À falta de uma política cultural externa no Brasil
Maria Susana Arrosa Soares
No dia 17 de junho foram publicadas em dois periódicos – Folha de São Paulo e
Revista Cultura do Clarín de Buenos Aires-, duas notícias, opostas, e que expressam a
inexistência de uma diplomacia cultural do país. No primeiro, anuncia-se que “ MinC
quer turbinar imagem do país criando CEUs no exterior” e, no segundo, denuncia-se
“ el Cierre de la Fundación Centro de Estudos Brasileiros” , criada em 1954 em Buenos
Aires.
Segundo consta na entrevista da Ministra Marta Suplicy, a iniciativa do Ministério de
Cultura de criar Centros Educacionais Unificados das Artes no exterior – inicialmente
em Lisboa e Londres- é “ expandir a marca” do Brasil. Os países localizados em outras
regiões, como a América Latina, não são mencionados, não atribuindo-se maior
relevância à imagem do Brasil existente nesses países. Por outro lado, a Ministra afirma
“ que o Brasil tem um ‘ soft power’ natural graças ao apelo de sua cultura” , o que
constitui-se numa afirmação que não corresponde ao verdadeiro significado desse
conceito, de autoria de Joseph Nye. Não existe um “ soft power” natural; ele resulta da
capacidade de um Estado de atingir seus objetivos no âmbito internacional em
decorrência da atração exercida por sua cultura.
A matéria publicada na Revista Cultura, cujo título é “ Carta desesperada por la lengua
brasileña” constitui-se num apelo feito “ por um grupo de professores, pesquisadores e
amigos da língua brasileira face a ameaça muito concreta de fechar o já mítico Centro
de Estudos Brasileiros de Buenos Aires” . Os assinantes da Carta descrevem as
atividades desenvolvidas pela Funceb no decorrer de sua longa história: cursos de
língua em todos os níveis, professores de português, um serviço de mediateca e de
biblioteca, conferências, sessões de cinema, exposições, cursos de música brasileira e
um programa de espanhol para brasileiros. Era um modelo de instituição, amada por
seus alunos e por seus docentes. A Funceb desenvolve suas atividades em colaboração
com os setores de Cultura e de Educação, Ciência e Tecnologia da Embaixada do Brasil
em Buenos Aires, e forma parte da Rede Brasileira de Ensino da Divisão de Promoção
da Língua Portuguesa (DPLP), órgão dependente do Ministério de Relações Exteriores
do Brasil e encarregado de coordenar a política cultural externa de seu país (Revista de
Cultura Ñ, 15/06/2013).
Ambos casos revelam um desconhecimento da natureza e características da diplomacia
cultural e sua ausência no Brasil. Os países nos quais a cultura está estreitamente
vinculada à política externa, possuem uma diplomacia cultural estruturada e de longo
prazo. Ela consiste num conjunto de programas, projetos e ações – dos quais
participam, de forma articulada, instituições governamentais e atores não
governamentais- voltados à transmissão de valores, ideias e crenças através das
fronteiras internacionais visando a construção da imagem, o prestígio e a confiança
entre os países, fundamentais para aproximação dos povos. A diplomacia cultural, em
palavras de Willy Brandt, é o terceiro pilar da política exterior de um país, juntamente
com a política e o comércio.
A Rede Brasil Cultural do Ministério de Relações Exteriores abrange 23 centros
culturais, 5 núcleos de estudos brasileiros e cerca de 40 leitorados em todo o mundo,
cujo objetivo é promover da língua portuguesa e a cultura brasileira
(https://www.facebook.com/RedeBrasilCultural). Sobre o funcionamento da Rede,
entretanto, há escassas informações tanto em sua posição na estrutura do MRE como
sobre seu funcionamento e os benefícios deles resultantes para as relações entre o Brasil
e os países onde estão localizados, particularmente, dos Centros Culturais, extensões
das embaixadas brasileiras.
A promoção de eventos, seminários, cursos, exposições, feiras, festivais, intercâmbios
culturais, de forma ocasional, são iniciativas importantes mas não suficientes para
construir em bases sólidas uma diplomacia cultural.
Postado em 03/07/2013
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