Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
AS REPRESENTAÇÕES SOBRE ANTÔNIO PAES DE BARROS
Larissa Rodrigues Vacari de Arruda*
José Antônio da Silva Júnior **
Resumo:
O presente trabalho pretende analisar as interpretações feitas sobre a figura de
Antônio Paes de Barros, governador do estado do Mato Grosso durante a República
Velha, no período de 1902 a 1906. De usineiro a governador assassinado, de
restituidor da ordem em 1899 a suposto mandante do Massacre da Bacia do Garcez.
Esse intrigante personagem é exposto sob três olhares diferentes: Valmir Batista
Correia, grande historiador de temas vinculados ao Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul; Generoso Ponce Filho, filho do maior adversário de Totó Paes, Generoso Ponce
(provável mandante do assassinato de Totó); e Alfredo da Mota Menezes, que
escreveu o livro A Morte de Totó Paes, em uma tentativa de atenuar a obscura
imagem do governador.
Palavras Chaves: Totó Paes, Mato Grosso, República Velha
Abstract:
This study aims to examine the interpretations made about the figure of Antonio Paes
de Barros, the governor of Mato Grosso during the Old Republic in the period 1902 to
1906. Governor, mill owner murdered, the restorer of order in 1899, alleged
mastermind of the massacre Basin Garcez. This intriguing character is exposed
under three different looks: Valmir Batista Correia, a great historian of topics related
to Mato Grosso and Mato Grosso do Sul; Generoso Ponce Filho, son of the greatest
opponent of Totó Paes, Generoso Ponce (probable mastermind behind the murder of
Toto), and Alfredo da Mota Menezes, who wrote the book The Death of Toto Paes, in
an attempt to mitigate the obscure governor's image.
Key words: Totó Paes, Mato Grosso, Old Republic
I-Introdução
Esse trabalho analisa a construção da imagem de uma importante
personagem que participou ativamente de duas “revoluções” no Mato Grosso, em
1899 e 1906. Antônio Paes de Barros foi governador do estado do Mato Grosso
durante a República Velha, no período de 1902 a 1906.
De usineiro a governador assassinado. De restituidor da ordem em 1899 a
suposto mandante do Massacre da Bacia do Garcez. Sua morte foi justificada pelo
massacre de oposicionistas que, independente da veracidade, ele foi identificado
como mandante.
Primeiramente será narrado os episódios significativos de sua vida, para na
sequência ser exposto a interpretação de Generoso Ponce Filho. Como é esperado,
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sendo este filho do maior rival de Totó Paes, Ponce Filho narra a visão que
prevaleceu do governador, de que ele seria um ditador assassino.1
Já Valmir Batista Correia vê Totó como um governador progressista para a
época, e Alfredo da Mota Menezes, em seu livro A Morte de Totó Paes, tenta apagar
a imagem negativa que ficou atrelada ao mesmo.
A construção da memória que permanece de um personagem histórico advém
do ambiente que ela se insere, no caso fora eliminado um governador que
conseguiu aglutinar vários inimigos. Seu único aliado, o presidente Rodrigues Alves,
perdia força política e pouco pode fazer para salvá-lo.
Enquanto as oligarquias do estado acharam interessante a parceria com o
mesmo este era visto como chefe de milícias, restaurador da ordem. Porém, quando
Totó prematuramente se desvincula da oligarquia o resultado foi sua morte e os
intensos movimentos posteriores para que sua memória futura fosse negativa.
Até hoje as circunstancias de seu assassinato não foram esclarecida,
revelando claramente que não havia interesse de que isso ocorresse, pois o
mandante de seu assassinato estava no poder. Existem verdades históricas que,
para alguns, é mais conveniente que nunca venham à luz.
II-A Vida de Antônio Paes de Barros
Totó Paes era um rico usineiro de açúcar. Sua usina era muito bem equipada,
tinha máquinas da Alemanha, onde teve luz elétrica primeiro que Cuiabá. Totó Paes
tinha que para manter seu negócio manter-se antenado em política, era chefe local
aliado do coronel da Guarda Nacional Generoso Ponce.
Ponce tinha uma biografia respeitada, se alistou na Guerra do Paraguai aos
treze anos. Somado ao episódio da “Revolução” de 1892. Com renúncia de
Deodoro, os presidentes de estado que o apoiaram são destituídos por Floriano.
Manuel Murtinho é tirado do governo. Ponce organiza uma milícia que devolve o
poder ao governador destituído. Ele detinha grande prestígio e poder político.
Generoso Ponce era aliado a oligarquia dos Murtinhos. No ano de 1898,
devido ao seu grande prestígio, já sondava um nome para as próximas eleições pelo
Partido Republicano. Consulta todos seus chefes locais por meio de cartas, um
desses chefes eram João e Antônio Paes de Barros. Todos os chefes locais
indicaram para a próxima eleição o nome de Generoso Ponce e sinalizam que
votariam em quem este ordenasse. Poucos indicam nome, o que foi feito pelo os
irmãos Paes de Barros. O escolhido de Ponce foi um indicado de João Paes de
Barros, João Félix Peixoto de Azevedo.
A maioria não ousou desobedecer Ponce quanto a adesão da candidatura de
João Félix, Totó Paes sim.
Pedro Celestino Correa da Costa, de importante família na política do Mato
Grosso, ameaça as atividades comerciais de Totó, que responde que é “assaz
reconhecido pela justiça que faz-me de nunca subordinar minhas opiniões a
qualquer classe de interesse, seja ela da ordem que for”(MENEZES,2007,p.53).
* Mestranda em Ciência Política na Universidade Federal de São Carlos
** Mestrando em Sociologia UNESP-Araraquara
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Comunicou a Pedro Celestino que não votaria no candidato de Ponce e sim
em Metello. Ele se recusou votar no nome que seu irmão indicara. Nesse momento
tal ousadia fora oportuno, porém mais tarde seu comportamento pouco maleável
custaria sua vida.
Os Murtinhos, receosos do poder político de Generoso Ponce, rompem com
este e apóiam Metello. O Partido Republicano se cinde, de um lado Ponce e João
Félix, de outro Metello, os Murtinhos, e Totó Paes.
Em 1898 assume a presidência da República Campos Salles, que inaugurou
a Política dos Governadores. O presidente da república “prometia-lhes carta branca
dentro dos seus estados, desde que se comprometessem a só eleger deputados
federais e senadores que estivessem de acordo com o governo federal.” (QUEIROZ,
1976, p.122)
Para Queiroz era a única combinação que daria estabilidade a uma República
construída sobre base precária. A política na República se processava de acordo
com os seguintes atores: os coronéis, o governo estadual e o governo federal.
Em âmbito municipal o chefe local tinha que se compor com os governos
estadual e federal. Se o município fosse governista seus candidatos passariam pela
Comissão de Verificação, caso contrario só assumiria pessoas que fossem
declaradamente governista.
Já postura do governo estadual quando haviam discórdia no estado, era de
deixar os chefes municipais brigarem entre si até que saísse um nítido vencedor pra
apoiá-lo. Se o governo estadual estivesse na oposição seus representantes não
seriam eleitos mesmo que fossem a maioria, ou seja só assumia se fosse favorável
ao presidente.
A oposição existia embora não fosse uma posição confortável. Quando
governos federal e estadual não se entendiam, os contrários ao governo estadual no
estado se união ao governo estadual. O governo federal ajudava os descontentes
nesses estados, as revoluções estouravam de preferência nesse cenário de
desunião . Nos estado ”fieis” ao presidente a oposição só podia esperar por algum
desentendimento, pois o presidente ajudava em tudo os seus partidários.
Portanto, pela lógica inventada pelo próprio Campos Salles ele deveria apoiar
quem detinha apoio da maioria no estado. Porém, Joaquim Murtinho era seu amigo
e seu ministro. Cuiabano que deixara a terra natal aos treze anos e nunca mais
voltara, não perdeu a oportunidade de influenciar em seu estado natal através do
presidente.
As eleições foram realizadas em 01/03/1899, devido a grande influencia de
Ponce, João Félix ganha.
No dia 10/04/1899 a Assembléia Legislativa deveria referendar as eleições e
Ponce era senador e presidente da casa. Totó Paes comandou a “Legião Campos
Salles”. As lutas nos estados devem ter suporte de armas e guarnições federais,
Campos Sales se nega dá-las ao governador (aliado de Ponce) e vai contra o
resultado das eleições.
As tropas de Totó Paes já estavam na cidade. O grupo de Ponce não se
armou. O governador e Ponce escreveram uma carta apelando pelo patriotismo e
que fariam o que eles quisessem. Joaquim Murtinho responde que ou anula-se a
eleição ou as forças de Totó anulariam.
Os milicianos de Totó Paes cortaram a linha telegráfica, nenhuma mensagem
do Rio de Janeiro. O comando militar federal poderia arrumá-la, mas nada fez.
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O general João Câmara decidira-se pelo lado de Campos Sales e não ajudou
o governador manter a ordem e os resultados das eleições.
No período entre 09/04/1899-16/04/1899 Cuiabá vira praça de guerra
Sem apoio do governo federal nem dos militares, através da ajuda de
intermediação de Pedro Celestino, Ponce em 16/04/1899 assina um acordo. As
eleições são anuladas.
Feitas novas eleições, Ponce retirou-se da capital, Totó Paes é que agora
detinha o poder político. Antes de assumir o governo do estado ocorreu um episódio
que importante para o desenrolar dos fatos.
Carone (1969) publica o relato de João Paes de Barros, irmão de Totó, sobre
o Massacre da Bacia do Garcez. João, era vice-presidente, assume provisoriamente
o governo do estado e toma atitudes liberais em favor da oposição. Em 1901 João
reunia em sua fazenda pessoas contrárias ao governo, do qual seu irmão era aliado.
Totó envia uma expedição a usina da Conceição, que pertencia a João.
Henrique e José Paes de Barros vão a usina intimidar o irmão a mando de Totó.
Haviam 140 asilados políticos na casa de João, que não é preso, porém ficou em
prisão domiciliar.
Foi trazida de Cuiabá uma lista pelo chefe de polícia que deveria ser
separado os presos em três grupos. O primeiro grupo seguiria por terra e era
composto por 16 pessoas. O segundo seguiria por água em lanchas, ao todo 100
pessoas. O terceiro grupo aguardaria na usina, que fora destruída.
O grupo que seguira por terra foi assassinado no dia 04/11/1901, os
cadáveres tinham o ventre partido em cruz e foram jogados para as piranhas, os
guardas ficaram esperando os corpos desaparecerem no rio. “Ao cair da noite parte
da escolta que seguira com os presos por terra, regressara à usina, narrando sem
reservas os horrorosos detalhes da carnificina da Bacia do Garcez” (CARONE,1969,
p.83)
João Paes foi obrigado a renunciar a vice presidência do estado e se alia a
Ponce. Menezes (2007) cita que em Cuiabá a morte de Totó era justificada pelo
massacre da Bacia do Garcez.
Em 1902 é eleito o presidente Rodrigues Alves e em 1903 Totó Paes assume
o governo de Mato Grosso.
No tempo em que comandou o estado Totó envolveu-se em algumas
questões que contribuíram para sua cisão com os Murtinhos, e em seguida estes se
uniram a Ponce e os Correa da Costa contra o governador.
A primeira contrariedade que Totó impôs aos Murtinhos, que o colocara no
governo do estado, foi sobre o Tratado de Petrópolis.
Novembro de 1903 o Brasil assina o acordo de Petrópolis com a Bolívia. No
acordo o Brasil incorporaria o Acre e o Mato Grosso iria em parte para Bolívia.
No Rio de Janeiro Joaquim Murtinho, Azeredo, Pinheiro Machado e Rui
Barbosa faziam oposição a Rodrigues Alves. Se o presidente aprovasse um assunto
espinhoso com facilidade se fortaleceria politicamente.
Joaquim Murtinho pede para Totó fazer oposição ao acordo. Rodrigues Alves
pediu para Totó declarar-se favorável ao Tratado. O governador do Mato Grosso
decide-se por apoiar o presidente.
O outro episodio ocorreu quando Rodrigues Alves tentou fazer seu sucessor.
Joaquim Murtinho, Rui Barbosa e Pinheiro Machado fizeram a Coligação, movimento
queria impedir o presidente de eleger seu sucessor.
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Totó Paes se põe novamente contra os Murtinhos e a favor do presidente,
apóia Bernadino de Campos, governador de São Paulo.
Diante da autonomia de Totó, Manuel Murtinho e José Metello viajam ao Mato
Grosso em 1906 para criar a Coligação no estado. Dá-se o rompimento com Totó.
Generoso Ponce que estava em Corumbá foi visitado por estes, eles unem-se em
torno da Coligação e contra o governador.
Haviam vários militares de alto escalão que foram mandados para Cuiabá
como castigo por fazer oposição ao governo, o estado estava cheio de gente contra
Rodrigues Alves e seu aliado Totó Paes.
“Totó Paes foi, portanto, o alvo dos Murtinhos, Azeredo, Metello, Ponce e
seus aliados e também de parte dos oficiais militares federais.” (MENEZES,
2007,p.124)
Totó fizera um arriscado cálculo político, se unira ao presidente, porém
desconsiderou toda a conjuntura contrária no estado.
Este talvez tenha sido o erro do Totó Paes: acreditar que a Coligação
não tinha a força que se imaginava e que não havia clima no estado
para um levante contra ele. Acreditou demais no apoio do governo
federal e na força militar instalada no estado. (MENEZES,
2007,p.128)
A oposição se reúne na casa de Pedro Celestino Correia da Costa, no dia
08/05/1906 foi grande a movimentação e chamou a atenção do governador. Totó
convoca seus adversários para uma reunião em sua casa, a policia estava
desfalcada fora para Poconé.
Pedro Celestino acusou o governador de “perseguições, atentados, mortes,
invasões de domicílios, tentativas de depor pessoas legalmente eleitas, como
ocorrera recentemente em Rosário e Poconé e quase acontecera em Cáceres”
(MENEZES,2007).
Totó se compromete a mandar a força que estava em Poconé regressar e
respeitar os adversários, a oposição prometeu se desarmar. A partir dessa data os
dois lados se armaram.
Em Brotas a oposição toma um posto policial e em seus arquivos lêem cartas
de Totó que diz existirem policiais a paisana. A oposição estava receosa de uma
posição dura do governo e se rebela.
Os três senadores, Joaquim Murtinho, Azeredo e Metello, são contrários ao
confronto armado no estado, porém os rebeldes se recusam. Mais adiante
explicitarei as razões de Ponce para que, ao contrário do que ocorreu com ele em
1899, Totó não saísse vivo da “Revolução”de 1906.
Interromperam o telégrafo, que era um sinal para a revolução, assim não
viriam ordens do Rio de Janeiro. Para Virgilio Correia Filho (MENEZES,2007) a
interrupção do telégrafos era uma código de Ponce para mandar seus
correligionários para o interior, quando estes saiam o telégrafo voltava.
Formou-se no norte a Legião Patriótica, comandada por Pedro Celestino, e a
Divisão Naval Libertadora liderada por Ponce.
Em 16/05/1906 é tomada a polícia de Corumbá, em seguida chega a essa
cidade o coronel Luís Alves Salgado novo chefe da força federal. Os telégrafos
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estavam cortados e devido estar adoentado só assumi 4 dias depois. Ele era contra
Totó e o presidente, essa demora contribui para sua morte.
Ponce Filho (1967) narra esse episódio relatando a calma do pai, que
permanecera em sua casa comercial com o filho, apenas observando a
movimentação de seus correligionários. Aguardou a chegada do coronel Salgado e
foi cumprimentá-lo.
Em junho Ponce tinham 1800 homens. Segundo Menezes (2007) as pessoas
eram obrigadas a ir a participar de sua milícia.
Ponce designa o tenente Paraná para rebelar o 13º Batalhão de Infantaria do
Exército de Cáceres, trazendo armas para a “Revolução”. O tenente Paraná
encontra com o coronel Salgado, que retorna a Corumbá e deixa de ir ajudar Totó.
Era época de estiagem e no rio Cuiabá só poderia subir embarcações de
pequeno porte. Ponce toma o cuidado de retirar de Corumbá todas embarcações de
pequeno porte e subiu o rio levando toda lenha para dificultar a ajuda a Totó, sem
lenha os barcos não tinham como subir.
Rodrigues Alves envia o general Dantas Barreto a Cuiabá, a viagem era longa
feita através da bacia da prata, era preciso atravessar o Uruguai, Argentina,
Paraguai para chegar a Corumbá, daí seguia-se pelo rio até Cuiabá.
Dantas Barreto partiu em 1º de junho 1906, chegou em Corumbá 25 de junho,
as embarcações eram grandes, haviam navios da marinha. No porto não havia
embarcações que o ajudassem a subir o rio. Ele tinha muitos mantimentos: comida,
armas, cavalos para subir o rio. Com telégrafo interrompido não podia se comunicar
com Totó e com o Rio de Janeiro.
Enquanto isso, em Cuiabá em 21/06/1906 as forças de Ponce e tomaram
todas posições estratégicas da cidade. Em 30/06/1906 Ponce intima Totó a se
render. Toda força federal no Mato Grosso se negou ajudar Totó, ficaram “neutros”.
Em 02/07/1906 Totó abandona o governo e o vice assume. Ele se refugia no
Coxipó do Ouro, em uma fábrica. Estava adoentado, não conseguia andar.
Em 06/07/1906 Totó Paes é morto com dois tiros. Ainda segundo Menezes
foram arrancaram braços, pernas, cabeça, tórax e ventre.
Duas versões para como descobriram o paradeiro de Totó. A primeira é que
prenderam e torturaram o mensageiro. A segunda versão é a de que o individuo
encarregado de levar alimento contou e foi guia pra levar onde estava Totó Paes.
No arquivo publico encontra-se o nome de João Damaceno da Silva que
ajudara na morte do governador, pois os funcionários da fábrica, onde estava Totó,
eram partidários do grupo que se levantava.
Os assassinos de Totó não tinham intenção de prendê-lo, foram para matá-lo.
No oficio de Ponce comunicando a morte de Totó, este fala que o morto
trajava-se como um “simples patriota”, segundo a autopsia Totó vestia-se à moda
européia.
“No mesmo dia 6 de julho, as forças ganhadoras fizeram imponente desfile
militar partindo da Praça da República, indo pela rua 13 de Junho até o largo do
Arsenal de Guerra, onde estava o Oitavo Batalhão de Infantaria.” (MENEZES, 2007)
Rodrigues Alves para punir os desafetos propôs intervenção federal no
estado, mas os senadores oposicionistas ao presidente votaram e fizeram
campanha contra no Congresso. O presidente estava enfraquecido politicamente.
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Rui Barbosa também foi contra a intervenção, justificou a tomada de poder no
Mato Grosso e ainda culpou os subordinados pela morte do governador.
Após sua morte a memória de Totó foi juntada a imagens de um homem
violento, cujas atitudes envergonharam o estado.
Os Paes de Barros desapareceram do cenário político do Mato Grosso.
Foram economicamente minados, a viúva de Totó Úrsula mesmo herdeira de muitas
terras passou por dificuldades e pediu pagamento dos salários atrasados do
governador.
Portanto, de acordo com a lógica pessoalista que regia as relações de poder
no período, pode-se apontar como causas da morte de Totó Paes, não o fato dele
mandar matar oposicionistas, pois isso era de uso recorrente, mas sim o fato dele
não ter feito aliados, amigos para o apoiarem na Revolução de 1899. Outro fator foi
Generoso Ponce.
III- Totó Paes: um truculento ditador
Em seu livro de memórias sobre sua infância, Ponce Filho (1967) narra os
acontecimentos até sua entrada na faculdade de Direito. Nascido em 1898 o mesmo
viveu o período de ostracismo do pai, acrescentado as perseguições impostas aos
Ponce por Totó Paes.
É interessante observar do livro como Ponce se preocupara em fazer um
sucessor. Mesmo menino, Ponce Filho tinha treze anos quando o pai falecera,
Generosinho participara observando ao lado do pai toda a movimentação política
que culminou em 1906 na ascensão de Ponce. Ia a reuniões, viagens, viu quando o
pai se reconciliou com os Murtinhos, só não assistiu a Revolução de 1906.
Atribuo como principal motivo que gerou o rancor de Ponce contra Totó o fato
de, além de tê-lo tirado do poder, Totó perseguiu sua família. Mesmo que não tenha
diretamente assassinado um dos Ponces, a perseguição culminou na morte do filho
doente de Ponce, Nelson e também falece o primeiro neto de Ponce, filho de
Josefina.
Em 1901 a esposa de Ponce, D. Mariana, pega uma lancha com seus filhos
para encontrar com Ponce no Rio de Janeiro, pois este era senador.
No barco iam os dez filhos, o filho Nelson, que era muito doente, a filha
Josefina, que estava grávida e o caçula de Ponce com 3 meses. Param em Porto
Urbano, sede da fazenda de um amigo. Três dias depois os homens de Totó vão a
fazenda buscar os Ponces.
D. Mariana recusa-se determinantemente ir a usina de Itacy, propriedade de
Totó. A lancha dos Ponce é tomada, voltam os homens de Totó a Porto Urbano. Os
Ponce vão para o mato, temiam ser assassinados ou servirem de isca para que
Ponce viesse ao Mato Grosso e fosse eliminado.
Josefina dá a luz em Porto Urbano. Os Ponces vão ao encontro de outros
foragidos embrenhados no mato. Passam lá 27 dias. Nesse ínterim ocorre o
massacre da Bacia do Garcez.
D. Mariana envia telegramas ao presidente da república, ao Senado. O STF
concede habeas corpus aos Ponces.
Chega em Porto Urbano uma lancha com oficiais e se propõe acompanhar os
Ponce até Corumbá. Lá embarcam em um barco argentino. Os capangas de Totó
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entram no barco, e prendem o genro de Ponce, Passini. Falece em Corumbá o
primeiro neto de Ponce, Josefina e Passini ficam presos.
Ponce Filho narra ainda que do barco ouviram as comemorações do
assassinado do coronel Jango Mascarenhas, aliado de Ponce. Os Ponce partem
para o Paraguai. Eram muito comum a troca de país quando se sofria perseguição
política.
Após 18 dias que chegaram em Assunção Nelson falece. Os Ponces passam
dois anos no Paraguai, depois se mudam para Corumbá.
Ponce Filho relata como a figura de Totó Paes era associado ao trauma que
viveram na “Odisséia no Pantanal”. Em suas brincadeiras de criança ao invés de ter
medo de monstros, ele tinha de Totó.
Vê seu pai como um grande herói, o exalta afirmando: “Na verdade não ouvi
nunca de meu pai nenhuma expressão acrimoniosa sobre seus adversários,
especialmente Totó Paes” (PONCE FILHO,1967, p.164)
Sobre 1901 lembra de ter ouvido Ponce afirmar “... nunca pensei que
baixassem tanto.” (PONCE FILHO,1967, p.164)
Arremata em elogios ao pai: “Por temperamento e formação moral sempre se
inclinara para a benevolência e a generosidade.” (PONCE FILHO,1967, p.164)
Ponce Filho só não narra em seu livro o que aconteceu a Totó. Carone afirma
que Ponce manda matar Totó. (CARONE, 1969)
Atribuo a perseguição que Totó impôs aos Ponces, somado a ter sido ele
quem tirou Ponce do poder, a morte de Totó. A mesma situação tinha ocorrido com
Ponce em 1899, e este sobreviveu.
Menezes aponta alguns indícios como a figura de Totó Paes foi preterida e
manchada. A travessa Antônio Paes de Barros foi trocada para Rua Candido
Mariano. No arquivo público de Cuiabá há pouca documentação sobre Totó. Foi feito
um inquérito sobre o Massacre da Bacia do Garcez, em 1906 dias após a morte de
Totó. O massacre ocorrera em 1901, já estava esquecido. Totó foi o acusado. O
episódio da bacia do Garcez foi a justificativa para a morte do governador. O
governo de Totó também foi acusado de irregularidades.
A visão negativa de Totó foi a que permaneceu no estado do Mato Grosso.
No Mato Grosso do Sul existe a avenida Antônio Paes de Barros, talvez em alusão a
antiga rivalidade entre as duas regiões desde o fim da guerra do Paraguai. (NEVES,
2001)
IV- Totó Paes: um progressista
Carone (1969) vê Totó como uma progressista. Correa (2006) também vê
Totó como uma progressista, diferente dos demais quanto ao seu governo.
Apesar de sua identificação com a violência política e de ferrenha
oposição que passou a sofrer dos adversários na capital federal, o
governo de Totó Paes teve características progressistas para época.
Cercado no primeiro escalão do governo por escritores, jornalistas,
advogados e elementos ligados ao meio cultural cuiabano, Totó Paes
além de pretender praticar a moralidade política e econômica,
financiou expedições científicas, participou da Exposição
Internacional de St. Loius com a finalidade de atrair capitais
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estrangeiros para Mato Grosso, promoveu a publicação da revista O
ARCHIVO (transição de documentos históricos), e da obra de
Augusto Leverger, Vias de Comunicação. (CORREA,2006,p.120)
Porém o autor acrescenta que o seu governo só beneficiou Cuiabá,
acentuando a diferenciação que havia entre o norte e o sul do estado, que em 1977
resultou na separação das duas regiões.
O livro de Menezes (2007) tenta reverter o quadro desfavorável da memória
atribuída a Totó. O autor chega a construir e argumentar sobre a imagem de Ponce,
que seria autoritário. O fato é que na época ambos eram autoritários.
Menezes relata de maneira sintética sobre os fatos contrários a uma boa
imagem de Totó Paes. Não fica tão claro, como no livro de Ponce Filho, as
circunstancias que levam Ponce ir contra as ordens do Rio de Janeiro e mandar
matar o governador.
V- Conclusão
A representação narrada por Generoso Ponce Filho, de uma visão muito
negativa sobre o governador foi a que permaneceu no imaginário popular.
Essa visão só justifica o grave fato de seu assassinato. Visto como autoritário,
perseguidor e assassino seria mais fácil convencer a opinião pública que era
justificável matar uma pessoa que comete tais atrocidades.
Não que ele não o tivesse feito, e que não fosse tudo o que era dito, contudo
nada justifica o assassinato em detrimento do julgamento de alguém que agiu
incorretamente.
Outro ponto intrigante dessa correlação de força é o porquê Totó Paes é
assassinado em 1906, enquanto Ponce teve a opção de viver e se manter longe do
poder em 1899. Levantei como possíveis causas da morte de Totó, primeiramente o
fato do governador não ter cultivado aliados, e pelo contrário, desdenhou os que o
colocara no poder, os Murtinhos.
O segundo fato que aponto para causa da morte do governador é que o
mesmo tentou eliminar os Ponce, e os perseguiu. Perseguição esta que resultou na
morte de dois membros da família Ponce.
Totó Paes também tinha seus atributos positivos como foi apontado por
Carone e Correa, foi um governador progressista.
A visão de Menezes tenta restabelecer uma imagem positiva de Totó Paes,
não ressaltando os aspectos (já tão ressaltados) negativos do governador. Ora essa
personagem histórica possuía tanto um lado positivo quanto negativo.
Em nenhum momento deve-se descolar um personagem do circulo social e
histórico ao qual o mesmo pertence. A República Velha foi um período conturbado
de nossa história política, quando fatos tais como a história de Totó Paes foram
comuns.
Referências Bibliográficas
CARONE, Edgar. Coronelismo: Definição Histórica e Bibliográfica. Revista de
Administração de Empresas. Rio de Janeiro, FGV, jul/set, 1971.
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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
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Coronel,
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