Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação
e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
19 a 21 de outubro de 2011
ISOLAMENTO DE MICRO-ORGANISMOS RESISTENTES AOS
AGRODEFENSIVOS: PRIORI XTRA, SYSTANE EC e ANTRACOL 700 PM – UMA
TRIAGEM PARA APLICAÇÃO BIOTECNOLÓGICA
Marcos Antonio Pereira Júnior (UEG)1,
[email protected]
Kátia Flávia Fernandes(UFG),
[email protected]
Karla de Aleluia Batista (UFG),
[email protected]
Fênix Araújo de Oliveira (UEG,
[email protected]
Flavio Marques Lopes (UEG).
[email protected]
INTRODUÇÃO
A agricultura brasileira, nos últimos anos, apresentou grande capacidade de produção
e adaptação ao mercado econômico mundial. Este crescimento foi favorável devido alguns
fatores tais como adesão ao processo de utilização de insumos agrícolas, melhoramento
genético de plantas, processos de irrigação e a utilização de agrodefensivos no intuito de
proteger as plantações aos ataques de pragas (BALSAN, 2006).
A produção da safra de grãos 2010/2011 esta estimada em 62,96 milhões de toneladas,
com um acréscimo de 9,2% referente a safra 2009/2010, este crescimento se deu devido as
condições de plantio e climáticas que foram favoráveis (CONAB, 2011).
O uso de agrodefensivos agrícolas é considerado um dos componentes importantes no
complexo de produção, visto que trata-se de compostos químicos, físicos e/ou biológicos,
aplicados com a finalidade de diminuir ou exterminar pragas e doenças, podendo ser
classificados pelo seu modo de ação em inseticidas, fungicidas e herbicidas (LÊ-PAUDER,
1994).
O uso dos agrodefensivos em alta escala e por um grande período, pode promover um
desequilíbrio no meio ambiente, afetando a cadeia produtiva, podendo originar até a
desertificação de solos. Para contornar o problema é possível utilizar a Biorremediação,
tecnologia que consiste em empregar micro-organismos ou processos realizados por microorganismos, para degradar compostos contaminantes no ambiente em compostos menos
tóxicos ou atóxicos. Essa técnica possui várias aplicações como descontaminação de águas
superficiais, águas subterrâneas, lagos e solo (BOOPATHY, 2000).
Alguns fatores ambientais que determinam a capacidade de degradação de contaminantes são
o pH, a temperatura e umidade, outros fatores que também interferem são a concentração de
células da biomassa microbiana, diversidade de micro-organismos, atividade das enzimas
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Bolsista CAPES
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produzidas pela biomassa e as características físico-químicas e a concentração dos
contaminantes (BOOPATHY, 2000).
OBJETIVOS
Isolar e Identificar micro-organismos com capacidade de uso em técnicas
biotecnológicas de degradação de resíduos de agrodefensivos, bem como avaliar a capacidade
de resistência e a capacidade de biodegradação de agrodefensivos.
MATERIAIS E MÉTODOS
O resíduo foi coletado em uma empresa situada na cidade de Goiânia-GO, Rod. GO020, Km 8, responsável por receber as embalagens de agrodefensivos utilizados nos estado de
Goiás e realizar os procedimentos de higienização e encaminhamento dessas embalagens para
reciclagem ou incineração. Foram coletados 5 litros de resíduo cedidos por essa empresa que
foram provenientes de restos residuais das embalagens de agrodefensivos utilizados nas
plantações do estado de Goiás. Seguindo a metodologia descrita por CASTILHO et al., 2006.
O teste de atividade fungicida do resíduo foi realizado utilizando os fungos
Colletotrichum truncatum, Aspergillus niger e Trichoderma asperellum. Utilizando a Câmara
de Newbauer foi determinado a concentração de esporos realizada nos testes sendo
Colletotrichum truncatum 10x107, Aspergillus niger 44x107 e Trichoderma asperellum
61x107. As soluções de esporos foram inoculadas em meio BDA (Ágar Batata Dextrose) e
discos impregnados com os resíduos coletados foram adicionados a superfície do meio.
Foram aderidos a superfície do meio um disco impregnado com o fungicida Opera (controle
positivo) e dois discos impregnados com os resíduos. As placas foram mantidas a 28°C por 96
horas para realização da leitura, a intensidade da inibição foi determinada pelo diâmetro de
inibição do crescimento fúngico (P. JUNIOR e LOPES, 2010).
Alíquotas de 100µL do resíduo coletado foi inoculado em meios Ágar Nutriente, YPD
(Yeast Extract Peptone Dextrose) e Sabouraud, as amostras foram incubadas a 37°C por 48
horas. As colônias que apresentaram diferenças morfológicas macroscopicamente foram
isoladas e cultivadas em meio YPD líquido (LOPES et al. 2010).
Os micro-organismos isolados forma inoculados em Ágar MacConkey (MAC), meio
diferencial seletivo para crescimento de bactérias Gram-negativas (ANVISA, 2011).
Para manutenção das colônias foram utilizados 100µL de meio líquido contendo os
isolados e inoculados em 5 mL de caldo nutriente e incubados a 37°C por 24 horas. Após
esse período os tubos foram centrifugados a 5000 rpm por 10 min e o sobrenadante
descartado, foram adicionados 2 mL de caldo nutriente contendo 50% de glicerol estéril e o
material foi armazenado a -20°C (LOPES et al.,2010).
As amostras identificadas como Gram-negativas foram inoculadas em meio YPD
sólido e sobre a superfície da placa foram aderidos 3 discos sendo um impregnado com o
fungicida Opera (controle positivo) e 2 discos impregnados com os resíduos de
agrodefensivos. O controle positivo o Opera é um fungicida de ação sistêmica, e possui em
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sua composição os princípios ativos epoxiconazol e piraclostrobina, possui ação protetora,
curativa e erradicante por agir de forma sistêmica (BASF, 2011).
Para o teste de resistência dos micro-organismos a diferentes classes de agrodefensivos
foi realizada segundo a metodologia descrita por P. JUNIOR e LOPES, (2010), as amostras
foram inoculadas em meio YPD sólido e na superfície da placa foram adereidos discos
impregnados com diferentes classes de agrodefensivos , foram utilizados:
PRIORI XTRA fungicida que possui na composição Azoxistrobina e Ciproconazol,
fungicida sistêmico do grupo químico da Azoxistrobina, Estrobilurina, Ciproconal e Triazol.
Para utilização no teste foram diluídos 1mL do fungicida em 100mL de água destilada estéril
e dessa solução foram realizados a impregnação dos discos.
SYSTANE EC® fungicida que possui em sua composição Miclobutanil, fungicida
sistêmico do grupo químico triazol. Para utilização no teste foram diluídos 250 µl do fungicida
em 100 ml de água destilada estéril e dessa solução foram realizadas as impregnações dos
discos.
ANTRACOL 700 PM® fungicida que possui em sua composição Propineb, fungicida
protetivo orgânico do grupo químico dos ditiocarbamatos. Para utilização no teste foram
diluídos 300 mg do fungicida em 100mL de água destilada estéril e dessa solução foram
realizadas as impregnações dos discos.
As diluições foram realizadas segundo o fabricante nas concentrações que são aplicadas
em lavouras. Os resultados foram determinados por meio de medição dos halos de inibição dos
micro-organismos após incubação por 24h a 37ºC, temperatura ótima para o crescimento dos
micro-organismos isolados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A atividade do resíduo coletado foi avaliada pela formação de halos de inibição frente
aos fungos testados, após adesão dos discos impregnados com os resíduos na superfície do
meio inoculado com as soluções dos fungos os halos foram medidos. Os halos de inibição
formados mostraram um diâmetro entre 1,4 cm e 2,6 cm após 96 h de crescimento,
evidenciando a atividade do resíduo, mesmo este estando em uma mistura, não apresentou
atividade antagonista e o mesmo ainda apresentou atividade fungicida.
Os micro-organismos isolados e que apresentaram crescimento no meio de cultura
MacConkey foram previamente identificados como 1A, 1B, 2A, 5A.
A caracterização microscópica dos micro-organismos foi realizada pelo teste de
Coloração de Gram e os micro-organismos 1A, 1B, 2A, 5A, apresentaram-se como bacilos
Gram-negativos.
O teste de resistência dos micro-organismos a diferentes classes de agrodefensivos
apresentaram resultados satisfatórios, pois não houve a formação de halos de inibição dos
micro-organismos, reportando que os mesmos são resistentes, aos agrodefensivos testados. A
capacidade de se desenvolver na presença desses compostos, bem como a capacidade de
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utilizar estes produtos como fonte de carbono, faz com que o sistema bioquímico dos microorganismos isolados promovam a degradação desses compostos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os testes realizados mostraram que os micro-organismos 1A, 1B, 2A, 5 A, isolados dos
resíduos de agrodefensivos são bacilos gram-negativos e apresentam resistência a diferentes
classes de agrodefensivos, mostrando que os mesmos podem ser aplicados na área da
biotecnologia e da biorremediação de locais contaminados com vários compostos de forma
individuo ou mesmo em uma mistura (pool), sugerindo que os mesmos possam ser utilizados
em processos de recuperação ambiental de locais contaminados com agrodefensivos.
REFERENCIAS
ANVISA - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA Descrição dos Meios
de Cultura Empregados nos Exames Microbiológicos.
Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/microbiologia/mod_4_2004.pdf>. Acessado em 14
de set. 2011.
BALSAN, R. Impactos decorrentes da modernização da agricultura brasileira. Campo
Território: Revista de Geografia Agrária, v.1, n. 2, p. 123-151, 2006.
BASF - BADISCHE ANILIN- UND SODA-FABRIK THE CHEMICAL COMPANY.
Disponível
em:
Catálogo
de
Produtos.
Opera®.
http://agrobasf.com.br/opera/opera.asp?area=2. Acessado em 15 de set. 2011.
BOOPATHY, R. Factors limiting bioremediation technologies. Bioresource Technology,
Chicago, v.74, n.1, p.63-67, 2000.
CASTILHO, M.A., et al. Biodegradation of the herbicide diuron by streptomyces isolated
from soil. International Biodeterioration & Biodegradation, v.58, p.196-202, out/dez.
2006.
CONAB - CAMPANHA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Grãos safra 2010/2011
Décimo
segundo
levantamento
setembro/2011.
Disponível
em:
<
http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/11_09_19_09_49_47_boletim_setembr
o-2011..pdf>. Acessado em 18 de set. 2011.
LÊ-PAUDER, D. Agroquima: adubos e produtos sanitários. Contato, v.28, p. 16-20, 1994.
LOPES, F.M.; BATISTA, K.A.; BATISTA, G.L.A.; MITIDIERI, S.; BATAUS, L.A.M.,
FERNANDES, K.F. Biodegradation of epoxyconazole and piraclostrobin fungicides by
Klebsiella sp. from soil. World J Microbiol Biotechnol v. 26, p. 1155-1161, 2010.
PEREIRA-JUNIOR, M.A.; LOPES, F.M. Prospecção de microrganismos resistentes a
agrodefensivos. Anuário da produção de iniciação científica discente, vol. 13, n. 17, p. 81102, 2010.
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