COMENTÁRIO LITÚRGICO – DOMINGO 15.08.2011 – UNIVERSALISMO DA
DOUTRINA CRISTÃ
Prezados Confrades,
Vcs devem saber que a palavra católico, do grego kathólikos,
significa universal. A liturgia de hoje faz uma referência a essa
dimensão da catolicidade-universalidade da mensagem de JC.
Na primeira leitura, o profeta Isaías (na verdade, o Deutero
Isaías, cap 56, conforme já comentado aqui antes) diz
expressamente que Jahweh aceita os holocaustos oferecidos pelos
estrangeiros que honram o seu nome, porque a sua casa é para todos
os povos.
Na carta de Paulo a Romanos, volta a questão dos convertidos de
outras origens com os problemas criados pela comunidade romana,
que teimava em não aceitar essa presença dos estrangeiros, como se
fosse possível fazer uma hierarquia entre os cristãos legítimos e
ilegítimos. Como tb já comentamos anteriormente, Paulo teve um
trabalho enorme para pacificar essa discussão.
E no evangelho de Mateus, nós temos o espetacular exemplo de fé da
mulher cananéia. Os cananeus eram inimigos dos israelitas e JC fez
de propósito uma atitude pedagógica perante os apóstolos. A mulher
vinha gritando e ele fazia que não escutava. Os apóstolos, então,
pediram: Mestre, manda esta mulher embora!! como quem diz: ela é
uma estrangeira, não tem direito de ser atendida por ti. E a
mulher dizia: Filho de Davi, socorre-me, minha filha está
seriamente atormentada por um demônio...
Ora, nós sabemos que essa era a forma de, antigamente, as pessoas
se referirem às doenças psicológicas, que atualmente têm sua
etiologia bastante esclarecida e tratada. Na época de JC, esse
comportamento era geralmente atribuído a alguma ação demoníaca.
Curiosamente, as mulheres eram mais atormentadas por esse mal do
que os homens, por causa da repressão social que sempre foi mais
forte em relação às mulheres, levando-as a desenvolver problemas
psíquicos com maior frequencia do que os homens. Esses fatos tanto
explicavam como eram explicados pela narrativa bíblica do paraíso,
quando Eva foi convencida pela serpente e depois convenceu Adão...
ou seja, o demônio é a fonte do pecado, mas a mulher é instrumento
dele, por ser mais vulnerável e, portanto, mais suscetível de
acatar a provocação demoníaca. Coisas da cultura machista, que
ainda hoje é bastante hegemônica e poderosa.
Pois bem, e a mulher pedia cura para a filha dela, atormentada
pelo demônio e JC fazia que não escutava. Obviamente, essa era uma
estratégia usada por Ele para ensinar ao povo e especialmente aos
seus discípulos o alcance da sua missão. Quando a mulher se
aproximou mais, ele ainda fez uma breve misancênia, talvez para
ver a reação dos apóstolos. Disse: eu vim para salvar as 'ovelhas'
perdidas de Israel... não é justo que eu tire o pão dos filhos
para jogá-los aos cães. Mas a mulher foi persistente e perspicaz:
tem razão, Mestre, mas os cães tb comem das migalhas que caem das
mesas de seus donos. Era o que JC queria ouvir. É claro que Ele já
sabia qual seria a reação da mulher, mas ele precisava que isso
fosse demonstrado publicamente. Então, vem o arremate: Mulher,
grande é a tua fé, faça-se como tu queres.
Meus amigos, volta outra vez o tema sobre o qual escrevi aqui no
domingo passado: Deus dá a sua graça, mas espera que nós
colaboremos, para que ela surta efeito. Essa colaboração é a fé.
JC podia muito bem ter dito logo no começo da conversa: está bem,
mulher, tua filha está curada... mas não, ele esperou primeiro que
ela insistisse, depois, que ela não desistisse mesmo ante a
negativa dele. Para nós, ele ensina que sem a nossa adesão, sem a
nossa fé, a graça divina não terá efeito em nós.
Para os discípulos, ele deu a lição de que tb os estrangeiros têm
direito à salvação que ele veio anunciar. Porque, se os cães comem
migalhas dadas pelos donos, os estrangeiros tb poderão fartar-se
com o alimento que Ele estava oferecendo aos israelitas, mas estes
não queriam aceitar. Para a mulher, bastaria uma migalha caída da
mesa, mas JC deu mais do que isso, deu o prato de comida inteiro,
porque ela teve uma fé inabalável.
É apenas isso que Deus quer de nós: a fé, a adesão plena e
verdadeira. Vale lembrar, neste contexto, aquele conhecido caso do
centurião romano, que serve de jaculatória permanente em todas as
missas. Ele pediu a cura do filho dele e JC disse: está bem, eu
irei à tua casa e o curarei. E o centurião disse: não precisa ter
este trabalho, Senhor, basta uma palavra tua e o meu filho ficará
curado. E JC arrematou: sinceramente, nunca encontrei tamanha fé
em Israel. São dois exemplos de fé, nos quais devemos sempre nos
espelhar.
Antonio Carlos
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