ARTIGO
02 Fala Goiás
Goiânia, 28 de setembro a 05 de outubro de 2015
Somos vítimas!
EDIVALDO BARBOSA
D
esde os primórdios da vida
humana na terra, por mais
rudimentar que seja, o homem
sempre foi vítima. Seja pelo
medo da morte – uma certeza
que mais cedo ou mais tarde
irá fatalmente acontecer –, da
fome, das doenças fatais, da miséria, da inveja, da ingratidão,
do racismo, do furto, do roubo,
do trânsito, da falta de dinheiro, da injustiça, da mentira, do
preconceito, da ambição, do infortúnio, da insegurança, da calúnia, da difamação, da fofoca,
da infelicidade, do descrédito,
do oportunismo, do abandono,
do trabalho excessivo...
Conheço uma pessoa que
diz, com frequência, aos seus
interlocutores que se aventuram a reclamar de alguma coisa
para ela: “Pare de ser vítima!”.
Confesso que essa exclamação me chamou a atenção.
Após analisá-la e interpretá-la
hermeneuticamente, cheguei
à conclusão que, na verdade,
toda pessoa sofre de “vitimologia”. Isso, aliás, independe
da sua condição social e financeira. Somos, ao longo da vida,
mais vítima do que autor, apesar de achar que isso não seja
verdade. Um abismo que poucos buscam corrigir – se é que
há correção.
Pelo simples fato de termos
medo de alguma coisa já é suficiente para nos transformar em
vítima. Diariamente, evitamos,
de forma direta e indireta, que
venhamos a sofrer injustiças para
não sermos vítimas sociais. Mas,
por mais esforço que empregamos, acabamos por mergulhar
nesta maldita profundeza. Seja
numa simples relação de consumo, no âmbito
profissional ou
até numa relação amorosa.
Tentamos evitar isso. Contudo, ficamos
à mercê do risco, o que nos
transforma em
vítimas latentes.
A “vitimologia”
está
impregnada
em todas as
camadas sociais. Aliás, as
pessoas abastadas podem
ser chamadas
de vítimas latentes porque,
pela sua condição sócio
-econômica,
atraem
criminosos em
função da sua
situação. São
mais passivas
que as demais
no que se refere à insegurança – esse medo cada vez mais
agressivo que está inserido em
nossa sociedade. Por ser rica,
Fala
Goiás
se sente perseguida diante de
uma sociedade cada vez mais
ávida por dinheiro.
Pelo simples fato de termos
receio de alguma coisa já é
suficiente para nos deixar na
condição de vítima, já que ficamos à mercê da submissão.
Uma mulher, por exemplo, que
convive com o marido alcoóla-
tra, traz consigo essa predisposição, haja vista que o seu pai
também poderia ter ingerido
bebida alcoólica na juventude e
parte da fase adulta – talvez ela
escolheu o marido à imagem
do pai, o que a faz seguir este
caminho na ânsia de recuperar
o esposo dessa doença maldita.
Neste caso, dificilmente a mulher abandonará o marido. Ela
é “vítima subjetiva” do marido
devido a uma herança paterna.
Jean-Paul Sartre, ao longo da
sua rica trajetória vida intelectual – era
um obstinado
pelo saber –,
dizia que detestava as vítimas quanto
elas respeitavam demais
os seus carrascos. Com
o
peculiar
respeito ao filósofo francês,
mas não podemos colocar
em prática o
seu
pensamento
hoje
porque somos
vítimas eternas de uma
sociedade que
aprendeu
a
conviver com
o
egoísmo,
com a corrupção e com o
flagelo social.
O homem,
sobretudo
o contemporâneo, aprendeu
a conviver com a submissão
social. O Estado é vítima dos
corruptos e, por consequência,
Fala Goiás
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Décio Parma
Reportagem
Divino Olávio
a população transforma-se em
vítima da inaptidão dos governantes. Por mais que tentamos
escapar, acabamos por nos
transformar em vítima.
Aliás, isso me faz lembrar o
poeta e jornalista gaúcho Fabrício Carpinejar: “Se errar é
azar, se acertar é sorte, se amar
é destino, você é vítima da vida
e ainda não fez nada”. Que atire a primeira pedra quem nunca
foi vítima um dia! Eu, particularmente, desconheço qualquer
ser humano que nunca foi vítima de nada.
Por fim, gostaria de ressaltar
que nós, pobres mortais, também somos vítimas do egoísmo e da inverdade. No mundo
chamado contemporâneo praticamente não temos tempo para
nada. Quando conquistamos
uma amizade, como ensina o
bom princípio, devemos cativá-la e cultivá-la. Porém, hoje
em dia é comum destruir uma
amizade por causa da inveja e
do egoísmo.
Devemos, sim, valorizar tudo
que norteia os parâmetros da dignidade e do respeito ao próximo,
evitando, assim, a “vitimologia”
do egoísmo. Devemos dizer não
à demagogia e aos preconceituosos. Certa vez, Mário Quintana
questionou: “Por que será que a
gente vive chorando os amigos
mortos e não aguenta os que continuam vivos”?
Neste caso, somos vítimas
do egoísmo.
Edivaldo Barbosa
é jornalista e editor do
jornal Fala Goiás
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