FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS,
PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS
Daniel Silveira1
Resumo:
O objetivo desse trabalho é apresentar alguns aspectos considerados fundamentais para a
formação docente, ou seja, valorizar o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento
profissional e desenvolvimento institucional. Na formação de professores também se deve
valorizar os saberes da experiência, visto que assim, o indivíduo tem a oportunidade de a
cada nova experiência fazer uma reflexão sobre sua prática docente. A unificação dos
diversos saberes contribuirá de forma contundente para a formação da identidade
profissional do professor.
Palavras-chave: Formação docente, identidade profissional, saberes da experiência.
A formação de professores é um tema bastante pertinente dentro das instituições e
em muitos grupos de estudo. Inicialmente podemos perguntar: Que profissional docente
estamos formando? A partir daí podemos levantar vários outros questionamentos, como: O
que damos mais valor na formação dos professores: os conhecimentos disciplinares,
curriculares ou as experiências? A formação desses profissionais é fragmentada ou abrange
os aspectos pessoais, profissional e organizacional?
Segundo Antônio Nóvoa,
A formação de professores tem ignorado, sistematicamente, o
desenvolvimento pessoal, confundindo “formar e formar-se”, não
compreendendo que a lógica da atividade educativa nem sempre
coincide com as dimensões próprias da formação. Mas também não
tem valorizado uma articulação entre a formação e os projetos das
escolas, consideradas como organizações dotadas de margens de
autonomia e de decisão de dia para dia mais importantes. Estes dois
“esquecimentos” inviabilizam que a formação tenha como eixo de
referência o desenvolvimento profissional dos professores na dupla
perspectiva do professor individual e do coletivo docente (Nóvoa,
1995, p.24).
Se considerarmos a formação de professores um conjunto que unifica os saberes
valorizando
1
o
desenvolvimento
Licenciado em Filosofia pela FAPAS.
pessoal,
o
desenvolvimento
profissional
e
o
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desenvolvimento institucional, poderemos mais facilmente constituir a identidade do
professor. Pode-se afirmar que a identidade profissional desenvolve-se e adapta-se ao
contexto social, político e histórico em que o professor está inserido.
O professor e a formação de sua identidade profissional
Quando falamos de formação docente pensamos que isso se restringe a fazer um
curso de graduação e assim nos tornaremos bons professores, qualificados para dar aula.
Entretanto, ser professor requer mais do que isso. É preciso adquirir toda uma bagagem de
conhecimentos, que quase sempre não se aprende só na universidade. A formação de um
bom profissional depende também de toda a situação cultural em que está inserido, da
realidade do sistema de ensino e da própria formação adquirida como ser humano, como
pessoa. Valorizar o cotidiano pedagógico e discutir a importância que as práticas de ensino
têm na formação docente, pode despertar nos professores, a vontade de refletir sobre os seus
percursos profissionais, sobre a forma como percebem a articulação entre o profissional e o
pessoal, sobre a forma como foram evoluindo ao longo da sua carreira, possibilitando que,
aos poucos, possam construir sua identidade através dessas experiências.
A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de
conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de
reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente
de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a
pessoa e dar estatuto ao saber da experiência. (Nóvoa, 1995, p.25).
No entanto, os saberes da experiência não começam a valer depois que o indivíduo
terminou o curso de graduação, mas sim, deve começar com as experiências feitas como
aluno, onde poderá observar e refletir sobre os diferentes professores. Nessa fase
poderemos, em algum momento, identificar-nos com alguma forma de ser professor e que
mais adiante tomaremos como exemplo a seguir.
As experiências também vão sendo produzidas no cotidiano docente, onde a cada
nova experiência é uma oportunidade para fazer uma reflexão sobre a prática, possibilitando
elencar os pontos positivos e negativos da vida de professor.
Um processo de reflexão crítica permitiria aos professores avançar
num processo de transformação da prática pedagógica mediante sua
própria transformação como intelectuais críticos, isto requer a tomada
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de consciência dos valores e significados ideológicos implícitos nas
atuações docentes e nas instituições, e uma ação transformadora
dirigida a eliminar a irracionalidade e a injustiça existentes nestas
instituições (Contreras, 1997). A reflexão crítica apela a uma crítica
da interiorização de valores sociais dominantes, como maneira de
tomar consciência de suas origens e de seus efeitos
(http://www.anped.org.br/24/P0807764775255.doc).
Tardif apresenta o professor ideal como “alguém que deve conhecer sua matéria,
sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da
educação e à pedagogia de desenvolver um saber prático baseado em sua experiência
cotidiana com os alunos” (Tardif, 2002, p. 39).
Outro ponto que precisamos ter presente é que ninguém se torna professor de
repente ou no momento que entra numa sala de aula. Essa passagem é um processo que se
dá durante todo o curso de formação. O desenvolvimento profissional corresponde ao curso
superior, somado ao conhecimento acumulado ao longo da vida. Uma boa graduação é
necessária, mas não basta, é essencial atualizar-se sempre, isso remete a necessidade da
formação continuada no processo da atuação profissional, ou seja, há a necessidade da
construção do saber, no processo de atuação profissional.
O desafio, então, posto aos cursos de formação inicial é o de colocar
no processo de passagem dos alunos de seu ver o professor como
aluno ao seu ver-se como professor. Isto é, de construir a sua
identidade de professor. Para o que os saberes da experiência não
bastam (Pimenta, 2000, p.20).
Um aspecto fundamental ainda na formação docente é o conhecimento da
disciplina em que ele irá trabalhar. Esse tema o professor deve ter bem claro, deve saber
trabalhar, visto que, segundo Edgar Morin
conhecimento não se reduz a informação. Esta é um primeiro estágio
daquele. Conhecer implica um segundo estágio: o de trabalhar com
as informações classificando-as e contextualizando-as. O terceiro
estágio tem a ver com a inteligência, a consciência ou sabedoria
(Pimenta, 2000, p.21-22).
O professor deve estar habilitado a trabalhar e a produzir o conhecimento de forma
que possa ser útil no processo de desenvolvimento e formação de crianças e jovens críticos e
conscientes da realidade em que vivem e de sua posição social. Nunca reduzir o
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conhecimento a meras informações. Deve ajudar a construir a inteligência. No entanto, “não
basta produzir conhecimento, mas é preciso produzir as condições de produção de
conhecimento. Ou seja, conhecer significa estar consciente do poder do conhecimento para a
produção da vida material, social e existencial da humanidade” (Pimenta, 2000, p.22).
Nesse processo de produção da profissão docente deve estar vinculado os saberes
referente à instituição, ou seja, ter presente que o processo de ensino e aprendizagem não se
dá somente a partir de um indivíduo, mas tem como suporte toda uma organização. Não
basta para o professor saber o conteúdo, nem somente sobre qual a melhor maneira de
ensinar, é preciso saber também como é o funcionamento das organizações escolares, qual a
realidade que essas escolas estão inseridas, enfim, deve conhecer todo o currículo da
instituição.
O professor hoje precisa estar consciente de que é uma parte do todo que se
denomina educação e assim como as informações, as tecnologias evoluem, a educação
também deve seguir evoluindo e se modernizando. Para isso, o professor deve acompanhar
essa evolução e fazer parte da inovação e transformação da escola, pois está inserido no
contexto e na vida da instituição.
Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação
social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da
profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de
práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas.
Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos
às necessidades da realidade (Pimenta, 2000, p.19).
A formação teórica e prática do professor poderão contribuir para melhorar a
qualidade do ensino, visto que, são as transformações sociais que irão gerar transformações
no ensino ou vice-versa.
Conclusão
A formação docente não deve estar simplesmente associada à transmissão de
conteúdos nos cursos de formação docente ou mesmo esperar que somente com as
experiências do dia-a-dia o indivíduo se tornará um bom profissional. A formação de
professores requer conhecimentos unificados e que insira o professor como pessoa em busca
de uma identidade profissional. Em segundo lugar, admitir que “a formação passa pela
experiência, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico. A
formação docente requer a participação dos professores em processos reflexivos e não
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somente informativos. A formação passa por processos de investigação, diretamente
articulados com as práticas educativas” (Nóvoa, 1995, p.28). Em terceiro plano, a formação
tem como desafio “conceber a escola como um ambiente educativo, onde trabalhar e formar
não sejam atividades distintas” (Nóvoa, 1995, p.29).
Conclui-se ainda, que essas reflexões sobre a formação docente são extremamente
válidas para a formação de professores de filosofia, tende estes a vantagem de uma
formação humanística que facilita em grande parte a compreensão social do processo
educativo. Esses profissionais têm acesso no curso de formação a conhecimentos sobre o
homem, sobre a cultura e outros temas que são fundamentais para a atuação na educação.
Outra relação que se percebe entre os processos de formação de professores e os
cursos de filosofia deve-se ao fato da formação em filosofia proporcionar um exercício
reflexivo tão valorizado pelos autores que estão se dedicando à formação de professores.
Referências bibliográficas
NÓVOA, Antônio (Coord.). Os professores e a sua formação. 2 ed. Lisboa: Dom Quixote,
1995.
PIMENTA, Selma Garrido (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 2 ed. São
Paulo: Cortez, 2000.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes,
2002.
http://www.anped.org.br/24/P0807764775255.doc
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formação docente: aspectos pessoais, profissionais e