XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
ANÁLISE DO PROCESSAMENTO DE
ROUPAS EM LAVANDERIA
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
EM UM HOSPITAL PÚBLICO DO
INTERIOR DE PERNAMBUCO
Ana Paula da Silva Farias (UFRPE)
[email protected]
Assume-se que a performance de uma unidade hospitalar é o reflexo de
uma grande variedade de sistemas e subsistemas que congregam as
funções básicas do seu dia-a-dia. Um desses subsistemas, a lavanderia
hospitalar, é responsável pelo processsamento e distribuição de
roupas, em perfeitas condições de higiene e limpeza, a fim de
proporcionar conforto e segurança ao paciente. Apesar dessa
importância, a lavanderia hospitalar, em muitos casos, é um setor
ignorado dentro do hospital e, na maioria das instituições, não conta
com um controle rigoroso de custos e de qualidade de processamento
das roupas. Assim, esse trabalho tem como objetivo analisar como é
realizado o processamento de roupas na lavanderia hospitalar de um
hospital público, localizado numa cidade do interior de Pernambuco,
descrevendo as atividades realizadas e apontando as principais falhas
encontradas.
Palavras-chaves: Hospital, lavanderia, produção
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1. Introdução
Em serviços de saúde cuidar bem dos pacientes e ter uma prestação de serviço eficiente são
vistos como o “produto” das ações e interações de todas as pessoas envolvidas nos diversos
processos organizacionais existentes. Assume-se, então, que a performance de uma unidade
hospitalar é o reflexo de uma grande variedade de sistemas e subsistemas que congregam as
funções básicas do seu dia-a-dia (MEZZOMO, 1993).
Assim, pode-se dizer que o hospital é uma organização que tem como característica principal
garantir que setores interdependentes estejam funcionando perfeitamente para o atendimento
aos clientes (CASTRO & CHEQUER, 2001). São vários sistemas e subsistemas que o
formam, dentre esses, o administrativo, os laboratórios, os centros cirúrgicos, a lavanderia, o
refeitório, o setor de comunicação, de transporte e de depósitos. São setores que precisam
interagir e cooperar entre si para atingir seu principal objetivo, atender bem o cliente
(BARTOLOMEU, 1998).
Pertencente a um desses subsistemas, a lavanderia hospitalar, segundo Cargnin (2008),
apresenta grande importância, pois é responsável pelo processamento e distribuição de roupas,
em perfeitas condições de higiene e limpeza, a fim de proporcionar conforto e segurança ao
paciente. Por essa razão, é necessário que esse serviço seja gerenciado de forma coerente e em
conformidade com a legislação. Dessa forma, torna-se possível a maximização da qualidade, a
minimização dos custos e a utilização racional dos recursos organizacionais (CARGNIN,
2008).
Mas, apesar dessa importância, a lavanderia hospitalar, em muitos casos, é um setor ignorado
dentro do hospital e, na maioria das instituições, não conta com um controle rigoroso de
custos e de qualidade de processamento das roupas (SIQUEIRA, 2005). Para Guimarães e
Linden (2002), a lavanderia hospitalar, cujo papel é, por vezes, subestimado pela alta
administração, tem o poder de afetar as atividades de todas as demais áreas. Cirurgias,
internações, procedimentos ambulatoriais, por exemplo, são fortemente dependentes do seu
correto desempenho.
Portanto, esse trabalho tem como objetivo analisar como é realizado o processamento de
roupas na lavanderia hospitalar de um hospital público, localizado numa cidade do interior de
Pernambuco, descrevendo as atividades realizadas e apontando as principais falhas
encontradas.
2. A lavanderia hospitalar e seus serviços
A lavanderia hospitalar pode ser definida como um dos principais serviços de apoio ao
atendimento dos pacientes. É o setor responsável pelo processamento e distribuição das
roupas usadas no hospital, em perfeitas condições de higiene e conservação e em quantidade
adequada a todas as unidades (BARTOLOMEU, 1998). Para ARSEGO et al (2008), a
lavanderia no hospital é de suma importância, uma vez que, a eficiência de seu funcionamento
contribui diretamente na eficiência do hospital, refletindo especialmente no controle de
infecções.
De uma maneira geral, as roupas encontradas no hospital são: lençóis, fronhas, cobertores,
toalhas, colchas, cortinas, roupas de pacientes e de funcionários, fraldas, compressas, campos
cirúrgicos, máscaras, propés, aventais, gorros, panos de limpeza etc. Essas roupas hospitalares
são bem diferentes daquelas existentes nas instituições de outras áreas e em residências, pois
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algumas podem se apresentar contaminadas com sangue, secreções ou excreções de pacientes
(KONKEWICZ, 2004).
É importante entender que as roupas hospitalares que compõem um enxoval, variam de
acordo com a classificação e os serviços prestados pelo hospital. Segundo Castro e Chequer
(2001), as principais peças utilizadas são: avental, pijama, campo cirúrgico, cobertor,
compressas, jaleco e lençol.
Quanto às atividades realizadas pela lavanderia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA, 2007) entende que elas são iniciadas com a retirada da roupa suja da unidade
geradora e o seu acondicionamento; coleta e transporte da roupa suja até a unidade de
processamento; recebimento, pesagem, separação e classificação da roupa suja; processo de
lavagem da roupa suja; centrifugação; secagem, calandragem ou prensagem da roupa limpa;
separação, dobra, embalagem da roupa limpa e armazenamento, transporte e distribuição da
roupa limpa.
3. Material e Métodos
A presente pesquisa é do tipo exploratória e descritiva e utiliza a abordagem qualitativa. Para
Polit e Hungler (1996), a pesquisa exploratória e descritiva pode ser entendida como um tipo
de estudo que objetiva observar, descrever e documentar aspectos de uma situação que ocorre
naturalmente.
Já a utilização da abordagem qualitativa é fundamental, nesse trabalho, porque a mesma
permite a imersão do pesquisador no contexto e proporciona a perspectiva interpretativa na
condução da pesquisa (KAPLAN & DUCHON, 1988). Para Bradley (1993), na pesquisa
qualitativa o pesquisador é um interpretador da realidade.
A técnica utilizada para a coleta de dados foi a pesquisa de campo, com observação direta (in
loco), registro do ambiente através de fotografia e um roteiro previamente elaborado. As
informações foram passadas pela Direção do Hospital, bem como pelas profissionais que
trabalham na lavanderia. A coleta de dados aconteceu nos dias 04 e 11 de dezembro de 2010,
através de visitação ao local.
4. Caracterização da unidade hospitalar
O hospital estudado foi inaugurado em 1941, pertence ao setor público e está localizado numa
cidade considerada importante pólo econômico da região e também classificada como 4º pólo
médico do estado de Pernambuco, com vários hospitais, prontos-socorros, maternidades e
clínicas particulares. Isso faz com que populações de cidades vizinhas, dentro e fora do
estado, utilizem os serviços médicos locais (ALMEIDA, 2010; DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 2008).
Essa unidade hospitalar conta com 312 colaboradores, entre servidores públicos e prestadores
de serviços, bem como disponibiliza 91 leitos para atendimento a população, sendo, portanto,
considerado como hospital de médio porte, segundo Lisboa (1993). Ainda de acordo com o
autor, um hospital é considerado de médio porte quando possui de 50 a 199 leitos.
Para atendimento aos pacientes possui setores de pediatria, obstetrícia, emergência, clínica
médica, centro cirúrgico, farmácia, odontologia, laboratório e ambulatório. Com essa infraestrutura, realiza cerca de 4.000 atendimentos na emergência geral e 80 cirurgias por mês,
com base nos dados disponibilizados pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco
(2010).
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5. Análise das atividades da lavanderia hospitalar
A análise da lavanderia hospitalar será dividida em três partes. A primeira delas é a sua
identificação e caracterização, logo em seguida, serão avaliados itens gerais como: roupas,
espaço físico, equipamentos, empregados e materiais permanentes e de consumo. E, por fim,
serão apresentadas as etapas de produção utilizadas no processamento das roupas.
5.1 Identificação e caracterização da lavanderia hospitalar
A lavanderia está localizada no pavimento térreo do hospital, com o objetivo de facilitar o
transporte de roupas e reduzir o tempo de circulação das mesmas. Funciona das 5:00 horas às
17:00 horas, de domingo a domingo, sob o comando de 4 profissionais da empresa
terceirizada, num regime de trabalho com escala de 12 horas.
5.2 Itens que compõem a lavanderia hospitalar
5.2.1 Roupas
Quanto ao tipo de roupa existente no hospital, tem-se: lençóis, batas, compressas, toalhas,
fronhas, capotes, campos cirúrgicos, dentre outros. Os modelos são padronizados, em sua
maioria, de algodão e de diferentes cores. Existem, portanto, roupas de cor verde no setor de
pediatria, de cor branca na clínica médica, de cor marrom e azul no bloco cirúrgico e as de cor
amarela ficam reservadas às batas da clínica cirúrgica.
O controle da capacidade diária de lavagem é feito na rouparia, num prédio ao lado da
lavanderia. É lá que é feita a contagem e o registro em formulários específicos da roupa
processada de segunda a sexta.
5.2.2 Espaço físico
A área física da lavanderia é dividida em duas partes distintas: área suja (contaminada) e área
limpa. Existem dois banheiros, um na área limpa e outro na área suja, que caracterizam os
espaços destinados aos empregados. É importante frisar que não existe corrente de ar que
circule da área suja para a área limpa, no espaço construído da lavanderia. No entanto, as
portas das duas áreas estão sempre abertas (devido a temperatura no local ser elevada), no
momento em que as roupas são preparadas para a lavagem (figura 1).
Área
Suja
Área
Limpa
Figura 1: Prédio da lavanderia
5.2.3 Equipamentos
Na lavanderia existem os seguintes equipamentos (figuras 2, 3 e 4):
 Duas lavadoras, sendo uma de duas portas (onde se insere as roupas na área suja e são
retiradas, após a lavagem, na área limpa) e outra de uma porta (pouco utilizada);
 Uma centrífuga;
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 Uma secadora;
 Uma calandra; e,
 Três carros de transporte de roupas (um de roupa suja, um de roupa limpa e um reserva).
Carrinho
Calandra
Secadora
Figura 2: Lavadora 2 portas
Figura 3: centrífuga
Figura 4: secadora, calandra e carrinho.
Um dos equipamentos importantes para a lavanderia é a balança, item responsável pelo
processo de pesagem das roupas sujas e limpas. Nessa lavanderia ela não foi encontrada.
Consideradas como indispensáveis ao bom funcionamento da lavanderia, segundo o
Ministério da Saúde (1986), são as balanças que determinam o peso da roupa, ponto de
referência para a determinação da capacidade da lavanderia, o que proporciona controle
contábil e operacional.
Sem esse equipamento as trabalhadoras da lavanderia acabam por estimar os pesos das roupas
processadas, podendo ocasionar super lotação das lavadoras ou mesmo carga inferior a
capacidade das mesmas, danificação das máquinas, lavagens insuficientes, desperdícios de
produtos e retrabalho.
5.2.4 Empregados
A lavanderia conta com 4 profissionais que trabalham divididas em dois grupos. A cada dia
uma empregada realiza o trabalho da área suja e outra da área limpa, num total de duas
empregadas por dia. Quanto ao grau de escolaridade dessas profissionais, constatou-se que
uma delas tem ensino médio completo, duas possuem ensino fundamental completo e uma é
analfabeta.
Para a ANVISA (2007), a quantidade de empregados necessários ao funcionamento de uma
unidade de processamento de roupas pode variar de acordo com a complexidade da unidade,
demanda, tipo de equipamentos e horário de funcionamento. Os cargos e funções de pessoal
devem estar descritos de forma clara e concisa, bem como a estrutura organizacional e a
qualificação dos profissionais.
Verfificou-se que as empregadas não receberam qualquer tipo de treinamento para exercer as
suas funções. Também não existe, no local, um manual de rotinas da lavanderia, registro
diário de processamento das roupas e manuais de equipamentos, que possam ser utilizados
para auxiliar no trabalho das mesmas.
Segundo o Ministério da Saúde (1986), deve existir um manual com normas e formas de
execução das tarefas, bem como a descrição de cada rotina técnica numa sequência exata,
incluindo, sempre que necessário, as especificações de máquinas, produção e métodos de
trabalho. As rotinas administrativas também devem estar presentes, pois tende a facilitar o
entrosamento da unidade da lavanderia com os demais serviços do hospital, como as
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requisições de almoxarifado, de revisão e manutenção de equipamentos e rotinas de horas
extras.
Quanto a supervisão dos trabalhos dessas profissionais, esse é realizado pelo encarregado da
empresa terceirizada, que está presente de segunda a sexta, das 08:00 horas às 17:00 horas.
Não existe por parte do supervisor nenhum processo que meça a produtividade das 4
empregadas da lavanderia, nem o estabelecimento de um tempo-padrão para a execução das
tarefas.
Nas lavanderias deve ser previsto um espaço para a chefia, localizado em ponto estratégico
que possibilite visualizar o ambiente. Além disso, as funções específicas da lavanderia devem
ser integradas e sob a ótica de uma única chefia administrativa, com plena autoridade em
todas as fases do processamento de roupas. Essa chefia única pode indicar um controle
eficiente da roupa que circula no hospital, do material, dos métodos de trabalho e do
desempenho do pessoal envolvido no processo (BONARDI, 2001; MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 1986). Além disso, a unidade hospitalar deve possuir um responsável técnico, com
formação mínima de nível médio, capacitação em segurança e saúde ocupacional e que
responda perante a vigilância sanitária pelas ações realizadas no ambiente da lavanderia, no
caso da unidade ter esse serviço terceirizado (ANVISA, 2007).
Para o Ministério da Saúde (1986), a operacionalização eficiente da lavanderia depende de
fatores como, por exemplo, um programa efetivo de treinamento em serviço e a adoção de
sistema adequado de incentivos, abrangendo todo o circuito de roupas – da coleta até a sua
redistribuição.
5.2.5 Materiais permanentes e de consumo
Dentre os materiais permanentes encontrados na lavanderia estão: roupas, detergente, sabão,
amaciante, alvejante, acidulante, mesa do tipo escrivaninha, estante com prateleiras, cadeiras
e extintor de incêndio. Alguns materiais não foram encontrados como, por exemplo, mesa
com computador, mesa com telefone, marcador de roupa, quadro branco e quadro de avisos.
Quanto aos materiais de escritório, nada foi encontrado. Não existe nessa lavanderia
grampeador, furador de papel, pastas, fichas, formulários e arquivo, o que indica a
inexistência de controle, por parte desse setor, dos registros das atividades a executar e
executadas e a falta de comunicação desse com outros departamentos do hospital.
5.3 Etapas da produção
As etapas de produção observadas nessa lavanderia serão divididas em dois momentos: as que
correspondem à área suja e as da área limpa.
5.3.1 Área Suja
Na área suja, as etapas de processamento das roupas podem ser ilustradas como na figura 5.
Coleta e Transporte
Recebimento e Separação
Lavagem
Figura 5: Etapas da produção na área suja
a) Etapas de coleta e transporte
As coletas das roupas no hospital ocorrem três vezes ao dia, em horários específicos, às 06:30
horas, às 09:00 horas e às 14:00 horas. Em geral, esse trabalho de coleta demora entre 10 a 15
minutos. Estão entre os equipamentos de proteção individual obrigatórios e exigidos pelo
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hospital, no momento da coleta: luvas, máscara, gorro, botas, jaleco e avental, que devem
também ser utilizados na área suja.
As roupas são colocadas em sacos plásticos, mas esses não possuem cores diferentes (são
todos da cor preta), como forma de identificar a unidade de procedência, no momento da
separação das roupas. Os sacos plásticos também não são identificados com o nome da
unidade e com a data da coleta e, em alguns momentos, não são encontrados devidamente
vedados, como recomenda o Ministério da Saúde (1986). As roupas são transportadas em um
carrinho específico para a roupa suja e deixadas na área suja da lavanderia.
b) Etapas de recebimento e separação
Não existe, nessa lavanderia, um espaço reservado para a recepção da roupa suja, onde essa
possa ser retirada do carrinho, separada e pesada. Isso é feito num espaço único. Lembrando
que também não é realizada a pesagem da roupa suja, pois não existe balança no local. Logo,
não se tem a identificação da quantidade de roupas separadas, em formulários específicos,
para controle de custos.
No momento da separação, as roupas são organizadas em lotes específicos de cores e
sujidades diferentes. As empregadas seguem a orientação de abrir as roupas para verificar se
existem materiais cirúrgicos ou instrumentos cortantes, que causem algum tipo de acidente ou
danos aos equipamentos, como é recomendado pelo Ministério da Saúde (1986).
c) Etapa de lavagem
Em geral, antes do processo de lavagem, após a separação e identificação das roupas em lotes,
esses são pesados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1986). Esse processo não existe nessa
lavanderia. Com isso, após a separação das roupas, parte-se logo para a lavagem, realizada
sob duas formas distintas: a lavagem leve e a lavagem pesada.
Ao final dessas etapas, deve-se lavar e desinfectar toda a área suja e o empregado responsável
por essa área não pode passar para a área limpa sem tomar banho no chuveiro (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 1986). Nessa lavanderia, verificou-se que isso não acontece. A desinfecção é
realizada uma vez por semana e a empregada responsável pela área suja transita livremente de
uma área para a outra sem qualquer tipo de preocupação (figuras 6 e 7).
Figura 6: Empregada na área suja Figura
Figura 7: Empregada da área suja na área limpa
5.3.2 Área Limpa
Na área limpa, as etapas de processamento das roupas podem ser ilustradas como na figura 8.
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Centrifugagem, secagem e calandragem
Distribuição das roupas limpas
Figura 8: Etapas da produção na área suja
a) Centrifugagem, secagem e calandragem
Logo após a retirada das roupas da lavadora, elas são colocadas na centrífuga, responsável por
eliminar até 60% da água no tecido. Em geral, após a centrifugagem, coloca-se as roupas na
secadora, para eliminar totalmente a água e passar para o processo de calandragem
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1986). No entanto, verificou-se que nessa lavanderia, esse
processo de secagem não é utilizado. De maneira inadequada e perigosa, devido ao processo
de contaminação que pode existir, as roupas são estendidas em varais, numa área aberta, em
frente a lavanderia. E, em determinados momentos, as roupas podem ser encontradas no chão,
onde são apanhadas e seguem direto para a calandra, responsável por passar as roupas limpas
(figuras 9 e 10).
Figuras 9 e 10: Processo de secagem das roupas
b) Etapa de distribuição das roupas limpas
A lavanderia tem a função de deixar na rouparia, de segunda a sexta-feira, as roupas limpas.
Nos finais de semana, a rouparia é fechada e as empregadas da lavanderia entregam as roupas
nas unidades do hospital.
Por ficar responsável pela guarda de roupa nos finais de semana, verificou-se que não existe
local apropriado para acondicioná-las, antes da entrega. Não existe a ordem e nem o material
disponível para colocar as roupas em sacos plásticos, por isso não é possível deixá-las em
prateleiras da estante na área limpa (figura 11), então improvisa-se um espaço dentro da
secadora (figura 12).
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Figura 11: Prateleiras disponíveis na área limpa
Figura 12: Roupas limpas dentro da secadora
6. Conclusão
A lavanderia hospitalar do hospital analisado apresenta sérios problemas na execução das suas
atividades. Um deles refere-se ao seu principal objetivo, que é a higienização das roupas a
serem utilizadas pelos profissionais de saúde e seus pacientes. Vê-se que não existe um
rigoroso cuidado quanto à contaminação das roupas, já que as empregadas circulam da área
suja para a área limpa sem realizarem nenhum processo de desinfecção, além disso, as portas
das diferentes áreas são mantidas (o tempo todo) abertas e o método de secagem da roupa é
bastante inadequado.
Quanto à execução dos serviços pela empresa terceirizada, constata-se que essa não tem
nenhuma preocupação em trabalhar com profissionais qualificados, treinados e de acordo com
a legislação vigente, que sugere a supervisão direta, o planejamento das atividades, a
utilização de manuais e a comunicação de procedimentos apropriados para consecução dos
objetivos ao longo do tempo.
A direção do hospital apresenta-se de forma negligente ao não controlar como as tarefas são
executadas, por não tomar providências quanto à falta de equipamentos e materiais na
lavanderia, por não exigir o treinamento dos empregados e o cumprimento de uma série de
fatores que são previstos pelas autoridades sanitárias.
Sabe-se que a falta de investimento nesse setor, no sentido de ampliar o espaço físico
disponível, de melhorar a forma como as atividades são desempenhadas, de manter uma
comunicação mais direta com a empresa terceirizada, exigindo o cumprimento de seu dever,
de maneira eficaz, pode ocasionar uma série de transtornos para o hospital, desde a entrega de
roupas fora dos padrões exigidos pelas agências reguladoras da saúde até a infecção de
pacientes e gastos ainda maiores de dinheiro público. Isso mancharia bastante a imagem do
hospital e impossibilitaria o atendimento adequado de muitos pacientes que só tem a ele para
recorrer.
Referências
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