Livro de
actas do
XI Congresso Nacional de Engenharia do Ambiente
Certificação Ambiental e Responsabilização Social nas Organizações
20 e 21 de Maio de 2011
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Campo Grande, 376
Lisboa
Organização
20 e 21 de Maio de 2011
ULHT, Lisboa,
Francisco Ferreira (FCT, UNL); Ana Rita Antunes; Laura Carvalho; Ana Dias; Sara Guerreiro; João
Concha; Nídia Costa (Quercus – ANCN)
R. Santo António da Glória, nº 6D, 1250-217 Lisboa, tel: 213462210
Email: [email protected]
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Artigo apresentado no XI CNEA – Congresso Nacional de Engenharia do Ambiente, subordinado ao tema
“Certificação Ambiental e Responsabilização Social nas Organizações”, que decorreu na Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologia (Lisboa), nos dias 20 e 21 de Maio de 2011.
Citação:
Ferreira, F.; Antunes, A.; Carvalho, L.; Dias, A.; Guerreiro, S.; Concha, J. e Costa, N. (2011). Ecofamílias II:
Promoção da Eficiência Energética nas Habitações. XI CNEA – Congresso Nacional de Engenharia
do Ambiente. Lisboa.
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SUMÁRIO
O projecto EcoFamílias II tem como objectivo a sensibilização dos cidadãos para as questões ligadas
ao consumo de energia no sector doméstico, nomeadamente para a redução e racionalização deste
consumo, actuando ao nível dos equipamentos e dos aspectos construtivos. Foram visitadas 1000
famílias espalhadas por todo o território do continente entre Novembro de 2009 e Março de 2011,
apresentando-se aqui uma análise provisória das famílias visitadas entre Novembro de 2009 e Julho
de 2010, num total de 428 famílias.
Da análise efectuada verifica-se já existirem, por parte das famílias, preocupações em anular os
consumos de standby e off-mode e na escolha de iluminação eficiente. No entanto existe ainda um
potencial de poupança significativo associado, não só a estes dois níveis, mas também à substituição
de electrodomésticos e à utilização de tecnologias de energias renováveis.
Na construção o potencial de poupança existente está relacionado com a climatização, isolamento e
vãos envidraçados.
PALAVRAS-CHAVE: Eficiência Energética, Equipamentos, Construção, Sector doméstico.
.
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INTRODUÇÃO
O projecto EcoFamílias II tem como objectivo a sensibilização dos cidadãos para as questões ligadas ao
consumo de energia no sector doméstico, nomeadamente para a redução e racionalização deste consumo,
dando continuidade à medida EcoFamílias aprovada e desenvolvida no PPEC de 2007. Através da actuação
directa nas habitações das famílias portuguesas (1000 famílias, residentes em Portugal Continental), a
medida pretende:

Delinear planos de gestão de procura para as famílias e promover a sua implementação;

Promover a eficiência e a redução do consumo energético no sector doméstico, através do
aconselhamento directo e personalizado;

Sensibilizar os cidadãos para os aspectos construtivos das habitações, que tem consequências
directas nos consumos eléctricos em climatização.
As visitas foram realizadas entre Novembro de 2009 e Março de 2011 mas os resultados apresentados
correspondem à análise dos dados de 428 famílias, visitadas entre Novembro de 2009 e Julho de 2010, nas
áreas de anulação de standby e off-mode, iluminação, substituição de grandes equipamentos (categoria das
máquinas de lavar e equipamentos de frio), instalação de painéis solares térmicos para o aquecimento das
águas sanitárias (AQS) e conforto higrotérmico.
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METODOLOGIA
As famílias receberam a visita de dois técnicos, um para a área dos equipamentos e outro para a área da
construção, que realizaram o levantamento dos hábitos de utilização de energia da família e das
características construtivas da habitação. Durante a visita foram também realizadas medições de consumo
dos equipamentos eléctricos nos seus diferentes modos de funcionamento: ligado, em standby e em offmode.
Nas visitas as famílias receberam material e informação para poderem actual desde logo para melhorar a
eficiência energética da sua habitação, nomeadamente:

Uma multitomada com corte de corrente;

Uma ficha de recomendação geral da área da energia;

Uma ficha de recomendação geral da área da construção.
As fichas apresentam um conjunto de conselhos que visam a poupança energética e encontram-se divididas
nas seguintes componentes:

Energia: Standby e off-mode, Iluminação, Grandes equipamentos, Pequenos electrodomésticos
de cozinha, Equipamentos de frio, Outras informações.

Construção: Procedimentos a seguir no Verão, Procedimentos a seguir no Inverno, Cor, Outras
recomendações, Espaços verdes, Links de interesse.
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CARACTERIZAÇÃO
As famílias visitadas no período em análise têm as seguintes caracteristicas:

85% do agregado familiar é composto por 2 a 4 pessoas (

Figura 1);
7%
2% 0,5% 5%
1 elemento
2 elementos
27%
3 elementos
4 elementos
27%
5 elementos
6 elementos
7 elementos
31%
Figura 1 – Nº elementos do agregado familiar

A maioria das casas visitadas (57%) são apartamentos;

91% de todas as casas são de propriedade de que as habita;

A tipologia de casa mais visitada foi a T3, com 37% (Figura 2).
7%
7
3% 0% 3%
27%
T0
T1
T2
23%
T3
T4
T5
>T5
37%
Figura 2 – Tipologia das casas visitadas
Foi efectuada a medição dos consumos dos equipamentos das famílias, sempre que possível, nas suas
modalidades de standby e em off-mode. Estas medições permitem avaliar a poupança que as famílias já
obtêm, por não deixar os equipamentos nestas modalidades, e a poupança potencial, que poderiam obter se
alterassem os seus comportamentos.
Os equipamentos de entretenimento e informática que normalmente as famílias deixam na modalidade de
standby (quando o aparelho está a consumir energia, sem desempenhar a sua função, e com indicação de
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consumo) são indicados na Tabela I, juntamente com os valores máximos e mínimos, desse consumo,
encontrados.
Equipamento
Standby máximo
Standby mínimo
Powerbox
32
10
TV (CRT e Plasma)
30
4
Modem
17
1
Rooter
15
1,5
Disco externo
10
1
Multifunções
14
3
Tabela I – Valores máximos e mínimos de standby
Os equipamentos de de entretenimento e informática que normalmente as famílias deixam na modalidade de
off-mode (quando o aparelho está a consumir energia, sem desempenhar a sua função e sem indicação de
consumo) são indicados na Tabela II, juntamente com os valores máximos e mínimos, desse consumo,
8
encontrados.
Equipamento
Off-mode máximo
Off-mode mínimo
Multifunções
10
2
Disco externo
8
0,3
Torre
7
2
TV (CRT e Plasma)
6
0,3
Tabela II – Valores máximos e mínimos de off-mode
Os pequenos electrodomésticos de cozinha que normalmente as famílias deixam na modalidade de standby
são indicados na Tabela III, juntamente com os valores máximos e mínimos, desse consumo, encontrados.
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Equipamento
Standby máximo
Standby mínimo
Microondas
5
1,5
Máquina de café
8
0,4
Tabela III – Valores máximos e mínimos de standby
A evolução tecnológica ocorrida nos últimos anos e os regulamentos comunitários aplicados ao sector da
iluminação reflectem-se na tipologia de lâmpadas encontradas em casa das famílias (Figura 3). A
predominância de lâmpadas incandescentes foi largamente substituída pelas lâmpadas fluorescentes
compactas (cerca 41%). A quantidade de LED’s é ainda pouco expressiva (1,4%) mas é evidente a vontade
das famílias em adquirir e usar este novo tipo de tecnologia, muito embora as potências disponíveis e os
preços aplicados sejam ainda obstáculos à sua implementação generalizada.
8,3%
1,4%1,1%0,2%
Lâmpada fluorescente compacta
Lâmpada Incandescente
40,6%
21,1%
Lâmpada de halogéneo
9
Lâmpada fluorescente tubular
LED
Lâmpada fluorescente circular
27,2%
Outro
Figura 3 – Tipologias de lâmpadas encontradas nas habitações
No caso dos grandes electrodomésticos mais antigos ou quando havia queixas, por parte da família, foi
deixado, sempre que possível, um energy check para medir os consumos energéticos do equipamento. Esse
aparelho foi recolhido mais tarde e os dados foram analisados de forma a avaliar a viabilidade econónica, em
10 anos, da sua substituição por outro mais eficiente.
Foi também avaliada a possibilidade de aplicação de painéis solar térmicos para a obtenção de águas
quentes sanitárias (AQS) para vivendas e apartamentos do penúltimo e último andar. Das famílias que
cumpriam estes requisitos, 47% teria vantagens em implementar um sistema solar térmico, com retorno de
investimento menor ou igual a 10 anos. No entanto essa recomendação foi sempre acautelada aconselhando
a consulta de uma empresa especializada, no sector, para avaliar mais detalhadamente a viabilidade da
situação.
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Na construção verifica-se que os edifícios são maioritariamente recentes, posteriores ao primeiro
Regulamento das Caracteristicas de Comportamento Térmico dos Edifícios.
Identificou-se também uma distribuição equilibrada entre as várias orientações, com uma ligeira
predominância entre Este e Oeste (Figura 4). É preocupante que a orientação Norte tenha tanta expressão
(14%), uma vez que, é uma orientação onde se perde muita energia, com maior humidade e praticamente
não recebe radiação solar directa ao longo do ano.
7%
14%
N
15%
NE
13%
E
SE
S
13%
SO
15%
O
13%
10%
10
Figura 4 – Orientação geográficas das casas
Ao nível da eficiência dos elementos construtivos é mais frequente (mais de 75% dos casos) encontrar vãos
e elementos de sombreamento eficientes (vidro duplo e caixilharia eficiente/ sombreamento exterior) do que
elementos opacos (menos de 45% da construção eficientes – paredes exteriores e coberturas bem isoladas
termicamente (Figura 5).
Este facto pode dever-se aos montantes envolvidos para fazer estas intervenções na habitação – apesar do
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valor por m ser mais elevado para a substituição de vãos, por corresponder a uma menor área, esta traduzse numa despesa inferior do que isolar paredes e coberturas.
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100%
90%
80%
70%
60%
50%
NÃO EFICIENTES
40%
EFICIENTES
30%
20%
10%
0%
Paredes
Cobertura
Vãos
Sombreamento
Figura 5 – Eficiência dos elementos construtivos
Cerca de 30% das habitações, consideradas nesta análise, apresenta patologias. Predominam os fungos e
bolores (Figura 6) e, regra geral, estes têm origem na insuficiente ventilação das habitações, podendo
também ter origem em situações construtivas mais sérias.
11
100%
90%
80%
70%
60%
50%
NÃO
40%
SIM
30%
20%
10%
0%
condensações
fungos/ bolores
fissuras
outros
Figura 6 – Patologias encontradas nas casas
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RESULTADOS
No levantamento efectuado, durante as visitas nas casas das famílias, foram também identificados e
quantificados, sempre que possível, os bons comportamentos já adoptados pelas famílias, antes do projecto.
Verificou-se que as famílias, em média, já efectuavam uma poupança de 390 kWh/ano, com os hábitos de
anulação dos consumos standby e off-mode e com a utilização de iluminação energeticamente mais eficiente
(Tabela IV).
Componente
kWh/ano
€/ano
kg CO2/ano
Standby e off-mode
126
17
19
Iluminação
264
35
90
TOTAL
390
52
109
Tabela IV – Poupança média já efectuada, por família
Para além da poupança já efectuada, nestas áreas, foi ainda identificado um potencial de poupança de
271 kWh/ano (Tabela V). O potencial de redução de consumos obtido pela substituição de máquinas de lavar
e de equipamentos de frio bem na instalação de dos painéis solar térmicos, nas famílias em que era
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economicamente viável a sua substituição ou implementação, corresponde a 2.920 kWh/ano.
Componente
kWh/ano
€/ano
kg CO2/ano
Standby e off-mode
190
28
65
Iluminação
81
11
27
TOTAL
271
39
92
Máquinas de lavar e equipamentos
1.108
149
377
1.812
244
616
de frio*
AQS*
* média das famílias em que era economicamente viável a substituição ou implementação
Tabela V – Poupança potencial média, por família
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Na Figura 7 verifica-se que a poupança potencial relativa à anulação de standby e off-mode está
predominantemente relacionada com os equipamentos de entretenimento (72%).
4% 1%
Entretenimento
23%
Informática
Peq. electrodomésticos cozinha
72%
Outros
Figura 7 – Poupança potencial associada à anulação de standby e off-mode
Ao nível da construção, verificou-se que as famílias poderiam diminuir o seu consumo na climatização se
intervierem, essencialmente, na envolvente construtiva opaca (principalmente nas paredes exteriores e
coberturas). Na maioria dos casos a poupança potencial das intervenções na envolvente construtiva opaca
situa-se entre os 10 e os 25%, enquanto nos vãos e sombreamento esse potencial reduz-se a 10% (Figura
8).
100%
90%
80%
70%
≥ 90 (%)
60%
65 < 90 (%)
50%
40 < 65 (%)
40%
25 < 40 (%)
10 < 25 (%)
30%
< 10 (%)
20%
10%
0%
parede/ cobertura
vãos/ sombreamento
Figura 8 – Potencial de poupança em climatização
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Ecofamílias II: Promoção da Eficiência Energética nas Habitações