cipa matéria de capa
Grandes obras pedem
atenção na segurança
ao trabalhador
O QUE TORNA UMA OBRA MAIS PERIGOSA É A COMPLEXIDADE DAS ATIVIDADES.
OBRAS DE CONSTRUÇÃO PESADA TÊM OS MESMOS RISCOS QUE OBRAS DE MENOR
PORTE, O QUE MUDA É A PROPORÇÃO DO RISCO
Por Sueli dos Santos | [email protected]
fotos DIVULGAÇÃO, MARCOS GRUTZMACHER e ROGÉRIO FRANCO
34
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
www.cipanet.com.br
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
35
cipa matéria de capa
Historicamente a área de construção civil apresenta altos índices de
acidente de trabalho durante a execução de uma obra. Nesse contexto,
a gestão de segurança e saúde é fundamental para reduzir e até eliminar
o número de acidentes. Para alguns,
quando se pensa em grandes obras,
as chamadas “obras de arte”, os riscos, que já são grandes, aumentam
na proporção da sua obra. Os sinais
de alerta, relacionados ao trabalho,
ficam por conta da terraplenagem,
ruído, altura, eletricidade, levantamento e transporte de cargas e de
pessoal, além da operação de máquinas e equipamentos.
O que torna uma obra mais perigosa é a complexidade das atividades, o tamanho das peças a serem
construídas, transportadas e içadas,
além das características do meio
ambiente de trabalho local onde as
obras são feitas. As obras de grande
porte são aquelas consideradas de
infraestrutura, que além de amplas
dimensões, têm grande utilização
de máquinas e equipamentos. É o
que explica Gianfranco Pampalon,
auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego/SRTE-SP. Ele ainda acrescenta que o diferencial das
obras de construção pesada em relação às obras de menor porte são a
grande quantidade de equipamentos
utilizados, o porte e tamanho destes
equipamentos, e a necessidade de
um número de trabalhadores muito
maior. Obras de montagem industrial, ferrovias, rodovias, usinas hidrelétricas e nucleares e pontes, por
exemplo, que têm vários trabalhos
sobrepostos e utilização intensa de
máquinas e equipamentos pesados
e peças de grande porte, apresentam
maiores riscos, “mas de forma geral
todas as obras de construção pesada
36
têm vários riscos a serem controlados”, reitera.
o número de empresas envolvidas
“e, portanto, diferentes comandos,
culturas e formas de atuação”, raciocina. Por outro lado, acrescenta:
“se tivermos uma política de planejamento e gestão de SST eficaz, o
tamanho da obra por si só não implicaria em maiores dificuldades de
controle dos riscos.”
RISCOS
Luciana Ferreira Leite, engenheira de segurança do
trabalho
“Conscientização
dos trabalhadores quanto
aos riscos é
fundamental.”
Luciana Ferreira Leite
Para a engenheira de segurança do trabalho da Construtora Santa Bárbara, Luciana Ferreira Leite,
os principais riscos de acidentes na
construção de grandes empreendimentos são queda para as atividades em altura e choque elétrico para
atividades com eletricidade, além
de atropelamentos para funções em
locais com movimentação de máquinas, equipamentos e veículos.
Luísa Tânia Elesbão Rodrigues,
auditora fiscal do trabalho do MTESRTE/RS, afirma ser possível dizer
que quanto maior a obra, maiores os
riscos e, consequentemente, maior
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
Os envolvidos na construção civil devem cumprir a NR-18 que trata das condições de Meio Ambiente
de Trabalho na Indústria da Construção. A auditora gaúcha lembra
que quando foi concebida, a norma
tinha como foco as construções de
edificações. “Hoje, na Comissão
Permanente Nacional (CPN), existe
essa compreensão e, nesse sentido,
estamos elaborando itens de normas
específicas para o segmento de grandes obras. Esse estudo já está disponível e pode ser acessado no site do
CPN-NR-18: http://www.cpn-nr18.
com.br/”, diz.
A NR-18 apresenta o mínimo
exigido por lei para oferecer mais
segurança aos trabalhadores. Marcos Kodama, gerente corporativo de
Saúde e Segurança do Trabalho da
Construtora Camargo Corrêa, lembra que em grandes projetos, as empresas costumam superar o exigido
por ela, como, por exemplo, as áreas
de vivência. Em relação ao controle
de riscos, existe mais interação entre
as áreas de engenharia, planejamento
e de segurança e saúde no trabalho.
Kodama lembra que a responsabilidade por identificar perigos e riscos
nos projetos da Camargo Corrêa é de
todos, sobretudo do Sesmt, CIPA e
das áreas de produção.
cipa matéria de capa
Pampalon lembra que algumas berto Pereira, da consultoria APS, os
alterações foram feitas na NR-18 riscos existem independentemente
para reduzir os riscos de acidentes. do tamanho da obra. “Pode ocorrer
“Serão incluídos alguns itens como um acidente grave em uma obra de
a ampliação do PCMAT que deverá escavação com apenas cinco trabaconter um Programa de Ações em lhadores se todos os riscos não forem
Emergências (PAE) contemplando identificados e se não forem tomadas
níveis de ação, responsabilidades todas as medidas de controle”, afirna implantação e operacionalização; ma. Para ele, o mais importante é ter
cipadeconstrução
civil intera- um sistema de gestão que garanta o
fluxo
informações e ações,
ção com as comunidades do entorno controle e gerencie todas as atividada obra; interação com os demais ór- des, pessoas, riscos.
gãos como defesa civil, engenharia
vistas
à produtividade
e diminuição
de
tráfego,
concessionárias
de ener- comprometidas, mais ainda é um
de
gastos
decorrentes
da
ausência
de grupo pequeno, que calcula girar em
gia elétrica, gás, entre outros, e a diempregados
acidentadoscom
e desimulapossí- torno de 2%, num universo de mais
vulgação
e treinamento
veis
ações
regressivas
por
parte
do de 11 mil empresas.
ção de emergências, além de projeto
Ministério
da
Previdência.”
das instalações elétricas provisórias
Quanto às
dificuldades
de garando canteiro
atendendo
aos disposititir maior
segurança
nos canteiros de
vos
da NR-10”,
elenca.
obras,
o
engenheiro
fala as
queativielas
Além disso, em todas
se
apoiam
na
resistência
de
mudar
dades da construção pesada devem
a cultura,
de preventivas
empregadores
ser
adotadastanto
medidas
de
quanto de
“Os primeicontrole
doempregados.
risco de acidentes
e de
ros devem
a importância
outros
riscosentender
adicionais,
mediante
Gianfranco Pampalon
da
prevenção
e
proteção
de sua
técnicas de análise preliminar
demão
risde obra
e, osasegundos,
co,
de forma
garantir a assimilarem
segurança e
necessidade
do uso de EPIs e de
aa saúde
no trabalho.
uma maior atenção nas condições
Nesse sentido, ele diz que nas
de trabalho.
grandes corporações, poucas adoNeste momento, em que o setor tam sistema integrado de gestão (sepassa por um forte crescimento e con- gurança, saúde ocupacional, meio
sequente contratação, a falta de expe- ambiente e qualidade) nas obras de
riência é fator preponderante para a construção civil. “Em algumas, noocorrência de acidentes. De acordo ta-se um “clima” propício de segucom Ussan, a determinação da NR- rança sedimentado e em outras uma
18 para que todo o trabalhador receba tímida tentativa, sempre por impotreinamento admissional de seis ho- sição do cliente ou pelo tipo de conras antes
de iniciar
suas atividades
em trato. É mister lembrar que em obras
Gianfranco
Pampalon,
auditor
fiscal
do
trabalho
Araújo considera
uma empresa é fundamental.
de construção
civil, ondeessencial
na maioriao
Estado
agilizar
as
fiscalizações
O diretor do Sindicato dos Tra- das
vezes o histograma é curto, dipara punirseo consegue
mau empregador.
Por
balhadores na Indústria da Constru- ficilmente
implementar
sua
vez,
os
trabalhadores
precisam
çãoOs
Civil
de
São
Paulo
(Sintracon),
riscos nas grandes obras são uma “Cultura de Segurança”, analientender
que a segurança
é a parte
João
Rodrigues
de Araújo, em
reforça
Ele acrescenta
que em uma
obra
os
mesmos
da construção
ge- sa.
mais
importante
a
ser
observada
no
que
este
é
um
dos
principais
fatores
ral, mas ampliados em função das o cenário é alterado diariamente. “A
ambiente
de
trabalho.
para
o
crescimento
do
número
de
dimensões, extensões, distâncias e cada dia temos uma nova situação,
acidentes, pois utilizados.
as contratações,
equipamentos
Para tanto
Al- novos riscos, muito diferente da rona área de execução da obra quanto
na de administração, ocorrem sem
o mínimo conhecimento sobre SST.
38
cipa caderno
informativo
de prevenção
“São• pessoas
vindas
de outros
seto-de acidentes • www.cipanet.com.br
res e desconhecem os problemas dos
“O que torna
uma obra mais
perigosa é a
complexidade
... os
das
atividades.”
trabalhadores
precisam
entender que
a segurança é
a parte mais
importante a
ser observada
no ambiente de
trabalho.
tina/produção onde as alterações de
layout são raras e o planejamento
das atividades pode ser feito a médio/longo prazo.”
“Cronograma
atrasado é ponto
de preocupação
em obra.”
Já o auditor fiscal do trabalho da
Antonio Pereira do
Superintendência Regional do TraNascimento
balho e Emprego do Estado de São
Paulo (SRTE-SP) e coordenador do
Programa Estadual da Construção
de São Paulo, Antonio Pereira do
Nascimento,
comodoextremamente
O auditorvê
fiscal
trabalho em
preocupante
os
últimos
números
reSão Paulo, Antonio Pereira
do Nasferentes
aos
acidentes
de
trabalho
na
cimento, diz que uma das grandes
indústria
da
construção,
pois
acrepreocupações é o atendimento do
ditava que com
evolução
do segcronograma
da aobra
quando
está
mento
e
do
envolvimento
dos
vários
atrasada. “Um volume maior de hoatores
sociais
no processo,
a quantiras
extras,
prêmios
para atendimendade
não
seria
tão
alarmante,
to da demanda, trabalhadores apesar
sem o
do crescimento
do mercado.
preparo
adequado sendo iniciados
causas, em
nos As
canteiros
de sua
obraopinião,
e com estão
isso
relacionadas
ao
maior
númeroocude
acidentes de trabalho e doenças
obras,
aos
prazos
curtos
de
entrepacionais acabam surgindo. A falta
ga, planejamento
à falta de planejamento
ao não
de
é um dose pontos
comprometimento
com
os
aspectos
principais juntamente com a efetiva
básicos de segurança
participação
do Sesmte saúde.
nos projetos
construtivos da obra”, diz.
Antonio Pereira do Nascimento, auditor fiscal do
trabalho da SRTE-SP
Mas também confirma que há
cipa matéria de capa
GESTÃo
Para a coordenadora do curso de
graduação em Engenharia de Produção Mecânica da Universidade Federal da Paraíba, professora Maria Bernadete Fernandes Vieira de Melo, a
Segurança e Saúde no Trabalho no
setor de construção ainda se caracteriza como um dos setores de atividades mais críticos e com grandes
problemas de acidentes de trabalho
e doenças ocupacionais que geram
perdas sociais e econômicas. “As
elevadas cifras anuais de acidentes
de trabalho, envolvendo os fatais e
as doenças ocupacionais, impõem
uma reflexão: esse chocante panorama de segurança e saúde no trabalho
é incompatível com as expectativas
da globalização e do desenvolvimento sustentável”, analisa.
Para ela, na concepção da maioria dos responsáveis pelos processos produtivos, principalmente na
indústria da construção, os problemas de saúde são ocasionados pelo
próprio trabalhador que descuida
das normas de segurança. “Tal concepção se baseia em responsabilizar o elo mais fraco, esquecendo os
aspectos estruturais do processo de
trabalho e de seus efeitos sobre o
ser humano, a coletividade e o meio
ambiente”, analisa.
Luísa Tânia, auditora fiscal do
trabalho, diz que um dos desafios
encontrados nos canteiros é a implementação de uma gestão eficaz das
questões relacionadas à segurança
no trabalho. Para ela, esse assunto
deveria estar inserido no cronograma
físico-financeiro da obra e não apenas no planejamento do empreendimento. “O que se vê com frequência
é a falta de planejamento ou previsão
do modo seguro de executar o ser-
40
viço ou etapa da obra”, afirma. Segundo ela, pensar em gestão eficaz
é contemplar aspectos como a diversidade de serviços em execução de
forma concomitante e por diversas
empresas.
Luísa Tânia Elesbão Rodrigues, auditora fiscal do
trabalho
Hamilton Veiga, engenheiro de
segurança da JMalucelli, construtora especializada em construção
pesada, especialmente hidrelétricas, destaca que o setor de construção pesada realmente tem riscos
maiores com uma extensa gama de
possibilidades de acidentes, mas
também é preciso levar em conta o
fator humano. “É no fator humano
que estão problemas de grau de instrução, fator emocional, resistência
ao uso de EPIs, desajustes de comportamento social etc.”, diz ele. No
caso de construção de hidrelétricas,
Veiga diz que o segmento está enquadrado no mais alto grau de risco
de acidentes e doenças profissionais
no trabalho e estão enquadradas na
NR-4 que estão expostas a agentes
físicos (ruídos, radiações não ionizantes), químicos (poeira mineral,
metálica etc.) e biológicos (exposição a agentes biológicos, riscos de
lesão ou contaminação).
A gestão das grandes obras se
diferencia pela necessidade de infraestrutura e logística muito maiores.
Alguns canteiros chegam a ser similares a uma pequena cidade. Por
exemplo, o canteiro de uma construção de hidrelétrica é similar ao
de uma pequena cidade. É necessária uma estrutura de transporte para
os trabalhadores, além de fornecer
refeições, cuidar do tratamento de
água e esgoto, oficinas de manutenção mecânica, usinas de concreto e
Construção de hidrelétricas tem alto risco de acidentes
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
cipa matéria de capa
asfalto, deslocamento e utilização
de equipamentos grandes e pesados,
além da área de vivência dos trabalhadores que podem ser enormes ou
devem ser móveis para acompanhar
a execução de uma obra de estrada,
por exemplo. “O que se vê
com frequência
é a falta de
planejamento
ou previsão do
modo seguro
de executar o
serviço ou etapa
da obra.”
Luísa Tânia Rodrigues
ORGANIZAÇÃO
Planejamento é uma palavra
fundamental em vários setores e
na construção civil não poderia ser
diferente, principalmente em obras
como ferrovias, rodovias, hidrelétricas etc. São obras que exigem
logística, programação e criação de
acessos e, muitas vezes, interação
com as comunidades no entorno das
obras. Gianfranco Pampalon lembra
ainda que é preciso pensar no possível impacto ambiental que a obra
vai ter. Ele cita como exemplo, a
construção de uma usina nuclear,
onde as comunidades próximas de-
vem ser treinadas para uma evacuação em caso de emergência.
“Uma das características das
obras de construção pesada é a utilização de mão de obra local ou regional, pois a transferência destes trabalhadores tem um grande custo, além
de que muitas prefeituras exigem
que se contrate mão de obra local
vislumbrando a melhoria de vida dos
moradores da região”, afirma. Nesse
quesito pode surgir outro problema:
a qualificação da mão de obra. Esse
é um problema que o Brasil enfrenta em vários setores e na construção
civil não tem sido diferente. “As
construtoras têm assumido para si a
responsabilidade pela capacitação e
qualificação destes profissionais que
também devem operar equipamentos pesados, caros e perigosos”, diz
Pampalon.
Os riscos existentes em uma obra
são resultado de algumas variáveis
como método construtivo, equipamentos utilizados, condições climáticas, acesso, quantidade, volume e
tamanho dos materiais utilizados,
trabalhos sobrepostos, número de
trabalhadores etc.
A professora Maria Bernadete
Fernandes diz que a solução para
os problemas relacionados com as
precárias condições de trabalho nos
Maria Bernadete Fernandes, engenheira civil e de
segurança do trabalho
www.cipanet.com.br
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
41
cipa matéria de capa
canteiros de obras existe e é viável,
embora a insegurança ainda exista
em algumas obras. “As empresas
que implementam medidas de segurança no processo produtivo, o fazem de forma pontual, sem planejamento, com a preocupação exclusiva
de cumprir alguns itens da legislação
vigente, as normas regulamentadoras, principalmente aquelas que são
mais exigidas pelos auditores fiscais
do MTE”. Para ela, isso acontece
porque o modelo de segurança e saúde no trabalho (SST) vigente no Brasil induz a esse comportamento. “A
dificuldade não é de ordem técnica,
e sim filosófica do modelo”, analisa. Ela acrescenta ainda que “o empregador tem a imagem da SST de
um serviço desvinculado das ações
do negócio da empresa, secundário,
e que existe principalmente para o
atendimento à legislação que obriga
a prevenção de acidentes de trabalho, não agrega valor ao negócio e
não contribui para a geração do lucro”, afirma a professora.
“Prevenir
acidentes
deve ser parte
da cultura
organizacional.”
Maria Bernadete
Fernandes
Riscos encontrados em canteiros de obras de grande porte
“TopTen”
Riscos Relativos
Desvios
%
1
Queda de pessoas e materiais
Construção e utilização de dispositivos inadequados para proteção contra quedas de pessoas,
materiais e pequenos equipamentos. Destacam-se: os trabalhos em altura, andaimes e pontos
de ancoragem, linha de vida, guarda-corpos, fechamento de aberturas de vãos, escadas,
rampas, passarelas, andaimes e pontos de ancoragem.
22.319
23
2
Ordem, Arrumação e Limpeza
Condições inadequadas de coleta, armazenagem, segregação, destinação de resíduos de
obra e de insumos gerais. Incluem-se neste tópico armazenamento, o uso e a disposição de
produtos químicos.
18.520
19
3
Falta de gerenciamento/sistema/procedimento
Indisponibilidade de procedimentos para o risco específico, assim como o descumprimento
dos procedimentos existentes. Maior intensidade na Falta da Análise Preliminar de Risco (APR);
descumprimento dos procedimentos de Permissão para Trabalhos Especiais (PTE); não atendimento a plano de treinamento; descumprimento da NR-33 (Trabalhos em Espaço Confinado),
assim com a não utilização de outras práticas, padrões e ferramentas definidas.
12.098
13
4
Sinalização e Isolamento
Sinalização inadequada ou inexistente pratica incorreta de etiquetagem e bloqueio de equipamentos e falta de dispositivos para segregação e circulação segura de pessoas. Incluem-se
as questões de modelos de placas, sinalização apropriada, etiquetas de bloqueio e tipos de
bloqueio.
10.372
11
5
Equipamentos Móveis e Motorizados
Uso indevido de equipamentos, a improvisação e questões de manutenção inapropriada.
Consideram-se ainda as condições de sinalização que envolve a movimentação. Sinalização
viária, sinalização luminosa, sistemas de advertência, entre outros.
7273
8
6
Eletricidade
Descumprimento de normas na construção de dispositivos elétricos, incluindo-se a falta de
definição de critérios de projeto, a falta de sinalização apropriada, falhas em dispositivos de
bloqueio, improvisação de instalações e segregação apropriada para aproximação de pessoas.
7.272
7
Movimentação de cargas e materiais
Falta de critérios para o levantamento e a movimentação de cargas, incluindo os dispositivos
inapropriados e sem condições de uso, a falta de sinalização e isolamento para a proteção das
pessoas e a falta de planejamento nos casos de interfaces de diferentes trabalhos.
6.548
7
8
Equipamentos de Proteção Individual (EPI)
Condições inapropriadas, quanto à falta, o uso, as condições de conservação e reposição de equipamentos de proteção pessoal de todos os tipos (mãos, pés, cabeça, visão, respiratório etc.).
4.285
5
9
Proteção de máquinas/equipamentos e ferramentas
Falta ou improvisação de proteção de máquinas. Ainda o uso inapropriado de ferramentas
manuais e elétricas, assim como equipamentos em mau estado de conservação.
3.187
3
10
Escavação, Fundação e Demolição
Falta de procedimentos claros de segurança para realização do trabalho seguro, condições
físicas dos trabalhos como: escoramento apropriado, estoque de materiais em bordas de
escavações e taludes, falta de escada ou rampa para acesso seguro, falta de sinalização e
monitoramento ambiental.
328
0
Subtotal
Outros
8
92.202
Instalações da infraestrutura: oficinas, sanitários, vestiários, área de alimentação, acessibilidade às áreas de risco, transporte de pessoas, cujo índice de incidência não é significativo no
tratamento estatístico.
Geral
3.290
3
95.492
100
Fonte: Trabalho desenvolvido pela APS Consultoria
Dados atualizados – Dezembro de 2010
Dados registrados em obras de grande porte, que totalizam 95.492 desvios, agrupados em relação aos riscos
típicos predominantes, denominados “TopTen de desvios de segurança”.
42
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
cipa matéria de capa
Distribuição de EPI em obra da Fidens
Para Mário Kodama, da Camargo Corrêa, a questão dos acidentes
de trabalho na construção civil não
mudou nos últimos anos quando se
analisa, principalmente, a frequência deles que causaram morte ou
invalidez permanente. “As causas
dos acidentes são plurais e não dicotômicos como sempre se abordou. A mudança no quadro envolve
ações múltiplas da iniciativa privada, Estado e trabalhadores. Não
existe solução simples para esta
rio. “Dentre os aspectos positivos
encontrados ficou demonstrado
que os programas da empresa estão interferindo positivamente na
cultura de SST dos trabalhadores e
vão além dos limites dos canteiros
de obras”, revela.
Antônio Pereira, engenheiro de
segurança e auditor fiscal do MTESRTE/SP para a área de construção
civil, diz que é fundamental a empresa ter uma política de segurança
e saúde do trabalhador inserida em
todos os processos construtivos.
Além disso, segundo ele, é importante que exista, em todos os níveis
hierárquicos, a efetiva participação
dos gestores e o comprometimento
questão, independentemente do ta- de todos. “Não adianta se incorpomanho da obra”, acredita. Ele diz rar apenas papel e burocracia nas
que no caso da Camargo Corrêa, há ações dos envolvidos, é preciso cada
um sistema de gestão com políti- um zelar pelo seu setor com o comcas bem definidas e voltadas para prometimento de todo o processo.
o resultado – ausência de doenças Procedimentos, ordens de serviços,
e acidentes do trabalho. Kodama treinamentos, capacitações e laudos
diz que recentemente foi feita uma muitas vezes são esquecidos rapipesquisa de cultura de Saúde e Se- damente quando se prioriza prazo e
gurança no Trabalho (SST), envol- custo pela construtora”, afirma. Para Alberto Pereira, da APS, a
vendo 7 mil trabalhadores, realizada por uma empresa independente diferença de gestão de segurança e
que evidenciou um nível satisfató- saúde no trabalho entre grande obras
www.cipanet.com.br
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
43
cipa matéria de capa
pletamente entendida e praticada por
todos”, diz. Além disso, a empresa
faz o Diálogo Diário de Segurança,
Saúde e Meio Ambiente (DDSMA)
que, de acordo com Azevedo, trata
de assuntos importantes inerentes às
atividades desenvolvidas diariamente nas obras e nos escritórios.
Alberto Pereira, consultor
da APS
e obras de menor porte está no controle, procedimentos bem definidos
e incorporados, pessoas capacitadas
para gerenciarem a SST e um bom
gestor. “É preciso ter uma boa gestão
de consequências (multas e retenções) junto às contratadas em caso
de descumprimentos de ações de
segurança, acidentes e incidentes”,
explica.
MÃO DE OBRA
Muitos dos trabalhadores que
estão no canteiro das obras não têm
vínculo direto com a construtora.
Eles são de empresas terceirizadas e,
nesse caso, o cuidado deve ser redobrado. Afinal, esse trabalhador vem
com a bagagem de experiência e vício dos lugares de onde trabalhou. Na
Fidens, por exemplo, o coordenador
de segurança da empresa, Rubens de
Azevedo Carvalho Neto, explica que
o procedimento é que todos os funcionários, terceirizados e até mesmo
quarteirizados, passem por diversos
treinamentos, iniciando pelo introdutório, que acontece nos primeiros
dias em que o profissional é contratado na empresa. “Todos os terceirizados são vistos e tratados como
empregados da empresa, por isso,
a política de SST tem que ser com-
44
“É preciso
ter uma boa
gestão de
consequências
(multas e
retenções) junto
às contratadas
em caso de
descumprimentos
de ações de
segurança,
acidentes e
incidentes.”
Alberto Pereira
Ao longo dos anos, os Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) vêm sofrendo grandes melhorias, tanto no que diz respeito à
qualidade no ato de proteger quanto
no conforto para o usuário. Como o
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
mercado a cada dia fica mais exigente e dinâmico, as empresas que fabricam esses equipamentos costumam,
em conjunto com os profissionais de
segurança das empresas, fazer estudos in loco para levantar as necessidades de proteção do colaborador
de forma a sempre aprimorar, com
melhores técnicas, os equipamentos
já existentes.
Na JMalucelli, o trabalhador
segue um roteiro. Hamilton Veiga
explica que depois de apresentar a
documentação no RH e fazer os exames médicos, o empregado passa por
uma integração onde são abordados
assuntos de forma generalizada sobre a administração (alojamentos,
refeitório, área de lazer etc.), procedimentos dentro da obra, higiene,
lixo, organização, limpeza e noções
sobre segurança do trabalho na obra,
riscos no ambiente de trabalho, normas e procedimentos de segurança
em todo o segmento da obra, utilização dos EPIs de acordo com cada
função. “Esta integração gera um
documento coletivo no qual todos os
participantes assinam e em seguida
todos os funcionários recebem os
seus EPIs específicos para cada função, os quais são anotados em ficha
individual”, detalha.
A lista de EPIs necessários para
o trabalho em uma obra é muito
extensa. Eles variam com a função
exercida de acordo com certas particularidades de uma obra que são
definidas pelo Sesmt. Veiga destaca
que é muito importante que o EPI
tenha certificado de aprovação, assim como a qualidade, durabilidade
é o custo-benefício do equipamento.
“Não se pode pensar em comprar
produto barato se você está colocando em risco a integridade física dos
funcionários”, diz.
cipa matéria de capa
Recomendações para um bom desempenho
em segurança nos empreendimentos
• Antecipar a implementação da política de segurança definida para o
empreendimento, dando total conhecimento aos participantes do modelo
de gestão, práticas e padrões de trabalho a serem seguidos, para no mínimo
promover a formação de um clima de segurança, uma vez que dificilmente será
estabelecida uma cultura de segurança.
Hamilton Veiga, engenheiro de segurança do
trabalho
“Fator humano
também é
importante.”
Hamilton Veiga
Ele diz que todas as empresas
terceirizadas e seus respectivos funcionários, que trabalham com a JMalucelli, devem seguir os padrões de
segurança estabelecidos pela construtora. “Para obter um padrão de comportamento de segurança do trabalho,
todos têm que aceitar e seguir o estabelecido pela empresa, sem exceções.
O controle e as orientações são feitas
pelos técnicos em segurança do trabalho, mais o engenheiro de segurança do trabalho, por meio de Diálogo
Diário de Segurança (DDS) antes do
início da jornada diária de trabalho
com assuntos variados abordando os
riscos, acidentes e quase acidentes
ocorridos, isto gera outro documento
(coletivo) que é feito em cada frente
de serviço, especificamente.”, diz.
No caso da Camargo Corrêa, a
empresa opta por não ter contratos
temporários e os terceiros representam a minoria da força de trabalho.
46
• Identificar as práticas e padrões de trabalho apropriados aos riscos, priorizando
o conceito de que segurança é parte integrante do trabalho, não podendo ser
tratada como uma questão paralela.
• Assegurar a implantação de ferramentas de observação do trabalho, que
possibilitem abrangência aos quatro elementos da manifestação de eventos
indesejáveis; equipamento/materiais, ambiente, sistemas e comportamento.
• Estabelecer a energia a ser aplicada nos programas utilizando como referência os
dados estatísticos dos desvios de segurança.
• Fazer uma gestão de informações para que o banco de dados de registros seja
efetivamente transformado em informações, aprendizado e valor.
Kodama explica que quem trabalha
na empresa deve seguir seu sistema
de gestão de saúde e segurança e os
terceiros têm que se submeter a ele.
“Desta forma, questões como a conscientização para o uso de EPIs estão
cobertas. Por outro lado, o controle
de risco respeita a pirâmide de hierarquia de controle de riscos onde o EPI,
apesar de importante, ocupa a última
posição. A empresa incentiva a aplicação de medidas de engenharia para
o controle do risco”, diz.
Para Luciana, engenheira da Santa
Bárbara, independente da utilização
de proteções coletivas e individuais
a “conscientização dos trabalhadores
quanto aos riscos presentes em cada
atividade é peça chave na diminuição
dos acidentes e doenças relacionados
ao trabalho e deve ser tratado como
fator primordial nas ações propostas
pelas empresas.”
“É preciso conscientizar para
depois cobrar, não dá para exigir do
trabalhador se ele não estiver conscientizado”, diz a engenheira de se-
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
Juliana de Araújo Torre,
engenheira de segurança
do trabalho
gurança Juliana de Araújo Torre. Ela
defende que seja feito um trabalho de
conscientização com o trabalhador.
Muitas vezes, um trabalhador com
muita experiência pode ter uma autoconfiança exagerada e ser um pouco
“relaxado” quanto ao uso de EPI, por
exemplo. Juliana diz que esse trabalhador também precisa passar pela
conscientização porque é uma forma
até de reforçar o que ele já sabe. Juliana acrescenta ainda que é importante
trabalhar a motivação do trabalhador
na obra. “É como um pai e os filhos:
cipa matéria de capa
o que faz a coisa errada precisa ser
corrigido e o que faz as coisas certas,
precisa ser elogiado”, compara.
AÇÕES
O planejamento da obra é crucial
para a melhoria da segurança e diminuição dos riscos de acidentes. Conhecer as características locais onde
a obra será realizada é fundamental
como: tipo de solo e terreno, condições meteorológicas, incidência de
raios, mão de obra disponível, logística para transporte de equipamentos
e pessoas, infraestrutura existente,
interferências, costumes e hábitos
locais e regionais etc.
Este planejamento deve ser realizado por profissionais de vários
ramos e especialidades para que se
“É preciso
conscientizar
para depois
cobrar, não dá
para exigir do
trabalhador se
ele não estiver
conscientizado.”
Juliana de Araújo Torre
www.cipanet.com.br
crie uma sinergia na implantação do
sistema de gestão integrado da obra.
Um bom começo para isso é a
implantação de um eficiente Programa de Condições e Meio Ambiente
de Trabalho (PCMAT). O programa
deve contemplar a identificação de
riscos por fase de obra, criação e implantação das medidas preventivas,
como projeto de execução e especificação técnica dos equipamentos
de proteção coletiva e individual e
planejamento e dimensionamento do
layout do canteiro.
É fundamental que o departamento de segurança do trabalho
tenha estreito relacionamento com
os departamentos de projeto e orçamento. Essa interação com o projeto
executivo resultará em uma intervenção de forma planejada nas soluções para prevenção de acidentes. As
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
47
cipa matéria de capa
normas europeias de segurança do
trabalho exigem que toda obra tenha
um responsável pelos projetos relativos à segurança do trabalho e um
responsável pela sua implantação,
que pode ser o mesmo profissional
para os dois casos.
Cumprir as normas de segurança
e saúde definidas pelo MTE, ainda
não é suficiente para eliminar todos
os riscos de acidentes na obra. Isto só
irá ocorrer com a implantação de um
sistema de gestão da segurança e saúde do trabalho com o envolvimento e
engajamento de todos, inclusive das
contratadas que devem ser consideradas ¨parceiras¨ nesses objetivos, que
são comuns, pois com a segurança do
trabalho todos ganham.
A professora Maria Bernadete
diz que na construção civil a segurança e saúde no trabalho devem ser
planejadas desde a etapa do projeto.
“Isto significa ter um programa voltado para a prevenção, da mesma
forma que existem projetos para as
diversas instalações que ocorrerão
durante o processo construtivo. Tal
programa realmente reduz as chances de ocorrência dos acidentes, pois
trata da prevenção dos riscos e da
informação e treinamento dos operários, promovendo a integração entre
a segurança, o projeto e a execução
da obra.” Segundo ela, esta integração da segurança representa uma
importante estratégia da gestão na
prevenção de riscos no trabalho e se
baseia no princípio de que para que
uma gestão seja eficaz ela deve estar implantada em todos os níveis da
empresa, onde cada pessoa em seu
nível de responsabilidade e função
aplica princípios preventivos a todas
e a cada uma de suas ações.
A construtora Santa Bárbara, que
está localizada em Minas Gerais e
atua há mais de 43 anos no mercado nacional nos segmentos de edificações, infraestrutura, contratos
industriais e óleo e gás, costuma
trabalhar com mão de obra terceirizada afinada com sua política de
SST. Luciana Ferreira diz que todas
as empresas terceirizadas participam
de forma ativa do sistema de gestão
da construtora. Para ela, um bom
plano de trabalho para a CIPA passa necessariamente pela análise inicial do que pode ser feito durante a
gestão, para que serve a atuação da
comissão, como a CIPA atuará para
Principais etapas de um sistema de gestão de segurança
que os anseios de necessidades dos
trabalhadores sejam alcançados. “O
Sesmt deve acompanhar de perto, e
de maneira efetiva, todas estas ações
para uma gestão ainda mais eficiente
atuando principalmente nas questões
relacionadas à prevenção de acidentes e na definição de ações de controle, devendo incorporar todos os
princípios e requisitos definidos no
sistema”, afirma.
“... a partir da
identificação
de um
comportamento
inseguro, os
trabalhadores
são estimulados
também a fazer
notificações
desses desvios,
por intermédio
de cartões.”
• Realizar diagnóstico inicial
Marcos Kodama
• Criar Comitê de gestão
• Elaborar política de SST
• Definir objetivos, indicadores e metas de desempenho em relação à saúde e
segurança do trabalho
• Realizar levantamento atendendo a legislaçao pertinente, layout do canteiro etc.
• Realizar a identificação dos perigos e riscos significativos
• Elaborar procedimentos e formulários para a gestão dos sitemas
• Elaborar plano de atendemento a emergências
• Elaborar programa de treinamento para todos os colaboradores
• Ajustar as atividades e ações não conformes com a adoção de medidas e ações
corretivas e preventivas
48
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
Fazer o controle da saúde e segurança no trabalho no canteiro de uma
grande obra não é fácil. É claro que
existem desafios de ordem técnica e
gerencial e não somente referentes
ao controle de saúde e segurança no
trabalho. A professora diz ser de conhecimento geral que os acidentes
cipa matéria de capa
Canteiro de obra da construtora Santa Bárbara
de trabalho são gerados por alguma
disfunção ou causa que na quase
totalidade dos casos, é passível de
prevenção por meio de medidas que
impeçam a ocorrência deste evento.
A NR-5 estabelece deveres e
direitos das empresas e dos funcionários. É nela que está a regulamentação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) nas empresas. É nela que os trabalhadores
podem participar mais ativamente
sobre o controle de acidentes e doenças do trabalho já que participam
dela representantes da empresa e dos
trabalhadores. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança
e em Medicina do Trabalho (Sesmt)
determina uma política de segurança
do trabalho da empresa com base em
um programa de prevenção de riscos
ambientais (PPRA e PCMSO), que
está registrado no MTE mais próximo da obra.
O Sesmt trabalha o tempo todo
embasado no PPRA e PCMSO. “O
programa é da empresa e deve ser
seguido por todos os funcionários,
50
desde o mais graduado até o mais
simples do quadro funcional”, diz
Veiga, engenheiro de segurança da
JMalucelli.
Na Camargo Corrêa, Marcos
Kodama explica que nos canteiros
de obras da construtora, além dos requisitos legais, são fornecidos serviços como banco, correios, farmácia,
transporte, salão de beleza, serviços
odontológicos, lanchonete, telefones
públicos e lan houses, sala de audiovisual, sala de jogos, quadras poliesportivas, academia de ginástica, salas
de TV, programações de lazer e arcondicionado. “Os trabalhadores têm
representação legal na CIPA, o programa verifica e identifica constantemente as condições e os comportamentos
inseguros”, afirma. Ele diz que a partir
da identificação de um comportamento inseguro, os trabalhadores são estimulados também a fazer notificações
desses desvios, por intermédio de
cartões. “Os cartões possuem as cores vermelha, amarela e verde, o que
evidenciam o nível de risco do desvio
observado”, diz.
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
Rubens, da Fidens, diz que, apesar dos altos índices de acidentes
ainda presentes no setor, o segmento
vem melhorando seus índices gradativamente. “O governo e as empresas estão cada vez mais preocupados
com treinamento e instrução de seus
colaboradores e o mercado está em
crescente expansão, isso gera maiores
salários e, consequentemente, pessoas com mais instrução, que antes não
procuravam as atividades civis e hoje
estão migrando para a área”, analisa.
O RH possui a matriz de treinamento por atividade dentro da empresa, de forma que os colaboradores
passam por treinamentos de reciclagem durante vários períodos da obra.
Ele diz que a CIPA, como em qualquer outra atividade laboral, deve ser
ativa nos canteiros de construção civil. “Os componentes da CIPA devem
trabalhar integrados com os Serviços
Especializados em Engenharia de Segurança, e em Medicina do Trabalho
(Sesmt). Por isso, é importante compreender que somente trabalhando
com a união entre CIPA e Sesmt a
empresa terá condições de identificar
e criar as medidas de controle dos riscos das atividades desenvolvidas pelos colaboradores”, sentencia.
Em diversas empresas certificadas, como é o caso da Fidens que
tem OSHAS 18001:2007, todo e
qualquer funcionário tem a liberdade e o comprometimento de parar
uma atividade ou setor se o risco for
eminente, e comunicar seu superior
imediato o motivo de paralisação
da tarefa por considerá-la insegura.
“Atualmente, as empresas planejam
as atividades levando em consideração os seus riscos, utilizando diversos programas e meios de estudo/
levantamento dos riscos inerentes à
atividade”, diz Rubens. Segundo ele,
cipa matéria de capa
na introdução de novas matérias-primas, materiais e componentes; quando os controles implantados não se
mostrarem eficazes; sempre que os
resultados das auditorias internas ou
externas demonstrarem a necessidade de uma avaliação. Trabalhadores participam de DDS em uma obra Fidens
na Fidens são usados alguns procedimentos para minimizar ou mesmo
neutralizar o risco. Entre eles estão a
Análise Preliminar de Risco (APR)
que acontece todos os dias, antes do
início das atividades. Na análise, o
encarregado da área avalia os riscos
da atividade e os neutraliza antes do
seu início. Outra atividade é o Registro de Incidente (RI). “É um documento de bolso entregue a todos
os colaboradores com a descrição de
várias situações de incidente, que podem ser marcadas por ele caso identifique alguma ocorrência no dia a dia,
para que a causa possa ser eliminada
pelo setor responsável”, explica.
DESAFIOS
A professora Bernadete diz existir modelos de Sistema de Gestão
da Segurança e Saúde no Trabalho
(SGSST) que podem ser adaptados
para qualquer empresa independente do seu porte e do setor industrial
no qual atua cujo objetivo principal
52
é “fazer da prevenção de acidentes
e doenças ocupacionais parte integrante da cultura organizacional da
empresa, contribuindo para minimizar os riscos para os funcionários e
terceiros e permitindo a melhoria do
desempenho dos negócios.”
Na Santa Bárbara a identificação
de risco e definição das medidas de
controle é realizada pelo responsável pelo processo, funcionários,
membros da CIPA e representantes
da área de segurança do trabalho
(Sesmt). “Todos os funcionários são
orientados durante os DDS´s (Diálogos Diários de Segurança) a informar a qualquer membro da equipe de
segurança, da produção ou mesmo
da gerência sobre uma situação de
risco que esteja presente na atividade”, afirma. Ela explica ainda que a
elaboração e a revisão são realizadas
nas seguintes situações: no início de
obra; na construção de novas áreas;
em mudanças físicas ou reformas de
áreas existentes; na introdução de
novos processos; em mudanças significativas nos processos existentes;
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
www.cipanet.com.br
“O governo e as
empresas estão
cada vez mais
preocupados
com treinamento
e instrução
de seus
colaboradores...”
Rubens de Azevedo
Carvalho Neto
Na Camargo Corrêa, uma vez encontrado o risco, Kodama explica que
é preciso entender o significado da
ação mencionada. “Quando se trata
de grave e iminente risco à vida qualquer membro da supervisão ou dos
Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho (Sesmt) podem paralisar as atividades. Qualquer profissional
diante dessas situações deve informar
à supervisão e ao Sesmt”, diz.
Luísa Tânia Elesbão Rodrigues,
auditora fiscal do trabalho do MTESRTE/RS, ressalta que em um empreendimento de grande porte é necessária uma única gerência no que
diz respeito à SST. “Essa deve estar
alinhada e consoante a gestão da
cipa matéria de capa
execução da obra. Não há que se falar, por exemplo, em vários PCMAT,
PPRA ou PCMSO, deve haver um
único abrangente, inclusive no que
diz respeito à atuação das contratadas, subcontratadas, SPE etc.”, diz
ela. Outro grande desafio, segundo
a auditora, é atender às especificidades de cada empreendimento com
projetos, memoriais descritivos e
especificações técnicas compatíveis
com os serviços, fases e etapas das
obras, tendo em consideração os riscos inerentes a esses.
Para ela, a questão de SST não
pode ser uma questão tratada à parte da gestão das empresas. “Eu diria
que já faz parte até mesmo da vida
contábil das empresas e, portanto, de
sua sobrevivência, e isso fica muito
claro com a implementação do FAP.
Uma empresa que investe em gestão
integrada de SST, certamente é uma
empresa que otimiza recursos e, portanto, reduz seus custos, aumentando
sua competitividade mercadológica”, conclui a auditora.
Quando falamos em grandes
obras, além da segurança dos trabalhadores envolvidos no projeto, há
de se pensar também na população
do entorno e no tráfego de pessoas
e veículos. Em projetos de grande
envergadura, as comunidades são
atingidas direta ou indiretamente
pelos programas de prevenção de
doenças e acidentes. “A interação
ocorre muitas vezes com a presença de representantes da comunidade
no canteiro de obras, participando
de palestras sobre álcool, doenças
sexualmente transmissíveis, drogas,
segurança no trânsito. O controle
de endemias é outra forma de beneficiar comunidades do entorno dos
projetos”, diz Marcos Kodama, da
Camargo Corrêa.
Nas obras feitas pela Fidens,
Rubens de Azevedo diz que inicialmente é feito um levantamento
por parte da empresa dos impactos na vizinhança antes de iniciar
qualquer obra, visando interferir o
mínimo possível na rotina de seus
moradores. “São implantadas, por
exemplo, medidas de controle de
poeiras nas vias, por meio da umidificação com caminhões pipa; sinalização viária, informando a velocidade máxima permitida na via
e quais as interferências que serão
realizadas; além de sinalização para
orientar os usuários de vias rodoviárias sobre os perigos de movimentação e manobra de máquinas e
equipamentos”, relata.
A professora Margarete diz que
o modelo brasileiro de segurança e
saúde no trabalho é essencialmente
legalista, funciona como um mecanismo indutor de uma política
de segurança e saúde no trabalho
restrita, uma vez que não coloca a
função segurança como parte integrante do negócio da empresa e não
contempla todo o ciclo do empreendimento, limitando-se a fase de
execução. “A maioria dos responsáveis pelas empresas construtoras
desconhece os benefícios ou retorno
para a empresa quando do investimento em higiene e segurança no
trabalho, por meio da implantação
de um SGSST”, diz. Segundo ela,
esse desconhecimento provoca nos
empresários a falsa ideia de que esta
é uma área muito mais assistencial
do que técnica, sendo considerada
como mais um “benefício” para os
operários. “Dessa forma, mesmo
que se faça planejamento para a segurança no trabalho, será inútil uma
vez que a alta gerência não está aderindo à ideia”, conclui.
cipa
www.cipanet.com.br
• cipa caderno informativo de prevenção de acidentes •
53
Download

Grandes obras pedem atenção na segurança ao trabalhador