ILUSÃO E REALIDADE NO NEGÓCIO DO TURISMO
André Jordan
Nunca o turismo, nas suas várias vertentes, foi tão importante para a
economia e o emprego em Portugal como agora.
É por isso que o turismo, depois de muitas décadas, ocupa o interesse da
opinião pública, bem como das autoridades nacionais.
No entanto, a falta de uma estratégia clara seja da parte do sector público
ou seja do sector privado, fragiliza a aparente recuperação.
Nesse sentido chamo a atenção para o artigo do Simon Kuper, publicado
no Financial Times (anexo I). O autor é um dos mais influentes
comentaristas de temas sobre a sociedade moderna.
Não há discussão sobre a constatação de que tanto a receita como o
número de turistas aumentaram substancialmente por conta do “very low
cost”, segmento no qual em termos de custo para o utente estamos em
primeiro lugar na Europa
Quanto aos outros segmentos, tem havido uma ligeira melhoria, no
entanto, continuamos com um nível abaixo de 50% de ocupação anual e
com preços que na grande maioria dos casos não alcançam o break even
(anexo II).
Venho citar algumas informações sobre a realização de eventos que
demonstram a capacidade de contrariar a sazonalidade.
Assinei em 1997 o contrato, na qualidade de presidente da Lusotur, com o
Eng. António Moura, para a realização do torneio hípico Vilamoura
Atlantic Tour. O artigo assinado por Idálio Revez, no Jornal Público, do dia
17 de Fevereiro, descreve o evento (anexo III).
Durante um mês mil cavalos utilizados no evento são montados por
aproximadamente 300 cavaleiros e cavaleiras, vindos principalmente do
norte da Europa e de outros continentes e são acompanhados por um
elenco de mais ou menos 1500 pessoas que prestam serviços relacionados
com os cavalos.
São realizadas provas diárias. O factor motivador para esta realização no
sul da Europa é o clima, que permite o treinamento intensivo de cavalos e
cavaleiros em pleno inverno, o que frequentemente é impossível a norte.
As consequências económicas são extraordinárias. Essa pequena multidão
ocupa hotéis, apartamentos e moradias em Vilamoura, os restaurantes e
bares ficam cheios e as boutiques vendem mais durante esse mês do que
em pleno Agosto, pelo facto de que grande parte do pessoal que trata dos
cavalos são jovens mulheres pertencentes a famílias abastadas.
Este acontecimento não recebe apoio financeiro oficial.
Sou obrigado a discordar do meu amigo Desidério Silva, presidente do
Turismo do Algarve, quanto à reclamação da comparação que faz do apoio
que é concedido pelo Turismo de Portugal ao Portugal Masters.
Também como presidente da Lusotur negociei com a PGA European Tour
e o Turismo de Portugal, a criação do Portugal Masters.
A diferença entre o Atlantic Tour Hípico e o Portugal Masters de golfe é a
importante exposição televisiva que atinge durante 4 dias milhões de
espectadores em todo mundo, na sua maior parte praticantes de golfe.
A diferença do golfe em relação a qualquer outro desporto é a sua
duração e a possibilidade de exibir a paisagem e o clima do destino.
O golfe turístico na Península Ibérica ganhou força comercial através da
introdução de uma política comercial e promocional agressiva, iniciada
pela nossa gestão da Quinta do Lago a partir de 1982.
Antes o golfe era, em todo mundo visto como um apoio a fundo perdido, a
hotelaria e a promoção imobiliária.
Actualmente, o golfe produz no Algarve 350 mil ocupação de camas e um
rendimento global de aproximadamente 400 milhões de euros. O
investimento de golfistas na propriedade de residências no Algarve é à
volta de 4 mil milhões de euros. Daí justificar-se o investimento na
realização de eventos que necessitam de prize money elevados para atrair
a participação dos melhores profissionais.
Quando assumimos a gestão de Vilamoura em 1996, a Marina de
Vilamoura era a única existente no Algarve. Naquele momento a sua
reputação era tão pobre que poucas semanas depois da nossa chegada,
nos deparámos com a publicação numa das principais revistas de
yatchismo britânicas com o título AVOID VILAMOURA.
A má qualidade geral e a burocracia para ingressar do estrangeiro,
geraram esta reacção. Efectivamente, a Marina de Vilamoura como porto
de entrada em Portugal, tinha o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a
Guarda Fiscal e a Alfândega. O processo burocrático para a admissão no
interior da marina podia demorar até um dia inteiro.
Convidámos para presidir a empresa Marina de Vilamoura SA, o Eng.
António Vasco de Mello, velho lobo do mar e cuja vasta experiência
empresarial incluiu a presidência da CIP.
Entregámos a gestão operacional ao Constantino Jordan, apoiado pela
funcionária Isolete Correia, que é actualmente directora da Marina.
O problema burocrático reduziu a 15 minutos o processo de admissão, a
marina sofreu imensas melhorias, o que veio resultar em repetidos
prémios, dos quais o mais recente é o de “Melhor Marina Internacional”,
atribuído pela votação das embarcações que no ano de 2014 visitaram as
marinas que tem classificação máxima de 5 Âncoras (anexo IV).
Chamo a atenção para a importância da etapa em Lisboa da Volvo Ocean
Race, a mais importante prova náutica mundial. A presença em Lisboa não
só de um grande número de pessoas envolvidas com o evento, como o
facto de o Volvo Ocean Race ser acompanhado por televisões de todo
mundo ao longo de todo o seu percurso (Anexo V).
A Câmara Municipal de Lisboa identificou o interesse para a cidade deste
evento, como também foi mobilizado o patrocínio da empresa Urbanos,
especializada em transportes, que viu com claro interesse em vincular o
seu nome, como empresa em ascensão, à fama e ao prestígio desse
evento.
Ainda cabe notar as exposições de arte de alto nível, em Lisboa pela
empresa promotora de espectáculos Everything is New, de Alvaro Covões,
Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda, grandes artistas do Prado no
Museu de Arte Antiga e presentemente a colecção do mítico editor de
arte Franco Maria Ricci, também no MNAA.
O sucesso dessas exposições mostra que temos um público estrangeiro e
local com melhor cultura e meios financeiros.
Cito todos esses exemplos para demonstrar a necessidade de
mobilizarmos as forças em presença para criarmos eventos e actividades
desportivas, culturais, empresariais e outras que atrairão para Portugal
segmentos de mercados afluentes, cuja frequência permita ocupar e
valorizar o excelente equipamento hoteleiro construído, bem como as
atracções históricas, culturais e gastronómicas que são cada vez mais
reconhecidas pela sua qualidade.
O investimento em promoções e eventos regulares, quando bem
concebidos e implementados, vem a ser muito rentável quando repartido
pelos diferentes participantes do processo.
As organizações empresariais e as autoridades públicas, nacionais e
regionais não podem perder a janela de oportunidade que aparece neste
momento para Portugal no turismo. Temos tido cobertura de imprensa
simpática, apesar de um volume ainda reduzido nas publicações que
interessam e aparecemos bem votados em listas dos melhores em várias
categorias, apesar de nem todos esses concursos serem credíveis.
Chegou a hora de agarrar o touro pelo chifre e não perder a oportunidade.
20.Fev.2015
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