Rachel Giglioti
LITERATURA E RELIGIÃO: A EDUCAÇÃO NO EVANGELHO
DE SARAMAGO
SÃO CARLOS
2009
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Universidade Federal de São Carlos
Centro de Educação e Ciências Humanas
Departamento de Educação
Curso de Pedagogia
LITERATURA E RELIGIÃO: A EDUCAÇÃO NO EVANGELHO DE
SARAMAGO
Rachel Giglioti
Trabalho de conclusão de curso
realizado sob orientação do Prof.
Dr. Amarílio Ferreira Jr
São Carlos
2009
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Dedicatória
Em primeira ordem de apresentação, dedico este trabalho à minha mãe Amália
Neris Giglioti, pelo amor que faz transparecer por mim e pelo amparo em diversos
momentos difíceis. Dedico também aos meus irmãos, Roberta Giglioti e Rodrigo
Giglioti, os quais sempre me auxiliaram a refletir sobre meus objetivos de uma forma
que promoveram incentivos e motivações. Em ultima ordem de dedicação, mas não de
importância, também dedico a meu pai, Roberto Pedro Giglioti, ainda que este não se
faça muito presente em minha vida, o admiro pelas características próprias que são
dignas de respeito e admiração.
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Agradecimentos:
Agradeço primeiramente a meus pais por terem me proporcionado uma
educação e uma vida estudantil pelas quais pude estabelecer conceitos, valores e ideais.
Agradeço às pessoas que designaram papel significativo em minha vida e que
em diversos momentos, de alegria ou tristeza, também auxiliaram a construir
recordações, que são: Vanessa Soriano Barbuto, pessoa com quem estabeleço uma
amizade de muitos anos, de respeitável caráter. Os segredos compartilhados, as análises
interpretativas de fatos e as vivências que juntas estabelecemos, fundamentaram o
fortalecimento de uma amizade verdadeira. É alguém com quem mantenho uma
amizade que com certeza o tempo qualificará cada vez mais. Juntas nós rimos muito e
às vezes choramos por acontecimentos que sempre moverão recordações repletas de
carinho e saudade; Maria Fernanda Faccipieri, que como professora muito auxiliou no
desenvolvimento de minha leitura e escrita, e como amiga me orientou em várias
ocasiões difíceis pelas quais passei, além do mais, considero que ela nutre uma
concepção de mundo admirável, com uma essência que envolve um processo vital
fascinante. É uma pessoa com a qual travei uma amizade valiosa em que o respeito e a
compreensão colocam-se acima de qualquer julgamento de conduta, de modo que não
há a propagação de discriminações e intolerâncias, mas sim de apoios e confidências;
Juliana Alberice Vieira, amiga de notória inteligência, confiável, com qualidades
pessoais surpreendentes; Rebeca Bertanha, amiga sincera e prestativa; Alice Meirelles
Mucheroni, amiga que fez parte de muitos momentos relevantes de minha vida, juntas
com certeza conseguimos construir diversos conhecimentos significativos para nossa
formação e visão de mundo; Thiago H. K. B. Mendes, amigo com quem a diversão fazse presente nos mais distintos eventos; Danielle Migliato, amiga desde minha
escolaridade primária, que em momentos difíceis de minha vida pude contar com seu
apoio e motivação; Aline C. Camargo, amiga determinada e de admirável força para
superar os entraves da vida; Ana Carolina Aguiar, amiga que sempre esteve na
construção de diversos momentos descontraídos e engraçados; Giovana Levada, amiga
que admiro por sua força de vontade e dignidade; Lucas Brigante, amigo que muito me
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faz rir sempre que nos encontramos; Renato Fiochi, amigo de longos anos, que também
faz parte de meu círculo de amizades queridas.
Também agradeço a todos os professores que perpassaram por meus estudos e
que contribuíram para a construção de minha visão de mundo. Em particular quero
agradecer a um professor o qual tive em minha graduação e que me orientou no trabalho
de pesquisa, Amarílio Ferreira Junior, docente que tenho como um exemplo de
educador a ser seguido e com ideais dignos de respeito diante de toda sua sabedoria.
Agradeço-lhe por ajudar no desenvolvimento de minhas idéias e por sempre me fazer
lembrar as pretensões da verdadeira finalidade educativa.
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“ Está visto que as pessoas não andam todas por aí a pedir milagres, cada um de nós,
com o tempo, habitua-se às suas pequenas ou medianas mazelas e com elas vai vivendo
sem que alguma vez lhe passe pela cabeça importunar os altos poderes, mas os pecados
são outra coisa, os pecados atormentam por baixo do que se vê, não são perna coxa
nem braço tolhido, não são lepra de fora, mas são lepra de dentro”.
José Saramago
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Resumo:
Com o intuito de analisar a perspectiva de mundo cristã como ideologia que
permeia o fenômeno educativo é que se desenvolveu tal trabalho de pesquisa, de
maneira a desmistificar a intencionalidade da doutrina religiosa do cristianismo perante
a capacidade de abstração conceitual do indivíduo, esta que pode designar em meios
sociais, ações e condutas desprovidas de questionamentos críticos e que tornam
secundários ou até mesmo irrelevantes os fatos históricos construídos pelo homem.
A concepção de mundo cristã traz em si uma proposta educativa do homem. Os
preceitos pedagógicos cristãos, do ponto de vista dos preceitos morais e éticos que
regulam o comportamento humano no mundo secular, encontram-se expostos nos
chamados evangelhos canônicos. Neles estão explicitados os exemplos de vida que
Jesus representou, isto é, discorrem sobre o personagem histórico pelo qual se originou
o monoteísmo cristão, assim, os fundamentos da pedagogia cristã seriam derivações dos
relatos narrados nos quatros primeiros livros do chamado “Novo Testamento”. A
pesquisa partiu do pressuposto de que a concepção de mundo cristã engendra uma
proposta educativa que aliena o homem, pois a doutrina teológica cristã propugna que a
verdade explicativa do mundo existente é uma revelação do demiurgo e não um produto
histórico criado pela razão humana, ou seja: toma a vida de Jesus Cristo não como de
um protagonista histórico, mas, fundamentalmente, “divina”.
O trabalho fundamentou-se na abordagem da superação do caráter alienante da
concepção educativa cristã, tendo como base a literatura científica e profana, ou seja, a
literatura produzida pela razão humana que desvela a pretensa “verdade revelada” dos
evangelhos canônicos e transforma Jesus num personagem puramente histórico, tal
como faz a obra de José Saramago.
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Sumário
Introdução.......................................................................................................................9
Capítulo I: A literatura como fonte de pesquisa............................................................11
I.1: Cristianismo: História e ficção.................................................................11
I.2: A literatura baseada em fatos históricos religiosos e a literatura de
Saramago.........................................................................................................................15
Capítulo II: A concepção de mundo cristã....................................................................20
II.1: Os evangelhos canônicos e apócrifos do cristianismo............................20
II.2: O evangelho de Saramago......................................................................27
Capítulo III: A educação engendrada com base na concepção cristã de mundo..........32
III.1: O cortejamento entre os evangelhos canônicos e o evangelho de
Saramago........................................................................................................................32
Conclusões.....................................................................................................................42
Referências Bibliográficas............................................................................................44
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Introdução
Ao longo do curso os estudos sobre educação e os fatores influentes que a
caracteriza e oculta sua finalidade de fato frente à sociedade, demonstrou que é a partir
da história que podemos nos ater para uma análise crítica a respeito do processo de
formação do sujeito. Com base no marco do nascimento de Jesus Cristo e sua pregação
é válido analisar a influência dogmática e doutrinadora cristã que rebate na conduta do
indivíduo. A verificação de Jesus como educador da humanidade perante os propósitos
bíblicos faz com que se perceba a consolidação de uma educação calcada na
interiorização de verdades tidas como reveladas sem questionamento crítico, fato que
diverge da verdadeira finalidade educativa, uma vez que cabe à educação desvendar os
mitos e invenções que envolvem conceitos históricos, sociológico, políticos, culturais e
científicos.
A literatura de Saramago é uma riquíssima fonte de pesquisa e aquisição de
saber, envolve reflexões críticas sobre importantes conceitos que preponderam em meio
social e caracterizam a conduta dos indivíduos. Jesus Cristo humanizado no livro “O
Evangelho Segundo Jesus Cristo” é ponto de partida para entender como as escrituras
consideradas divinas prendem-se à invenção de acontecimentos tidos como profetizados
que misturam história e ficção, logo, Saramago visa desmascarar os propósitos cristãos
perante a essência humana que se vende a interesses próprios e alienantes em meio à
materialidade que sustenta a sobrevivência do homem. Devido ao entendimento desta
abordagem feita pelo autor é válido o desenvolvimento de uma pesquisa que busque a
educação em meio à criação de conceitos doutrinários de uma forma crítica e reflexiva.
O trabalho de pesquisa tem como objetivo demonstrar que os evangelhos
bíblicos visam um processo educativo fincado em uma ação dogmática que busca o
resultado de uma conversão a deus, assim, o sujeito manifesta com suas atitudes do falar
e do fazer o vínculo religioso que provem de escrituras tidas como reveladas e sagradas.
Desta forma, a escrita dos canônicos cristãos atua como uma forma de controle, de
modo a garantir reproduções que uma vez interiorizadas ocasionam transformações na
maneira de pensar e agir dos sujeitos. O evangelho de Jose Saramago estrutura-se como
um texto semelhante ao bíblico, no entanto porta o cunho educativo que realmente
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apropria-se da verdadeira função da educação que é de promover a reflexão crítica dos
fatos, desconstruindo paradigmas tidos como absolutos, assim, promove-se uma análise
da educação a partir da concepção cristã de mundo.
O monoteísmo cristão como uma ideologia dominante visa à manipulação de
indivíduos para que se concretizem ações que atuam como a garantia de que o poder
religioso sane com seus interesses próprios. Ao atuar em meio social, as manifestações
de um coletivo fundamentado pela cristandade, este que se finca em propósitos oriundos
de uma pregação alienante, demonstram que os sujeitos orientam suas condutas a partir
de uma ordem que não é vista como construída socialmente perante um processo
histórico real, mas sim como uma necessidade a ser seguida diante da proposta de deus
e da almejada vitalidade extraterrena. As relações sociais entornam a essência de uma
identidade grupal, assim sendo, o cristianismo se apodera com sua manutenção
ideológica e propagação de conversão com base em preceitos doutrinários, pois
fortemente prepondera socialmente e de forma incontestável educa os indivíduos. Com
a interiorização da ideologia cristã o sujeito torna-se membro da manipulação de massa
e poder ocasionada por instituições religiosas, logo, o processo educativo que tais
instituições se fundamentam para a busca de fiéis tem sua pauta na abstração de
conceitos tidos como absolutos, inquestionáveis e norteadores de ações, uma vez que os
ensinamentos de Jesus por meio da força e vontade de deus sustentam a pedagogia do
cristão.
A verdadeira finalidade educativa deve desencadear reflexões que permitam
promover uma ruptura com os paradigmas que mantém a reprodução de ideologias
dominantes, estas que se designam como superiores para fazer prevalecer suas
intencionalidades. A abordagem crítica dos fatos faz com que ocorra o esclarecimento
de determinados conceitos, o que propicia pensamentos e ações conscientes diante das
temáticas que envolvem os processos de ensino e aprendizagens dos sujeitos, visto que
verdades absolutas consideradas como “reveladas” designam uma educação que não
valoriza o sujeito enquanto construtor da história e propulsor de ações sociais
transformadoras por meio de seu intelecto, e sim promove a alienações que se originam
perante a subordinação da razão pela fé cristã.
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Capítulo I: A literatura como fonte de pesquisa.
I.1- Cristianismo: História e ficção.
Com base em uma análise dos preceitos cristãos que preponderam socialmente e
perante a maneira de como esta ideologia monoteísta prega seus valores é possível
verificar que a conduta humana submete-se a uma abordagem de acontecimentos que
não apenas se calcam em uma construção histórica, mas como também em verdades
tidas como absolutas que plasmam uma ficção que tem a pretensão de conversão e
pregação, visto que ao interiorizar determinados conceitos o ser humano salienta visões
de mundo. As doutrinas, filosofias de vida, ideologias e paradigmas vistas como uma
cosmovisão-produto, ou seja, critérios de comportamento e crenças que são elaboradas a
partir de teorias demarcam os propósitos do cristianismo, este que necessita de uma
existência conceitual que se sustenta de uma lógica pela qual a junção entre história e
ficção conduz ao modelo ideal de atuação social, logo, os preceitos cristãos garantidos
pelas escrituras sagradas embutem uma proposta educativa que aliena o homem.
O monoteísmo oriunda de uma cosmovisão ocidental que apropriou-se do
princípio de causa e efeito para fundamentar os pressupostos cristãos, pois se tem os
acontecimentos históricos e fictícios como propulsores dos dogmas e do conceito de
deus, com o intuito de impor valores, visto que são os seres humanos produtores de suas
idéias, representações. O cristianismo não apenas se firma na fé, transformara-se em
uma religião universal ao incorporar a razão ao conceito de fé que adere importância ao
se constituir perante um conjunto de preceitos doutrinários tidos como propriedade da
alma, de modo a gerar uma subordinação da razão que realça os dogmas. A razão ao
subsidiar a fé cristã demonstra que a verdade católica baseada na fé em Jesus Cristo
origina uma lógica que mistifica determinados acontecimentos e torna secundária a
história produzida pelo homem, este que tem sua relevância e conduta inibidas pelas
ações do deus criador e que é pecador diante dos provectos que alimentam a doutrina
cristã quando esquiva-se dos sacramentos e ideais garantidos pela ordem divina. A fé
cristã parte de verdades que não precisam ser comprovadas em contraposição ao sentido
da razão que depende da pesquisa empírica e se vincula a uma idéia de verdade
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questionada comprovada por experiências, logo, a necessidade da filosofia cristã de se
ater para uma base histórica nutrida por verdades absolutas e fictícias sucumbe o
questionamento crítico para que haja uma alienação humana perante a interiorização dos
preceitos do cristianismo, sendo que para a criatura se conciliar com o criador e ter sua
salvação é preciso o seguir a doutrina garantida em escrituras sagradas e que fora criada
pelo próprio homem segundo os dogmas, no entanto o que se discorre em tais textos
tidos como divinos são verdades reveladas que não são frutos do ser humano, mas sim
do deus onipresente, onisciente e onipotente, o que sustenta o fato de que o homem não
pode duvidar que seja criado por deus e explicar isso racionalmente.
O processo vital deve partir da realidade humana, visto que o desenvolvimento
dos reflexos ideológicos são produtos das ações do homem, e a partir do materialismo
histórico designa-se o molde de sobrevivência, assim, ao se tomar consciência da
exploração de uma visão de mundo tem-se a racionalidade como guia de um bom senso
garantido pelos princípios do pensar e agir. A doutrina cristã demonstra uma filosofia
calcada na massa, ou seja, com propósitos a serem aceitos pelos indivíduos
coletivamente e que se difundiram de forma a gerar condutas. Deus como absoluto
incontestável foi criado para que a massa siga as normas do cristianismo, sendo que o
criador não se concretiza e sim fica no mundo das idéias. A partir de transformações
pelas produções e relações materiais tem-se o homem como o propulsor do
desenvolvimento da história, sendo que “não é a consciência que determina a vida, mas
a vida é que determina a consciência” (Mar; Engels, 2005, p. 52), com isso é possível
dizer que a filosofia autônoma religiosa perde seu meio de existência conceitual quando
se expõe a realidade.
O processo real de produção baseia-se na concepção histórica e determina uma
produção material de vida, assim, o sujeito em meio à sociedade civil é regido por
procedimentos em que estão implícitos valores, estes que são explicados a partir de
teorias e formas de consciência que permeiam os mais diversos campos, como, religião,
moral, filosofia, entre outros, fato que faz com que as formações ideológicas sejam
explicadas perante a práxis material. A essência do cristianismo se sustenta de preceitos
que originaram noções de que a escrita da história se dá de acordo com um critério
realizado exteriormente dela, logo, a vida comum aparece como separada da produção
real material, como algo extra. O ser humano inconsciente ao se desprender da base real
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histórica tem suas ações, condutas direcionadas a fatos irreais, mas que se
complementam de um cunho filosófico, embora de uma maneira diferenciada, visto que
faz com que a imaginação humana, como por exemplo, a de ter representações, imagens
mentais do “reino de deus”, traga um ideal de vida almejada pelas criaturas que traçam
seus projetos de vida em virtude do criador. Para demonstrar a relação entre história e
ficção nos fins do cristianismo é válido ressaltar algumas passagens bíblicas sobre
determinados acontecimentos, como o próprio nascimento de Jesus e o fato deste ser
considerado o verdadeiro messias enviado por deus. O anuncio do nascimento do dito
messias deu-se por meio do discurso de um anjo que ao pai da criança revelou “José,
filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu
pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de Jesus,
pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mateus, cap. 1, v. 20). Tal fato remete
a uma ficção pela qual os seguidores se detêm para conceber divindade a deus, acríticos,
alienados pela ideologia cristã deixam de relevar a inviabilidade de se ter um filho com
ausência de relação sexual, carnal, e sim designa ao Espírito Santo com sua ação a
geração de uma vida, além de que tem como salvador Jesus que, por objeções biológicas
apresenta-se mortal como todas as criaturas, no entanto é o escolhido dentre tantos para
a finalidade de tirar a razão e a lógica dos fatos para transformá-los em milagres e de
fazer com que os homens sigam os mandamentos divinos e alcancem a vida extraterrena
e perfeita do reino do céu, o que também é questionável diante da coerência da ação de
deus que mata sua criação (o ser humano) para justificar os erros da humanidade.
O cristianismo tem sua essência voltada na abstração, visto que o idealismo não
conhece a atividade real com tal, com isso a atividade humana não é reconhecida como
atividade objetiva, e tem-se como autenticidade humana só a atividade teórica, sendo
que a práxis apenas é absorvida sob a sua configuração judaica. Ater-se ao fato de uma
auto-alienação religiosa no sentido de que esta traz uma relação entre o mundo real,
material e o mundo religioso surreal, é remeter aos homens um questionamento sobre
sua existência a partir da lógica da concretude material, não de ocorrências divinas e
incontestáveis. Ao transformar-se a essência religiosa em essência humana ocorre a
fixação de um sentimento religioso que não é tido como um produto social, mas sim
como uma abstração interiorizada a partir da intencionalidade cristã, tal fato ocasiona a
abordagem da irrealidade ou realidade do pensamento, este visto separado da práxis,
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como um assunto escolástico. É necessário salientar que toda vida social tem como
essência a prática e que o misticismo tem sua solução racional na compreensão da
práxis humana. Os preceitos dogmáticos fazem com que a realidade dos fatos seja
substituída por uma procedência misteriosa, inconsciente que consegue aderir certa
consciência alienada na medida em que os acontecimentos inventados oculta e torna
secundárias as decorrências reais, contudo, ao se desvelar o caráter artificial dos fatos
origina-se uma missão que traz consigo o descobrimento das ideologias e intenções da
massa cristã que orientada por aquilo que foi determinado pela igreja para se
preponderar socialmente, tem sua conduta como uma ação que sufoca o livre-arbítrio.
A criação do reino do céu pelo cristianismo e que é garantido pelas escrituras
sagradas, assim como a questão da ressurreição, remete a uma elaboração de propostas
que se fundamentam também na abstração fictícia. Diante da morte, fato biologicamente
decorrido de diversas enfermidades ou ocasiões fatais, foi necessário que se criasse
histórias e elementos constitutivos de uma vida eterna e extraterrestre. A ausência de
uma possível forma de vida após o término da materialidade do corpo colocaria em
ruínas a ideologia cristã sustentada pelo grupo dominante da igreja, assim tem-se o
reino do céu como o âmbito em que os bem-aventurados têm seu ingresso garantido
após o cancelamento da vida. Para realçar a doutrina cristã sustentada pelos propósitos
de deus originou-se em contraposição ao reino do céu a imagem do chamado inferno,
local designado aos pecadores após a morte, em que o sofrimento entornaria um habitat
de sujeitos desgraçados, logo, com isso demanda-se à vida do indivíduo uma conduta
respeitável em relação às normas cristãs em antecedência à morte.
Com base na idéia de que o princípio materialista supõe o ser humano como
fruto das circunstâncias e da educação, é que se pode estabelecer uma ligação crítica dos
ensinamentos doutrinários cristãos. A educação do indivíduo deve voltar-se a conceitos
que permeiam os mais diversos contextos e que dão origem às reflexões que não apenas
aderem uma posição absoluta, tida como a única verdadeira, mas sim que consideram a
construção histórica determinada pelo próprio homem que com sua atividade real
contorna suas condutas sociais. Perante a abordagem da realidade e a formulação
fictícia, é possível entender que a pedagogia de Jesus, este tido como educador dos
cristãos, foge da verdadeira finalidade educativa de fazer com que o intelecto humano
institua a conscientização crítica em relação a um conceito, uma vez que atua de
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maneira alienante e mistifica ocorrências para justificar interesses dos detentores de
poder, fato que diverge da possibilidade de ações transformadoras fundamentadas pela
realidade.
I.2 - A literatura baseada em fatos históricos religiosos e a literatura de Saramago.
A literatura consiste em se apropriar de argumentos para transcorrer
acontecimentos, discursos os quais sustentam concepções que se abstém de
neutralidade, pois toda perspectiva conceitual embute uma análise contextual seja
política, sócio-econômica, cultural, portanto, os estudos dos preceitos implícitos e
explícitos em relação à construção literária da Bíblia e à visão de José Saramago tem a
finalidade de demonstrar aos sujeitos reflexões sobre propósitos, ideais e acima de tudo
sobre a essência humana. A religião cristã determina uma concepção de mundo que a
literatura de Saramago desvenda na medida em que parte da humanização de Jesus
Cristo e da realidade com base na produção histórica material, o que faz com que se
tenha uma abordagem da conduta e alienação humana sob um ponto de vista crítico aos
isolamentos conceituais afirmados como divinos.
Os evangelhos canônicos sustentam relatos da vida e ações de Jesus que
escolhido por deus assume a missão de direcionar a humanidade à pretendida salvação,
esta que se fundamenta no seguimento dos mandamentos do criador, visto que não
desmistifica as abstrações desvinculadas da realidade, mas orienta o modo de agir e
pensar dos cristãos. Os evangelhos discorrem passagens que atuam para os crentes
como inibidoras do pensamento crítico-reflexivo, tal ocorrência indica uma forma de
persuasão às ações não direcionadas ao fim doutrinário cristão. A vida de Jesus Cristo
contada nos evangelhos canônicos, desde seu nascimento demonstra-se constituída de
acontecimentos que, encenados por Jesus ou por ações de deus, demarca a verdade
revelada divinamente como força motriz da conduta humana. “Quando acordou José
fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado: levou Maria para casa e, sem ter
relações com ela, Maria deu à luz um filho. E José deu a ele o nome de Jesus”
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(Mateus, cap. 1, v. 24-25), tal passagem é incontestável e nutrida nos textos bíblicos,
porém deve-se evidenciar a gravidez de Maria como um processo irreal já que este
mostra-se livre das malícias oriundas das fornicações cometidas e desejadas pelo
homem, logo, é alienante conceber este fato desprovido de um questionamento crítico.
Ao se partir deste pressuposto José Saramago em seu livro “Evangelho Segundo Jesus
Cristo” reconta a história do messias sob uma maneira que adquire plenitude de sentido
para a compreensão da realidade, uma vez que propicia uma reflexão das implicações
em busca de significados recônditos. A abordagem sobre o nascimento de Jesus adere
uma semântica real quando o autor descreve a relação sexual entre José a Maria, de
modo a comprovar a origem da existência de Jesus:
Sem pronunciar uma palavra, José aproximou-se e afastou devagar o
lençol que a cobria. Ela desviou os olhos, soergueu um pouco a parte
inferior da túnica, mas só acabou de puxá-la para cima, à altura do
ventre, quando ela já tinha se debruçado e procedia do mesmo modo
com a sua própria túnica, e Maria, entretanto, abrira as pernas, ou as
tinha aberto durante o sonho e desta maneira as deixava ficar, fosse por
inusitada indolência matinal ou pressentimento de mulher casada que
conhece os seus deveres. Deus, que está em toda a parte, estava ali,
mas, sendo aquilo que é, um puro espírito, não podia ver como a pele de
um tocava a pele do outro, como a carne dele penetrou a carne dela,
criadas uma e outra para isso mesmo, e, provavelmente, já nem lá se
encontraria quando a semente sagrada de José se derramou no sagrado
interior de Maria, sagrados ambos por serem a fonte e a taça da vida,
em verdade há coisas que o próprio Deus não entende, embora as
tivesse criado. (Saramago, 1991, p. 26).
O excerto discorrido acima anula os acontecimentos bíblicos desprendidos da
realidade, uma vez que a Bíblia sustenta que Maria concebeu um filho por ação do
espírito santo o qual é uma forma de manifestação de deus, é a força de deus que dá ao
homem a oportunidade de viver conforme a vida de Jesus, e que também é a fonte da
explicação da gestação desenvolvida no ventre de Maria pela vontade de deus.
É garantido pelo discurso bíblico que Jesus dá inicio a uma nova época em que
se passa a acreditar na salvação dos homens, sendo que ele é considerado como o
messias salvador, e as palavras que profere são reveladas por Deus e sustentadas pelas
escrituras sagradas, o que faz com que inicie seus ensinamentos e atividades de
evangelização, uma vez que pela região da Galiléia Jesus pregava e curava as
enfermidades do povo, e sua fama se espalha por toda Síria, assim como seu numero de
seguidores, de forma que sua pregação baseava-se no poder das palavras e na ação da
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cura dos enfermos dirigida aos necessitados, como relatado: “Jesus estendeu a mão,
tocou nele e disse: “Eu quero, fique purificado”. No mesmo instante o homem ficou
purificado da lepra” (Mateus, cap. 8, v. 3). A partir da racionalidade empírica se pode
comprovar esta ação da cura promulgada por Jesus para sanar enfermidades como um
fato insolente que não se atém para a ciência do conhecimento específico para tal caso,
mas sim se volta a uma possibilidade milagrosa que promove a necessidade de se crer
em deus.
As bem-aventuranças dos preceitos cristãos alimentam a idéia de que não há
conformismo e alienação do homem, mas sim a libertação para propagar a justiça de
deus que se baseia nas atitudes práticas em relação ao próximo (esmola), a deus
(oração) e a si mesmo (jejum), sendo os pobres os que necessitam desta convicção, pois
é apenas a partir de deus que se mudarão os valores de uma sociedade injusta pela
riqueza daqueles que exploram e oprimem. Com a esmola (partilha) tem-se uma
demonstração de compaixão que visa à justiça, com a oração o homem se reconhece
como criatura, relativiza a auto-suficiência e tem deus com único absoluto, já com o
jejum tem-se a privação do egocentrismo, com objetivo de novas perspectivas. “Se você
quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um
tesouro no céu” (Mateus, cap. 19, v. 21), esta passagem explicita a lei do criador, visto
que o absoluto determinante da forma de ser e viver é deus, não deve se colocar valor às
riquezas, pois são frutos da opressão e exploração. O ato de fé pela palavra deve ser
acompanhado de ações, caso contrário perde-se o sentido da autenticidade de Jesus
como senhor, este pratica e vive o que ensina aos outros. Tais venerações e paradigmas
cristãos ocultam a análise da estrutura materialista que parte da acumulação de riquezas
para remeter poder aos dominantes e que necessita da exploração de uns sobre os outros
para garantir a manutenção de um sistema o qual deve ser regido por uma minoria, por
grupos que com interesses próprios demarcam quais ideologias e condutas devem
prosperar em meio à sociedade. Assim, consegue-se por meio de uma doutrinação
religiosa que o indivíduo se conforme com sua condição social, e detém a pobreza como
virtude e garantia ao reino do céu, fato que bloqueia transformações sociais amplas de
cunho coletivo.
Em contraposição aos argumentos semânticos da Bíblia tem-se “O Evangelho
Segundo Jesus Cristo”, um evangelho profano, como um ponto de partida para entender
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como evangelhos canônicos se prendem à invenção de acontecimentos tidos como
profetizados, logo, Saramago desmascara os propósitos do cristianismo de forma
abordar a essência humana como algo que se vende aos interesses alienantes que
permeiam uma materialidade que movimenta a sobrevivência humana. Jesus Cristo
representou exemplos de vida e é o personagem histórico que propagou a origem do
monoteísmo cristão, contudo, ao ser humanizado adere uma vida material, carnal
analisada de forma reflexiva e crítica que não corresponde com a vida gloriosa garantida
pelo discurso do cristianismo, visto que:
...muitos são os que tiveram o mesmo destino fatal e outros muitos virão
a ter, mas este homem, nu, cravados de pés e mãos numa cruz, filho de
José e Maria, Jesus de seu nome, é o único a quem o futuro concederá a
honra da maiúscula inicial, os mais nunca passarão de crucificados
menores (Saramago, 1991, p. 18).
Com base na realidade que deve fundamentar os fatos é notável considerar
novamente na seqüência entrelinhas do texto de Saramago, “O filho de José e Maria
nasceu como todos os filhos dos homens, sujo de sangue de sua mãe, viscoso das
mucosidades e sofrendo em silêncio” (Saramago, 1991, p. 83), com isso demonstra-se a
natureza do nascimento de uma criança sem relacioná-la a ocorrências divinas e pode-se
verificar que o menino Jesus de nada acrescenta para ter um futuro com ações
extraordinárias e feitos heróicos dentre os homens.
Perante a concepção bíblica Jesus traz consigo um projeto concreto que visa à
formação do povo de deus na história e se consagra como uma personalidade moral e
religiosa, em que se tem a comunidade cristã como a via da não reprodução de uma
sociedade fundada na riqueza e no poder. Deve-se deixar de lado as pretensões sociais e
acolher Jesus fraternalmente nas pessoas dos pobres e fracos, uma vez que poder e
prestígio induz à competição que escandalizam com os princípios da comunidade de
Jesus, assim, “ Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem,
e onde os ladrões assaltam e roubam” (Mateus, cap.6, v. 19). Os seguidores
verdadeiros de Jesus são aqueles que detêm propriedades, as vendem e entrega o
dinheiro aos pobres, destas ações desprendidas da materialidade se fará seu julgamento
e entrada no reino do céu, de modo a ter como herança a vida eterna. A vida eterna tão
pretendida pela cristandade é resultante de um processo vital digno aos mandamentos de
deus, sendo que com tal processo serão apropriados pelo ser humano conceitos e
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premissas que atuarão como parâmetros para a possível imortalidade. Ao se abordar a
questão da vida eterna Saramago transcorre sobre pensamentos do pai de Jesus, José,
quando este se atém a morte que um dia a seu filho chegaria e assim reflete:
Morrerá, terá de morrer, e o coração doeu-lhe, mas depois pensou que,
segundo a ordem natural das coisas, deverá ser o primeiro a morrer, e
que essa morte sua, ao retirá-lo de entre os vivos, ao fazer dele
ausência, dará ao filho uma espécie de, como dizer, eternidade limitada,
passe a contradição, a eternidade que é continuar ainda por algum
tempo mais quando os que conhecemos e amamos já não existem.
(Saramago, 1991, p. 94)
Muitas das passagens sustentadas pela Bíblia estabelecem uma comparação
como evangelho de Saramago, este que desmistifica preceitos e com isso pode-se
verificar diversos conceitos que estão intrínsecos na concepção cristã e que portam uma
significação em meio à sociedade, como a questão do gênero, por exemplo, pois a
mulher é tida como inferior ao homem, e tal fato se demonstra na criação do ser humano
por deus que primeiramente dá origem ao homem (macho) para depois ater-se a
necessidade da mulher (fêmea), pois era precisa sua existência para reproduzir a raça
humana, logo, de uma costela do primeiro homem criado, Adão, deus criou Eva.
Exemplifica-se pelos escritos de Saramago a subordinação da mulher em relação ao
homem:
...as mulheres já sabemos em tudo são secundárias, basta lembrar, uma
vez mais, e não será a última, que Eva foi criada depois de Adão e de
uma sua costela, quando será que aprenderemos que só começaremos a
perceber quando nos dispusermos a remontar às fontes (Saramago,
1991, p. 57).
É de suma importância ressaltar que a origem do pecado está designada a
mulher, uma vez que no paraíso, tentada pela serpente que era a representação do mal,
Eva deixa-se levar pelo desejo e aceita a maça que representava o fruto proibido, fato
que remete a humanidade a uma condenação divina.
Segundo os evangelhos canônicos o homem se torna pecador pela consciência
humana que dá direção às ações e pensamentos que não fundamentam uma sociedade
justa. É a fé que une as pessoas a Jesus, não a raça e o sangue, sendo que a palavra de
Jesus tem por finalidade promover a compreensão de sua missão, pois o reino de deus
se aproxima por meio de sua ação, assim, deve-se haver um comprometimento e
19
continuidade das ações de Jesus por parte dos seguidores da doutrina cristã. A fé
madura nasce da esperança, com a obediência a palavra de Jesus se alimenta e cresce, e
se manifesta na gratidão. Com isso o homem será salvo, sua vida atingirá a plenitude. O
evangelho cristão transforma, revoluciona o campo das relações humanas, pois na
sociedade justa e fraterna devem preponderar as relações gratuitas, semelhantes ao amor
misericordioso do pai. Jesus sofrerá e morrerá para demonstrar a transformação da ação
messiânica e a construção da nova história. Sua ressurreição será sua vitória.
No que diz respeito à morte de Jesus esta também é abordada por Saramago de
forma crítica à ética de Deus perante a morte da criatura escolhida para trazer salvação à
humanidade. Fora crucificado Jesus sentindo as dilacerações da carne pelos pregos
conforme procede no ritual da crucificação, e assim o autor discorre:
Jesus morre, morre, e já o vai deixando a vida, quando de súbito o céu
por cima de sua cabeça se abre de par em par e Deus aparece, vestido
como estivera na barca, e a sua voz ressoa por toda a terra, dizendo, Tu
és o meu Filho amado, em ti pus toda minha complacência. Então Jesus
compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao
sacrifício, que a sua vida fora traçada para morrer assim desde o
princípio dos princípios, e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e
de sofrimento que do seu lado irá nascer e alagar toda a terra, clamou
para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele
não sabe o que fez. Depois, foi morrendo no meio de um sonho, estava
em Nazaré e ouvia o pai dizer-lhe, encolhendo os ombros e sorrindo
também, Nem eu posso fazer-te todas as perguntas, nem tu podes darme todas as respostas (Saramago, 1991, p. 444).
O trecho relatado acima traz consigo uma reflexão dos propósitos de deus que
utiliza Jesus como guia dos procedimentos alienantes e doutrinários que são fortalecidos
pelas instituições religiosas, uma vez que a humanidade deve acatá-los para não se
abster da nomeada vida misericordiosa e gloriosa garantida pela conduta respeitável às
invenções e mandos dos princípios cristãos.
Capítulo II: A concepção de mundo cristã
II. 1- Os evangelhos canônicos e apócrifos do cristianismo
20
As escrituras sagradas proclamam a vida de Jesus Cristo como precursora da
palavra de deus diante da história dos homens, visto que o projeto de deus é revelado na
medida em que a pregação, expressa por línguas humanas por meio da vontade do
criador, se faz instrução na vida do sujeito, logo, a leitura dos acontecimentos narrados
na Bíblia adere uma função dogmática que se finca no discurso da espiritualidade
sustentada pela fé, esta que determina anuência a deus. A perspectiva cristã volta-se à
interiorização de conceitos tidos como inspirados por ordem divina e se apropriam da
leitura e escrita para sustentar o discurso que visa à obtenção de fiéis, sendo que a
salvação oriunda das condutas terrenas perante os mandamentos de deus. Os desejos
inculcados na psique humana podem fugir da proposta dos preceitos cristãos e
desencadear os tão destemidos conceitos de desvirtuação que move atos tidos como
errôneos e que designam a necessidade do perdão do pai. Perante a concepção cristã a
deus é atribuído o poder de reger a vida da criatura de forma que cabe ao indivíduo
discernir os truques mentais que faz com que este interiorize o dever de se cumprir com
as premissas morais arrebatadoras do cristianismo, já que o criador vasculha a bagagem
moral de todos com o intuito de destrinchar as virtudes e pecados que serão relevados
no dia do julgamento. O discurso da moralidade fundamenta-se de uma sugestão de
relacionamento responsável e verdadeiro para com deus, uma vez que se tem na
necessidade de juramentos um sinal de que a desconfiança e a mentira pervertem.
Os evangelhos canônicos atuam como uma via de poder que estimula a
imaginação e cria uma impressão permanente na mente, com a finalidade de originar
uma preocupação do eu que se relaciona com o alcance do deus compassivo. A
inspiração divina adere um impulso carismático pelo qual o conhecimento que deus
quer fornecer move-se por meio da palavra escrita, sendo que o autor humano se torna
instrumento do divino para comunicar aquilo que se deseja revelar de sagrado, sendo
que a Bíblia discorre um conteúdo tido como a mais absoluta verdade. Os textos
literários bíblicos do catolicismo portam figuras de linguagem que auxiliam na sua
norma de interpretação, esta que deve se basear na idéia de que nas Escrituras Sagradas
não há contradições e erros em relação aos seus conteúdos conceituais, devido ao fato
dos escritos serem inspirações de deus, atributos que indicia a universalidade de uma
religião, assim, em prol do domínio cristão não se admite nenhuma interpretação que vá
contra as elaborações textuais da doutrina tradicional católica.
21
Um recurso utilizado com intensidade pela linguagem bíblica é o emprego de
metáforas, visto que tal aspecto lingüístico revela que o sentido das palavras embute
uma significação e semântica que podem ser desocultadas para os crentes cristãos a
partir da abstração de fatos que promovem uma reflexão moral, além de que os gêneros
literários apresentados pela Bíblia se unem às disciplinas auxiliares como a lingüística, a
história e etnologia para transcorrer os preceitos ideológicos cristãos e expressar uma
qualidade textual em prosa ou oratória, em formas líricas ou épicas que entornam o
testemunho dos discípulos de Jesus Cristo. Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e
João compõem parte do Novo Testamento e discorrem a vida de Jesus e criação do povo
de deus com um sentido literal subsidiado pela questão da manifestação divina, e muito
se apropriam de parábolas para narrar as pretensões do seguimento da doutrina cristã, já
que por via da pregação os segredos de deus para aqueles que têm fé são revelados por
meio de conceituações enigmáticas oriundas das parábolas, sendo que sobre estas Jesus
discursa “Abrirei a boca para usar parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde
a criação do mundo” (Mateus, cap. 13, v. 35).
A doutrina cristã visa poder operar na conduta de seus seguidores como uma
ciência prática, visto que tem como intuito não apenas apropriar-se de ouvidores de seus
sermões morais, mas concretizar comportamentos perante a dissipação das palavras
calcadas na lei de deus, contudo, é válido abordar que uma ciência prática tem por
objetivo os fatores construídos subjetivamente pelo homem, logo, a doutrina sagrada
que tem deus como seu objeto primordial, já que as escrituras e a conduta humana
também envolvem a ciência religiosa cristã, não remete suas obras aos seres humanos,
pois estes são fruto de seu objeto deus que designa a essência da felicidade e
compaixão, uma vez que os atos humanos prendam-se aos preceitos divinos. A
comparação da doutrina sagrada com outras ciências desencadeia, segundo as escrituras
sagradas, uma subordinação das abordagens científicas que aderem à pretensão de
explicar racionalmente a verdade revelada dizimada à humanidade por inspiração de
deus, assim, sentenças filosóficas desprovidas de fé tornam-se vazias perante os
objetivos da cristandade.
As escrituras sagradas fundamentam-se pela abordagem da busca da fé, e com
meios argumentativos para isso, tem a finalidade de tornar submissa a razão à fé. A
moralidade que envolve conceitos por metáforas e parábolas, por exemplo, faz com que
22
os crentes busquem a semântica cristã proposta e adquiram pressupostos como
ensinamentos, com isso, compõem as escrituras propriedades da linguagem que aderem
ao discurso bíblico uma ação educativa, no entanto, é preciso lembrar que com as
palavras que repercutem apenas exteriormente não se aprende, ou seja, o que realmente
deve se aprender é a verdade que ensina interiormente, esta que provém de Deus, sendo
que o homem avisa exteriormente por meio de palavras, pelas quais não se consegue
demonstrar o pensamento de quem fala quando a abstração dos conceitos cristãos e da
análise do discurso da Bíblia tende-se a desviar da alma teológica que consolida a fé.
Assim:
No que diz respeito a todas as coisas que compreendemos, não
consultamos a voz de quem fala, a qual soa por fora, mas a verdade
que dentro de nós preside à própria mente, incitados talvez pelas
palavras a consultá-la. Quem é consultado ensina verdadeiramente, e
este é Cristo, que habita, como foi dito, no homem interior, isto é: a
virtude incomutável de Deus e a sempiterna Sabedoria, que toda alma
racional consulta, mas que se revela a cada um quanto é permitido
pela sua própria boa ou má vontade. E se às vezes há enganos, isto não
acontece por erro da verdade consultada, como não é por erro da luz
externa que os olhos, volta e meia, se enganam: luz que confessamos
consultar a respeito das coisas sensíveis, para que no-las mostre na
proporção em que nos é permitido distingui-las (Santo Agostinho,
1973, p. 351)
Segundo os relatos históricos da Bíblia Sagrada traduzida por Figueiredo, a
Bíblia porta em sua estrutura alguns livros denominados apócrifos que são os escritos os
quais remetem a uma indagação no que diz respeito à autenticidade em relação a ter tais
livros suas origens a partir de inspiração divina, o que ocasionou a manobra decisiva
que exerceu a Igreja com sua autoridade para abordar tal questão. Sobre o Antigo
Testamento não se consistia opiniões unânimes entre os rabinos judeus e nem entre os
mestres cristãos durante os primeiros séculos da era cristã. Sete livros (Tobias, Judite,
Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, I e II Macabeus) e algumas passagens de Daniel e Ester,
foram anulados pelos rabinos da Palestina em sua lista oficial dos livros sagrados, no
Sínodo de Jâmnia por volta do ano 90 d.C, porém, a Igreja não aprovou essa decisão da
sinagoga judia e incluiu tais livros em seu próprio Cânon desde o século IV, visto que
para isso baseou-se na versão grega sagrada das escrituras, de modo que reconheceu as
350 citações do Antigo Testamento que aparecem no Novo Testamento e que oriunda
desta versão, além de que designou importância também a esses escritos para o ensino e
liturgia cristã, assim, nomearam-se alguns livros como deuterocanônicos, de forma a
23
distingui-los dos denominados protocanônicos do Antigo Testamento, uma vez que
estes últimos tiveram seu caráter canônico fundamentado primeiro. Com relação ao
Novo Testamento, determinados livros não foram aceitos por pessoas de prestígio na
própria Igreja como inspirados divinamente, desta forma, os Concílios de Hipona e
Catargo em fins do século IV, apresentaram uma lista oficial que estruturariam tanto o
Antigo como o Novo Testamento, logo, incluiu os deuterocanônicos também do Novo:
Epístola de S. Tiago, 2ª e 3ª de S. João, de S. Judas, 2ª de S. Pedro aos Hebreus e o
Apocalipse. Como não houve objeção desses concílios africanos de maneira a implicar a
autoridade e oficialidade da Igreja universal, proclamou-se novamente em forma solene
a doutrina tradicional católica, estabelecida no Concílio Ecumênico de Florença no ano
de 1441 e depois no de Trento em 1546, fato que definiu a composição da Bíblia.
Os evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João que configuram o
Novo Testamento, sendo que no Antigo Testamento as profecias são anunciadas e no
Novo elas se realizam, discorrem sobre o messianismo de Jesus e suas ações, visam
uma conscientização que se calca no dinamismo da fé como amor. Em João relatam-se
os sete milagres que são chamados sinais, os quais têm a pretensão de despertar e
alimentar a crença em Jesus Cristo. Os sinais em que Jesus transforma a água em vinho,
cura o filho do funcionário do rei, cura o paralítico, partilha os pães e peixes, cominha
sobre a s águas, cura a cegueira e ressuscita Lázaro a quatro dias morto, são as provas
convictas de que Jesus é o princípio de vida e instrução para todos os homens e de que é
conduzido pelo Espírito Santo para promover a graça de Deus. Os milagres realizados
por Jesus demonstram que suas ações e palavras modificam as relações entre os homens
e entre o homem e deus. A figura do paralítico, por exemplo, representa o povo
oprimido que aguarda a chegada de alguém que o liberte, e a cegueira simboliza aquele
que não tem consciência de sua condição de oprimido pelos representantes do poder,
estes que visavam transformar a chegada do messias em fraude. Segundo os canônicos
Jesus rompe com a relação entre fé e instituição, entre salvação e lei, já que se considera
que a vida está acima de tudo. Ele demonstra à multidão que esta não deve buscar um
líder político que decida e providencie tudo, mas sim buscar a vida plena e isso exige o
empenho do homem.
Os evangelhos notificam que a atividade de Jesus é se compadecer junto ao povo
cansado, logo, há uma necessidade de se levar a boa notícia do reino ao mundo inteiro,
24
sendo que para isso precisa-se da disposição dos sujeitos em prol desta missão divina.
João Batista, considerado profeta, anunciava Jesus como messias e também convidava o
povo a uma mudança radical de vida que iria mexer com a relação entre os homens,
uma vez que se tem o tempo do julgamento, e a fé teórica já não é de total suficiência,
com isso, o homem deve pagar pelas atitudes assumidas. Em suas pregações Jesus deixa
claro que não viera para extinguir a lei dos mandamentos de deus (o que se realiza de
justiça e fraternidade) e os profetas, mas condena a dominação intelectual dos chamados
doutores da lei e fariseus, pois alegava que estes não faziam o que diziam e
transformavam o saber em poder, além disso, o messias critica a hipocrisia religiosa, de
modo a considerar como seguidores de um sistema formalista aqueles que não
respeitam a liberdade dos filhos de deus, visto que a interpretação de Jesus sobre as
escrituras é superior à cultura dos doutores da lei. Para Jesus a extinção de uma lei
deveria ocorrer quando esta oprimir o homem, o que é contra a vontade de deus. O
messianismo de Jesus adere o intuito de destruir a sociedade injusta em que os ricos
reinam às custas dos pobres e fracos, o que resulta na idéia de que “é mais fácil passar
um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”
(Marcos, cap. 10, v. 25), já que “quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será
elevado” (Mateus, cap. 23, v. 12). Jesus está acima das leis elaboradas pelos homens,
pois demonstra que as leis não tem sentido quando vetam o homem de ter acesso aos
bens necessários para a sobrevivência, e isso faz com que o praticante de fato da
mensagem de Jesus torne-se resistente aos conflitos e perseguições. A partir de
pregações como estas garantidas pelas citações acima, Jesus é considerado um
subversivo político que queria retomar o reino judaico contra a dominação romana, fato
que desencadeou sua condenação à morte.
Pela Bíblia Jesus revela aos discípulos que sofreria, morreria e ressuscitaria no
terceiro dia após sua morte e garante em discurso que aquele que quisesse salvar a
própria vida a perderia, no entanto, aquele que por ele a perdesse iria encontrá-la, desta
forma, o messias é o modelo de pastor que não busca interesses próprios e sim dá sua
vida por todos que aceitam sua proposta. A multiplicação e partilha dos pães e peixes
mostram o verdadeiro deus revelado em Jesus, uma vez que o dom e a partilha devem
substituir o comércio e a posse. Com Jesus o homem volta à consciência e à liberdade e,
entende-se por ações demoníacas, as ideologias, estruturas e sistemas que comprometem
25
o homem em seu ato de pensar e agir por si mesmo, sendo que a intencionalidade
messiânica baseia-se na inversão da ordem social e na transformação histórica para
garantir a salvação aos pobres, estes que representados pelos pastores são os primeiros a
receber e anunciar a boa nova (evangelho). Jesus demonstra que a morte é apenas uma
necessidade física, visto que segundo a fé cristã a vida não tem seu término diante da
morte, pois com a morte caminha-se à plenitude, a morte é o resumo da todas as
fraquezas humanas e a ressurreição é o indício concreto da fé dos cristãos, assim, Jesus
tem como objetivo educar os homens para um modo de ser e agir, atua como um
educador que por meio de sua palavra, ação, morte, ressurreição e ascensão demonstram
ao ser humano o caminho para a salvação. As autoridades dos judeus impressionam-se
com o fato de que Jesus sem ter estudo portasse tanta instrução, mas o próprio alegava
que sua doutrina não provinha de si, mas de quem o enviou, uma vez que “todos os
homens serão instruídos por Deus” (João, cap. 6, v. 45). Em favor dos homens Jesus
oferece sua vida (carne e sangue) e sua presença se sustenta em três momentos: entre os
homens, solidarizando-se com seus problemas; no anúncio da Palavra das Escrituras
que entornam o sentido da vida e ação; e na celebração da eucaristia que fortalece a
partilha e fraternidade como cerne do projeto de deus.
A doutrinação cristã tem como essência a fé que é necessária para compreender
o significado da presença e atos de Jesus, a oração é a união íntima com Deus, com o
intuito de fazer o homem vencer o mal e se manter consciente e fiel ao compromisso
para com o criador, sendo o pai nosso o espírito e conteúdo de toda oração cristã. A
eucaristia atua como uma catequese para quem segue Jesus, visto que a instrução
metódica não tem o significado de poder sobre os irmãos, mas sim o de função de
serviços a exemplo do messias. O perdão e o dom pertencem somente a deus, logo, só
ele pode julgar. As relações da sociedade nova proposta por Jesus não devem basear-se
no julgamento e condenação e o conceito de honra calcado no orgulho e ambição deve
ser banido, pois geram aparências de justiça e ocultam os contrastes sociais. Apenas
deus conhece a situação do homem e a honra do homem dele depende, sendo que o
processo de conversão inicia-se com a tomada de tal consciência. As palavras de Jesus
na cruz “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” indicam a conseqüência de sua vida,
sua atividade de pregação e morte significam uma obediência confiante a deus, de forma
que aquele que crê no pai possui vida eterna.
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II.2 - O Evangelho de Saramago
O Evangelho Segundo Jesus Cristo de Saramago remete a uma proposta de
leitura pela qual o leitor se depara com histórias e ficções que envolvem a vida de Jesus
Cristo. É um evangelho que mantém fatos e personagens bíblicos, porém modifica
determinadas relações do enredo das escrituras sagradas e desencadeia relatos fincados
no Jesus humanizado que se sustenta pela materialidade e fraquezas do agir e pensar,
visto que o ser humano em meio à realidade e abstração de conceitos orienta a vida
perante os propósitos de sobrevivência e dá propulsão à formação da personalidade. A
desmistificação de algumas ações dogmáticas cristãs demonstra que certas premissas
doutrinárias aderem uma propagação diante de acontecimentos inventados, uma vez que
a idéia de verdade “revelada” embute preceitos que não são relevados como construídos
historicamente pelo homem, mas sim são taxados como absolutos, incontestáveis, de
origem divina, logo, a espécie humana com suas interiorizações direciona sua mente às
crenças que geram alienações acríticas, no entanto, poderia conduzir seu projeto de vida
a partir dos propósitos reais a ater-se à conscientização de que as ocasiões fictícias e
fabulosas tornam secundária a materialidade histórica.
No que diz respeito às interiorizações de conceitos oriundos da vida bondosa e
fiel a deus de Jesus perante o discurso garantido pelas escrituras, é válido ressaltar a
maneira de como as abstrações por meio de palavras proferidas influenciam a conduta
humana, já que:
a quem se satisfaça com o significado próximo das palavras, quer soltas,
uma por uma, quer juntas e articuladas, pois tudo vai é da maneira de
dizer, e esta varia com o sentimento de quem expresse, não é o mesmo
pronunciá-las alguém que, correndo-lhe mal a vida, espere dias
melhores, ou atirá-las como ameaça, como prometida vingança que o
futuro haverá de cumprir (Saramago, 1991, p. 239).
Perante tal passagem tem-se uma exemplificação de como a doutrina cristã se
apodera da linguagem oral e escrita para disseminar seu domínio religioso, sendo que
sustenta a idéia de que deus é amor e a língua subsidia a expressão de tal sentimento.
O evangelho de Saramago narra desde o nascimento de Jesus até sua morte, esta
que é tida como indispensável para fazer prevalecer a alegoria bíblica, no entanto, por
27
ser um fatal acontecimento que anula a vida, demonstra apenas a utilidade de um corpo
diante das finalidades e necessidades do percurso de uma vida para o então chamado
deus. A relação de José e Maria resulta em uma gravidez que travada pelo contato
carnal noticia a chegada de um primogênito o qual teve as fases de sua vida marcadas
pelo peso de uma hereditariedade de culpa, já que o exemplo de José como pai e homem
influenciaram seus atos e seus questionamentos sobre o caráter e as pretensões dos
mortais perante deus. As atitudes e pensamentos promulgados pela mente e corpo
demonstra os envoltos da essência, sendo que, por exemplo, ao considerar-se a
desconfiança de José diante do interrogatório que faz à Maria devido um pedinte bater
em sua porta em busca de alimentação, faz com que para Maria a presença da figura
misteriosa em sua casa gere uma confiança divina ao acreditar a mulher que um anjo o
homem em farrapos podia ser, e a José ocasione inquietudes em seu pensar sobre a
fidelidade de Maria a partir do estranho acontecimento. José como homem devoto das
leis divinas parece ter sua confiança em deus como num instrumento que requer a
aniquilação das mesquinharias desencadeadas pelo homem, porém em sua mente reside
o conflito que se estabelece entre uma possível vida eterna extraterrena e uma vida real
demarcada por coerções da alma e por propósitos carnais pecaminosos. Ao atribuir
origem divina ao pedinte, Maria mostra que a crença pode materializar-se, que é a
simbologia abstrata dogmática e representativa sustentada por deus que move as
situações, ainda que inusitadas, que a procedência e concretude dos fatos se moldam
perante a fé oriunda das interiorizações promovidas pelas pregações judaicas e pelos
projetos do criador. Assim sendo:
não admira, portanto, que o rebanho cresça sem parar, como se,
afincadamente, e com o entusiasmo de quem sabe garantida uma
duração justa de vida, cumprisse aquela famosa ordem que o Senhor
deu, talvez pouco confiante na eficácia dos instintos naturais
(Saramago, 1991, p. 229).
O fato de Jesus, segundo as escrituras, ter atuado como um precursor que
difundiu a boa nova e que com sua vida inocente, mesmo acusado de ser um líder
político subversivo, morreu para fundamentar a ideologia cristã em favor da
humanidade, remete à uma abordagem a respeito dos acontecimentos concretizados,
uma vez que para um evangelho estimado profano como o de Saramago, as
conseqüências da vida de Jesus determinam que sua morte liga-se à idéia de que as
atitudes de um sujeito resulta em decorrência de anseios e ações reais humanas, não se
28
prendem à obras pré-destinadas por meio de um poder celestial, mas sim às formas de
como o homem age e pensa diante de suas vivências e intencionalidades no mundo
material. Além de que, com relação à inocência, é válido considerar que o nascimento
de Jesus marcou-se pelo egoísmo de José, o qual tornou seu silêncio mais eloqüente que
o discurso por não ter contado à população próxima sobre as ordens do rei Herodes, este
que mandara matar todas as crianças até dois nãos de idade ao saber que nascera aquele
que comprometeria seu reinado (Jesus), assim, promoveu-se a matança de inúmeras
crianças inocentes.
As condutas a serem seguidas por meio da doutrinação religiosa, em prol de uma
comunhão a deus, fazem com que a moralidade torne submissa determinadas ações que
são consideradas como repressoras do ideal cristão, uma vez que o homem virtuoso
adora o criador com integridade, de modo a não comprometer sua entrada no reino do
céu. O livro de Saramago relata uma passagem em que deus aparece para Jesus no
deserto em forma de uma coluna de fumo, e Jesus, desprovido de suas roupas ao
procurar uma ovelha perdida, trava com a entidade o seguinte:
Senhor, meu Senhor, não compreendo nem o que dizes nem o que
queres de mim, Terás o poder e a glória, Que poder, que glória, Sabê-loás quando chegar a hora de te chamar outra vez, Quando será, Não
tenhas pressa, vive a tua vida como puderes, Senhor, eis-me aqui, se nu
me trouxeste diante de ti, não demores, dá-me hoje o que tens guardado
para dar-me amanhã, Quem te disse que tenciono dar-te alguma coisa,
Prometeste, Uma troca, nada mais que uma troca, A minha vida por não
sei que pago, O poder, E a glória, não me esqueci, mas se não me dizes
que poder, e sobre quê, que glória, e perante quem, será como uma
promessa que veio cedo de mais, Tornarás a encontrar-me quando
estiveres preparado, mas os meus sinais acompanhar-te-ão desde agora,
Senhor, diz-me, Cala-te, não perguntes mais, a hora chegará, nem antes
nem depois, e então saberás o que quero de ti, Ouvir-te, meu Senhor, é
obedecer, mas tenho de fazer-te ainda uma pergunta, Não me aborreças,
Senhor, é preciso, Fala, Posso levar minha ovelha, Ah, era isso, Sim era
só isso, posso, Não, Porquê, Porque ma vais como penhor da aliança
que acabo de celebrar contigo (Saramago, 1991, p. 263).
A partir de tal conversa pode-se notar que as indagações de Jesus visam
compreender os anseios de deus, este que pretende prestígio e que ao mostrar-se
superior manipula o comportamento da criatura meramente representada como via de
sua dominação, sendo que para sacramentar a confiança de Jesus em ti, deus ordena que
a ovelha encontrada seja sacrificada para que pelo sangue derramado do animal tenha
Jesus de se lembrar do pacto que estabelecera com a divindade, e que ao desvirtuar-se é
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como se uma dívida que já fora paga se reconstitua, com isso, Jesus, o qual espera por
uma relação de troca de interesses com deus diante do preço de sua vida, tem seus
princípios atormentados uma vez que se estabelece um conflito entre o crer, ter
confiança em deus e a realização de fatos, já que não seria coerente promover ações
desumanas sob ordens de um criador que ama de forma suprema todas suas criações.
Na história bíblica parece o reconhecimento de José ter um papel secundário,
sua importância remete-se ao fato de ter aceitado a gravidez de Maria como obra do
espírito santo. Já Maria porta uma canonização digna de muitos devotos, seu valor dáse por ter sido progenitora de Jesus, por ele ter padecido e ter compreendido a vontade
de deus de modo a sempre designar compaixão a Cristo. No Evangelho segundo Jesus
Cristo de Saramago Maria aparece como uma personagem que representa a
inferiorização da mulher em relação ao homem, como uma mulher que deve saber
como agir diante de seus afazeres domésticos e maternos, visto que José adere uma
maior importância nos relatos. Nesta obra, José, assim como Jesus Cristo, também é
crucificado aos trinta e três anos, fato decorrido por meio de um sinal de piedade de
José a um amigo, contudo, sua morte não corresponde a uma admirável inocência
perante a arte da pregação da palavra de deus, mas sim a um gesto singular em
consideração a outro ser humano, que sendo infeliz na sorte acarretou em sua morte, o
que se contrapõem à conseqüência da morte de Jesus diante da doutrina cristã, já que
este teve sua vida marcada pela pureza e inocência, sendo que sua morte vem em
decorrência de sua boa vontade e crença em prol dos proveitos de deus. No caminho
de volta à Nazaré, pois saíra de casa após descobrir que os pesadelos de José os
mesmos que os seus eram, Jesus padece pelo cansaço e pelas rachaduras nos seus pés
em função de muito caminhar. Em seu percurso encontra-se com Maria de Magdala,
mulher que tratou de suas enfermidades da carne e lhe acolheu em seu lar. Jesus
percebeu que seus pensamentos perante uma mulher os levava à pecaminosidades
relativas às fornicações, porém pensava saber o senhor “que as necessidades do corpo,
não é só o trivial do comer e beber, trivial, havendo, dizemos, outros jejuns existem
que não são menos custosos de aturar” (Saramago, 1991, p. 271). Desconfia Jesus
que prostituta seria a mulher, e passa por sua cabeça a idéia de que uma mulher
perfuma-se para disfarçar o cheiro do homem, visto que o olfato de Jesus pôde captar
no ar o bom cheiro de essências aromáticas utilizadas no corpo da Maria de Magdala
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que confirma sua profissão vista como pecaminosa. Diante do fato de que só deus
pode julgar tal passagem demonstra que os julgamentos provêm dos pensamentos do
ser humano, logo, o julgar tido como exclusivamente divino iguala-se às atitudes
humanas desencadeadas pela personalidade e cultura que envolve a vida do indivíduo.
A relação sexual travada entre Jesus e Maria de Magdala evidencia que as sensações,
vontades e gestos humanos superam o respeito às normas e leis calcadas nos preceitos
cristãos e também que Jesus se reconhece como homem por meio dos desejos da
carne. Sendo assim:
Maria se deitou ao lado dele, e, tomando-lhe as mãos, puxando-as para
si, as fez passar, lentamente, por todo o seu corpo, os cabelos e o rosto,
o pescoço, os ombros, os seios, que docemente comprimiu, o ventre, o
umbigo, o púbis, onde se demorou, a enredar e a desenredar os dedos, o
redondo das coxas macias, e, enquanto isso fazia, ia dizendo em voz
baixa, quase num sussurro, Aprende, aprende o meu corpo. Jesus olhava
as suas próprias mãos, que Maria segurava, e desejava tê-las soltas para
que pudesse ir buscar, livres, cada uma daquelas partes, mas ela
continuava, uma vez mais, outra ainda, e dizia, Aprende o meu corpo,
aprende o meu corpo. Jesus respirava precitadamente, mas houve um
momento em que pareceu sufocar, e isso foi quando as mãos dela, a
esquerda colocada sobre a testa, a direita sobre os tornozelos,
principiaram uma lenta carícia, na direção uma da outra, ambas atraídas
ao mesmo ponto central, onde, quando chegadas, não se detiveram mais
do que um instante, para regressarem com a mesma lentidão ao ponto
de partida, donde recomeçaram o movimento. Não aprendeste nada, vaite, dissera Pastor, e quiçá quissese dizer que ele não aprendera a
defender a vida. Agora Maria de Magdala ensinara-lhe, Aprende o meu
corpo, e ele aí o tinha, o seu corpo, tenso, duro, erecto, e sobre ele
estava, nua e magnífica, Maria de Magdala, que dizia, Calma, não te
preocupes, não te movas, deixa que eu trate de ti, então sentiu que uma
parte de seu corpo, essa, se sumira no corpo dela, que um anel de fogo o
rodeava, indo e vindo, que um estremecimento o sacudia por dentro,
como um peixe agitando-se e que de súbito se escapava gritando,
impossível, não pode ser, os peixes não gritam, ele, sim, era ele quem
gritava, ao mesmo tempo que Maria, gemendo, deixava descair o seu
corpo sobre o dele, indo beber-lhe da boca o grito, num sôfrego e
ansioso beijo que desencadeou no corpo de Jesus um segundo e
interminável frêmito (Saramago, 1991, p. 282)
As defasagens da essência humana sustentam-se pela força que o homem dá a
seus impulsos e desejos, o que demarca e caracteriza sua identidade, assim, cabe o
exemplo que “sendo o pão dos homens aquilo que é, uma mistura de inveja e malícia,
alguma caridade às vezes, onde fermenta um fermento de medo que faz crescer o que
é mau e abafar-se o que é bom” (Saramago, 1991, p. 327). Perante a perspectiva do
cristianismo a pureza da alma do homem dá-se pela conduta de obediência aos
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mandamentos de deus, visto que, entende-se por alma o eu espiritual,
desmaterializado, racionalizado e imortal que porta o ser humano, e que é criada por
deus. Tem-se como profana a visão de que o corpo material regido pela capacidade
biológica humana tenha seu término na morte, uma vez que a mente é apenas o
intelecto que move os aspectos psicológicos das funções biológicas.
Os relatos do evangelho de Saramago apresentam um Jesus humanizado que tem
suas vivências reais como uma necessidade para fazer concretizar os propósitos de deus,
o qual vê Jesus como um possível mediador do poder que almeja. No texto de
Saramago, Jesus diante das passagens consideradas milagrosas, não quer rotular-se
como o messias que age e propaga ações em nome de deus, apenas quer ser visto como
o filho de um carpinteiro, como um homem comum no meio de tantos. Alega a todos
que o criador utiliza sua boca para proferir palavras, de modo que estas desencadeiam a
concretude visível de acontecimentos tidos como improváveis, irrealizáveis, mas
possíveis conforme a vontade divina. Muito se sabe que o homem não se desprende do
mundo real, e assim sendo, a entidade deus utiliza a materialidade para consagrar-se,
logo, a representação de fatos subsidiada pelo acreditar muito se apodera com a visão
concreta de uma premissa que antes somente habitava o mundo das idéias. A partir de
tal abordagem tem-se o dito milagre como algo que modifica a lógica racional dos fatos
com uma semântica de inferioridade do ser humano em relação a deus, uma vez que se
tem a promulgação da capacidade divina como orientadora da submissão da criatura,
esta que, quando não alienada, pode analisar se a ocorrência de fatos corresponde à uma
coerência da racionalidade por meio da abstração conceitual questionável.
Capítulo III: A educação engendrada com base na concepção cristã de mundo
III.1: O cotejamento entre os evangelhos canônicos e o evangelho de Saramago
A perspectiva de mundo cristã visa uma pregação educativa doutrinária, sendo
que para isso baseia-se nos canônicos sagrados, os quais ditam princípios à conduta
humana. O cânone em seu sentido eclesiástico ativo, de modo a desenvolver uma norma
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de vida, representa o critério da fé e da moral cristã, visto que é tido como lei da
verdade revelada atestada pelas escrituras e pela tradição do cristianismo. Os livros
inspirados que dão conteúdo e objetivo à regra de fé demarcam o sentido passivo do
cânone. A igreja católica declara os canônicos como escrita base para a descoberta da
palavra normativa de deus, além de que considera que tais escritos resistem ao
esquecimento, assim, inalteradas a linguagem escrita das escrituras e com finalidade de
interiorização de preceitos e regras, os canônicos regem uma forma comportamental
social pela qual os seguidores cristãos aceitam a orientação de deus como propósito
vital.
As escrituras sagradas entornam um projeto de vida que visa seguidores os quais
irão servir como reprodutores da ideologia dominante da igreja, assim, demonstram
aderir uma enorme influência no processo educativo do indivíduo, uma vez que como
condutora de uma massa, a semântica cristã gera um atributo alienante que envolve os
indivíduos adeptos de seus preceitos. Em comparação às literaturas de cunho
informativo crítico-reflexivo como a de Saramago nota-se que o dogmatismo cristão
atua na educação dos sujeitos de uma maneira que pretende sustentar a preponderância
da ideologia dominante cristã. As instituições religiosas baseando-se em seus interesses
próprios anseiam uma homogeneidade amparada pela práxis de Jesus Cristo, visto que o
cristão deve saber discernir os conceitos divinos de modo a não só ouvir e entender o
discurso bíblico, mas também concretizar uma conduta que pelo cristianismo é
considerada a correta. Os valores que pregam tais instituições promovem o julgamento
do certo e do errado, além também do bem e do mal. Os mandamentos da lei de deus em
união com a fé incontestável designam a correta conduta humana segundo as escrituras
e o discurso doutrinário catequista. No caso da ciência procura-se distinguir o
verdadeiro do falso, não se ater a julgamentos do que é certo e do que é errado, pois se
tem uma visão dialética de que o ser humano em relação com o mundo constitui a
história e a análise empírica de premissas, assim, os valores tidos como certos adotados
pelo cristianismo e que são calcados religiosamente pelas consideradas verdades
absolutas, podem demonstrar-se vazios quando analisados sob um ponto de vista
racional que aborde a realidade e a possibilidade da realização humana, uma vez que se
tem o homem com cerne de sua própria existência. A capacidade de ser racional
denominada razão todos os seres humanos possui igualmente, no entanto, é a
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racionalidade como qualidade mental socialmente construída que vai orientar o caminho
de busca da verdade de fato, de forma a quebrar com paradigmas inventados, fictícios.
Com tal abordagem pode-se ter uma literatura como uma fonte de pesquisa que guie
pensamentos e reflexões de uma forma humanizada, ou seja, a partir do diálogo entre
conhecimento que o ser humano já porta em somatória a outros conceitos, é possível
formular abstrações não alienantes, e sim críticas avaliativas diante de acontecimentos
fabulosos, fantasiados.
A questão de bem e do mal é um fato que se manifesta nas escrituras sagradas
como dirigente da pureza de espírito. O exemplo de conduta está na bondade de Jesus
que sem hipocrisia explica ao homem que a maldade da humanidade está no ato de não
se verificar o amor de deus para com todas as criaturas, e isso demarca a cegueira da
alma, visto que, ao não se enxergar o propósito revelado pelo criador, o guia
misericordioso, o sujeito introjeta preceitos que desencadeiam ações que o submete a
ser um pecaminoso perante a conduta necessária para se obter a salvação. Para sustentar
toda a elaboração conceitual cristã criou-se o mal como adúltero da intenção celestial, já
que ele está vinculado às atuações humanas que são vistas como obras do diabo, figura
representativa do receptor das almas subversivas perante os procedimentos cristãos. A
conduta do indivíduo está extremamente ligada ao fato de que a sociedade se mantém de
ideologias e estruturas pelas quais o ser humano orienta seu modo de agir, sendo assim,
as instituições religiosas operam em meio social de uma forma que não se estabeleça
uma crise da moral que deve ser seguida pelos sujeitos diante do cristianismo.
Saramago parte de uma literatura profana que envolve as histórias das escrituras
para demonstrar que o intelecto humano e o bom senso muito se submetem às
insolências reacionárias da igreja, visto que a verdade fica comprometida por meio de
uma alienação social, ou seja, quando o sujeito aceita passivamente tudo o que existe
como natural e divino tem-se a vontade humana e a inteligência como inferiores a partir
do conceito de deus que o condiciona. Assim, a alienação pode aderir um poder total
sobre o indivíduo, sendo que o sujeito não se reconhece como produtor da história, com
isso, há a interiorização de uma ideologia condicionante que é uma produção do
imaginário social. A ideologia remete ao sujeito formas de se comportar diante dela, de
maneira a eliminar as dúvidas, angústias e a ocultar as contradições entre a vida social e
as idéias que as explicam. Os valores e normas são constituídos por um conjunto de
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conceitos que esclarecem toda a realidade, desta forma, a doutrina religiosa norteia
premissas que os indivíduos acreditam sem pensar em suas causas e motivos, sem
verificar se são ou não verdadeiras perante a coerência real dos fatos. O interesse da
manutenção e expansão do cristianismo ao visar poder, pode ser explicitado nesta
passagem do livro de Saramago, em que Jesus num barco no mar fica diante de deus,
este que inicia a seguinte conversa que fora interrompida várias vezes por Jesus:
Desde há quatro mil e quatro anos que venho sendo deus dos judeus,
gente de seu natural conflituosa e complicada, mas com quem, feito um
balanço de nossas relações, não me tenho dado mal, uma vez que me
tomam a sério e assim irão manter até tão longe quanto a minha visão
do futuro pode alcançar, Estás, portanto, satisfeito, disse Jesus, Estou e
não estou, ou melhor, estaria se não fosse este inquieto coração meu que
todos os dias me diz Sim senhor, bonito destino arranjaste, depois de
quatro mil anos de trabalho e preocupações, que os sacrifícios nos
altares, por muito abundastes e variados que sejam, jamais pagarão,
continuas a ser o deus de um povo pequeníssimo que vive numa parte
diminuta do mundo que criaste com tudo o que tem em cima, diz-me tu,
meu filho, se eu posso viver satisfeito tendo esta, por assim dizer,
vexatória evidência todos os dias diante dos olhos, Não criei nenhum
mundo, não posso avaliar, disse Jesus, Pois é, não podes avaliar, mas
ajudar, podes, Ajudar a quê, A alargar a minha influência, a ser deus de
muito mais gente, Não percebo, Se cumprires bem o teu papel, isto é, o
papel que te reservei no meu plano, estou certíssimo de que em pouco
mais de meia dúzia de séculos, embora tendo de lutar, eu e tu, com
muitas contrariedades, passarei de deus dos hebreus a deus dos que
chamaremos católicos, à grega, E qual foi o papel que me destinaste no
teu plano, O de mártir, meu filho, o de vítima, que é o que de melhor há
para fazer espalhar uma crença e afervorar a fé (Saramago, 1991, p.
369).
Por meio de tal trecho pode-se perceber deus como semelhante à criatura, visto
que o mundo real dos homens se baseia nas relações de poder e troca de interesses. A
obra O Evangelho Segundo Jesus Cristo remete o leitor a pensar que os entraves da
existência permeiam a conduta humana de uma forma que não se desprende das
condições materiais e das capacidades de abstração do homem, estas que criam ou
destroem conceitos à medida que a configuração de uma sociedade dita regras e
impõem valores.
A educação cristã católica propaga ideais que se contrapõem à finalidade
educativa que visa transformações sociais. Para a concepção cristã o homem demonstra
heresia ao inserir-se em uma perspectiva que difere ou discorda da doutrina religiosa da
igreja católica. A práxis cristã baseia-se em uma proposta educativa que tem deus como
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norteador de almas, visto que o exemplo da conduta de Jesus Cristo dita ensinamentos
aos homens, sendo que, para conhecer a verdade a inteligência humana necessita da
presença de uma luz divina para promover ações consideradas como correspondentes da
doutrinação cristã, assim, se estabelece uma escolástica norteada por instituições
religiosas que visam atribuir sentido à idéia de que o conhecimento sobre os propósitos
de deus mediante a criação humana orienta para o caminho da salvação e vida eterna,
uma vez que para isso é necessário que os ritos de conversão cristãos sejam introjetados
pelos crentes. A mensagem de Jesus demarcou o curso da civilização ocidental, de
modo que a igreja católica tem seu domínio garantido perante a manutenção e expansão
de seus seguidores, estes que devem saber interpretar as parábolas e as mensagens das
escrituras de uma maneira que as tracem como parâmetros para o pensar e agir. Tem-se
Jesus como o messias que veio à humanidade para demonstrar que o reino de deus se
instalará para aqueles que crêem na verdade “revelada”, de forma que não contestem
que a base existencial da vida e dos acontecimentos provém da vontade de deus.
Diante da análise dos preceitos bíblicos e de uma consciência das intenções da
igreja católica, é possível promover uma abordagem da finalidade de fato da educação a
partir da obra de Saramago. O autor demonstra como o ser humano é manipulado pelo
catolicismo e como nossa mente pode confrontar-se com a idéia de deus. Ao se pensar
deus como algo meramente conceitual que fora criado pelo homem alimenta-se a
consciência crítica, e o ser humano ao negar a leitura dos evangelhos canônicos como
ensinamentos absolutos oriundos de ações sobre-humanas, quebra com os paradigmas
pré-estabelecidos que fundamentam os dogmas católicos tidos como atemporais. Assim,
Jesus Cristo aparece apenas como alguém que vivenciou o limite das fraquezas humanas
e que demonstrou que a condição do ser humano esta diretamente ligada aos interesses
que determinadas ideologias dominantes adotam como as corretas a serem seguidas.
Acreditar em deus como algo exterior à mente humana, como uma existência natural,
demonstra que o indivíduo submete a realidade à surrealidade, visto que a consciência
dos pensamentos é manipulada por uma catequização que aliena a capacidade de
abstração de conceitos.
O processo educativo do sujeito contempla toda sua vivência, logo, a influência
da ideologia dominante da igreja católica de forma educativa no âmbito familiar ou em
outros ambientes sociais faz com que haja um reflexo dos princípios cristãos nas
36
instituições escolares, estas que parecem não se apropriar da necessária qualidade laica
para que se promulgue uma educação pautada na reflexão crítica e contestável de
premissas. Desta forma as ações do raciocinar e operar calcadas em um dogmatismo
religioso reprimem a desmistificação de alienações. A imposição de normas por meio
do cristianismo sustentada pelos mandamentos de deus atua como via de dominação do
sujeito, o qual tem sua conduta articulada por uma relação de poder que tem como base
a hierarquia da igreja. O evangelho de Saramago em contraposição aos canônicos da
Bíblia orienta para um conhecimento que parte de uma racionalização fundamentada na
realidade construída historicamente pelo homem, assim, as obras humanas podem ser
vistas como representações de um processo fincado na materialidade pela qual se guiam
as condições sociais que se relacionam com a maneira de como portar-se diante da
sociedade. A cultura enquanto produção humana embute valores que permeiam a
identidade dos sujeitos, sendo que, pode a interação destes com o meio social fortalecer,
transformar ou desconstruir a predominância de determinadas ideologias e padrões, uma
vez que a união de indivíduos caracteriza a ação de massa em prol de um bem comum,
fato promissor de uma conscientização coletiva.
A perspectiva do cristianismo se promove em meio à sociedade de uma forma
que o discurso cristão dita um bem comum o qual se prende à obediência de dogmas e
percepções de cunho divino, logo, o indivíduo educa-se perante os anseios da
cristandade de um jeito que o qualifica como membro submisso perante o interesse do
grupo dominante da igreja, assim sendo, é possível considerar o bem comum cristão
como uma pretensão alienada, já que sua essência se pauta na propulsão de uma conduta
de sujeitos que atenda às necessidades do catolicismo, visto que o homem abstrai e
introjeta os preceitos sobre as leis divinas de maneira incontestável, de modo que
permanece ocultada a intencionalidade da doutrinação cristã. Saramago com sua
literatura subsidia o intelecto humano a entender como se dão as relações concretas
entre os sujeitos, além de que demonstra ao leitor como sua concepção de mundo é
assimilada de forma diferente à versão cristã alienante, doutrinária e dogmática que
estrutura as escrituras da Bíblia, de modo que pode garantir por meio de seus escritos a
possibilidade de questionamentos a respeito da crença religiosa cristã diante da
abordagem de um Jesus Cristo humanizado e construtor de sua própria história. Em seu
livro deus aparece como um personagem que dita desígnios para coagir moralmente os
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humanos e também para demonstrar a questão do poder sustentado pela ideologia
dominante do cristianismo que conseguiu estabelecer a criação da entidade deus
portadora de um poder supremo sobrenatural que atrai seguidores fiéis aos
mandamentos celestiais.
Perante os propósitos cristãos estabelece-se uma relação entre o homem e deus
que se baseia no fato de que a consciência humana impulsiona a idéia de deus e este
aumenta a qualidade do eu. O ser humano crente a deus se reconhece como pecador
uma vez que suas fraquezas são obstinações de um eu inferior que implica imperfeições
resultantes de tentações desvinculadas das premissas de um deus tido como a perfeição
do amor e da bondade e que é o responsável e o observador de todo o percurso de uma
vida. Viver em função dos preceitos cristãos requer acreditar que o sofrimento e as
chamadas graças não se despendem da vontade de deus, assim, o sujeito aceita o
conformismo em diversas situações que envolvem sua vida, o que faz com que este não
remeta a si em união com o meio social que o circunda o poder de gerar transformações
qualificadas pelas ações concretas humanas. A idéia de pecado não traz uma negação de
deus, mas sim uma posição de inferioridade do homem que frágil corrompe as ordens
divinas, assim, ao ter consciência de seus atos errôneos e buscar o perdão, o ser humano
visa reconciliar-se com deus, visto que existe a remissão dos pecados e com isso a
doutrinação cristã mantém sua poderosa ideologia. Com o cristianismo preponderando
socialmente tem-se uma educação religiosa do indivíduo que visa uma restrição do ato
racional de pensar, logo, se necessita que o homem aceite os preceitos cristãos e pense
nestes apenas como sendo regras estabelecidas, de modo a não questionar seus motivos
existenciais e intencionais.
Saramago mostra em sua obra que a morte dolorosa de Jesus serve para garantir
uma crença mais emotiva aos seguidores cristãos, sendo que se tem a sensibilidade
humana como fator considerável para o processo de catequização cristã. Em seu livro,
tal acontecimento é apenas um pacto que fizera deus com Jesus para prosperar o
domínio religioso do catolicismo, assim sendo, o texto do autor relata sobre os
propósitos a serem promulgados pela vida de Jesus:
Disse Deus, Haverá uma Igreja, que, como sabes, quer dizer assembléia,
uma sociedade religiosa que tu fundarás, ou em teu nome será fundada, o
que é mais ou menos o mesmo se nos ativermos ao que importa, e essa
Igreja espalhar-se-á pelo mundo até a confins que ainda estão por
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conhecer, chamar-se-á católica porque será universal, o que, infelizmente,
não evitará desavenças e dissensões entre os que te terão como referência
espiritual...(Saramago, 1991, p. 379)
Como em um contrato que ocasiona benefícios à questão do interesse, Jesus
paga com sua vida, ainda que para isso, questione o fato de deus prometer-lhe atribuir
glória após sua morte, pois pensa que esta glória seria inútil, já que estaria morto e não
poderia aproveitá-la. No livro de Saramago, com o intuito de convencer Jesus de que
sua morte é necessária e para demonstrar como seus seguidores se manifestarão em prol
de seu nome, deus discorre sobre as futuras ações denominadas Cruzadas, pelas quais os
exércitos vindos do ocidente, durante uns duzentos anos, farão expandir a religião
católica, de maneira a tornar secundário o morticínio estabelecido por tais ações, uma
vez que morrer em nome de deus é uma conseqüência necessária para a alma salvar-se.
O sacrifico que envolve o corpo e que é promovido por guerras consideradas perante os
discursos doutrinários como sendo conflitos santos em que deus com seus heterônimos,
os quais podem ser vistos meramente como ramificações alienantes de doutrinas para
sacramentar ideais religiosos, tem a vontade de deus como base, já que o criador é tido
como o orientador das ações humanas, visto que sua vontade conclui os fatos. Além das
Cruzadas lembra-se deus em sua conversa com Jesus que ter-se-á a Inquisição que
atuará como tribunal o qual julgará e condenará os hereges. Deus profere:
A Inquisição, também chamada Tribunal do Santo Ofício, é o mal
necessário, o instrumento crudelíssimo com que debelaremos a infecção
que um dia, e por longo tempo, se instalará no corpo de tua Igreja por via
das nefandas heresias em geral e seus derivados e conseqüentes menores,
a que se somam umas quantas perversões do físico e do moral, o que,
tudo reunido e posto no mesmo saco dos horrores, sem preocupações de
prioridade e ordem, incluirá luteranos, calvinistas, molinistas e
judaizantes, sodomitas e feiticeiros, mazelas algumas que serão do
futuro...(Saramago, 1991, p. 390).
A partir da passagem acima se pode igualar deus à criatura humana, visto que a
entidade visa um poder que manipula ações em sociedade, assim, sua semelhança com
os anseios do homem remete ao fato de que o todo poderoso como criação da mente
humana oriunda da necessidade de um domínio religioso universal entre os homens. O
discurso religioso cristão adere uma semântica que pretende distorcer a lógica de que as
construções históricas agenciadas pelo homem e que abrangem a conduta moral, as
penitências e a mortandade por sacrifícios são causas da realidade subsidiada pela
alienação e interesses humanos. Ocultar que a realidade e a racionalidade humana são os
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fatores explicativos da existência por meio de todo um processo conceitual, faz com que
se concretizem ações que se apóiam na interiorização de idealizações pelas quais se
substitui a análise crítica e o empirismo por vontades exterior à humana, ou seja, que
provém de deus, este que ao não ser visto como criação do intelecto do homem porta
uma significação existencial que não se explica racionalmente, logo, para os cristãos o
conhecimento de deus não é conceitual e sim experiencial, ou seja, o sujeito subordina a
razão a um sentimento o qual oriunda de abstrações que aderem uma função emocional
explicativa perante os entraves desencadeados pelas experiências vividas, assim, se
pensa e sente deus de uma maneira que se prova a existência deste através das ações que
perpassam o cotidiano, visto que os fatos para os crentes nada mais são do que ações
pré-destinadas pela vontade celestial que determina a sina.
O indivíduo deve educar-se de forma a exercitar sua mente a não ser vítima da
criação de premissas tidas como verdades absolutas. Acreditar na desmistificação dos
acontecimentos pela análise da realidade é acreditar no que se vê diante das ações e
invenções do homem, no entanto, é válido considerar que os sujeitos não vêem os fatos
da mesma maneira, o que é fundamental para sanidade mental da espécie humana, mas
isso quando as alienações não envolvem as projeções mentais, uma vez que o valor está
nas interpretações críticas. As obras humanas guiadas pelos pensamentos proporcionam
que concepções permeiem o âmbito social, com isso, é que se pode dizer que “a solidez
da doutrina, que está em cima, dependa do factor pessoal, que está em baixo, a lição”
(Saramago, 1991, p. 407). Assim, o cristianismo com seu ideal de conduta a ser seguida
é garantido pela vontade alienada dos homens de atribuir-lhe sentido.
A partir das alienações que podem fortemente perpassar o processo educativo do
sujeito é possível verificar como a interiorização da catequização da concepção cristã
conflita com a promoção de uma educação crítica e contestável que consegue desvendar
os conceitos dogmáticos e doutrinários, visto que deus para os cristãos é absoluto, além
de que, como fora assegurado por Jesus “quem tiver deixado casa, mulher, irmãos, pais,
filhos, por causa do Reino de Deus, não ficará sem receber muito mais durante esta
vida e, no mundo futuro, vai receber a vida eterna” (Lucas, cap. 18, v. de 29 a 30). Já
por meio de reflexões críticas, as premissas divinas têm sua semântica julgadas através
da via racional pela qual se pode demonstrar perante a realidade como o homem dá
propulsão às suas produções calcadas em uma base histórica evolucionista que se finca
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na obtenção de riquezas e na manutenção das desigualdades sociais. Sob o ponto de
vista filosófico crítico-reflexivo pautado na racionalidade, é válido ressaltar que a
relação entre o homem e deus não é dialética, visto que o processo dialético se
fundamenta no diálogo concreto, ou melhor, por meio da relação dialogal entre os
sujeitos se estabelecem visões de mundo, argumentações, propósitos, que partem da
análise da realidade para elaborar conceituações e promover apropriações de
conhecimento.
A união do neoplatonismo ao cristianismo originou a idéia de separação entre
corpo e alma, a concepção de deus e a perspectiva de vida após a morte. Com isso, a
visão cristã pôde tornar-se uma religião autônoma por meio de seu discurso, uma vez
que tem a vida de Jesus como referência e o dogmatismo e estoicismo (ligado ao
sofrimento) como impulsores da fé. Assim, a Bíblia porta um texto teológico pelo qual
o sujeito fundamenta o acreditar em deus, além de que, dita regras de conduta. Em
contrapartida à concepção criacionista de origem divina, tem-se o evolucionismo do
homem que desenvolve seu poder de intelecto e de trabalho, o que permite que ele
transforme e crie meios que supram suas necessidades, logo, é a relação estabelecida
entre homem e trabalho que regra a espécie humana, pois esta necessita trabalhar para
sobreviver, sendo que o capital cultural do indivíduo demonstra sua posição em
sociedade, assim, o sujeito não alienado e sim crítico-reflexivo das ideologias
dominantes se percebe como construtor da história e se vê capaz de entender como as
estruturações sociais conseguem reger a conduta dos homens.
Para formular todo o discurso da filosofia cristã de maneira a promover uma
conclusão que correspondesse ao alcance do reino do céu a partir da conduta estimada
correta pelos preceitos cristãos, foi preciso aniquilar com ideais da cultura grega
politeísta considerada pagã, fato que ocasionou uma concepção monoteísta de mundo
cristã que educa os indivíduos de um modo que foge da verdadeira concepção educativa
que tem como essência a não desvalorização das diversas culturas, a não propagação de
pré-conceitos que desqualificam costumes e ideais. A ideologia dominante da Igreja que
visa o preponderar do catolicismo educa de forma a alienar o sujeito e faz com que se
rotule socialmente certa superioridade à moral cristã.
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A mente humana não pode alienar-se e ficar presa a conceitos que movimentam
apenas o mundo das idéias, mas sim deve conseguir desocultar as premissas conceituais
e desencadear ações concretas que se materializem em meio social de um jeito que o
sujeito se reconheça como produtor de ideologias que o homem interioriza e dá
propulsão. Diante de reflexões críticas os preceitos do cristianismo podem perder sua
lógica, por exemplo, em relação ao término da opressão dos seres humanos, sendo que a
vinda do reino de deus que é designada aos pobres remete ao fato de que uma inversão
social proposta por Jesus perante a vontade de deus, pela qual os oprimidos se
apropriam de poder, não condiz com a idéia de sociedade justa tão defendida em
discurso cristão, visto que se teria não um fim da repressão humana, mas uma mudança
no alvo de opressão referente às camadas sociais com o repúdio da obtenção de riquezas
que faz do rico um apartado da salvação. Os indícios da consolidação do capitalismo
garantido pelas relações humanas que movimentam a força do trabalho induziram as
ideologias religiosas a criar valores que ditasse regras sociais e que orientasse a
consciência humana a não discernir a realidade, de modo a sustentar a exploração de
sujeitos alienados, uma vez que a sociedade capitalista se estrutura perante a relação
entre opressor e oprimido, o que determina uma inviabilidade de justiça social que torne
ausente as relações de poder entre os homens.
Nas escrituras sagradas a atividade de Jesus é caracterizada como uma ação
libertária que leva os pobres oprimidos a perceberem que as ideologias e sistemas dos
ricos comprometem o pesar e agir. É possível pensar que se tal discurso messiânico
tivesse desenvolvido de fato esse sentido de percepção nos sujeitos, talvez o
cristianismo jamais existisse, pois o indivíduo perceberia diante da hierarquia da igreja,
que a doutrina cristã atua como uma ideologia que manipula a consciência humana e
que necessita da propagação de seus ideais em meio social para manter sua dominação.
Conclusões
O Evangelho Segundo Jesus Cristo de Saramago desenvolve uma abordagem
crítica-reflexiva a partir de uma análise das intencionalidades dos canônicos cristãos, de
modo a relatar a figura histórica de Jesus Cristo como a de um homem comum que por
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ironia do destino fora escolhido pelo criador para enquadrar a humanidade às regras de
conversão a favor do cristianismo, uma vez que deus como um ventríloquo utiliza de
sua força onipresente, onisciente e onipotente para manipular o ser humano, este que
passa a ser a mera marionete que participa do teatro da criação do mundo perante a
semântica moral divina. Saramago tem como base a construção material histórica real,
além das singularidades psicológicas humanas que caracterizam a personalidade do
sujeito. Com a comparação entre evangelhos canônicos e uma evangelho visto como
profano é possível analisar como uma doutrina de finalidade catequista consegue fazer
com que os indivíduos interiorizem alienações que são denominadas como o amor a
deus segundo a religiosidade.
A aquisição de conhecimento deve aderir um sentido de desmistificação das
tidas verdades absolutas, com isso, perante a capacidade que tem o intelecto humano de
processar, abstrair, (des) construir e reformular as informações conceituais é possível se
atingir o verdadeiro objetivo do processo educativo, o qual tem que se voltar ao
questionamento crítico, este que amplia a concepção de mundo, sendo que para isso se
apropria de envasamento teórico, histórico, sócio-cultural, ou seja, necessita-se da
apreciação dos fatos constituintes da realidade. A educação fortemente influenciada por
ideologias dominantes torna-se alvo de propósitos alienantes que atuam em meio social
de forma normalista, uma vez que orienta a conduta dos sujeitos. A proposta cristã que
tem Jesus Cristo como educador da humanidade busca seguidores os quais devem
sustentar seus princípios com base nas ordens divinas, assim, tem um processo
educativo pautado na abstração de ensinamentos que “revelados” por deus
proporcionam uma subordinação da reflexão crítica que tem o ser humano como
construtor da história. Os canônicos do cristianismo como pedagogia doutrinária detém
premissas dogmáticas pelas quais se fundamentam a dominação religiosa católica,
sendo que por meio do discurso e oralidade tem-se a pregação sobre a salvação que
designa a desejada vida eterna.
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Literatura e Religião: a educação no evangelho de Saramago