VIII SOBER Nordeste
Novembro de 2013
Parnaíba- PI - Brasil
ENERGIA EÓLICA NO BRASIL: UMA ABORDAGEM CRÍTICA
Calisto Rocha de Oliveira Neto (UFRN) - [email protected]
Mestrando no Programa de Pós-graduação em Economia da UFRN
Elaine Carvalho de Lima (UFRN) - [email protected]
Mestranda no Programa de Pós-graduação em Economia da UFRN
VIII SOBER Nordeste
Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural
Parnaíba – PI
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ENERGIA EÓLICA NO BRASIL: UMA ABORDAGEM CRÍTICA
WIND ENERGY IN BRAZIL: A CRITICAL APPROACH
Grupo de Pesquisa: Políticas públicas e pluralidades regionais
RESUMO
Este trabalho objetiva investigar a transformação da matriz elétrica nacional e a introdução da
fonte eólica como complemento ao parque hídrico mostrando os desafios do Brasil para um
adequado planejamento energético. O método dedutivo é usado para evidenciar os caminhos
que o setor elétrico nacional vem tomando para o seu desenvolvimento. Além de um
levantamento de dados e informações em instituições públicas e privadas (nacionais e
internacionais). Os resultados mostram que os incentivos alavancam os investimentos no setor
eólico, beneficiando aspectos econômicos, sociais e ambientais. Porém, são investimentos
estrangeiros que vem dominando a produção e a industrialização da energia eólica. Dessa
forma, a participação do Estado como planejador do sistema elétrico é fundamental para o
aumento da inserção da energia eólica na matriz elétrica brasileira.
Palavras-chaves: Matriz Elétrica; Energia Eólica; Estado brasileiro.
ABSTRACT
This work aims to investigate the transformation of national energy matrix and the
introduction of wind power as a complement to the water park showing the challenges of
Brazil for an appropriate energy planning. The deductive method is used to highlight the ways
that the electricity sector has been taking for its development. In addition to a collection of
data and information on public and private institutions (national and international). The
results show that incentives leverage investments in the wind sector, benefiting economic,
social and environmental. However, foreign investments are coming to dominate the
production and industrialization of wind energy. Thus, the State's involvement as planner of
the electrical system is critical to increasing the integration of wind energy in the Brazilian
energy matrix.
Key words: Matrix Electrical; Wind Energy; Brazilian State
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1. INTRODUÇÃO
A energia é fundamental para o desenvolvimento social e crescimento econômico. A
sociedade moderna depende cada vez mais do fornecimento de Energia para manutenção da
capacidade produtiva, bem estar doméstico e harmonia social. O consumo de energia elétrica
vem crescendo nos últimos anos e prosseguirá em alta, segundo a Agência Internacional de
Energia (IEA). A previsão é que, até 2030 a demanda por energia primária sofrerá um
aumento de 55%. Essa tendência no padrão de consumo e de produção tem-se mostrado cada
vez mais insustentáveis.
As preocupações com as questões ambientais e com a segurança energética têm
despertado interesses de países, principalmente os desenvolvidos por serem os maiores
consumidores, em desenvolver políticas de incentivos as fontes renováveis de energia elétrica.
E a energia eólica vem apresentando grandes avanços na produção, com benefícios
econômicos, sociais e ambientais, além de se mostrar como grande oportunidade de não
apenas diminuir a dependência de combustíveis fósseis e minimizar os efeitos do aquecimento
global, mas também uma forma de desenvolvimento e criação de um novo mercado.
O Brasil, com abundância em recursos hídricos no qual a produção de eletricidade por
hidrelétricas chega a superar os 80%, atrasou os incentivos para promover os investimentos
em fontes alternativas e renováveis de energia elétrica. Porém, a sazonalidade do regime
fluvial brasileiro e a não construção de novas hidrelétricas, pois existem restrições ambientais
e incapacidade geográfica na região Norte do país, exigem a necessidade de diversificação da
matriz elétrica nacional, sobretudo uma fonte complementar a hidroeletricidade. E a energia
eólica apresenta características e potencial que podem complementar a parque hídrico.
Seguindo nesse raciocínio, o artigo está dividido em 4 seções, além da parte
introdutória. A seção 2 apresenta a transformação da matriz elétrica nacional para um novo
padrão de produção de energia com a introdução de novas fontes na matriz elétrica. A seção 3
mostra como a energia eólica pode complementar o parque hídrico na geração de eletricidade
e garantir o predomínio do caráter limpo e renovável da matriz elétrica. A seção 4 mostra a
evolução industrial e produção de eletricidade da fonte eólica no mundo e as oportunidades e
desafios que esta fonte tem no contexto brasileiro, mas, sobretudo na região Nordeste do país,
no qual há o maior potencial de produção. E finalmente, a seção 5 apresenta as considerações
finais.
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2. TRANSFORMAÇÃO DA MATRIZ ELÉTRICA NACIONAL
O sistema brasileiro de geração de energia elétrica é tradicionalmente vocacionado
para geração de eletricidade por fonte hidrológica (regime de afluências), o qual a produção
de energia elétrica com participação hídrica chega a superar os 80%. É composição singular e
privilegiada quando comparada com a matriz elétrica de outros países (CASTRO, 2010). Esse
perfil dá ao Brasil uma estrutura beneficiada que garante uma oferta de eletricidade de uma
matriz elétrica limpa, renovável e competitiva economicamente.
São grandes reservatórios que controla a oferta de energia elétrica durante o ano
inteiro. Contudo, como a projeção para demanda de energia elétrica é de crescimento para os
próximos anos, o Brasil terá que expandir sua oferta de energia. Porém, a construção de novas
hidrelétricas com grande capacidade de armazenar água vem sendo dificultada e limitada por
questões geográficas, legais e principalmente ambientais. Ademais, há um aspecto relevante
que deve ser considerado, o sistema hídrico é dependente do regime de chuvas, pois não há
regularidade e o sistema é caracterizado por uma forte sazonalidade.
Este comportamento sazonal é ilustrado no gráfico 1. Pode-se observar que, no mês de
janeiro a Energia Natural Afluente (ENA), que é energia hídrica que corre pelos rios com fins
energéticos, ultrapassa os 100 mil MWmed ao contrário do que ocorre com a mesma no mês
de setembro, que chega a produzir apenas 23 mil MWmed.
Gráfico 1 - Energia Natural Afluente: média história anual
Inclui a produção de todos os subsistemas do SIN* (configuração de 2010)
120000
100000
80000
60000
40000
MWmed
20000
0
Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do ONS (www.ons.org.br)
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(*) Sistema Interligado Nacional que corresponde a algo em torno de 98% do mercado brasileiro de energia
elétrica.
Em razão da própria história do desenvolvimento econômico nacional, a exploração de
hidrelétricas em projetos de grande porte ocorreu, inicialmente, nas regiões Sul e Sudeste do
Brasil, próximos aos grandes centros consumidores. Porém, com o avanço da demanda por
energia em virtude da dinâmica e diversificação da produção capitalista, a exploração via
hidrelétrica chegou a região Norte.
Desse modo, o ciclo robusto que se projeta para a economia brasileira para os
próximos anos, de elevação do PIB, associado à característica de um novo padrão de
crescimento e desenvolvimento econômico e social, com objetivos de reduzir as disparidades
de renda com fortalecimento da dinâmica do mercado interno e aumento do emprego, entre
outros fatores, tudo isso demandará muita energia elétrica determinando uma nova condição e
planejamento para o setor elétrico brasileiro.
O potencial hídrico existente na região Norte para construção de hidrelétricas que pode
atender ao aumento da demanda por eletricidade, está localizado em áreas de planícies. Isso
significa que, a topografia suave do terreno e os baixos desníveis fazem com que a água
represada alague grandes áreas e, consequentemente armazenem volumes relativamente
pequenos de energia, tornando a construção desses reservatórios difíceis de justificar.
Frisando que, o país não deixará de explorar a fonte hídrica. Porém, como esse potencial fica
na região amazônica e necessita ser preservada para não ocasionar impactos socioambiental
enormes, o país terá desafios de encontrar e investir em outras fontes de energia elétrica.
Neste contexto, o SEB (Sistema Elétrico Brasileiro) necessitará cada vez mais de
fontes alternativas de geração no período seco. O gráfico 6, mostra claramente a tendência à
diminuição da capacidade de regularização dos grandes reservatórios ao longo dos últimos
anos. O aumento da demanda por eletricidade não está sendo acompanhada por uma evolução
correspondente na capacidade de armazenamento do SIN.
Os dados do gráfico 2 abaixo mostram que nos anos 2000, os reservatórios eram
capazes de armazenar água numericamente seis vezes mais do que a demanda. Mas em 2012,
estima-se que os reservatórios consigam armazenar, numericamente, pouco mais de quatro
vezes a demanda por eletricidade. E a tendência para os próximos anos é diminuir ainda mais
com o crescimento da demanda sem a construção de grandes hidrelétricas disponível com
base, apenas, na estocagem de água.
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Gráfico 2 – Evolução da capacidade de regularização dos reservatórios EAR – Energia
Armazenada – Máxima Brasil sobre carga do SIN.
Fonte: CASTRO et al.(2009)
3. ENERGIA EÓLICA COMO COMPLEMENTO À HIDRELÉTRICAS
Estudos sobre o potencial, viabilidade econômica e ampliação da participação das
fontes alternativas na matriz elétrica brasileira se justificam. O país deve priorizar a
diversificação do sistema elétrico com fontes que complementem o parque hídrico. Fontes
que operem em determinados períodos do ano, com um custo variável baixo, isto é, parte do
custo total que varia conforme o grau de ocupação da capacidade produtiva: por exemplo,
custos com matérias-primas, salários por produção e outros. Porém, não diversificar para
qualquer fonte, como o aumento da participação de termelétricas como alternativa de
complemento à hidrelétrica, pois a geração requer insumos remunerados que são caros
(combustíveis fósseis), além de não serem alternativa mais eficiente do ponto de vista
econômico e ambiental.
Dentre
esses
aspectos,
a
energia
eólica
apresenta
complementaridade
à
hidroeletricidade, pois podem operar justamente no período seco do ano (ver figura 3 abaixo).
Além de ser compatível com o novo paradigma mundial de redução da emissão de gases do
efeito estufa.
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Os benefícios são enormes se ambas as fontes “trabalharem” em conjunto, garantindo
o fornecimento de energia em longo prazo. Os países estão cada vez mais preocupados com a
expansão da geração de eletricidade que garantam segurança no suprimento, ter
independência de preços externos (combustíveis fósseis) e baixa emissão de CO2.
O Brasil possui esses atributos para ampliar sua matriz elétrica, pois tem posição de
destaque na expansão da produção de eletricidade, não só no uso de hidrelétricas. A fonte
eólica como a bioeletricidade, no caso brasileiro, podem atuar como complemento e/ou
suporte em casos de riscos na oferta por fonte hídrica. No caso da fonte eólica, estudos
comprovam que os meses de chuvas menos intensas são os de ventos mais fortes, sobretudo
na região Nordeste do país, figura 1.
Figura 1 - Vazão do Rio São Francisco e Comportamento dos Ventos na Região Nordeste
Fonte: Dutra, 2001
O potencial eólico brasileiro é estimado em mais de 143 GW com torres de 50 metros.
Contudo, estudos recentes mostram que esse potencial pode mais que dobrar usando torres
eólicas de 100 metros que, aliás, a tecnologia atual já possibilita ser produzido. A Região
Nordeste apresenta o maior potencial para geração de energia com mais de 50% do total
nacional, sem considerar o potencial offshore (figura 2 abaixo).
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Figura 2 – Potencial eólico por região no Brasil
Fonte: ANEEL, 2008.
4. DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DO
SETOR EÓLICO NO NORDESTE
As preocupações nos últimos anos com o aquecimento global, a segurança energética
e a alta volatilidade do preço do barril do petróleo, tem gerado uma demanda crescente pelo
desenvolvimento de energias limpas e renováveis. Com a crescente expansão do uso da
energia eólica no mundo, cada vez mais países em diversas regiões do planeta já investem e
desenvolvem o setor eólico para expansão da produção e consequentemente suas indústrias.
Adotam Políticas Públicas (incentivos e subsídios) para avançar no mercado de máquinas e
equipamentos para produção em larga escala. A expansão da energia eólica, além de atender
parte da demanda, beneficia e ameniza o problema da dependência de importação de
combustíveis fósseis e diminuir os impactos ambientais.
O gráfico 3 mostra a rápida expansão da produção de energia elétrica por fonte eólica,
desde a segunda metade dos anos 1990, com demonstração da capacidade instalada no mundo
no período 1996 a 2012.
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Gráfico 3 - Evolução da Capacidade Instalada de Energia Eólica Mundial em MW (19962012).
Fonte: GWEC, 2012
A comercialização das turbinas eólicas nesse cenário mundial, como conseqüência do
aumento da oferta de energia por essa fonte, se desenvolveu rapidamente desde 1985 com
grandes perspectivas de continuar essa evolução devido ao perfil de crescimento da energia
eólica no mundo. Para se ter idéia, nos anos 1980 a indústria eólica produzia aerogerades com
50 Kw de potência, porém, com o avanço da tecnologia e de pesquisas, nos dias atuais é
possível produzir aerogeradores com potência de 7.000 Kw (CRESESB, 2010).
Os números mostram que o setor eólico vem demonstrando crescimento exponencial
desde a metade dos anos 1990. A potência instalada das usinas eólicas no mundo, que era de
reduzidos 6,1 GW em 1996, atingiu expressiva quantia de mais de 282 GW em 2012. E
apesar da crise financeira internacional de 2008/2009, que atingiu todos os setores da
economia, e com o setor eólico não foi diferente, mesmo assim o setor apresentou um
crescimento nos anos de 2009 e 2010 de 65% em relação ao ano de 2008, mostrando que esse
mercado está em plena ascensão (gráfico 4 abaixo).
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Gráfico 4 – Capacidade Instalada Anual Mundial (1996-2012)
Fonte: GWEC, 2012
Esses investimentos, principalmente dos países desenvolvidos, se justificam pela
necessidade de se garantir a segurança do suprimento energia. Frisando que esses
investimentos maciços, que diversifica a matriz elétrica, por si só já contribuem para o
aumento da segurança energética. Mas, sobretudo, diminui a dependência que a maior parte
destes países tem em relação à importação de combustíveis fósseis de regiões extremamente
instáveis geopoliticamente.
No caso do Brasil, o país não promoveu investimentos em fontes alternativas e
renováveis de energia elétrica devido à abundância de recursos hídricos que possuem custos
menores e mais competitivos, o que facilitou para as empresas estrangeiras investirem em
energia eólica, e conquistar o domínio da produção do mercado nacional de máquinas e
equipamentos eólicos.
Depois da abertura comercial e financeira nos anos 1990, o setor elétrico nacional
passou por um processo de reestruturação. Um novo paradigma foi estabelecido com abertura
da concorrência e a privatização das empresas estatais e federais do setor. As reformas tinham
o objetivo de criar um novo ambiente favorável para atrair e garantir os investimentos
necessários à expansão da oferta através do setor privado.
O processo de privatização, com a saída do Estado como indutor do planejamento
energético, foi marcado por uma introdução de enormes grupos econômicos no mercado
interno, resultando numa alteração significativa da estrutura de mercado. Porém, a entrada de
capital estrangeiro não resultou em aumento da capacidade produtiva, resultando na crise do
racionamento de eletricidade de 2001.
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Esses fatos revelaram, através da conjuntura da falta de chuvas no ano de 2001, um
grave problema estrutural, no qual a demanda por eletricidade crescia a uma taxa maior que a
oferta. Logo, houve a necessidade de se repensar o planejamento elétrico nacional, em que o
Estado precisava recuperar seu papel de indutor do Sistema Elétrico Brasileiro agregando sua
capacidade de financiamento e investimento e trabalhar em conjunto com o setor privado em
parcerias estratégicas, por exemplo, no setor eólico.
O desenvolvimento da geração de eletricidade de origem eólica no Brasil foi iniciado
em 2002 a partir do programa PROINFA (Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de
Energia Elétrica), que coloca em marcha as políticas públicas destinadas a diversificar a
matriz energética do país, a partir de novas fontes alternativas de energia. Esse programa
consistia em um incentivo ao setor eólico do tipo tarifa feed-in, como o implantado em países
como Alemanha.
A Região Nordeste por ter o maior potencial eólico do Brasil, foi pioneira na
instalação de parques eólicos e tem atraído grandes investimentos de empresas estrangeiras,
tanto para produção de energia quanto para o desenvolvimento do setor industrial. No gráfico
5 abaixo, vê-se que, do ano de 2006 a 2012, há uma grande expansão na produção de energia
elétrica por fonte eólica, fenômeno que acelera a entrada de indústrias estrangeiras na região
para aumentar a oferta e baratear os custos de produção.
Gráfico 5: Geração de energia eólica no Nordeste
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Mw med
Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do NOS
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A abertura comercial e os programas específicos à produção, como o Proinfa, têm
beneficiado as empresas estrangeiras, que contém maior desenvolvimento tecnológico e
maturação no mercado eólico em detrimento das empresas nacionais. Dados da Associação
Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), por exemplo, revelam que empresas estrangeiras,
até 2013, irão investir no país R$ 25 bilhões em 141 projetos do setor, espalhados pelos
estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul.
Porém, já se observa uma implantação da indústria eólica com sua cadeia de serviços e
fornecimentos, apresentando uma capacidade produtiva diversificada superior a 1GW anuais,
com tendência de continuar em expansão, pois com os crescentes investimentos industriais
em curso a produtividade aumentará substancialmente nos próximos anos. Na tabela 1 abaixo
é mostrado a cadeia de fornecimento de equipamentos para atender o mercado eólico no
Brasil, destaca-se os principais fabricantes.
Tabela 1: Fornecimento de equipamentos por Estados
Estados
Equipamentos
Fabricante
Ceará
Fábrica de pás de rotores e
Wobben
fábrica de torres
Pernambuco
Fábrica de montagem de
Impsa
turbinas e fábrica de torres
Bahia
Fábrica de montagem de
Gamesa; Suzlon
turbinas e fábrica de pás de
rotores
(ambas
em
construção)
São Paulo
Fábrica de montagem de
Wobben; Tecsis
turbinas e fábrica de pás de
rotores
Paraná
Fábrica de torres
Brasilsat
Rio Grande do Sul
Fábrica de torres
Intecnial
Fonte: adaptação a partir dos dados da ABEEólica e GWEC.
A tabela mostra o domínio das empresas estrangeiras no mercado eólico nacional,
depois de terem desenvolvido a indústria e fomentado o comércio nos seus países de origem,
esses fabricantes agora investem estrategicamente para além de suas fronteiras com objetivo
de ganhar mercado em outros países. Essas indústrias apresentam maturação e domínio da
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tecnologia eólica que as beneficiam no processo de concorrência pelo mercado nacional.
Segundo a GWEC, fabricantes como a General Electric, Alstom, Vestas, Siemens, Suzlon, e o
fabricante Chines Guodian- United Power anunciaram investimentos no Brasil em resposta
aos excelentes resultados obtidos nos anos de 2009 e 2010, de modo que a capacidade local
de produção de turbinas poderá incrementar-se rapidamente até próximo a 2 GW/ano,
evidenciando o controle dos ventos, isto é, do recurso natural abundante que existe no país e
principalmente no Nordeste. Dessa forma, existirá pouco espaço para o desenvolvimento do
setor por instituições nacionais que levassem prosperidade para regiões como o Nordeste.
Segundo Leite e Dantas (2009), a indústria de aerogeradores mundial está organizada
sob a forma de oligopólio com os 4 maiores fabricantes (Vestas, GE Wind, Gamesa e
Enercon) possuindo um market-share de aproximadamente 70%. Estas firmas possuem poder
de mercado devido a existências de barreiras à entrada referentes a escala de produção e ao
caráter de constante inovações tecnológicas da indústria que resultam em vantagens absolutas
de custo e diferenciação de produto das firmas estabelecidas.
Neste contexto, não há como as empresas nacionais competir nesse mercado. É
fundamental que haja incentivos a concorrência, mas, sobretudo, o Estado tem que intervir
naquilo que é de interesse nacional. Criando incentivos para um padrão estratégico de política
industrial, comercial e tecnológica (ICT), levando desenvolvimento econômico para regiões
como o Nordeste, que tem baixo desenvolvimento econômico e social. E através da expansão
do emprego, os Institutos Federais de Ensino Técnico podem formar mão de obra qualificada,
pois o setor eólico tem alto peso tecnológico.
As políticas públicas de incentivos ao crédito e a desoneração fiscal para as indústrias
nacionais podem fomentar investimentos que exerce duplo papel na economia. Primeiro,
representa um importante componente da demanda agregada e segundo, aumenta a
capacidade produtiva da economia em longo prazo.
Portanto, a participação do Estado como planejador do sistema elétrico é a forma mais
adequada e eficiente para aumento da inserção da energia eólica e de outras novas renováveis
na matriz elétrica brasileira. Neste sentido, uma complexa rede de subsídios, programas e
políticas precisam ser desenvolvidas para o benefício da sociedade como um todo.
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5. CONCLUSÃO
Os benefícios da inserção da energia eólica para segurança energética do mundo,
inclusive para o Brasil, são indiscutíveis. No caso brasileiro, devido a geração de energia ser
predominantemente hidrológica, com participação de mais de 80%, o Brasil não investiu na
expansão da fonte hídrica e nem em outras formas de geração de eletricidade. E como as
hidrelétricas dependem do regime de chuvas, pois não há regularidade, o sistema é
caracterizado por uma forte sazonalidade. Dessa forma, o país necessitará cada vez mais de
fontes alternativas de geração, e a fonte eólica pode diversificar o sistema elétrico e
complementar o parque hídrico.
Com a abertura comercial e financeira nos anos 1990, o setor elétrico nacional passou
por um processo de reestruturação, no qual não resultou numa expansão da produtividade de
energia elétrica. A conseqüência foi o racionamento de energia elétrica em 2001. Esse
racionamento frustrou os objetivos da reforma dos anos 1990 que a solução seria ampliar os
investimentos na expansão da oferta.
Entretanto, atualmente, esse cenário de abertura comercial tem beneficiado as
empresas estrangeiras que vem se instalando no Brasil, pois já tem maturação tecnológica,
constantes inovações e diferenciação de produtos, o que não deixa margem para a indústria
nacional competir nesse mercado.
Dessa forma, a participação do Estado como planejador do sistema elétrico é a forma
mais adequada e eficiente para aumento da inserção da energia eólica na matriz elétrica. Por
um lado, criar incentivos para um padrão estratégico de política industrial, comercial e
tecnológico (ICT) são fundamentais, seria uma complexa rede de subsídios, programas e
políticas públicas que precisam ser desenvolvidas para o benefício social, econômico e
ambiental. Por outro lado, o país tem gargalos estruturais que também necessitam de
intervenção, como estradas precárias para implantação dos projetos, novas linhas de
transmissão, orientação técnica para os proprietários de terrenos com potencial de geração,
etc. Assim, parcerias estratégicas entre o setor público e o privado podem ser idealizadas para
o benefício da sociedade como um todo.
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6. REFERÊNCIAS
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Perspectivas. Tese (Mestrados) apresentada ao Programa Interunidades de Pós-graduação em
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deprimidos numa transição problemática. Brasília: CEPAL, 1997. Disponível em:
http://www.eclac.org/publicaciones/xml/0/4960/capvi.pdf Acesso em: 30 jan. 2012.
CASTRO, N. J.; GUERRA, S. M.; VIEIRA, J. P.. A experiência dos anos 1990 da indústria
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Janeiro.
CASTRO, Nivalde José. Avanços na reestruturação do setor de energia elétrica. IFE:
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<http://www.provedor.nuca.ie.ufrj.br/eletrobras/artigos/castro6.htm> Acesso em: 5 mar.
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CASTRO, Nivalde José et. al. Considerações sobre as Perspectivas da Matriz Elétrica
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Setor Elétrico Nº19, Rio de Janeiro, 2010.
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<http://www.cresesb.cepel.br/index.php?link=/atlas_eolico_brasil/atlas.htm> . Acesso em:
20/02/2012
DANTAS, Guilherme de Azevedo & Leite, André Luis da Silva. Os custos da energia eólica
brasileira. GESEL- Grupo de Estudos do Setor Eólico/UFRJ. Canal Energia, Rio de Janeiro,
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FERREIRA, Henrique Tavares. Energia Eólica: Barreiras a sua participação no Setor
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em Energia – EP / FEA / IEE / IF da Universidade de São Paulo. São Paulo – SP, 2008
FRATE, Cláudio Albuquerque. Políticas públicas para energias renováveis: fator de
competitividade para eletricidade eólica e siderurgia semi-integrada. Dissertação de
Mestrado em Política e Gestão Ambiental, Centro de Desenvolvimento Sustentável,
Universidade de Brasília. Brasília – DF, 2006.
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244| energia eólica no brasil: uma abordagem crítica