente
lhadores um natural lugar de
vocacionada para a área do
10
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
destaque, que se reflete num elevado empenhamento das respetivas equipas
As missões e tarefas que as unidades de
mergulhadores podem ser chamadas a desempenhar primam pela diversidade, complexidade e extensão. Poderemos elencar
de forma sucinta as missões mais representativas, tanto em tempo de crise, como em
tempo de paz para cada unidade de
mergulhadores.
Assim, ao DMS1 incumbe genericamente a Proteção da Força em
Ambiente Subaquático (Underwater
Force Protection), a Inativação de
Engenhos Explosivos e as Operações
Ofensivas e Defensivas. Ao DMS2
é atribuída a Salvação Marítima e
o SAR de elevada complexidade.
Compete-lhe, igualmente, o destacamento temporário de Mergulhadores
para as Unidades Navais. Finalmente,
o DMS3 – MW tem a sua ação centrada essencialmente na Guerra de
Minas com e sem emprego de Veículos Autónomos Submarinos (Unmaned Underwater Vehicles).
De realçar que o DMS3-MW é a
unidade de mergulhadores que tem
possibilidades de mergulhar até aos
81 metros de profundidade. Desde
2002, com a aquisição dos equipamentos de mergulho CARLETON
Viper Plus, que a Marinha adquiriu
esta capacidade e que a tem mantido sustentada desde então. Para tal,
os militares que executam este tipo
de mergulho, aplicado essencialmente às operações de contramedidas de minas, efetuam o Plano de
Qualificação de Mergulho Profundo
(duração de 3 semanas) a cada 120
dias, executando todo o tipo de tarefas associadas ao manuseamento
do equipamento, procedimentos de
manutenção e de segurança, supervisão de mergulho e finalmente mergulhar até aos 81 metros. Naturalmente esta modalidade, que apesar
de ter como principal aplicação a
guerra de minas, é entendida como
uma capacidade de mergulho transversal a outras tarefas e atribuições,
tais como o socorro, salvamento e
resgate submarino, salvamento de
submarinos sinistrados e outros trabalhos subaquáticos que tenham
como requisito o mergulho a profundidades elevadas. O DMS3-MW
tem presentemente qualificada uma
equipa de 7 mergulhadores para
atuar até à profundidade máxima de
81 metros.
Uma parte significativa da atividade
operacional desenvolvida pelas unidades
de Mergulhadores é dirigida a tarefas de
interesse público, que enraízam profundamente a tradição da Instituição “Mergulhadores da Armada” em particular e da
Marinha no geral.
Como elementos da Componente Operacional do Sistema de Forças Nacional, os Destacamentos de Mergulhadores adquiriram e
desenvolveram ao longo da sua história, uma
necessidade de aperfeiçoamento e desenvolvimento dos conhecimentos e competências
técnicas, como por exemplo, no âmbito dos
trabalhos subaquáticos e na salvaguarda da
vida humana no mar. Estas atividades criaram
experiência e formação numa área do mergulho que representa nos dias de hoje uma
mais-valia muito significativa na vertente do
serviço público. Procura-se, desta forma, uma
atualização do seu saber e fazer específico, do
seu carácter de “serviço”, dedicando alguma
parte do seu esforço operacional às tarefas que
corporizam o exercício da soberania do Estado no mar, prevenindo situações potencialmente lesivas do interesse nacional.
Tenta-se compatibilizar o cumprimento das
tarefas militares com as de interesse público,
potenciando as sinergias assentes numa racionalização e complementaridade dos meios e
da sua logística, fazendo convergir os
instrumentos da componente operacional do sistema de forças com outros, tais como os órgãos operativos do
Sistema de Autoridade Marítima.
Ilustram-se seguidamente com exemplos, algumas missões desempenhadas
pelas unidades de mergulhadores:
∙ No exercício da Segurança Marítima e Assinalamento Marítimo,
auxiliar entidades como a Direção
de Faróis na manutenção, reparação
e substituição de bóias e vistoria à
parte imersa de balizas (trabalhos
continuamente realizados em diversas boias, nos rios Tejo, Sado, ria de
Aveiro e Faro/Olhão);
∙ Assegurar a Proteção de Pessoas e
Bens, no que concerne à inativação
de engenhos explosivos convencionais (terrestres e submarinos), com especial incidência no mar, faixa litoral,
praias e portos;
∙ Cooperar no combate ao terrorismo
executando vistorias, buscas e inativação, destruição ou neutralização de
engenhos explosivos convencionais
ou improvisados (terrestres ou submarinos), especialmente em navios e
nas áreas de jurisdição marítima. Uma
“nova” tarefa que se prende com o
fenómeno complexo que é o Terrorismo, que na nova realidade mundial
reflete-se no crescente emprego das
unidades de mergulhadores em ações
de vistoria a portos, pontes, viadutos e
locais de atracação de embarcações.
Prendendo-se no âmbito da Inativação de Engenhos Explosivos Convencionais ou Improvisados (terrestres e
submarinos), aquando da presença
de VIP’s, acontecimentos importantes
ou atracação de navios de elevado
valor, quer sejam civis ou militares.
É também uma missão descrita como
militar em tempo de paz, podendo
perfeitamente ser classificada de serviço público.
Importa por fim referir que para as
missões e tarefas das Unidades de
Mergulhadores, quer sejam de cariz
militar, quer sejam de serviço público,
são disponibilizados material e equipas numa base diária, durante 365 dias por
ano, servindo de forma profissional e competente a Marinha e o País.
F. Duarte da Conceição
CFR
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
11
INSTITUTO HIDROGRÁFICO ORGANIZA O SEMINÁRIO INTERNACIONAL
D
“O CONTRIBUTO DA HIDROGRAFIA
PARA O DESENVOLVIMENTO E A SEGURANÇA
DOS ESTADOS COSTEIROS”
ecorreu, no passado dia 19 de
Seguidamente, o Diretor-geral do IH
setembro, no Instituto Hidroagradeceu a presença de todos os pargráfico (IH) o seminário suborticipantes e realçou a importância que
dinado ao tema “O Contributo da Hieste evento representa para o IH, por
drografia para o Desenvolvimento e a
constituir uma oportunidade para proSegurança dos Estados Costeiros”, em
mover a cooperação técnica, por encocoincidência com o dia do IH, no seu
rajar os participantes a desenvolver laços
53º aniversário. Este evento contou com a presença
de ilustres intervenientes
e convidados nacionais e
estrangeiros (África do Sul,
Alemanha, Angola, França,
Reino Unido, Malawi, Moçambique e Noruega) representantes de departamentos
governamentais, organismos
científicos, estabelecimentos de ensino superior e
outros parceiros privados,
oficiais generais, militares e
funcionários civis do IH.
O Vice-chefe do Estado-Maior da Armada, VALM Sessão de abertura.
Carvalho Abreu, presique permitam reforçar as suas capacidadiu à sessão de abertura. Da mesa de
des e por facilitar a troca de informações
honra fizeram parte o Presidente do
sobre a hidrografia e cartografia náutica,
Comité Português para a Comissão
bem como desenvolvimentos técnicos
Oceanográfica Intergovernamental da
e científicos em curso nestes domínios.
UNESCO, Prof. Doutor Mário Ruivo,
Desejou um bom dia de trabalho, para
o Presidente da Fundação para a Cibenefício do desenvolvimento e da seência e Tecnologia, Prof. Doutor Migurança marítima dos estados costeiros.
guel Seabra, a Subdiretora-geral da
Direção-geral da Política
do Mar, Arq.ª Margarida
Almodôvar, e o Diretor-geral do IH, CALM Silva
Ribeiro. Antes de ser dado
início aos painéis, o Vice-chefe do Estado-Maior da
Armada realçou a importância e a oportunidade
da realização do seminário, o qual relembra e reforça o papel da Marinha
Portuguesa nas múltiplas
atividades ligadas ao mar,
destacando neste âmbito
a existência de um lugar
de relevo para o IH, por Sessão de encerramento.
mérito próprio e por um
A primeira sessão foi subordinada ao
conjunto de elementos dignos de retema: “Hidrografia – Contributos para a
gisto, como a sua relevância militar e
segurança dos estados costeiros”, tendo
científica, a qualidade dos seus producomo Moderador o Comandante Ventura
tos, o dinamismo da sua gestão, a sua
Soares do Instituto Hidrográfico. Nesta sespermanente proatividade e o sentido
são participaram como oradores o Comanda responsabilidade e de transparêndante Freitas Artilheiro, Diretor Técnico
cia ali existentes, não terminando sem
do Instituto Hidrográfico, o Comandante
felicitar o Instituto pela passagem de
Velho Gouveia, Capitão do Porto de Sines,
mais um aniversário.
12
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
e o Dr. Gonçalo Magalhães Collaço, Administrador delegado da ESRI Portugal. Nesta
sessão foram debatidos os contributos do
IH, de Portugal e do setor privado para a
segurança e defesa no Mar, com exemplos
de trabalhos já realizados e produtos e serviços disponíveis.
A segunda sessão foi subordinada ao tema: “Hidrografia – Contributos para
o desenvolvimento", tendo
como moderador o Professor Doutor Miguel Miranda,
Presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
Nesta sessão participaram
como oradores o Comandante Pereira Manteigas, Chefe
da Divisão de Hidrografia do
Instituto Hidrográfico, o Professor Doutor Ricardo Serrão
Santos, do Departamento de
Oceanografia e Pescas da
Universidade dos Açores, e
o Doutor Charles de Jongh,
da CARIS. Nesta sessão foi debatida a
forma como os países podem beneficiar com o investimento, devidamente
programado, na atividade hidrográfica,
cujo retorno se faz sentir, de forma altamente vantajosa, ao nível do desenvolvimento numa perspetiva económica e científica, com impacto positivo
para a qualidade de vida
das populações.
O 3.º painel “Hidrografia
– Perspetivas de futuro”
foi composto pelo Comandante Ramalho Marreiros,
Diretor da Escola de Hidrografia e Oceanografia do
Instituto Hidrográfico, pelo
Doutor Michael Bergmann,
Diretor do Marine Services
da Jeppesen e Presidente do Comité Internacional Radio Marítimo, pelo
Mr. Jan Haugh Kristensen,
da Kongsberg e pelo Engenheiro Augusto Bata,
Diretor Geral do Instituto
Nacional de Hidrografia e Navegação
de Moçambique, tendo sido moderado
pelo Chefe de Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada,
CALM Seabra de Melo. Nesta sessão
foi debatida a formação em hidrografia, a utilização de dados hidrográficos
em modernos sistemas electrónicos de
informação de navegação, novos pro-
dutos ao nível de sondadores multifeixe e a organização e as prioridades
de desenvolvimento da hidrografia em
Moçambique.
A Secretária de Estado Adjunta e da
Defesa Nacional presidiu à Sessão de
Encerramento, na presença do Chefe
do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Almirante
José Saldanha Lopes, do Presidente da
Organização Hidrográfica Internacional, Mr. Robert Ward, do Subdirector
da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Prof. Doutor José Rebordão, e do Diretor-geral do IH.
Esta sessão teve início com uma lição de sapiência do orador convidado, o Professor
Emeritus David E. Wells,
da University of Southern
Mississipi, E.U.A., sobre a
evolução dos sistemas de
posicionamento por satélite. O Professor David
Wells desenvolveu uma
intensa atividade de investigação científica em física
e geodesia espacial, no Bedford Institute of Oceanography, no Canadá, entre
1965 e 1980. É Professor
Emeritus do Departamento
de Geodesia e Engenharia
Geomática da Universidade de New
Brunswick, no Canadá, onde começou
a ensinar em 1980, tendo-se reformado
em 1998, embora tenha continuado a
manter uma intensa atividade universitária. Desde 1999 ensina no Departamento de Marine Science da University of Southern Mississippi, nos Estados
Unidos da América.
O Professor Dave Wells é autor de
livros e publicações de referência no
domínio da hidrografia e geodesia por
satélite. Foi membro do International
Board on the Standards of Competence in Hydrographic Surveying, foi
conselheiro do Ministro das Pescas e
Oceanos do Canadá, esteve na origem do primeiro Curso de Sondadores Multifeixe e criou o Ocean Mapping Group da Universidade de New
Brunswick.
Entre os que tiveram o privilégio de
o ter como professor na Universidade
de New Brunswick, encontram-se diversos alunos portugueses, dos quais
alguns oficiais de Marinha, no âmbito
do Curso de Engenheiro Hidrógrafo.
É conhecido o seu gosto por Portugal
e é, igualmente, um grande apreciador de Fado.
Seguiu-se a alocução do Diretor-geral do IH, por ocasião do 53º Aniversário do IH, na qual começou por
destacar a linhagem do IH, que remonta a 1834, quando foi retomada a
organização permanente dos serviços
hidrográficos nacionais. Prosseguiu,
referindo que atualmente o IH, na
sua missão de desenvolver produtos
de informação tendo em vista a sua
aplicação militar, científica e militar,
adquire uma grande quantidade de
dados, num esforço em que participam uma brigada hidrográfica, uma
equipa de engenharia oceanográfica
e os navios hidrográficos da Marinha.
Salientou que a análise e a difusão
de dados sobre o Mar, e as previsões
oceanográficas são feitas por pessoal
experiente, com recurso a modernos
laboratórios, modelos matemáticos e
à maior base de dados nacionais de
observação do oceano, com um sistema de informação dedicado e um
serviço de atendimento ao utilizador.
Também destacou a participação do
IH em diversos projectos de investigação científica e de desenvolvimento
tecnológico, essenciais para o apoio
às políticas públicas associadas às ciências do Mar e às ações preconizadas na Estratégia Nacional para o Mar.
Salientou particularmente o apoio
proporcionado à Estrutura de Missão
para a Extensão da Plataforma Continental, a implementação de um sistema de observação multidisciplinar do
mar na ZEE nacional e a manutenção
da única escola nacional de formação
em hidrografia, aberta à frequência da
sociedade civil. Também referiu a participação do IH em diversos projetos
multidisciplinares dinamizados pela
União Europeia e a relevante atenção
dada a produtos e serviços inovadores, tomando como exemplo o apoio
ao Comando Naval e à Direção-geral
da Autoridade Marítima, no âmbito da
previsão meteo-oceanográfica, tendo
alguns desses produtos sido adaptados para apoiar várias atividades desenvolvidas pela comunidade civil,
como acontece com o serviço público
de previsão das condições para a prática do surf, um recente contributo do
IH para a economia marítima nacional. Ao terminar, referiu que o IH tem
o Mar por vocação e o conhecimento
na ação, numa profunda tradição histórica, com uma longa experiência e
um valioso acervo científico, fruto do
trabalho reconhecido e persistente de
todos os que dirigiram esta instituição
ou nela prestaram serviço, ao longo
dos últimos 53 anos. Referiu ainda
que o IH tem vindo a consolidar a sua
posição a nível do reconhecimento
internacional, pelas capacidades multidisciplinares de que dispõe, pela utilização das mais recentes tecnologias
e práticas, e pela formação de alto
nível que proporciona, no âmbito das
ciências e técnicas do mar.
Seguiu-se a imposição de condecorações ao Prof. Doutor David Wells e ao CMG Carlos Ventura Soares, ambos
agraciados com a Medalha
Militar de Cruz Naval.
O programa do seminário
finalizou com a intervenção da Secretária de Estado
Adjunta e da Defesa Nacional, na qual começou
por manifestar a satisfação
em estar pela primeira vez
no IH, no encerramento
de uma jornada de informação e debate sobre matérias relacionadas com
o Mar, que considerou de
grande significado e prestígio para
o IH, para a Marinha e para Portugal. Na continuação, salientou que
o nosso País quer voltar a um rumo
de crescimento e o Mar e os recursos
marítimos são parte indispensável no
planeamento e ação estratégica e na
concretização do nosso desenvolvimento. Prosseguiu ao referir que o
momento que o País atravessa exige
uma intensa cooperação interinstitucional, no quadro de diversos desafios políticos, económicos, culturais,
de segurança e defesa que ocorrem no
Mar. Concluiu, referindo que os portugueses confiam na Marinha e no seu
IH para afirmar Portugal no Mar, no
domínio da oceanografia, da hidrografia, da navegação e da cartografia,
como vetor de desenvolvimento estratégico, produzindo conhecimento
essencial para toda a atividade marítima, desde a Marinha de recreio até ao
apoio ao exercício da autoridade do
Estado no Mar.
As apresentações das sessões técnicas e do Professor David Wells estão disponíveis na Internet em http://
www.hidrografico.pt/sumula-seminario-hidrografia-decorrido-no-ih.
php.
Colaboração do
INSTITUTO HIDROGRÁFICO
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
13
A MUSEALIZAÇÃO DO BARRACUDA
14
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
tente museológica. A título de exemplo refira-se o Gil Eannes, navio com
uma ligação fortíssima à pesca do
bacalhau, e que atualmente pode ser
visitado em Viana do Castelo; o Santo
André, um arrastão que pertence ao
Museu Marítimo de Ílhavo, ou ainda
a Fragata D. Fernando II e Glória, em
exibição numa das docas secas do antigo estaleiro da Parry & Son, cuja atividade cessou há vários anos. Podem
ainda ser considerados verdadeiros
museus muitas das embarcações típicas, nomeadamente nos nossos rios,
que procuram manter os desenhos
vio em Cacilhas, na doca seca contígua àquela onde se encontra a Fragata
D. Fernando II e Glória. Esta situação
«permitiria diversificar e aprofundar
a dinamização cultural e turística da
zona de Cacilhas, em ligação ao mar
e à Marinha». Nascia assim o «Núcleo
Museológico Naval de Cacilhas» do
Museu de Marinha.
O passo seguinte foi a constituição
de um Grupo de Trabalho (GT-MUSUBCUDA) destinado a desenvolver
as ações necessárias «tendo em vista
a docagem permanente e a preparação técnica do Submarino Barracuda
para exposição e abertura
ao público». O despacho
de criação do GT-MUSUBCUDA definia que o mesmo
deveria funcionar na dependência do Diretor da Comissão Cultural da Marinha,
sendo presidido pelo Diretor
do Museu de Marinha e integrando representantes do
Estado-Maior da Armada, da
Superintendência dos Serviços do Material, do Comando Naval, da Comissão
Cultural de Marinha, assim
como o Comandante da fragata D. Fernando II e Glória.
O referido despacho previa
ainda que o Grupo de Trabalho poderia incluir outros
elementos que pudessem
contribuir para os seus objetivos, tendo integrado diversos especialistas de áreas
técnicas.
Trabalhando em conjunto
com uma equipa de técnicos
da Câmara Municipal de Almada, o GT-MUSUBCUDA
foi desenvolvendo todas as tarefas
necessárias à colocação do Barracuda em Cacilhas. Inicialmente apontou-se como desejável que o navio
estivesse na doca seca nº 1 da Parry
& Son por ocasião do Dia da Marinha
2012, cujas comemorações principais
ocorreram em Almada. No entanto,
com o decorrer dos trabalhos verificou-se que os mesmos apresentavam
um grau elevado de complexidade,
tornando impossível o cumprimento
desse objetivo. A principal dificuldade residiu na preparação da doca
seca para receber o submarino. Estando a mesma abandonada há mais de
20 anos, o estado de degradação era
elevado. A porta-batel estava bastante corroída, tornando-se necessário
Fotos 1SAR A Dias
E
m 2 de agosto de 2010 terminou a
vida operacional dos submarinos
da classe Albacora e, por consequência, da 4ª Esquadrilha de Submarinos. A fim de não perder a memória
viva da Esquadrilha que constituiu,
verdadeiramente, o primeiro grupo de
submarinos de que a Marinha Portuguesa dispôs, foi colocada a hipótese
de musealizar um dos seus navios.
Um pouco por todo o mundo existem submarinos musealizados, em
exibição. Pode mesmo afirmar-se que
a vontade de preservar para a posteridade alguns submarinos é grande.
No dia 1 de fevereiro de 1851,
o Brandtaucher afundou-se no
porto de Kiel, tendo a bordo
o seu inventor, o engenheiro
alemão Wilhelm Bauer, junto
com outros dois companheiros.
Conseguiram escapar nadando
para a superfície. No final do
século XIX este submersível foi
retirado do fundo e colocado
em exibição, podendo hoje ser
visitado em Dresden. Durante
a Guerra da Secessão dos EUA,
os confederados usaram o submarino Hunley para atacar um
navio inimigo, o Housatonic. O
nome do submarino derivava
do seu inventor: Horace Lawson Hunley. O ataque foi bem
sucedido, mas a carga explosiva utilizada levou também ao
afundamento do Hunley, em
Charleston, no dia 17 de fevereiro de 1864. Recuperado em
2000, o navio encontra-se em
exibição em Charleston. Em
Cartagena pode observar-se o
Peral, assim batizado em virtude do nome do seu inventor
Isaac Peral. Lançado à água em 8 de
setembro de 1888, realizou diversas
provas com algum sucesso, mas nunca chegou a ter empenhamento operacional.
Aos exemplos acima apontados, todos referentes a submarinos do século
XIX, poder-se-iam juntar algumas dezenas de navios do século XX, muitos
deles navios que tiveram utilização
operacional após a II Guerra Mundial.
Este interesse particular por submarinos em exibição constitui um forte
incentivo para se realizar algo semelhante em Portugal.
No nosso país, conhecem-se alguns
casos de navios que podem ser visitados, apesar de não existir uma forte
tradição de preservar navios, na ver-
originais e que navegam regularmente, de modo a transmitir uma pequena
ideia daquilo que era a azáfama nos
estuários.
Com a imobilização dos submarinos
da 4ª Esquadrilha surgiram diversas
propostas, por parte de povoações do
litoral, para a sua exibição pública.
Nascia, deste modo, a possibilidade
de perservar a recordação viva de um
desses navios, concretizando, igualmente, um desejo da Marinha.
A ideia de colocar o submarino Barracuda em Almada teve a sua génese em
outubro 2010. Na apresentação de
cumprimentos do Diretor da Comissão Cultural de Marinha na Câmara
Municipal de Almada foi sugerida a
possibilidade de colocação deste na-
estreitas e escadas verticais,
apresenta algumas dificuldades
para crianças e outras pessoas
com alguma limitação em termos de mobilidade. Está planeada a abertura de duas «portas» no costado do navio, ao
nível dos espaços habitáveis,
que permitirão a circulação
pelos seus principais compartimentos. O objetivo é manter o
interior do navio com uma disposição muito semelhante à que
o mesmo tinha quando estava
operacional. Está igualmente
prevista, numa fase posterior,
a construção de um edifício
de apoio ao polo museológico
no qual será contada a história
dos dois navios que o integram:
o submarino Barracuda e a fragata D. Fernando II e Glória.
substituir a mesma por uma
comporta, que garantisse a estanqueidade da doca. Também
o seu interior estava cheio de
detritos e de lodo que se tinha
acumulado com o passar dos
anos. Tratando-se de trabalhos bastante demorados, não
foi possível ter o Barracuda na
doca na data desejada. Apesar
disso, o navio esteve atracado
em Cacilhas, bem próximo do
seu local futuro, durante as
comemorações do Dia da Marinha.
Finalmente chegou o grande
dia! Em 25 de julho o Barracuda
entrou na doca seca a ele destinada, ficando assente em picadeiros construídos propositadamente para esse fim. No entanto,
os trabalhos não terminaram.
A próxima fase passa pela preparação do navio para exibição
ao público. O acesso normal
aos submarinos, por escotilhas
Colaboração da
COMISSÃO CULTURAL
DA MARINHA
RUY DE CARVALHO EM VISITA AO NRP SAGRES
P
or convite do Comandante do
Navio, o NRP Sagres teve o privilégio de receber no passado
dia 16 de Setembro de 2013 o reconhecido ator Ruy de Carvalho. Esteve
presente nesta visita o Comandante da
Escola Naval, CALM Bastos Ribeiro,
promotor da iniciativa da visita do referido ator e da homenagem feita pela
Escola Naval em 6 de junho, por ocasião dos 65 anos do início das filmagens da película "Eram 200 irmãos", de
Armando Vieira Pinto. Acompanhado
pela sua filha, Dra. Paula Carvalho, o
ator almoçou a bordo, após uma visita
aos locais que lhe recordaram a antiga
Sagres, e que o devolveram aos finais
dos anos quarenta, enquanto interpretava a personagem de António Jacinto, um dos Cadetes da "Camarata 21".
Durante a visita, teve oportunidade de conhecer os espaços do navio,
desde a cozinha ao alojamento dos
Cadetes, recordando o ano de 1948,
quando pela velhinha Sagres passou,
para as gravações do filme que retratou a vida dos Cadetes da Escola
Naval. Seguiu-se o almoço na camarinha do Comandante, que de forma
bem-disposta, humilde e com saudade, foram trocadas histórias, revividos
momentos, dando mesmo espaço para
troca de conselhos de roteiros gastronómicos.
A visita terminou com a mensagem
no Livro de Honra do Navio: "Queridos marinheiros! O meu coração
continua a viajar na Sagres. Obrigado
pela vossa gentileza. Do vosso "Cadete adoptivo". (Ruy de Carvalho). Ao
digníssimo ator, queremos agradecer a
sua companhia, a sua boa disposição
e que volte sempre.
Colaboração do COMANDO DO
NRP SAGRES
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
15
ESCOLA NAVAL
CERIMÓNIADEJURAMENTODEBANDEIRAEENTREGADEESPADAS
N
o dia 27 de setembro,
decorreu na Escola Naval a cerimónia de Juramento de Bandeira e Entrega de
Espadas, presidida pelo Chefe
do Estado-Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes.
A cerimónia constou de entrega de espadas aos oficiais dos
Curso de Formação Complementar de Oficiais e do Curso
de Formação Militar Complementar de Oficiais 2011/2012
e 2012/2013, do Curso de
Formação de Oficiais do Serviço Técnico 2009/2012, e juramento de bandeira e entrega
de espadas aos aspirantes do
Mestrado Integrado, do curso
“Padre Fernando de Oliveira”,
para além da imposição de
condecorações a militares e civis.
Esta é uma cerimónia de profundo significado, que marca um momento muito especial para os novos oficiais da Marinha, na
qual assumiram um compromisso para com
a sua Pátria, sob o testemunho da instituição
e o olhar atento de familiares e amigos.
A cerimónia iniciou-se com a imposição
de condecorações a militares e civis que
se distinguiram ao serviço da Marinha e
do País. Seguiu-se a entrega do Prémio de
“Aprumo Militar”, destinado a galardoar o
aluno que, até ao fim do
último periodo escolar
com aulas regulares na
Escola Naval, revelou
possuir um conjunto de
qualidades que o distinguiram como exemplo
de aprumo militar. Este
prémio foi atribuído à
Aspirante da classe de
Marinha, Diana Oliveira
Martins Azevedo.
Após o Juramento de
Bandeira, que vinculou
estes homens e mulheres à condição militar, a
cerimónia terminou com
o desfile dos oficiais que
receberam espadas e
do Corpo de Alunos da
Escola Naval, que prestaram continência ao Almirante Chefe do
Estado-Maior da Armada.
Colaboração da ESCOLA NAVAL
ONRPSAGRESEMAVEIRO-VIAGEMDECANDIDATOSÀEN
R
ealizou-se no período de 19 a 26 de setembro, a viagem de adaptação dos candidatos
à Escola Naval, a bordo do NRP Sagres, que
contemplou uma visita ao Porto de Aveiro de 21 a
23 de setembro.
O objetivo desta missão foi validar a aptidão para
a vida no mar na fase final do processo de seleção
dos futuros cadetes da Escola Naval.
Após apresentação e receção a bordo pelo Comando do navio, tendo presente o curto tempo de
viagem, os 56 candidatos foram integrados nas respetivas secções. Com o importante auxílio e coordenação do pessoal de bordo, ajudaram as primeiras manobras de pano, na saída do navio do Porto
de Lisboa pela barra norte, rumo a Aveiro. Nesta
primeira tirada, o vento do quadrante norte não
favoreceu a navegação à vela em pleno, tendo o
mar picado deixado marca nos candidatos que iniciaram os seus quartos e as idas “à borda”. Mesmo
com este percalço, os candidatos incorporaram os
serviços de bordo, colaboraram nas fainas de velas,
e entre as horas ao leme, vigia, adjunto à navegação
e ao Oficial de Quarto, tomaram os primeiros contactos com a vida de um navio no mar.
No dia 21 pela manhã, aquando da chegada ao
Porto de Aveiro, e por detrás do nevoeiro que se
fazia sentir, o navio foi surpreendido com dezenas
de embarcações na barra e algumas pessoas espalhadas pelas margens, fruto da forte divulgação
efetuada, tendo o navio sido acompanhado na
entrada da ria de Aveiro até ao cais no Terminal
16
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
Norte, na Gafanha da Nazaré.
Durante a estadia do navio no Porto de Aveiro,
visitaram o navio mais 5.000 visitantes, tendo os
candidatos integrado o grupo de serviço, mostrando desde logo um enorme orgulho nas explicações
sobre a “barca”, considerando já um pouco como
o “seu” navio.
Uma delegação do navio, incluindo o Comandante, participou na inauguração da exposição fotográfica de Roberto Santadreu, evocando o “Mar
de Camões”, no Centro Cultural da Gafanha da
Nazaré.
No dia 23, com ventos atípicos de Oeste, o navio
saiu a barra de Aveiro com pano latino e rumou a
sul, tendo os ventos dos quadrantes SW inviabilizado a intenção de navegação apenas à vela, habitual na navegação norte-sul na nossa costa. Com
a previsão de mau tempo no horizonte, ainda foi
possível o navio permanecer na zona de Sines / Espichel para garantir treino próprio e integração dos
candidatos, entrando o navio a barra sul do porto de
Lisboa na madrugada do dia 26.
Na chegada à BNL era visível o sentimento de
missão cumprida para a maioria dos candidatos
que iriam iniciar em breve o 1º ano da Escola Naval, existindo ainda muitas interrogações para um
pequeno grupo que superava as vagas do concurso,
expectantes quanto ao seu futuro.
Colaboração da COMANDO DO
NRP SAGRES
PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL
N
COMANDANTE
QUIRINO DA FONSECA
ascido em 4 de junho de 1868
na cidade do Funchal, Henrique
Quirino da Fonseca frequenta
o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, tendo terminado o respetivo curso
em 1888, ano em que ingressa na Escola
Naval.
Viviam-se então tempos conturbados
em África já que, de acordo com a Conferência de Berlim, a presença e ocupação
por parte dos países colonizadores sobrepunham-se aos seus direitos históricos,
facto que leva a Marinha a reforçar
a sua acção naquele continente.
Assim, a partir de 1893, o Guarda-marinha Quirino da Fonseca
inicia a sua carreira militar na Divisão Naval do Atlântico Sul, onde é
sucessivamente oficial imediato do
navio transporte Salvador Correia,
secretário do governador do distrito do Congo e em Novembro de
1897 tem o seu primeiro comando,
o da lancha-canhoneira Cacongo,
que desenvolve intensa atividade
em águas de Angola. Após uma
curta estadia na Metrópole, onde
exerce o cargo de capitão do porto de Olhão, assume a função de
ajudante de campo do Governador Geral de Angola, sendo nomeado residente em Cabinda. Em
1901 comanda a corveta mista
Bartolomeu Dias, a que se segue
a canhoneira Liberal. Termina a
sua comissão em Angola em 1907
completando 14 anos de serviço
naquele território.
Ajudante do Corpo de Marinheiros, em fins de 1915 é oficial imediato do cruzador Adamastor que larga
para Moçambique. Entretanto, em março
de 1916, a Alemanha declara guerra a
Portugal. Nesse mesmo mês o cruzador
apresa navios alemães surtos em portos
de Moçambique e em Maio participa
em operações de guerra na foz do Rio
Rovuma. O Capitão-tenente Quirino da
Fonseca, comandante da esquadrilha das
embarcações do navio, entra no rio e ataca os postos alemães. É-lhe concedida a
Medalha da Cruz-de-Guerra de 1ª Classe,
pela decisão, coragem, espírito de sacrifício que mostrou durante as operações dos
dias 21, 23 e 27 de maio de 1916.
Presta depois serviço na Direção Geral
da Marinha e em Maio de 1918 parte para
Moçambique como 2º comandante do Batalhão Expedicionário de Marinha, unida-
de para que se tinha voluntariado. Terminada mais uma comissão em África, passa
a chefiar departamentos da Intendência
do Arsenal da Marinha a que se seguem
os da Superintendência dos Serviços da
Armada. Comanda o cruzador República
que, integrado na Divisão Naval Colonial,
efetua o périplo de África de outubro de
1924 a junho do ano seguinte.
Embora possuidor de uma notável carreira militar é principalmente na área cultural
que o Comandante Quirino da Fonseca se
distingue e perdura na memória da Marinha. Em 1923 é nomeado para identificar
objetos existentes nos estabelecimentos
do Estado e noutras situações que merecessem fazer parte do Museu Naval. A
partir desse ano, que marca o começo dos
trabalhos com vista ao desenvolvimento
e modernização do Museu, participa ou
preside a todas as comissões relacionadas
com este projeto.
Com a saída da Escola Naval para o Alfeite em novembro de 1936, o Museu e
a Biblioteca tornam-se autónomos sendo
o Comandante nomeado, em março de
1937, diretor destes dois organismos.
Foi igualmente um ilustre arqueólogo,
filólogo, ensaísta, novelista e historiador
das navegações portuguesas dos séculos
XV e XVI. É autor de uma extensa biblio-
grafia que inclui não só livros como diversas monografias, conferências públicas
e comunicações académicas. Cite-se o
“Memorial dos Adjectivos da Língua Portuguesa”, em que mostra o seu profundo
conhecimento de textos literários, a “Representação Artística das Armadas da Índia” onde ressaltam as suas qualidades de
crítico de arte, como dramaturgo e novelista escreve “Trinca-Fortes”, um relato da
vida de Camões e as “Viagens Maravilhosas de Aventureiros Portugueses dos Tempos Idos”. De entre os seus valiosos
trabalhos sobressai, sem dúvida,
“A Caravela Portuguesa e a Prioridade Técnica das Navegações
Henriquinas”, obra magistral só
possível devido às excecionais
qualidades de historiador e arqueólogo do seu autor. Constitui
o estudo mais completo sobre o
navio que teve um papel decisivo na Época das Descobertas e
originou uma viva polémica, no
ponto de vista técnico, entre o
Comandante Quirino da Fonseca e o Almirante Gago Coutinho.
De salientar igualmente os artigos
do Comandante nos Anais do Clube Militar Naval, de que se destacam “Memórias da Arqueologia
Naval Portuguesa” publicadas de
1915 a 1920, trabalho que levou
a Associação de Arqueólogos Portugueses a elege-lo, em junho de
1920, seu sócio efetivo.
A sua frutuosa atividade cultural
teve público reconhecimento com
a atribuição, em 1930, do grau de
grande oficial das Ordens Militares
de S. Tiago e Espada e de Avis e em dezembro de 1931, por deliberação da Academia
de Ciências de Lisboa, de que era sócio
correspondente, foram-lhe concedidas as
Palmas Académicas de 1ª Classe de Altos
Estudos em homenagem aos seus distintos
méritos. Era igualmente membro da Academia Nacional de História e sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Mesmo na situação de reforma continuou a dedicar-se a assuntos culturais
sendo a sua última nomeação, em 1939,
para acompanhar a construção e o aparelhamento da nau S. Gabriel.
Em 6 de junho de 1939 falecia em Lisboa
o Capitão-de-mar-guerra Henrique Quirino da Fonseca, uma referência marcante
entre os Marinheiros que se distinguiram
na área da Cultura.
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
17
UMA FOTOGRAFIA -
TESTEMUNHO
DO COMANDANTE
E
screver sobre o desfile de grandes veleiros, realizado no Tejo, em 22 de julho de
2012, é escrever sobre um dos momentos
mais emocionantes do meu período de comando da Sagres. É, por isso, um relato pessoal, mas que constitui também um testemunho,
para memória futura, de um momento único e
inolvidável para todos os que o vivenciaram.
Feita esta nota prévia, importa referir que
este desfile marcou o encerramento da passagem dos grandes veleiros por Lisboa, no
âmbito das “Tall Ships Races”. A estadia dos
grandes veleiros na zona de Santa Apolónia,
entre 19 e 22 de julho, tinha sido um verdadeiro sucesso. Contudo, o ponto alto seria,
como é habitual, a sail parade no Tejo, na
tarde de domingo, dia 22 de julho. Como tem
sido comum sempre que os tall ships vêm a
Lisboa, a Sagres foi escolhida para liderar esse
desfile náutico, que se iniciaria com a sua
passagem sob a ponte 25 de abril.
A bordo, tudo tinha sido preparado para
que o navio pudesse içar e caçar todo o pano
"de tacada": as vergas estavam todas içadas e
corretamente mareadas, sendo que o pessoal
(guarnição e cadetes) tinha as adriças e as escotas todas na mão.
Neste tipo de desfiles, procura-se sempre içar
e caçar todo o pano possível, de forma a brindar os espetadores com imagens dos navios
a navegarem à vela em toda a sua plenitude.
Porém, naquele dia, o vento soprava de N/NW
com cerca de 20 nós na zona da ponte, refrescando para quase 30 nós mais para jusante, o
que comprometia a saída da barra do porto de
Lisboa com o pano redondo, dada a dificuldade da Sagres em bolinar com o vento aparente
em marcações inferiores a 60˚.
De facto, para um navio que arma em barca, como a Sagres, o vento estava nos limites,
tanto em direção (por estar na fronteira da orça
exequível), como em velocidade (pois com
ventos acima dos 20 nós é desaconselhável,
por motivos de segurança, a utilização das
velas que compõem a “crista” do navio: giba,
18
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
entremastros altos, gafetope e sobres).
Na análise à meteorologia, durante a manhã,
concluíra que a única forma de sair a barra do
Tejo com todo o pano içado e caçado seria
com a máquina a trabalhar a ré para, por um
lado, fazer com que o vento aparente abrisse,
evitando ficar com o "pano às costas", e por outro lado, diminuir a velocidade do navio (que,
de outra forma, seria bem superior aos 5 nós
estabelecidos, pela organização, como velocidade do desfile).
De qualquer maneira, exatamente à passagem por debaixo da ponte, foi dada a ordem
para içar e caçar todo o pano “de tacada” e
todo o velame se abriu em poucos segundos
– com a Sagres a exibir toda a beleza das suas
alvas velas. Rapidamente, o navio começou a
ganhar velocidade, adornando bastante para
bombordo. Tendo bem presentes as implicações correspondentes, mandei colocar a máquina a ré. Contudo o vento foi aumentando
de intensidade, para quase 30 nós, obrigando
a meter a máquina a ré meia força e, depois, a
ré toda a força, de forma a evitar que o pano
ficasse “às costas”.
Nessa altura, a Sagres navegava com um
adornamento de quase 15˚, perfeitamente
visível nalgumas fotografias que então foram
tiradas. Como era esperado, as velas da mezena dificultavam bastante a ação do leme, na
medida em que forçavam o navio a orçar, facto
que obrigou a meter o "leme de encontro" para
que este seguisse no rumo desejado. Nessas
condições, o desfile foi todo feito com 20˚ de
leme a bombordo, o que significava que, se
fosse necessário guinar para bombordo, a manobra revelar-se-ia extremamente difícil, pois
já só era possível meter mais 5˚ de leme a esse
bordo. Acresce ainda que o efeito do leme era
inferior ao habitual, pois o hélice estava a rodar
a ré, não havendo descarga de água sobre a
porta do leme.
De qualquer maneira, com a máquina a ré
toda a força, o leme 20˚ a bombordo e o vento
aparente acima dos limites de utilização normal, foi possível mostrar toda a imponência
da Sagres – no ano do seu cinquentenário ao
serviço de Portugal e no porto que lhe serve
de base – liderando um desfile de 45 grandes
veleiros, a que se associaram centenas de pequenas embarcações que emprestaram um
colorido inigualável ao rio Tejo.
Testemunha privilegiada desse momento foi
o Presidente da República, que viajava num
avião de regresso de uma visita de Estado ao
estrangeiro, em aproximação ao aeroporto da
Portela, tendo sobrevoado a Sagres no exato
momento do desfile.
Contudo, só no dia seguinte toda a guarnição
se daria conta do espetáculo proporcionado
pela sua barca. Nesse dia, já em plena regata
para Cádiz, recebi, da APORVELA (organizadora do evento), a fotografia aérea que serve de
mote a este testemunho. Divulguei-a internamente e, ainda nesse dia, quase todos os PC’s
existentes no navio já tinham essa fotografia
como wallpaper. Parecia um vírus a propagar-se!
De facto, o cenário proporcionado pela
frente ribeirinha de Lisboa, com o estuário do
Tejo pejado de embarcações, constituiu um
complemento paisagístico de excelência para
a Sagres. Foi, assim, um daqueles momentos
felizes em que tudo se conjugou para permitir
uma fotografia magnífica, que desde logo se
tornou num dos ícones da Sagres!
N. Sardinha Monteiro
CFR
DOIS TESTEMUNHOS
TESTEMUNHO
DO FOTÓGRAFO
P
oder escrever sobre um momento tão único, é
no mínimo um desafio; um agradável desafio!
Tratando-se de um momento tão especial, poderia julgar-se tal desafio como um simples exercício de transcrever recordações desse
dia, num discurso fluído e tranquilo em análoga
comparação com o Rio Tejo que serenamente se
dirige para o mar.
Mas efectivamente não o é! E não o sendo, não
significa contudo que exista algo de negativo nisso. Muito pelo contrário!
Sinto-me como no centro de um enorme tropeço de emoções e recordações que se atropelam
na necessidade de querer ver a luz do dia quando
enclausuradas por um longo ano!
Enquanto fotógrafo, independentemente do que
vou fotografar, ou do que me é pedido para fotografar, existe sempre um ego para alimentar. Existe
a necessidade de querer fazer sempre melhor e a
necessidade de captar algo que nos surpreenda a
nós próprios.
Fotografar o NRP Sagres foi sem dúvida um dos
momentos em que todas as medidas foram amplamente preenchidas. Mais do que a simples
fotografia desses momentos é preciso realçar não
só o quão surpreendente poderão ter sido as fotos,
mas sobretudo, o quão surpreendente foi o momento e toda a sua envolvente.
Estava inicialmente previsto, após levantar voo
da base aérea de Tires, ter aproximadamente 30 a
40 minutos para poder fotografar o desfile. No entanto, por todos os constrangimentos associados
ao espaço aéreo, o tempo efectivo para fotografar
terá sido reduzido a uns meros 10 a 15 minutos.
Se o momento já era de nervoso miudinho, toda
essa espera fez aumentar exponencialmente esse
sentimento. No entanto, essa situação também teve
os seus pontos positivos! Aguçar os sentidos, e ter
a consciência que não haveria espaço a deslizes!
Nada de ensaios, nada de rede! Toda a adrenalina à
flor da pele! Um verdadeiro chegar, apostar e vencer!
Desde logo era impressionante a quantidade de
barcos a navegar no Tejo. Um rio que nos habituámos a tão majestosamente ver abraçar Lisboa, parecia nesse dia tão pequeno com tão grande quantidade de barcos a navegar nele! E por entre todos eles,
por entre esse alegre frenesim de que o Tejo era palco
vinha a “nossa” Sagres, imponente e encantadora
deslizando serena e jovialmente aos pés de Lisboa.
Tivemos de permanecer junto à Cova do Vapor,
sem que nos fosse dada autorização pela torre
de controlo para avançar. Assim, foi daí que vi a
Sagres passar por baixo da Ponte 25 de Abril, e a
todo o pano rasgar as águas do Tejo e abrir caminho a todos os barcos que se lhe seguiam.
Se de longe o cenário era fantástico, o melhor
estava realmente para vir.
Quando finalmente avançámos, já a Sagres se
encontrava quase a chegar ao actual museu da
electricidade. Sabia que seria o tudo ou nada, pois
fui alertado pelo piloto que teríamos pouco tempo
para permanecer no local.
Era efectivamente impressionante a quantidade de
barcos que escoltavam a Sagres. E mais do que tudo
isso a quantidade de pessoas que à beira-rio viam o
desfile! Foram momentos breves mas ao mesmo
tempo eternos. Todo o conjunto de acontecimentos
era tão único que todas as fracções de segundo parecem ficar claramente gravadas na retina.
Em termos fotográficos as condições eram perfeitas. Não obstante o enorme calor que se havia sentido no dia anterior, nessa manhã soprava uma brisa
bastante agradável e o céu estava limpo. Mas mais
importante que tudo, a atmosfera estava bastante
límpida. Além disso um cenário magnifico tanto
em terra, com a zona dos Jerónimos como fundo e
uma multidão à beira rio, como no Tejo com a ponte 25 de Abril e as centenas de barcos que acompa-
nhavam o desfile, permitiu que conseguisse captar
imagens magníficas da Sagres.
Após a primeira aproximação, fomos obrigados
a abandonar o local e a regressar novamente para
a Cova do Vapor.
Quando novamente nos foi autorizado avançar,
sabia que não haveria nova oportunidade, pois
o tempo de voo esgotava-se. Foi novamente um
tudo ou nada!
Fizemos uma primeira aproximação, mais ao
largo e a menor altitude, subindo gradualmente
enquanto passávamos pela popa da Sagres e seguíamos para estibordo.
A segunda aproximação foi em tudo idêntica mas
não tão afastada quando estávamos a bombordo.
E finalmente, a última aproximação. Recordo-me perfeitamente que voávamos à mesma altitude da segunda aproximação, pelo que disse ao
piloto para descer gradualmente e tentar passar
pela proa o mais devagar e estável possível.
Foi nesse momento que foi efectuada toda a sequência de fotos da qual se retirou a imagem que
serviu de capa à última edição do Livro da Sagres
do Comandante António Manuel Gonçalves.
Orgulhosamente, mas igualmente de forma bastante modesta, é uma alegria enorme sentir que no
jogo do “tudo ou nada” foi um “tudo” que vingou,
tendo conseguido captar a emoção de um momento tão único e especial para tantas pessoas.
Enquanto fotógrafo, sentir que uma fotografia minha conseguiu ser o tão falado espelho de mil palavras, é indescritível. Condensar todo um conjunto
de sensações e sentimentos numa imagem que
tem a magia de os despertar novamente em todos
aqueles que o viveram directamente ou que de outro qualquer modo o presenciaram é sem dúvida a
prova de dever cumprido!
Assumindo uma vez mais que uma imagem vale
mais do que mil palavras... o que dizer quando sinto
que a emoção desse momento tão único vale mais
do que mil fotografias?...
Obrigado por tão grande privilégio e um agradecimento especial à APORVELA que planeou e contratou esta sessão fotográfica.
João Pereira Gomes
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
19
TOMADAS DE POSSE
SUPERINTENDENTE DOS SERVIÇOS DO MATERIAL
Foto Rafael Calvelas
● No passado dia 28 de junho, na Casa da Balança, ocorreu a cerimónia de tomada de posse
do Superintendente dos Serviços do Material,
VALM Macieira Fragoso que rende o VALM
Oliveira Viegas, que foi presidida pelo CEMA,
ALM Saldanha Lopes. Estiveram presentes para
além do VICE-CEMA, diversos Oficiais Generais, pessoal em serviço na Superintendência e
diversos oficiais, sargentos, praças e civis. Após a
condecoração do anterior Superintendente com
a Medalha dos Serviços Distintos - Ouro, foi lida a Ordem, usou da palavra
o novo Superintendente do que é de realçar: “… Mas,… importa aqui sublinhar que a escassez de recursos implica que a coordenação e a cooperação
entre os diversos sectores da Marinha que em quaisquer circunstâncias se
impõem na atual situação, considero, que é decisiva…. Vivemos tempos de
exceção, mas temos que nos preparar para assim que possível recuperarmos
as melhores práticas na manutenção da esquadra, das infraestruturas e do
aprovisionamento de material. Ao mesmo tempo que temos que encontrar
todas as soluções que permitam estender a vida dos navios mais velhos, temos que manter os navios que irão continuar ao serviço ainda por bons anos
e temos que preparar a substituição das corvetas e dos patrulhas, pelos novos
meios….”. Por fim discursou o ALM CEMA, sendo de referir: “…. Adicionalmente, importa dar seguimento ao programa de modernização das fragatas,
garantindo a sua operacionalidade e interoperabilidade para os próximos
anos, mitigando assim o risco de obsolescência logística de alguns sistemas,
e assegurando que estes navios mantêm o seu valor combatente. No domínio dos transportes, há que prosseguir a renovação do parque de viaturas
e adequar as embarcações de apoio às necessidades atuais. Em termos de
infraestruturas é importante continuar o esforço até agora realizado….”.
O VALM Luís Manuel Fourneaux Macieira Fragoso nasceu em Lisboa, tendo concluído a licenciatura
em Ciências Militares Navais – Marinha na EN em
1975. Especializado em eletrotecnia, frequentou o
CGNG, o “Senior Course” do Colégio de Defesa da
NATO, o Curso de Promoção a Oficial General e
ainda diversos cursos de atualização e aperfeiçoamento de que se destacam os relacionados com a
preparação para as Fragatas Vasco da Gama. Fora
da Marinha frequentou a Pós-graduação da Universidade Católica em Segurança e Defesa.
Serviu em diversas unidades navais, desde D/M´s a FF´s como chefe de
serviço de navegação, de eletrotecnia e imediato, de que se destaca o de
imediato na primeira guarnição da fragata Vasco da Gama.
Comandou a lancha de fiscalização Açor e o patrulha Rovuma.
Desempenhou as funções de Chefe das Secções de Segurança Militar e de
Informações Estratégicas da Divisão de Informações do EMA e na DSIT (atual
DSF), esteve envolvido na gestão do programa de formação das guarnições
das FF´s Vasco da Gama. Desempenhou funções na Divisão de Operações
do EM Internacional da OTAN (IMS), em Bruxelas, onde foi responsável pelo
estudo e aconselhamento em matérias relativas à política, planeamento e
treino de gestão de crises, bem como oficial de ligação do Comité Militar da
NATO ao Colégio de Defesa da NATO. Foi depois Diretor de Instrução da
EN, esteve como assessor do MDN e dos Assuntos do Mar onde teve oportunidade de exercer assessoria em relação aos assuntos militares de Marinha
e dos assuntos do mar. De seguida, ainda no MDN ocupou o cargo de Subdiretor Geral de Armamento e Equipamentos de Defesa, onde esteve encarregado da condução dos programas de aquisição para a Marinha. Como
CALM assumiu o cargo de DSF, seguido do Comando da EN e como VALM
foi Diretor do (IESM), após o que foi nomeado para o cargo de Inspetor-Geral
da Marinha ficando em acumulação.
Da sua folha de serviço constam diversos louvores e condecorações.
SUPERINTENDENTE DOS SERVIÇOS DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO
● No passado dia 4 de outubro, tomou posse o
Superintendente dos Serviços de Tecnologias da
Informação, CALM ECN Rapaz Lérias, em cerimónia que decorreu no salão de reuniões da Direção
de Análise e Gestão da Informação, presidida pelo
VCEMA, Valm Carvalho Abreu. Assistiram à cerimónia ilustres convidados, diversos oficiais generais e
numerosos oficiais superiores, bem como a maioria
dos oficiais, sargentos, praças e civis que prestam serviço nas várias unidades orgânicas da SSTI. Em momento anterior à tomada de posse, o superintendente cessante, CALM EME
Gameiro Marques, recentemente empossado como secretário-geral adjunto
do MDN, foi publicamente louvado pelos serviços relevantes e distintíssimos
prestados à Marinha e ao País.
Das palavras proferidas na ocasião pelo novo Superintendente, sublinha-se a
clara referência ao superior propósito de criar vantagens competitivas à Marinha pela potenciação da informação e do conhecimento, vetor integrador da
missão da SSTI, bem como a alusão aos temas sectoriais de apoio à visão que
estão na base dessa missão, nomeadamente a consolidação organizacional, a
eficiência para desenvolver e melhorar continuamente os processos, a informação e o conhecimento para conferir supremacia na decisão e a inovação,
atributo que sintetiza bem a forma de estar e de sentir da SSTI. Referiu ainda
que o facto do setor de tecnologias da informação, como a Marinha no seu
conjunto, enfrentarem grandes dificuldades, constitui um motivo acrescido
para, com lealdade, rigor e determinação, redobrar esforços em estreita articulação com os outros setores da Marinha, de modo a assegurar à Marinha
os recursos informacionais indispensáveis ao cumprimento da missão. Por seu
lado o VCEMA, realçando a exigência das funções do cargo, evidenciou a necessidade de as realizar com grande dedicação e empenhamento, tendo em
consideração os novos desafios suscitados pelas restrições orçamentais e pelas
reformas em curso no âmbito da DN. Referiu, em particular, o imperativo de
se prosseguir com a consolidação da gestão estratégica, onde se inclui a Bu20
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
siness Intelligence e a governação da capacidade
de gestão de projeto, e de continuar com os estudos relativos à desmaterialização de processos.
O VCEMA mencionou também a importância de
se concluir com brevidade os projetos do BRASS
e do GMDSS, de se prosseguir com a edificação
da capacidade de Conhecimento Situacional Marítimo e de se consolidar o sistema de informação
da Autoridade Marítima. Por fim, sublinhou que em
tempo de mudança e reestruturação como aquele
que se vive presentemente, a manutenção da qualidade dos serviços das Tecnologias da Informação e da Comunicação é vital para o funcionamento da
Marinha, constituindo instrumento insubstituível de suporte das transformações que permitem libertar recursos da área do apoio para a linha da frente.
O CALM ECN Rui Manuel Rapaz Lérias nasceu em Setúbal, ingressou na EN
em 1975, tendo iniciado a sua carreira em 1979. Serviu a bordo durante sete anos,
no NRP João Roby e no NRP Alm Magalhães Corrêa, onde exerceu o cargo de
chefe de departamento de Propulsão e Energia. Durante este período, participou
em diversos exercícios e operações nacionais e NATO, integrando por duas vezes a STANAFORLANT. Depois de obter o grau de mestre em arquitetura naval
militar no Reino Unido, foi chefe da Divisão de Construção Naval do extinto GE
e desempenhou diversificadas funções nos grupos de projeto ligados à aquisição
dos Submarinos “Tridente” e dos NPO “Viana do Castelo”, tendo chefiado ambos
os grupos entre 2001 e 2004. Foi chefe do Departamento de Construções da DN e
mais tarde subdiretor dessa direção, depois de uma breve passagem como assessor
da Administração do AA. Ocupou desde o início de 2008 até fins de 2011os cargos
de Coordenador das Áreas de Ensino de Administração e de Ensino Específico da
Marinha no IESM. Serviu no EMA, onde foi assessor do VCEMA, tendo sido investido no cargo de Diretor Interino do Serviço de Formação no fim desse ano. É desde
4 de Outubro SSTI, cargo que acumula com o de DSF. Frequentou os três cursos
de carreira (CGNG, CCNG e o CPOG), bem como outros cursos de natureza específica vocacionados para área do material. Na sua folha de serviço constam vários
louvores e condecorações entre as quais se destacam duas medalhas militares de
serviços distintos, grau prata.
ESCOLA NAVAL
RENASCIMENTO DO REMO NA ESCOLA NAVAL
O
Clube dos Aspirantes de Marinha composto por alunos da EN, criado em 1888,
teve como uma das justificações iniciais
a prática do remo. É assim inequívoca a tradição
centenária do remo na Escola Naval (EN).
Apesar de um longo período de inatividade,
fruto de um apoio próximo da Associação Naval
de Lisboa (ANL) – Remo e algum empenhamento de um grupo de oficiais, foi possível em 2011,
reativar a modalidade através dos cadetes da EN.
A primeira participação desportiva ocorreu em
outubro desse ano, com duas equipas em Yole
4+, na regata organizada pelo Clube Náutico
dos Oficiais e Cadetes da Armada (CNOCA)
e pela Associação Naval de Lisboa (ANL), no
âmbito do 62º Festival Náutico e das comemorações dos 75 anos da EN no Alfeite. Ainda naquele ano, em dezembro, a equipa da EN esteve
presente na “Regata dos Clubes Centenários”,
organizada pela ANL, estreando uma participação em Yole 8+ e posteriormente na regata Aniversário do Clube Ferroviário de Portugal (CFP),
novamente em Yole 4+.
Através do incremento do nível de treino, quer
recorrendo ao tanque de remo da EN quer a des-
locações às instalações da ANL em Alcântara,
incluindo treino de água, conseguiu-se durante
o ano de 2012 participar em diversas provas
na pista da Junqueira, aparecendo já resultados
muito interessantes, incluindo 1ºs lugares.
Com o arranque do ano letivo 2012-13 iniciámos
uma equipa feminina nesta modalidade, marcando uma estreia muito positiva e reconhecida
pelos clubes da zona de Lisboa, tendo o ano de
2012 terminado com as equipas masculina e feminina a obterem lugares muito honrosos.
Com o apoio das Jornadas do Mar foi possível
encontrar financiamento para a aquisição de
uma nova embarcação para a EN, tendo esta
sido entregue formalmente em cerimónia que
decorreu no passado dia 30 de abril. Começou,
assim, uma nova fase do remo na EN, que para
além de dar maior autonomia aos remadores
para o treino e eliminar a dependência de outros
clubes para a participação em provas, permite
que os cadetes se apresentem no plano de água
orgulhosos com o seu novo Yole 4.
Colaboração da ESCOLA NAVAL
NOTÍCIAS
CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO
DOS SERVIÇOS DE COMUNICAÇÕES EM MONSANTO
N
o dia 5 de julho de 2013, às 16 horas, realizou-se no local de
transmissão de Monsanto a cerimónia de encerramento dos
serviços de comunicações destas instalações.
Presidiu à cerimónia o comandante Naval VALM José Alfredo Monteiro Montenegro.
Assistiram ao evento o Superintendente dos Serviços de Tecnologias
da Informação, CALM EME António José Gameiro Marques, o Diretor de Infraestruturas, CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos,
o último Diretor da Estação Radionaval Comandante Nunes Ribeiro,
CMG REF Floriano José Gamito Candeias, representante da Empresa
de Investigação e Desenvolvimento (EID), S.A., militares convidados e
a respetiva guarnição.
Esta cerimónia marcou simbolicamente uma viragem nas comunicações navais, permitindo a transferência da totalidade dos serviços
instalados em Monsanto, reafectando recursos humanos e materiais,
em resultado da concretização da primeira fase do projeto NAVTEX
e do BRASS.
Na alocução proferida pelo Diretor do Centro de Comunicações, de
Dados e de Cifra da Marinha (CCDCM), foi salientada a importância
histórica da Ex-ERN Comandante Nunes Ribeiro e, em particular, a
Central Transmissora de Monsanto, tendo desempenhado um papel de
relevo nas comunicações da Marinha e de Portugal durante 60 anos.
CAPITANIA ON-LINE
N
o âmbito do cumprimento dos objetivos de modernização e racionalização
da Administração Central,
melhoria da qualidade dos
serviços prestados e aproximação da Administração
Central ao cidadão, preconizados pelo Programa
de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), criado pela
Resolução do Conselho de
Ministros n.º 124/2005, e
no sentido de flexibilizar,
desburocratizar e aumentar
a comunicação horizontal
através do recurso a tecnologias de informação e
comunicação, a Direção-Geral da Autoridade Marítima disponibilizou ao público, a partir de 3 de julho de 2013,
a aplicação CAPITANIA ON-LINE que estará acessível através do
portal da Autoridade Marítima e página da Internet da Marinha,
devidamente referenciada e em local visível.
Esta ferramenta constitui uma mais-valia na aproximação dos
serviços das Repartições Marítimas reduzindo a necessidade de
deslocação dos utentes aos locais de atendimento. Inicialmente,
esta nova funcionalidade permite efetuar a inscrição e alteração
do rol de tripulação estando previsto, posteriormente, outras funcionalidades, designadamente pedidos de marcação de vistorias,
pagamento de taxas através de transferência bancária, etc.
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
21
COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA
MUSEU DE MARINHA – 150 ANOS
Museu de Marinha celebra 150
anos de vida e história - um percurso que atravessou gerações e
regimes, modas e modos de pensar e fazer
Museus, condicionalismos diversos que hoje
se traduzem nos alicerces do que somos e
nos desafiam a questionar as futuras rotas.
Quando em Julho de 1863 o Rei D. Luís
fez nascer em Portugal o Museu de Marinha, o conceito de museu, de matriz europeia, seria seguramente
diverso daquele que conhecemos na actualidade.
Diferentes seriam também
os objectivos e motivações que legitimavam a
criação de instituições
desta natureza.
Volvidos 150 anos, conceitos, objectos e objectivos tornaram-se mais
abrangentes, a par das
dinâmicas sociais e culturais que contextualizam a
fenomenologia em que os
museus se inscrevem, desenvolvida em dois planos (independentemente
da época em que se encontram): Receber
e dar – Os museus recebem o legado da
história e/ou testemunhos vivenciais de
uma dada realidade, para em sequência
dar: os museus dão garantias do estudo
e preservação dos acervos, mas também
os dão a conhecer, dão a oportunidade de
partilha daquilo que é bem comum.
Nestes últimos 150 anos o mundo mudou
e os museus não se excluem dessa mudança social: dos museus elitistas, ao serviço
do mero diletantismo cultural, à modernidade que reivindica a democracia cultural,
há toda uma miríade de vocações e utilizações destes espaços que conduzem necessariamente à reformulação da sua missão e
ao seu reposicionamento social.
Novos tempos trazem novos desafios,
novas exigências, na expectativa de corresponder a outras necessidades. Não basta reunir e dispor objectos numa sala que
se abre ao público, porque os públicos
que hoje frequentam estes espaços reclamam mais do que apenas contemplação.
Encontrar os objectos no museu já não é
suficiente, é necessário encontrarmo-nos a
nós próprios na relação (ou na falta dela!)
que estabelecemos com esses objectos.
O Museu tem pois também esse papel de
22
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
propiciador/provocador de relações.
Para que este desígnio se cumpra já não
basta existir dedicado a uma elite cultural,
é preciso alargar e estar disponível para receber todas as pessoas na sua diversidade.
Daí a necessidade e insistência em usarmos o nome colectivo “público” no plural
(“públicos”), como forma de reforçar a sua
importância, de assegurar e salvaguardar a
abertura à multiplicidade.
porém esta foi a experiência embrionária
que permitiu posteriormente um passo
maior, em 2003.
– O Museu de Marinha foi também uma
das primeiras instituições museológicas nacionais a ter página na Internet; algo que
hoje nos parece banal mas que em 1997 se
apresentava inovador, permitindo a abertura
de novas formas de divulgação, comunicação e relação com os públicos.
– Em 2003 e no quadro
do Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, o
Museu de Marinha disponibiliza um “percurso
táctil” destinado a cegos
e amblíopes, inserido na
sua exposição permanente, oferecendo a possibilidade de exploração táctil
de 44 peças do seu acervo, representativas de 6
áreas temáticas distintas.
Este percurso, suportado
por legendas em braille e
por dois catálogos: versão
braille e versão a negro
para amblíopes, ainda hoje
existe (tendo sofrido ligeiras adaptações)
e constitui actualmente o ponto de partida
para acções específicas que desenvolvemos
com pessoas cegas e de baixa visão.
Estamos cientes de que tudo o que foi
feito até aqui não basta para fazer do Museu de Marinha um museu acessível, mas
congratulamo-nos pela travessia feita,
pois dela retiramos a experiência fundamental que nos projecta nas acções presentes e futuras.
Cabe ao Serviço Educativo do Museu,
por inerência de funções, mediar a relação do Museu com os seus públicos e
responder às suas solicitações e necessidades. Os públicos com necessidades
especiais têm por isso, da parte deste
Serviço, uma atenção na mesma medida:
especial! Quando devidamente programadas, o Serviço Educativo proporciona
a estes visitantes, apoio e recursos complementares para suprir necessidades e
colmatar lacunas do discurso expositivo, seja em virtude de restrições na percepção sensorial (visual, auditiva), no
processo cognitivo (nas designadas deficiências mentais, que abrangem um espectro alargado de variações), restrições
em comunicar-se socialmente através da
Foto Fátima Alves
O
ACESSIBILIDADES NO MUSEU DE MARINHA…
UM MUNDO DE DESAFIOS!
É neste cenário que emerge e se verifica
pertinente o conceito de acessibilidade, aqui
utilizado na acepção do Conceito Europeu.1
Na senda desta abertura à multiplicidade, o
Museu de Marinha tem feito uma travessia
de considerável relevância, a registar:
– Entre 1992 e 1994 foram desenvolvidos
projectos financiados pelo Secretariado
para a Modernização Administrativa que
dotaram o museu com condições de acessibilidade para portadores de deficiência
motora: adaptação de instalações sanitárias, instalação de rampas de acesso e uma
plataforma elevatória para cadeiras de rodas e visitantes com mobilidade reduzida;
– Em 1995, na sequência de um protocolo estabelecido com o Centro Regional
de Segurança Social de Lisboa e Vale do
Tejo, através do Instituto António Feliciano de Castilho, foi criada em Portugal a
primeira adaptação com carácter permanente de um percurso expositivo destinado a exploração táctil. A exposição teve
por título Salvaguarda da Vida Humana no
Mar – Elementos Históricos, esteve instalada no Pavilhão das Galeotas e constituiu
um trabalho pioneiro no panorama dos
museus portugueses. Lamentavelmente
o carácter permanente não foi garantido,
dade de públicos é um desafio que ultrapassa os limites da acessibilidade espacial, quando a inclusão está na agenda
das nossas preocupações.
Do ponto de vista teórico é relativamente simples e (quase!) consensual esta abertura à diversidade nos museus, porém,
no que diz respeito às práticas efectivas,
verificamos que são longos os caminhos
ainda a percorrer. Nestes percursos, as
componentes físicas apresentam-se como
aquelas de solução mais simples: rampas,
elevadores, legendagem em braille, áudio guias e todos os recursos que a tecnologia, os orçamentos e a imaginação nos
permitam operacionalizar, para tornar o
museu num lugar fruível por um leque
cada vez mais alargado de pessoas, com
as mais diversas características.
Com efeito, as barreiras mais difíceis de
transpor não são as físicas, mas aquelas
que se prendem com as mentalidades
factores que por via de uma qualquer
forma de discriminação, mais ou menos
explícita, vedam ou dificultam a participação das pessoas na vida dos museus.
A acessibilidade no Museu é ainda uma
provocação, um desafio sem limites e um
processo em permanente construção.
Defendê-la é uma das missões essenciais
do Serviço Educativo, num compromisso com o futuro e de mãos dadas com
a secular divisa da Marinha Portuguesa:
«Talant de bien faire» – é esta mesma
«vontade de bem-fazer» que norteia hoje
o rumo das acessibilidades no Museu de
Marinha.
Olímpia Gordon Pinto
Técnica de Serviço Educativo
Notas:
1
"Acessibilidade é uma característica do ambiente ou de um objecto que permite a qualquer
pessoa estabelecer um relacionamento com
esse ambiente ou objecto,
e utilizá-los de uma forma
amigável, cuidada e segura.
(…) Portanto a acessibilidade promove a igualdade
de oportunidades e não a
uniformização da população em termos de cultura,
costumes ou hábitos (…)"
in: Conceito Europeu de
Acessibilidade - Relatório do
Grupo de Peritos criado pela
Comissão Europeia - 2003
2 Tal como é apresentado
por Chris Barker Vd (BARKER, 2005, P. 448)
Foto Rui Salta
fala (deficiências na produção linguística), restrições na realização de actividades físico-motoras (coordenação motora,
precisão ou mobilidade), mas também
outras restrições, como as que são do
foro sociocultural, como aquelas que enfrentam determinados grupos das nossas
comunidades, como sejam as minorias
étnicas, os imigrantes, ou ainda outros,
alvo de segregação social/moral, como
pessoas reclusas, ou pessoas sem-abrigo
por exemplo.
Para o efeito, estas visitas requerem
preparação prévia, preferencialmente
envolvendo docentes de ensino especial
e técnicos de serviço social. Para cada
caso e em função das características especificas dos visitantes em causa, são
planeadas formas de abordagem, delineados circuitos e formatos de visita,
disponibilizados materiais.
Com vista ao alargamento desta oferta,
o Museu tem também investido na produção de
novos recursos. Um bom
exemplo disso é o modelo de caravela (vd foto)
recentemente produzido
pelas Oficinas de modelismo do Museu e que
brevemente integrará o
circuito da exposição
permanente.
Sabemos no entanto
que nem todas as pessoas
com necessidades especiais visitam o Museu
com o apoio da equipa
do Serviço Educativo, da
mesma forma, estamos
também certos que as acessibilidades
no Museu não dizem apenas respeito,
muito menos se esgotam, nos públicos
portadores de deficiência, muitas vezes
referidos como “minorias”. Padrões reducionistas da designada normalidade
não nos devem fazer esquecer que os ditos “normais” (e suposta “maioria”) terão
ao longo da sua vida momentos em que
saem do padrão: ou por acidente, ou porque têm filhos pequenos (ao colo ou em
carrinho de bebé), por vicissitudes diversas, ou tão-somente e inevitavelmente,
porque envelhecem – os mais recentes
dados demográficos evidenciam um crescente envelhecimento da população europeia. A ligação óbvia entre o processo
de envelhecimento e algumas das ditas
deficiências não pode ser esquecida nos
Museus, muito menos quando sabemos
que o turismo (e o turismo sénior está em
desenvolvimento) é um sector que nenhum museu deve negligenciar.
Centrados no presente e com o futuro
no horizonte, defendemos que este é o
tempo de ampliar este conceito de acessibilidade no Museu, não deixando que
este se limite à eliminação das barreiras
físicas. Atender a uma crescente diversi-
Bibliografia:
– são o preconceito e a discriminação
os principais responsáveis por uma boa
parte das inacessibilidades intelectuais,
sociais, lúdicas, tanto nos museus, como
noutros espaços. Face a esta constatação
importa traçar o diagnóstico e definir que
nível de acessibilidade efectivamente almejamos para o Museu de Marinha.
Abrir o Museu, torná-lo mais acessível
num exercício constante e permanente,
rompe provocatoriamente com as constantes de um universo há tanto tempo
submetido a unidades redutoras e a uma
suposta “ordem natural das coisas”. Esta
mudança de paradigma implica necessariamente uma nova visão do Museu e
daquilo para que este serve, naquilo que
gostamos de designar por uma museologia de agência, tomando a liberdade
de importar para a museologia o conceito de agência, das ciências sociais.2
No caso vertente, reportando para a necessidade de envolver todos os intervenientes no processo (decisores/directores,
profissionais e visitantes) como agentes de
transformação e intervenção para, colectivamente, derrubarmos as barreiras (as
físicas, mas também todas as outras) que
constituem factores de exclusão social,
AA. VV.; (2004); Mu seus
e Acessibilidade; [Temas
de Museologia]; Lisboa:
Instituto Português de Museus; ISBN 972776-229-8.
AA. VV.; (1991); Museums Without Barriers – A new deal for the disabled: Fondation de France / ICOM / Routledge; ISBN
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HOOPER-GREENHILL, Eilean; The Educational Role of the Museum; (2006); [2nd ed.
1999]; s. l.: Routledge, ISBN – z13: 978-0415-19827-1.
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Promoção da Acessibilidade; Lisboa: Instituto Nacional Para a Reabilitação, I. P.; ISBN:
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VALE, José Augusto da Costa Picas do; Museu de Marinha. Contributos para a definição de um projecto cultural (2009); Lisboa:
tese de mestrado em Museologia, Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
Nova de Lisboa.
Nota:
Este artigo é repetido porque o título saiu truncado na RA nº 476 / julho de 2013.
N.R.
O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
23
A
VEÍCULOS AÉREOS NÃO-TRIPULADOS
NA MARINHA
Marinha e a empresa Tekever 1 assinaram em 24 de Junho de 2013, na
Escola Naval, dois protocolos que
estabelecem os princípios de uma mútua
colaboração industrial e científica para o desenvolvimento de atividades no domínio dos sistemas aéreos não-tripulados
(também designados autónomos), com
uma validade de três anos.
A aquisição de sistemas aéreos não
tripulados é um objetivo há muito ambicionado pela Marinha, cuja prioridade vêm ganhando peso desde a reivindicação da extensão da plataforma
continental, o que tem suscitado uma
maior determinação em satisfazer essa
necessidade. Recorde-se que esta capacidade estava prevista no documento
que define o Sistema de Forças Nacional – Componente Operacional de
2004 (SNF04-COP).
A justificação deste objetivo reside
na importância do contributo que este
tipo de meios propicia no cumprimento de missões que requeiram capacidade em assegurar: a vigilância e
o controlo dos espaços marítimos sob
responsabilidade nacional; o cumprimento
das missões de interesse público, designadamente, as que decorrem dos acordos
internacionais e das atribuições cometidas à Marinha no âmbito do Sistema de
Autoridade Marítima (AMN); e, enquanto
capacidade integrada numa força tarefa,
contribuir para a proteção de unidade valiosas. Contudo, as persistentes limitações
orçamentais, no tocante ao reequipamento
das Forças Amadas, têm inviabilizado sucessivamente a sua concretização.
Com a assinatura destes protocolos, é
esperado que o resultado desta parceria possa mitigar esta situação a médio/longo prazo.
Tenciona-se assim, dar luz a um projeto de
desenvolvimento dos sistemas autónomos aé-
Como contrapartida, no final do projeto
está previsto a cedência à Marinha, de três
sistemas aéreos compostos por veículos do
modelo AR4 Light Ray. Deseja-se desta forma, incrementar a capacidade de vigilância
e controlo do espaço marítimo, contribuindo de forma direta e significativa
para o programa de edificação da capacidade de Conhecimento Situacional Marítimo (CSM), consagrado na
Diretiva de Política Naval de 2011.
Na cerimónia, o CALM Bastos Ribeiro
realçou a importância para a Marinha, e
em particular para a Escola Naval, desta parceria contribuir para o esforço de
inovação a nível nacional. Por seu turno, o Engº Pedro Sinogas, Diretor Executivo da Tekever, sublinhou o orgulho
da sua empresa em ter a Marinha como
um parceiro privilegiado no desenvolvimento de sinergias que irão consolidar
as posições de liderança das duas entidades no âmbito da Economia do Mar. Aldeia Carapeto
CFR M
reos desta empresa para operar em ambiente
marítimo, baseado na troca de conhecimento
tecnológico e operacional, bem como na disponibilidade de condições de teste.
Concretizando, a Tekever pretende a produção de um sistema validado operacionalmente, em que a capacidade de lançamento/recolha a partir de um navio, transmissão
de dados em tempo real para bordo ou estações em terra, ou a transferência do controlo
do veículo em voo entre terra e o navio e
vice-versa, são alguns dos objetivos a atingir.
Nota:
1 A TEKEVER SA é um Grupo Empresarial cuja
atividade se centra no desenvolvimento de Produtos e Serviços nas áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação, Aeronáutica, Espaço,
Defesa e Segurança. Distingue-se por produzir,
em Portugal, Sistemas de Gestão e Otimização
de Operações Móveis nas indústrias da Energia,
Telecomunicações e Utilidades, Sistemas Táticos
Autónomos de duplo uso para ar, terra e mar bem
como Equipamentos de Comunicação para as Forças Armadas e Forças de Segurança.
Descrição técnica
Através do recurso a uma avançada tecnologia de comunicações e algoritmos de navegação, a atual versão do AR4 Light Ray destina-se às entidades
militares e policiais que procurem obter um panorama de situação mais esclarecido e de uma forma mais eficiente e eficaz responder a potenciais
ameaças, num cenário terrestre. As principais características deste sistema aéreo autónomo são as seguintes:
Usabilidade
► Com uma preocupação focada na portabilidade do sistema, o AR4 foi concebido para ser transportado por um indivíduo apeado. Com uma estrutura dobrável e desmontável, a plataforma pode ser facilmente montada apenas por uma pessoa sem a utilização de qualquer ferramenta, e ficar
pronta a voar num minuto. O sistema AR4 compreende uma estação móvel de controlo, um sensor de aquisição de dados em tempo-real, e uma
unidade de controlo de voo usando uma base cartográfica geo-referenciada.
Múltiplos modos de operação
► O sistema AR4 pode ser pilotado remotamente ou autonomamente desde a descolagem até à recolha, e pode ser lançado à mão ou por catapulta.
O operador pode planear o local de aterragem ou decidir em tempo-real. O perfil da missão pode ser modificado em tempo-real e o sistema de controlo
de voo suporta trajetórias pré-determinadas consoante se trate de alvos fixos ou do seguimento de alvos móveis, e a comutação para voo controlado
manualmente.
Flexibilidade das missões
O payload (carga transportável) de base consiste num sensor eletro-ótico estabilizado de alta definição para vigilância diurna. Os clientes podem,
ainda, escolher entre um leque variado de opções de payload, onde se incluem sensores de infravermelhos para a realização de missões noturnas ou de
reduzida visibilidade. A plataforma AR4 tem capacidade para 2 kg de payload, permitindo um largo espetro de funcionalidades operacionais, incluindo
equipar o veículo com sensores adicionais, ou realizar lançamentos aéreos precisos.
►
24
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
A RESILIÊNCIA NO SERVIR
CLASSE CACINE
Ao sexto dia do mês de Maio do corrente
ano, o navio mais antigo da esquadra “cinzenta” ainda no ativo, celebrou o 44º aniversário ao serviço da Marinha.
N
a esteira do NRP Sagres e do
NTM/UAM Creoula, com experiência acumulada e provas
dadas ao longo de mais de 4 décadas,
as unidades navais da classe Cacine têm
o reconhecimento geral das populações
piscatórias, costeiras e, pelos marinheiros
e Homens do mar, que um dia foram
salvos, apoiados, ou que na presença de
um navio “PATRULHA” sempre se sentiram seguros no mar.
Construído no Arsenal do Alfeite, o
NRP Cacine efetuou as suas primeiras
provas de mar em abril de 1969, sendo entregue à Marinha em maio do mesmo ano, sob o
comando do primeiro-tenente Ernesto Correia
dos Santos.
Tendo sido estes navios inicialmente construídos para operar em África, conforme denuncia
a sua silhueta esguia, com calados e proas relativamente baixos, muitas vezes são erradamente
tidos como unidades navais para operar
apenas em rio. Regressado do continente
africano em janeiro de 1975, tem sido no
oceano, ao longo de mais de 3 décadas,
que estes navios têm desempenhado
com grande eficácia e relativo baixo
custo, as missões tipificadas que lhes são
atribuídas. Das ex-colónias em África,
Angola, São Tomé, Cabo Verde, aos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, às
Zonas Marítimas do Sul, Centro e Norte,
de Portugal Continental, os navios da
classe Cacine cingiram-se, por opções
estratégicas nos últimos anos, às Zonas
Marítimas do Norte e da Madeira.
Dos dez navios patrulhas inicialmente construídos apenas 3 se encontram operacionais.
Segue nas águas do navio mais antigo da sua
classe, que quase ininterruptamente vai prestando serviço na nossa Zona Económica Exclusiva, o NRP Cuanza, cujo fim da fase de
reparação irá permitir integrar novamente o
dispositivo naval, fazendo jus ao seu lema de
bordo AD MAREM SUNT – “São pelo Mar”.
Expectante para se juntar no mar aos restantes, o NRP Zaire, que aguarda o início de uma
grande reparação, prevista até ao final do ano.
De um vasto leque de missões, destacam-se
as de salvaguarda da vida humana no mar, protecção dos recursos marinhos, protecção dos
espaços marítimos sob soberania e jurisdição
nacional, proteção da riqueza do património
subaquático e o estreitamento dos laços entre a
população e o mar, entre muitas outras, sendo
desta forma um exemplo da política naval
assente no “duplo uso”.
Aguardando a chegada de novos meios, esta
continua a ser a classe de navios que se faz representar no mar há mais tempo e com maiores
índices de empenhamento, tendo até à data
demonstrado uma resiliência no servir sem par,
num esforço admirável de conciliação de vontades e das estruturas da Marinha, no âmbito
da logística, manutenção e órgãos de decisão
superior, assegurando que nunca falte o auxílio
real e em tempo útil, a todos aqueles que dele
necessitam no mar.
Não sendo navios deste século, nem se podendo equiparar às novas plataformas, extra-
É essa família, composta por quem acredita
que os navios fazem-se e vivem dessa alma,
que alimentada pelas guarnições, continua a
fazer com que seja possível a estes navios navegar orgulhosa e persistentemente.
Apesar da longevidade, continuam atuais e a
descrever o sentimento de todos os que um dia
respiraram dessa alma, estas sábias palavras…
“Cada um de nós não pode em parte alguma cumprir melhor o seu dever e servir com
mais honra o seu país. Aqueles que em momentos trágicos e difíceis, têm sabido
mostrar o que valem como homens do
mar, não podem deixar de estar extremamente agradecidos a um navio que
lhes deu tamanhas oportunidades.”…
Por isso, a todos saudamos fraternalmente. Àqueles que como nós, usam
o botão de âncora, aos que como nós
andam nos seus queridos navios.
A todos que como nós, sentem
um bater no coração, um tremor
no estômago e um fulgor nos olhos
quando pisam o convés tabuado ou
couraçado de um navio – um navio
da Nossa Marinha.
E particularmente nos lembramos, com
saudade e admiração, dos que outrora tripularam este navio, enchendo-se de lustre,
cobrindo-o de renome.
Antigos e ilustres comandantes que tão
bem o conduziram em difíceis, delicadas e
importantes missões; briosos oficiais, dedicados sargentos, galhardos marinheiros - novos e velhos, antigos e modernos. Comandantes e marinheiros,
por todos nós corre o mesmo afeto a
um corpo de aço e alma de fogo, a
um ser vivo e vibrante que se chama
o “NOSSO NAVIO”.”
Cap. Ten. Sarmento Rodrigues, no texto extraído do livro “Rio Lima” de 1944
ordinariamente mais avançadas, quer tecnologicamente quer em termos de ergonomia,
esta classe de navios persiste indubitavelmente
também pelo empenhamento e vontade das
muitas guarnições e dos muitos Comandos que
por ela passaram, almejando o Servir Bem, o
Servir Sempre!
São navios com a alma forjada no mar revolto, com a particularidade histórica de saberem
o que é navegar em rio. Tornaram-se, ao longo
de diversas gerações, uma escola de vida, uma
segunda casa e família, para muitos dos marinheiros que se iniciaram no mar.
Em reconhecimento dos 44 anos em
missão no mar, e a todos os Comandos
e guarnições dos dez navios patrulhas
da classe Cacine construídos para servir a Marinha, Portugal e os Homens do mar desde 1969,
assinalou a data comemorando o aniversário a
bordo do navio “cinzento” mais antigo da esquadra, o VALM José Alfredo Monteiro Montenegro, Comandante Naval, acompanhado
do comandante da Esquadrilha de Navios Patrulhas, o CMG Rui Manuel Figueiredo Pereira
da Silva.
Colaboração do COMANDO DO
NRP CACINE
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
25
T
UM DIA A BORDO DO CACINE
endo, há já algum tempo, recordado com
os três primeiros comandantes do Patrulha Cacine a viagem para Angola, as suas
Comissões e o seu épico regresso à Metrópole,
passava já das 0800 quando chegámos ao «Cais
da Marinha de Guerra», junto à Doca de Pesca
do Porto do Funchal (PF).
O navio, ainda hoje elegante, arfava ligeiramente e à prancha, fomos acolhidos e encaminhados pelo seu Comandante.
A sua entrega, no Alfeite; o primeiro de dez depois do 10.º «Argus», e a sua recepção em Luanda
em fotos, na Câmara dos Oficiais, mais nos determinaram a tomar o pulso às suas Missões actuais.
Aí, estava-se já analisando o evento do dia o
Centenário do Porto do Funchal!
O navio, será aberto a visitas e, como tal, o
P1140, apesar de recém chegado, precisará
de retoques. Ao 3.º Oficial, o mais moderno,
competirá fazer uma Visita Guiada a uma
Escola e controlar as visitas. A Guarnição irá
de licença.
Mas interrupções à rotina ocorrem; um intrigante telefonema trata de um jovem Marinheiro acidentado que teve de ser internado no
Hospital do Funchal (HF)… Dada a demora do
Hospital das Forças Armadas (HFA) em enviar
um enfermeiro militar, o HF disponibiliza uma
enfermeira …civil, mas, entretanto, passou dos
Cuidados Intensivos para um quarto de quatro
doentes requerendo restrições, até de… luz.
A mãe dele (22 anos) já o veio ver e permanece em contacto. Porém, como deve ser
acompanhado por um Enfermeiro Militar e o
de bordo não se pode ausentar sem afectar a
Prontidão SAR (2 horas!) do navio, estuda-se,
no Comando de Zona, uma alternativa.
Outras preocupações ocorrem; uma delas,
fruto do actual nível de instrução do Pessoal,
(há Praças a licenciar-se) é a das Informações
do Pessoal; agora 21 items e cinco níveis. No
caso surgiu durante a entrevista e a requerer
uma abordagem cuidada. Outro sinal, a bordo, dessa evolução da Sociedade são as Comissões de Bem Estar e o AIGP (Adjunto do
Imediato para a Gestão do Pessoal).
Dada autorização para que se tocasse à Faina, subimos à Ponte, onde, segundo uma Lista
(Checklist), se procedia, com um inequívoco
profissionalismo, às últimas verificações dos
equipamentos. Entretanto já alguém preenchera
o Quadro da «Previsão Meteo».
O Mestre, um Sargento de Manobra, anunciou pelo ETO (Equipamento de Transmissão de
Ordens) o toque de Faina, cumpriu os Apitos
da Ordenança do Serviço Naval (OSN) e concluiu: “Guarnição! Está estabelecida a Condição
Geral Oito, Condição de Estanqueidade Yankee
(a letra Y) Faina Geral! Faina Geral!, seguindo
para o Castelo (à proa) conforme definido no
seu Cartão de Detalhe.
Em poucos minutos completaram-se na Ponte todos os postos; o Marinheiro do Leme (Mar.
MS), o dos Telégrafos (1Sarg MQ), o Comunicativo (C) e um Cabo Telegrafista (CRO), o 3.º Of. (o
Navegador) e o Oficial Imediato (ambos 2TENs)
26
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
e o Comandante (1TEN) a quem o Imediato confirmou Guarnição nos seus Postos.
A manobra de Largar começou e havia que, num
exíguo espaço, fazer, em Marcha a Ré (três apitos
curtos!) um movimento de rotação de modo a
aproar o navio à saída para se ir atracar, também
por EB, ao Cais da Pontinha onde já se encontravam, embandeirados, Rebocadores locais.
O Jaque arriado e içado ao último e ao primeiro contacto com terra, a Bandeira Nacional
envergada no seu pau foi, entrementes, passada
à carangueja.
Dada a Volta à Faina, assinalados o circuito
exterior e as áreas interditas, embandeirado em
arco, no cais uma boia anunciava a sua galharda presença junto à recente Gare Marítima, com
uma longa varanda e dispondo de modernos
meios para quatro Paquetes de Cruzeiro.
O Pessoal de Serviço, fardado de branco, de
camisa ou de corpete, guiou 258 visitantes, nacionais e estrangeiros.
A Escola, mista, atrasou-se mas, instruídos os
dois Professores e os miúdos, o 3.º Of. revelou-se um excelente Guia na Ponte e no canhão a
vante, como chamava à «Boffors de 40mm» um
entusiasmadíssimo reguila quando o Professor
ordenou; «Pronto! Agora que já viram a pistola
(sic!) do navio, vamos continuar a visita!» que,
depois da Casa dos Geradores, ali em imperativo funcionamento, acabou, em torno da «Oërlinkon de 20mm», nos porquês? da grua e da
semi-rígida (S/R).
A Quica, muito pequenina, chamada por
uma divertida claque oportunamente conduzida pelo Sarg. HE, acabou, depois de obstinada
recusa, por vencer a prancha com a Professora.
Içada, cinco minutos antes, a bandeira «Preparativa» foi com ela arriada, ao exacto minuto do Pôr-do-Sol, a Bandeira Nacional e, para Fiscalização
Nocturna, de novo se apitou à Faina de Largada.
Já a navegar, na asa da Ponte o 3.º Of. fez um
Briefing da situação ao Comandante e Imediato
e aquele fez, de seguida, uma análise, recordando que os (navios) Cercadores não sairiam para
o Mar. e que no Período 4 (Das 1800 às 2400),
depois de se fiscalizar o Sul se seguiria para o
Parque da Reserva Natural da Rocha do Navio
(RNRN), a Norte.
Com Rumo Sul, em breve se avistou, a mais
de 5 Milhas Náuticas (<10 Km) da costa, uma
minúscula luz que se foi investigar em Ocultação de Luzes. Uma embarcação de boca
aberta, entre canoa e mera chata, com um
homem a bordo, sem identificação legível e
sujeita a um violento…balanço!
Convocada a Equipa de Vistoria (EV), constituída pelo 3.º Of. e pelo Mestre e ainda por
duas Praças da Bordada em baixo, ( v. 3 horas
em cima), navegando os Sargentos e os Oficiais (incluindo o Comandante) a Quartos e,
claro, o Comandante sempre em estado de
alerta e na Ponte, durante as Inspecções.
Arriada a S/R e embarcada a EV, todos envergando fatos impermeáveis (um modo de
dizer), seguiram à velocidade possível, mas,
naquelas condições, não se desembarcou
por se temer que se virasse sobre a nossa.
Da «Tiago José» nada constava no SADAP
(Sistema de Apoio à Decisão da Actividade
de Pesca) e do pescador J. da S., que só tinha
o BI e não era o proprietário nem estava habilitado a navegar de noite… conseguiu-se que,
no meio de tanta inconsciência, regressasse,
como asseverou, ao …Funchal.
Fê-lo tão atabalhoadamente que cortou a
proa do «Cacine», a ponto de só uma rápida
manobra de máquinas ter evitado o pior.
Perante os incumprimentos decidiu o Comandante vigiar o regresso do J. da S. que,
diligentemente, se dirigiu para… Câmara de
Lobos, sendo disso alertados o Capitão de
Porto e a PM .
Cumprida a Missão, o Comandante já rendido pelo Imediato, passava das 00:30 quando
recolheu a EV e, feito o relato do ocorrido, de
novo se fez o «Cacine» ao largo, após três horas
(habitualmente duas) consagradas a evitar que
a Vistoria não redundasse num falhanço total, a
pretexto do tempo.
Surpreendentemente, estas espertezas ocorrem, muitas vezes, com mestres que têm tudo
em… ordem! Mas também com abastados donos
de respeitáveis iates de família!
Pelas 0625, de Quarto o 3.º Of., já se estava
de regresso à Ponta do Pargo, a Oeste da Madeira, depois de se ter, a Norte, ido inspeccionar
toda a área envolvente da RNRN.
Os imprevistos acontecem! ”Avaria no Leme!,
ouviu-se pelo ETO seguido de «Condição Especial 2D - Avaria no Leme!) e, de imediato, o
Comandante interrompeu o pequeno-almoço e
subiu à Ponte!
Nunca será confortável ficar sem governo,
muito menos num navio com 44 anos! Uma
das Bombas falhou mas com a outra prosseguiu-se. Havia, ainda, outras alternativas.
Pelas 0925, detectou-se na costa sul, uma embarcação à pesca. Feita uma foto com a poderosa máquina fotográfica de bordo, não se conseguiu ler o nome nem houve meio de encontrar
tal silhueta no PC.
Decidida a sua Vistoria, de novo a EV saltou e
foi de encontro à embarcação, manifestamente
de Recreio. Tratava-se da «Modesto» que cumpria com todos os requisitos (cinco páginas!).
Boa Viagem! Boa Pescaria!. Devem ter sido as
últimas palavras trocadas.
Dada Volta à Condição Especial 2F (Two Foxtrot) - Vistoria às 10:04, quando se ouviu: Embarcação no Azimute 160 (160º)!
Entretanto as rendições; Oficial de Quarto! Dá
licença que entre na Ponte! e a cada Sim!, Dá
licença que renda…? (vg; a Vigia) e outra voz
Dá licença que entregue o Serviço? (ou vg;
o Leme) e, entre si, a sucinta transcrição da
situação, de modo que tudo fluísse.
A bordo, todos envergam o fato de embarque, um macaco visivelmente quente, mesmo no mar, e que, convenhamos, terá, em
circunstância, de ser totalmente despido.
A propósito, a bordo deste vetusto navio
não há Mifs.
Curiosamente as coberturas, todas as do
Plano de Uniformes excepto o nosso tradicional, funcional e estético panamá! O baseball
cap (tradicional nos EUA!), e a boina (basca!),
esta nas versões de azul a roxo e violeta, não
a imaginamos na Somália. E o nosso boné,
cujo francalete sob o queixo, deslumbrou os
Franceses; É assim que se vê quem são os marinheiros! dissemos mas não gostaram.…
O caso do marinheiro acidentado, preocupação que extravasava o navio, encontrou
uma solução; irá a enfermeira da Zona, que
víramos a usar um bivaque que só na Escola
Naval era adoptado!
Pelas 1050, com dois pescadores ao corrico, punha-se a questão de ser uma MT (Marítimo Turística) mas, fotografada, confirmou-se ser uma Tight Line que será vistoriada por
não constar no SADAP.
O ritual repetiu-se mas, neste caso, e a pedido das entidades Regionais do Turismo, não se
deveria perturbar o serviço prestado aos turistas
embarcados, o que foi conseguido.
Os itens fiscalizados, preenchidos presencialmente, constam de longos questionários para
Pesca, Recreio ou Turismo. O da Pesca Comercial
atinge as seis páginas e toca 6 matérias, além dos
dados do Armador e do Mestre, que o assina.
Um «Fiscrep», diariamente enviado para o Comando Naval, constará no Relatório da Missão.
Depois de, na véspera, um agradável jantar,
duma noite bem dormida, dum pequeno almoço reforçado e, ao almoço, dum apaladado frango, tudo confeccionado, para um Rancho Único
de 33 homens, pelos Cozinheiros, Chefe e Adjunto, assistidos por um Rancheiro, pôde, então,
iniciar-se o regresso ao Funchal.
No exíguo Cais do Patrulha, onde por perto
atraca o ferry que serve o Porto Santo, se atracou
pelas 1800 e, completas as limpezas, foram con-
cedidas as merecidas Licenças, saindo a Guarnição à paisana.
A Missão com pessoal do Parque da Reserva
Natural das Desertas (PRND) e uma equipa da
RTP, ficara programada para 16, mas… pelas 0730
desse dia, já a caminho, o nosso telemóvel tocou
e o Comandante do «Cacine», informou: Vamos
sair já para uma Missão SAR! A ida às Desertas foi
adiada. De táxi, num ápice chegámos e ainda vimos os nossos passageiros, em torno da carrinha
da «RTP Madeira».
Como não havia tempo a perder tocou-se à
Faina às 0742! Tratava-se de localizar a «Seriola»
que, segundo o 2.º Cte da Zona, estava dada por
desaparecida desde a meia-noite, tendo a PM já
saído com uma S/R grande.
Entretanto, pelo PC do SADAP, já se sabia que
era uma S/R, recentemente vistoriada.
Em sete minutos, havendo que rodar o navio
naquele apertado espaço do porto, se deu Vol-
ta à Faina de Largada!, entrando-se de Serviço a
Navegar!, como, depois de apitar e instruído pelo
Imediato, anunciou o Mestre.
Nas Vistorias, o Comandante, o 3.º Oficial e o
Mestre, são dos mais sacrificados, a par do pessoal
que na Máquina, tem de estar presente, sem esquecer que atracado e sem energia de terra, têm
de aí permanecer algum Fogueiro.
À ordem de Avante 5!, atingimos os 13.7 nós
(Máx. = 19 Nós) e ao Rumo 272, seguimos para
a Ponta do Pargo, no extremo Oeste da Madeira,
onde num raio de 6 mn, em torno dum dado ponto, iniciaríamos uma exaustiva busca dos sobreviventes e salvados.
A duas horas de navegação, começámos a conseguir ouvir as comunicações da «Barracuda», a
S/R da PM, já na busca.
Entretanto alguém assinalou pela amura de BB
a presença de uma baleia cuja expiração, perfeitamente visível, permitiu adivinhar o volumoso
dorso e, no momento de mergulhar, a magnífica
cauda elevando-se no ar antes de, com ela, desaparecer. Ficou-nos nos ouvidos uma espontânea
e compensadora exclamação de regozijo: ”É isto
que é único!. Na antevéspera, fora um lobo-marinho nadando de costas, vivíssimos os olhos antes
de mergulhar…
Anunciada a utilização da antena de BB para
transmissão, obedecemos sem hesitação ao convite que nos foi feito: Passe para EB!».
Pelas 0945, nós a vinte minutos do local, foi, a
três milhas da costa, encontrada a embarcação,
voltada e sujeita a uma ondulação N de 1,5m,
com os dois mergulhadores desportivos nela encavalitados há dezasseis horas.
Incapazes de endireitar a S/R, mas, graças aos
seus fatos de borracha, sem cuidados especiais,
seguiram na «Barracuda que, ainda a escassos
metros de nós, desaparecia a cada cava da onda,
rumo à Calheta.
Uma msg SARrep (relatório SAR) foi enviada.
Ao «Cacine» coube endireitar a embarcação, tarefa de que se encarregou o Mestre e
três Praças da Bordada que, arriada a nossa
S/R, conseguiram, naquelas condições de
mar, colocá-la de braço dado, na nossa alheta
de EB, a sotavento, e, com o auxílio da grua
de bordo, endireitá-la. Cerca de duas horas
depois, içada a nossa S/R e rebocada a baixa
velocidade durante mais de uma hora, foi, pelas 1315, ao largo da Calheta, entregue, à PM.
Às 1430 em ponto, o equipamento «NAVTEX» começou a imprimir a Meteorologia
mas, com bom tempo, recebida com a mais
olímpica indiferença.…Retardada a nossa entrada pela chegada do Ferry «Lobo do Mar», foi-nos atribuído um lugar no molhe, mas agora
dispondo de energia e de água!
Com tudo isto houve quem tivesse perdido
uma consulta de dentes e não se pense que foi
o capitão do navio, bem pelo contrário!
Como um navio atracado não está parado,
cumpridas as rotinas pôde-se dar Licenças,
mas, na Câmara, fomos encontrar o Comandante e os seus oficiais revendo o seu Relatório
de Entrega, no momento em que alguém lembrou, no âmbito das Actividades Culturais, um
passeio à Igreja do Monte.
Acabado de chegar, um telefonema, confirma que o nosso jovem convalescente segue
na segunda-feira para Lisboa! Mais um objectivo
cumprido!
A Missão às Desertas, soube-se, terá de ser prolongada com uma ida às Selvagens… recolhendo-se, no regresso, o pessoal rendido nas Desertas…
Enfim, o apoio Logístico às Reservas Naturais!
Um tal fervilhar de Missões que, apesar de trabalhosas, aliviam, na sua diversidade, a dor da
ausência, encurtada em tempo mas hoje psicologicamente enfatizada, e, sobretudo, revigora a
auto estima de quem sente a utilidade da sua sacrificada acção, o valor da entreajuda, o reconhecimento dos seus superiores e o da comunidade
que servem. Bem hajam, porque essas atitudes são
contagiantes!
Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves
1TEN
N.R.: O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
27
VIGIA DA HISTÓRIA
59
INVENTOS
J
oão Daniel, nascido em Travassos em
1722, entrou para a Companhia de
Jesus em 1739, tendo seguido para a
missão do Maranhão em 1741.
Com a expulsão dos jesuítas saiu,
sob prisão do Pará, em 1757, ficando inicialmente preso no forte de
Almeida sendo , mais tarde, transferido para o forte de S. Julião da Barra
onde veio a morrer no dia 19 de Janeiro de 1776.
Durante o período em que esteve
preso completou um conjunto de livros a que deu o título de “ Tesouro
Descoberto no Máximo Rio Amazonas “ nos quais recolheu grande parte
dos conhecimentos que havia adquirido e que abrangiam diversas áreas.
Relativamente à navegação apresenta dois inventos que, pela originalidade, se resumem.
Ao primeiro invento deu o título de:
Navegar fazendo igualmente prósperos e bonançosos todos os ven-
tos, enquanto que ao 2º denominou
como:
Invento para navegar nas calmarias.
Relativamente ao 1º invento defende a utilização de velas que girem em
torno dos mastros, a que intitula de
velas dobadouras, dada a semelhança
com os teares, velas essas que poderiam ficar sujeitas a todos os tipos de
ventos . Tais velas estariam envergadas em espigões fixos em anéis cujo
movimento seria transmitido, através
de engrenagens, a um conjunto de
remos ( 30 a 40 por bordo ) que, ligados pelos punhos, garantiriam assim
o movimento ao navio. A existência
destas velas não dispensaria a utilização das velas convencionais, usadas
não só para o início do movimento,
como quando em presença de ventos
favoráveis. Não tendo necessidade
de navegar aos bordos as viagens tornar–se–iam mais curtas com toda a
gama de vantagens daí decorrentes.
O 2º invento o sistema preconizado baseava-se na utilização de um
sistema de pesos, cujo movimento
seria garantido por uma roda movimentada, pelos pés, por um ou dois
marinheiros. O movimento da roda
seria transmitido ao sistema de remos
do invento anterior garantindo assim
o movimento do navio. Segundo o
autor, este 2º invento poderia, com
pequenos ajustes, ser utilizado igualmente nas manobras de içar o ferro
e na operação da bomba de esgotos.
Com. E. Gomes
Nota:
Os documentos consultados não apresentam
os desenhos que o autor refere acompanharem o texto.
Fonte:
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro tom. 95
CLUBE DE PRAÇAS DA ARMADA
O
OBRAS DE REMODELAÇÃO
A Presidente da Câmara Municipal de Almada, Maria Emília Neto, não sendo a primeira
vez que nos visita, foi recebida com as seguintes
palavras: ``…o nosso profundo agradecimento,
pois sem a disponibilidade e o empenho dos
serviços da Câmara Municipal de Almada, esta
obra não seria uma realidade.”
Estiveram também presentes na cerimónia,
por parte da edilidade, o Presidente da Assembleia Municipal de Almada, Manuel Maia, o
vereador António Matos, a vereadora Amélia
Pardal e o Presidente da Junta de Freguesia da
Cova da Piedade, Ricardo Louçã; pela Marinha, o Chefe do GABCEMA, Alm. Seabra de
Melo e Comandantes e ex-comandantes de diversas Unidades que sempre estiveram presentes no apoio ao CPA; pela Polícia de Segurança
Pública (PSP), o Senhor Comissário Branco,
acompanhado de dois agentes.
Para além do poder autárquico e das entidades da Marinha e da PSP, estiveram ainda presentes representantes das Federações e Associações Desportivas em que o CPA se encontra
filiado, clubes congéneres e associações sócio-profissionais.
Concluída a cerimónia de lançamento da 1ª
pedra, que foi precedida pelas intervenções do
Almirante CEMA e da Presidente da CMA, seguiu-se um Porto de Honra e tempo de amena
conversa e fraterno convívio.
Bem hajam!
Colaboração da DIREÇÃO
do CLUBE DE PRAÇAS DA ARMADA
Foto 1SAR FZ Pereira
Clube de Praças da Armada (CPA), porto de abrigo para as praças da Armada,
seus associados, recebeu, no pretérito
dia 17 de Setembro, as honrosas visitas do Chefe
do Estado-Maior da Armada (CEMA), Almirante
Saldanha Lopes, e da Presidente da Câmara Municipal de Almada (CMA), Maria Emília Neto.
Os ilustres convidados acederam generosamente presidir à cerimónia de inauguração das
obras de remodelação do edifício da sede social e lançamento da primeira pedra.
Nas boas vindas ao Almirante CEMA (primeiro CEMA a visitar o CPA), o Presidente da
Assembleia Geral, António Cangueiro, disse:
``….é com enorme gratidão que assinalamos
a presença de S.Exª. na nossa “casa” que pode
também considerar sua.”
28
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
CURSO “OLIVEIRA E CARMO”
50 ANOS DE (PER)CURSO
No encerramento das comemorações
do cinquentenário da sua entrada para
a Escola Naval, o Curso “Oliveira e
Carmo” fez a apresentação pública do
seu Livro de Curso, a que apropriadamente chamou o Livro do
(Per)Curso.
A cerimónia realizou-se no
passado dia 26 de Setembro
no Pavilhão das Galeotas do
Museu de Marinha com a presença de muitos elementos do
Curso e respectivos familiares,
bem como alguns familiares dos
elementos do Curso falecidos,
de um significativo número dos
seus Professores na Escola Naval e de muitos amigos, entre os
quais os representantes dos Cursos que na Escola Naval foram
seus contemporâneos. Compareceram
também alguns elementos do Curso
“D. Duarte de Almeida”, o Curso do
Comandante Oliveira e Carmo.
O Curso foi distinguido, ainda, com a
presença da Senhora D. Maria do Carmo Oliveira e Carmo e do Eng. Jorge
Oliveira e Carmo, viúva e filho mais
novo do patrono do Curso.
Um diaporama concebido pelos
CALM Silva Nunes e Alves Correia
apresentou diversas sequências fotográficas ilustrativas do (Per)Curso naval
dos elementos do Curso, com particular destaque para o tempo da Escola
Naval e para as viagens de instrução,
com relevância para aquela que foi
efectuada em 1964 na “Sagres”, criando um ambiente de acentuado cunho
evocativo e simbólico.
A anteceder a cerimónia ocorreu um
momento musical com a apresentação de um recital interpretado por um octeto de sopro da
Banda da Armada, que reforçou
a marca cultural do evento, a
que se seguiram intervenções
do CALM Bossa Dionísio, Presidente da Comissão Cultural da
Marinha, do CALM MN Rui de
Abreu, especialmente convidado para esta cerimónia pela Comissão Organizadora das comemorações do cinquentenário do
“OC” e do seu Chefe de Curso,
o CALM Nunes da Cruz.
O Presidente da Comissão
Cultural da Marinha deu as boas-vindas
ao Curso “Oliveira e Carmo” e a cerca
de centena e meia de pessoas que assistiam ao evento, tendo relembrado a
figura e o feito do Comandante Oliveira
e Carmo.
Seguiu-se a intervenção do CALM Rui
de Abreu que mostrou ter lido o Livro
do (Per)Curso com muita atenção e
“agrado”.
Apoiado nos seus excelentes dotes
oratórios, no seu reconhecido mérito
cultural e no conhecimento directo
de muitos elementos do Curso com os
quais partilhou guinés, viagens, câmaras e cursos, comentou e elogiou o
seu conteúdo, com a leveza de estilo
e bom humor que lhe são características, com que cativou a assistência.
Na sua intervenção, muito apreciada e
aplaudida, referiu que por amizade pessoal lhe tinham sido
oferecidos alguns Livros editados por anteriores Cursos, mas
que na sua opinião “este Livro
do (Per)Curso será o mais bem
conseguido e coloca a fasquia
bem alta para os próximos que
se seguirão”, salientando que
“virá a ser uma preciosidade
bibliográfica”.
O CALM Nunes da Cruz justificou o aparecimento do livro –
que em traços muito gerais é a
memória colectiva do Curso ao
longo destes 50 anos – e o que
ele pretende comemorar: o conhecimento mútuo, a camaradagem, a amizade e o convívio, um “velho hábito
da Marinha quer a bordo quer em terra”.
Acrescentou que “comemoramos a
Amizade, no respeito da diversidade
pelo modo de ser e de pensar de cada
um”, porque a Amizade é um sentimento “que não pode pairar no plano
teórico, mas tem de ser praticada e
exercitada e nós, desde sempre, temos
naturalmente feito esse exercício”.
Agradeceu em seguida a todos aqueles que contribuíram de alguma forma
para dar vida ao livro ou que com a
sua presença nesta cerimónia se lhe
quiseram associar: aos anfitriões, o
CALM Bossa Dionísio e CFR Costa Canas, aos músicos, aos patrocinadores
e à empresa gráfica, aos seus professores da Escola Naval, aos representantes dos outros Cursos, ao Dr.
Rui de Abreu pela sua magnífica apresentação do livro e a todos os que com a sua presença
muito dignificaram e enriqueceram a cerimónia.
Ainda antes de terminar a sua
intervenção, o CALM Nunes
da Cruz evocou a figura do
Comandante Oliveira e Carmo, assim como a dos seus camaradas de Curso que já partiram, encerrando em seguida
a sessão.
O Livro do (Per)Curso tem
uma distribuição restrita, mas
poderá ser consultado nas bibliotecas
dos organismos culturais da Marinha,
aos quais vai ser oferecido.
Curso "Oliveira e Carmo"
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
29
SAÚDE PARA TODOS
8
CANCRO COLORRETAL
O que é o cancro colorretal?
O cancro do cólon e reto é um tumor maligno
que afecta o intestino grosso.
Como surge o cancro colorretal?
95% dos casos desenvolvem-se lentamente,
ao longo de anos, a partir de lesões benignas,
conhecidas como pólipos adenomatosos. Esta
evolução é geralmente silenciosa, sem sintomas.
Qual a sua importância?
É a SEGUNDA causa de morte por cancro
em Portugal!
Devido ao estilo de vida e alimentação que
praticamos o número de novos casos tem vindo
a aumentar de ano para ano. Por dia perdem-se já mais de 10 vidas por causa desta
doença!
pólipos de pequenas dimensões.
Para efeitos de rastreio normalmente é suficiente
a observação do cólon esquerdo (reto, sigmóide e
descendente) - colonoscopia esquerda - já que a
maioria dos pólipos se localizam neste local.
O exame decorre com o paciente deitado,
acordado ou sob sedação, em posição confortável e descontraída. O médico gastrenterologista
introduz o aparelho através do ânus e vai progredindo lentamente ao longo do intestino grosso.
Para boa visualização do intestino é fundamental
este estar limpo de fezes e resíduos alimentares,
o que exige uma preparação prévia: normalmente consiste numa dieta líquida nas 24 horas que
antecedem o exame, bem como no uso de laxativos ou outra medicação, conforme orientação
Quais são os sintomas?
O cancro colorretal, especialmente
numa fase inicial, pode existir sem sintomas.
Os sintomas mais frequentes, quando
presentes, são a perda de sangue com as
fezes, alterações do funcionamento intestinal (diarreia, obstipação, falsas vontades, dor ao defecar) e a perda de peso.
Pode ser prevenido?
Sim. Diversos métodos de rastreio permitem a
deteção dos pólipos adenomatosos e do cancro
colorretal em fase inicial, ainda sem sintomas.
Destes, a colonoscopia é o exame de eleição.
O que é a colonoscopia?
A colonoscopia é um exame realizado através
de um aparelho com a forma de um tubo flexível
que permite observar o intestino grosso. Este aparelho – o endoscópio – tem, ainda, componentes que permitem colher pequenos fragmentos
de tecidos (biopsias) e proceder à remoção de
30
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
Qual o tratamento do cancro
colorretal?
O diagnóstico precoce da doença é fundamental para garantir a cura!
A forma de tratamento mais comum é a cirurgia (remoção da região do intestino que contém
o cancro). Podem também estar indicados tratamentos de radioterapia (usada antes da cirurgia,
para diminuir o tamanho do tumor e facilitar a
sua remoção, ou após a cirurgia, para eliminar as
células tumorais remanescentes), quimioterapia
(geralmente utilizada como complemento da cirurgia quando a doença está num
estado mais avançado) ou anticorpos
monoclonais (substâncias produzidas em
laboratório capazes de eliminar as células
cancerígenas e/ou de recrutar o sistema
imunitário do organismo para atingir o
alvo).
O que poderá contribuir
para um intestino saudável?
Adopte um estilo de vida saudável!
1) Pratique regularmente exercício físico;
2)Tenha uma alimentação equilibrada - horários regulares para as refeições,
dieta pobre em gorduras e rica em fibras
(vegetais, leguminosas, frutas e cereais
integrais);
3) Beba muita água;
4) Controle o seu peso.
Diga não à obesidade!
Quem está em risco?
A probabilidade de uma pessoa desenvolver um cancro colorretal ao longo da
vida é de 6% e cerca de 1 em cada 20
pessoas contrairá a doença. Afecta tanto
homens como mulheres e pode surgir
em qualquer idade, sendo mais frequente a partir dos 50 anos.
Além da idade existem outros fatores
de risco:
► Antecedentes pessoais de pólipos do intestino grosso ou doença inflamatória do intestino
(doença de Crohn / colite ulcerosa);
► Antecedentes familiares de cancro ou
pólipos do intestino grosso, ou cancro noutros
órgãos;
► Obesidade;
► Consumo de tabaco.
pélvicos. Por ser uma TC tem a desvantagem de
o doente ser submetido a raios X e não se poder
proceder de imediato à remoção de pólipos que
se possam detetar, ou mesmo realizar biopsias.
médica. Em raros casos essa preparação envolve
uma lavagem intestinal.
Alguns pacientes sentem renitência em realizar este exame, com receio da dor ou por preconceito, contudo este é um exame geralmente
bem tolerado, sem desconforto ou complicações posteriores.
Nos últimos anos surgiu um novo método de
colonoscopia não invasivo, a colonoscopia virtual, que consiste em obter imagens de tomografia
computorizada (TC) do cólon limpo e distendido
com gás. As imagens originais são submetidas a
um programa de computador para se obter uma
imagem a 3D do cólon, o que torna possível a
"navegação" no interior do intestino e permite a
avaliação da mucosa intestinal sem que seja preciso introduzir um endoscópio. Este método, em
relação à colonoscopia direta tradicional, tem a
vantagem de ultrapassar obstáculos que possam
existir na progressão do endoscópio pelo intestino, bem como permite estudar através das imagens obtidas os restantes órgãos abdominais e
Quais são as recomendações para o rastreio e vigilância
do cancro do intestino?
A Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva recomenda que o rastreio do cancro do
intestino se inicie a partir dos 50 anos de idade,
em TODOS os indivíduos sem fatores de risco
acrescidos, com uma colonoscopia esquerda de
5 em 5 anos ou uma colonoscopia total de 10
em 10 anos.
Em pessoas com fatores de risco acrescido,
pessoais ou familiares, é recomendado um programa de rastreio e vigilância mais precoce, variando em função das características concretas
de cada caso.
Em conclusão:
Não pense que o cancro só acontece
aos outros. O cancro do intestino mata
10 pessoas por dia! Não seja uma delas.
Faça o rastreio.
Ana Cristina Pratas
1TEN MN
NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (28)
O 401 da Marinha...
(…) No dia seguinte a um ataque alemão ao posto de Namaca, o soldado 400,
Migueis, bate à porta do comando em
Palma e pede para falar com o comandante do batalhão, Guedes Vaz. A custo,
o soldado conta como se sente envergonhado por estar a construir jangadas na
praia enquanto os camaradas trocam tiros
com alemães.
(…) Guedes Vaz chama-o e entrega-lhe
a guia de marcha. O 400 lê a guia.
Os olhos tomam a expressão de alegria de um pobre que visse premiado
o número da sua cautela. (…) Dá um
salto para a retaguarda e exclama ipsis
verbis: “Muito obrigado, meu comandante! E pode V. Exa ter a certeza de
que o primeiro alemão que eu mandar
pró maneta, há-de ser à saúde do meu
comandante” (…).
nos. Contudo, ao contrário do que agora
se tornou comum, não falamos de como
o nosso país parece degradar-se, ou de
como os militares – apesar de todos os
sacrifícios feitos pela pátria, ao longo dos
séculos – são muitas vezes tidos como
“despesa pública” a abater por mor de um
défice que não para de crescer…
Não, o nosso militar, que aqui vou chamar 401 em honra daqueloutro comba-
In Os Fantasmas do Rovuma, a epopeia dos soldados portugueses em
África na I Guerra Mundial, Ricardo
Marques, 2012
No recinto do HFAR (Hospital das
Forças Armadas) existem uns altares
de Pedra, junto à estrada principal
que dá acesso ao bar, quase ao lado
da “cafeteria geral”. Nesses altares,
transformados em bancos (ou bancos,
que alguns transformam em altares)
encontrei um velho amigo. Trata-se
de um velho combatente, de Marinha,
das guerras de África. Incapacitado
por uma explosão de uma mina, caminha com muita dificuldade e com
a ajuda de “canadianas” – um nome
moderno para as próteses externas, sem
as quais o nosso herói não se move.
A incapacidade trouxe muitas dificuldades, de modo que quem o vê na obesidade grisalha, que agora o aflige, não
imaginará o orgulhoso e forte fuzileiro especial, que defendeu as cores de Portugal
nos pântanos e tarrafos da então África
Portuguesa…
No primeiro dia em que o revi cumprimentei de forma simples e ele, fiel a si
próprio, retorquiu também de forma singela, com um:
– Ora viva. Marinheiros em terra…
Nos dias seguintes lá estava ele, soberbo, na guarita que parece defender,
no mesmíssimo altar pessoal. Tem sempre uma palavra de simpatia, como se a
vida fosse maior que si próprio ou todos
os anjos benéficos se concentrassem no
seu sorriso.
Cumprimentei-o sempre. Algumas vezes falamos mais, de outras falamos me-
tente, exposto no texto acima, o 400, que
se sentia envergonhado por não poder estar na linha da frente, naqueloutra guerra
de África, que Portugal combateu, com
pesadas baixas, no princípio do século
XX, só tem conversas de uma luminosidade estranha nos tempos que correm…
Num outro dia, particularmente difícil,
andava eu embrenhado nos meus próprios fantasmas e apressava-me em silêncio, atira-me o 401 da Marinha com a
seguinte sucessão de frases…
– Já vi! Já vi bem. Hoje o dia está chuvoso ali para o Centro de Medicina Aeronáutica (edifício onde está sediada a
Cardiologia do HFAR). Tem razão, ó Doutor, esta chuva de verão é pior do que a
neve no inverno. – Até aqui eu não tinha
proferido uma só palavra e estava um dia
soalheiro com cerca de 32˚ C.
– Então, como vai você? – perguntei eu
ainda sério.
Retorquiu prontamente o nosso herói:
– Eu cá vou como a maré nos rios da
Guiné (não percebi se a rima era propositada), flutuo abaixo e acima, mas não
deixo de sorrir aos amigos que passam,
como o Doc…
Falámos então um pouco. Perguntou-me pelo meu filho. Ofereceu-me os parabéns pelos meus “feitos” académicos.
Foi então (…e só então…) que reconheci o homem profundo que era o 401 e a
honra que fazia à farda que – no seu
eu escondido – ainda enverga… Não,
o nosso homem não parecia irritado
com a política, desesperado pelas medidas de austeridade, ou irritado com
uma qualquer troica, que apoquenta a
maioria de nós… O 401 da Marinha,
ex-fuzileiro especial, vende paz, a
quem a souber aproveitar… Na verdade, neste meu mister de médico, poucos homens conheci que, como o 401,
conseguem elevar-se acima da fragilidade do mundo, do seu padecimento
pessoal e ainda sorrir…
Ora, bem a propósito, num destes
dias, em viagem de regresso a casa e
no rescaldo de mais uma crise política
entre nós, ouvi na rádio que a Standard and Poor´s, uma das agências
de rating americanas, que classifica a
valia de Portugal, tinha, novamente,
agravado o nosso risco económico,
agravando-nos, consequentemente, a
dívida… Lembrei-me então do 401 da
Marinha…
Tresloucadamente, ocorreu-me então que é sem sombra de dúvida uma
pena que estas agências – que indiretamente nos governam – não criem
uma cotação de mercado para o sofrimento humano e para entidades ainda
mais comezinhas, como a história de um
povo e a honra que, apesar do sofrimento, alguns são capazes de exibir. Se valorizassem o 401 da Marinha e um belo par
de outros velhos militares que conheço,
talvez a nossa classificação fosse melhor
do que o valor displicente para que invariavelmente nos atiram…
Mas é claro, nenhum destes pensamentos vale a alegria de um fuzileiro antigo,
nem o calor da sua amizade. Que o diga
o 401 da Marinha, os seus antepassados
de oito séculos que padeceram por esse
mundo grande e alguns dos ousados leitores, que suportam estes escritos….
Um grande abraço ao 401, que já conquistou o altar que na alma tão bem defende…
Doc
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
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32
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
QUARTO DE FOLGA
JOGUEMOS O BRIDGE
PALAVRAS CRUZADAS
Problema Nº167
Problema Nº448
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Norte (N)
Oeste (W)
A 5
D
9
3
9 R
6 D
2 10
9
2
8 V A A
6 10 10 8
2 8 5 3
4
Sul (S)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Este (E)
V 7 D 7
10 4 V 6
5 2 7 5
4
R A R V
7 R 8 4
D 3
9
6
3
Todos vuln. S joga 4 ♥ com a saída a ♣ R. Analise as 4 mãos para descobrir se S tem alguma hipótese de cumprir o seu contrato face à má
colocação do A de ♠.
Solução neste número
∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙
SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 167
Mesmo à mesa a maneira de cartear será a mesma, e antes de jogar numa
boa colocação de ♠ A, a preocupação do carteador será a de defendê-lo,
até constatar que não tem outra hipótese. Nesta perspetiva, deverá deixar
fazer ♣ R, assim como a D se W continuar, como será natural. No A que
recuou irá baldar um ♦ na mão, e como estão 3-3 vai apurar o 4º para baldar
uma ♠, após destrunfo a acabar no morto. Se W não jogar ♣ D mas o ataque
for outro, o V♣ permite-lhe que a mão continue no lado bom, sem perigo de
qualquer ataque que destrua o apuramento do ♦ para a necessária balda a
♠. Este problema mostra mais uma vez como não nos devemos precipitar e
confiar só na sorte, ou lamentar o azar, mas analisar sempre outras hipóteses,
sendo normalmente importante fazê-lo logo na 1ª jogada, pois é aí que se
perdem, ou se podem ganhar, uma grande parte dos contratos.
Horizontais: 1 - Região da Helvícia, abmetida aos Romanos no reinado
de Augusto; espécie de pavilhão que se eleva na principal mesquita de
Meca. 2 - Pele que se põe nos remos, para se não gastarem muito, roçando na borda do barco; árvore da Ásia meridional, de cujo fruto se extrai
uma bebida agradável (inv). 3 - Consoante dobrada; mulher de baixa
estatura (Prov); partes laterais, que guarnecem as ventas. 4 - Apelido de
heroína francesa; é quase Leiria (inv) 5 - Peão; pintor da escola holandesa
de admiráveis cenas interiores (1610 - 1685) (ap). 6 - Fraternidade. 7 - Intrigas (inv); tira para fora. 8 -Cobrir de óleo; raer. 9 - Cento cinquenta e
cinco romanos; cidade e município do estado do Rio Grande do Norte,
Brasil; símb. quím. do neon. 10 - Relativo ao eixo de uma planta (Bot);
converte em massa. 11 - Varia na confusão; estai (Náut).
Verticais: 1 - Mordicar; arrancai. 2 - Destruia; sessenta e cinco romanos.
3 - Consoante dobrada; cidade da Rússia, antiga capital da Ucrânia. 4 - Satélite de Júpiter (pl); lodo (inv); duas de rol. 5 - Gostai muito; medida de uma
superfície. 6 - Aparelhara. 7 - Dias na confusão; peça comprida de madeira,
com uma das extremidades chatas, para fazer mover uma embarcação. 8 Rio costeiro francês; nome de letra grega (pl); saudáveis. 9 - Tornar saboroso;
no meio de Este. 10 - Outra vez (int.); o mesmo que defesa. 11 - Adem; praia.
∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙
SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 448
Horizontais: 1 – RECIA; CAABA. 2 – ASCOMA; APIN. 3 – TT; SAPA; ASA.
4 – ARC; IRIEL. 5 – RUAO; OSTADE. 6 – IRMANDADE. 7 – SACIRT; SAFA.
8 – OLEAR; RER. 9 – CLV; ARES; NE. 10 – AXIL; AMASSA. 11 – IVARA; OSTAL.
Verticais: 1 – RATAR; SACAI; 2 – ESTRUIA; LXV. 3 – CC; CARCOVIA. 4 – IOS;
OMIL; LR. 5 – AMAI; AREA. 6 – APRONTARA. 7 – AISD; REMO. 8 – AA; ETAS;
SAS. 9 – APALADAR; ST. 10 – BIS; DEFENSA. 11 – ANATE; AREAL.
Carmo Pinto
1TEN REF
Nunes Marques
CALM AN
CONVÍVIO
1º ALMOÇO-CONVÍVIO DA 3ª GUARNIÇÃO
DO NRP ÁLVARES CABRAL
(F331)
● Realizou-se no dia 28 de setembro, na Quinta dos Girassóis, em
RETIFICAÇÃO
No artigo “Cutty Sark” Barca “Ferreira” – A Fénix Renascida,
(RA 478/Set-Out2013) na página 28, 1ª coluna, a meio da Fig.
6, onde se lê: “(...) que armava em Barca (após desarmamento
em 1916, ao largo de Moçambique) (...)”, deve ler-se: “(...) que
armava em Barca (após desarvoramento em 1916, ao largo de
Moçambique) (...)”
Fernão Ferro, o 1º almoço- convívio da 3ª guarnição do NRP Álvares
Cabral (1996/1999) com a presença de 58 membros da guarnição, o
qual decorreu com boa disposição e amena cavaqueira o que proporcionou o reviver de histórias e bons momentos. Fez-se um minuto
de silêncio pelos camaradas já desaparecidos. Contamos com a presença do Comandante e Imediato à altura, o actual VALM Carvalho
Abreu e o CALM Silvestre Correia. Os presentes apelaram aos organizadores a continuidade do evento anualmente.
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013
33
NOTÍCIAS PESSOAIS
●
COMANDOS E CARGOS
NOMEAÇÕES
● CALM Fernando Manuel de Macedo Pires da Cunha nomeado Comandante da ZMA e Chefe do Departamento Marítimo
dos Açores ● CMG Fernando Manuel Félix Marques nomeado
Comandante da ZMM, Chefe do Departamento Marítimo da
Madeira, Capitão do Porto do Funchal e de Porto Santo ● CFR
Eduardo Jorge Malaquias Domingues nomeado Comandante
da ZMS, Chefe do Departamento Marítimo do Sul e Capitão do
Porto de Faro
CFR José António Velho Gouveia nomeado
Capitão do Porto de Sines.
●
RESERVA
●
●
SCH R Alberto Vaz de Amoreira
SCH R Francisco Manuel de Oliveira Dias SAJ M António José Alves de Lima.
●
REFORMA
● CMG FZ Luís Augusto Loureiro Nunes ● CMG Rui Valente Almeida Graça Marim ● CFR SEM António da Costa Pires ● CTEN SEA Augusto Mourinho de Oliveira ●
SMOR TRC Hélder Manuel Fonseca Marreiros ● SAJ M José
Manuel Lucas Ramos ● SAJ FZ Fernando Carneiro Ferreira
●
1SAR V Alberto Manuel de Caldas Vieites
CAB CM
José Carlos Pereira Ramos
CAB CTT Manuel Estevão Garcia Grilo
CAB CM Victor Manuel Ribeiro Rodrigues Bandeira
CAB TFH Joaquim Domingos Esteves Bernardino
CAB E Rui Manuel Monteiro
CAB A António Manuel
Monteiro Cartas
CAB CM Paulo Manuel Pereira da Silva
CAB TFH José Pedro Ramos Costa
CAB T Filipe Manuel Correia da Cruz.
●
●
●
●
●
●
●
●
FALECIDOS
●
●
CMG REF José Marques Elpídio
CMG RES Rui Manuel
Martins de Carvalho
CFR REF João Cristóvão Moreira
1TEN OT REF Agostinho Maria Alves Sobral
SAJ CE REF
Joaquim de Carvalho Costa
SAJ F REF Joaquim Lopes
SAJ A REF José Firmino Candeias
SAJ A REF João de Sousa
Lobo
SAJ L REF Manuel Isidro Guerreiro Martins
1SAR
REF Joaquim Augusto Alves Sobral
2SAR GR FZ DFA REF
Mário Pedro Jerónimo
CAB CM REF José Pinto Zaranza
CAB M REF Américo dos Santos Chaves
CAB CM REF Manuel Cardoso Magalhães
CAB L RES Carlos Manuel de Oliveira Nunes
Guarda 1CL QPMM REF Ricardo Mendes de
Almeida
Farol 1CL QPMM APOS Valentim do Carmo
CAB Ponte TM José Gonçalves Dias.
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CONVÍVIOS
DESTACAMENTO DE FUZILEIROS ESPECIAIS Nº5
ANGOLA 1963-65
COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS
5ª GUARNIÇÃO DO NRP CORTE-REAL
(2002-2005)
● No passado dia 28 de junho, a 5ª guarnição do NRP Corte-Real
● Realizaram-se na Escola de Fuzileiros, no passado dia 15 de
junho, as comemorações do 50º aniversário da criação do DFE5 e
partida para Angola.
As comemorações iniciaram-se com a homenagem aos fuzileiros
mortos em combate e com o descerramento de uma placa alusiva à
efeméride. Seguiu-se a missa, rezada na Capela da Escola, durante a qual foram recordados os companheiros falecidos, e a visita
ao Museu do Fuzileiro. Durante o almoço convívio que se seguiu
foram recordadas algumas das situações mais marcantes em que
todos estiveram envolvidos.
O convívio terminou com um breve discurso do Comandante, em
que exortou os presentes a manterem vivos os princípios que sempre pautaram a conduta do DFE5, cuja acção foi reconhecida pelo
então comandante naval de Angola em diversos louvores colectivos e individuais pela forma exemplar como cumpriu as missões,
honrando o Corpo de Fuzileiros e a Armada.
34
NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
cumpriu o hábito e voltou a juntar-se, este ano para comemorar o 9º
aniversário da realização do Operational Sea Training (OST), Staff Sea
Check em Plymouth (Inglaterra).
Os cerca de oitenta convivas, recordaram os bons momentos passados, da camaradagem e amizade sentida na execução das diferentes
missões realizadas pelo “nosso navio”. Durante o convívio foram
recebidas mensagens com imagens de celebrações de elementos da
nossa guarnição em unidades navais com missão no mar, por impossibilidade de estarem na nossa companhia, facto que evidencia que a
“5ª Guarnição do NRP Corte-Real” continua unida e que o “Padrão
Corte-Real” permanece presente em cada um dos seus elementos.
No tradicional discurso, o nosso comandante, o CALM Mendes Calado, fez uma retrospetiva na qual enfatizou alguns dos momentos
mais marcantes, que foram recordados com nostalgia, tendo lançado
o desafio a todos para que se comece a planear uma celebração especial no próximo ano, em que se comemoram 10 anos da realização do
“nosso OST”.
4ª
Os submarinos da classe Albacora, nome da classe de navios
que corresponde à 4ª Esquadrilha de Submarinos ao serviço
da Marinha de Guerra Portuguesa, foram construídos em
Nantes, nos estaleiros franceses de Dubiegeon-Normandie, de
acordo com o contrato assinado em 1964, sendo idênticos
aos submarinos franceses da classe Daphné e destinavam-se a
substituir os submersíveis da classe Narval.
A nova classe constituiu, verdadeiramente, o primeiro grupo
de submarinos de que a Marinha Portuguesa dispôs, uma vez
que introduziu a tecnologia do mastro snorkel na realidade
nacional.
O contrato de aquisição foi de quatro submarinos, sendo-lhes
dado o nome de um animal
marinho, com a inicial do
nome indicativa da ordem
de precedência relativamente
ao seu aumento ao efetivo de
Marinha: NRP Albacora (S163)
em outubro de 1967, o NRP
Barracuda (S164) em maio de
1968 e NRP Cachalote (S165)
e o NRP Delfim (S166) ambos
em janeiro 1969.
Este contrato surgiu um par de anos antes da Marinha
Espanhola ter decidido pela construção de quatro submarinos
do tipo Daphné em estaleiros do país. Desta forma, a ligação
entre as duas Esquadrilhas fortaleceu-se uma vez que muitos
foram os submarinistas espanhóis que fizeram o seu contato
inicial e parte da sua aprendizagem a bordo dos da classe
Albacora. Note-se que muitos traços dessa forte ligação mantêm-se
atuais.
As características principais dos submarinos da 4ª. Esquadrilha
eram as seguintes:
Deslocamento à superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .869 toneladas
em imersão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.043
“
Comprimento máximo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57,80 metros
Boca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,8
“
Calado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,2
“
Cota máxima operacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300
“
Velocidade máxima à superfície. . . . . . . . . . . . . . . .13,5
nós
em imersão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
“
Autonomia máxima (bateria) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9.430 milhas
O Cachalote, por razões de sustentabilidade logística, foi
abatido em outubro de 1975 e vendido à Marinha Francesa que
por sua vez o cedeu ao Paquistão onde tomou o nome de Ghazi.
Os restantes três submarinos, que passaram a constituir a
classe Albacora, participaram durante a sua vida operacional
num variado leque de missões no espaço marítimo nacional
e internacional, nomeadamente participando em missões e
operações tais como: CONTEX, SWORDFISH, TAPON, JMC,
FOST, SHARPGUARD, ENDURANCE, AÇOR, ZARCO,
OCEAN SAFARI, JOLLY RIGER, assim como em múltiplas
missões de adestramento de alunos e de vigilância da área
marítima de interesse nacional.
Além de constituírem um marco na história da capacidade
submarina, sendo o salto tecnológico de submersíveis para
submarinos propriamente ditos muito significativo, foram
igualmente um importante fator de afirmação de Portugal
na comunidade internacional, através das múltiplas e
muito bem-sucedidas participações em operações e missões
1967-2010
internacionais, sobretudo no âmbito da NATO.
Os submarinos da classe Albacora, inicialmente adquiridos
com a intenção de serem projetados no conflito das possessões
portuguesas em África, foram posteriormente otimizados para
missões de vigilância das áreas marítimas nacionais. Mudaram
o paradigma da utilização da arma submarina, revelando a
sua importância na capacidade de projeção de forças especiais
(Destacamentos de Ações Especiais) e nas ações de combate
ao ilícito marítimo, quer seja no combate ao narcotráfico,
como à imigração ilegal e poluição marítima, assim como uma
renovada capacidade de intercooperação entre os diversos
Ramos das Forças Armadas e outras Agências do Estado.
Devido à grande capacidade
e conhecimento das guarnições
que os operavam, ao trabalho
minucioso e experiente do
pessoal do Arsenal do Alfeite
e do sistema de Garantia de
Qualidade adotado, a IRS, foi
possível manter os três navios
operacionais até o ano 2000,
altura em que foi abatido o
Albacora. Em 2005 foi a vez do Delfim ser abatido tendo, em 2010,
terminado a classe Albacora com o abate do Barracuda. Com 42
anos, o “velhinho” Barracuda foi o submarino militar com mais
anos de serviço do Mundo. Na sua última viagem, o derradeiro
Daphné mundial visitou a cidade francesa de Toulon, em jeito
de despedida, tendo sido recebido no Dia do Submarinista
Francês de 2010 por um muito relevante e espantado grupo de
submarinistas, de alguma forma incrédulos com a capacidade
submarina de uma pequena nação que foi capaz de manter
estas plataformas operacionais e, em total segurança, até ao
final da sua longuíssima vida operacional.
Em 25 de julho de 2013 o Barracuda entrou em doca seca da exParry & Son, ficando conjuntamente com a fragata D. Fernando
II e Glória, a fazer parte do “Núcleo Museológico Naval de
Cacilhas” do Museu de Marinha.
Apesar de terem sido um marco tecnológico, no seu início de
vida, os submarinos da classe Albacora conseguiram superar
o teste do tempo e vingar numa era tecnologicamente mais
avançada, devido a uma cultura submarinista centenária
enraizada que era religiosamente passada de geração em
geração, em que os segredos da plataforma eram desvendados
pelos mais antigos e passados aos mais modernos. Através
do conhecimento, da cultura e do espírito de entrega que
caracteriza o submarinista, foi possível completar com sucesso
missões complexas e deixar nos Anais da História feitos como
o afundar do navio mercante Bandim ou o mítico ataque do
“pequeno submarino português” ao poderoso porta-aviões
americano Eisenhower. O primeiro eliminando um perigo à
navegação e o segundo no decorrer de um exercício da NATO.
Plataformas robustas e fiáveis, guarnecidas por rijos
marinheiros, conhecedores da sua arte, apesar de
tecnologicamente limitados no seu final de vida operacional,
os submarinos e os submarinistas da 4ª Esquadrilha
representaram o País por mais de quatro décadas com brio e
orgulho, elevando o nome da Marinha e de Portugal, deixando
um enorme e valioso legado que servirá de alicerce para a
perpetuação da cultura submarinista e marinheira.
Colaboração da ESQUADRILHA DE SUBMARINOS
4ª
Albacora
Barracuda
Cachalote
Delfim II
1967-2010
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O TRIDENTE