NT A revista da Produção Animal Nutrition for Tomorrow N˚ 02 - ano 01 Janeiro/2010 O custo dos alimentos e as escolhas dos consumidores Por que o agronegócio precisa de tecnologia para atender à demanda crescente por alimentos saudáveis, nutritivos e com custos razoáveis Jeff Simmons Elanco Saúde Animal Negócios Frans Borg Cooperativa Castrolanda Cooperativismo Alfredo Lang Cooperativa C. Vale Cooperativismo Lair Antonio de Souza Fazenda Colorado Alta gerência & empreendedorismo Ciliomar Tortola e Rogério Martini Frangos Canção Alta gerência & empreendedorismo Aviário azul e dark-house para frangos de corte Marketing, o caminho para o consumo Ambiência e conforto térmico Ponto de abate e remuneração operacional Editorial Editorial O Nutrition for Tomorrow Alliance é o resultado de uma parceria entre as principais empresas que representam os diversos elos da cadeia produtiva de proteína animal, cujo objetivo é fornecer conteúdo de relevância para garantir a sustentabilidade da pecuária brasileira. Para isso, desenvolvemos algumas ferramentas que estão disponíveis para nossos clientes: - Revista NT - Treinamentos e cursos presenciais - Palestras on-line com certificação - E-books colecionáveis Desejamos a todos vocês que 2010 seja um ano repleto de saúde e sucesso. Queremos fazer Caros amigos, Nesta edição apresentamos líderes de importantes empresas produtoras de carnes e de leite compartilhando suas opiniões e os modelos de negócio de suas empresas. Esta gente é quem está construindo a nutrição do amanhã, que vai não somente à mesa do brasileiro como também de milhões de pessoas em todo o planeta. Estes líderes entendem que sua contribuição para alimentar o mundo é produzir alimentos acessíveis, saudáveis e com sustentabilidade para o negócio de suas empresas, da cadeia produtiva e do meio ambiente. Apresentamos também na seção de negócios, um excelente artigo de Jeff Simons, o qual discorre sobre o papel das tecnologias de produção de alimentos. Este artigo mostra caminhos de como tornar a nutrição do amanhã acessível, saudável e sustentável. Finalmente, diante das polêmicas que envolvem as questões de sustentabilidade ambiental na produção de bovinos e de seu impacto no aquecimento global, trazemos um artigo que discute os trabalhos científicos que originaram esta discussão. Além disso, o artigo propõe uma agenda positiva para a indústria de produção de carne bovina, apresentando tecnologias capazes de reduzir as emissões de metano pelos ruminantes. Estas tecnologias permitirão que as empresas possam inclusive criar produtos com baixo carbon footprint (pegada de carbono) e, desta forma, aumentar o valor de seus produtos em mercados que de fato valorizam este tema. Construir a nutrição do amanhã é também interpretar as tendências e proativamente adaptar-se a elas, beneficiando o consumidor e fortalecendo toda a cadeia produtiva. parte, junto com você, da nutrição do futuro, assegurando a produção de alimentos seguros de forma sustentável, garantindo fornecimento à Adriano Marcon, presidente da Nutron Alimentos população crescente. Alessandro Roppa Comitê do NT Alliance NT 5 #2 #2 4 NT N˚ 02 I ano 01 I Janeiro/2010 Expediente Índice NT A REVISTA NT é uma publicação trimestral da Nutrition for Tomorrow Alliance, distribuída gratuitamente para a cadeia da produção animal. Comitê NT Alliance Nutron Alimentos – Alessandro Roppa Elanco Saúde Animal – Milton Serapião Novus do Brasil – Victor Walzberg Serrana Nutrição Animal – Manuela Silva Jornalista responsável: Alessandra Cavicchioli MTB 027.257 i9 Comunicações Redação: Tatiany Moccaldo Tayara Lima Projeto gráfico e diagramação: Produção Coletiva Impressão: Citygráfica Tiragem: Negócios 08 I O custo dos alimentos e as escolhas dos consumidores Tuffi Bichara Contato: [email protected] Todas as bibliografias podem ser acessadas no site: www.nutron.com.br risco nas empresas Étore Baroni Neto Carvalho Sabrina Coneglian Suínos 46I Fumonisinas - Diagnósticos e controle na suinocultura Wanderson Paulino Nutrição responsável 52 I Redução da pegada de carbono da produção de carne bovina 5 I Editorial 24 I Negócios - Balanço do setor em 2009 Nutrition for Tomorrow Alliance é um projeto, desenvolvido e administrado pela Nutron Alimentos, que reúne empresas do setor da produção animal, concentrando o melhor capital humano e fornecendo conteúdo técnico para gerar e fortalecer a sustentabilidade dos clientes. A REVISTA NT é uma publicação dirigida a produtores, empresários, técnicos, pesquisadores e colaboradores ligados à cadeia de produção animal. Os artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da revista. Não é permitida a reprodução parcial ou total das reportagens e dos artigos publicados sem autorização. Bovino de leite 30 I Ambiência e conforto térmico em bovinos de leite 36 I Influência da nutrição na qualidade do leite Jeff Simmons Aves 42 I Aviário azul e dark house para frangos de corte 15 mil exemplares Gestão 20 I A atual volatilidade de preço e gerenciamento de 74 I Cooperativismo - Castrolanda __ Ideias somadas e gestão profissionalizada - C. Vale __ Fórmula que dá certo 80 I Alta gerência & empreendedorismo - Leites Xandô - Sucesso planejado - Frangos Canção - Crescimento acelerado sustentável 86 I Curtas 92 I Agenda Bovinos de corte 58 I Ponto de abate e remuneração operacional 66 I Marketing o caminho para o consumo Danilo Grandini, Hudson Castro e Pedro Terencio NT 7 #2 #2 6 NT Negócios s o d o t s O cu s a e s o aliment s o d s a escolh s e r o d i consum Hoje há aproximadamente um bilhão de pessoas no mundo que passam fome. Contudo, em apenas 50 anos estima-se que nossa população global em crescimento requererá 100% mais de alimentos do que se produz hoje. Infelizmente, não teremos 100% mais área agricultável de alta qualidade disponível para produzirmos o dobro de grãos ou duas vezes mais animais para produção de alimentos. A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) relata que o aumento de área em produção agropecuária permitirá a produção de apenas 20% da quantidade de alimentos adicional que será demandada em 2050, e que 10% virá do aumento de intensidade na atividade agrícola. Coerentemente, a FAO conclui que 70% da demanda adicional por alimentos poderá ser produzida apenas com as tecnologias agropecuárias novas ou já existentes. As consequências da não utilização dessas tecnologias e inovações baseadas em ciência serão desastrosas. Os produtores de alimentos em países industrializados e em desenvolvimento precisam igualmente de tecnologia para garantir o fornecimento de grãos e proteínas de origem animal seguros, nutritivos e a custos razoáveis, de maneira sustentável, a fim de satisfazer o veloz aumento de demanda. Por esse motivo, e vários outros, todos compartilhamos a responsabilidade de assegurar que as novas tecnologias agropecuárias – assim como aquelas que foram comprovadas como seguras e efetivas durante décadas – continuem disponíveis. Por que o agronegócio precisa de tecnologia para atender à demanda crescente por alimentos saudáveis, nutritivos e com custos razoáveis Jeff Simmons presidente da Elanco Saúde Animal 50 anos, a Em população mundial demandará 100% mais alimentos, e 70% desses alimentos deverão vir de tecnologias que aumentem a produtividade Resumo • A ONU (Organização das Nações Unidas) prevê que a população mundial atingirá mais de 9 bilhões de pessoas até a metade do século e clamou pelo aumento em 100% na produção mundial de alimentos até 2050. De acordo com a ONU, essa demanda pelo dobro dos alimentos deve ser produzida virtualmente pela mesma área que hoje já é utilizada para produção agropecuária. • A FAO afirma que 70% desse fornecimento adicional de alimentos deverá vir do uso de tecnologias que melhorem a eficiência da produção. • Impulsionada pela eficiência na produção de alimentos, a agricultura pode conquistar uma “vitória máxima” para consumidores em todo o mundo – custos razoáveis, disponibilidade, segurança dos alimentos, sustentabilidade e fornecimento abundante de grãos para biocombustíveis. Três conceitos-chave − colaboração, escolha e tecnologia – emergem como o caminho para esse sucesso. NT 9 #2 #2 8 NT Alguns argumentam que isso já ocorreu. Em dezembro de 2008, aproximadamente 963 milhões de pessoas em todo o mundo não conseguiam se alimentar de maneira adequada. Aproximadamente 42% das pessoas que sofrem de fome crônica vivem em duas das regiões mais populosas das nações em desenvolvimento: Índia e China. Devido à má nutrição, uma em cada quatro crianças nas nações de “Segundo e Terceiro Mundo” (M2 e M3) estão abaixo do peso para sua idade. Essa é uma situação inaceitável nos dias atuais e exigirá uma nova abordagem na produção de alimentos para evitar um cenário ainda pior nas próximas décadas. Isso ocorre porque espera-se que a demanda global por alimentos aumente em 100% até 2050. Consequentemente, a FAO projeta que a produção global de carnes e proteínas derivadas do leite vai praticamente dobrar até 2050. Esse aumento na demanda global será impulsionado por um constante incremento no crescimento da população atual: de 6,7 bilhões de pessoas para mais de 9 bilhões no meio do século 21. Esse acréscimo populacional será caracterizado pelo aumento na riqueza, particularmente nas nações do chamado “Segundo Mundo”, o que criará a maior ampliação no consumo global de carnes e produtos lácteos da história. Muito desse aumento ocorre concomitantemente a uma melhoria nos padrões de vida das nações em desenvolvimento, em que mais pessoas podem custear a troca de grãos de baixo custo em sua dieta diária por fontes de proteína de maior valor. A China é um grande exemplo dessa tendência. Comparada às outras nações do grupo M2, como a Índia, a China teve mais progressos na redução da fome em sua população em expansão. Em 1985, o consumo de carne na China era de aproximadamente 20 Kg por habitante por ano. Em 2000, essa quantidade havia aumentado para 41 Kg per capita anualmente, valor que, estima-se, mais do que duplicará novamente até 2030. Alimentando nossos 3 “mundos” 10% virá da intensificação da agricultura (obter mais colheitas por ano de cada hectare). No que tange ao aumento da produção, há boas notícias. Durante a última metade do século 20, a produtividade agropecuária em muitas nações do grupo M1 se expandiu a taxas fenomenais. Por exemplo, a produção média de milho nos Estados Unidos aumentou de 2,45 toneladas por hectare para 9,61 toneladas por hectare (Fig. 1). Além Por quê? Porque, segundo o Serviço de Pesquisa Econômica do USDA (ERS), o desenvolvimento de novas tecnologias agropecuárias – incluindo avanços em genética, nutrição, controle de doenças e pestes e manejo de rebanhos – foi importante fator nessas melhorias de produtividade do século 20.14,15 Refinar essas tecnologias, e descobrir novas, será crítico para nosso sucesso em expandir a melhoria da produtividade neste século. Quanto à otimização do uso da terra para a agricultura nas próximas décadas, porém, as notícias não são tão encorajadoras. As razões para isso são múltiplas e complexas, mas duas delas são de importância primordial. Primeiramente, há a crescente necessidade de se balancear o uso de terras com fins agropecuários com o dever de minimizar o impacto da agricultura no cenário global – particularmente no que tange às emissões de gases de efeito estufa, degradação do solo e proteção de recursos escassos como a água. Poucos argumentariam contra a premente necessidade de utilizar-se apenas aquelas tecnologias agropecuárias que tenham impacto neutro ou positivo em nosso meio ambiente. Fazer o contrário é o mesmo que sacrificar nossa sobrevivência de longo prazo em favor de ganhos em curto prazo. A segunda razão envolve a conflitante pressão para realocar o uso de terras hoje utilizadas para a agricultura voltada à produção de alimentos para a agricultura geradora de grãos para produção de biocombustíveis. Responder a esses desafios adicionais com sucesso – proteger o meio ambiente e balancear as necessidades mundiais por energia e água – requererá uma abordagem complexa e multifacetada. Por ora, independentemente de como respondamos a esses desafios, ambos inevitavelmente afetarão o custo dos alimentos nas nações dos grupos M1, M2 e M3 da mesma maneira. Figura 1 - Produtividade de milho por hectare nos EUA: 1950-2000 (Dados do Serviço de Pesquisa Econômica do USDA) 12 9 6 3 2,45 { 9,61 Produtividade aumentou 292% em apenas 50 anos 0 1950 2000 O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) designa as novas tecnologias como “fatores primordiais” para as melhorias na produtividade agropecuária, tais como o aumento de 292% na produtividade de milho de 1950 a 2000. Economistas classificam nosso mundo em três grupos socioeconômicos: (M1) Primeiro Mundo (M1): Nações ricas, industrializadas, e regiões incluindo os Estados Unidos, Europa ocidental, Japão, Coreia do Sul e Austrália. População total estimada (2008): < 1 bilhão. (M3) Segundo Mundo (M2): Nações onde o principal desafio é o balanço dos recursos e das necessidades, incluindo a China, Índia, Leste Europeu e América Latina. População total estimada (2008): 3-4 bilhões. (M2) Terceiro Mundo (M3): Nações que estão constantemente em situação difícil, como Bangladesh, Haiti e a maior parte da África. População total estimada (2008): 1-2 bilhões. disso, uma comparação da produção rural dos Estados Unidos de 1948 a 1994 mostra substancial aumento de produtividade para todas as atividades pecuárias e de produção de grãos, incluindo um aumento de 88% na produção de carnes e de 411% na produção de ovos e frango. Combinadas, essas melhorias resultaram em um aumento de 145% no Fator Total de Produtividade (FTP )* para a indústria agropecuária dos EUA (Fig. 2). Isso nos deve dar motivos suficientes para acreditar que podemos atender à crescente demanda mundial por alimentos. Estimativas populacionais utilizadas para o gráfico: M1 = 0,9 bilhão, M2 = 3,8 bilhões e M3 = 1,8 bilhão Coincidindo com o aumento na demanda por proteína animal, há a realidade das crescentes restrições dos recursos naturais esgotáveis, sendo a terra um fator essencial limitante. Com base nas projeções da FAO, 13% a mais de terra nos países em desenvolvimento serão convertidos para uso agropecuário nos próximos 30 anos. No âmbito #2 10 NT global, isso representa um aumento líquido de terras agricultáveis disponíveis de apenas 1% dos 39% de área de terra globalmente utilizados em 2008, para um total de 40%. Essa expansão de terras contribuirá com apenas 20% do aumento futuro na produção de alimentos. De acordo com as Nações Unidas, 70% do aumento na produção de alimentos precisará vir da intensificação do uso de novas ou atuais tecnologias melhoradoras de rendimento. Aproximadamente Mudanças na produção agropecuária (1948=100) Terra: o recurso esgotado Figura 2 - Produção e produtividade dos EUA: 1948 - 1994 (Dados do Serviço de Pesquisa Econômica do USDA) 600 511 1948 1994 500 Mudanças em tecnologia auxiliaram a mais do que duplicar a produção de produtos pecuários e agrícolas durante a segunda metade do século passado. Aumentos na produção resultam em um incremento de 145 pontos percentuais no “Fator Total de Produtividade” (FTP ) para a agricultura dos Estados Unidos. 400 300 200 100 132 213 188 250 245 0 Produtos lácteos Carnes Frango e ovos Todos os produtos pecuários Todas as culturas agrícolas Fator Total de Produtividade* Tendo a produção agropecuária mais do que dobrado em 1994 em comparação a 1948, o Fator Total de Produtividade (FTP) para a agricultura dos Estados Unidos durante a última metade do século 20 melhorou em aproximadamente 150%. De acordo com o USDA, essa diferença em FTP resultou de fatores que incluem as mudanças em tecnologia, eficiência e escala de produção. *Em geral, a taxa de produtividade é mais comumente expressa como Fator Total de Produtividade (FTP), uma relação entre produção e insumos (ambos medidos como um índice). O FTP identifica o crescimento em produção não contabilizado pelo crescimento nos insumos de produção. NT 11 #2 O crescimento populacional será maior que nossa habilidade de atender à demanda de alimentos? Um consenso crescente: o desafio de alimentar o mundo. Grãos para alimentos ou grãos para combustíveis: podemos ter ambos? O que alguns especialistas têm a dizer: “A ciência e a tecnologia devem estimular a produção agrícola nos próximos 30 anos a um ritmo mais rápido do que a O USDA projeta que, aproximadamente, um terço da produção de milho norte-americana em 2009 será convertida em etanol. Ainda assim, esta nova tecnologia criada para revolucionar a produção de energia, também produziu debates a nível mundial, sobre os prós e contras da utilização de terras agrícolas para a produção de combustíveis em detrimento à produção de alimentos. Considere: quando a produção estadunidense de etanol começou a aumentar em 2005, o milho custava menos de dois dólares norte-americanos por bushel (o equivalente a 25,4 Kg). Em um prazo de dois anos, o valor havia dobrado para 4 dólares e, um ano mais tarde, teve um pico de quase 8 dólares por bushel, resultando em significativa pressão na indústria alimentar. Podemos produzir alimentos suficientes para alimentar o mundo enquanto ajudamos os Estados Unidos e o mundo a atingir um maior nível de independência energética? Se a história pode orientar-nos, a resposta é sim, mas apenas à medida que continuemos a investir na tecnologia necessária para fazer a produção de etanol, produção de grãos e de alimentos ainda mais eficiente. Revolução Verde o fez durante as três últimas décadas.” Dr. Jacques Diouf, diretor-geral, FAO “Políticas visando proteger os pobres do aumento do preço dos alimentos são urgentes e precisam ser desenhadas de maneira a conduzir o estímulo a uma produtividade agropecuária ainda maior no longo prazo.” Dan Leipziger, vice-presidente do Banco Mundial para a redução da pobreza e gerenciamento econômico “Tudo bem com as hortas de quintal. O mesmo vale para os orgânicos... Mas as soluções para a crise global dos alimentos virão dos grandes negócios, lavouras geneticamente modificadas e fazendas de grande escala.” Jason Clay, WWF (World Wildlife Fund) Com respeito ao fornecimento mundial de alimentos, o que pensa o cidadão médio? Ele ou ela se preocupa diariamente com a segurança dos alimentos, tecnologias e métodos agropecuários? Especialistas continuam a debater a resposta para essa pergunta. Por outro lado, o medo das contaminações alimentares – como aquelas envolvendo leite da China, pimenta do México, carne de algum abatedouro norte-americano e produtos derivados de amendoim da Geórgia – criaram compreensíveis preocupações nos consumidores sobre a segurança do suprimento mundial de alimentos. % de consumidores ditando esta preocupação Figura 3 - Preocupações dos consumidores quanto à segurança dos alimentos 50 50 40 29 30 20 13 7 10 1 0 Doenças Manuseio Origem dos Produção Biotecnologia Contaminação Preparo alimentos agropecuária Apesar da pesquisa mostrar que a maioria dos consumidores não está particularmente preocupada com a segurança dos alimentos, quando solicitados a compartilhar preocupações em potencial 50% deles citam doenças de contaminação. Em contraste, apenas 1% cita a biotecnologia como uma preocupação de segurança dos alimentos. #2 12 NT De outra forma, uma pesquisa realizada em 2008 pelo Conselho Internacional de Informações sobre Alimentos (IFC - International Food Information Council) revelou que quando os consumidores são questionados sobre preocupações específicas quanto aos alimentos, metade considera que “doença e contaminação” estão no topo da lista. Não obstante, apenas 7% relataram preocupar-se com os métodos de produção agropecuários, e 1% citou a biotecnologia como uma preocupação primordial (Figura 3). A pesquisa também demonstra que a maioria das pessoas não está excessivamente preocupada com a segurança dos alimentos, tampouco com as modernas tecnologias de produção agropecuárias. Pesquisas norte-americanas e internacionais, envolvendo um total de 45 gruposfoco, conduzidas em 2001, 2004 e 2008 – incluindo uma pesquisa quantitativa de 741 americanos feita em 2008 –, revelaram que a maioria dos consumidores (aproximadamente 70% em 2008) supõe que a carne e o frango que compram são seguros. A pesquisa também demonstrou que os consumidores preocupam-se pouco com a origem da carne adquirida. E apenas 17% dos consumidores pesquisados em 2008 expressaram um forte interesse em conhecer as modernas técnicas de produção de animais produtores de alimentos, ao passo que aproximadamente 60% tinha pouco ou nenhum interesse, preferindo, em vez disso, confiar na cadeia de produção de alimentos para assegurar que os alimentos que consomem é seguro. Em quem os consumidores acreditam mais para garantir a segurança dos alimentos baseada em ciência? Talvez, não surpreendentemente, seja nos produtores de alimentos – aqueles que utilizam as modernas tecnologias para ajudá-los a produzir alimentos de produtos geneticamente modificados como uma maneira segura e eficiente. É interessante observar preocupação primordial sobre os alimentos. que os consumidores confiam nos produtores para Além do mais, na União Europeia – uma região ajudar a manter a segurança dos alimentos em grau do mundo que tipicamente é líder em produção muito maior do que acreditam grupos de interesse orgânica – poucos consumidores evitam de fato especial (Fig. 4). os alimentos geneticamente modificados quando Proteger a confiança e o crédito que os fazem compras. Na realidade, independentemente consumidores colocam na do que os consumidores cadeia de produção dos declarem sobre os alimentos A produção alimentos é vital. Apesar de a geneticamente modificados em agropecuária em confiança dos consumidores pesquisas de opinião, a grande 2050 ocupará apenas permanecer relativamente forte, maioria prontamente consome os aproximadamente 1% as pesquisas mostram que ela poucos alimentos geneticamente 17 de terra a mais do que é está reduzindo-se levemente. modificados disponíveis sem Recalls de alimentos de alto hesitação aparente. É digno de utilizado em 2008. padrão ajudaram a abalar essa nota, porém, que a demanda confiança. Mas será que o surgimento de alimentos global por produtos orgânicos continue a crescer. geneticamente modificados também tem sua Mundialmente, as vendas de produtos orgânicos parcela de culpa? Provavelmente não. dobraram de 2000 a 2006, sendo que a União As pesquisas revelam que, a menos que Europeia emergiu como um dos três principais seja sugerido, consumidores não colocam os mercados de importação para esses produtos. Figura 4 - Em quem os consumidores mais confiam para garantir a segurança dos alimentos? (1 = Confiam menos, 10 = Confiam mais) 4,83 Grupos de interesse especial Agências regulatórias federais 5,07 Agências regulatórias estaduais 5,08 Companhias de alimentos/Processadores 5,33 5,66 Restaurantes 5,96 Lojas de produtos hortifrutigranjeiros Fazendeiros/Produtores 1 2 3 6,56 4 5 6 7 No que tange à garantia da segurança dos alimentos, os consumidores depositam maior confiança nos fazendeiros e produtores de alimentos. NT 13 #2 A perspectiva dos consumidores Em 2003, um grupo de pesquisadores denominado Centro de Excelência Competitiva foi formado para avaliar uma série de desafios. Um deles era analisar a indústria da carne europeia e estratégias de desenvolvimento para melhorar sua posição competitiva dentro da Europa e no mercado global. Pesquisas e painéis de discussão realizados por especialistas em agropecuária altamente respeitados, veterinários e produtores de alimentos de toda a Europa foram conduzidos pelo Centro. Três percepções emergiram: 1. A existência de um órgão regulador, de credibilidade, que demonstre autoridade. O modelo para isso é o U.S. Food and Drug Administration (FDA), um órgão regulador que, apesar de algumas críticas, permanece uma autoridade altamente respeitada pelos consumidores nos Estados Unidos e no resto do mundo. Uma autoridade centralizada como o FDA ajuda a manter a confiança dos consumidores – algo que os europeus reconhecem e de que necessitaram quando lidaram com contaminações alimentares e problemas de sanidade animal. Finalmente, eles criaram órgãos centralizados para a União Europeia, como o FVO - Food and Veterinary Office (Escritório Veterinário e de Alimentos) e a EFSA - European Food Safety Authority (Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos). 2. Permitir a continuidade do uso de tecnologias aprovadas e de modernas práticas agropecuárias. Por exemplo, fazendeiros do Reino Unido aprenderam na década de 90 que reescrever leis para apaziguar os interesses políticos de minorias engajadas é uma receita para o desastre econômico. Uma década após ceder às pressões para banir (ou não aprovar) os hormônios de crescimento, produtos biotecnológicos, OGMs (organismos geneticamente modificados) e certas práticas produtivas, o Reino Unido transformou-se de um líder global competitivo em um produtor doméstico de alto custo, baixa produtividade que hoje depende das importações de frango e carne bovina para atender às demandas dos consumidores. 3. Produtores de alimentos devem evitar “a diferenciação pelo negativo”. Rotular alimentos com alegações negativas como SEM aditivos, SEM isso, SEM aquilo, etc., resulta numa competição cara entre produtores de alimentos para ganhar nos atributos negativos “SEM”, além de confundir os consumidores que não entendem, desejam ou preferem esses tipos de alimentos. Além disso, essa prática pode criar medos infundados nos consumidores de que os produtos sem tais alegações sejam menos seguros, quando, na realidade, eles podem até mesmo ser mais seguros para o consumo. De qualquer maneira, é o consumidor que deve tomar a decisão final sobre quais produtos adquirir. #2 14 NT consumidores, particularmente para aqueles em países ricos (países do grupo M1), onde a despesa com os alimentos consome apenas 10% da renda média. Isso inclui consumidores que preferem alimentos produzidos de maneira orgânica, em outras palavras, sem pouco uso Se a maioria dos consumidores confia que (ou nenhum) de modernas tecnologias e ferramentas os alimentos que consome são seguros e aceita agropecuárias. A produção orgânica de alimentos, alimentos geneticamente modificados com porém, tipicamente demanda mais recursos e produz poucas inquietações, então com o que eles se menos alimentos − o que, no momento atual, tornapreocupam? Quando perguntados abertamente se uma solução questionável para atender à crescente sobre o que mais desejam em seus alimentos, demanda global por alimentos. À medida que nos consumidores consistentemente preparamos para adentrar a dizem que desejam produtos Pesquisas recentes nos segunda década do século, de alta qualidade e com custos a maioria dos alimentos Estados Unidos, Reino Unido, razoáveis. Como exemplo, um orgânicos permanece um Alemanha, Argentina e China recente levantamento nos Estados luxo de alto custo ao qual demonstraram que sabor, Unidos, Reino Unido, Alemanha, três quartos da população qualidade e preço eram as Argentina e China revelou que o mundial não têm acesso, principais considerações sabor, qualidade e preço estavam particularmente em países entre as principais considerações feitas no momento da escolha. em desenvolvimento, feitas quando da escolha dos onde os custos com a alimentos. alimentação consomem mais de 50% da renda média. Custos razoáveis continuam a ser o fator mais Obviamente, consumidores que desejam adquirir relevante, à medida que a economia global permanece produtos orgânicos – o que auxilia a indústria de em um estado de elevada volatilidade. De acordo com alimentos a satisfazer a demanda e capturar mais uma pesquisa de outubro de 2008 realizada pelo Centro valor – merecem essa escolha. Do mesmo modo, de Integridade dos Alimentos (Center for Food Integrity), consumidores que desejam ter abundância de 60% dos respondentes estão mais preocupados com alimentos produzidos eficientemente, com alta os preços dos alimentos do que estavam apenas qualidade e custos razoáveis, também merecem essa um ano antes da pesquisa − “o mais alto nível de oportunidade. Todas as preferências dos consumidores preocupação... desde a Segunda Guerra Mundial” de podem e devem ser protegidas. Sobretudo os acordo com o CEO do Centro, Charlie Arnot. subnutridos das nações em desenvolvimento, que estão melhorando suas dietas pelo aumento de consumo de proteínas de origem animal, merecem Os consumidores desejam ter alimentos a custos acessíveis, que possam ser escolhas produzidos com tecnologias agropecuárias cuidadosamente monitoradas, que aumentem a Naturalmente, a possibilidade de ter recursos eficiência de produção. para adquirir alimentos importa menos para alguns Figura 5 - Entendimento dos consumidores de que fornecimento de alimentos hoje é mais seguro do que era durante sua infância 14 36 50 Baixo nível de concordância Médio nível de concordância Alto nível de concordância Figura 6 - Preocupação dos consumidores acerca do preço dos alimentos 4 36 60 Baixo nível de concordância Nível de concordância ambivalente Alto nível de concordância Sessenta e quatro por cento dos americanos acreditam que o fornecimento de alimentos atual é ainda mais seguro do que era quando eles eram jovens; 60%, entretanto, expressa alto nível de preocupação com o custo dos alimentos. NT 15 #2 Lições do Centro Europeu de Excelência Competitiva Os consumidores desejam alimentos de alta qualidade e com custos razoáveis atender à demanda global por alimentos e para proporcionar escolhas aos consumidores? Há uma ampla variedade de respostas para essa questão e listamos aqui três das mais importantes: 1. A tecnologia permite aos produtores de alimentos fornecer mais grãos e fontes de proteína de alta qualidade, usando menos recursos. #2 16 NT 2. A tecnologia pode auxiliar na manutenção de preços adequados dos alimentos ao mesmo tempo que assegura a máxima opção de escolhas aos consumidores – especialmente nas nações em desenvolvimento. Os alimentos orgânicos são uma opção adequada para aqueles que podem dispor de recursos suficientes para pagar um preço maior por eles. De acordo com os pesquisadores do USDA, o aumento de preços destes produtos pode ser em média de 100% ou mais para os vegetais, 200% a os representantes institucionais na cadeia global mais para frango e aproximadamente 300% a mais dos alimentos. para ovos. Em uma escala global, porém, a maioria 3. A tecnologia pode ajudar a minimizar os dos consumidores não pode arcar com esses custos impactos ambientais globais do aumento da aumentados e demanda, em vez disso, escolhas produção de alimentos. alimentares mais baratas. O uso das modernas técnicas de produção e É digno de nota que nem todos os métodos de tecnologias não apenas auxilia na produção de mais produção orgânica são menos eficientes e fornecem proteínas de alto valor a partir de menos terras em alimentos que, invariavelmente, custem mais. De produção, mas também tem um impacto líquido mais acordo com um relatório da FAO, em alguns países, positivo no ambiente. Para exemplificar, o que os sistemas orgânicos bem estruturados podem fornecer produtores hoje chamam de técnicas de produção produção e lucros maiores do que os sistemas “convencionais” (isto é, modernas) pode na realidatradicionais. Em Madagascar, por exemplo, os de reduzir as emissões de gases de efeito estufa por fazendeiros aumentaram a produtividade do arroz quilograma de carne produzida (aproximadamente em quatro vezes por intermédio do uso melhorado de meio quilo) em 38%, comparado a um sistema de práticas de manejo orgânico. Na Bolívia, Índia e Quênia, produção “todo natural” (Figura 7). os fazendeiros demonstraram Além do mais, a tecnologia que a produção pode dobrar ou A tecnologia pode ajudar pode ajudar a reduzir a triplicar em relação às práticas significativamente na redução produção de efluentes de tradicionais. origem animal que ameaçam Todavia, o relatório também da produção de efluentes reconhece a necessidade de animais que ameacem fontes as fontes de água em nações mais pesquisas para resolver os vitais de água em países em em desenvolvimento cujos padrões e tecnologias problemas técnicos enfrentados desenvolvimento onde modernas de controle pelos produtores orgânicos, e os padrões e tecnologias de poluição não estão sugere que a agricultura orgânica modernas de controle atualmente em uso. Exemplo possa se tornar uma alternativa de poluição não estão objetivo: o uso de um aditivo realista à agricultura tradicional alimentar aprovado pelo FDA atualmente em uso nos próximos 30 anos, porém para suínos pode reduzir apenas localmente. a produção de dejetos em 8%. Sua utilização na Ainda assim, dada a magnitude da crise de alimentação de todos os cachaços abatidos nos alimentos com a qual o mundo se confrontará nas Estados Unidos em 2002 teria reduzido a produção próximas décadas, os esforços para maximizar as anual de dejetos suínos em mais de 13 bilhões de escolhas e concretizar altas eficiências produtivas (e litros – ou o suficiente para encher 5.600 piscinas de menores custos) para todos os alimentos – incluindo tamanho olímpico. os produtos orgânicos – merecem o apoio de todos Figura 7 - Emissão total de gases de efeito estufa por Kg de carne bovina (exclui NOx - outros óxidos de base nitrogenada) 6 5 4 3 2 Gado alimentado com grãos emite 38% menos gases de efeito estufa do que gado alimentado a pasto 3,12 { 5,02 3,57 Criação convencional com grãos Criação natural com grãos Criação orgânica a pasto 1 0 Os métodos convencionais de produção auxiliam na redução total da emissão de gases de efeito estufa comparados aos métodos orgânicos. NT 17 #2 Ironicamente, aqueles que acreditam que práticas agropecuárias “naturais” (por exemplo, as realizadas antes de 1950) eram superiores às utilizadas atualmente não poderiam estar mais enganados. Por exemplo, os produtores de gado atualmente usam A questão sobre como os alimentos são produzidos uma combinação de modernas práticas alimentares tornou-se ainda mais relevante em 2008, quando o e aditivos alimentares melhoradores de performance. mundo todo assistiu a uma pressão na aceleração da Essas modernas tecnologias permitem aos pecuaprodução de alimentos como nunca antes vista. De ristas produzir carne utilizando dois terços de terra acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a menos do que utilizariam para produzir a mesma os preços mundiais das commodities alimentares quantidade de carne em um sistema de produção cresceram mais de 75% do início de 2006 até julho “todo natural” baseado apenas na alimentação a de 2008.23 É claro que qualquer aumento nos preços pasto. Além disso, podemos atualmente produzir dos grãos inevitavelmente provoca aumento nos pelo menos 58% a mais de leite com 64% menos custos das carnes, ovos e produtos lácteos, já que vacas do que os produtores de leite tinham condições os grãos são utilizados na alimentação animal. de produzir em 1944. Os pesquisadores também Ainda que esses aumentos descobriram que o uso sejam apenas dolorosos nacional de um aditivo “O alto preço dos alimentos nos países industrializados alimentar aprovado para não está causando apenas uma (M1), nas nações pobres o suínos pelo FDA (Food crise humanitária, mas também mais modesto incremento and Drug Administration) colocando em risco o potencial no preço dos gêneros pode permitir aos Estados de desenvolvimento de milhões alimentares pode significar a Unidos manter o mesmo de pessoas.” – Josette Sheeran, diferença entre a subsistência nível de produção de suínos Programa Mundial de Alimentos e a fome. Josette Sheeran, utilizando 11 milhões de diretora do Programa Mundial cachaços a menos. Isso de Alimentos, relata que de 2002 a 2007 os custos de também reduziria a demanda de terra utilizada na aquisição de alimentos básicos para seu programa produção de grãos para alimentação dos suínos em aumentaram em 50% - e então aumentaram 50% a mais 809.400 mil hectares. mais apenas um ano mais tarde. Como consequência Similarmente, para cada milhão de vacas desse aumento de preços nunca antes visto, Sheeran manejadas com outra tecnologia amplamente adverte que “o alto preço dos alimentos não está utilizada, o mundo economiza 2,25 milhões de apenas causando uma crise humanitária, mas também toneladas de alimentos que demandariam 218.530 colocando em risco o desenvolvimento potencial de hectares de terra para serem produzidos. Esse milhões de pessoas”. aumento de eficiência economiza energia suficiente O desafio de auxiliar esses milhões de pessoas exige para abastecer 15 mil residências e pode reduzir que perguntemos a nós mesmos: podemos nos dar ao substancialmente o preço do leite. luxo de não utilizar essas tecnologias disponíveis para A tecnologia também teve um papel importante produzir alimentos tão eficientemente quanto for possível? na indústria do frango, que testemunhou um aumento de quatro a seis vezes no peso do abate de frango de corte desde 1957. Os pesquisadores atribuem esse Por que a tecnologia é uma aumento à cuidadosa seleção genética e melhoria na ferramenta tão importante para nutrição. Kg de CO2 equivalente O alto preço dos alimentos agravará a crise global dos alimentos Conclusões 1. A indústria global dos alimentos demanda tecnologia. Sem avanços na tecnologia agropecuária, a humanidade provavelmente não teria progredido no século 20 sem grandes crises de fome ou guerras (que teriam um efeito devastador) motivadas pelos alimentos. Será que estaremos aptos a dizer o mesmo ao final deste século, dado que uma crise alimentar já se iniciou? Acredito que a resposta é sim, porque concordo com a FAO que 70% desses alimentos precisam vir do uso de tecnologias e métodos novos ou já existentes. E essas tecnologias e métodos não devem ter efeitos negativos sobre o meio ambiente, bem-estar animal ou segurança dos alimentos. 2. Os consumidores merecem a mais ampla variedade possível de escolhas alimentares seguras e a custos razoáveis. Em geral, os consumidores acreditam nos produtores de alimentos para a manutenção do fornecimento de alimentos seguros e estão mais preocupados com contaminações alimentares do que com a tecnologia utilizada na fazenda. Em vez disso, uma das principais preocupações das pessoas é com a possibilidade de ter recursos para adquirir os alimentos. Por esse motivo, os consumidores de todas as classes sociais e geografias − desde aqueles que podem pagar por alimentos orgânicos até os que lutam para manter uma dieta alimentar suficiente para a sobrevivência – devem ter a possibilidade de escolher dentre uma abundância de alimentos seguros, nutritivos e, mais importante, com custos adequados a suas possibilidades de consumo. 3. O sistema de produção de alimentos pode atenuar o desafio dos custos dos alimentos e possibilitar uma “vitória máxima”. Defrontado com uma crise global de alimentos, o mundo estará em risco no meio deste século. Será que nós já podemos reconhecer os sinais? Nossa população #2 18 NT consumiu mais grãos do que se produziu durante sete dos últimos oito anos. A boa notícia: uma “vitória máxima” ainda é possível. Com o que ela se parecerá? Cinco principais conquistas marcarão seu sucesso: 1. Aumentar o fornecimento de alimentos pelo uso de novas e já existentes tecnologias e ótimas práticas produtivas. 2. Aumentar o fornecimento de alimentos instituindo-se amplamente maior grau de cooperação em toda a cadeia global dos alimentos. 3. Garantir a segurança dos alimentos com uma combinação de tecnologia, sistemas e padrões de alta qualidade, aliados ao melhor nível de colaboração global. 4. Incrementar a sustentabilidade por intermédio de um sistema produtivo altamente eficiente que simultaneamente proteja o meio ambiente com o uso sensível e eficiente dos recursos naturais. 5. Produzir mais biocombustíveis para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis enquanto não é gerado nenhum efeito negativo na disponibilidade mundial de alimentos. Em resumo, três conceitos-chave − colaboração, escolha e tecnologia – emergem como caminho para o sucesso. Eles não apenas indicarão o caminho, mas também serão pré-requisitos necessários para uma “vitória máxima” no desafio dos custos dos alimentos. nutron Jeff Simmons é o presidente da Elanco Saúde Animal, a divisão de saúde animal da Eli Lilly and Company. Jeff é membro do Comitê Executivo do Animal Health Institute – AHI (Instituto de Saúde Animal) e atua no Conselho de Diretores tanto da AHI quanto da International Federation for Animal Health – IFAH (Federação Internacional para a Saúde Animal). Ele também é membro do comitê da Harvard Business School’s Private and Public, Scientific, Academic, and Consumer Food Policy Group (PAPSAC ) e chairman de 2009 da FFA Foundation Board. Jeff é bacharelado em Economia Agrícola e Marketing pela Cornell University. Vacas mais sauDáVeis No pré e pós-parto Geralmente as três últimas semanas de gestação e as três primeiras semanas após o parto são o período mais crítico do ciclo de produção da vaca leiteira. Isto ocorre por conta de uma queda vertiginosa no consumo, o que pode resultar em complicações de diferentes tipos para o animal, tais como cetose, deslocamento de abomaso, retenção de placenta, metrite, etc. Para evitar problemas como estes, utilize Nutron Drench logo após o parto. Nutron Drench: - hidrata o animal; - repõe eletrólitos perdidos no momento do parto; - fornece energia (propilenoglicol). Gestão Imagine que você opera em um mercado no qual o volume de informação é quase nenhum ou muito inferior ao atual, sem telefone, internet, wireless, telefone celular, e-mails ou Google, muito menos um parâmetro de preços atuais ou preços futuros para comprar ou vender qualquer commodity. Se não conseguir imaginar, agradeça à grande revolução tecnológica e ao aprimoramento dos mercados financeiros ocorridos nas últimas décadas, que facilitam, e muito, a vida de todos nós. Porém, antes que fosse inventado um instrumento de negociação (Bolsas), produtores e consumidores de produtos agrícolas tinham preços totalmente desconhecidos por conta das incertezas e, na falta de parâmetros de preço, era impossível controlar a negociação, devido aos parcos recursos disponíveis e ao escasso conhecimento na época. Essa ausência de parâmetros deixava o mercado sem direção no momento da safra, quando os agricultores tinham situações de preço abaixo dos custos e, algumas vezes, jogavam produtos fora, devido à baixa rentabilidade e à falta de estrutura de armazenagem. No momento da entressafra, era a vez do consumidor sofrer, tendo que pagar preços altíssimos para não ter sua linha de produção interrompida por falta de produto. A necessidade de conhecer o preço e seus riscos de variação eram fatores importantes sobre os quais não se tinha controle na época, deixando todos os participantes sem qualquer parâmetro para a tomada de decisão antecipada no mercado. A existência de riscos levou exatamente à criação dos contratos futuros. Étore Baroni Consultor em Gerenciamento de Riscos – FCStone do Brasil A atual volatilidade de preço e gerenciamento de risco nas empresas Em 1848, em uma reunião, 82 homens discutiram o preço justo do mercado e a instabilidade dos preços. Foi estabelecido um padrão, de acordo com o qual os preços seriam definidos por consenso entre compradores e vendedores de contratos. Em 1865, foi criada a CBOT – Chicago Board of Trade −, em que era possível realizar negociações de compra e venda de produtos agrícolas no mercado spot (mercado à vista) e também no mercado futuro. A partir daquele momento, compradores e vendedores definiam o preço justo do mercado para seus produtos, podendo comprar ou vender contratos futuros para entrega ou recebimento com prazos, datas e especificações predefinidos. Operações e controles foram aprimorados de acordo com as necessidades, tais como a criação do mercado de derivativos. Nesse momento, foi criada uma das maiores e mais importantes bolsas de mercadorias em negociações no mundo. Com o aprimoramento dos mercados, foram criadas as opções − um importante instrumento de operações utilizado no mercado de bolsa −, uma vez que dão flexibilidade e garantem um piso ou teto de preço, pagando um prêmio por isso e ainda participando da variação do mercado, seja ela qual for. Pense no seguro de automóvel, é bastante semelhante. Várias décadas depois, o mercado se encontra em um estágio muito mais avançado. Hedgers e especuladores, fundos index, de pensão, bancos, seguradoras, agentes financeiros e muitos outros operadores do mercado disputam dia a dia qual o preço “justo” para as commodities. Esse aumento Porcentagem de preço farelo – CBOT – 5 anos Volatilidade das Comodities 100% 2,75 2001/2008 90% Porcentagem Gráfico de variação do dólar 80% 2,50 70% 2,25 60% 2,00 50% 40% 1,75 30% 1,50 20% 1,25 10% 1,00 2/1/2008 30/1/2008 27/2/2008 26/3/2008 23/4/2008 21/5/2008 18/6/2008 16/7/2008 13/8/2008 10/9/2008 8/10/2008 5/11/2008 3/12/2008 2/1/2009 30/1/2009 27/2/2009 27/3/2009 24/4/2009 22/5/2009 19/06/2009 17/7/2009 14/8/2009 11/9/2009 Café Prata Leite S&P Gado vivo Gado de engorda Títulos Carne de porco magra Petróleo Aveia Algodão Trigo Farelo Cobre Madeira serrada Suco Soja Óleo de soja Cacau Milho Açúcar Óleo para aquecimento NT 21 #2 #2 20 NT Gasolina sem chumbo Gás Natural Propano 0% no número de participantes implica volatilidade e, consequentemente, muito mais riscos e incertezas em relação às margens das empresas. A bolsa possui dois tipos de operadores: hedgers e especuladores. Os hedgers procuram diariamente o instrumento de Bolsa para proteção de seus ativos e para transferência de risco diário de suas posições, diferentemente dos especuladores, que estão todos os dias no mercado buscando aproveitar a volatilidade dos preços para obter os lucros das posições. Estes geralmente trazem maior liquidez ao mercado, devido ao forte volume operado. Esse é o cenário que vivenciamos atualmente, em que nem sempre os fatores fundamentais de mercado (oferta, demanda, clima, política) ditam o nível de preço “justo” de mercado, deixando todos os agentes que não possuem uma estrutura de gerenciamento de riscos desconfortáveis em relação a seus objetivos de compra pré-determinados em seu orçamento. O mundo vive hoje o maior processo de globalização da história, no qual podemos comprar e vender produtos do mundo inteiro, a qualquer hora do dia, com negociações em Bolsa praticamente 24 horas e parâmetros de preços disponíveis a toda hora, o que exige cada vez mais conhecimento, rapidez, agilidade e um planejamento estratégico montado para tomada de decisão no momento adequado. Para os produtos agrícolas, podemos sentir essa globalização avançando muito rapidamente em termos de preço. Citemos a soja e seu complexo como exemplo: uma quebra de safra ou um aumento considerável na produção em importantes países produtores podem levar a um impacto muito forte nos preços, o que muitas vezes afeta os preços de compra das empresas, eliminando assim sua competitividade no mercado ou impactando diretamente suas margens. Como vimos ultimamente, a volatilidade do mercado foi muito alta e pode se repetir por muito tempo durante os próximos anos. Os operadores de mercado (especuladores) buscam, de forma crescente, maior rentabilidade em seus investimentos em relação a outros. Vejam os gráficos de variação e volatilidade no mercado. Acompanhamos nos últimos anos a maior volatilidade dos preços da história, com o farelo de soja saindo de US$ 250 para US$ 420/tonelada, e mercado de derivativos nos últimos meses. Na o milho de R$ 18 para R$ 32/saca, o dólar de R$ maioria dos casos, verificamos que o custo das 1,60 para R$ 2,50. Será que as empresas, toda vez estruturas para operações em Bolsa sempre será que tinham que pagar um valor extra para compra muito menor em relação às variações do mercado, das matérias-primas, conseguiam repassar a seus em que, no momento da compra, o comprador compradores? Qual foi o impacto dessa variação assume toda essa variação, por vezes colocando em sobre os negócios das empresas e suas margens risco o patrimônio da empresa. operacionais? Esse impacto nos preços poderia ser Após a crise financeira iniciada em setembro de menor se as empresas utilizassem toda a estrutura 2008, o mercado sente que as empresas estão muito disponível para hedge no mercado? mais abertas para esse novo fato, o gerenciamento Como descrito acima, vivemos em um mundo dos riscos envolvidos em sua atividade, seja produtor, dinâmico, onde as operações e alterações de preços consumidor, cooperativa ou cerealista, e o risco de fogem totalmente ao controle das empresas, as mercado envolvido (soja em grão, farelo, óleo, açúcar, quais estão frequentemente focadas em sua linha milho, dólar, etc). de produção e não atentam para um gerenciamento Diversas empresas sofreram com as variações de efetivo do risco de uma das importantes fases da mercado nos últimos anos, algumas por não fazerem produção, a compra de matéria-prima. Atualmente, nada para gerir esse risco, outras por utilizarem esse em uma realidade de mercado aberto, praticamente recurso de forma indevida em relação a sua atividade todas as empresas conhecem os preços de compra principal (especulação). e os preços de venda de seus concorrentes e, muitas Com tudo isso, é cada vez mais comum observar vezes, o grande diferencial de cada uma está em a adoção, implantação e execução de políticas de sua estratégia utilizada de hedge, se antecipando gerenciamento de risco pelas empresas, visando ao mercado físico ou futuro avaliar e quantificar todos os e aproveitando os recursos Diversas empresas sofreram riscos dos mercados de matériadisponíveis para isso. prima e financeiros, segregar com as variações de Muitas empresas possuem esses riscos hierarquicamente mercado nos últimos anos, sistemas de cotações, e utilizar todos os instrumentos algumas por não fazerem acompanham diariamente as disponíveis de hedge, quando nada para gerir esse risco, variações de preços de farelo for necessário. Esse é talvez um de soja, de milho, de dólar e dos recursos mais inteligentes outras por utilizarem esse de tantas outras commodities, em implementação pelas recurso de forma indevida mas o que estão efetivamente empresas atualmente, uma fazendo para ter um controle vez que protege todos os efetivo sobre a compra desses produtos? Estariam envolvidos contra uma variação brusca do mercado, essas empresas utilizando todos os recursos citados que impactaria diretamente no preço de compra, a seu favor, seja para garantia de um preço efetivo reduzindo assim suas margens e, em alguns casos, de seu orçamento, seja para a margem de lucro como observado nos últimos anos, afetando o esperada, ou para ser mais competitivo e aumentar patrimônio líquido da empresa e dos sócios. sua parcela no mercado? Parece irreal, mas infelizmente ainda há muitas Nos últimos anos, com a experiência que empresas no Brasil que, apesar de terem à disposição temos no mercado brasileiro, pudemos observar todos os recursos para a tomada de proteção de e sentir alguma relutância por parte das empresas preços, trabalham como se a realidade fosse aquela em relação à tomada de hedge. Algumas, por descrita no começo deste texto, com uma grande falta de conhecimento, outras por falta de capital diferença: naquela realidade não havia nenhum humano disponível, outras como “desculpa” pelas recurso disponível e, hoje, as empresas têm acesso necessidades financeiras ou por medo, uma vez a todo tipo de informação, porém continuam à mercê que, por conta da crise, ouviram muito sobre Bolsa de variações do mercado. Étore Otávio Baroni é Consultor em Gerenciamento de Riscos – FCStone do Brasil − Experiência de 10 anos como trader de mercado físico e futuros, ingressou na FCStone em agosto de 2007. Graduado em ciências contábeis pela Unifacef – Franca – SP, MBA em Comércio Exterior e Negócios Internacionais e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. NT 23 #2 #2 22 NT Negócios Balanço do setor em 2009 Produção de alimentação animal registra queda Crise mundial e recuo na utilização de tecnologia têm impactado resultados ARIOVALDO ZANNI é médico veterinário, diretor executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), diretor do Departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diretor financeiro da Associação de Indústrias de Alimentação Animal da América Latina e do Caribe (Feed Latina), diretor do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA) e membro da International Feed Industry Federation (IFIF). A indústria de alimentação animal no Brasil registrou queda de 1,6% em sua produção nos primeiros nove meses em relação ao mesmo período do ano passado. O ritmo de crescimento dos últimos anos foi negativamente influenciado pela crise financeira global no primeiro semestre, o que fez a produção total recuar para 43,3 milhões de toneladas nos primeiros nove meses de 2009. Houve queda no uso de pré-misturas em toda a indústria, o que significa menor utilização de tecnologia para a fabricação de ração animal. Apurou-se queda ainda mais acentuada na produção de pré-misturas do que na produção de ração, o que comprova a queda no uso de tecnologia, compensada pelo aumento no consumo de grãos. Os preços competitivos do milho fizeram os produtores comprarem mais grãos, compensando parte dos nutrientes supridos pelos aditivos. A queda no uso de tecnologia, porém, pode comprometer a produtividade futura. FRANGO CORTE POSTURA BOVINO CORTE BOVINO LEITE SUÍNOS CÃES E GATOS 2009 20,39 3,54 1,90 3,50 11,30 1,50 0,40 0,84 43,3 2008 20,40 3,49 2,10 3,90 11,40 1,53 0,41 0,89 44,1 % 09/08 -0,01 1,4 -7,1 -10,0 -1,2 -2,6 -0,7 -5,7 -1,6 EQUINOS OUTROS TOTAL Variação no índice do preço do milho (Setembro/08 = 100) NT 25 #2 #2 24 NT Avicultura de corte Alojamento pintaínhas de postura e índice do preço do ovo A avicultura de corte, que demanda quase 50% da produção nacional de ração, consumiu 20,4 milhões de toneladas nos primeiros nove meses do ano, quantidade semelhante ao mesmo período de 2008. A queda das exportações, seguida de maior disponibilidade no mercado doméstico, tem determinado preços mais baixos para o frango vivo. O menor alojamento de pintos e matrizes, apurado desde agosto, pode demandar menos ração e resultar, consequentemente, em menor mobilização de tecnologia nutricional no último trimestre. 100 116 125 119 112 5,2 5,0 4,8 JAN. FEV. 5,0 115 98 5,2 5,2 JUN. JUL. 4,8 100 90 5,0 5,1 AGO. SET. Alojamento de pintos de corte e produção de frango 1004 890 781 902 862 892 957 MAR. 956 ABR. MAI. pintainhas índice Fonte: APINCO e JOX - Adaptado Sindirações 830 500 482 426 418 456 483 462 468 407 JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. pintos (milhões) JUN. produção (mil toneladas) JUL. AGO. SET. Fonte: APINCO/UBA - Adaptado Sindirações Bovinocultura de corte Com queda de 7,1% no consumo de ração durante os primeiros nove meses, a bovinocultura de corte dificilmente alcançará a quantidade demandada no ano passado. Neste ano, o descompasso na relação do valor da arroba do boi e do preço do bezerro, além de outros fatores de ordem conjuntural, forçaram produtores a tardar o confinamento e consumir rações, concentrados e suplementos, deixando o boi a pasto. O resultado foi uma retração no consumo para gado de corte. No total, não foram produzidos nem sequer 2 milhões de toneladas de ração de janeiro a setembro. Alojamento de matrizes de corte e exportação de frango 275 263 307 330 329 304 317 Relação entre os indicadores do boi gordo (valor da arroba) e bezerro (Jan/08 a Jun/09) 301 290 4,1 3,9 4,0 3,7 3,5 3,5 3,5 JAN. JAN. FEV. MAR. ABR. pintos (milhões) MAI. JUN. exportações JUL. AGO. SET. Com crescimento de 1,4% no consumo em relação ao mesmo período de 2008, a demanda por ração mantevese firme em resposta à estabilidade no alojamento de pintainhas e preço dos ovos durante o primeiro semestre. Nesses nove meses já foram consumidas 3,5 milhões toneladas de ração. #2 MAR. ABR. MAI. boi gordo JUN. JUL. AGO. SET. bezerro Fonte: Indicadores CEPEA/ESALQ/BM&F - Adaptado Sindirações Fonte: APINCO/UBA - Adaptado Sindirações Avicultura de postura 26 NT FEV. Bovinocultura de leite A produção de ração para a bovinocultura leiteira teve queda de 10%, a mais acentuada em todos os setores analisados pelo Sindirações, totalizando menos de 3,5 milhões de toneladas. A acentuada diminuição da captação no período, as importações oriundas da Argentina e Uruguai e o comprometimento da produção afetaram negativamente o uso da tecnologia nutricional. NT 27 #2 3,6 3,6 Variação no índice de capacitação do leite 100 100 97 95 93 91 91 89 89 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Fonte: CEPEA/ESALQ - Adaptado Sindirações Suinocultura A suinocultura, também impactada pela crise financeira global, reduziu o consumo de ração e emprego de tecnologia. O resultado foi uma produção 1,2% menor durante janeiro e setembro deste ano, ou seja, pouco mais de 11,2 milhões de toneladas. Os preços internacionais da carne suína alcançados no ano passado desabaram por conta da crise financeira global. A quantidade embarcada para o mercado internacional chegou a aproximadamente 450 mil toneladas nos primeiros nove meses. Exportação de carne suína (mil toneladas) 49 51 47 28 set/08 out/08 nov/08 31 dez/08 38 jan/09 54 54 52 60 48 46 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 47 ago/09 set/09 Fonte: CEPEA/ESALQ - Adaptado Sindirações Cães e gatos, equinos, peixes, camarões e outros Outros setores que continuam a registrar queda no período − também causada pelo impacto da crise mundial − foram os de ração para cães e gatos (-2,6%) e equinos (-5,4%). De acordo com as estimativas e apesar de registrar queda em quase todos os segmentos, a produção de rações pode ainda terminar o ano em torno de 58 milhões de toneladas, mais aproximadamente 2 milhões de toneladas de sal mineral. NT 29 #2 #2 28 NT Neto Carvalho Coordenador Técnico de Bovinos de Leite da Nutron Alimentos #2 30 NT Vacas leiteiras sob estresse calórico duas estações bem distintas e que devem perdem drasticamente desempenho produtivo, ser analisadas separadamente pelo produtor reprodutivo e sanitário. É quase uma regra e seus técnicos. O que faz a maior diferença no campo: rebanhos leiteiros especializados entre as fazendas de ótimo resultado em têm a produção e todos seus índices relação às fazendas médias é perder o mínimo zootécnicos piorados de novembro a abril e possível de desempenho na estação quente, uma recuperação constante e gradativa de comparado com o melhor período produtivo maio a outubro. Se nada for feito para que (de maio a outubro), com o intuito de entrar se amenizem os efeitos do calor no rebanho, acelerando na estação mais amena desde o esta fase do ano será sempre o gargalo da primeiro mês. Para isso, é preciso entender o atividade, pois ela representa 50% do ano. estresse calórico e tudo o que ele representa e Sem atuarmos efetivamente nesse momento investir sempre no conforto térmico do rebanho. crítico do desempenho, podemos encontrar Em um país tropical de clima quente e úmido, o rebanho em um ciclo vicioso, no qual a mensurar o impacto do calor, entender como propriedade leiteira pode trabalhar a estação combatê-lo e ter sucesso efetivo na ambiência mais amena do ano para voltar ao dos animais faz toda a diferença que perdeu nas estações mais na lucratividade final e pode O que faz a maior quentes e, por isso, não evoluir ser o limiar entre o lucro ou o diferença das fazendas em produtividade, descartes, de ótimo resultado para prejuízo no negócio do leite. reprodução, etc. Na época Vacas em estresse térmico as fazendas médias é mais quente, sempre se espera perder o mínimo possível apresentam maior exigência de uma perda de desempenho do mantença devido à maior taxa de desempenho na rebanho. A magnitude dessa respiratória para dissipação estação quente queda, porém, é que fará toda do calor. Práticas de alteração a diferença, pois, se ela for muito grande, do ambiente, como fornecimento de sombra levará um residual para a melhor época do e climatização das áreas de sombra e de ano, o que acarreta atraso na recuperação alimentação, têm grande impacto na redução do rebanho. Não é incomum encontrarmos dos efeitos negativos do estresse calórico rebanhos que perdem de 30% a 40% na sobre o desempenho de vacas leiteiras. produtividade, fechando abril com algum nível Entretanto, além das medidas de alteração no de claudicação, reprodução péssima, células ambiente, práticas de manejo nutricional − mais somáticas aumentadas, baixo escore de especificamente de alterações na formulação condição corporal e consumo voluntário muito das rações e qualidade de volumoso − também abaixo do ideal. O problema é que existe um podem contribuir para reduzir o impacto efeito residual que leva meses para trazer o negativo do estresse calórico no desempenho rebanho de volta à normalidade. de vacas leiteiras. Porém, nesta edição, vamos O ano sempre será marcado por essas nos ater somente ao manejo ambiental. NT 31 #2 Bovino de Leite Ambiência e conforto térmico em bovinos de leite A nutrição do amanhã precisa aumentar a discussão sobre o tema Figura 2 - Vaca maximizando contato de superfície corporal com piso e ar e, à direita, uma vaca com a respiração aumentada e babando, mostrando claramente o efeito deletério do calor com seu desconforto (nessa fase, o desempenho já caiu muito e a saúde da vaca também). Aumenta o consumo de água Reduz consumo de matéria seca Diminui a atividade Busca por sombra e vento Aumenta transpiração Aumenta o fluxo de sangue à pele e reduz o fluxo aos órgãos Aumenta frequência respiratória e baba Diminui resultados em produção e saúde Zona de conforto térmico A zona de conforto térmico ou termoneutralidade, (Fig. 1) é determinada pela faixa de temperatura efetiva ambiental, na qual o animal mantém constante sua temperatura corporal entre 38,6ºC e 39,3ºC, com mínimo esforço dos mecanismos termorregulatórios (fig. 2) e sem efeito deletério em seu desempenho. De acordo com Nääs (1989), a faixa de termoneutralidade para vacas holandesas em lactação, em função da umidade relativa do ar e radiação solar, poderia ser restringida de 7ºC a 21ºC. Atualmente, está sendo revista essa faixa de termoneutralidade e se acredita que, para a vaca moderna de alta produtividade, essa zona se encontra entre 6ºC e 16°C. Diante disso, podemos afirmar que o rebanho brasileiro passa a maior parte do ano, se não todo o ano, em estresse calórico. Quando a temperatura do ambiente se encontra acima da zona térmica ótima (> TCI, fig. 1) o animal aciona seus mecanismos termolíticos, como a vasodilatação periférica, dissipando o calor principalmente por radiação e convecção. À medida que a temperatura se eleva e ultrapassa a TCS (fig. 1), o centro termorregulador, sediado no hipotálamo, dá início à termólise, especialmente por via evaporativa, intensificando a sudação, que por sua vez é complementada com o aumento na evaporação respiratória através do ofego. Se esses mecanismos não forem suficientes para perda do calor e não houver restabelecimento do equilíbrio térmico, a temperatura do corpo começará a se elevar, iniciando a redução nas atividades da tireoide, com redução na ingestão de alimentos (10% a 20%), alterações comportamentais (como procura por sombra e modificações na postura) e queda no desempenho produtivo e reprodutivo. ção do ambiente mais utilizados para aumentar as perdas de calor e melhorar o desempenho. Com a sombra sendo o primeiro recurso para minimizar o estresse calórico, a ventilação natural e a artificial devem ser otimizadas nos abrigos para vacas leiteiras como o segundo mais importante recurso de conforto, em função da grande quantidade de calor que pode ser retirada do animal para o ar e também pela importância dessa via como facilitadora da evaporação. Estratégias para minimizar o estresse calórico A sombra é o método mais simples para reduzir o impacto da radiação solar, podendo ser natural ou artificial. As sombras das árvores são mais eficientes, já que não diminuem apenas a incidência da radiação solar, mas também a temperatura do ar abaixo delas, quando comparadas com as sombras artificiais. Podemos incluir sombras, ventilação e resfriamento evaporativo como os métodos de modifica- Sombra natural ou artificial? Figura 1 - A zona de conforto térmico ou termoneutralidade Resfriamento evaporativo Ofegação SOBREVIVÊNCIA HOMEOTERMIA Reações fisiológicas e comportamentais CONFORTO TÉRMICO HIPERTERMIA Reações fisiológicas e comportamentais MORTE MORTE HIPOTERMIA Resfriamento evaporativo Transpiração CONVECÇÃO Sombra natural Temperatura crítica inferior (TCI) #2 32 NT Sombrite: deve ter altura mínima de 3 metros ESTRESSE DE CALOR Temperatura crítica superior (TCS) CONDUÇÃO RADIAÇÃO Quando não se dispõe de sombra natural suficiente, o uso de estruturas artificiais, móveis ou fixas, deve ser adotado. As características mais importantes para o desenho dessas estruturas são os materiais utilizados, a altura, a orientação e a disponibilidade do espaço por animal. NT 33 #2 ESTRESSE DE FRIO O movimento do ar é um fator importante na diminuição do estresse térmico, já que favorece as perdas de calor por convecção e, dependendo da umidade do ar, as perdas por evaporação. Portanto, a ventilação, quando disposta de maneira adequada (número, capacidade e posição dos ventiladores), pode promover melhorias nas condições termo-higrométricas das instalações e se torna um método efetivo no aumento das perdas de calor, além da dispersão de gases. A velocidade da ventilação indica valores entre 2,2 a 2,7 m/s como sendo ideais para vacas holandesas em confinamento. Os aspersores fazem com que a água penetre e umedeça completamente o pelo e a epiderme do animal, de forma que os animais sejam resfriados e percam calor por condução e por evaporação da água. A eficiência desta via de perda de calor depende da diferença do conteúdo de água entre a superfície evaporada e o ar, por isso, se faz necessária a remoção constante do ar, através de ventiladores, evitando a saturação e o frear do processo. 100 1. 0 90 Taxa de respiração (batimentos/minuto) Ventilação 80 3. 5 Sprinkler (1 min ligado e 4 min desligado) 70 4. 5+F Sprinkler (1 min ligado e 4 min desligado) + ventilador 60 5. 10 Sprinkler (1 min ligado e 9 min desligado) 6. 10+F Sprinkler (1 min ligado e 9 min desligado) + ventilador 50 7. 15 40 Sprinkler (1 min ligado e 14 min desligado) 8. 15+F Sprinkler (1 min ligado e 14 min desligado) + ventilador 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 Tempo em minutos que todos estão fazendo hoje em novos projetos de ambiência de vacas leiteiras. Esse mesmo autor acredita no sistema de ventilação cruzada para ambientes quentes e úmidos, conseguindo reduções de até 10ºC por resfriamento do ar por meio de painéis evaporativos associados à ventilação constante. Com isso, grandes benefícios têm sido alcançados no desempenho animal, como incremento na produção de leite, aumento na eficiência alimentar, melhora no desempenho reprodutivo, redução de laminites e bemestar dos animais, o que justifica todo o investimento. Painéis evaporativos Uso de ventiladores na linha de cocho Resfriamento evaporativo O resfriamento evaporativo pode ser obtido por meio de sistema de nebulização associado à ventilação. O princípio dos nebulizadores consiste em provocar finíssimas gotas de água que gerem uma neblina, que deve evaporar antes de chegar à superfície do animal. Esse método proporciona um resfriamento do ar, favorecendo as perdas de calor por convecção. Se no projeto não houver uma circulação de ar adequada, pode resultar em alta umidade e problemas de saúde no rebanho. O ideal é que o ar seja trocado a cada período de 70 segundos. Por isso, a velocidade do vento deve ser em torno de 3 m/s. Controle nem água e nem ventilador 2. 0+F Sem água (Sprinkler) + ventilador Sistema evaporativo para animais em pasto e ducha após a ordenha em vacas confinadas. A água é muito importante para o resfriamento corporal dos animais. O trabalho conduzido pelo Dr. John Smith mostra que a água é a mágica no resfriamento térmico. A ventilação sozinha não é efetiva para diminuir a taxa de respiração de vacas em estresse térmico e é o mais comum. Apenas molhar a vaca é mais efetivo do que ventilador. O trabalho mostrado é um norte do a bovinocultura caminhou muito devagar nessa disciplina, tão importante no sistema de produção nas últimas décadas. Como a força de uma corrente é a de seu elo mais frágil, pode-se dizer que a ambiência animal será um divisor de águas nos próximos anos na bovinocultura leiteira. Ao se pensar em planejar construções em regiões de clima quente, devem-se buscar profissionais experientes e bem-sucedidos nessa área, que conheçam projetos aqui e fora do Brasil. Detalhes são importantes, como as condições microclimáticas prevalentes na propriedade e na área destinada, que favoreçam a ventilação natural, a renovação do ar dentro dos galpões e o sombreamento aos animais, bem como a manutenção de pisos secos e livres de fontes de infecção. Os materiais construtivos e as áreas do entorno das edificações merecem destaque no projeto. Os equipamentos a serem utilizados (ventiladores, aspersores e nebulizadores) devem ser corretamente dimensionados e posicionados, visando sua máxima eficácia e mínimo desperdício, seja de água ou energia. A produção leiteira só é sustentável, ética e viável quando bem planejada; não obrigatoriamente de alta tecnologia, mas sempre garantindo as necessidades dos animais, do ambiente e das pessoas envolvidas no processo produtivo, em busca de produtos seguros e de alta qualidade. O foco na ambiência e no conforto térmico dos animais faz parte da nutrição do amanhã e, por isso, será cada vez mais um pensamento forte de todo o grupo da Nutron Alimentos, que possui profissionais especializados, com cursos na área, realizados no Brasil e no exterior. Considerações finais #2 34 NT Associação de aspersores + ventilação em animais estabulados Neto Carvalho é médico veterinário, formado pela Unifenas e especializado em reprodução animal pela USP. Coordenador Técnico de Bovinos de Leite da Nutron Alimentos. NT 35 #2 Foggers para resfriamento do ar Todo investimento no incremento do conforto térmico dos bovinos leiteiros, na pastagem e nos estábulos, por meio de arborização e sistemas de ventilação natural ou artificial, deve ser um objetivo na produção de leite; afinal, reflete no resultado direto do desempenho animal. Diferentemente da avicultura e da suinocultura, em que todo projeto segue um mesmo padrão lógico de conceitos de ambiência e bem-estar animal, Bovinos de Leite Sabrina Coneglian Departamento Técnico da Bunge Fertilizantes /Serrana Nutrição Animal Influência da nutrição na qualidade do Leite #2 36 NT Relação volumoso: concentrado A explicação tradicional é a de que um aumento no concentrado na dieta de vacas leiteiras que ultrapasse 50% reduz a concentração de gordura do leite em função de uma alteração ruminal. O substrato ruminal com maior concentração de concentrado proporciona uma maior concentração de ácidos graxos voláteis, que reduzem o pH do rúmen para menos de 6,0, acarretando uma menor degradação da parte fibrosa da dieta. O conteúdo de proteína pode ser aumentado em até 0,4 % ou mais se a proporção de forragem na dieta é reduzida em 10%. Deve-se ressaltar que a forragem é essencial na dieta de vacas leiteiras e deve fazer parte de pelo menos 40% da matéria seca fornecida. Quantidade e fonte de proteína: esse assunto tem sido muito discutido e verificou-se que a porcentagem de proteína do leite é aumentada quando é também fornecida em maior proporção na dieta. Esse dado é ainda mais concreto quando a fonte de proteína administrada é resistente aos microorganismos do rúmen. Uma maneira de fornecer proteínas não degradáveis no rúmen aos animais é a utilização de grãos que sofrem tratamento térmico na formulação de dietas. Deve-se ter cuidado nesse processo, pois o excesso de calor pode provocar uma reação indesejável, como a reação de Maillard ou caramelização, que torna a proteína indisponível para o animal mesmo depois de passar pelo rúmen. NT 37 #2 A manutenção de qualquer atividade produtiva depende basicamente da eficiência do sistema de produção, que pode ser traduzida pela maior produtividade com o menor custo possível. Na atividade leiteira, a nutrição é o principal fator da eficiência do sistema de produção, pois é a maior responsável pelo nível de produção e pode representar até 70% dos custos. Portanto, se pode afirmar que, quanto mais eficiente for a nutrição de um rebanho, mais eficiente será o sistema de produção. A composição do leite de vacas leiteiras é determinada por vários fatores, como raça, estação do ano, genética, estágio de lactação, sanidade e nutrição. As tendências atuais da comercialização do leite demandam a obtenção de certos produtos lácteos, em geral influenciados pela composição do leite, diretamente correlacionada à nutrição dos animais. A gordura é o componente de maior variabilidade do leite, podendo variar de 2% a 4%. Essa porcentagem é fortemente influenciada pela genética, fatores nutricionais e fatores ambientais. A gordura, a proteína, o fósforo e o extrato seco desengordurado são as variáveis de maior importância econômica, servindo de critério para o pagamento do leite em muitos países. Algumas medidas podem ser tomadas para alterar a porcentagem de sólidos no leite. Veja, a seguir, algumas delas. Quantidade e tipo de fibra Como regra geral, as dietas devem conter um mínimo de 28% de FDN, sendo 75% deste proveniente de forragens não finamente moídas (fibra efetiva). Outro aspecto nutricional relacionado com a gordura do leite é a quantidade de fibra efetiva. A fibra efetiva é responsável pela manutenção do pH ruminal acima de 6,2 através do estímulo à ruminação, que provoca um aumento na produção de saliva e na liberação de tamponantes. A dieta deve conter no mínimo 15% de fibra efetiva, para que apresente efeito sobre as bactérias celulolíticas, sensíveis a baixo pH. Desta forma, o aproveitamento e a digestibilidade da porção fibrosa da dieta é maximizada e convertida em maior produção de leite de melhor qualidade. Fornecimento de fósforo A influência da suplementação do fósforo em gado leiteiro de alta produção tem foco na melhora do desempenho reprodutivo, que consiste na diminuição do intervalo entre partos, diminuição dos serviços por concepção e aumento na proporção de vacas prenhez em relação ao rebanho. Outro ponto em que essa suplementação exerce efeito diz respeito à qualidade do leite, principalmente na contagem de células somáticas, diminuindo sua concentração nos leites produzidos por vacas que ingeriram níveis recomendados de fósforo. A literatura mostra consistentemente que o fósforo não influi de maneira negativa sobre a reprodução e produção se os seus níveis na dieta forem acima de 0,2% da matéria seca, isto é, superiores às exigências de fósforo pelos microorganismos do rúmem. Níveis inferiores a estes reduzem o crescimento microbiano e a síntese de proteína microbiana e possivelmente têm efeito deletério sobre a digestibilidade da dieta. A menor digestibilidade da dieta reduz o status energético do animal que pode repercutir negativamente sobre a produção de leite e reprodução. Aditivos Os tipos de aditivos mais comuns utilizados visando melhorar o desempenho produtivo de ruminantes que influenciam os teores de gordura do leite são os tamponantes e os ionóforos ou modificadores ruminais. #2 38 NT Os tamponantes como bicarbonato de sódio minimizam a queda do pH ruminal, evitando acidose ruminal quando dietas com alta proporção de concentrados são fornecidas para os animais, mantendo ativas as bactérias que fermentam a fibra. Assim, os níveis de ácido acético (precursor de gordura do leite) não são reduzidos e não afetam o teor de gordura no leite. Os ionóforos diminuem os teores de gordura do leite. Sua ação por meio da seleção de algumas bactérias ruminais que melhor convertem os alimentos em nutrientes, reduzindo a produção de gás carbônico e metano no rúmen, promove um aumento do ácido propiônico (precursor de proteína do leite) e uma redução do ácido acético. Dessa forma, existe um aumento na produção de leite, porém com teores menores de gordura. O conhecimento dos fatores que influenciam a composição nutricional do leite traz algumas vantagens ao produtor. Tratase de uma ferramenta importante na avaliação nutricional da dieta, podendo levar à informações sobre a eficiência de utilização de nutrientes e sobre a saúde animal. Assim, o produtor pode e deve adotar boas práticas de manejo nutricional que possibilitem conforto, saúde, acesso fácil à alimentação e dietas bem balanceadas em proteína (níveis adequados de proteína degradável e não degradável no rúmen), energia, fibra, minerais e vitaminas. Essas práticas são pontos-chaves para a obtenção de leite com alto valor nutritivo que, aliado às boas práticas de higiene e investimento em capacitação de mãode-obra e capacitação técnica especializada, são primordiais para melhorar a qualidade do leite e, dessa forma, encarar o sistema de pagamento por qualidade como uma maneira real de agregar valor a seu produto. * Sabrina Coneglian é zootecnista, doutora em Nutrição de Ruminantes pela Universidade Estadual de Maringá e integrante do Departamento Técnico da Bunge Fertilizantes/ Serrana Nutrição Animal. NT 41 #2 #2 40 NT azul e para frangos desenvolvendo novos conceitos para aviários de pressão negativa Tuffi Bichara Consultor Técnico de Aves da Nutron Alimentos #2 42 NT dark house de corte Estamos mais uma vez frente às novas tecnologias. Cabe a nós as entender e aprimorar, adequando-as ao nosso jeito de trabalhar. Recentemente, isso aconteceu com os galpões “dark house” para a recria das matrizes, com os bebedouros tipo “nipple” e com esses sistemas de aquecimento dos pintos. Não temos dúvidas de que devemos evoluir nos sistemas de ventilação em túnel por pressão negativa nos aviários para frangos de corte. Esses sistemas vêm sendo empregados há mais de dez anos na construção de novos aviários ou mesmo na atualização dos aviários antigos. Em algumas regiões, a construção dos novos aviários, quase que como unanimidade, é feita com essa nova tecnologia. Em outras, entretanto, por algumas falhas iniciais de projeto e de implantação, estabeleceu-se um paradigma entre as empresas integradoras, os técnicos e os próprios fornecedores de equipamentos, que se tratava de tecnologias caras, com alto risco e muitas dificuldades de operação. Isso levou a predominância das construções no sistema convencional de ventilação. O segmento de avicultura de corte caracteriza-se por desenvolvimento contínuo nas áreas de genética, nutrição, sanidade, ambiente, produtos processados, comercialização, entre outras, e não é por acaso que crescemos algo em torno de 10% ao ano, há pelo menos 10 anos consecutivos. Acompanhando esse crescimento, observam-se recentemente mais investidores interessados em fazer parte da cadeia produtiva da avicultura de corte. Esses investidores podem ser chamados de novos entrantes no segmento. Existe uma oportunidade enorme, para as empresas que conduzem os processos da cadeia, de captar e tornar mais fácil, viável e rentável a chegada desses novos investidores no sistema. É uma oportunidade única para atualizarmos nossos galpões de forma eficiente, lucrativa e sustentável. NT 43 #2 Aves Aviário veis com a necessidade do equipamento. Máximo admissível de 10% em queda de tensão ou sobretensão entre o fornecimento e o ponto de utilização. Isolamento das condições ambientais externas desfavoráveis. Entrada do ar por uma extremidade do aviário, passando por um sistema simples de resfriamento através de processo evaporativo (conceito já adaptado às condições de criação do Brasil). Exaustão controlada do ar através de exaustores posicionados na extremidade oposta às entradas. Isolamento Todo o sistema está baseado no isolamento ótimo, ou seja, o ar deve entrar e sair somente por onde nós projetarmos. Entradas falsas de ar em pontos indesejáveis e mal vedados comprometem todo o resultado. Portanto, as cortinas e os forros devem ser de material laminado e a qualidade da montagem deve ser impecável. Benefícios do sistema Entradas de ar Devem ser construídas com sistemas de resfriamento evaporativo e cumprir com os seguintes requisitos: Abaixar a temperatura do ar na entrada. Não permitir passagem de umidade para dentro do aviário. Possuir o sistema de cortinas automáticas com abertura conforme o número de exaustores acionados ou com abertura por pressão estática. Ser dimensionada em tamanho suficiente para não sobrecarregar os exaustores e manter a pressão correta de funcionamento. Refletem em todos os parâmetros produtivos e econômicos da criação: no ganho de peso, na mortalidade, na qualidade da carcaça, no custo da criação, etc. Entretanto, é na conversão alimentar que é observado o efeito mais significativo. “Se os frangos não precisassem utilizar parte da energia que consomem para manter a temperatura corporal constante, eles teriam um desempenho em conversão alimentar similar ao dos peixes, ou seja, algo próximo de 1:1.” (FENCHER, B.). Não temos dúvidas de que devemos evoluir nos sistemas de ventilação em túnel por pressão negativa nos aviários para frangos de corte Características fundamentais para implantação dessa tecnologia Rede elétrica Oferta suficiente para tocar todo o sistema. Dimensionamento perfeito do tamanho do transformador e dos cabos para levar a energia até os pontos de utilização. Tensões de entrada nos equipamentos compatí- #2 44 NT Controlador É o cérebro de todo o sistema. Passa por esse aparelho toda decisão sobre temperatura, umidade, necessidade de abertura da cortina da entrada do ar, nebulização, temperatura do aquecimento, intensidade e programa de luz e sistemas de segurança. Exaustores Cumprem as funções básicas de troca de ar, removendo calor, umidade e gases. Promovem o efeito da sensação térmica, através da velocidade do ar: variando de 0,1 m/s, para aves na primeira semana de vida, a 3 m/s, após os 30 dias de vida. Devem ser dimensionados para trocar o volume total de ar em um minuto quando todos os exaustores estiverem ligados. Devem ser dimensionados para proporcionar ve- O que podemos esperar de melhorias do sistema? Sistema convencional Pressão negativa Azul Pressão negativa Dark house 31 37 38 Viabilidade % referência +1 +2 GPD (g) referência +0,5 +1 C.A (g/1000g) referência -50 -100 IEP referência + 15 + 30 Custo (R$/Kg de frango vivo) referência - 2% - 4% Densidade Kg ave/ m² locidades de 3 m/s quando todos estiverem ligados, considerando uma pressão estática de 0,1 polegadas de coluna de água. Luz, comprimento de onda e preferência das aves Existe um campo enorme para investigações nessa área. A visão das aves e a humana, com relação à sensibilidade e à percepção da luz, são diferentes. Em um experimento sobre a preferência dos frangos em 6, 20, 60 ou 200 lux, as aves com até duas semanas de idade preferiram ambientes mais iluminados, mas preferiram ambientes com pouca luz a partir dessa idade. Aparentemente, nas duas primeiras semanas, as aves são mais ativas. A partir dessa idade, elas gastam 60% a 70% de energia em repouso ou deitadas, preferindo ambientes com menos intensidade luminosa. Uma série de experimentos mostra significante correlação positiva para ganho de peso e conversão alimentar ocorrendo na região do azul e verde, quando comparado com aves criadas na região do laranja para o vermelho (LEWIS and MORRIS). Conclusões A tecnologia dos aviários por pressão negativa, seja aviário azul ou dark house, mostra-se viável técnica e economicamente. Os benefícios da nova tecnologia de aviários Empresa/ Integrado - Melhor desempenho zootécnico. - Melhor qualidade de carcaça. - Otimização de mão-de-obra. - Estabilidade de resultados durante o ano. - Maior lucratividade produtor/empresa. Ave - Maior bem-estar para as aves. - Qualidade de carcaça (menores injúrias físicas). - Maior viabilidade. Ganhos Ambientais - Economia de água, ração, energia elétrica, combustível. - Maior produção por área. Tuffi Bichara * Tuffi Bichara é Zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista, especialista em gestão estratégica de empresas pelo Instituto de Economia da Unicamp. Consultor Técnico Aves da Nutron Alimentos. NT 45 #2 Princípios do funcionamento dos sistemas de pressão negativa e “dark house” Suínos A toxicidade das fumonisinas em suínos caracteriza-se pelo aparecimento de edema pulmonar, hepatotoxicose, problemas renais, problemas cardiovasculares e imunosupressores. Essas micotoxinas também alteram a síntese dos esfingolípidos e causam efeitos negativos no consumo de alimento, ganho de peso vivo, índice de conversão e qualidade da carcaça. Tendo em vista que a sintomatologia possui semelhanças com enfermidades, problemas de manejo ou outras intoxicações, como é possível avaliar se uma integração de suínos tem problemas de intoxicação com fumonisinas? A primeira e mais lógica alternativa consiste na realização de análises específicas dos ingredientes, sobretudo milho, seus derivados e produtos acabados; contudo, em muitas integrações compramse matérias-primas de várias origens e/ou em quantidades pequenas, tornando a metodologia de análises uma ferramenta excelente para o histórico da fábrica, porém não tão eficiente quanto ao controle da fumonisina. O histórico das amostragens deve estar sempre associado com a sintomatologia do campo. Seguem algumas observações que poderão servir de apoio na constatação de intoxicações por fumonisinas. Fumonisinas Diagnósticos e controle na suinocultura Wanderson Paulino Médico Veterinário da Nutron Alimentos Diminuição repentina de Índices Zootécnicos As fumonisinas alteram a síntese dos esfingolipídios, causando uma acentuada diminuição no consumo de alimentos e consequente redução no ganho de peso vivo. Possuem também efeitos negativos no índice de conversão alimentar e qualidade de carcaça. Observando algumas unidades terminadoras (UT) de suínos, que posteriormente foram diagnosticadas como problemas de intoxicação por fumonisinas, algumas características comuns se evidenciaram. Diminuição repentina e acentuada no consumo de rações Em casos de unidades terminadoras com sistema de fornecimento de ração com restrição alimentar, observou-se diminuição de 10% a 25% do consumo, conforme a tabela de arraçoamento. Diminuição acentuada do ganho médio diário de peso (15% a 30%) comparando-se ao histórico de lotes das UTs e médias da integradora. Diminuição do peso médio final dos animais ao abate #2 46 NT As informações provenientes do campo são retratadas de maneira muito similar aos resultados de experimentos in vivo em suínos. No experimento in vivo realizado pelo Samitec em outubro deste ano, os seguintes parâmetros foram afetados pela presença de 50 ppm de fumonisinas na dieta de leitões em idade de creche: • Consumo médio de ração (CMD= -13,2%). • Peso médio (-21,5%). • Ganho médio diário de peso (GMD= -29,0%). • Conversão alimentar média (piora de 22,2%). (Dados: Samitec) Edema pulmonar e problemas respiratórios As concentrações de FB1 no alimento composto, suscetíveis de provocar problemas de edema pulmonar nos suínos, são elevadas em alguns casos. No entanto, concentrações baixas por períodos de ingestão prolongados podem também causar problemas. As duas situações ocorrem nas granjas: quando a intoxicação por fumonisinas possui níveis altos, observa-se mortalidade por edema pulmonar; contudo, níveis mais baixos por períodos prolongados convergem em problemas crônicos e consequente desuniformidade de lote e aumento de mortalidade no período próximo do abate. Associadas ao histórico das amostragens da fábrica e aos índices zootécnicos reduzidos perante as médias da granja, a constatação de problemas respiratórios e a presença de edema pulmonar auxiliam o diagnóstico da intoxicação por fumonisinas. Comprovando o relato de campo, seguem na (Fig. 1), aspectos macroscópicos de pulmões de leitões intoxicados experimentalmente com fumonisinas. NT 47 #2 Qual seria a solução para uma detecção rápida e controle dessa micotoxicose? Imunotoxicidade Verifica-se um aumento nos índices de mortalidade na maioria dos casos em que houve intoxicações por fumonisinas. A imunotoxicidade já foi descrita por vários autores como correlacionando maior suscetibilidade do suíno em relação à Pseudomonas aeruginosa (Mallmann e Dilkin, 2007) e Escherichia coli (Oswald et al., 2003). Ainda nesse contexto, contudo, deve-se atentar ao conjunto de fatores que desencadeiam essas doenças, antes de diagnosticar uma possível correlação direta dessas enfermidades com as fumonisinas. Problemas relacionados com fêmeas Nos trabalhos de Mallman e Dilkin (2007), não foram encontrados níveis de fumonisinas no leite de porcas que tinham consumido alimento composto com FB1 em concentrações superiores a 100 ppm. Vale ressaltar, contudo, que em alguns casos a campo foi observada uma diminuição acentuada no consumo de rações durante o período de lactação, acarretando leitegadas com peso inferior ao desmame. Problemas relacionados a leitões Um grande paradigma das fumonisinas é que essa micotoxicose acarreta problemas somente em animais na fase de terminação. Pelo fato de os problemas crônicos evidenciarem sintomatologias ou diminuição de índices zootécnicos no período pós-creche, acreditava-se erroneamente na prevenção ou controle apenas para as fases de crescimento e terminação. Nos resultados de um experimento in vivo (Samitec, 2009) realizado em leitões desmamados com 30 dias e que consumiram 50 ppm de fumonisinas nas rações, os animais intoxicados experimentalmente tiveram conversão alimentar 20% pior do que o grupo controle na última semana do experimento (35 a 42 dias de experimento). T2 T3 T4 T5 FIGURA 1 – Aspecto macroscópico dos pulmões dos animais utilizados nesse experimento (T1 = Controle; T2 = 0,50% AAM; T3 = 50 ppm fumonisinas; T4 = 50 ppm de fumonisinas + 0,25% AAM; T5 = 50 ppm de fumonisinas + 0,50% AAM). #2 48 NT Mês nº de amostras % positividade Jul. 33 84,8 Ago. 45 84,4 Set. 90 84,4 Out. 51 92,2 Nov. 24 70,8 Conclusões Diante da evidente contaminação por fumonisinas abrangendo as principais regiões produtoras da cadeia suinícola, a continuidade das análises rotineiras e as observações e interpretações dos índices zootécnicos tornam-se primordiais para o controle dessa micotoxicose. Ressalta-se que, após o diagnóstico dessa micotoxicose, recomenda-se a substituição da matéria-prima; sabe-se, contudo, que com os altos índices de contaminação do milho praticamente torna-se impossível a obtenção de grandes volumes de grãos totalmente livres de micotoxinas. Em alguns casos, o milho é utilizado sem ser amostrado e analisado. A alternativa nesses casos seria a utilização de aditivos antimicotoxinas aprovados in vivo existentes no mercado brasileiro para o controle das intoxicações por fumonisinas. Incidência regional de contaminação de fumonisinas Trabalhos anteriores relatavam intoxicações de fumonisinas principalmente nos Estados do Sul; atualmente, sabe-se que a fumonisina pode ser encontrada também na região sudeste e Wanderson Paulino * Médico Veterinário formado na UFPR e especialista em nutrição animal - Nutron Alimentos NT 49 #2 T1 centro-oeste. Muitas regiões, onde não era comprovada a prevalência dessa micotoxina, presenciam atualmente seus efeitos e implicações. Abaixo, na tabela, segue resumo das últimas análises feitas em 2009, em laboratório credenciado, nas três regiões citadas. Hink Perdok e John Newbold Centro de Pesquisa e Inovação Provimi (Bruxelas-Bélgica) Parte I de III #2 52 NT Cada vez mais os consumidores dos mercados premium exigem que a produção dos seus alimentos cause o menor impacto ambiental possível. Por isso, métodos de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) estão surgindo para calcular a tão falada pegada de carbono dos alimentos (carbon footprint), que representa a quantidade total de dióxido de carbono equivalente (CO2 eq: medida para calcular o aquecimento global) emitida ao longo do ciclo de vida completo de um determinado produto. Até o momento, a maneira mais eficaz para reduzir a pegada de carbono da produção de carne bovina é aumentar o ganho de peso diário dos animais. Introdução Diferentemente dos seres humanos, das aves e dos suínos que não digerem fibras alimentares, os bovinos são muito eficazes em convertê-las em carne nutritiva. Como exemplo de alimentos basicamente fibrosos, temos as pastagens em geral, silagens, fenos, cana-de-açúcar e seus subprodutos (bagaço principalmente). Além disso, a casca da soja, a polpa cítrica e o caroço de algodão também são exemplos de ingredientes fibrosos. Sem os bovinos, vastas áreas de terra permaneceriam inutilizadas e enormes quantidades de alimentos fibrosos seriam desperdiçadas, causando problemas ambientais devido a incêndios florestais, queimadas ou outras formas de eliminação de resíduos. A digestão da fibra feita pelos ruminantes, ou mais especificamente pelos micro-organismos do rúmen, inevitavelmente resulta na formação de grandes quantidades de hidrogênio (H2) e de dióxido de carbono (CO2). As bactérias metanogênicas do rúmen convertem o hidrogênio e parte do dióxido de carbono em gás metano (CH4), que é eliminado do rúmen por meio da eructação bovina. Como o metano tem alta densidade energética (50-55 MJ/kg), esta perda configura um desperdício energético, visto que entre 2% e 12% da Energia Bruta ingerida pelo animal é desperdiçada na produção e eliminação do gás metano. Além disso, ele é um dos gases relacionados ao denominado Gases do Efeito Estufa – GEE (Greenhouse gas - GHG) com maior Potencial de Aquecimento Global - PAG (Global Warming Potential – GWP), pois é 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono (Tabela 2). O esterco dos bovinos e o plantio de vegetação específica para alimentação dos rebanhos também emitem grandes quantidades de um dos GEE denominado óxido nitroso, que tem um PAG 298 vezes mais potente que o do dióxido de carbono. Portanto, os consumidores de carne bovina e de outros tipos de carne aumentaram a pressão para fazer com que a emissão de GEE seja reduzida. O desenvolvimento e a aplicação de estratégias com boa relação custo-benefício para reduzir a pegada de carbono da carne bovina são essenciais para a sustentabilidade do setor. NT 53 #2 Nutrição responsável Redução da pegada de carbono da produção de carne bovina Tabela 2. PAG, tempo de vida e % de emissão antropogênica de CO2, CH4 e N2O causada pela agricultura GEE PAG 100 anos Gt CO2 eq 100 anos CO2 eq (bilhões de toneladas) 100 anos Tempo de vida médio em anos PAG 20 anos CO2 1 n.d. 1,5 100 1 CH4 25 3,3 47 12 72 N2O 298 2,8 58 114 289 Fonte: IPCC, 2007 O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC) é a organização científica criada pelas Nações Unidas e pela Organização Mundial de Meteorologia (World Meteorological Organization – WMO) para fornecer dados científicos independentes sobre as mudanças climáticas. O Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, publicado em 2007, apresenta os dados mais confiáveis sobre as fontes de GEE. Parte dos GEE é de origem natural e o restante é provocado pelas atividades relacionadas ao ser humano (Tabela 1). No caso do metano, cerca de 60% das emissões são antropogênicas (relacionadas ao ser humano) e 40% são oriundas de fontes naturais como pântanos, oceanos e cupins. Tabela 1. Fontes antropogênicas dos gases do efeito estufa no mundo e no Brasil Mundo % Brasil % Fornecimento de energia 25,9 17,5 Indústria 19,4 1,8 Mudança no uso da terra e silvicultura 17,4 56,3 Agricultura 13,5 23,1 Transporte 13,1 Construções residenciais e comerciais 7,9 Resíduos e gestão de resíduos 2,8 1,2 Fontes: Mundo: IPCC, 2007; Brasil: calculado com base na Cerri e.a., 2009 Os dados da Tabela 1 são cálculos aproximados sobre a contribuição direta da agricultura no mundo, apresentada como 13,5% (na verdade podem variar #2 54 NT entre 11% e 15%). Se forem somados os valores de 6% a 17% provocados pelas mudanças no uso da terra, principalmente pelo desmatamento, podese dizer que a agricultura é responsável por 17% a 32% de todas as emissões antropogênicas dos GEE. Devido à grande variação nas estimativas de mudança no uso da terra, esses aspectos não serão abordados neste artigo. No entanto, é importante observar que, no Brasil, estima-se que mais da metade dos GEE antropogênicos seja emitido pelas mudanças no uso da terra e pela silvicultura (Tabela 1). Agricultura Os principais GEE presentes na agricultura são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). De acordo com o Protocolo de Kyoto, o CO2 emitido pelos bovinos não é considerado uma fonte líquida de CO2, porque faz parte de um sistema biológico de ciclo rápido, em que a matéria vegetal consumida foi criada por meio da fotossíntese, que converte o CO2 atmosférico em compostos orgânicos. No entanto, a agricultura é responsável por aproximadamente 47% do CH4 e de 58% do N2O de todas as emissões antropogênicas globais ao longo de um intervalo de tempo padrão de 100 anos (Tabela 2). Os efeitos da eventual redução da emissão de gás metano são percebidos com muito mais rapidez do que os do CO2 e N2O, pois o CH4 tem um tempo de vida médio de 12 anos comparado aos 114 anos do N2O e aos 100 anos do CO2. No futuro, o IPCC poderá adotar o intervalo de tempo mais apropriado de 20 anos para o metano e aumentar o PAG desse gás para 72 (Tabela 2). Essa mudança na contagem triplicará o efeito da mitigação de CH4 apresentado nos equivalentes de CO2 padrão (CO2 eq). Avaliação do ciclo de vida Certamente, a emissão dos GEE é o assunto mais estudado até o momento em função do impacto ambiental causado pelos mesmos. Entretanto, existem outros como a biodiversidade, a acidificação, a emissão de poeira, a ecotoxicidade, o uso de energia e o uso da água. É muito difícil quantificar a maioria desses impactos e portanto, neste artigo, as opções de melhoria estão limitadas à redução dos GEE. A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é o método selecionado para compreender os impactos ambientais de um sistema de produção e para identificar opções de melhoria. A ACV quantifica o impacto ambiental de todos os processos envolvidos na fabricação e/ou produção de um produto. Para comparar sistemas, é necessário definir a unidade funcional como, por exemplo, 1 kg ou 1 tonelada de peso vivo que sai da fazenda. Tabela 3 - Fontes dos gases do efeito estufa, exceto CO2, na agricultura Mundo (%) Brasil (%) Emissões de N2O do solo 38 41 CH4 proveniente da fermentação entérica 32 53 Queima de biomassa 12 1 Produção de arroz em áreas alagadiças 11 1 Tratamento de estrume 7 3 Fontes: Mundo: IPCC, 2007; Brasil: calculado com base na Cerri e.a., 2009 Em seguida, o limite do sistema é definido. Geralmente, inclui-se desde o nascimento até a saída da fazenda, ou seja, o ciclo de vida completo, desde a produção de suplementos até o momento em que os animais deixam a fazenda. O limite não inclui o transporte até o abatedouro ou o processamento da carne na fábrica. Alguns métodos de ACV incluem dados obtidos desde o nascimento até a saída da fazenda, além de todos os suplementos utilizados depois que os animais deixam a fazenda, e avaliam até a quantidade de energia gasta pela geladeira na casa do consumidor e o custo ambiental do descarte da embalagem. As contribuições principais para uma ACV que analisa a produção de carne bovina desde o nascimento até a saída da fazenda são as emissões de CH4, mas também incluem emissões dos GEE dentro e fora da fazenda na cadeia de produção dos alimentos fibrosos e dos alimentos concentrados. Isso varia de acordo com os fertilizantes (a produção que emite N2O, CH4 e CO2) e pesticidas comprados para o cultivo da plantação e com o diesel (CO2) usado pelos tratores, além da eletricidade (CO2) para iluminação e para o funcionamento de máquinas. Todos os GEE são apresentados em CO2 eq por unidade funcional. NT 55 #2 Gases do efeito estufa - GEE A tabela 3 resume as principais fontes de gases do efeito estufa, exceto CO2, na agricultura no mundo e no Brasil. No Brasil, 53% dos GEE na agricultura são devidos ao gás metano resultantes da fermentação entérica. Multiplicando-se 53% (%CH4 proveniente da fermentação entérica) por 23,1% (% GEE provenientes da agricultura (Tabela 1), nos mostra que, no Brasil a fermentação entérica é responsável por 12,3% da emissão antropogênica dos GEE. Em termos mundiais, isso equivale a 4,4%. No Brasil, considerando que aproximadamente 20% dos bovinos são representados por bovinos leiteiros, conclui-se que o segmento de bovinos de corte é responsável por 82,2% da fermentação entérica (Cerri et al., 2009). Isto representa10% dos GEE antropogênicos. Portanto, as estratégias que visam à redução da fermentação entérica em bovinos de corte podem reduzir significativamente as emissões dos GEE no Brasil. O impacto ambiental de um produto em termos de emissão dos GEE é chamado de pegada de carbono e é expresso em gramas ou toneladas de CO2 eq por unidade funcional. Um número cada vez maior de supermercados e fabricantes de alimentos informa a pegada de carbono de seus produtos no rótulo. Atualmente, ferramentas de ACV estão sendo desenvolvidas em diversos países para avaliar a pegada de carbono das dietas para animais, assim como dos outros suplementos necessários para a criação destes animais. Dados confirmados serão necessários para calcular a pegada de carbono relativa a produção da carne e de outros produtos de origem animal. Temporariamente, valores predeterminados são utilizados. Há também iniciativas para padronizar os métodos de medição e cálculo da pegada de carbono. É provável que em segmentos premium do mercado de carne, num futuro próximo seja exigido que os produtores forneçam informações sobre a pegada de carbono de seus produtos. Medição e redução do metano entérico É evidente que o metano produzido durante a digestão, principalmente no rúmen, é o componente principal da pegada de carbono da carne bovina e do leite. O que pode ser feito para reduzir essa pegada? O primeiro passo na pesquisa é desenvolver métodos para medir as emissões de metano. Isso pode ser feito em câmaras de respiração ou por meio do método indireto de gás traçador SF6 (hexafluoreto de enxofre), como utilizado pela APTA-IZ (Instituto de Zootecnia), em Nova Odessa (SP), e pela Provimi, na Holanda. Nos estudos in vitro, a emissão de metano de cada animal é medida e os efeitos das estratégias de mitigação podem ser analisados técnica e financeiramente. Evidentemente, as estratégias de #2 56 NT mitigação precisam ser financeiramente neutras na pior das hipóteses. É certo que, em bovinos de corte, a maneira mais eficaz (relação custo-benefício) para reduzir a emissão de metano por kg de peso vivo é aumentar o ganho de peso diário dos animais. Um animal que se desenvolve mais rápido atingirá o peso de abate em uma idade mais jovem. Nesta hipótese, menos alimento(dieta) é utilizado na manutenção do animal e as emissões totais de metano ao longo do ciclo de vida também serão reduzidas, resultando em menos CH4 por kg de peso vivo ou por kg de carne bovina produzida. Devido à diminuição das exigências de manutenção, o CH4 emitido por peso final em kg cai rapidamente, em termos absolutos e relativos, quando comparados à idade no abate (Tabela 4). Obviamente, a qualidade de alimento e, principalmente, a digestibilidade, deverão aumentar para dar suporte ao maior desempenho do animal. O primeiro passo muitas vezes pode ser obtido com suplementos relativamente simples, como o NNP e uma mistura balanceada de minerais. Estratégias para aumentar o ganho de peso diário e reduzir a emissão de CH4 por kg de carne bovina A tabela 5 apresenta uma lista não exaustiva de estratégias para aumentar o ganho médio de peso por dia de vida e para reduzir a quantidade de metano emitido por kg de carne bovina produzida. A maioria dessas medidas também aumentará a rentabilidade da produção de carne bovina e faz parte da administração normal. Para escolher o melhor método, uma abordagem holística na forma de ACV dos GEE é recomendada. Isso evitará que a redução de um GEE, como o metano, ocasione um aumento da emissão de outros GEE, como o N2O dos fertilizantes nitrogenados aplicados ao pasto para aumentar a digestibilidade da pastagem. Tabela 4. Efeito da idade de abate na produção entérica de CH4 por kg de peso final (480 kg) Esta é uma análise simplificada e exclui a produção de CH4 no caso de confinamento e reprodução. Idade de abate (anos) 5 4 3 2 Idade de abate relativa 100 80 60 40 - - - 3 Meses em lote de alimentação Ganho de peso vivo (g/dia de vida) 247 309 412 618 TCA estimada (kg por dia/kg de ganho de peso vivo) 33 24 17 9 Digestibilidade da dieta % 55 60 65 7/8 Metano entérico como % de EB 7,0 6,5 6,0 1 5/6 Kg de metano no ciclo de vida 337 224 145 67 Kg de CO2 eq/kg de peso final 17,6 11,6 7,5 3,5 CO2 eq relativo/kg de peso final 100 66 43 20 Fonte: IPCC, 2007 Tabela 5 - Exemplos de estratégias para mitigar o metano entérico por Kg de carne bovina: • Animal mais jovem na primeira reprodução e intervalo mais curto de reprodução • Minimizar o descarte involuntário • Reduzir o estoque de substituição • Aumentar a longevidade do rebanho • Aumentar o mérito genético animal e vegetal • Otimizar a formulação de dieta • Fornecer suplementos como NNP e minerais • Otimizar o fornecimento de água potável • Melhorar o manejo • Melhorar a saúde do animal e o controle de doenças Conclusão A agricultura – e a produção de carne bovina e de leite em particular – recebe críticas negativas devido à produção associada de gases do efeito estufa. No entanto, devemos nos lembrar, e continuar a relembrar nossos clientes, nossos políticos e nosso público, da habilidade única dos ruminantes de converter materiais, que, caso contrário, não poderiam ser utilizados, em carnes e laticínios altamente nutritivos. Com o investimento apropriado em pesquisa e desenvolvimento, assim como o trabalho da Provimi com os parceiros no Brasil, na Holanda e em outros locais, teremos certeza de que a pegada de carbono atual da produção de carne bovina e de leite pode ser reduzida significativamente, para o benefício de todos nós. • Fornecer abrigo e refrigeração • Aumentar a eficácia da conversão alimentar NT 57 #2 Pegadas de carbono (Carbon footprint) Bovinos de corte Modelos bioeconômicos têm sido muito utilizados para determinar a máxima remuneração operacional. Esse recurso permite a comparação de diferentes cenários, envolvendo tipos genéticos, manejos nutricionais, custos diretos e oportunidades de mercado (compra, venda, programas de valorização de carnes especiais, etc.), destinados basicamente a um sistema de criação intensivo (recria/terminação em confinamento), devido ao controle total das variáveis. Ponto de abate e remuneração operacional No Brasil, o confinamento é uma ferramenta cada vez mais utilizada na pecuária bovina. Tratase de uma ferramenta, já que não é um fim por si só, e sim parte de uma estratégia cuja finalidade é maximizar o resultado financeiro da propriedade rural em três pontos muito importantes: - Livrar as pastagens na estação seca de animais mais pesados (engorda) em favorecimento dos mais leves (recria). - Possibilitar a remuneração da venda em momento mais favorável (melhores preços). - Aproveitar ao máximo a carcaça em engorda (peso de abate). Do ponto de vista da estratégia de compra e venda de animais, ao tomarmos a recente reconstrução do país em sua fase pós-inflação (1994 até os dias atuais), vemos claramente que a possibilidade de melhores negócios na venda de boi gordo concentra-se depois do mês de junho, e a compra de bezerros até o referido mês. Este cenário cria, sob a perspectiva de um sistema de produção, duas oportunidades muitos específicas: uma estação de compra e uma estação de venda. A figura 1 mostra a sobra de valores (R$) considerando o momento de compra/venda sobre o preço médio anual do boi gordo e bezerro. Se uma determinada propriedade comercializasse mil animais/ano e adotasse a estratégia sugerida acima, muito provavelmente agregaria a seu resultado um total de R$ 840.000,00 ao longo de 14 anos, em comparação a outra propriedade que estivesse comercializando seus animais sem uma estratégia definida. Isso, se considerarmos os valores médios, sem contar, portanto, as melhores oportunidades em momentos mais do que oportunos (fig. 2). Figura 1 - Impacto (medido em R$) na decisão de compra/venda frente à média de preços anuais (Dados: média de janeiro a dezembro, entre 1995 e 2008) 80 60 Danilo Grandini Gerente de Negócios de Bovinos de Corte Nutron Alimentos Hudson Castro Gerente Regional de Bovinos de Corte Nutron Alimentos 40 Diferença (R$) BZ 20 0 Diferença (R$) BOI -20 -40 #2 58 NT -60 NT 59 #2 Pedro Terencio Coordenador de Serviço Técnico de Bovinos de Corte da Nutron Alimentos Figura 2 - Máxima oportunidade na venda de boi em relação à média anual (Dados: média de janeiro a dezembro, entre 1995 e 2008) 300 250 200 R$ boi 150 Max 100 50 0 -50 Foto 1. Animal classificado como de acabamento escasso 70 Y = 0.4739 + 0.0005 (X) Y = Porcentagem X = Peso carcaças 68 66 64 62 60 58 56 R2 = 0.81 n = 85 SE = 0.000025 54 52 50 150 200 250 300 Peso carcaças, Kg #2 60 NT 350 400 450 90 80 70 60 50 Rendimento % 40 Custo $ colocada 30 Receita $ 20 10 Sob o prisma técnico, a premissa básica é um maior conhecimento dos animais a serem trabalhados, principalmente no que se refere à questão de peso maduro e relação proteína-gordura no momento do abate. Fisiologicamente, o peso maduro pode ser considerado como ponto máximo de acúmulo de massa muscular, desconsiderando o acúmulo de gordura que pode ocorrer depois disso. Aceita-se, em geral, que o crescimento muscular é praticamente nulo após o acúmulo de 34% a 37% de gordura corporal, portanto, a definição de peso maduro passa a ser o peso em que o animal atinge de 34% a 37% de gordura corporal. A relação entre estrutura corporal (frame size) e peso maduro é praticamente direta, porém dependente do nível de musculosidade. A compreensão do peso maduro é importante na determinação do plano nutricional a fim de explorar 546 536 526 515 505 494 484 473 462 451 440 428 417 405 393 381 0 todo potencial produtivo de uma raça ou mesmo manipular as taxas de crescimento com o objetivo de postergar ou antecipar a fase de acabamento (figura 05). Comercialmente, a terminação do peso maduro, ou seja, 34% a 37% de gordura, é realizada somente em mercados altamente especializados, principalmente naqueles que buscam gordura intramuscular (marmoreio) e nos quais existe remuneração para esse tipo de produção. Comercialmente, em nosso sistema de classificação, busca-se a produção de um animal de gordura de cobertura moderada a uniforme, o que corresponde a um animal com percentual de gordura em torno de 26% (fig. 6), ponto em que a demanda energética para terminação não implica grande perda econômica e possibilita atingir um maior peso de abate, melhorando, assim, o rendimento da carcaça. No sistema norte-americano seria o equivalente ao tipo select e low choice. NT 61 #2 Figura 3 - Relação entre peso de carcaça (Kg) e rendimento (%), em abates nos EUA (Owens) Figura 4 - Lucro operacional considerando diferentes pesos de abate a um custo de R$ 0,41/Kg MS (dieta) e valor de venda de R$ 75/@ (apresentado durante Workshop Merial/Nutron 2008, avaliação do desempenho de 54.764 nelores inteiros de diversos criadores). 369 ao peso maduro funcional, e este, por sua vez, ao nível de gordura da carcaça, que comercialmente fica em torno de 25% a 27% de gordura corporal (equivalente a gordura uniforme). Ou seja, ao atingirmos a gordura uniforme no abate, estaremos, de certa forma, representando o máximo acúmulo de carcaça, considerando o sistema nacional de classificação (fotos 1 e 2). Uma segunda pergunta que nos ocorre é o custo do ganho, o raciocínio de que animais com maior acabamento são mais caros de se produzir é correto, entretanto o incremento do rendimento de carcaça representa um ganho financeiro que não deve ser esquecido (figura 3). De um lado, teremos piores conversões alimentares (custo) e, de outro lado, melhores rendimentos (receita). Deve-se considerar o valor da diária nutricional e valor de venda do boi gordo, permitindo, assim, a correta determinação do peso do abate através do retorno financeiro final, e não somente através do custo mínimo de produção (fig. 4). 357 Avaliando a oportunidade em relação ao peso final de engorda, não resta dúvida da importância da genética na quantificação desse valor. Pardi et al. (1996), citado por Pineda N. R., mostrou que em 70 anos o peso da carcaça de 7,4 milhões de zebuínos abatidos em um único frigorífico (Anglo, Barretos – SP) passou de 234,5 Kg/carcaça para 268,6 Kg/ carcaça, ou seja, um incremento de 26,9 Kg/carcaça. Ganho Isso é fruto da substituição de raças (aumento da população de nelore em relação ao gir no rebanho zebuíno), aumento do uso de touros provados e busca de cruzamentos industriais. Entretanto, temos uma oportunidade única no que diz respeito à genética para obtermos melhorias na nutrição e sanidade, em que a etapa final de engorda sob sistema confinado (controle total das variáveis) permite uma pergunta muito importante: vendemos bois ou carcaças? Obviamente vendemos o animal, mas somos remunerados pelo peso de sua carcaça. O peso da carcaça estará intimamente relacionado Foto 2. Animal classificado como de acabamento uniforme Figura 5 - Relação entre estágio de crescimento/taxa de ganho e composição corporal de bovinos frame médio (adaptação NRC, 1996) Figura 7 - Estimativa dos conteúdos corporais de gordura e proteína (Kg) de acordo com o PCV (peso corporal vazio) de bovinos nelore não castrados, puros e mestiços. (Adaptado de: Composição corporal e exigência de energia de manutenção em bovinos nelore, puros e mestiços, em confinamento) 30 140 25 120 100 0,6 Kg/d 0,8 Kg/d 15 1,0 Kg/d 1,3 Kg/d 10 80 Conteúdo (Kg) % gordura corporal 20 60 40 20 5 Proteína 0 0 150 200 250 300 350 400 450 200 250 Gordura 300 350 400 450 500 500 PCV (Kg) - EBW (Kg) Peso vivo (Kg) Composição corporal, % Figura 6 - Composição química do peso vivo em jejum sob diferentes condições corporais (escore 1 - 9) Escore corporal Gordura (%) Proteína (%) Mineral (%) Água (%) Variação em relação ao escore 5 Gordura 14,9 17,2 19,5 21,8 24,2 26,5 28,8 1 3,77 19,42 7,46 69,35 77 Proteína 19,5 19,1 18,6 18,1 17,6 17,1 16,5 2 7,54 18,75 7,02 66,69 81 3 11,3 18,09 6,58 64,03 87 4 15,07 17,04 6,15 61,36 93 5 18,84 16,75 5,71 58,70 100 6 22,61 16,08 5,27 56,04 108 7 26,38 15,42 4,83 53,37 118 8 30,15 14,75 4,39 50,71 130 9 33,91 14,08 3,96 48,05 144 Machos não castrados (PV - Kg) Pequeno 230 275 325 370 415 465 510 Médio 270 325 380 435 490 545 600 Grande 310 375 440 500 565 625 690 Machos castrados (PV - Kg) Pequeno 195 230 270 310 350 385 425 Médio 225 270 320 365 410 455 500 Grande 260 315 365 420 470 520 575 Novilhas (PV - Kg) Pequeno 155 185 220 245 275 310 340 Médio 180 220 255 290 325 365 400 Grande 210 250 290 335 375 420 460 Freitas et. al. (2006), trabalhando na determinação da composição corporal e exigência de manutenção de nelore e seus mestiços (não castrados) em confinamento, com dietas que variaram de 30% a 70% de concentrado, e peso de abate variando entre 480 Kg e 510 Kg (100% a 110% do peso materno), não encontrou diferença significativa entre os grupos genéticos. Assim, adotamos uma única equação para a determinação da composição corporal de proteína e gordura corporal #2 62 NT (fig. 7), em que o peso corporal vazio foi obtido pela aplicação do fator 0,891 sugerido pelo NRC, 1996. Com base na estrutura corporal e categoria animal, é possível, de acordo com o mesmo objetivo final (composição da carcaça), estabelecer um programa nutricional correto, bem como apartação para abates programados (tabela 1), definindo, assim, um sistema de produção que vise maximizar o resultado financeiro, tendo como base o animal, o mercado e seu custo de produção. Table 3 – 5, NRC 1996 Em resumo: • Busque um sistema de produção voltado à maximização de resultados financeiros. • O momento da venda é a melhor oportunidade. FOCO e OBJETIVO. Entenda o mercado. • Venda CARCAÇA! Procure conhecê-la melhor. Danilo Grandini é Zootecnista, formado pela UNESP Jaboticabal, especialista em análise econômica e Gerente de Negócios de Bovinos de Corte da Nutron Alimentos Hudson Castro Médico Veterinário, formado em veterinária em 1999 pela UFLA Universidade Federal de Lavras - MG e Gerente Regional de Bovinos de Corte da Nutron Alimentos Pedro Terencio Médico Veterinário formado pela FMVZ da USP, Coordenador Técnico de Bovinos de Corte da Nutron Alimentos NT 63 #2 Tabela 1 - Pesos corporais nos quais os animais em crescimento, de diferentes tamanhos de estrutura corporal, têm composição corporal e exigências nutricionais semelhantes. (Adaptado de: Beef production and management , 1982) NT 65 #2 #2 64 NT Suínos Marketing o caminho para o consumo O mercado consumidor está cada vez mais exigente. Hoje em dia, certificados e garantias de origem são ferramentas essenciais para comercialização, principalmente quando o destino é o mercado externo. Com a carne suína não é diferente. Para atender esse padrão internacional, os suinocultores investem fortemente em tecnologia nas áreas de genética, manejo, nutrição e gestão, alcançando, assim, o mesmo nível dos melhores sistemas utilizados em todo o mundo. Até o ano passado, o Brasil comercializava carne suína com 76 países. O que muitos desconhecem, porém, é que o Brasil, quarto maior produtor e exportador de carne suína, é um dos últimos no ranking de consumo interno. Apesar do grande avanço industrial do setor, a carne suína perdeu espaço no mercado interno e ainda hoje perde para as carnes de boi e frango na preferência dos consumidores. Além disso, apenas 25% do total de 13,3 Kg per capita consumidos em 2008 são carne fresca, “in natura”. Os 75% restantes são consumidos pelos brasileiros processados, ou seja, embutidos como presuntos, salames, linguiças e salsichas diversas. Desfazer os tabus que inibem o aumento de seu consumo e realçar as vantagens de um produto saudável, equilibrado e de fácil preparo foram os maiores desafios para convencer os brasileiros a consumir mais carne suína. Como o consumidor de hoje é altamente propenso a comprar produtos que ofereçam diferenciais e novas experiências, foi preciso agregar valor aos produtos de carne suína, investindo na comercialização com cortes especiais e boa exposição para atender a demanda. Essa foi a visão da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS). Era preciso um novo olhar sobre a carne suína. CONSUMO MUNDIAL DE CARNES NT 67 #2 #2 66 NT A alma do negócio Para reverter esse quadro de baixo consumo e abrir espaço para a carne suína no cotidiano dos brasileiros, a ABCS implementou há três anos a campanha “Um novo olhar sobre a carne suína” em diversos estados do país. Simples e direta, a propaganda é a ferramenta mais estratégica para se apresentar ao consumidor as qualidades e os diferenciais de um produto. Com a carne suína não poderia ser diferente, é o que explica Irineu Wessler, presidente da ABCS. “Mais do que uma campanha de promoção, foi preciso uma ação concreta de mudança dos conceitos, de comercialização da carne suína. Necessitávamos de um novo olhar”, completa. Recebida com sucesso em diversas unidades de supermercados, incluindo desde unidades de pequeno porte até as maiores redes, a campanha desenvolveu formatos modernos de apresentação do produto em seus variados cortes, adaptados às necessidades e exigências do consumidor, além de promover a degustação nas lojas e a distribuição de folhetos com receitas e informações nutricionais. Necessidade do consumidor A carne suína oferecida em grandes peças enfrentava dificuldades para entrar na alimentação do dia a dia dos brasileiros. Seu volume e forma se mostravam incompatíveis com a real necessidade do consumidor − por exemplo, o pernil. Já os formatos das carnes de frango e bovina, com cortes menores e embalagens mais práticas, atendem à praticidade e às conveniências da estrutura social e econômica do país. “Esse é o item conceitual mais importante. A carne suína tem que ser vendida o ano todo, em formatos diversificados, contemporâneos, que atraiam e satisfaçam o consumidor”, afirma o diretor de comunicação e marketing da ABCS, Fernando Barros. Para isso, a Associação uniu-se ao Centro de Tecnologia da Carne, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (CTC/ITAL), em Campinas, e desenvolveu um trabalho de caracterização dos cortes, de acordo com as exigências de consumo. “É indispensável mostrar que a carne suína pode ser consumida da forma mais leve e saudável. Mas não poderíamos desestimular aqueles que têm preferência pelo sabor que a própria gordura proporciona ao irrigar a carne durante o cozimento. Por isso, criamos 57 cortes diferenciados, desde medalhão de filé mignon e picanha até bifes magros, tirinhas para strogonoff e carne moída”, conta o diretor de marketing. O projeto piloto realizado em parceria com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) em três lojas do Grupo Pão de Açúcar – Extra, Bom Preço e Pão de Açúcar – foi altamente positivo. Somente numa das lojas, a quantidade de carne suína vendida em uma semana superou o total vendido pela mesma loja no período de um mês, apenas com a disponibilização dos novos cortes e uma apresentação mais cuidadosa dos produtos nas gôndolas. Para dar continuidade ao projeto, especialistas nos cortes industriais treinaram e capacitaram funcionários e dirigentes de frigoríficos, açougues e supermercados que fizeram parte da campanha, tudo para garantir uma boa apresentação do produto nos postos de venda. Suíno: garoto-propaganda nos EUA er Ceci Snyd #2 68 NT Ainda para Snyder, as campanhas promovidas ao longo desses anos tiveram focos diferentes, de acordo com a necessidade do consumidor e do mercado. “As campanhas atuais se afastaram do foco em nutrição para reforçar a versatilidade da carne suína. Nesse cenário, identificamos que nossa maior barreira é a falta de conhecimento quanto às formas de cozimento da carne”, explica. Diante disso, o site renovado da campanha The Other White Meat traz agora diversas receitas de preparo da carne, com objetivo de apresentar os consumidores diferentes ideias de pratos e dicas para cozimento.Baseado nessa necessidade, o National Pork Board também lançou outra campanha de marketing, o The Other White Meat Tour. Com um trailer itinerante, a promoção viaja por todo o país com chefs de cozinha preparando para o público diversas receitas à base de carne suína. No site é possível saber em qual estado e cidade a campanha estará e qual será o chef de cozinha. Tudo para promover e facilitar a divulgação, estando cara a cara com os consumidores. NT 69 #2 Países que hoje são os maiores consumidores da carne suína também apostaram no marketing para alavancar as vendas. Lançada nos EUA em 1987, a campanha “The Other White Meat” (A Outra Carne Branca) iniciou com anúncios na TV com o objetivo principal de mudar o pensamento do consumidor em relação à carne suína. Em apenas quatro anos de campanha, as vendas de carne suína nos Estados Unidos subiram 20%, atingindo US$ 30 bilhões. Sucesso há mais de 20 anos, a campanha é considerada hoje um dos cinco slogans mais conhecidos na publicidade norte-americana. Para Ceci Snyder, vice-presidente da National Pork Board, entidade responsável pelo programa de promoção e incentivo ao consumo da carne suína americana, o alto investimento em ações de divulgação foi o grande responsável pelo reconhecimento da campanha e aumento do consumo no país. “Acredito que nosso sucesso inicial se deve à publicidade, mas nós confiamos bastante nas relações públicas e no nosso trabalho com os varejistas”, afirma. McDonald’s se rende aos prazeres da carne suína Nem mesmo a maior rede de fast-food do mundo que atendeu, no ano passado, cerca de 1,6 milhão de clientes no Brasil e faturou mais de R$ 3,3 bilhões, resistiu ao sabor da carne suína. Essa é a novidade que o Mc Donald’s apresenta nos países da América Latina em campanha específica: o sanduíche Chef Sausage, composto por carne suína selecionada, temperada com um mix de três variedades de pimentas moídas. Com apenas 264 calorias, o sanduíche apresenta 30% de ferro em sua composição, aproximadamente um terço das necessidades diárias desse nutriente para um adulto. Considerado item importante para uma alimentação saudável e indispensável em um cardápio bem elaborado, a carne suína é fonte de proteína e, por isso, não tem associação direta com o fornecimento de energia ao corpo, como carboidratos e gorduras. Além disso, é uma das principais fontes de vitamina B1 (tiamina), que participa do metabolismo energético, melhora o apetite e o funcionamento do sistema nervoso. Segundo Roberto Gnypek, diretor de planejamento e marketing da Arcos Dourados, empresa de capital latino-americano e detentora da maior franquia McDonald’s no mundo, o lançamento do sanduíche Chef Sausage se baseou nas opiniões dos consumidores e tem como objetivo entender e atender da melhor forma possível a expectativa dos clientes da rede. #2 70 NT “A ideia é proporcionar sempre novos sabores e a carne suína é uma excelente opção, porque oferece aos consumidores a experimentação de novidades. Para aqueles que já frequentam nossos restaurantes, as novidades significam opções, sabores diferentes, com prazer e diversão”, afirma. Lançado há menos de um mês e presente no cardápio somente até dezembro, o Chef Sausage já apresenta resultados satisfatórios, segundo o diretor de marketing. “Em uma semana, aproximadamente 200 mil consumidores já saborearam o Chef Sausage nos 566 restaurantes da rede no Brasil”, afirma. Mas essa não é a primeira vez que o gigante da alimentação fast-food se rendeu aos prazeres dessa carne. O sanduíche McRib, com carne feita a partir de paleta do porco, em formato de costelinhas (ribs), voltou ao cardápio da rede em 2002, após ter sido lançado dois anos antes. Além disso, a carne suína também é umas das opções servidas no café da manhã, no Muffin Sausage e como ingrediente em alguns dos sanduíches (bacon). Sobre o lançamento de produtos temporários, Gnypek explica que eles incentivam a experimentação e, dessa forma, colaboram na definição do menu. “A rede sempre se pauta pela preferência do consumidor. É ele quem determina o nosso cardápio. Um exemplo é o Cheddar McMelt, uma inovação brasileira que entrou como produto temporário e hoje tem um público fiel. Entendemos que, apesar do brasileiro dar preferência à carne bovina, existe um mercado potencial a ser explorado, por isso a carne suína tem sido utilizada em algumas ações, pois há um público consumidor voltado ao produto”, conclui. Reconhecido no mundo todo, espalhado em 119 países com mais de 30 mil lojas que servem quase 50 milhões de compradores todo dia, o McDonald’s já provou confiar no sabor da carne suína, agora é tornar esses lanches permanentes do cardápio da rede. Os resultados numéricos apresentados pela campanha comprovaram que o consumidor muda seu padrão tradicional de consumo quando a carne suína é apresentada de forma diversificada, prática, atraente e nem sempre associada à gordura. Mas também foram identificadas razões operacionais e logísticas que explicam o baixo consumo da carne suína no Brasil. “Antes, os suinocultores se contentavam em atribuir os problemas de comercialização ao preconceito que inegavelmente ainda vigora fortemente em todas as camadas da população. Mas há alguns aspectos gerenciais, logísticos e operacionais que acabam limitando, ou inviabilizando, a colocação da carne suína no varejo”, afirma o presidente. Contrariamente ao que ocorreu nas cadeias de carne de aves e bovina, a carne suína resfriada ou congelada ainda chega ao varejista na forma tradicional e antiquada de meias carcaças. “Essa forma de comercialização exige grande manipulação no ponto de venda, além da incidência de custos de transporte, impostos e tributos sobre ossos, pele e retalhos não aproveitáveis que são gerados na preparação final dos cortes”, conta Fernando Barros. Diante desse novo cenário, a ABCS está implantando ações para melhorar os mecanismos de comercialização da carne suína, como o Programa Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, que reúne parceiros e agências de desenvolvimento empresarial, para aumentar em 2 Kg o consumo per capita de carne suína, no Brasil, em três anos. Para Wessler, atingir 15 Kg contra os 45 Kg da média europeia é aparentemente modesto, mas o objetivo tem marcante impacto econômico e social. “Será necessário adicionar 200 mil novas matrizes no plantel brasileiro; investir mais de R$ 1 bilhão em granjas; gerar demanda adicional de 15 milhões de sacas de milho e 6,2 milhões de sacas de soja” afirma. Segundo dados da ABCS, esse aumento no consumo dos brasileiros representariam 12 mil novos empregos diretos e estimados outros 60 mil indiretos. Para isso, o programa irá integrar as ações da cadeia produtiva de forma a atender a demanda e assim disponibilizar a carne suína in natura em qualidade, quantidade, formato e competitividade com as demais proteínas animais, em todos os níveis de varejo. “Cerca de 5 mil produtores receberão informações e serão treinados em diversas tecnologias, elaboradas em conformidade com suas características”, afirma Fernando Barros. Já as ações na indústria serão desenvolvidas em frigoríficos e abatedouros localizados nos estados incluídos no projeto. O programa prevê a ampliação da campanha “Um novo olhar sobre a carne suína”, alcançando agora todos os nichos de mercado (supermercados, açougues, restaurantes, empresas de refeições coletivas, entre outros), com objetivo de aumentar, em três anos, 25% as vendas de carne suína nos estabelecimentos que aderirem à campanha. NT 71 #2 Novas perspectivas Garantia de qualidade. Ingleses confiam no selo! #2 72 NT C M Y CM MY CY CMY K NT 73 #2 Bem-estar animal e procedência dos alimentos estão em alta nas mentes dos consumidores modernos, principalmente dos ingleses. Grande consumidora de carne suína, a Inglaterra possui agora um novo selo que atesta e garante a qualidade dos produtos à base de carne suína. Lançado pelo Conselho da British Pig Executive (BPEX), o padrão de qualidade será usado apenas nas embalagens de carne de porco e produtos que vêm de uma cadeia de abastecimento comprometida com padrões elevados de bem-estar animal, controle de qualidade e rastreabilidade. Comercializado a partir de 1º de abril de 2010, o selo será uma marca global e reconhecível para o uso de carne de porco in natura, bacon, salsichas e presunto, entre outros. Segundo o diretor de marketing da BPEX, Chris Lamb, o selo Quality Standard Mark foi criado para dar suporte aos fazendeiros de suínos que produzem carne de alta qualidade (sem baias e sem castração). “O QSM foi introduzido para diferenciar essas carnes, uma necessidade de proteger o futuro desses produtores, oferecer a oportunidade de competir e dar continuidade ao próprio negócio. Além de trazer benefícios para a indústria suinícola inglesa”, explica. Outra campanha lançada pela BPEX, também tem como objetivo o aumento do consumo. A comunidade online Love Pork é um site para os apaixonados por carne suína. “Nós precisávamos de uma aproximação mais ‘amiga do consumidor’ e um incentivo para se envolverem e ‘amarem carne suína’. Com a baixa nos nossos orçamentos e muita informação detalhada para oferecer, a internet foi o canal apropriado”, conta Lamb. Grandes supermercados também estão envolvidos, usando o logo nas embalagens de carne suína. O site é constantemente atualizado para passar o maior número de informações possível sobre a carne e produtos derivados, desde a fazenda até a mesa. Segundo Lamb, a BPEX acredita em dois caminhos para aumentar o consumo da carne suína: explicar os valores e benefícios da carne aos consumidores para tornar-se um hábito e não apenas uma opção, além de desenvolver uma vasta gama de produtos para maximizar a utilização da carcaça. Frans Borg Esqueça os conceitos primários de Cooperativa. A ideia de algumas pessoas que se juntam para produzir e ter algum lucro com isso definitivamente não se aplica à Castrolanda. Gigante do setor, seus números impressionam. A edição de outubro da revista Exame a coloca entre as melhores e maiores do ano, ao lado de outras igualmente gigantes do mercado agropecuário. Com capital social dividido entre 744 sócios, a Castrolanda conta com uma #2 74 NT estrutura funcional de 528 colaboradores e atende a cerca de 30 municípios. Sediada em Castro, Ponta Grossa, Piraí do Sul, Curiúva e Ventania – todas cidades do Paraná – a Cooperativa dedicase à prestação de serviços a seus associados e, como empresa, busca desenvolver-se de maneira contínua, procurando aplicar modernas práticas de gestão, conquistar e manter vantagens competitivas na exploração das oportunidades que se abrem a NT 75 #2 Cooperativismo Ideias somadas e gestão profissionalizada de leite, creme de leite e achocolatados. Ainda cada dia no mercado. Investe em projetos de novos na linha de leite, R$ 5 milhões estão destinados negócios, sem perder o foco de atuação, mantendopara a modernização da fábrica de rações de se como coordenadora da cadeia produtiva de seus bovinos. Outro setor que receberá melhorias é o de associados, participando ao longo delas por conta beneficiamento de cereais, com previsão de R$ 12 própria ou por intermédio de parcerias e alianças milhões. A unidade produtora de leitões ficará com estratégicas. Os produtores têm forte vocação a cifra de R$ 7 milhões. para a produção agropecuária. Investem muito em “Dentro do Planejamento Estratégico da tecnologia e gestão agropecuária, nas mais diversas Cooperativa, temos definido e atualizados anuáreas de atuação − agricultura, suinocultura, almente as grandes estratégias como a integração pecuária de leite e ovinocultura −, sempre com o agropecuária, o processo de profissionalização objetivo de buscar a melhoria de produtividade e a da gestão do produtor; o desenvolvimento das administração de seus negócios. lideranças e dos executivos da Cooperativa, o Presidida há 13 anos por Frans Borg, produtor investimento em pesquisa e desenvolvimento e o e engenheiro agrônomo, a Castrolanda vive hoje avanço tecnológico e biotecnológico. A integração o desafio de manter os princípios vivos de seus vertical ou formação de Joint Venture primeiros fundadores. “Apesar de “Como Cooperativa, entre cooperativas e empresas sermos Cooperativa, buscamos privadas nacionais e internacionais uma gestão profissionalizada, devemos manter o sustentável nas três vertentes: mesmo foco na missão, também estão nos planos, bem como estratégias específicas por social, ambiental e econômica. que é agregar valor a Os tempos mudam e as pessoas nosso associado”, define produto”, explica o presidente da Castrolanda. também, porém defendemos Frans Borg. Para manter esse crescimento de princípios e valores ensinados forma sustentável, Frans Borg cita a pelos fundadores da Cooperativa, importância de coordenar, desenvolver e fomentar que são: a união, a ética, o comprometimento, a as atividades produtivas dos associados, incluindo valorização das pessoas, a criatividade e a liderança. os conceitos da nutrição animal como um desses Se hoje somos dez vezes mais pessoas participando negócios, aliados à tecnologia, sem esquecer de do negócio, isso significa dez vezes mais ideias que estar sempre atento ao comportamento geral dos podem vir a somar e devemos aproveitar o lado consumidores e manter certa proximidade. positivo disso”, comenta o presidente. Para manter essa unidade sempre presente, a Cooperativa implantou, nos últimos 10 anos, Apoio à cultura como estratégia reformas profundas em suas estruturas e introduziu na comunidade um programa de planejamento participativo, que envolveu programas de profissionalização de sua A Castrolanda adota políticas bem definidas para gestão e de seus produtores, planos de capitalização apoios culturais, tanto destinados aos colaboradores e monitoramento. São realizados encontros anuais e associados como para a comunidade. de avaliação, quando são discutidas as principais Treinamentos, programas de educação continuada, diretrizes estratégicas para o futuro. contratação de menores aprendizes e estagiários, E os resultados dessas mudanças na gestão saúde e segurança no trabalho e incentivo ao parecem ter surtido efeito rápido. A Cooperativa folclore (por meio de aulas com crianças para a cresceu, em média, praticamente 15% ao ano na preservação da cultura holandesa) são algumas das última década. Apesar da crise, o ano de 2008 foi ações. O incentivo ao esporte beneficia anualmente considerado como um dos melhores na existência cerca de quatro mil atletas do município de Castro. da Castrolanda, graças ao preço das commodities Trabalhos sociais são fomentados pelos próprios agropecuárias. A crise foi sentida somente no colaboradores ou na Agroleite, hoje referência quarto trimestre e nem tanto em preços, mas em nacional em termos de tecnologia e lançamento crédito no mercado. Até o final de 2009 a previsão de produtos do setor. Nesse evento, o maior da da Cooperativa é investir R$ 50 milhões. O principal Cooperativa, cerca de 40 mil pessoas são envolvidas objetivo é a ampliação da Usina de Beneficiamento nos projetos, entre produtores, técnicos, estudantes, de Leite (UBL), onde estão sendo investidos cooperativas e entidades ligadas ao agronegócio cerca de R$ 21 milhões na linha de envasamento brasileiro. Cooperativismo C.Vale Fórmula que dá certo O desafio de aperfeiçoar pessoas, processos e produtos é um compromisso de quem deseja se manter competitivo no mercado. Definir metas e lutar por elas empregando talento e persistência foi a fórmula que levou a Cooperativa C. Vale a passar de um conjunto de 24 associados para a condição de segunda maior cooperativa do Estado do Paraná. Ao longo de quatro décadas e meia, a Cooperativa ampliou sua estrutura e hoje, formada por mais de 8 mil associados e cerca de 5 mil funcionários, possui 40 unidades de recebimento de produção, seis #2 76 NT supermercados e seis indústrias, espalhadas pelo Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraguai. Atuante na produção de soja, milho, trigo, mandioca, leite, suínos e frangos, a C. Vale tem como foco a busca do crescimento de seus associados e, por isso, investe na diversificação de atividades, na assistência técnica, na transferência de tecnologias e nos programas de qualificação pessoal e profissional. “Queremos estender a proteção do guarda-chuva do cooperativismo a um número cada vez maior de produtores e, ao mesmo tempo, permitir que outros segmentos sociais se beneficiem da abertura de novos postos de trabalho e da geração de tributos”, explica o presidente da cooperativa, Alfredo Lang. Exemplo da capacidade empreendedora de seus cooperados foi a construção do primeiro sistema de integração avícola brasileiro, em escala comercial, a utilizar processos automatizados para o controle de ambiente, que rendeu à Cooperativa o lugar de sexta maior exportadora de carne de frango do Brasil, com vendas para 45 países. Com matrizeiro, incubatório, fábrica de rações, aviários de campo e abatedouro, a cooperativa abate 310 mil aves por dia, comercializadas em 17 estados e países como Alemanha, Holanda, Inglaterra, China e Japão. Para o presidente, o desafio da C. Vale agora é chegar aos 500 mil frangos/dia. “É um número muito expressivo e que significará ainda mais oportunidades de trabalho, negócios e desenvolvimento econômico e social para toda a região”, enfatiza Lang. Enio Weiss Hubner foi um dos primeiros integrados NT 77 #2 Alfredo Lang do sistema avícola da Cooperativa. Ele revela que os principalmente porque ele já vinha de frustrações dois aviários construídos na região de Santa Rita, no seguidas de safras. Mas não deixamos que a crise município de Assis Chateaubriand, estão ajudando a afetasse a qualidade de nossos produtos. Esse é um pagar a faculdade das filhas e a superar períodos de valor que não tem preço e precisa ser preservado a crise. “Graças aos aviários e a minha aposentadoria qualquer custo. Se você tem qualidade diferenciada, estamos conseguindo atravessar os períodos de consegue se sobressair no mercado”, explica. Para safras ruins”, avalia. Segundo Enio, o aviário dá o presidente, o ótimo resultado também se deve a tranquilidade, porque tem giro rápido. “Chova ou faça força, união e o trabalho de seus 8 mil associados, sol, em dois meses tem colheita”, afirma. assim como de sua diretoria e seus funcionários. Essa é a segurança que a C. Vale garante aos “Isso consolida de vez que o cooperativismo, quando associados: bons rendimentos, mesmo em época de bem trabalhado, dá certo”, analisa. crise, como a que arrasou o mundo no ano passado e E todo o resultado desse empenho tem se que parece não ter abalado os índices de crescimento mostrado nos mais de R$ 90 milhões que a C. Vale da Cooperativa. Prova disso é a investiu em 2009. Até o final edição 2009 do levantamento desse ano, a previsão é aplicar Melhores e Maiores da revista R$ 21 milhões na construção Essa é a segurança Exame, que aponta a C.Vale da central de armazenagem que a C. Vale garante como a 214ª maior empresa para 1,4 milhão de sacas de aos associados: bons brasileira em vendas, com grãos, além de R$ 78 milhões rendimentos, mesmo faturamento equivalente a 864,7 na melhoria e na ampliação da em época de crise milhões de dólares (R$ 1,94 estrutura de recebimento de bilhão). Mas mesmo com os grãos. Mas Lang acredita que bons índices acumulados em o próximo ano será bem mais 2008, Alfredo Lang, mostrou cautela e tranquilidade promissor para os produtores e para as empresas e, para lidar com a crise. “O cenário mundial fez a por isso, já tem planos para ampliar o faturamento C.Vale reavaliar a velocidade de execução de novos de 2010, que passará de R$ 1,9 bilhão para R$ 2,1 investimentos, porque é preciso preservar o capital de bilhões. “Estamos ainda mais positivos para os giro quando o crédito se torna mais caro e escasso. resultados do próximo ano, nosso foco é expandir a As vendas de insumos e máquinas se tornaram bem área de atuação da Cooperativa, além de aumentar mais difíceis durante o período de crise porque o a produção de frangos, conquistando uma presença produtor ficou, com razão, mais receoso em gastar, ainda mais expressiva no mercado”, conclui. Prêmio nacional em educação cooperativista Pela terceira vez, a C. Vale foi eleita Cooperativa do Ano na categoria educação cooperativista, do prêmio concedido pela Organização das Cooperativas Brasileiras em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo e a revista Globo Rural. O Projeto Núcleos Femininos da C. Vale ofereceu treinamentos e cursos nas áreas de qualidade de vida, geração de renda e formação pessoal e profissional, que estimularam muitas mulheres a investir em novos negócios, como a produção de alimentos e artesanato, ajudando a complementar a renda familiar. “Paralelamente, as esposas de associados passaram a fazer parte das instâncias responsáveis pelas decisões da Cooperativa”, explica o presidente da C. Vale. A edição 2009 do prêmio OCB/Globo Rural teve o número recorde de 197 projetos de 151 cooperativas. Das 18 Cooperativas premiadas, cinco são do Paraná. Desde 2004, a C. Vale é premiada como cooperativa do ano nas categorias Gestão Profissional, Educação Cooperativista e Intercooperação. NT 79 #2 #2 78 NT Toque de Midas nos negócios A simplicidade com que Lair Souza resume a administração de seu patrimônio embute cifras bem elaboradas e conhecimento especializado. Sua trajetória inclui a presidência de 11 empresas, seja nas vezes em que ocupou o cargo mais alto ou quando se viu como fundador delas. Foi esse o caso da Solorrico, empresa de fertilizantes que criou com a experiência adquirida em um de seus primeiros empregos e que, sob sua administração, se tornou a terceira maior do setor brasileiro. A partir daí, seu lado empreendedor logo começou a falar mais alto. Foi numa notícia que vislumbrou uma grande oportunidade. Em meados dos anos 1960, o governo anunciou que parte do dinheiro da restituição do Imposto de Renda poderia ser usado para a compra de áreas para reflorestamento, numa época em que o assunto não atingira os níveis de obrigatoriedade de hoje. Lá foi Lair Souza se informar a respeito. Assim, após muita leitura e pesquisas, descobriu que o plantio de árvores frutíferas entraria como incentivo ao produtor, o que caiu como uma luva para quem acabara de adquirir uma propriedade em Araras, na qual plantava... laranjas! A ideia se tornou realidade e a Fazenda Colorado foi a primeira a utilizar árvores frutíferas como área de reflorestamento em solo nacional. Ouro branco Da plantação de laranjas, na Fazenda Colorado, nasceu também outro nicho de mercado: o leite. O início foi tímido, em 1981, quando produzia apenas 100 litros por dia. Depois de oito meses, a produção já havia saltado para 1.000 litros e a fazenda era pioneira na fabricação dos primeiros leites do tipo A do mercado. Ainda hoje, o maior desafio que Lair Souza encontra nesse negócio é trabalhar o conceito do leite do tipo A, como isso é absorvido Lair Antonio de Souza “Não existe mau negócio. Existe negócio mal administrado.” Com essa frase, o empresário Lair Antonio de Souza resume seu estilo de gerenciar. O toque de Midas que imprime em seus negócios pode ser facilmente notado na rápida visita da revista NT em uma de suas propriedades, a Fazenda Colorado, em Araras, interior de São Paulo. É lá que esse senhor de 80 anos descansa nos finais de semana, enquanto cuida pessoalmente de cada detalhe da produção da laranja e leite. Nas mínimas coisas é que Lair Souza mostra mais de sua personalidade. Sua memória é capaz de registrar a idade de cada uma das duas mil vacas holandesas que cria ali. E, falando em idade, a primeira impressão é de que ele não ultrapassou os 60 anos. Um rápido olhar já mostra o gosto pela era digital, comprovada pela familiaridade com as tecnologias da internet ou as facilidades do iPhone. #2 80 NT NT 81 #2 Alta gerência & empreendedorismo Sucesso planejado O empresário bem-sucedido nem de longe lembra o menino pobre que entregava carvão, aos catorze anos, pelas casas das ruas do bairro da Lapa, em São Paulo. Muito menos o rapazinho que dividia o único par de sapatos com o irmão. Hoje, seus negócios cumpriram a promessa feita no passado de manter a sustentabilidade por meio da utilização de 100% de matérias-primas próprias. Suas três fazendas de produção de leite e laranja, em Araras, Descalvado e Mogi-Mirim (todas no interior de São Paulo), empregam quase 600 funcionários e foram responsáveis por uma colheita de 1,4 milhão de caixas de laranja só neste ano. na mente do consumidor, bem como o mito de que adultos não precisam de leite na alimentação. Porém, graças à publicidade americana e a internet, hoje os consumidores buscam mais informações sobre o tema e conseguem entender o motivo de o leite A ser mais caro (todo seu processo é realizado sem contato manual e na mesma fazenda em que é extraído das vacas, assim como a homogeneização e a pasteurização). Para engarrafar o leite Xandô, foi criada a Plastirico, empresa de fabricação de embalagens plásticas que atende a marca e está com 70% de sua capacidade de produção ocupada, com estrutura para quintuplicar esse número – que se encontra na marca dos 10 milhões de frascos mensais – num período de três anos. O marketing da Xandô começou ainda pelo boca a boca, principalmente nos pontos de distribuição. Hoje, são cerca de 40 em todo o Brasil, que atendem varejistas e consumidores. O site, criado em 2006, ajudou muito na divulgação da marca e afina a sintonia entre produtor e consumidor. Há quatro anos, ouvindo os ecos do mercado, começou a fabricação de leite desnatado, de olho no público que pedia produtos com zero por cento de gordura. O segredo do sucesso na produção de leite, porém, é creditado ainda ao cuidado com a vaca no pasto. Uma vaca “boa” chega a dar 38 litros de leite por dia, em três ou quatro períodos de lactação. Vinte mil litros de leite por dia é o número considerado adequado para alcançar algum lucro nesse negócio. Sua produção, atualmente, alcança 1,1 milhão litros por mês. “Para isso, investimos em genética boa, manejo nutricional adequado e conforto”, explica Lair Souza. A qualidade do leite também depende de boas condições de higiene, equipamentos modernos, boa refrigeração do laticínio e funcionários constantemente treinados. “Mas o fundamental é cuidar bem da vaca. O resto é só meio”, completa. Para cuidar bem de suas vacas e dos outros negócios, o empresário programa com no mínimo um ano de antecedência o que fará nos próximos cinco e dez anos, sempre assessorado pelos melhores conhecedores do mercado em cada setor de atuação. Cada projeto demora de dois a três anos para se concretizar. Lair Souza continua trabalhando com a mesma disciplina de quem planejou, ainda nos primeiros anos de casado, se aposentar com 35 anos. Mas, como empreendedor que é, já planeja os próximos passos nos negócios. “Se vierem me perguntar, daqui a dez anos, o que eu vou fazer, a resposta sempre vai ser a mesma: mais coisas! O resto é trabalho”. Alguém duvida disso? #2 82 NT Crescimento acelerado sustentável trabalho que desenvolvemos agora é o aumento do mix de produtos embutidos e industrializados, novas parcerias com empresas do setor bovino e de suínos para fazermos a distribuição, maximizando nossa equipe comercial e diluindo o custo de frete”, explica Rogério. Preocupação ambiental Para isso, investimentos são previstos em todas as etapas da indústria, tanto na área de produção como na agropecuária. Todo o planejamento de crescimento dos negócios pauta pela sustentabilidade do negócio, o que inclui o sistema de gestão ambiental. De olho na meta da ISO 14.000 (Meio Ambiente), a Frangos Canção conta, atualmente, com um gerenciamento de descarte de resíduos em diversos planos, bem como outras ações ambientais que prezam o incentivo do plantio de árvores nativas em torno das granjas dos produtores, manejo adequado do esterco para adubo e construção de composteiras para os animais mortos durante a criação. O marketing do produto é feito nas bases do negócio com os colaboradores, o produtor e, claro, o cliente. O posicionamento da marca no mercado tem como lema manter o comprometimento com o bem-estar das aves, oferecendo um produto ecologicamente correto. “Usamos as melhores matérias-primas possíveis e adequadas para a formulação da ração das matrizes e frangos de corte, sempre levando em consideração um saudável alimento para nossos clientes”, comenta Ciliomar Tortola. “Essa é uma de nossas premissas para garantir a nutrição do amanhã”, completa. Ciliomar Tortola e Rogério Martini Quando sorte e oportunidade andam juntas, o trabalho parece render mais nas mãos certeiras de empreendedores. Foi assim com os empresários Rogério W. Martini Gonçalves e Ciliomar Tortola. Em 1992, tudo não passava de um sonho para a dupla, cujas famílias trabalhavam na engorda de aves, comercializando a produção em abatedores do Paraná e São Paulo. Mesmo com as mudanças na economia no começo da década, os produtores independentes visualizaram na crescente demanda da carne de frango no Brasil e no mundo uma oportunidade de negócios. #2 84 NT NT 85 #2 Alta gerência & empreendedorismo Frangos Canção Fundadores da Frangos Canção – hoje uma potência com números que parecem se multiplicar exponencialmente em produção –, começaram com a compra do Abatedouro Maringá, um pequeno e antigo frigorífico no interior do Paraná, e optaram pela criação de frangos de forma integrada. A escolha foi mais do que acertada, já que dois anos depois do início da empresa, em 1994, o governo emplacou o estrondoso sucesso do Plano Real, que tornou o frango a proteína mais acessível do mercado, competindo com outros itens, até então considerados supérfluos, como o iogurte e a prótese dentária. O consumo per capita passou de 32 Kg para 39Kg anuais, e a onda de consumo fez saltar a capacidade de produção da fábrica, localizada em Maringá (PR), onde fica seu abatedouro, e nas filiais em Douradina, São Manoel do Paraná, Indianópolis e Mirador, todas no mesmo estado. Os primeiros anos foram fundamentais para a Frangos Canção. A produção foi ampliada em nada menos do que 1.000%, saltando de 1 mil para 10 mil abates ao dia. Hoje, os mais de 2.700 colaboradores são responsáveis pelo abate de 210 mil aves por dia e a previsão é que esses números ainda aumentem. De acordo com o planejamento da fábrica, a meta é alcançar 310 mil aves abatidas em um único dia. A crise financeira mundial fez que Rogério e Ciliomar se tornassem cautelosos, mas com os olhos bem abertos às novas oportunidades, buscando novos nichos para atuar na produção de produtos específicos para cada mercado, respeitando costumes e culturas locais. “Estamos investindo forte na abertura de filiais em alguns estados para estarmos próximos dos clientes de varejo, agregando valor e pulverizando o crédito. Outro Curtas Melhores do Agronegócio: Nutron novamente, a melhor em nutrição animal O Anuário Melhores do Agronegócio 2009 – uma publicação da revista Globo Rural – trouxe, em sua quinta edição, a Nutron Alimentos como a melhor empresa de rações do Brasil pela terceira vez consecutiva. O anuário é uma publicação muito esperada por todos os segmentos da economia brasileira, já que as empresas que participam da premiação representam mais da metade do PIB agropecuário brasileiro. Além disso, o anuário é guia de referência e confiável fonte de pesquisa e apresenta um ranking especial com as 500 maiores empresas do agronegócio nacional em receita líquida. Para mais detalhes acesse o site: www.melhoresdoagronegocio.com.br Qualidade da carcaça de frango A Zinpro Europa organizou em Amsterdã, na Holanda, o Seminário Europeu de Qualidade de Carcaça e Performance em Avicultura, no fim de setembro. O evento contou com apresentações do Dr. Philip Smith (Tyson Foods, Arkansas, EUA), Dr. Thim Cheng (Zinpro, EUA), Professor Joe Hess (Universidade de Auburn, EUA) e o professor Sérgio Vieira (UFRGS, Brasil). O gerente da Zinpro Brasil, José Francisco Mendes, também esteve presente. Além das palestras, houve o lançamento do livro do professor Sérgio Vieira “Qualidade Visual de Carcaça de Frangos de Corte” em sua versão em inglês, devido à grande repercussão internacional da versão em português. O seminário teve como ponto alto uma atividade prática ministrada pelo prof. Sérgio, em que foram demonstrados diferentes defeitos visuais de carcaça e suas possíveis causas. Estiveram presentes, ainda, profissionais das principais empresas da Europa, Ásia e África, em um total de mais de 30 países. I Workshop de Segurança Alimentar e Tecnologia em Petfood O troféu Agroleite de 2009 apresentou a Nutron Alimentos como a grande vencedora no segmento nutrição animal. A premiação teve por objetivo homenagear os maiores e melhores destaques dos segmentos ligados à cadeia do leite e foi realizada em parceria com a Revista Balde Branco. Atenta ao potencial de negócios da região Sul, a Nutron ampliou sua participação na Agroleite e promoveu o I Seminário Internacional #2 86 NT Nutron/Agroleite, com palestras ministradas por dois especialistas vindos de outros países: John Newbold, diretor técnico da Provimi e James Spain, PhD pela Universidade de Virgínia (EUA), reconhecido como um dos grandes palestrantes dos Estados Unidos e autor da famosa palestra “O Contrato dos 100 dias”. Cerca de 400 pessoas assistiram às palestras, entre clientes, técnicos e produtores. Disseminar conteúdo técnico aos gestores das áreas de gestão de qualidade das principais empresas de petfood do mercado por meio de palestras e networking entre os participantes. Este foi o principal objetivo do I Workshop de Segurança Alimentar e Tecnologia. Promovido pela Nutron Alimentos com o apoio da SPF do Brasil, Wenger, Biorigin e ANFAL Pet (Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos), o evento aconteceu no final do mês de novembro, em Itapira – SP. Durante dois dias, os convidados puderam discutir temas como a responsabilidade na nutrição dos pets, bioeficácia dos alimentos e longevidade para aqueles que, atualmente, são considerados membros da família. “Devemos ter também uma preocupação ambiental quando olhamos para este tema, já que 40% dos cães e gatos no Brasil comem alimentos considerados comerciais. Precisamos também conscientizar os donos, já que os animais não podem ser competidores de nossos alimentos”, afirma a Profa. Dra. Flávia M. de Oliveira Borges Saad, da Universidade Federal de Lavras, e uma das palestrantes do evento. O workshop incluiu em sua programação uma visita à fábrica da Nutron, na cidade de Itapira. NT 87 #2 Reconhecimento comprovado Aliança A Elanco Saúde Animal comunica ao mercado sua nova aliança de manufatura firmada com a Nutron Alimentos. Essa aliança engloba a terceirização da fabricação de produtos de uso veterinário e aditivos zootécnicos para alimentação animal. A transferência da produção da Elanco para uma fábrica terceirizada está alinhada com a estratégia global da empresa de consolidar alianças globais e focar na síntese de princípios ativos. A Nutron pertence ao grupo Provimi, com o qual a Elanco já possui uma aliança internacional. A aliança de manufatura está aprovada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e os primeiros lotes de produto estarão disponíveis no mercado brasileiro ainda em 2009. Economia sustentável A Bühler traz ao mercado sul-americano um serviço já desenvolvido na Suíça e que garante maior maximização dos recursos das plantas industriais. Trata-se da Energy Consulting, uma análise elaborada que mostra a possibilidade de reduzir os gastos energéticos de uma planta sem perder em produtividade. A Energy Consulting surge para beneficiar clientes Bühler de qualquer segmento e é ideal para empresas atentas às novas possibilidade de otimização de recursos. “Esse novo serviço mostra a nossa preocupação em manter um contato produtivo com os clientes e oferecer o nosso know-how como forma de beneficiar ainda mais os que já utilizam ou pretendem utilizar nossas soluções”, comenta Ligia Fagundes, Gerente de Marketing América do Sul. Biorigin patrocina Congresso O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) sediou o I Congresso Internacional de Leveduras, com patrocínio da Biorigin, em setembro. Durante dois dias, clientes e fornecedores se reuniram para apresentar e discutir as principais tendências e aplicações relacionadas às últimas tecnologias disponíveis no mercado de levedura, seus derivados e suas contribuições para a saúde e nutrição animais. A Biorigin apresentou dois palestrantes ao evento: o Prof. Dr. Renato Luis Furlan, Doutor em Zootecnia (Produção Animal) e Rolf Nordmo, diretor da Biorigin Escandinávia. #2 88 NT CJ do Brasil Ltda Rodov. Piracicaba – São Pedro, Km 10 Zona Rural – Ártemis Piracicaba/SP - 13432-000 (11) 3717.8804 Evento de Compradores discute a nutrição do amanhã Desenvolver um conjunto de novas competências nos compradores técnicos da cadeia de produção animal e discutir temas-chave para a competitividade das empresas. Este foi o principal objetivo da terceira edição do Workshop Nutron em Gestão de Suprimentos na Produção Animal, realizado em Florianópolis. Reunindo conteúdo técnico, comercial e de mercado, o evento apresentou iniciativas que contribuem para a nutrição do amanhã e a sustentabilidade do negócio de carnes, leite, aves e suínos. Organizado pela Nutrition for Tomorrow Alliance – iniciativa de marketing cooperado que reúne gigantes do setor –, o workshop foi baseado em quatro pilares: módulo técnico, regulatório, de mercado e de gestão, tendo como pano de fundo a responsabilidade de comercialização daquilo que os consumidores vão comer. “Devemos ficar atentos às mudanças de mercado. A adaptação requer o desenvolvimento de novas competências pelas empresas. A gestão de risco e a compra técnica profissional certamente estão entre as novas competências que garantirão a competitividade das empresas do agronegócio”, destacou Adriano Marcon, presidente da Nutron Alimentos, durante a abertura do evento. “O evento foi muito bem focado. As palestras foram conduzidas com a preocupação de mesclar assuntos técnicos e de compras, uma grande oportunidade para que as empresas, aqui representadas por seus compradores, evoluam no processo de gestão. Cada vez mais precisamos dispor de ferramentas diferenciadas na obtenção de resultados, que não são mais alcançados de forma tradicional”, comenta Jair Meyer, gerente da Divisão de Alimentos da Cooperativa Agroindustrial Lar. “Adorei o evento. Foi muito importante para conscientizar os compradores. Temos que buscar cada vez mais a profissionalização das equipes de compras. Se não fizermos isso, vamos ficar para trás na lista de grandes empresas”. Marcelo Ortega - Representante Flamboyã Criação, abate e comercialização de frangos “Esse tipo de evento agrega muito para a melhoria dos processos. A parte de mercado futuro é um tema que a maioria desconhece e equivale a 65% do preço da ração. As equipes precisam olhar mais para essa área para garantir custo. As oportunidades de benchmarking e networking também foram muito boas. Sugiro de dois a três eventos desses por ano. Dessa forma, nosso caminho se tornará mais fácil. É importante revermos conceitos.” Moacir Henrique Martins - Gerente comercial Marfrig Interação na produção de carne suína Com o objetivo de conhecer modelos administrativos e as melhores tecnologias na produção de suínos na Espanha, presidentes, vice-presidentes, diretores e técnicos de importantes cooperativas produtoras deste segmento participaram de uma visita monitorada à fábrica de rações mini-peletizadas para leitões, pertencente à empresa SCA-Provimi. A fábrica é a mais moderna da Europa e produz 54 mil toneladas de ração por ano. O diretor-presidente da Nutron, Adriano Marcon, e o diretor comercial, Celso Mello, acompanharam o grupo composto por 25 pessoas de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O programa incluiu uma visita ao Grupo Vall Comanys, empresa líder na produção e comercialização de carne suína na Europa, e à Cooperativa Agrícola de Guissona, que inovou na comercialização de seus produtos por meio do sistema de franquias. É na Espanha que se encontra o maior número de matrizes e consumo per capita de carne suína da Europa. O país é referência mundial em todos os aspectos ligados à produção suinícola. A oportunidade foi importante para o compartilhamento das melhores práticas na produção, industrialização e comercialização de carne suína, já que todos os participantes do grupo enfrentam esse desafio em suas cooperativas ou empresas. Todos puderam conhecer algumas das principais empresas espanholas do setor e interagir com seus dirigentes, em reuniões descontraídas e focadas em suas especialidades. A Nutron pensa em dar continuidade a esse tipo de ação nos próximos anos, com o intuito de estimular a profissionalização contínua do setor suinícola, e, consequentemente, para que o nosso país continue a ser um importante player no mercado mundial de carne suína. Jair Meyer, gerente da Divisão de Alimentos da Cooperativa Agroindustrial Lar. Produção Animal 09 III Workshop Nutron em Gestão de Suprimentos na NT 91 #2 #2 90 NT Agenda AVICULTURA GERAL XI Simpósio Brasil Sul de Avicultura Data: 06 a 08 de abril de 2010 Local: Chapecó Informações: www.nucleovet.com.br XV CDA 2010 - Campo Demonstrativo Alfa Data: 02 a 05 de fevereiro de 2010 Local: Linha Tomazelli/ Rodovia SC km 283 - Chapecó/SC Informações: (49) 3321-7000 Avesui 2010 Data: 11 a 13 de maio de 2010 Local: Florianópolis/SC Informações: www.avesui.com.br Show Rural Coopavel Data: 8 a 12 de fevereiro de 2010 Local: BR 277 Km 577, Cascavel/PR Informações: (45) 3225- 6885 Site: www.showrural.com.br FENAFRANGO Data: 25 a 28 de maio de 2010 Local: Passo Fundo/RS Informações: www.fenafrango.com.br SUINOCULTURA TecnoOeste Data: 24 a 26 de fevereiro de 2010 Local: Instituto Federal Concórdia Informações: (49) 3441-4200 Sinsui 2010 Data: 19 a 21 de maio de 2010 Local: Porto Alegre/RS Dia de Campo Copervil Data: 18 a 19 de março de 2010 Local: CETREVI - Videira/SC Informações: (49) 3321-7000 5º Simpósio Internacional de Produção Suína Data: 15 a 17 de junho de 2010 Local: Campinas/SP Informações: [email protected] III Global Feed & Food Congress Data: 20 a 23 de abril de 2010 Local: Cancun - México. Informações: www.globalfeed-food.com.br C III Simpósio Mineiro de Suinocultura & I Conferência Internacional de Suinocultura Data: de 16 a 18 de junho de 2010 Local: Lavras/MG Informações: www.nesui.com.br III Simpósio Brasil Sul de Suinocultura Data: de 10 a 12 de agosto de 2010 Local: Chapecó/SC Informações: www.nucleoeste.com.br Pork Expo 2010 Data: 14 a 16 Setembro de 2010 Local: Curitiba/ PR Informações: [email protected] GADO DE CORTE 8ª MercoAgro Data: 14 a 17 de setembro de 2010 Local: Parque de Exposições Tancredo Neves, Chapecó/SC Informações: www.btsmedia.biz 16ª Feicorte Data: 15 a 19 de junho de 2010 Local: Centro de Exposições Imigrantes - São Paulo/SP Informações: www.feicorte.com.br GADO DE LEITE 11º Congresso Pan-Americano do Leite Data: de 22 a 25 de março de 2010 Local: Minascentro - Belo Horizonte/MG Informações: (31) 3074-3000 Site: www.faemg.org.br #2 92 NT INTERNACIONAL International Poultry Expo (IPE) Data: 27 a 29 de janeiro de 2010 Local: George World Congress Center, Atlanta/EUA Informações: (770) 493-9401 Site: www.ipe10.org M Y CM MY CY CMY VIV Índia 2010 Data: 1 a 3 de fevereiro de 2010 Local: Bangalore International Exhibition Centre, Bangalore/Índia Informações: [email protected] Site: www.viv.net Prodexpo 2010 Data: 08 a 12 de Fevereiro de 2010 Local: Moscou/Russia Informações: www.prod.expo.ru VIV Europe 2010 Data: 20 a 22 de Abril de 2010 Local: Utrecht/Holanda Informações: www.vivi.net K