Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e
I Encontro de Iniciação em Desenvolvimento
Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas
27 e 28 de setembro de 2011
ISSN 1982-0178
RAÍZES DA IDENTIDADE PAULISTA?
A OBRA DE PEDRO TAQUES E FREI GASPAR MADRE DEUS
Gabriel Augusto V. Dias Ferreira
Faculdade do aluno: História
Centro do aluno: CCHSA
E-mail: [email protected]
Resumo:
O propósito do artigo é apresentar
as linhas gerais do pensamento dos
historiadores paulistas setecentistas, bem
como, o modo como suas obras foram
sendo lidas e analisadas por diferentes
gerações de intelectuais no sentido de
definir as raízes de um discurso voltado
para a constituição daquilo que seria a
identidade
paulista.
Propomo-nos
finalmente olhar para essas obras a partir
das discussões mais atuais a respeito do
pensamento que expressam sobre a visão
de tempo e historicidade próprias do
ambiente cultural em produziram seus
trabalhos.
Palavras Chaves:
Historiografia
setecentista,
Paulista, História Regional.
Identidade
Área de conhecimento:
História – História Regional do Brasil –
CNPq.
Introdução:
Primeiramente
é
importante
a
compreensão que o termo “raízes” já não é
vista com bons olhos pelos historiadores,
uma vez que este termo nos remete a ideia
de precursor(es) também é impregnado de
anacronismo. Os historiadores buscam ao
interpretar uma obra ou um pensamento o
seu precursor, mas levanta-se a questão
de que não se imputaria neste autor do
passado o conhecimento prévio que seu
interprete tem no futuro. O artigo girara em
torno desta questão no que se trata das
João Miguel de T. Godoy
Grupo de pesquisa: História Regional.
Linha de pesquisa: Processo histórico de
ocupação e construção dos espaços
regionais.
Centro do orientador: CCHSA
E-mail: [email protected]
analises das obras de Pedro Taques de
Almeida Paes Leme (1714 – 1777) e Frei
Gaspar da Madre de Deus (1715 – 1800),
os precursores da identidade paulista. As
suas
respectivas
obras
Nobiliarquia
paulistana Histórica e Genealógica e
Memória para a história da Capitania de
São Paulo integram a historiografia sobre
São Paulo, neles se encontra o inicio de
uma mitologia sobra à excepcionalidade
paulista, a partir da construção de certa
visão sobre o bandeirante. Mais a frente no
tempo, no período federalista brasileiro, até
os anos 1930, intelectuais paulistas se
utilizaram dessa historiografia bandeirante
para a construção de um instrumento
ideológico para o controle do poder central
durante a primeira republica, esse
instrumento
era
propriamente
a
paulistanidade, a identidade paulista. As
obras então de Pedro Taques e Frei
Gaspar ganharam resignificação, elas
foram as bases da elaboração de um
imaginário regional onde o paulista se via
como autônomo, com vocação para o
progresso, líder nato, e nacionalista com o
processo de interiorização do território.
A proposta desse artigo é tomar os
autores bandeirantes, depois identificar
seus interpretes e como esses os
analisaram, e por fim retomar Frei Gaspar e
Pedro Taques sobre uma nova óptica.
Pedro Taques de Almeida Paes
Leme no seu Nobiliarquia Paulistana
Histórica e Genealógica remonta as
grandes famílias paulistas de descendência
bandeirante e os grandes feitos desses
homens de São Paulo que foram
“audaciosos” para ir alem das linhas do
meridiano e desbravar e desmistificar as
terras do Brasil. Sua obra foi certamente
uma das maiores obras coloniais do século
XVIII. Pedro Taques tem suas origens em
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grandes personagens de São Paulo,
sertanistas ilustres, senhores de latifúndio,
e ricas lavras auríferas, de numerosos
eruditos e oficiais empregados nos serviços
reais. Porem durante sua vida a sorte em
muitos momentos não lhe sorriu, trabalhou
em cargos de importância no serviço ao rei,
mas perdeu seus bens por injusta causa e
faleceu na miséria. Durante sua vida
colecionou grande pesquisa Genealógica,
que foram publicadas em postumamente, é
importante fonte da história de São Paulo
do período colonial, principalmente a
história dos bandeirantes paulistas e seu
papel no processo de ocupação do sertão
brasileiro.
Na sua obra consta o levantamento
das famílias, consideradas as mais ilustres
da Capitania de São Vicente, entre elas os
Buenos de Ribeira, Taques Pompeus,
Almeida
Castanhos,
Laras,
Prados,
Campos, entre outros. Um total de 24
famílias do que restou dos mais de 100
títulos escritos por Pedro Taques. A obra
resumidamente é a amostragem dessas
famílias desde seu estabelecimento na
Capitania, passando por suas varias
gerações de descendências até o século
XVIII. É pelo genealogista dado extrema
atenção
aos
feitos
heroicos
de
descobrimento
de
minas,
de
territorialização do espaço por meio das
empresas bandeirantes, da proteção da
costa contra inimigos externos, proteção do
solo
contra
inimigos
internos,
do
enriquecimento das famílias, etc. A
grandeza de como essas famílias são
retratadas
por
Pedro
Taques
é
característica da obra. É a história sendo
feita por poucos, feita pela elite, é o orgulho
de casta, é a história colonial sendo
contada de forma parcial, excludente.
Frei Gaspar da Madre de Deus,
parente de Pedro Taques, também era
descendente dos povoadores da Capitania
de São Paulo e de grandes bandeirantes
como Fernão Dias Paes, Domingos Jorge
Neto, Estevam Raposo, e de ascendência
tão profunda chegando ao Português João
Ramalho
(considerado
o
primeiro
português ter chegado a região onde fora
feita a Capitania de São Vicente) e aos
caciques Bartira e Piquerobi.
Estudou como Pedro Taques em
um Colégio da Companhia de Jesus,
porem diferente de seu parente continuou
vida religiosa, se tornando aos 16 anos
noviciado beneditino. Ocupa vários cargos
religiosos, vive na Bahia, Rio de Janeiro, e
passa um tempo em Portugal, quando volta
em 1769 para o Mosteiro de Santos em
São Paulo onde morre em 1800 com 85
anos, deixando inúmeras obras. Sua obra
aqui analisada Memórias para a História de
São Vicente é um conjunto de memórias
que remontam a histórica da capitania de
São Vicente desde seu povoamento por
Martim Affonso de Souza, seu primeiro
donatário, até o século XVIII. Sua obra
compõem-se de dois livros que remontam a
história de da fundação da capitania de
São Vicente, da Vila de Santos, da cidade
de São Paulo, da Vila de Nossa Senhora
da Conceição de Itanhaem, e de Santo
Amaro. Esta obra se diferencia pelo alto
grau de desenvolvimento no campo da
pesquisa histórica cientifica, com profundas
análises, problemáticas e métodos de
pesquisa.
Para Frei Gaspar, a miscigenação
que é uma realidade até nos estratos
elitistas da qual ele mesmo faz parte, não
condena com a degradação ou a
desvalorização da raça, pelo contrario, o
sangue miscigenado do índio era
enobrecedor ao sangue português, pois era
cheio de virtudes, tais como sensibilidade,
bondade, desinteresse, etc. Porem para
nos o importante é analisar como Frei
Gaspar atribui importância aos “nobres”
paulistas do período colonial.
O
autor
seguindo
caminho
semelhante a Pedro Taques também se
incube de ressaltar a importância histórica
que cabe a esses nobres portugueses que
ajudaram a territorializar parte do Brasil,
interiorizar aos sertões e descobrir
riquezas. Algumas famílias apontadas pelo
Frei são as famílias Souzas, Góis, Leitão,
Leme, Oliveira, Santos e outros. O autor
engrandece essas famílias, lhes mostra o
ímpeto aventureiro que os levaram ao
impulso expansionista sem negar trabalho
ou esforço, enaltece de forma implícita a
necessidade de avaliar justamente as
honras que estas famílias merecem.
O Frei, em sua obra, redobra
esforços em condição de juiz, e se lança
em sua analise histórica à proteger a honra
paulista contra os incessantes ataques dos
jesuítas. Alguns padres jesuítas em
missões pelas províncias do Paraguai, do
Uruguai, do Paraná, como o Padre Antonio
Ruiz de Montoya o Padre Nicholau Del
Techo, o Dr. Francisco Jarque, Joseph
Vaisset e Pierre François Xavier de
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Charlevoix, foram responsáveis em suas
obras por formar uma imagem negativa do
paulista bandeirante, principalmente por
que estes paulistas muitas vezes se
lançavam na captura de índios que se
encontravam sob os poderes dos jesuítas,
assim o conflito de interesses instaurou não
somente
batalhas
intelectuais,
mas
também batalhas corpo a corpo, o que
levou até na expulsão dos jesuítas da vila
de São Vicente em 1640, aceitos de volta
em 1653 graças a aceitação de paz das
famílias de São Paulo lideradas por Fernão
Dias Paes. Porem esses jesuítas em suas
obras foram responsáveis por criar um
visão detratória dos paulistas bandeirantes,
a chamada “lenda negra” segundo mostra
Laura de Mello e Souza, uma imagem de
um paulista bandido, imoral, autônomo,
animal, etc. Imagem que duraria até os
séculos XVII e primeira metade do XVIII.
Podemos sugerir que a obra de
Pedro Taques busca a integração vertical
intra-elites, construir uma unidade de grupo
heterogêneo em sua origem, cuja coesão
vai sendo construída no processo de
colonização, onde integrantes dessas
famílias ocupavam funções militares e
administrativas na estrutura de poder, a
busca da origem nobre era uma vontade de
enobrecimento, dentro de uma visão de
mundo essencialmente estamental. A obra
de Frei Gaspar, expressa os movimentos
de expansão horizontal desse grupo nobre,
essa expansão é resultante da conquista
de território, a busca pelo sertão, a
fundação de vilas, é a mistura de sangue
entre a capacidade de iniciativa do
português e a coragem do índio.
Analisemos a partir de agora a
historiografia sobre o paulista bandeirante,
mas fizemos um recorte para concentrar o
estudo. Em três planos pode-se analisar as
obras de Frei Gaspar e Pedro Taques, a
primeira é analisá-los como iniciadores da
história paulista, reveladores da natureza
do povo paulista, isto se encontra nas
analises de Afonso Tauney e nas publicas
do Instituto Histórico e Geográfico de São
Paulo. Uma segunda leitura seria pelo viés
da produção historiográfica brasileira, nos
chamados cronistas coloniais, aos quais
reportam em estudos históricos desta
natureza José Honório Rodrigues e
Francisco Iglesias. A terceira possibilidade
de leitura é analisar as obras do Frei
Gaspar e Pedro Taques a partir da analise
de seus interpretes que tentam traçar a
construção da identidade paulista, e é a
essa terceira possibilidade a qual daremos
privilégio.
Começaremos pela obra de Rebata
Ferreira Costa A Historiografia sobre o
Bandeirante no século XVIII, que busca
mostrar os principais motivos que levaram
Pedro Taques e Frei Gaspar a construir
suas respectivas obras. Um dos motivos
seria as “fabulas” detratórias dos jesuítas
contra os paulistas, conflito gerado
principalmente por causa dos interesses na
captura de índios por um e na
evangelização dos nativos pelos outros. Os
nossos dois autores estariam assim
buscando desmistificar a imagem negativa
do paulista construindo uma nova
reputação de glória, obediência, lealdade,
coragem, etc. Costa ainda propõe que
Pedro Taques busca em sua obra legitimar
títulos nobiliárquicos, sua nobreza, e
prestígio
das
famílias
paulistas
descendestes dos grandes bandeirantes.
Uma segunda obra é a de Maria
Isaura de Queiroz Ufanismo Paulista,
vicissitudes de um imaginário, onde a
autora busca analisar como que a
historiografia da história de São Paulo ao
longo do tempo transformou a imagem do
bandeirante
em
um
símbolo
da
manifestação
de
uma
coletividade
geográfica especifica, o paulista. Ser
bandeirante pôde ao longo do tempo se
transformar em sinônimo de paulista graças
à tradição. Queiroz traça três principais
linhas de raciocínio, ela trabalha com a
ideia de tradição, ou seja, características
de um determinado grupo que se perpetua
ao
longo
das
gerações,
essas
características formam a representação
imaginaria de ser ou pertencer a um grupo
específico, assim cria-se uma identidade
comum, o ser “paulista”. Uma segunda
linha é do bandeirante como símbolo dessa
identidade paulista. A terceira linha é o
traçar do principio historiográfica que
buscou determinar as características desse
grupo determinado, determinando a
tradição e a elevação do bandeirante em
símbolo, e assim traçando os contornos de
uma identidade paulista.
Terceira
obra
analisada
é
Agricultores e comerciantes em São Paulo
nos inícios do século XVIII: O processo de
sedimentação da elite paulista de Ilana
Blaj. Blaj volta-se para o entendimento do
processo de enraizamento da elite paulista
no século XVIII, num compasso onde a as
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relações sociais vão se hierarquizando,
muito se concentrando nas mãos de
poucos:
terras,
escravos,
comercio,
produção agrícola, cargos administrativos,
títulos nobiliárquicos. O estudo busca
mostrar novos ares do entendimento
histórico da sociedade paulistana do século
XVIII, o desenvolvimento comercial, a
organização social, a estrutura da elite e
sua dinâmica, etc. Em suma o estudo se
volta para o processo de mercantilização
de São Paulo.
Outro texto é Vícios, Virtudes e
Sentimento regional: São Paulo, da Lenda
Negra à Lenda Áurea de Laura de Mello e
Souza, onde a autora busca fazer um
balanço bibliográfico, tanto de fontes
secundarias como primarias, que mostram
o embate entre os diferentes vieses de
interpretação da imagem dos paulistas
bandeirantes, personagens por um lado
vistos como bandidos, traiçoeiros e
rebeldes, o que formava a “lenda negra”
dos paulistas, muito difundido pelos
jesuítas e por Rocha Pitta, e por outro lado
o paulista heróis, mansos, destemidos e
espertos, a “lenda áurea”, formada
principalmente por Pedro Taques e Frei
Gaspar.
O próximo texto é Peças de um
Mosaico (ou apontamentos para o estudo
da emergência da identidade nacional
brasileira) de István Jancsó e João Paulo
G. Garrido. Os autores empreendem um
estudo da complexa formação nacional
brasileira. Na busca de compreender a
realidade colonial e a instituição do Estado
em algo que se define como America
portuguesa, ou seja, uma unidade, esbarrase na intricada rede de varias “identidades
políticas”
divergentes,
agrupamentos
imersos
numa
auto-reflexão
de
particularismos (como o caso do paulista),
comprometidos em traçarem o próprio
rumo para o futuro. Uma complexa rede
ideológica, onde se instaura vários conflitos
políticos atrás da formação do Estado e da
Nação.
Os agentes da colonização, os
portugueses, hora eram os colonizadores,
hora eram os próprios colonos. Havia a
existência de uma diferença entre
portugueses (o paulista, o baiense, o reinol,
etc.),
diferença
entre
portugueses
americanos de metropolitanos e diferença
entre portugueses da America (paulista,
baiense) e não portugueses. Uma realidade
colonial da America portuguesa imersa em
constante conflito existencial, não havendo
uma identidade coletiva una, alem da
portuguesa, que integrasse as identidades
regionais, politizadas e com projetos de
futuro próprios, uma desordem de grande
potencial de conflito, porém que são
centralizados pelo poder metropolitano
baixando o potencial conflitante, mas
acabando com as identidades regionais e
seus projetos e ambições próprias.
Partindo agora para uma nova
proposta de aproximação das obras,
consideramos que é possível analisar as
obras de Pedro Taques e Frei Gaspar a
partir de uma prospectiva, trata-se de
avalia-las como manifestações de certa
cultura na qual elementos como conceitos
de tempo e o regime de historicidade
envolvidos esclarece de maneira bastante
eficiente os vínculos políticos desse
pensamento e as estruturas mais gerais
nas quais estavam envolvidas. Essa nova
abordagem nos foi estimulada graças ao
relacionamento
delas
com
algumas
constatações históricas a respeito da
realidade vivenciada pelos nossos dois
autores, essas constatações principalmente
foram encontradas na obra de Raimundo
Faoro Os donos do Poder.
Assim retomando os dois autores,
conforme fora mostrado na introdução, a
ideia de “precursores” não é a melhor
perspectiva de análise. A partir de então
nos utilizamos de alguns conceitos e
noções que hoje vem sendo colocados em
pauta por alguns historiadores como, por
exemplo, R. Koselleck, François Hartog e
Eric Hobsbawm. Textos como o de
Hobsbawm acerca da invenção das
tradições e do estatuto do passado numa
certa sociedade, ou no caso dos de
Koselleck que mostra que a sociedade, em
cada presente, articulou as dimensões
temporais do passado e do futuro, afetando
diretamente o modo como a memória social
era instituída. As considerações desses
autores acerca da relação da sociedade
com seu passado e futuro possui efeito
direto sobre o modo como uma sociedade
resolve também suas relações de mando e
obediência entre os diferentes grupos que
a compõe. As relações necessitam da
criação de mecanismos de legitimação e
construção de consenso. Na medida em
que a consciência coletiva do tempo
histórico afeta os processos de autoreconhecimento social, bem como baliza o
horizonte de expectativas e projetos de
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futuro que se pode elaborar e entender
como viáveis, o problema da memória
coletiva e seus instrumentos de construção
e divulgação, devem ou podem ser
equacionados a partir de um estudo da
cultura política e das formas de construção
da hegemonia.
Podemos assim articular Pedro
Taques e Frei Gaspar, em ambos se
encontram certas demonstrações de um
esforço de invenção de uma tradição
paulista. Os autores buscam no passado
descendências e ações comuns ao povo
paulista, algo que os destaquem, a
singularidade
empreendida
na
territorialização, a nobreza do sangue
passada de geração a geração por aqueles
nobres que primeiro povoaram São Paulo.
Essas virtudes são infligidas aos paulistas
de forma atemporal, é como se a força, a
iniciativa, a liderança, a ousadia e a
nobreza dos primeiros povoadores e
bandeirantes propagassem no tempo e
formassem o caráter, valor e normas de
conduta de um paulista indiferente do
tempo em que este se encontre. Os dois
autores atribuem ao presente e ao futuro
dos “nobres” paulistas a expectativa de
uma organização social que se iguale ao
passado glorioso dos bandeirantes, eles
projetam através desse passado “nobre e
forte” do paulistas suas intenções de
reprodução
da
organização
social,
buscando legitimar essa organização. O
passado não estaria sendo usado por eles
como somente pontos de referencias, mas
ele estaria impregnado no presente de
forma a não se dissociar presente e
passado, o paulista sempre será forte,
ousado, líder, nobre e diferenciado,
atemporalmente. O passado então pode
surgir como referencia, como duração, e
assim como processo e tendência.
Podemos chamar essa formação de um
auto-reconhecimento do ser paulistano
impregnado nessas virtudes como a
“memória coletiva”
As sociedades, assim como a
brasileira, estabelece um vinculo entre
poder e sua “memória coletiva”, essa
memória que caracteriza e da consciência
de pertencimento e identidade esta
diretamente condicionada com as forma de
poder e como este poder interage com o
passado e repassa a sociedade, pode esse
passado
ser
utilizado
como
uma
reconscientização de “valores” paulistas em
caso de rupturas drásticas e mudanças
significativas no processo histórico, onde
se perca o sentimento de comunidade ou
da referencia de identidade causando
sérios riscos às instituições de poder. Por
isso podemos perceber em casos como as
comemorações dos centenários de São
Paulo que a bibliografia por muitas vezes
retomam
os
valores
atribuídos
e
construídos por autores como Frei Gaspar
e Pedro Taques aos paulistas, uma forma
de manifestação política que a partir da
relação de poder e memória tenta trazer o
passado paulista como referencia, como
duração e como processo.
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Conquistadores e negociantes: História das
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