"O fim dos antibióticos
seria uma catástrofe"
Médico patologista, professor e investigador de Microbiologia
de Santa Maria, chefia a equipa que isolou a primeira
estirpe aparecida na Europa de estafilococos aureus resistente à
vancomicina. A par da ópera, as bactérias são a sua devoção. Diz
que não devemos ter medo delas, antes tratá-las com respeito
no Hospital
POR CLARA FERREIRA ALVES
FOTOGRAFIAS
DE RUI OCHOA
E médiCO,
clíni-
patologista
de Me-
na Faculdade
co, professor
dicina de Lisboa e cientista, investigador na área da Microbiologia.
No 4 a ano do curso foi contratado
como monilor e começou aí a carreira académica até ao doutora-
mento
e à investigação
nua a fazer
cet",
o
e a
científico,
jornal
Cristino
publicar.
que contiNo "Lan-
Melo
José
com outros mé-
publicou,
uma desco
dicos c investigadores,
berla científica.
A equipa isolou a
primeira estirpe aparecida na Europa de MRSA resistente à vancomicina. O MRSA é uma bactéria virulenta,
aos media
que já chegou
anglo-saxónicos
cado ataques
que tem provode pânico c muitas
e
mortes nos Estados Unidos. Portugal tem uma taxa elevada de MRSA. E o problema
re-
das infeções
sistentes aos antibióticos
é
um dos
grandes problemas
de saúde públi-
ca do novo milénio.
A União Euro
peia decretou um verdadeiro
do de alerta.
Não almoçámos.
no mostrou-me
o
esla-
Melo Cristi-
laboratório
de
Patologia Clínica do Hospital de
Santa Maria, um lugar de ficção
científica onde os computadores
trabalham ao lado dos seres numa
nos no processamento
e análise
de
dados. No seu gabinete da Faculdade de Medicina, trabalha rodeado
por cartazes das óperas que viu e
perseguiu pelo mundo inteiro. É
um devoto da ópera, de Verdi a
estão ou por efeito
frequente, é a mutação, e o outro,
mais frequente, c a aquisição de
uma praga nos Estados Unidos.
Ainda não chegámos ao fim dos
material
trata-
reus
agentes de infeção
desses
as bactérias.
é
no conforta
isolados
que a Medicina,
rias, adapta-se
do-nos
de
tal como as baclée sobrevive,
fazen-
sobreviver.
au-
Num mundo
veis aos antimicrobianos.
ideal, as bactérias
bióticos
são
O eslafilococos
uma delas.
das com respeito.
Muito do que
aqui diz parece um filme de terror
e é mu filme de terror. Melo Cristi-
com a ideia
seriam
suscetíOs
anti-
que foram
da natureza ou sintetiza
fármacos
são
dos para combaterem
A descoberta
as bactérias.
do antibiótico
maior descoberta
foi a
da medicina
vidas.
palavras: infeção por bactéria
resistente a antibiótico, MRSA
Há dois avanços enormes no secu
à vancomicina?
na área das infecciosas,
Io passado
os antibióticos
e
também
terias mas não só, podem serviras,
protozoários, ete, causam um efei-
UNESCO considere
to adverso
no corpo no local onde
já vinha
a vacinação, que
de trás. I lá um
Vamos por partes. Infeção é a situabac
ção cm que microrganismos,
movimento
Património
médico
os
para que
antibióticos
da Humanidade.
Não chegámos
ao fim da era do
e a MRSA, em
pela sua perigosidade
está a tornar -se
e manifestações,
a antibióticos,
antibióticos.
Seria uma catástrofe.
As bactérias
têm uma capacidade
muito maior do que
de adaptação
humano.
o ser
Trocam
informa
a
genélico de outra bactéria que já tem um mecanismo de
resistência
de
num bocadinho
ADN que pode ser um plasmídeo,
um transposão,
cromossoma.
dentro ou fora do
E a suscctívcl
passa
ção genética entre si com facilida-
a resistente. Isto não aconlece siste-
de e têm uma velocidade
maticamente,
incrível.
O que é trocar informação
do século XX? Salvou milhões de
Devemos ter muito medo destas
resistente
resistências, e esse é o
problema mundial. A resistência
tem dois mecanismos: um, menos
particular
do microrganismo.
resistentes
adquirindo
po à virulência
Um
nos
São cada vez mais
os casos de bactérias
Wagner. As bactérias são outra devoção. Acha que, em vez de termos medo delas, devemos
antibiótico?
de substâncias
que produzem. A manifestação clínica da infeção é a resposta do cor-
genéti-
acontece
esporadi-
camente. Felizmente, o nosso siste-
ca? Se
tiver um estreptococos e
um estafilococos, eles trocam
informação entre si e aumentam
ma imunobiológico
consegue erradicar a maior parte das bactérias.
a resistência?
não é de doença. O MRSA é um es-
No caso do estreptococos
e do estafilococos, isso está bem documen-
tafilococos
tado.
Noutras
bactérias
é
menos
frequente. As bactérias são inicial
mente naijs, suscetíveis a antibióticos, não os
conhecem.
Depois, vão
O nosso estado normal
c de saúde,
aureus resistente à me-
Estima-se que cerca de 30
40% das pessoas o tenham no na-
ticilina.
a
riz sem saberem.
O que é que isso significa
para
essa pessoa? Para a comunida-
0 primeiro grande antiPrémio Nobel do I'leming,
O MRSA tornou-se
meticilina.
nos Estados Unidos,
biótico,
mo problema
ria chegou aos jornais, do "NY
Times" aos tabloides. O MRSA
foi
um pesadelo
um gravísside saúde, e a histe-
está a matar, na comunidade,
a
penicilina.
meiro com grande impado. Foi iso
lado a partir de um fungo, um con
jovens, atletas
etc. 19 mil pessoas,
segundo os últimos números,
morreram num ano com a infe-
taminante.
ção, mas há quem lute com as
va a penicilina.
reinfeções a vida toda, e os
relatos são aterradores. Na
do século
pessoas
saudáveis,
de futebol,
Tecnicamente,
não será bem assim, mas c o pri
Rapidamente, o estafiaureus passou a ser resistente à penicilina. Porque recebeu
lococos
plasmídeos,
macêutica
um gene que inativaNa década de 60
passado, a indústria
desenvolveu
far-
um outro
"Vogue" americana, onde estas
coisas não costumam aparecer,
uma mulher rica de Manhattan,
grupo de antibióticos representados pela meticilina.
A meticilina
saudável, cuidadosa,
porque é tóxica. Este grupo foi desenvolvido por causa dos estafilo-
desportista,
apanhou uma infeção que a ia
matando e relata o horror. O que
éisto?
Qualquer infeção grave é assustadora. É verdade que o MRSA ganhou uma visibilidade grande, até
nas
séries
de
televisão.
No "Dr.
quando há uma bactéria
esquisita, c o MRSA. O estafiloco
cos aureus é uma bactéria que -vi-
House",
ve intimamente
o
homem
e que
relacionada
com
em muitos
casos
Vive para lá de
nós. Se morrermos, continuam cá.
Inicialmente, não era resistente à
provoca
infeções.
não se usa na terapêutica
humana
cocos resistentes
taxa de MRSA, toma precauções
extremas, isola e trata, descolonizando o nariz da família de uma
pessoa infetada, além de condicionar
o uso de
A Noruega tem condições para o
fazer. O consumo de antibióticos é
muito menor nos países da Europa
do Norte c aumenta quando se
vem para sul. Em Portugal, a Dirc
ção-Geral de Saúde está bastante
empenhada em estabelecer orien-
mucosas, sobretudo
tivo.
O MRSA
uma
causar
pode
grande perturbação ao hospedeiro. Na maioria das vezes, quando
entram na circulação, sãn destruídas pelo sistema
imunitário
nos in-
saudáveis. Há estudos fei-
divíduos
tos, por exemplo
tratamento
que entram
circulação
ao longo
dentário,
muitas
de
um
em que se vê
bactérias na
do sangue.
E a
maior
parte das pessoas não fica doente.
Os imunodefi cientes são mais suscetíveis.
Os mais jovens,
as
crian-
que têm imunoseestão mais em perigo. O
ças e os idosos,
nescência,
facto de ter o estafilococos
no na-
riz não quer dizer que essa pessoa
venha a ter uma infeção associada
aos cuidados
de saúde.
e
tações terapêuticas
normas para
chama nntibiotic
ste-
que produziam a
enzima que se chama beta lacta
masc c estão modificados de mo
o que agora se
do a que a enzima não funcione. A
beta lactamase não consegue destruir a meticilina e quando foi sin-
Só cerca de
tetizada, na década de 70, pensou-se que o problema estava resolvi-
Nesse tempo, não havia net nem
do. Uns anos depois
as tais
apareceram
de MRSA. Um ou
estirpes
outro caso surgiu logo a seguir ao
da meticilina,
veio
lançamento
uma noticiazinha
no "Lancet".
A Noruega, que tem a mais baixa
wordship. Voltando
ao MRSA, quando apareceu, foram casos isolados.
20 anos depois come-
çaram a aparecer surtos hospitalares em vários países.
a informação circulava com
velocidade. Como é que trocavam informação, experiências?
As pessoas publicavam
periências.
Hoje,
o
as suas ex-
mundo
é outro.
primeiros casos de MRSA em
Portugal também foram publica
dos por mini. Em 1980 c pouco. Ti
Os
um paper, mandávamos
para uma revista e depois recebíamos um postal a dizer que o artigo
era publicado. Ia por carta, datilo-
de? Para o meio hospitalar?
Para essa pessoa, muito pouco.
Nós temos todos muitos milhões
na pele, nas
no tubo diges-
O
Portugal tem uma taxa elevadíssima de infeção. E ninguém fala
no assunto.
nhamos
de microrganismos,
antibióticos.
protocolo é rígido e seguido à
letra. Na Alemanha também.
igual. Mas
hoje muito mais rápido.
Perguntei porque podia haver
peer review
Estima-se que cerca
de 30 a 40% das pessoas
tenham o estafilococos
aureus no nariz sem
saberem. (...) Na maioria
das vezes são destruídos
pelo sistema imunitário
dos indivíduos saudáveis
terum erro. A
e não podia
grafado,
tempo
muitos
é que
é
o
é
mais casos de MRSA que
e não
não estavam identificados
eram conhecidos.
Esta bactéria
é
relativamente
fácil de identificar.
As pessoas sabem do que estão a falar e não é
uma raridade. Exige expertise, claro. O circuito
de informação c que
Eu era bastante jovem
na altura, a minha tese de doutoramento foi sobre estafilococos, e esé
diferente.
ses surtos eram hospitalares.
há 10 anos, era uma marca
uma bactéria de uma infeção
quirida no hospital. Não existia
comunidade.
Até
de
adna
Quando as pessoas
iam para a comunidade vindas do
hospital, se a bactéria não tivesse
sido erradicada
pelos antibióticos,
esse MRSA entrava
em competi-
ção com as nutras bactérias
e, sem
a pressão seletiva dos antibióticos,
deixava de ser viável. Também es
Ludei isso. As outras baclérias esla-
vam mais
a palavra
adaptadas,
agora é fitness, à vida no nosso core
po sem a ajuda dos antibióticos,
MRSA desaparecia.
podiam ir colonizadas
As pessoas
o
MRSA desaparecia.
com crianças
no nariz e o
Fiz um estudo
no Hospital
D. Este-
nos vezes as mãos. Não lhe sei ex-
poucos casos descritos.
plicar porquê. As bactérias não se
vêem. E devemos ter respeito, pa-
são 14 ou 15.
muitíssimos
migo e temos de saber usá-las. Os
MRSA iniciais, anos 70 e 80, eram
resistentes a quase todos os anti-
relatos dos doentes.
bióticos,
e depois isso
a vancomicina.
evoluiu. Um,
foi recuperado
por
causa do MRSA. Repare que os antibióticos têm menos de 100 anos,
é
tudo recente. Até 2002, não ha-
via resistência
à
duas primeiras
resistências
por MRSA. Os miúdos que
sobreviviam
tinham alta e leva-
comicina
vam
o
MRSA no nariz. Nas sema
nas ou meses a seguir, ia visitar
os
para os seguir e fazer colheitas de 15 em 15 dias. Vimos que
o MRSA desaparecia. E ficavam co-
miúdos
lonizadas por estafilococos aureus
suscetíveis à meticilina. O MRSA
não existia na comunidade.
E não
reaparecia.
O número de infetados
vancomicina.
As
à van-
fórum de MRSA na net e ler os
Confirmados.
Ou será que estão mais imunizados do que nós, sem obsessão da
assepsia, sem antibioterapia
antibióticos
como os EUA, que têm valores próximos dos de Portugal, usavam
muita
vancomicina.
mais protegidos?
estarão. Mas os países
têm
em vias de desenvolvimento
Se calhar,
resistência
micina é perigosa e intravenosa.
Possivelmente. E um antibiótico injetável e tem de se estar hospitali-
usam antibióticos
recente, é um problema novo.
O número varia de país para país.
Os americanos, li esse número, ti-
so
Tem toxicidade, mas não é
Todos os medicamen-
sistemática.
tos
têm efeitos colaterais.
£ preci-
tratar a infeção grave. O que me
surpreendeu foi ter demorado tanto tempo a aparecer e haver tão
ao
antibiótico.
Mais do que os desenvolvidos.
Há
antibióticos
e eles
contrafeitos,
usam
zado.
ou
no ambiente, e
E não foi por causa disso que o
MRSA ficou resistente? A vanco-
era muito
inferior ao atual. A literatura
científica sobre MRSA é muito
a falar do
África? América do Sul? Ásia?
portanto
a
Estamos
mundo que publica em revistas científicas idóneas, com peer review.
E o mundo subdesenvolvido?
surgem nos EUA. Em estados diferentes. Em países que tinham muitas infeções por MRSA,
muito
mas há
mais. Basta ir a um
ra não dizer medo. pelas bactérias.
Temos armas para enfrentar o ini-
fânia, crianças de uma unidade de
queimados onde houve várias infeções
Esses são os descritos,
No mundo,
muito
sem o nosso
mais os antibióticos
filtro
de exigência. E
com menos prin-
cípio ativo e sem ser na dose recomendada. E as pessoas tomam doses abaixo da essencial. O médico
manda tomar uma dose séria para
não selecionar bactérias resistentes. Nesses países, as pessoas
dam o antibiótico,
poupam
dão
para vender,
guarfamília,
não o toà
veram 19 mil mortes por MRSA, e
reconheço que é elevado. Nós não
temos tais números. Sabemos apenas quantas
pessoas
morrem
mam todo.
no
Ao contrário
da Grã-Bretanha,
onde o SNS dá o número de
hospital por infeções.
Qual é a proteção do pessoal
clínico e auxiliar para isso?
Existe contaminação
cos, dos outros
secretário
doentes, etc. O
de Estado da Saúde
tem alertado para as precauções
e profilaxia da infeção hospitalar
e chegou a falar na proibição do
uso de gravata
e
joalharia. A
União Europeia está preocupada
com as bactérias resistentes aos
antibióticos.
A proteção
é a
comprimidos exatos, em Portugal receitam-se caixas, sobras
dos médi-
mesma. Se
o
MRSA
passa de uns doentes para outros é
porque alguma coisa acontece no
hospital. Através de mãos não hi
gienizadas, etc. Não estou convencido que a gravata seja o problema. Ainda estamos aquém do dese-
jável na higienização das mãos. E
os números
parecem apontar os
médicos como os que lavam me-
O problema é que
a indústria farmacêutica
desinvestiu na
investigação dos
antibióticos. Os fármacos
para as doenças crónicas
são os que rendem muito
que as pessoas
guardam para
É um perigo e
automedicação.
um desperdício.
Na Alemanha é como na Grã-Rretanha. É mu desperdício
e é também um negócio. Excede a minha
capacidade
de atuação. E o antibió-
tico é um fármaco
ponsabilidade
de grande res-
que atua na comuni-
dade toda, não apenas nas bactérias das pessoas que o tomam. Não
que não tenha hoje
uma experiência de resistência.
A guerra está perdida? As bactéhá medico
rias vão ficando
resistentes,
excesso
cada vez mais
é inevitável.
de assepsia
torna mais violentas
mais vulneráveis.
E o
ainda as
e a nós
Big Pharma, a
É uma resistência nova e pode haver um acidente no laboratório.
Imagine que se parte um tubo e se
as bactérias.
espalham
Não pode-
mos estar na origem da disseminade bom senso,
ção. E uma questão
mas a élica médica impede-nos
de
fazer experiências que podem pôr
em risco a comunidade, purificando organismos
potencialmente
Claro
rigosos.
pode
que
pehaver
quem faça isto para usar os micomo armas biológicrorganismos
cas. Isso é mantido cm segredo. O
aureus não c bom pa
porque vive
estafilococos
ra armas biológicas,
connosco.
Há milhões de anos. E não gosta
de ser erradicado do meio. Irritou-se e adaptou-se.
A génese do MRSA é essa. Não podemos pensar em erradicar as bactérias que vivem connosco. As bactérias são úteis para nós. Não o MR-
uma derivação. É respor muitas mortes não
por ser MRSA mas por ser difícil
de tratar. Mas outros que não são
SA, que já é
ponsável
MRSA também fazem mortes.
Qual o protocolo que o hospital
segue quando tem um caso de
MRSA?
O primeiro
a saber é o laboratório
Ilá um
de Microbiologia.
interno, um contacto
farmacêutica, vai
a apurar antibióticos
indústria
continuar
semana,
que gerarão mais resistências?
0 problema c que a indústria far
macêutica
na investi
desinvestiu
gação dos antibióticos.
cos
os
Os
fárma-
para as doenças crónicas são
que rendem muito. Com as exio
gências regulamentares,
mento até
se
investi-
chegar a um antibióti-
co é brutal. As patentes
E há
ou
reus e o enterococos,
Quando há uma colcção
tuação
purulcn
em maio era uma si-
descrevemos
dessas.
Uma doente
com
doente.
O conceito
se isola o
médico
rias não sejam transportadas.
abcesso,
só
existia a vancomicina
vas, todos injetáveis,
exceto o line-
crónicas.
Acaba de descobrir
um MRSA
terococos,
mais
Em
uma
digestivo
que vive no nosso tubo
animais quase to-
e dos
dos, que na década de 70 começou
Os VRE
a resistir à vancomicina.
sabe-se que transmitem
facilmen-
informação
genética ao cstafiloco
cos. E nos casos descritos
dos Unidos,
se
nos Esla-
calhar foi isso que
Não podemos garantir,
porque eticamente não podemos
fazer a experiência. Não podemos
aconteceu.
misturar um enterococos
estafilococos
sistência
comum
para averiguar
à vancomicina.
Eticamente?
a re-
não é
I lá outras medidas que consistem em utilizarbarreiras
de proesse.
vavelmente, foi o enterococos re
sistente à vancomicina que deu a
um
tos para as doenças
a vancomicina.
O caso que
ser estrilo,
para as infeções por MRSA. Agora
há três ou quatro antibióticos ativos contra bactérias gram-positi-
dos medicamen-
Portugal...
A pessoa toma vancomicina
vancomicina.
não
pode
um quarto fechado onde
30 anos,
Ao contrário
poderoso,
à
isolamento
e
outro
ao antibiótico
tentes
ambos resis-
te c vê o que se está a passar. E re
força as medidas de isolamento. O
o
dão-se
resistente
cal da infeção
que se localizam em zonas anatómicas que são difíceis de
erradicar
com os antibióticos.
zulide, que existe também na forma oral. Houve outra bactéria, en-
soas.
que têm no loo estafilococos
au-
teção e cuidados
limitado
muito
ao es
aureus. Por vezes, há in-
tafilococos
são de Controlo
de Infeção, que
manda um dos seus profissionais
ao serviço onde foi isolado o doen-
uma infeção no pé que tinha simultaneamente as duas bactérias. Pro-
problema: os
num período
da vida das pes
antibióticos
de iriam dar esta resistência
feções simultâneas
infeções
ta,
gidas durante um período relativa-
retorno.
o MRSA regressa
Por vezes têm muitas infeções,
te a sua resistência, e sempre se
achou que mais cedo ou mais tar
no interior do organismo, é preciso drená-10. Durante
estão prote-
mente curto, e quem investigou
investiu numa molécula perde
duas, e acabou. Espera-se
que não tenha mais infeção.
Há casos de doentes que tomaram várias vezes vancomicina e
sistema
com a Comis-
de manipulação
do doente de modo a que as bacté-
Tam-
bém podemos pôr numa enfermaria todos os doentes que têm a inf e
ção e noutra todos os que não têm.
Em Portugal
é muito frequente,
e
por vezes há mais do que um doente infetado.
Todos infetados
com a mesma
estirpe? E como é que a bactéria
se transmite?
Não sabemos.
Isso
dos moleculares,
implicaria
estu
que não são feitos
no dia a dia. Na Faculdade de Medi
ciiia,
mais vocacionados
estamos
para fazer isso. Há sempre a hipóde os doentes se infetarem
nal de saúde
o
que descodifique
que está na internet, onde se encontram as coisas mais escabro-
tese
sas. É preciso
saber desmontar.
uns aos oulros,
claro, porque mexem uns com os outros. Transmite-
maioria
pessoas
por contacto direto e, muito raramente, por via aérea.
não tem MRSA. São menos que 5%.
Temos alguns dados sobre isso publicados pela professora Hermínia
se
E a
família do doente pode levar
das
va
Não a isolam e tratam com
desta área.
mupirocina
no nariz?
No-
uma cientista
excelentes
problema de saúde pública?
Não podemos fingir que o problema não existe e fazer como a avestruz. Os políticos têm de ornar os
Dantes,
eliminado
o
nos hospitais
isolaram está viva?
Está viva e não tem a bactéria.
E
Correu
não a passou a ninguém.
bem. Ficámos incrédulos,
porque é que temos esta taxa tão
alta? E até que ponto os políticos
comicina.
E os bacteriófagos?
tudo.
Questionámos
inviáestri-
medidas
hospital recebe dezenas de doentes todos os dias. O que temos de
as
lo de Infeção.
O
recomen-
de Contro-
chamado
mento de contacto.
nal dos antibióticos.
E o uso
bons contra bactérias que nenhum antibiótico trata. Há quem
diga que a Big Pharma combate
os bacteriófagos
porque são
muito baratos de obter. E a
Europa, com os lóbis a funcionarem, impõe regras burocráticas.
Aqui ao lado, no Instituto de Biologia Molecular, temos uma empre
sa de bacteriófagos, uma spin-o/f, a
TecnoPhage.
isola-
racio-
to é seguro. No mundo ocidental,
temos pouco acesso a informação
ativa
que esteja escrita em russo, embora Lenha o espírito aberto. Não sou
detrator dos bacteriófagos. Estou a
nisso.
Isto não pode ganhar proporções
epidémicas? As pessoas não
estão informadas
sobre isto. Que
têm a informação
acha do teste obrigatório?
Esta situação
e endémica,
muito
elevada. Não sei se as pessoas estão assim tão pouco informadas.
Claro que isto está nas mãos dos
de saúde. Mandatory
testing sou contra, por razões de liprofissionais
berdade
individual.
medos
E
vamos criar
va-
injustificados,
porque
mos ter 30 a 40% de resposta positiva de estafilococos
aureus no nariz. Algumas
desvairadas.
pessoas
podem ficar
necessária e
suficiente
para a boa decisão?
Somos muito bons a diagnosticar
os problemas e menos bons a resolvê-los.
O atual secretário
do, o dr. Fernando
um médico,
de Esta-
Leal da Costa, é
que ajuda. O poder
se interessar pela
situação. Isto não se faz por caroli-
político
o
tem de
ce. E até aqui o
poder político tem
dado uma resposta frouxa. Já coordenei a Comissão de Controlo de
Infeção deste hospital
durante se-
Se
te anos e tinha uma recetividade
acompanhadas
muito grande das pessoas do CA.
mas a coisa esgota-se aí. Não basta.
forem à internet, ficam.
Claro! Se fizerem isso sem estarem
por um profissio-
Acho bem que a Eu-
ropa imponha regulamentação. Temos de ficar certos que o tratamen-
A Direção-
-Geral de Saúde está muito
acabarem? Na
antibióticos
Eliava, da Geórgia, o local privilegiado de investigação de bacteriófagos, os resultados são muito
As bactérias são
fascinantes. (...)
A bactéria é mais eficaz
do que nós e replica-se
mais depressa. Nós é de
20 em 20 anos, mais ou
menos. E a bactéria é
de 20 em 20 minutos
pacidade para o fazer. Nem para
descolonizar todos os doentes. O
dações das Comissões
Não serão a
Rússia, sempre foram usados
E no Instituto
bacteriófagos.
to que refere, que faz a Noruega,
que faz a Holanda, não temos ca-
fazer é implementar
20 minutos.
os
muito.
são
essas
ou menos. E a bactéria é de 20 em
resposta do futuro à luta contra
as bactérias resistentes, quando
de
veis. Esse tipo de isolamento
de
20 em 20 anos. mais
quatro
quando vimos que era
um estafilococos resistente à van-
sa. Nós é de
médicos,
Não temos instalações suficientes
para isolar os doentes todos, en-
tre nós
fascinantes,
mais complexos. É mais eficaz do
que nós e replica-se mais depres-
só na área da Microbiologia,
isolados
são MRSA. É
são
têm uma capacidade
adaptação à adversidade muitíssimo maior do que outros seres
MRSA
mais
As bactérias
Ler.
A doente que tinha o MRSA que
mas há 10 ou 15 anos apareceu outro MRSA. Na comunidade. Neste
momento, cm Portugal,
metade dos estafilococos
em que a pessoa não tem, o que
não quer dizer que não possa vir a
porque
comunidade,
na
bam por ser um mundo admiravelmente auto-organizado.
Não sei. Pode haver um momento
médicos.
MRSA da comunida-
de é diferente.
era
Rockfeller,
Com tantos cientistas
por mim, mas avisamos as pessoas, sem as assustar. Evitarem contactos, lavarem
Isso não passa
as mãos... O
e da
colonizadas
da Universidade
de Lencastre,
o MRSA para a comunidade?
E a
Num tempo de austeridade, é
possível introduzir um novo
Não acreditávamos que a primeira
vez que acontecia na Europa tinha
sido connosco. E publicámos.
Foi
tratada com um desses antibióticos que destroem
o
acompanhar um colega, médico,
de medicina intensivista. cuidados
intensivos,
que está a doutorar-se
investigar os antibióticos para
pé diabético e sei as dificuldades
que vão tendo nessa área. A ideia
e a
o
não é substituir
MRSA.
os
antibióticos,
é
Há quem ache que o MRSA
não se deixa destruir pelos
ter um coadjuvante. I lá casos em
que o bacteriófago elimina a bacté
antibióticos.
ria e casos em que não, como os
antibióticos.
Este. deixámos
de o ver, e continuá-
mos a seguir a doente. Procurámolo nos sítios habituais onde ele está. O principal
cho
ecológico
é o
nariz.
com
É
um ni-
a humidade,
O
que é um bacteriófago?
Sei
que pode ser apurado em águas
de esgoto, é baratíssimo de
obter.
um vírus vivo,
temperatura, oxigenação ideais.
Todos temos estafilococos au-
É
reus em nós? As bactérias
para causar infeções nas bactérias.
aca-
mas em estarmos
e
há logo problea usar um varas
Essas águas de esgoto têm muitas
bactérias e são um viveiro para es-
riófagos, o descobridor, foi o
franco-canadiano
Félix d'Herelle
nem sempre se consegue
nação total.
ses viras que causam
morte nas bactérias.
(1873-1949). Que foi para Tbilisi,
Geórgia, trabalhar com o professor George Eliava, fundador do
Mas a bactéria
doença
e
Não há transmissão
genética
entre o vírus e a bactéria.
O vírus é o terminator das bactérias. Nas frentes de guerra ruseram usasas, os bacteriófagos
dos para tratar as feridas
instituto.
Porque é que se avançou tanto nos antibióticos e tão
ram uma idade de ouro. Houve mé-
resistências.
Quando o vírus infeta as bactérias,
injela-lhe o seu ADN, mas não há
conhecimento
de transmissão.
E
não causa infeção no homem. Já
que
dicou muito
os
muito
antes
O que preju-
bacteriófagos
foi o
facto de, nas poucas descrições conhecidas da utilização de bacteriófagos em infeções,
algumas dessas
infeções serem causadas por vírus.
Ora um bacteriófago não pode eli-
minar um vírus.
O Pasteur e o Fleming dos bacte-
e usar os bacteriófa-
gos, em vez de encher as pessoas
de antibióticos e provocar novas
dicos
bacteriófagos
de haver antibióticos.
fica neutralizada.
Não percebo de
que é que a comunidade científica ocidental está à espera para
Enfraquecida.
investigar
americanos
estava
fechado
doenças infecciosas.
se de
que
o
disseram
livro
das
Ora, tratando-
um vírus vivo, temos de sa-
ber que não causa mesmo infeção
no homem e que não sofre mutações. Que não se torna agressivo
para o homem.
Nunca aconteceu.
Não, mas sabemos muito pouco sobre bacteriófagos.
Os bacteriófagos têm de ser ministrados
várias
porque as bactérias ao fim de algum tempo também se vão tornando resistentes. E
vezes e seguidos,
tigação,
até
à
uma competição
pouco nos bacteriófagos?
conhecePorque os antibióticos
infetadas.
havia
a elimi-
publicação tudo é
secreta. E nestes
casos não se esqueça
a destruir
o
equilíbrio
que estamos
natural das
coisas.
Existe MRSA na comunidade
em
Portugal. Vindo donde? E qual a
bactéria mais aterradora, a
"comedora de carne"?
TecnoPhages. Há um enorme
secretismo a rodear isto. E quan-
Existe, pouco. É um MRSA diferente, porque é menos resistente aos
antibióticos
mas mais agressivo,
to maior a assepsia dos hospitais,
caso americano, mais bactérias
nas toxinas, do que o dos hospitais.
Dá lesões na pele e pulmonares
resistentes aparecem.
Abactéria causa menos danos porque está em menor número. Há
graves. Não lhe sei responder donde veio, porque tem característi-
pessoas a investir nisso, e a comunidade científica eslá a par. Nos Es-
tão bastante misturados.
tados
Devia haver muitas
Unidos,
está-se a dar aten-
ção a isto. Não se esqueça
Geórgia ficava na ex-URSS
que a
e
por
isso era descredibilizada
pela comunidade científica americana. O
secretismo
existe sempre na inves-
cas diferentes
do outro. Agora, es-
Começa-
ram a aparecer no início dos anos
2000. Quanto à "comedora de carne", a bactéria
que tem o quadro
mais exuberante, um estreptococos com o qual
também trabalho,
essa, a fasciite
necrosante.
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