JOSIANE JUNIA FACUNDO DE ALMEIDA
LIBRAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
PERCEPÇÕES DOS ALUNOS E DA PROFESSORA
LONDRINA
2012
LONDRINA
2012
Josiane Junia Facundo de Almeida
LIBRAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
PERCEPÇÕES DOS ALUNOS E DA PROFESSORA
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Educação da
Universidade Estadual de Londrina,
como requisito para a obtenção do
título de Mestre.
Orientadora:
Profª. Drª. Célia Regina Vitaliano
Londrina
2012
Josiane Junia Facundo de Almeida
LIBRAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
PERCEPÇÕES DOS ALUNOS E DA PROFESSORA
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Educação da
Universidade Estadual de Londrina,
como requisito para a obtenção do
título de Mestre.
COMISSÃO EXAMINADORA:
_____________________________
Prof. Drª. Célia Regina Vitaliano
UEL – Londrina - PR
_____________________________
Profª. Drª. Maria Cristina Marquezine
UEL – Londrina - PR
_____________________________
Profª. Drª. Cristina Broglia Feitosa de
Lacerda
UFSCAR – São Carlos – SP
Londrina, _____ de ______________ de 2012.
Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da
Universidade Estadual de Londrina.
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
A447L Almeida, Josiane Junia Facundo de.
Libras na formação de professores : percepções de alunos e
da professora / Josiane Junia Facundo de Almeida. –
Londrina, 2012.
150 f.
Orientador: Célia Regina Vitaliano.
Dissertação (Mestrado em Educação)  Universidade
Estadual de Londrina, Centro de Educação, Comunicação e
Artes, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2012.
Inclui bibliografia.
1. Educação especial – Formação de professores – Teses. 2. Surdos –
Inclusão social – Teses. 3. Linguagem por sinais – Teses. 4.
Educação inclusiva – Teses. 5. Bilinguismo – Teses. 6. Língua
brasileira de sinais – Teses. I. Vitaliano, Célia Regina. II.
Universidade Estadual de Londrina. Centro de Educação,
Dedicatória
Aos surdos que me permitiram seguir por essa trajetória e que merecem todo o
reconhecimento.
AGRADECIMENTOS
Ao Deus de propósitos
Pois sem Ele nada podemos fazer.
A Ele toda Glória e Honra!
A minha mãe Marcília
Por ser essa coluna forte que me sustenta nas horas mais difíceis com suas orações
e sua fé inabalável.
Ao meu marido Toni e minha filha Julia
Pelo apoio e compreensão durante mais essa etapa da minha vida e pela
colaboração durante os momentos de estudos.
A professora Dra. Célia Regina Vitaliano
Por acreditar nesse projeto desde o início, pela paciência e atenção durante as
orientações e pelo crescimento que me proporcionou durante esse período.
As professoras Cristina Lacerda e Maria Cristina Marquezine
Pelas riquíssimas contribuições durante a qualificação, as quais foram fundamentais
para a consecução deste trabalho.
A professora Silvia Márcia Ferreira Meletti
Pelas valiosas contribuições durante a disciplina de Pesquisa em Educação.
A Cleusa, Ana Maria e Alex
Pelo companheirismo e amizade e por serem tão especiais em nossa vida.
As minhas irmãs e amigas especiais Keila, Josiele, Rose e Sandra
Com quem pude partilhar meus momentos de angústia e de conquistas. Por suas
palavras de incentivo e carinho quando precisei.
Aos colegas do Mestrado
De maneira especial à Cícera Malheiros e Adail Lima
Pelo apoio e companheirismo durante essa etapa de formação.
Ao grupo de pesquisa “Educação para Inclusão”
Pelas importantes sugestões que muito acrescentaram a essa pesquisa.
A todas as pessoas, que direta ou indiretamente contribuíram para que esse trabalho
fosse realizado, meus sinceros agradecimentos.
ALMEIDA, Josiane Junia Facundo de. Libras na Formação de Professores:
Percepções de Alunos e da Professora. 150 f. 2012. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012.
RESUMO
As políticas de inclusão educacional de alunos com necessidades educacionais
especiais (NEE) divulgadas a partir dos anos 1990 em nosso país têm ampliado o
número de matrícula desses alunos no ensino regular. No entanto, na mesma
proporção, os professores têm reclamado seu sentimento de despreparo para
atendê-los. Tendo em vista essa situação, constata-se a necessidade de
providências por parte das instâncias formadoras para favorecer a preparação
desses profissionais. Em se tratando do processo de inclusão educacional de
alunos surdos, o reconhecimento da Língua de Sinais e sua regulamentação por
meio do Decreto 5626/05 foram fundamentais, principalmente, pelo fato de preverem
a inclusão da disciplina de Libras nos currículos dos cursos de licenciatura,
responsáveis pela formação dos professores. Considerando que esta determinação
é recente e contempla primeiramente os cursos de Pedagogia, os objetivos da
presente pesquisa foram: caracterizar a implementação da disciplina de Libras no
referido curso na Universidade Estadual de Londrina e seus efeitos junto aos
graduandos, bem como analisar as percepções da professora sobre a organização e
objetivos da disciplina em questão. As bases teóricas desta pesquisa se constituíram
nos fundamentos da educação inclusiva, em especial o processo de inclusão de
alunos surdos, a filosofia educacional bilíngüe para surdos e análises sobre a
formação de professores para inclusão de alunos com NEE. Para coleta dos dados
utilizou-se os procedimentos de análise documental do programa da disciplina de
Libras, entrevista com a professora responsável pela disciplina e a aplicação de um
questionário aos alunos que finalizaram a referida disciplina. Os resultados obtidos
por meio da análise do programa da disciplina de Libras evidenciaram que: os
conteúdos e os objetivos focalizaram os aspectos lingüísticos da Libras e o
desenvolvimento de atividades práticas pertinentes a referida língua; e estudos
relacionados à surdez na perspectiva cultural. As análises do questionário aplicado
aos alunos mostraram que muitos, após finalizarem a disciplina de Libras, ainda se
sentiam inseguros em receber alunos surdos em suas salas de aula. Os resultados
da entrevista com a professora de Libras indicaram sua percepção sobre o principal
objetivo da disciplina de Libras como o de sensibilizar os graduandos para o trabalho
com alunos surdos por meio do conhecimento da cultura surda e da língua de sinais.
Depreende-se deste estudo a necessidade de se aprimorar as contribuições que a
disciplina de Libras pode oferecer à preparação dos graduandos para a inclusão
escolar dos alunos surdos.
Palavras-chave: Libras. Inclusão. Bilinguismo. Formação de Professores.
ALMEIDA, Josiane Junia Facundo de. Libras in Teacher Training: Student and
Teacher Perceptions. 150 f. 2012. Thesis (Master‟s Degree in Education) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012.
ABSTRACT
The politics of educational inclusion of students with special educational needs (SEN)
disclosed from nineties in our country, have increased the number of registered
students in regular education. However, at the same rate, teachers complain about
their sense of unpreparedness to meet them. In view of this situation, there is a need
for action by forming instances to facilitate the preparation of these professionals.
When dealing with the process of educational inclusion for deaf students, the
recognition of sign language and its regulation by means of Decree 5626/05 were
fundamental, mainly because it considered the inclusion of Libras discipline in the
curricula of undergraduate courses, responsible for teacher‟s graduation.
Considering that this determination is up to date and primarily includes pedagogy
course, the objectives of this research were: to characterize the implementation of
the discipline of Libras in that course at the State University of Londrina and their
effects along with graduating students, as well as to analyze the perceptions of
teacher on the organization and objectives of the discipline in question. The
theoretical basis of this research constituted the foundation of inclusive education, in
particular the process of inclusion of deaf students, the educational bilingual
philosophy to deaf students and analysis on the training of teachers for students with
SEN. inclusion. For collecting data it was used documental analysis process of the
Libras discipline, interview with the teacher in charge of the discipline and a
questionnaire applied to students who completed this discipline. The results obtained
through means of analyzing the program of the Libras discipline showed up that: the
contents and objectives focused on the linguistic aspects of Libras, and the
development of practical activities relevant to that language, and studies related to
deafness in cultural perspective. The analysis of the questionnaire applied to the
students showed up that many of them, after finishing the Libras course, still felt
insecure to receive deaf students in their classrooms.The results of the interview with
Libras teacher indicated her perception of the main objective of the Libras course, as
to sensitize undergraduates to work with deaf students through the knowledge of
their culture and their language of signs. It appears from this study the need to
enhance the contributions that the Libras discipline can offer to the preparation of
undergraduates to promote the scholar inclusion of deaf students.
Keywords: Libras. Inclusion. Bilingualism. Teacher Training.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ASL: Língua de Sinais Americana
CECA: Centro de Educação Comunicação e Artes
FENEIS: Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos
IES: Instituição de Ensino Superior
ILES: Instituto Londrinense de Educação de Surdos
INES: Instituto Nacional de Educação de Surdos
INSM: Instituto Nacional de Surdos- Mudos
L1: Primeira Língua
L2: Segunda Língua
LIBRAS: Língua Brasileira de Sinais
LSCB: Língua de Sinais dos Centros Brasileiros
LSKB: Língua de Sinais Kaapor Brasileira
NEE: Necessidades Educacionais Especiais
SEED: Secretaria de Estado da Educação
TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TILS: Tradutores/Intérpretes de Língua de Sinais
UEL: Universidade Estadual de Londrina
UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC: Universidade Federal de Santa Catarina
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 10
2 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 17
3.1 SURDEZ EM FOCO: PERSPECTIVAS DE ANÁLISE ........................................................ 17
3.2 CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA E POLÍTICA DA LIBRAS ..................................................... 21
3.2.1 Os Estudos das Línguas de Sinais no Brasil e a Constituição da Libras ......... 25
3.3 BILINGUISMO E EDUCAÇÃO INCLUSIVA ...................................................................... 28
3.4 FORMAÇÃO DE PROFESSORES
PARA A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA – SABERES
NECESSÁRIOS
PARA A EDUCAÇÃO DO ALUNO SURDO ............................................................................ 33
4 OBJETIVOS DA PESQUISA ................................................................................. 43
5 MÉTODO................................................................................................................ 44
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .............................................................................. 44
5.2 PARTICIPANTES ...................................................................................................... 45
5.3 PERFIL DOS ALUNOS PARTICIPANTES ........................................................................ 46
5.4 LOCAL DA PESQUISA............................................................................................... 46
5.5 PROCEDIMENTOS ................................................................................................... 46
5.6 INSTRUMENTOS DE COLETA DOS DADOS ................................................................... 48
5.7 TRATAMENTO DOS DADOS ....................................................................................... 48
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................. 50
6.1 ANÁLISE DO PROGRAMA DA DISCIPLINA DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS-LIBRAS ........ 50
6.2 ANÁLISE DOS DADOS DO QUESTIONÁRIO APLICADO AOS GRADUANDOS ........................ 54
6.2.1 Tema 1: Concepções dos Alunos Participantes sobre a Surdez e a Língua
Brasileira de Sinais.................................................................................................... 54
6.2.1.1 Caracterização da surdez pelos alunos participantes ................................... 54
6.2.1.2 Compreensão sobre a língua brasileira de sinais pelos alunos participantes56
6.2.1.3 Conhecimento prévio dos participantes a respeito da Língua Brasileira de
Sinais ........................................................................................................................ 60
6.2.2 Tema 2: Avaliação dos Alunos acerca da Disciplina de Libras ......................... 61
6.2.2.1 Obrigatoriedade da disciplina de Libras no currículo do curso de Pedagogia
.................................................................................................................................. 61
6.2.2.2 Qual professor deve ministrar a disciplina de Libras: surdo ou ouvinte? ....... 62
6.2.2.3 Dificuldades para aprender os conteúdos ..................................................... 67
6.2.2.4 Conteúdos que seriam mais relevantes na disciplina de Libras .................... 69
6.2.2.5 Avaliação do atendimento das expectativas dos alunos em relação à
disciplina de Libras .................................................................................................... 70
6.2.3 Tema 3: Percepções dos Alunos acerca da Formação Recebida para
Educação/Inclusão de Alunos Surdos ....................................................................... 71
6.2.3.1 Discussão em relação à inclusão dos alunos surdos nas classes comuns ... 72
6.2.3.2 Avaliação dos participantes acerca de sua preparação para atuar em salas de
aulas inclusivas com alunos surdos .......................................................................... 74
6.2.3.3 Saberes necessários ao professor para a inclusão de alunos surdos no
ensino regular............................................................................................................ 75
6.2.3.4 Percepções dos alunos acerca do papel do intérprete na classe comum ..... 77
6.2.3.5 Opinião dos alunos acerca da inclusão de alunos surdos no ensino regular 78
6.2.3.6 Conhecimento de estratégias que favorecem a inclusão do aluno surdo...... 81
6.3 ANÁLISE DOS DADOS DA ENTREVISTA COM A DOCENTE DA DISCIPLINA DE
LIBRAS ...................................................................................................................... 82
6.3.1 Tema 1: Perfil do Profissional que Ministra a Disciplina de Libras .................... 82
6.3.1.1 Perfil pessoal ................................................................................................. 83
6.3.1.2 Percurso acadêmico-profissional .................................................................. 83
6.3.2 Tema 2: Considerações da Professora de Libras acerca da Educação de
Surdos ....................................................................................................................... 88
6.3.3 Tema 3: Considerações da Professora acerca da Disciplina de Libras ............ 91
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 103
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 108
APÊNDICES .......................................................................................................... 114
APÊNDICE A – Questionário aplicado aos alunos de acordo com os objetivos da
pesquisa ................................................................................................................. 115
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista semiestruturada para a docente da disciplina
de Libras de acordo com os objetivos da pesquisa ................................................ 117
APÊNDICE C - Tradução da entrevista feita com a docente da disciplina em Libras
para a língua portuguesa........................................................................................ 120
APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os alunos
participantes ........................................................................................................... 129
APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a docente da
disciplina de Libras ................................................................................................. 131
APÊNDICE F – Sistema de transcrição para a Libras ............................................ 133
APÊNDICE G – Organização dos dados do questionário aplicado aos alunos em
temas categorias e subcategorias .......................................................................... 135
ANEXOS ................................................................................................................ 138
ANEXO A - Programa da disciplina de Libras......................................................... 139
ANEXO B - Parecer do Comitê de Ética ................................................................ 141
ANEXO C - Matriz Curricular do curso de Licenciatura em Letras-Libras da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) .................................................. 142
10
1 APRESENTAÇÃO
Ao apresentar esta pesquisa buscamos situá-la a partir da motivação para o
desenvolvimento da mesma, bem como sua inserção em um projeto maior, o qual
vem sendo desenvolvido pela professora Célia Regina Vitaliano desde 2009. Este
consiste na análise dos projetos curriculares dos cursos de Pedagogia das
universidades públicas dos Estados do Paraná e de São Paulo em relação à
formação dos graduandos para promover a inclusão de alunos com necessidades
educacionais especiais.
Além dessa vinculação, esta pesquisa é fruto de uma motivação pessoal,
devido a minha trajetória como intérprete de Língua Brasileira de Sinais.
Nos últimos anos, pude acompanhar as discussões sobre educação de
surdos e assistir à transição da língua utilizada pelos surdos no Brasil, de “apenas
uma forma alternativa de comunicação” para uma Língua legalmente reconhecida.
Em 1994, quando procurava um curso de língua de sinais, havia pouca
procura por cursos como esse na região e os poucos intérpretes de Libras na cidade
de Londrina, com os quais tinha contato, atuavam principalmente em contextos
religiosos. Esses intérpretes nem mesmo sabiam que a Língua Brasileira de Sinais
tinha a denominação “Libras”, visto que se referiam a essa língua apenas como
“língua de sinais” e os surdos com quem me relacionava referiam-se à Libras como
gestos ou mímica (oralizavam esses termos). Fato compreensível, considerando que
essa língua só foi assim designada em 1993, a partir do II Congresso Latino
Americano de Bilinguismo para Surdos, no Instituto Nacional de Educação de
Surdos (INES), ou seja, era recente a preocupação com a denominação da língua de
sinais no Brasil.
Nesse contexto, os cursos de língua de sinais existentes, em sua maioria,
eram ofertados por instituições religiosas e os intérpretes eram voluntários.
Em 1995 consegui fazer meu primeiro curso de Libras e não demorou muito
(menos de um ano) para que me incluísse entre esses profissionais, fazendo
interpretações voluntárias e, ao mesmo tempo me permitindo penetrar no cotidiano
de sujeitos surdos, conhecendo um pouco mais de suas vivências.
Compus o primeiro grupo de intérpretes formado pela Secretaria de Estado da
Educação (SEED) do Paraná, em parceria com a FENEIS em 1998. Esse curso foi
ofertado a professores de surdos e a alguns intérpretes que já atuavam
11
informalmente.
Em 2004, tive a oportunidade de atuar como professora- intérprete de dois
alunos surdos no Ensino Médio, sendo uma das primeiras professoras contratadas
para realizar este trabalho no Município de Londrina, juntamente com outros
professores intérpretes.
Em 2006 passei a atuar como intérprete de Libras também no ensino superior,
atendendo a três graduandos surdos no curso de Sistemas de Informação.
Durante minha atuação profissional nessa IES de Londrina, a disciplina de
Libras foi inserida no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, nessa mesma
instituição.
Embora eu atuasse como intérprete para três alunos surdos, algumas vezes
era solicitada para acompanhar as aulas de Libras, ministrada por uma colega surda.
Desde então, comecei a pensar sobre o papel dessa disciplina no currículo
daquele curso, tendo em vista que a carga horária estabelecida seria insuficiente
para que os alunos adquirissem alguma fluência na língua. Ao mesmo tempo,
questionava se só o fato de terem uma professora surda e o contato com a Libras
em sala de aula já não contribuiria para uma mudança na postura dos futuros
professores frente ao aluno surdo.
Em 2008, fui convidada a ministrar a disciplina em outra IES, no ensino
presencial-conectado, na qual trabalharia mais com os conteúdos teóricos. Na
ocasião, ao selecionar os conteúdos que iria ministrar, senti dificuldades para
identificar os mais relevantes.
Com objetivo de buscar subsídios para minimizar esta dificuldade realizei
consulta em algumas ementas disponíveis na internet e percebi que eram bastante
distintas de uma região para outra e mesmo em uma mesma região em
universidades diferentes. Desse conflito profissional-pessoal nasceram algumas
indagações, as quais se constituíram como ponto de partida para esta pesquisa e
orientaram as investigações ao longo deste trabalho.
12
2 INTRODUÇÃO
As recentes transformações político- educacionais resultam, quase em sua
totalidade, de um novo olhar para a diversidade, cujo foco está no respeito à
identidade e à diferença. Nesse contexto busca-se promover a cidadania das
minorias culturais, raciais e das pessoas com deficiências por meio de leis que
garantam sua participação social.
A surdez constitui-se como parte integrante dessa diversidade, portanto,
interessa à educação conhecer os limites e possibilidades do aluno surdo, de modo
a oferecer-lhe os aparatos necessários para aquisição de conhecimentos.
Uma das condições que favorece o desenvolvimento e a aprendizagem do
aluno surdo é a utilização da língua de sinais. Desse modo, poder usufruir o direito
de expressar- se em sua língua natural é fundamental para que este possa sentir-se
incluído na escola. E não somente isso, mas o ideal seria poder partilhar com seus
colegas e professores essa modalidade de comunicação, pois, como afirma Botelho
(2007, p.16), essa língua, “compartilhada, circulando na sala de aula e na escola,
são condições indispensáveis para que os surdos tornem-se letrados”.
As palavras de Vitaliano, Dall‟Acqua e Brochado (2010, p.7) também reforçam
que:
O processo de inclusão dos alunos com necessidades educacionais
especiais no ensino regular exige uma reforma geral na organização
dos sistemas de ensino, em especial para o atendimento dos alunos
surdos emerge a necessidade dos professores dominarem
minimamente a Libras.
As autoras ressaltam que “para muitos esta ideia representa um exagero,
pois, consideram que a presença do intérprete seja suficiente, mas para a maioria
dos surdos e para alguns pesquisadores da área esta necessidade é premente”
(VITALIANO; DALL'ACQUA; BROCHADO, 2010, p.7).
A partir do momento em que a pessoa surda possui amparo legal para
ingressar no ensino regular, todos os seus direitos devem ser respeitados, em
especial o que está previsto no artigo 14 do Decreto 5626/05:
As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente,
às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à
educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos
curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades
de educação, desde a educação infantil até a superior (BRASIL,
13
2005, p.4).
A política educacional vigente tem trazido crianças e adultos surdos às
instituições públicas e particulares de educação regular. No caso dos adultos,
cremos que a maioria para dar continuidade aos seus estudos, visto que grande
parte das escolas de surdos, até alguns anos atrás, não ofertava etapas mais
elevadas como o Ensino Médio, por exemplo.
Os alunos surdos, contudo, ainda se deparam com alguns obstáculos, entre
os quais o preconceito no ambiente educacional e o despreparo de alguns
educadores em lidar com suas necessidades de aprendizagem. Esses obstáculos
humanos são mais difíceis de romper do que as adaptações físicas no ambiente. A
mudança de postura frente a esses alunos depende de um trabalho complexo de
conscientização dos profissionais da educação (professores e gestores), bem como
dos demais alunos, comunidade e outros envolvidos nos trabalhos da escola.
O governo federal, aposta nas Instituições de Ensino Superior para
implementar a proposta de educação inclusiva, tendo em vista que “a formação e a
capacitação docente impõem-se como meta principal a ser alcançada na
concretização do sistema educacional que inclua a todos, verdadeiramente”
(BRASIL, 1998, p.17). Sabe-se, contudo, que na prática pouco se tem alcançado em
relação a essas metas, sobre as quais verificamos ações tímidas e pontuais, e que,
quase sempre, parecem insuficientes para garantir a efetiva preparação dos
professores para incluir alunos com NEE.
Permanecem, em aberto, questões referentes aos conhecimentos que devem
ser contemplados na formação de professores. Segundo Dorziat (2011, p.150), os
currículos de formação docente, quando incluem o debate sobre a inclusão escolar o
fazem em “disciplinas isoladas e desconectadas de uma visão epistemológica de
Educação, tratadas no curso como um todo”, refletindo em práticas educativas
buscadas apenas em observância às condições
biológicas, enquanto há
necessidade de discussões mais aprofundadas, que envolvam reflexão sobre teoria
e prática pedagógica.
A inserção de disciplinas específicas que tratem da Educação Especial e
inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais nos currículos
de formação inicial, constitui-se como medida favorável aos professores, para que
todos tenham acesso a essas discussões (CAIADO; JESUS; BAPTISTA, 2011), não
14
só os professores especialistas.
Nesse sentido, acreditamos que uma das poucas conquistas em relação à
formação de professores para atuarem no ensino regular com alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais, se refere à obrigatoriedade da
disciplina de Libras nas licenciaturas, por meio do Decreto 5626/05.
O referido Decreto regulamenta a Lei 10.435/02
1
e inclui a disciplina Libras
em diversos cursos. O Artigo 3º desse decreto estabelece que, a disciplina deve ser
inserida, obrigatoriamente, nos curso de formação de professores para exercício do
magistério, seja em nível médio ou superior, bem como no curso de Fonoaudiologia
das diversas instituições e sistemas de ensino, em âmbito Federal, Estadual e
Municipal. O parágrafo segundo do Artigo 3º reforça que a Libras deve constituir-se
como disciplina optativa nos demais cursos do Ensino Superior e na educação
profissional.
Entendemos que essa disciplina vem ao encontro das necessidades do aluno
surdo bilíngue no ensino regular, pois, ainda que os professores não dominem
fluentemente essa modalidade linguística, pelo menos terão conhecimentos mínimos
a respeito da língua de sinais e das especificidades dos alunos surdos, favorecendo
maior receptividade, quando estes alunos fizerem parte de suas salas de aula.
Ao direcionar a disciplina aos cursos de formação de professores (exceto o de
fonoaudiologia), subentende-se que o objetivo seja preparar professores para
receber alunos surdos nas classes comuns, em consonância com a legislação
referente à inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE).
Nesse sentido, o docente da disciplina necessitaria de conhecimentos acerca da
Educação Especial, e do processo de inclusão de alunos com NEE, no que se refere
a aspectos legais e pedagógicos para a discussão efetiva da temática.
O Decreto 5626/05, contudo, não exige do docente responsável pela
disciplina de Libras formação em Educação Especial ou em Educação Inclusiva e
institui o curso de Licenciatura em Letras-Libras em nível de graduação ou pósgraduação para preparar profissionais, preferencialmente surdos, para ministrarem a
referida disciplina.
Ao observarmos a matriz curricular do curso de Letras- Libras que mais tem
formado esses docentes no Brasil, identificamos a predominância de aspectos
1
o
De acordo com a Lei 10436/02, Art. 1 É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua
Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.
15
linguísticos e questões culturais dos surdos, bem como questões educacionais
dentro de uma perspectiva que defende a escola exclusiva de surdos, com foco na
“pedagogia surda”.2
Ao buscar na literatura da área subsídios sobre o tema referente à
implantação da disciplina de Libras nos cursos de licenciatura, identificamos
algumas pesquisas que contribuíram para as discussões e confronto de dados deste
estudo, das quais faremos uma breve revisão.
O trabalho de Rebouças (2009) objetivou a compreensão das problemáticas
atuais relacionadas ao ensino da Libras nos cursos de Fonoaudiologia, Letras e
Pedagogia, nas IES brasileiras após o decreto 5.626/05 e entre os resultados da
pesquisa há relatos de alunos enfatizando a carga horária insuficiente, a preferência
dos alunos por professores surdos, a resistência de algumas universidades em
contratar professores surdos, relatos da prática pedagógica de professores surdos, a
atuação de professores ouvintes nesse campo sem a devida qualificação, entre
outros. Muller (2009) discute, na mesma perspectiva, a importância do professor
surdo para a disciplina de Libras como estratégia para a inclusão do professor surdo
na universidade, a expectativa dos alunos ouvintes em relação ao trabalho do
professor surdo, a dinâmica das aulas e outras questões que coincidem com
algumas abordadas em nosso trabalho. Em especial, destacamos o trabalho de
Vitaliano, Dall'Acqua e Brochado (2010), que serviu de base a nossa pesquisa, e
objetivou a caracterização da disciplina de Libras nos cursos de Pedagogia dos
Estados do Paraná e São Paulo. Essas autoras observaram que a lei 10.436/02, que
trata do reconhecimento da língua de Sinais, e o Decreto 5626/05 que regula essa
lei e dispões sobre a implantação da disciplina de Libras na formação de
professores, ocultam informações essenciais para a elaboração dos programas da
referida disciplina, visto que:
[...] não dispõem sobre: os conteúdos; a carga horária da disciplina
de Libras e; sua natureza, se teórica ou prática. Além disso, os seus
objetivos não ficam explícitos, pois o fato de prever a obrigatoriedade
de uma única disciplina nos cursos anteriormente citados não
garante o domínio da referida língua, que como qualquer outra língua
requer para seu aprendizado tempo e treino (VITALIANO;
DALL'ACQUA; BROCHADO, 2010, p.3).
Diante destas análises, surgem as seguintes indagações: Como tem se dado
o ensino de Libras nos cursos de Licenciatura? Quais os objetivos que se pretende
2
Ver: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade3/pedagogia_surda.htm
16
alcançar com essa disciplina? Quais os caminhos (conteúdos, métodos, avaliações)
para atingir os objetivos desejados? Quais os efeitos na formação desse futuro
profissional da educação?
Tais questionamentos constituíram-se no ponto de partida para esta pesquisa
e orientaram as investigações ao longo desse trabalho.
Esta pesquisa pretende se inserir nos debates científicos acerca da formação
de professores para uma educação inclusiva de qualidade, assim como outros
trabalhos que vêm sendo realizados na área (VITALIANO, 2002/ 2010; LACERDA,
2007; RODRIGUES, 2006; BUENO, 1999, CAIADO, 2011), considerando que o
conhecimento científico se desenvolve por meio do processo de construção coletiva,
de outro modo não surtiria o efeito esperado. Como considera Mazzoti (2006, p.
639):
Ao não situar seu estudo na discussão acadêmica mais ampla, o
pesquisador reduz a questão estudada ao recorte de sua própria
pesquisa, restringindo a possibilidade de aplicação de suas
conclusões a outros contextos pouco contribuindo para o avanço do
conhecimento e a construção de teorias. Tal atitude freqüentemente
resulta em estudos que só têm interesse para os que dele
participaram, ficando à margem do debate acadêmico.
Consideramos importante investigar as contribuições que a disciplina Libras
tem trazido à formação dos alunos do curso de Pedagogia, podendo assim
acrescentar elementos às discussões atuais sobre a formação do professor para
inclusão dos alunos surdos, bem como sobre o processo de implantação da referida
disciplina.
17
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O referencial teórico visa trazer algumas considerações importantes como o
embasamento da pesquisa de campo, bem como servir de subsídio às discussões
posteriores, confronto entre referencial teórico e levantamento de dados da realidade
analisada. Desse modo, apresentamos a seguir a organização do referencial teórico.
No item 3.1, intitulado “Surdez em foco: perspectivas de análise,” buscamos
apresentar diferentes concepções acerca da surdez e os olhares educacionais que
se voltam para a questão.
O item 3.2, com o título “Constituição histórica e política da Libras,” traça o
percurso histórico da Língua Brasileira de Sinais, considerando as primeiras
referências até seu reconhecimento linguístico pela legislação vigente.
No item 3.3, intitulado Bilinguismo e Educação Inclusiva, apresentamos os
conceitos de educação bilíngüe e educação inclusiva, buscando uma inter-relação,
abordando as discussões mais recentes a respeito do assunto no contexto brasileiro.
O item 3.4, intitulado “Formação de Professores para a Educação Inclusiva –
Saberes Necessários para a educação do aluno surdo” pretende trazer algumas
considerações acerca dos saberes que o professor necessita para atuar no contexto
educativo que inclua a todos os alunos e, em especial, o aluno surdo.
3.1 SURDEZ EM FOCO: PERSPECTIVAS DE ANÁLISE
Durante muito tempo e até recentemente, quando se falava em surdez, logo
se pensava num quadro clínico ou patológico. Ainda há quem reduza a surdez ou
tente definir a pessoa surda a partir da sua disfunção auditiva, supondo-a uma
limitação permanente e irreversível que impede seu desenvolvimento intelectual e
sua capacidade de atuação social.
Falcão (2010, p.21) assinala que a história da humanidade traz a surdez
como um distúrbio. Para ele, “o estigma da surdez é acompanhado de preconceitos
e chavões que denigrem o indivíduo por pouco se comunicar ou se expressar como
a maioria das pessoas comumente fazem, pela fala oralizada”.
Algumas pesquisas apresentam a surdez sob dois enfoques principais: o
enfoque clínico ou médico-terapêutico e o enfoque cultural ou socioantropológico.
18
Skliar (1997, p.13) ressalta que os conceitos de surdez e de surdos vêm
sendo historicamente permeados por incompreensões e pressões, bem como por
modelos que se opõem. Considera que:
Por uma parte, o surdo é visto como um sujeito enfermo e a surdez
como uma patologia que afeta algo mais que a audição- e, por isso, o
surdo é forçado a permanecer no campo da medicina e da
terapêutica. Por outro lado, o surdo é considerado um membro real
ou potencial de uma comunidade linguística minoritária, em que a
audição – e, portanto, a falta de audição- não desempenha nenhum
papel significativo. (tradução nossa) 3
A abordagem cultural da surdez busca um afastamento de concepções
ligadas à patologização do sujeito surdo e reforça a importância das comunidades
surdas, como espaço de constituição social e identitária dos surdos. Perlin (1998,
p.69) salienta que ao contrário de gueto, a comunidade surda se constitui como “o
local de gestação da política da identidade surda”.
Nessa perspectiva cultural, entende-se que a identidade surda não é um
rótulo aplicado aos que nascem sem audição ou a perdem na infância, não está
relacionada a uma condição fisiológica, mas ao fato de “estar no mundo visual e
desenvolver sua experiência na Língua de Sinais” (SALLES, 2004, p.41).
Sá (2006, p.130) frisa que a utilização da língua de sinais é um dos mais
importantes fatores que caracterizam a identidade surda, e que “os surdos
organizados em comunidades consideram o uso da língua de sinais uma evidência
de pertença à comunidade surda”.
As teorias acerca da surdez como diferença cultural se devem especialmente
aos chamados “Estudos Surdos” 4que se inscrevem como uma ramificação dos
estudos culturais. Esses estudos se manifestam como contrários à concepção
clínico-terapêutica da surdez e se constituem como um programa de pesquisa em
educação, englobando também outros assuntos concernentes à surdez.
Machado (2008, p.57) aponta que “a surdez como deficiência biológica tem
3
Por una parte, el sordo es visto como um sujecto enfermo y la sordera como una patologia que
afecta algo más que la audición- y, por eso, el sordo es forzado a permanecer en el campo de la
medicina y la terapêutica-. Por outro lado, el sordo es considerado um miembro real o potencial de
una comunidad linguística minoritária donde la audición- y por ende, la falta de audición- no juega
ningún papel significativo.
4
Segundo Skliar, (1998, p.5) “os Estudos Surdos se constituem enquanto um programa de pesquisa
em educação, onde as identidades, as línguas, os projetos educacionais, a história, a arte, as
comunidades e as culturas surdas são focalizados e entendidos a partir da diferença, de seu
reconhecimento político”.
19
pouca afinidade com a pedagogia e expressa- se na educação em estratégias
corretivas, [...] em que o aprendizado da fala se torne vital à vida humana”.
No paradigma socioantropológico, a surdez é apresentada sob a ótica dos
estudos culturais, os quais buscam:
[...] um horizonte epistemológico na definição da surdez, no qual ela
possa ser reconhecida como uma questão de diferença política, de
experiência visual, de identidades múltiplas, um território de
representações diversas que se relaciona, mas não se refere aos
discursos sobre a deficiência (SKLIAR, 1998, p.29).
Destacamos que os debates sobre a surdez, no entanto, não ocorrem apenas
em dois extremos como muitas vezes é apresentado, ou seja, dentro de uma
perspectiva médico- terapêutica e outra cultural, pois há também a perspectiva da
Educação Inclusiva que considera as especificidades linguísticas e culturais das
pessoas surdas, bem como a valorização desses aspectos, porém, em contextos
não segregados. Considera-se a importância da língua de sinais para o
desenvolvimento integral da criança surda e acredita-se que uma mudança estrutural
por parte da escola, visando incluir esses alunos em classes comuns, possa surtir
maior efeito, visto que a língua de sinais será disseminada na sociedade, dando ao
surdo, maior autonomia.
Alguns debates acerca da educação de surdos na perspectiva dos estudos
culturais entram em conflito com as concepções de Educação para Todos dentro do
contexto atual, pois, enquanto as políticas nesse âmbito primam pela inclusão dos
alunos surdos em classes comuns, buscando alternativas para que a escola se
transforme em um espaço aberto à convivência com as diferenças, e que a luta por
uma educação de qualidade seja comum a todos, há estudos sobre educação de
surdos que apontam para outra direção, entendendo que a inclusão desses alunos
no ensino regular “inviabiliza seu desejo de construir saberes, identidades e culturas,
a partir das duas línguas (a de sinais e a oficial do país) e impossibilita sua
consolidação linguística” (SÁ, 2006, p.87).
Na ótica da Inclusão, Falcão aponta que:
O sujeito surdo, diante deste modelo de sociedade inclusiva não se
apresenta como estrangeiro e nem defende segregação racial e
étnica. Não se busca alternativas sócio-antropológicas nem se
alimenta a dependência de “indispensáveis” mediadores intérpretes
uma vez que as famílias e toda a sociedade passa a reconhecer a
Língua Brasileira de Sinais- Libras como veículo de comunicação
20
comum, universal e popular. Esse desenho ressocializador se
configura como humanizante e libertador. [grifo nosso] (FALCÃO,
2010, p.21).
Destacamos, na citação de Falcão, “Libras como veículo de comunicação
comum, universal e popular” visto que esta perspectiva populariza a Libras,
enquanto que existe outra tendência por parte de alguns membros da comunidade
de surdos, que almejam se constituir um povo à parte, para eles pensar que o “outro”
(ouvinte) se aproprie da Libras, pode representar uma ameaça (Quadros e
Campello, 2010). De certa forma esta duas perspectivas estão presentes na
atualidade, bem como a controvérsia sobre a inclusão de alunos surdos na escola
regular atendendo as determinações legais de construir um sistema educacional
inclusivo ou a sua manutenção em escolas ou classes especiais, com objetivo de
fortalecer a formação de sua identidade, enquanto indivíduo pertencente a uma
comunidade específica de pessoas surdas.
Considerando
estas
perspectivas
depreende-se
que
a
proposta
de
implantação da disciplina de Libras nos cursos de Licenciatura se coaduna com a
perspectiva de popularização da Libras e com a inclusão dos alunos surdos no
sistema regular de ensino, portanto as análises apresentadas neste estudo partem
deste pressuposto e pretendem dimensionar as contribuições da referida disciplina
nessa direção.
É interessante observar que há registros de que, desde 1875, Flausino José
da Gama preocupava-se em tornar popular a Língua de Sinais. Autoras como Sofiato
(2005, p.26) e Quadros e Campelo (2010, p.20) resgatam na obra de Flausino,
alguns objetivos, entre os quais está o de “vulgarizar a linguagem dos signaes, meio
predilecto dos surdos mudos para a manifestação dos seus pensamentos”. Os
objetivos que sucedem a esse no documento deixam clara a finalidade da produção
do dicionário, de que os surdos possam se expressar e se fazerem entender pela
sociedade por meio da Língua de Sinais, principalmente os pais e professores. Além
do mais, por meio da aprendizagem da Língua de Sinais, Flausino acreditava que as
pessoas passariam a ver os surdos com outros olhos, pois, está previsto entre seus
objetivos “mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo educado”
(QUADROS; CAMPELLO, 2010, p. 20).
O paradigma Educacional Inclusivo, em uma perspectiva bilíngue, se
apresenta como um espaço oportuno às negociações, pois, na medida em que a
21
convivência vai cedendo espaço a essas negociações, “rompe-se com a oposição, e
constrói-se a possibilidade do „entre-lugares‟, os espaços bilíngues” (QUADROS;
CAMPELLO, 2010, p. 31).
Nesse sentido, a escola irá criar estratégias para mediar as relações que se
constituem em seu interior, e a busca de uma educação de qualidade para os alunos
surdos passa a ser responsabilidade de todos. Esse modelo de educação diferenciase das representações da surdez a partir dos modelos clínico-terapêuticos e do
modelo socioantropológico, não condiz com o primeiro e nem consente com
discursos segregacionistas do segundo. De acordo com Lacerda:
A defesa deste modelo educacional se contrapõe ao modelo anterior
de educação especial, que favorecia a estigmatização e a
discriminação. O modelo inclusivo sustenta-se em uma filosofia que
advoga a solidariedade e o respeito mútuo às diferenças individuais,
cujo ponto central está na relevância da sociedade aprender a
conviver com as diferenças (LACERDA, 2006, p.163).
Apesar de, as perspectivas dos estudos culturais primarem pela segregação
dos alunos surdos, consideramos, no entanto, que este tem sido de extrema
importância para um novo olhar para o sujeito surdo e o desenvolvimento de uma
atitude de respeito a sua língua por parte da sociedade.
Hoje carecemos de maior empenho no sentido de que os conhecimentos
disponíveis sobre o processo de aprendizagem dos surdos sejam disseminados e,
que por sua vez, estes sejam refletidos nas interações sociais e nas práticas
educacionais inclusivas.
A seguir faremos algumas considerações a respeito da evolução histórica da
Língua de Sinais, sua importância no contexto educacional, o desenvolvimento das
pesquisas científicas sobre ela e seu processo de reconhecimento.
3.2 CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA E POLÍTICA DA LIBRAS
As línguas de sinais, cada vez mais, têm conquistado espaço no contexto
educacional, porém, ainda há resquícios de preconceito provenientes do estigma
que sofreram os surdos e sua língua de sinais no período oralista.5
5
O período denominado de oralista diz respeito a uma abordagem predominante na educação de surdos por
volta de 1880 até a década de 1970; e utilizava-se de técnicas que “se baseavam na necessidade de oralizar o
Surdo, não permitindo a utilização de sinais” (MOURA, 2000, p.52).
22
Segundo Monteiro (2006), até recentemente a Língua Brasileira de Sinais era
vista como “tabu”, pois não havia sido atribuído a ela o status de língua.
Essa afirmação também é apresentada por Sacks (1998, p.33), ao dizer que os
ouvintes sempre negaram a eficácia da língua de sinais. Esse autor explica que
algumas pessoas, “por mais bem-intencionadas que possam ser, consideram a
língua de sinais como algo rudimentar, primitivo, pantomímico, confrangedor”.
Diante dessa concepção sobre a Língua Brasileira de Sinais, cabe reservar um
pequeno espaço para esclarecer os conceitos de Língua a partir do ponto de vista de
alguns teóricos.
A língua6, para Saussure (1991), é o aspecto social da linguagem, pois, é
compartilhada por todos os falantes de uma comunidade linguística e é
compreendida como um sistema complexo com regras abstratas e composto por
elementos significativos que se relacionam entre si.
Nesse sentido, a língua é uma propriedade coletiva e não individual, só tem
razão de existir se for compartilhada. Daí a importância de reconhecer a existência
de uma comunidade linguística de surdos para que se reconheça também a língua
utilizada por ela.
Martelotta (2008, p.16) assinala que “o termo „língua‟ é normalmente definido
como um sistema de signos vocais, utilizado como meio de comunicação entre os
membros de um grupo social ou de uma comunidade linguística.” A abordagem
desse autor demonstra que nos estudos linguísticos, às vezes, a modalidade visualespacial ainda passa despercebida quando se faz uma conceituação geral de língua.
Acreditamos que, na consideração feita pelo referido autor, a Língua de Sinais
não é excluída intencionalmente, quando utiliza a expressão “sistema de signos
vocais”, mas essa concepção demonstra que não é familiar aos linguistas o
reconhecimento desta modalidade de língua como tal, e ao mesmo tempo o quanto
ainda são recentes os estudos lingüísticos relacionados a ela na maioria dos países.
Percebe-se que ainda predominam conceitos anteriores ao estudo científico
das Línguas de Sinais, os quais consideram os sinais utilizados pelos surdos como
insuficientes para a formação intelectual e inferiores à linguagem oral.
6
Essa definição parece confundir-se com o conceito de fala. Por isso vale esclarecer que a língua (langue), para
Saussure (1969) está no campo social, “não está completa em nenhum [indivíduo], e só na massa ela existe de
modo completo” (p.21), enquanto a fala pertence à esfera individual, “torna-se múltipla, imprevisível, irredutível a
uma pauta sistemática” (CARVALHO, 2012, p. 1).
23
Lúria e Yudovich (1978), afirmavam que a pessoa surda que utiliza só os sinais
adquiridos pela experiência visual, é incapaz de formar conceitos abstratos.
Segundo Machado (2008, p.88), essas concepções foram rejeitadas por Hans
Furth em 1966, com base em pesquisas que desenvolveu utilizando-se de
referencial teórico cognitivista, as quais utilizavam provas piagetianas, adotando
linguagem não- verbal. Essas pesquisas comprovaram que crianças e adolescentes
surdos atingiam o mesmo nível de desenvolvimento cognitivo que os ouvintes e
deixaram evidente que “o pensamento pode avançar sem o concurso da linguagem
oral”.
Se ainda hoje, encontramos em algumas publicações científicas conceitos
errôneos ou implícitos em relação às Línguas de Sinais, ainda mais comum é nos
depararmos com concepções inadequadas no discurso popular, pois a maioria das
pessoas desconhece essa língua. É bastante comum encontrarmos, atualmente,
quem acredite que a Língua de Sinais se restrinja ao alfabeto manual, todavia,
sabemos que se trata de mais um mito em relação a esta língua (REILY, 2008).
Quadros e Karnopp (2004, p. 31) apresentam pesquisas realizadas em vários
países, que buscam desmitificar concepções inadequadas em relação às línguas de
sinais. Tais concepções são apresentadas pelas autoras como mitos.
O primeiro desses mitos se refere ao pensamento de que “a língua de sinais
seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar
conceitos abstratos” (p. 31). As autoras esclarecem que esta concepção sugere que
os sinais sejam icônicos, ou seja, não apresentam arbitrariedade. Porém, qualquer
pessoa que já teve algum contato com a língua de sinais é capaz de perceber essa
arbitrariedade na língua, motivo pelo qual muitas têm dificuldade de memorizar os
sinais, visto que os poucos sinais icônicos são mais facilmente retidos na memória.
Vale esclarecer que a iconicidade presente nas línguas de sinais não as torna
inferiores ou exclui seu status linguístico, pois a iconicidade é um recurso linguístico
presente também nas línguas orais. Deve-se considerar que as Línguas de Sinais
por possuírem uma gramática espacial utilizam-se mais desse recurso, como
assinalam Bernardino e Passos (2009, p. 1), “esse uso do espaço físico favorece a
iconicidade, uma vez que o espaço é mais „palpável‟ do que o tempo, que é a
dimensão utilizada pelas línguas orais- auditivas”.
O segundo mito seria a crença de que “haveria uma única e universal língua de
sinais usada por todas as pessoas surdas” (p. 33). Essa concepção é a mais comum
24
e muitas vezes as pessoas até se decepcionam ao saber que cada país tem sua
própria língua de sinais, pois, poderia parecer mais apropriado que essa língua fosse
universal, pois facilitaria o contato entre os surdos do mundo todo. Mas há que se
considerar que a não universalidade dessas línguas é um dos aspectos que lhes
permite incluírem-se entre as demais línguas.
O terceiro mito trata da concepção que “haveria uma falha na organização
gramatical da língua de sinais, que seria derivada das línguas orais, sendo um pidgin
sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais” (p. 34). As autoras
frisam que as línguas de sinais são totalmente independentes das línguas orais dos
seus países de origem e exemplificam com a questão da diferença entre a Língua
Brasileira de Sinais e a portuguesa, enquanto as línguas orais desses dois países
são correspondentes.
O quarto mito concebe a língua de sinais como um “sistema de comunicação
superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente
inferior ao sistema de comunicação oral” (p. 35). Sobre essa concepção, Quadros e
Karnopp (2004) citam as pesquisas realizadas por Klima e Bellugi (1979), que
comprovaram o equívoco dessa concepção, demonstrando que piadas, poesias e
outras produções culturais “são parte significativa do saber da cultura surda” (p.35).
O quinto mito põe em cheque a originalidade das línguas de sinais, refere-se à
concepção de que “as línguas de sinais derivam da comunicação gestual
espontânea dos ouvintes” (p. 36). Se os surdos fossem depender completamente
dos gestos que os ouvintes produzem, seria real sua condição de inferioridade
comunicativa, mas a desmitificação dos mitos anteriores reforça a deste.
O sexto e último mito destacado é que “as línguas de sinais, por serem
organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do
cérebro” (p. 36). Segundo resultados de algumas pesquisas, citadas por Quadros e
Karnopp (2010), surdos com lesão no hemisfério direito conseguiam processar
informações linguísticas das línguas de sinais enquanto os com lesão no hemisfério
esquerdo não eram capazes de lidar com as informações linguísticas, o que
comprovou que a língua de sinais é processada no hemisfério esquerdo do cérebro
como as demais línguas.
Muitos desses mitos vêm sendo desmitificados com os estudos linguísticos
sobre as línguas de sinais, em vários países do mundo e no Brasil.
Felipe (2000) assinala que a gênese das pesquisas sobre Línguas de Sinais se
25
deu no século XVII, com J. Bulwer. Ele teria editado um livro sobre a língua de sinais
inglesa entitulado “Cherologic: or the natural language of the hand. Nos Estados
Unidos, a primeira publicação foi de iniciativa dos Surdos, em 1848, os Annals of the
Deaf, que reuniram durante séculos um inventário da cultura surda americana.
As pesquisas sobre línguas de sinais modernas, contudo, iniciaram-se no
século passado, mais precisamente em meados da década de 50 (SUPALLA, 2008,
p.26), e suas publicações na década seguinte, coincidindo com o nascimento da
sociolingüística. O precursor desses estudos foi William C. Stokoe. Ele junto com
dois amigos surdos da Gallaudet Univerity compilaram o primeiro dicionário de
Língua de Sinais Americana (ASL).
Por meio de análises linguísticas, Stokoe comprovou que a língua dos sinais
apresentava características próprias de uma língua genuína, em relação à sua
estrutura gramatical.
Ao segmentar a língua para analisar suas partes constituintes, Stokoe percebeu
três partes independentes que davam origem a um sinal – a configuração de mãos,
a localização e o movimento.
As pesquisas de Stokoe e sua equipe contribuíram para novos olhares e
direcionamentos dos estudos da surdez e das línguas de sinais.
Analisaremos a seguir os aspectos legais e científicos da língua de sinais no
Brasil.
3.2.1 Os Estudos das Línguas de Sinais no Brasil e a Constituição da Libras
O processo de reconhecimento das línguas de sinais, no Brasil é muito recente.
A Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida como meio legal de comunicação e
expressão das comunidades surdas no Brasil pela lei 10.436, de 24 de abril de 2002,
sendo regulamentada somente três anos mais tarde pelo decreto 5.626, de 22 de
dezembro de 2005.
Segundo Quadros (1999), o primeiro estudo sobre Língua de Sinais do Brasil é
de autoria de Gladis Knak Rehfeldt , “Linguistics bases for the description of Brazilian
Sign language”, publicado no livro editado por Harry W. Hoemann, “The sign
language of Brazil”, em 1981.
Para Ramos (2003), no entanto, é de 1873 a publicação do documento mais
importante encontrado até hoje sobre a Língua Brasileira de Sinais, o Iconographia
26
dos Signaes dos Surdos-Mudos, de autoria de Flausino José da Gama, um aluno
surdo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM).
Na realidade, esse documento pode ser considerado um dos mais importantes
para os estudos históricos da Língua Brasileira de Sinais por evidenciar sua origem
francesa.
Trata-se de um livro de língua de sinais com ilustrações de sinais separados
por categorias (animais, objetos, etc). Ramos (2003) observa que, de acordo com o
que está impresso no prefácio do livro, a inspiração para o trabalho veio de um livro
publicado na França e que se encontrava à disposição dos alunos na Biblioteca do
instituto (atual INES).
Em 1968, a publicação de um artigo de Kakumusu, J. Urubu Sign Language,
evidenciou que haveria pelo menos outra língua de sinais no Brasil, utilizada pelos
índios Urubus- Kaapor. A partir desse dado, linguistas brasileiros, como Ferreira Brito
passaram a se interessar pelos estudos da Língua Brasileira de Sinais. A partir de
1982, essa linguista começou a documentar os sinais da Língua de Sinais Kaapor
Brasileira (LSKB), como a denominou, diferenciando-a da Língua de Sinais dos
Centros Urbanos Brasileiros (LSCB) (SOFIATO, 2005).
A Língua Brasileira de Sinais foi denominada Libras a partir do II Congresso
Latino Americano de Bilinguismo para Surdos, realizado em 1993, em substituição à
denominação LSCB, posto que LSCB era o termo utilizado apenas em pesquisas
linguísticas e Libras era o termo utilizado pela comunidade surda.
As línguas de sinais, hoje, são consideradas pela linguística, não mais como
um problema do surdo ou uma patologia da linguagem, mas como línguas naturais
ou como um sistema linguístico legítimo.
Segundo Bernardino (2000), as línguas de sinais são sistemas abstratos de
regras gramaticais, naturais às comunidades de indivíduos surdos dos países que as
utilizam.
Goldfeld (1997, p. 25), define língua de sinais como uma “língua espaço- visual
criada através de gerações pelas comunidades de surdos”.
Quadros e Karnopp (2004, p. 46) mencionam que o termo Libras, embora seja
utilizado para referir à língua de sinais utilizada no Brasil, existem, também, outras
siglas para referir-se a ela, como a sigla LSB (Língua de Sinais Brasileira), “utilizada
internacionalmente, seguindo os padrões de identificação para as línguas de sinais”.
No Brasil, o processo de reconhecimento legal da Libras iniciou-se a partir da
27
década de 90, com algumas iniciativas estaduais que antecederam à lei federal
10.436 de 24 de abril de 2002.
O primeiro Estado brasileiro, cuja legislação incluiu a Língua de Sinais utilizada
pela comunidade surda foi o estado de Minas Gerais a partir da lei nº 10.379, de 10
de janeiro de 1991, a qual reconhece, oficialmente, no Estado de Minas Gerais,
como “meio de comunicação objetiva e de uso corrente, a linguagem gestual
codificada na Língua Brasileira de Sinais – Libras .”
No Estado do Paraná a língua de sinais foi reconhecida no ano de 1998, pela
lei nº 12.095, como resultado de mobilização de pessoas surdas e outros envolvidos,
como familiares e intérpretes da língua de sinais. Como registrado em seus termos,
essa lei “reconhece oficialmente, pelo Estado do Paraná, a linguagem gestual
codificada na Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a
ela associados, como meio de comunicação objetiva e de uso corrente.”
Houve também um movimento no sentido de legalizar a língua de sinais nos
diversos
municípios,
assim
como
o
reconhecimento
nos
vários
estados,
independente e antecedendo a lei federal 10.436 de 2002, já citada.
Na cidade de Londrina, o reconhecimento da Libras se fez por meio da lei
municipal nº 7.780 de 28 de Junho de 1999, essa lei reconhece oficialmente, no
Município de Londrina, como Meio de Comunicação objetiva e de uso corrente, a
Linguagem Gestual Codificada na Língua Brasileira de Sinais - Libras - e dá outras
Providências.
O reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais resultou de iniciativas das
comunidades de surdos espalhadas pelos diversos Estados brasileiros. Além do
mais, o processo de legitimação dessa língua se deve a outros fatores, tais como: o
avanço dos estudos linguísticos sobre línguas de sinais no mundo; as contribuições
dos estudos surdos que permitem perceber as pessoas surdas como pertencentes a
grupos linguístico- culturais; e às políticas de inclusão social a partir da década de
90.
A seguir faremos algumas considerações a respeito da Língua de Sinais no
contexto da Educação Inclusiva.
28
3.3 BILINGUISMO E EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A valorização das línguas de sinais também favoreceu a introdução de novas
propostas na Educação de surdos, entre as quais destacamos a proposta Bilíngue.
Esta filosofia educacional entende que a escola deve ofertar à criança surda o
ensino de duas línguas, sendo a língua de sinais como primeira língua-L1 e a língua
oral oficial do país, como segunda língua-L2, normalmente na modalidade escrita.
O bilinguismo como proposta educacional considera a língua de sinais como
natural às crianças surdas e serve de base à aprendizagem de uma segunda língua.
Para Quadros (1997, p.47) “tais línguas são naturais internamente e
externamente, pois refletem a capacidade psicobiológica humana para a linguagem
e porque surgiram da mesma forma que as línguas orais.”
Alguns estudos sobre aquisição da linguagem (QUADROS, 2008) comprovam
que as crianças surdas que têm contato com a língua de sinais desde o nascimento,
passam pelas mesmas fases ou fases semelhantes de desenvolvimento da
linguagem. São os casos das crianças surdas filhas de pais surdos. Porém essa não
é a realidade da maioria das crianças surdas no mundo e no Brasil. Segundo Skliar
(1997), estatísticas internacionais apontam que somente 5% das crianças surdas
são filhas de pais surdos, tendo acesso natural à Língua de Sinais, visto que a
primeira língua é adquirida e praticada em casa com os pais surdos e a segunda é
proporcionada pela escola e vivenciada na comunidade majoritária, que é ouvinte.
Diante dessas constatações, consideramos que a escola ao pensar na
inclusão do aluno surdo deve considerar a necessidade e o direito da criança surda
de um contexto bilíngue para a aprendizagem, e na busca de bons resultados
educacionais, contemplar as condições linguísticas e culturais da criança surda
(LACERDA; LODI, 2007).
De acordo com Guarinello (2007, p. 46) há duas alternativas pelas quais a
escola poderá optar para a efetivação do ensino bilíngue: o bilinguismo simultâneo
ou o bilinguismo sucessivo. No primeiro caso, são apresentadas as duas línguas à
criança ao mesmo tempo, ou seja, a criança aprende a língua majoritária e a língua
de sinais desde pequena. No segundo caso, a criança é exposta à língua de sinais,
num primeiro momento, e quando já tiver certo domínio da mesma, poderá adquirir a
língua majoritária como segunda língua, sendo que a língua de sinais servirá de
29
base para o ensino da língua majoritária.
Quanto ao ensino da modalidade oral da língua majoritária, a nosso ver, não
deve ficar a cargo da escola, visto que a carga horária seria insuficiente para dar
conta dessa função e do ensino dos conteúdos curriculares. Outro ponto a
considerar é que os professores não possuem formação específica para esse fim, o
que é função de profissionais da área de fonoaudiologia. Pensamos que a oralidade
é mais um recurso, que irá facilitar bastante a vida das pessoas surdas na
sociedade, tal como uma língua estrangeira para um ouvinte que pretende trabalhar
no exterior, porém, deve ser ofertada em outro momento, que não coincida com o
período escolar, “por meio de ações integradas entre as áreas da saúde e da
educação”, tal como sugere o Decreto nº 5626/05 (Capítulo IV, Art. 16).
Com a introdução da proposta bilíngue na educação de surdos muitos
professores das escolas especiais oralistas, que dedicaram sua carreira ao ensino
da fala, acreditando ser esse procedimento o mais adequado para a promoção da
pessoa surda à vida social, veem-se diante da necessidade de rever suas práticas e
aprender a língua de sinais que antes proibiam. Ampliam-se as discussões e a
criação de políticas educacionais para surdos; aumenta-se a procura por
profissionais intérpretes de Língua de Sinais e instrutores surdos para atender as
exigências legais devido ao surgimento do Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de
2005 para regulamentar a lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a
Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o artigo 18 da lei nº 10.098, de 19 de
dezembro de 2000, que trata, entre outras questões, da formação de profissionais
intérpretes para facilitar a comunicação com pessoas surdas.
É importante considerar que, quando o bilinguismo, como proposta
educacional, foi introduzido no Brasil, pensava-se em uma educação bilíngue para
surdos em contexto de ensino segregado. Foi um momento de readequação das
escolas de surdos, com contratação de instrutores e oferta de cursos de Libras para
os familiares, em que a preocupação maior e urgente era a de favorecer a aquisição
da Língua de Sinais como primeira língua para as crianças surdas. Nesse momento
quebrava-se o paradigma oralista como único meio de educação e integração social
da pessoa surda.
Com a introdução do bilinguismo, traçava-se um novo panorama para a
história da educação de surdos.
Ao fazer essa contextualização, temos como parâmetro que o bilinguismo
30
como uma proposta educacional para surdos no Brasil, começou a ser discutido
principalmente a partir de um artigo datado de 1986, por Lucinda Ferreira Brito
(Lima, 2004). Essa referência antecede alguns acontecimentos importantes, que
alavancaram discussões sobre Educação Inclusiva. É anterior à Conferência
Mundial de Educação para Todos (Jontien,1990); à Declaração de Salamanca
(1994), ao Decreto 5.626 (2005) e outros documentos que preveem uma educação
para surdos em escolas comuns, com pares ouvintes.
Atualmente a educação bilíngue vem sendo pensada dentro do contexto da
educação inclusiva, e, se a implantação do bilinguismo na escola de surdos já
parecia desafiador, visto que requeria modificações de práticas e concepções
advindas de um modelo educacional que durou quase um século (as práticas
oralistas); na escola inclusiva também não é tão simples aderir ao ensino bilíngue.
São necessários investimentos na formação dos profissionais da educação, tanto no
que diz respeito à língua quanto ao processo de aprendizagem do aluno surdo, bem
como a definição do espaço dentro da escola bilíngue para se trabalhar as línguas
em questão (Libras e Português).
Dentro da perspectiva bilíngue o decreto 5626/05 estabelece, para a
Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, que as instituições federais
responsáveis pela educação básica, para garantir a inclusão de alunos surdos,
devem organizar “escolas e classes de educação bilíngue”, que abriguem tanto
alunos surdos como alunos ouvintes, dispondo de professores bilíngues. E para os
anos finais do ensino fundamental, para o ensino médio ou profissionalizante, o
Decreto prevê “escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino,
abertas a alunos surdos e ouvintes” nas quais os docentes das diferentes áreas do
conhecimento tenham conhecimento da “singularidade linguística dos alunos
surdos”, além da presença de tradutores e intérpretes de Libras para acompanhar
esses alunos nesse espaço (Art. 22).
O referido Decreto estabelece, no parágrafo 2º do artigo 22, que, para
complementar esse modelo de educação, os alunos terão direito” à escolarização
em um turno diferenciado ao do atendimento educacional especializado para o
desenvolvimento de complementação curricular”, dispondo para isso de recursos
tecnológicos.
Pesquisas na área vêm contribuindo para o esclarecimento e aprimoramento
deste processo, visto que, como veremos muitas apontam os entraves e dificuldades
31
no atendimento educacional dos alunos surdos, outras os equívocos ou
desconhecimentos que requerem maior esclarecimento nas escolas regulares, bem
como também apresentam experiências satisfatórias, revelando estratégias dentro
de uma educação inclusiva bilíngue que têm favorecido a aprendizagem de alunos
surdos.
Lima (2004) realizou um estudo das práticas de bilinguismo em uma escola
da rede pública com proposta de educação inclusiva. A autora observa que os
debates em relação à educação bilíngue para os alunos surdos apresentam
controvérsias, visto que não explicitam como essa educação se daria na prática; os
professores possuem conhecimentos superficiais da Libras (apenas do léxico),
intercalando sinais com a fala e o aluno surdo, consequentemente, demonstra pouca
compreensão do que está sendo transmitido pela professora durante as aulas.
Meserlian (2009) avaliou o processo de inclusão de alunos surdos em uma
escola municipal de Arapongas. Essa pesquisadora constatou que os investimentos,
por parte da escola, na formação dos professores para domínio da Libras, na
reformulação do Projeto Político Pedagógico da escola, na inclusão da disciplina de
Libras na grade curricular do 1º ao 5º ano e a organização do atendimento
educacional especializado na própria escola para aprimorar o aprendizado da Libras
e da Língua Portuguesa escrita pelos aluno surdos trouxeram resultados positivos,
pois os professores foram incentivados mudarem sua metodologia de trabalho e isto
refletiu em melhora do desempenho acadêmico dos alunos surdos e ouvintes.
Uma das principais regulamentações do Decreto 5626/05 foi a inclusão da
disciplina de Língua Brasileira de Sinais no currículo dos cursos de formação de
professores e dos cursos de Fonoaudiologia. Esta medida nos faz supor que seu
principal objetivo seja o de preparar profissionais para lidar com alunos surdos nas
salas de ensino regular, inclusive nos níveis iniciais de ensino, cabendo,
principalmente aos cursos de Pedagogia viabilizar a formação dos professores para
atuar nesses níveis.
Em relação aos conhecimentos que a disciplina deverá proporcionar a
formação desses professores, Vitaliano, Dall‟Acqua e Brochado (2010, p.3) propõem
o “suficiente para viabilizar um contexto educacional bilíngue aos seus alunos
surdos, no qual as interações e atividades sejam realizadas mediante a utilização da
Libras e do Português escrito”.
Em consonância com as referidas autoras, pensamos que o conhecimento da
32
língua de sinais pelo professor poderá contribuir com um contexto educacional
bilíngue para os alunos e reforçamos que, além do professor, essa língua deve estar
presente em todas as situações da escola e ser utilizada por toda a comunidade
escolar 7.
Normalmente, quando pensamos a Educação Bilíngue composta por língua
portuguesa e Língua de Sinais, a pensamos para os surdos, é bastante comum e
natural ouvirmos a expressão “educação bilíngue para surdos”, porém, se pensamos
em uma educação inclusiva, em que alunos surdos e ouvintes compartilham um
mesmo espaço de aprendizagem, não podemos pensar em um bilinguismo só para
os alunos surdos. Essa concepção reflete um preconceito linguístico existente na
sociedade, o qual Gesser (2006, p. 48) apresenta como “bilinguismo social”,
considerando que:
Essa verdadeira opressão linguística faz com que falantes de línguas
minoritárias tornem-se falantes da língua prestigiada majoritária: é o
chamado bilingüismo social – quando o uso das duas línguas é
essencial para o indivíduo (Romaine, op. cit.). Mesmo assim, muitos
indivíduos de grupos minoritários não são vistos, e também não se
vêem, como bilíngües – nos casos em que são vistos e/ou que se
consideram bilíngües é quase sempre um bilingüismo pensado em
termos de problema e não de recurso. E porque isto ocorre?
Certamente porque a concepção tradicional e cristalizada que se tem
de bilingüismo é aquela que considera bilíngüe o indivíduo que fala
duas línguas orais de prestígio – línguas majoritárias, portanto.
Ocorre daí um apagamento e/ou um não reconhecimento linguístico
das línguas minoritárias, já que são desprestigiadas socialmente.
Quadros e Campello (2010) enfatizam que uma educação bilíngue na rede
pública requer uma revisão do status da língua portuguesa enquanto ocupante de
um espaço central nesse contexto, em que surdos e ouvintes se reconhecessem
como bilíngues.
Outro ponto a considerar, quando falamos em educação bilíngue no contexto
da inclusão, é a responsabilidade da escola em promover a inclusão de profissionais
surdos, sejam professores, gestores, entre outros, garantindo assim que essa
inclusão se de em via de mão dupla. Como propõe Quadros e Campello (2010, p.
43):
7
É importante esclarecer que o Decreto 5626/05 não prevê a formação de um professor regente bilíngüe a ponto
de dar conta, sozinho, de trabalhar com alunos surdos e ouvintes, ministrando as aulas em português e em
LIBRAS; o contexto educacional bilíngüe será proporcionado pela presença de outros profissionais e de medidas
específicas. No entanto, entendemos que o domínio, minimamente, da LIBRAS pelo professor irá contribuir para
um contexto educacional bilíngüe, considerando que o planejamento das aulas é direcionado por ele, e mesmo
contando com o apoio do intérprete para isso é o professor quem tem a formação didática e deve entender sobre
o processo de aprendizagem dos alunos de modo geral.
33
As relações de pertencimento precisam ser vivenciadas nesse
espaço bilíngue complexo. A escola que se propõe a executar a
educação bilíngue (Libras e língua portuguesa) vai precisar
considerar essa complexidade no seu dia a dia, redesenhando os
espaços escolares, inserindo em seu quadro professores bilíngues
(surdos e ouvintes) e intérpretes de língua de sinais.
Lacerda (2006) também aponta a necessidade de que membros da
comunidade surda se envolvam na escola, uma vez que irá favorecer o
desenvolvimento de aspectos identitários das crianças.
Nesse sentido, há que considerar a importância da formação de professores
surdos para atuarem nesse espaço. Trabalhos, como o de Miorando (2006), buscam
enfatizar a formação de professores surdos a partir do relato de experiências de
alguns desses profissionais. Esse, porém, é um campo de pesquisa ainda pouco
explorado.
Como vimos, um dos aspectos centrais na proposta educacional bilíngüe para
alunos surdos é o fato de a Libras estar presente no contexto escolar, sendo
utilizada por todos, especialmente pelos professores, dado este fato, na sequência
analisaremos a
formação destes profissionais para realizar o atendimento
educacional dos alunos surdos em classe comum.
3.4 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA – SABERES NECESSÁRIOS
PARA A EDUCAÇÃO DO ALUNO SURDO
O papel do professor tem sido bastante enfatizado no que envolve a inclusão
de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular. Alguns
autores se referem a esse profissional como “peça estratégica” (BEYER, 2006, p.81)
na chamada educação inclusiva. Outros estudiosos enfatizam que entre as
atribuições dos professores está a de criar situações para que os alunos com
deficiência possam contribuir nesse novo contexto educacional em sala de aula, de
maneira que suas limitações não se evidenciem. (STAINBACK, 1999).
Conforme Diniz e Leão (2008, p.9), esses alunos foram trazidos para as
escolas por meio de mudanças conjunturais e mobilizações sociais que forçaram as
políticas educacionais a permitirem o acesso desses sujeitos “outros à Educação
Básica”.
As análises de Vitaliano, Dall‟Acqua e Brochado (2010, p. 22) evidenciam que
34
a inclusão de alunos com NEE vem ocorrendo de modo que a ênfase maior é dada
ao acesso à escola em detrimento de uma educação de qualidade, visto que se
ampliou significativamente a abrangência do atendimento escolar para a população
brasileira nos últimos anos, inclusive a matrícula de alunos com necessidades
educacionais especiais, como resultado de algumas legislações (Lei nº 9394/96;
Resolução CNE/CEB nº2 de 2001) porém “a garantia do direito à educação com
qualidade para os alunos com NEE é ainda mais deficitária.”
Desse modo, temos um contexto ainda desfavorável para a inclusão dos
alunos com NEE, pois os professores não se sentem preparados para atender as
especificidades de cada aluno (VITALIANO, 2010; MACHADO, 2008) ou até mesmo
resistentes em função do modo como se deram essas mudanças, que normalmente
acontecem primeiro no âmbito legal, quase sempre vistas como uma forma de
coação, ou intimação, para que a escola e os professores acatem. Glat (2011, p. 1),
em consonância com outros autores, adverte que:
[...] não basta que uma proposta se torne lei para que a mesma seja
imediatamente aplicada. Inúmeras são as barreiras que impedem
que a política de inclusão se torne realidade na prática cotidiana de
nossas escolas. Entre estas, a principal, sem dúvida, é o despreparo
dos professores do ensino regular para receber em suas salas de
aula, geralmente repletas de alunos com problemas de disciplina e
aprendizagem, essa clientela.
É evidente que a principal dificuldade quando se trata de educação inclusiva é
a formação do professor, e repetidas vezes é mencionada a falta de preparo desse
profissional, no entanto, Skliar (2006, p.31) traz algumas considerações, que nos
chamam a atenção, em relação ao “estar preparado”:
Afirma-se que a escola e os professores não estão preparados para
receber os “estranhos”, os “anormais” nas aulas. Não é verdade.
Parece-me ainda que não existe nenhum consenso sobre o que
signifique “estar preparado” e, muito menos, acerca de como deveria
se pensar a formação quanto às políticas de inclusão propostas em
todo o mundo.
O autor acima citado defende que não há necessidade de se criar um
discurso racional sobre esse “outro 'específico' que está sendo chamado à inclusão”
e não considera relevante um discurso racional sobre a surdez para que nos
relacionemos com surdos, mas, que “talvez haja necessidade de uma reformulação
das relações com os outros na pedagogia”. (SKLIAR, 2006, p.31)
35
As palavras de Rodrigues (2010, p.7) também levam a entender que não
basta a oferta de formação inicial para preparar profissionais aptos a lidar com as
diferenças, é necessário estar atento a qualidade da formação oferecida. Para ele “o
conhecimento da diferença não é sempre positivo; podemos conhecer para melhor
segregar”.
Rodrigues (2010, p. 7) argumenta que:
[…] se a ênfase na formação de professores for dada na
diferença e nos casos mais profundos, acabamos por
proporcionar (ainda que com boas intenções…) um argumento
para que o jovem professor avalie a sua futura tarefa como
quase inultrapassável e até a rejeitar a inclusão de alunos com
dificuldades devido exactamente ao conhecimento que tem das
reais dificuldades que esses alunos têm.
Este mesmo autor ainda considera que “a profissão de professor exige uma
grande versatilidade” visto que requer autonomia e capacidade de traçar planos de
intervenção pedagógica em diferentes condições, o que requer mais do que uma
formação acadêmica, sendo necessária também uma formação profissional
(RODRIGUES, 2010, p. 6). Também considera que o conhecimento das diferenças
não deve se dar “como se se tratasse de uma situação médica mas, fazer
acompanhar cada caracterização de indicações pedagógicas que contribuam para
que o futuro professor possua um esboço de entendimento que lhe permita iniciar o
seu processo de pesquisa (RODRIGUES, 2010, p.7).”
Denari (2006, p.37) considera importante a identificação das necessidades
educacionais especiais, enfatizando que se não houver o devido cuidado em relação
às adequações curriculares, “a seleção dos materiais educativos de apoio e a
escolha das estratégias metodológicas e didáticas podem não corresponder ao que
realmente o aluno requer”.
Há que se cuidar, no entanto, para que no processo de formação de
professores, os alunos com NEE não sejam apresentados de forma generalizada,
com manual de instruções para cada tipo de deficiência, por exemplo. Mas que essa
formação se dê numa perspectiva humanizadora, em que cada ser humano seja
percebido em sua singularidade.
Cunha (2005, p. 70) considera que “se a concepção de formação não é
neutra, com toda a característica do ato humano, é preciso analisá-la numa
perspectiva que se afaste da concepção meramente técnica”.
36
Em relação à formação de professores para lidar com as necessidades
educacionais especiais, podemos considerar as reflexões de Vitaliano (2002, p. 60)
de que “atualmente observamos que, quando falamos da formação do professor em
relação à Educação Especial, a ênfase está na formação do professor e não mais na
formação do professor habilitado ou especializado em Educação Especial”.
Nesse sentido podemos questionar, em busca da elucidação dos saberes que
devem permear a formação dos professores para atender as NEE no ensino regular,
o que se espera, afinal, desse profissional?
Skliar (2006, p. 32) considera que a formação de professores deve superar o
conhecimento científico acerca do outro, priorizando a experiência, a ética e a
responsabilidade para com o outro, com alteridade e sugerindo o diálogo entre os
professores. Nas palavras do autor:
[…] uma formação orientada a fazer que os professores possam
conversar- conversar no sentido que tenho explicitado anteriormentecom a alteridade e, também, a possibilitar a conversação dos outros
entre si. É por isso que entendo que haveria algumas dimensões
inéditas no processo de formação, para além de conhecer
textualmente o outro, independentemente do saber “científico” acerca
do outro: são aquelas dimensões que se vinculam com as
experiências do outro, dos outros, com a vibração em relação ao
outro, com a ética prévia a todo outro específico, com a
responsabilidade para com o outro […] (SKLIAR, 2006, p. 32).
Para Vitaliano e Manzini (2010, p. 53) a formação inicial do professor deve
contemplar a prática educativa, pois consideram que “sua ação se dá no contexto
escolar”. Os autores trazem algumas considerações acerca desses saberes,
relacionados ao trabalho pedagógico do professor frente o processo de inclusão de
alunos com NEE, sobretudo:
[...] na ocasião do planejamento e execução de suas atividades
didáticas, com atenção à organização da sala de aula, aos materiais
didáticos, à sequência e ao ritmo de exigência de realização das
atividades, de modo a contemplar as diferenças apresentadas pelos
alunos presentes em sala de aula, bem como interagir com os alunos
com NEE, de modo a orientar seu processo de aprendizagem e
promover sua socialização com os colegas de turma (VITALIANO e
MANZINI, 2010, p.54).
Sabemos que a realidade, em relação à qualidade que tanto se apregoa, está
bem aquém das políticas propostas para a educação de alunos com NEE. E quando
pensamos a educação de sujeitos surdos no ensino regular nos perguntamos: o que
37
realmente é relevante para a formação do professor que irá atuar com esses alunos
cuja aprendizagem depende principalmente do sentido visual?
Há vários questionamentos acerca das condições em que vem ocorrendo o
processo de inclusão de alunos surdos na escola regular. Como apontam alguns
autores (ANTIA; STINSON, 1999; LACERDA; LODI, 2006; MACHADO, 2008;
BOTELHO, 2007; TAVARES; CARVALHO, 2010), as experiência de inclusão de
crianças surdas, ainda têm apresentado falhas na promoção da inserção acadêmica
e social dos referidos alunos, bem como são identificados diversos fatores que
interferem em seu aproveitamento escolar, tais como a falta: de intérpretes, de
recursos imagéticos, de conhecimento da Libras por parte dos professores e demais
alunos entre outros.
Embora a legislação preveja mecanismos de acessibilidade às pessoas
surdas, o que se tem alcançado é o mínimo em relação ao necessário.
De acordo com Tavares e Carvalho (2010, p. 3-4),
Percebe-se que em nosso país, entre os documentos que compõem
o conjunto de leis denominado Políticas Públicas e sua
implementação, há um grande fosso. Com as políticas públicas
educacionais na área de educação de surdos, não é diferente. Há lei
para acessibilidade que garante intérprete de Língua de
Sinais/Língua Portuguesa durante as aulas, flexibilidade na correção
das provas escritas, materiais de informação aos professores sobre
as especificidades do aluno surdo etc. Mas, na prática, o que se
percebe, é o aluno surdo mais excluído do que incluído nas salas de
aula regulares, enfrentando dificuldades, que, muitas vezes os seus
familiares é que tentam minimizar, buscando soluções nem sempre
eficientes para ajudá-los. Por outro lado, professores, em sua
maioria, sem conhecimento mínimo da Libras e, algumas vezes,
subsumido por uma carga horária de trabalho exaustiva, não têm
tempo para buscar uma formação continuada na área. Carece-se
também de cursos de Libras básico e, principalmente, avançado,
pois o estudo da língua em seus aspectos gramaticais ainda é
restrito em nosso país, justamente porque faltam professores
formados nessa área.
Dias
et al. (2007) também destacam como deficiência no processo de
inclusão dos alunos surdos o acesso à comunicação, visto que o atendimento a esse
alunado demanda alguns recursos, tais como o apoio de intérpretes. Além desses
fatores, os autores salientam que:
[…] essas adaptações nem sempre são possíveis ou, quando o são,
não garantem, de fato, a apresentação dos conteúdos com
significado para o aluno, pois essas dependem de uma adaptação
ainda mais complexa que se refere ao modo de ensinar, às atitudes
adotadas pelo professor diante do processo de ensino-aprendizagem
38
(DIAS; SILVA; BRAUN, 2007, p. 107).
As barreiras comunicativas, bem como o desconhecimento das necessidades
educativas especiais na escola, acabam gerando outras dificuldades e equívocos
relacionados ao atendimento educacional de alunos surdos.
Devido á tradição oralista e ao que se apregoou por muito tempo durante esse
período, muitos professores, ao receberem um aluno surdo em sala de aula,
colocam-no à frente dos demais, na primeira carteira e procuram falar de frente para
ele supondo que fará leitura labial e conseguirá acompanhar as aulas como os
outros.
Como assinala Machado:
Um olhar atento ao que acontece na maioria das escolas regulares
quando se observa o trabalho com o aluno surdo, numa primeira
impressão, revela a adesão, por parte da instituição, à filosofia
oralista, sem questionar se existem outras possibilidades para a
educação de surdos. Parece haver um consenso mudo, por exemplo,
sobre o fato de que, se todos falam, esse estudante deve também
falar (MACHADO, 2008, p. 24).
Quando a surdez é enfatizada como limitação, uma série de posturas
equivocadas se assume em relação ao aluno surdo, por parte de colegas,
professores e até pelos próprios alunos surdos. Estes acabam se mostrando frágeis
e dependentes enquanto os professores e colegas praticam o protecionismo, o
paternalismo, entre outras atitudes.
Botelho (2007, p. 15) destaca que, muitas vezes, os resultados em relação à
inclusão de alunos surdos no ensino regular são precários pelo fato deles não serem
falantes da língua que circula na sala de aula. E alguns, que insistem em
permanecer na escola, o fazem “a custas de proteção, acobertamento de
dificuldades e outras astúcias.” Um dos motivos desses comportamentos diante do
aluno surdo deve-se à formação do professor, pois como salienta Gesser (2009, p.
292).
A maioria dos cursos universitários que preparam os profissionais
para atuar com a surdez têm insistentemente localizado tais
indivíduos na narrativa da deficiência, promovendo concepções
geralmente simplificadas, construídas a partir de traços negativos
como, por exemplo, a falta de língua(gem).
Pressupomos que o novo enfoque a ser dado com a introdução da língua de
sinais nas licenciaturas tende a dissociar, gradativamente, a surdez do foco
39
patológico, e isto poderá favorecer de modo significativo, o processo de inclusão dos
surdos no ensino regular, pois como assinala Machado (2008, p. 78), “pouco adianta
a presença de surdos se a escola ignora sua construção histórica, cultural e social.”
Como mostram os resultados da pesquisa realizada por Vitaliano, Dall‟Acqua e
Brochado (2010) sobre a caracterização da disciplina de Libras nas universidades
públicas dos estados do Paraná e de São Paulo no curso de Pedagogia, as ementas
analisadas evidenciaram que, geralmente está previsto conteúdos referentes a
cultura surda e, até mesmo sobre o processo de inclusão do aluno surdo no ensino
regular, este último tema, particularmente está presente em grade parte nas ementas
dos cursos do Estado de São Paulo.
Muito embora, também sejam previstos
conteúdos condizentes com a perspectiva clínica.
Outro aspecto importante no processo de implantação da disciplina de Libras
é que os graduandos não conhecerão mais o surdo somente pelo discurso do outro
(ouvinte), pois a expectativa é que, cada vez mais, os próprios surdos sejam
docentes da disciplina, visto que os mesmos têm prioridade nos cursos de formação
para a função, como previsto no capítulo III do Decreto nº 5626/05.
É certo que o processo de implantação dessa disciplina precisa de reflexões e
análises para se ter mais clareza sobre seus objetivos e formas de organização,
além disso, é uma medida que para muitos é inadequada, visto que “rouba” espaço
de disciplinas mais importantes, aquelas específicas de cada curso, no entanto,
consideramos que para melhorar o atendimento educacional a ser oferecido aos
alunos surdos ela pode trazer contribuições significativas. Desta forma pode ser
considerada um avanço em termos de políticas
referentes à formação de
professores o fato de termos uma disciplina como obrigatória com o tema Libras. A
este respeito Strobel considera que:
São raros os professores habilitados para trabalhar com os alunos
surdos em sala de aula. Na maioria dos cursos de Pedagogia nas
universidades não tinham estas especializações para esta áreasomente agora salvo pelo decreto n. 5626, de 22 de dezembro de
2005 que dá obrigatoriedade das aberturas de cursos de Libras
nestes cursos, as coisas podem melhorar (STROBEL, 2008, p. 102).
Entre tantas funções que são atribuídas ao professor, parece-nos injusto que
se exija o domínio da LIibras para atuar de forma inclusiva, considerando que esta é
uma habilidade que nem todos conseguem desenvolver em tempo viável e com
certo êxito. Além disso, sabemos que a utilização da língua oral e da língua sinais
40
simultaneamente por um indivíduo pode gerar ambiguidades e distorções em ambas
as línguas, visto que possuem estruturas sintáticas diferentes, sendo totalmente
independentes uma da outra (QUADROS; KARNOPP, 2004), essa prática é
caracterizada por alguns autores como bimodalismo (HARRISON; LODI; MOURA,
1997; QUADROS 1997a, p. 24).
A garantia de acesso à informação, comunicação e à educação estão
previstas no Decreto 5626/2005, mas envolve diversos profissionais da educação,
como especifica o capítulo IV do referido decreto, sobre o provimento das escolas
com instrutores, professores e intérpretes de Libras.
O conhecimento da Libras, no entanto, quanto à sua estrutura lexical, sintática
e semântica, seria fundamental ao professor, no sentido de buscar formas de
explicar um conteúdo de modo mais claro e sucinto, facilitando o trabalho do
tradutor-intérprete, bem como possibilitar melhor interação entre professor e aluno.
Como assinala Reily (2008, p.125):
[...] mesmo na escola que conta com um intérprete, com uma sala de
recursos, com serviço e apoio de professor de educação especial ou
professor itinerante, é de fundamental importância que o aluno sinta
que seu professor está se esforçando para se aproximar dele,
tentando encontrar maneiras de interagir com ele. O professor
também pode intermediar a aceitação do aluno pelos outros alunos,
para que ele se sinta parte da classe. Na nossa sociedade, a
interação se dá mediada pela linguagem. Não basta uma
aproximação física.
O fato de a disciplina de Língua Brasileira de Sinais (Libras) ser obrigatória
nos cursos de formação de professores pode ter dado a entender que o professor
regente deverá ministrar suas aulas em Libras, o que seria tecnicamente impossível
(BOTELHO,2007). Além do mais apropriar-se efetivamente da Língua de Sinais,
assim como de qualquer outra língua, requer muito mais que um semestre ou
mesmo um ano todo de curso
Consideramos que o Decreto 5626/05 traz um item, pouco destacado, que
traduz o que se espera do professor que irá atuar junto a outros profissionais, com o
aluno surdo: “professor regente de classe com conhecimento acerca da
singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos.” (CAPÍTULO IV, art.
14º). [grifo nosso]
Talvez esse item seja o que melhor justifica a disciplina de Libras na formação
de professores e que deveria nortear os planejamentos da disciplina, principalmente
41
a seleção de conteúdos que serão ministrados, cuidando desse modo para que a
disciplina não se equipare a um curso básico de Libras, mas que vá além do ensino
dessa língua (que é indubitavelmente essencial para a formação de professores),
contemplando aspectos cognitivos e pedagógicos fundamentais ao trabalho docente.
Por desconhecimento das características da Língua de Sinais e da lógica nos
“equívocos” de produções escritas de alunos surdos, alguns professores acabam
acreditando que a dificuldade de domínio na língua padrão seja de ordem cognitiva
(BOTELHO, 2007, p. 20). Daí a importância de compreender a estrutura da língua
de sinais e especificidades da surdez: para realizar uma avaliação mais coerente do
processo de aprendizagem dos alunos surdos, bem como a intervenção adequada,
que considere a singularidade dos mesmos.
Desse modo, levamos em conta, que a aquisição da língua de sinais pelos
professores ou o simples conhecimento de “como” e “por que” a maioria dos surdos
escreve “diferente”, não irá resolver a questão da inclusão desses alunos.
Sobre isto, Damázio (2007, p.14) ressalta que:
Mais do que a utilização de uma língua, os alunos com surdez
precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o
pensamento, explorem suas capacidades, em todos os sentidos. Se
somente o uso de uma língua bastasse para aprender, as pessoas
ouvintes não teriam problemas de aproveitamento escolar, já que
entram na escola com uma língua oral desenvolvida.
Além disso, há outros fatores importantes a serem estudados, como os
propostos por Dias, Silva e Braun (2007, p. 107):
Um outro aspecto que ainda precisa ser aperfeiçoado é a relação de
colaboração entre alunos surdos e ouvintes, para que as informações
e trocas não fiquem restritas à relação professor- aluno surdo e
passem a ser (re)significadas no e pelo contexto em que estão
inseridas. Também é apontada a necessidade de maior colaboração
entre professores e especialistas (quando houver) que participam do
cotidiano escolar, para a organização de atividades que apresentem
ações e propostas eficazes às necessidades de todos os alunos.
Consideramos, portanto, que investir na formação de professores, tanto em
formação inicial como formação continuada é a melhor forma de sanar as
deficiências relacionadas à educação de alunos surdos no ensino regular, visto que
quase todos os fatores que interferem para que o processo de inclusão seja efetivo
estão ligados às atitudes e práticas cotidianas em sala de aula, seja referente à
didática do professor, às relações sociais deste para com os alunos ou as relações
42
que ele pode mediar entre os mesmos.
Conquanto, algumas questões precisam ser levantadas e discutidas para que
o processo de implementação da Libras nas licenciaturas tenha maior êxito, entre as
quais podemos elencar o modo pelo qual tem-se dado o ensino da disciplina na
formação dos futuros profissionais da educação; quais conteúdos são abrangidos;
qual o perfil do profissional que ministra a disciplina de Língua de Sinais como
segunda língua para ouvintes, entre outras.
Há também que se considerar uma análise do processo de implementação da
disciplina de Libras, a partir dos envolvidos neste, objetivando a busca de pistas
sobre os efeitos da referida disciplina junto aos graduandos dos cursos de
pedagogia. Para isso é necessário avaliar o que não tem funcionado muito bem e o
que deve ser mantido em relação aos conteúdos e estratégias de ensino.
Tendo como o problema que nos motivou à realização dessa pesquisa, o
questionamento: “como se tem dado a implementação da disciplina de Libras na
formação do pedagogo?”, apresentamos a seguir, os principais objetivos deste
trabalho.
43
4 OBJETIVOS DA PESQUISA
Objetivo Geral
Caracterizar a implementação da disciplina de Libras no curso de Pedagogia
da UEL e seus efeitos junto aos graduandos.
Analisar as percepções da professora sobre a organização e objetivos da
disciplina de Libras no currículo do curso de Pedagogia.
Objetivos específicos:

Conhecer o perfil do profissional que ministra a disciplina de Libras.

Analisar o conteúdo, metodologia e processos avaliativos desenvolvidos
durante a disciplina.

Identificar quais os saberes trabalhados na disciplina.
 Identificar as concepções dos alunos em relação à surdez, à língua de sinais
e à inclusão de alunos surdos, após concluírem a disciplina curricular.
44
5 MÉTODO
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
A presente pesquisa está pautada pelos princípios das abordagens: qualitativa
e quantitativa. Embora haja diferenças significativas entre essas duas abordagens,
alguns autores, vêm demonstrando a eficácia de uni-las, tendo em vista os
benefícios de ambas na análise dos dados. Nessa perspectiva, Demo (1995, p. 231)
enfatiza que:
Embora metodologias alternativas facilmente se unilateralizem na
qualidade política, destruindo-a em consequência, é importante
lembrar que uma não é maior, nem melhor que a outra. Ambas são
da mesma importância metodológica.
Para Demo (1996, p.34) a pesquisa é uma atividade cotidiana, considerada
como uma atitude, um “questionamento sistemático, crítico e criativo, mais a
intervenção competente na realidade ou o diálogo crítico permanente com a
realidade em sentido teórico e prático”.
As pesquisas de base quantitativas que se fundamentam na corrente teórica
positivista têm como objetivo explicar a ocorrência de determinado fenômeno ou
realidade temporal observada, utilizando-se de métodos ancorados em números.
Uma das grandes ferramentas desse método de pesquisa é o questionário. A partir
desse instrumento o pesquisador faz deduções, confirmando ou refutando hipóteses
anteriores.
Por outro lado temos a pesquisa qualitativa, na qual:
(…) há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é,
um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do
sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos
fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de
pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados
e o pesquisador é o instrumento chave. É descritiva. Os
pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O
processo e seu significado são os focos principais de abordagem
(GIL,1999, p.42)
Para Neves (1996, p. 1), a pesquisa qualitativa é “um conjunto de diferentes
técnicas interpretativas, que visam a descrever e a decodificar os componentes de
um sistema complexo de significados”. De acordo com Souza (2007, p.98-99) “se
45
insere num espaço dialógico, no qual a descoberta e a validação de processos são
mais relevantes do que a lógica de prova, predominante nas pesquisas
quantitativas”.
Entendemos, entretanto, que a aproximação de dados exatos ou objetivos são
de extrema importância para uma interpretação subjetiva dos fenômenos
pesquisados.
Tendo em vista à natureza e à peculiaridade da investigação, que objetiva
responder a questões que nos inquietam optou-se pelo processo investigativo do
Estudo de Caso intrínseco. Esse tipo de Estudo de Caso é descrito por Stake (apud
Duarte, 2008, p. 115) da seguinte forma:
Por vezes o caso aparece-nos pela frente, e sentimo-nos obrigados a
tomá-lo como objecto de estudo. Isso acontece quando um professor
decide estudar um aluno em dificuldades, quando sentimos
curiosidade por determinados procedimentos, ou quando decidimos
avaliar um programa.
Em nosso caso, o estudo se aproxima da avaliação de um programa, tendo
em vista a análise da disciplina de Libras.
5.2 PARTICIPANTES
Os participantes desta pesquisa foram: 1 (uma) professora de Libras e seus
respectivos alunos do curso de Pedagogia da UEL.
Chamaremos de alunos participantes aqueles
que responderam
ao
questionário, ainda que não tenham respondido a todas as questões, que somaram
40. Os alunos participantes corresponderam aos graduandos de quatro turmas do 4º
ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina do período
matutino e noturno. Estas turmas eram divididas em 2 no período matutino, as quais
tinham 26 alunos em uma turma e 20 em outra; e 2 turmas no período noturno com
38 alunos em uma das turmas e 35 na outra turma.
Ao todo foram aplicados 90 questionários, visto que nem todos os alunos
estavam presentes no momento da aplicação. No entanto, o total de questionários
respondidos foi 40, devolvidos em branco 17 e não devolvidos 33.
Destacamos que estas foram as primeiras turmas do referido curso que
tiveram a disciplina de Libras como obrigatória em sua matriz curricular.
46
5.3 PERFIL DOS ALUNOS PARTICIPANTES
Considerando o número de alunos participantes, verificamos que 5% eram do
sexo masculino, sendo os outros 95% constituídos por pessoas do sexo feminino.
A faixa etária dos alunos participantes variou entre 21 e 47 anos. Vale
destacar que 7,5% não preencheram o espaço no questionário referente ao item
“idade”. Dos alunos participantes, 60% afirmaram que ainda não atuavam no
magistério. Os demais 40% dos alunos participantes afirmaram que já tinham algum
tempo de atuação no magistério. Dos alunos que possuíam experiência na docência,
69% atuavam a menos de 5 anos na área, enquanto os outros 31% já atuavam há
mais de 5 anos.
5.4 LOCAL DA PESQUISA
A coleta de dados ocorreu nas salas de aula do Centro de Educação
Comunicação e Artes (CECA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a
entrevista com a professora foi realizada em uma das salas da referida universidade.
5.5 PROCEDIMENTOS
A coleta de dados foi realizada por meio da técnica de entrevista
semiestruturada (vide apêndice B), junto à professora ministrante da disciplina de
Libras e da aplicação de um questionário (vide apêndice A), junto aos graduandos
de Pedagogia, que se encontravam em fase de finalização do curso, sendo este
aplicado após os graduandos participarem da disciplina de Libras, disposta na grade
curricular no último semestre do curso.
Também foi analisado o programa da disciplina Libras (vide anexo A) utilizado
pela referida professora (ementa, objetivos, conteúdos, carga horária e referências
bibliográficas).
Para realizar a coleta dos dados, o presente projeto foi encaminhado ao
comitê de ética para aprovação. A aprovação do comitê foi favorável, com o parecer
nº 036/2011 (vide anexo B). Desta forma, no momento da aplicação do questionário
e da entrevista, foi apresentado aos participantes o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido – TCLE (apêndices D e E).
47
A entrevista com a professora de Libras foi realizada em Língua Brasileira de
Sinais, filmada, analisada, transcrita e traduzida para a Língua portuguesa.
Para transcrever a entrevista utilizamos o sistema de transcrição proposto por
Tânia Amara Felipe (2001), por ser mais acessível e de fácil compreensão (vide
apêndice F). A tradução foi conferida pela própria entrevistada e para garantir a
fidedignidade dos dados, por mais três intérpretes de Libras com as seguintes
qualificações:
Intérprete 1: Graduada em Fonoaudiologia, Pós- graduada em Libras,
Intérprete com Certificação de proficiência em Libras pelo MEC (Prolibras); Atuação
no Ensino Superior há mais de 3 anos e atuação como intérprete generalista há mais
de 10 anos.
Intérprete 2: Formação em nível médio; Intérprete
com Certificação de
proficiência em Libras pelo MEC (Prolibras), atuação no Ensino Superior há mais de
4 anos; atuação no Ensino Fundamental e Médio na rede pública há mais de 5 anos;
e atuação como intérprete generalista há mais de 10 anos.
Intérprete 3: Formação em nível médio; Intérprete com Certificação de
proficiência em Libras pela FENEIS; atuação no Ensino Superior há mais de 2 anos
e intérprete generalista há mais de 5 anos.
O questionário foi aplicado aos alunos do período matutino nas aulas da
disciplina de Libras. Desse modo, conversamos com a professora anteriormente e
explicamos os objetivos da pesquisa, solicitando assim um breve espaço no final da
aula para apresentarmos o questionário e lermos o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido aos mesmos antes de entregarmos o questionário.
Para os alunos do período noturno, embora tenhamos conversado sobre a
pesquisa em um espaço da disciplina de Libras, não conseguimos aplicar o
questionário no mesmo horário das aulas. Sendo assim entregamos o questionário
aos alunos no horário de aula de outra disciplina, ministrada por uma docente que
aceitou disponibilizar alguns minutos de sua aula. Nesta ocasião aguardamos até o
final das aulas, do mesmo dia em que aplicamos para recolhê-los.
Levando-se em conta que recebemos apenas 40 questionários respondidos,
temos como hipótese que os demais alunos não responderam, em virtude do
acúmulo de atividades na fase final do curso, tais como entrega de trabalho de
conclusão de curso e relatório de estágio. Além disso, no dia da aplicação
verificamos que muitos alunos faltaram à aula, sendo distribuído ao todo nas quatro
48
turmas apenas 90 questionários, considerando a população de 119 que frequentam
o curso.
5.6 INSTRUMENTOS DE COLETA DOS DADOS:
Os instrumentos utilizados foram 1 roteiro de entrevista, 1 questionário e o
programa da disciplina de Libras. O roteiro de entrevista foi realizado junto à
professora que ministra a disciplina de Libras, o questionário aplicado aos alunos
que estavam concluindo a disciplina e o programa da disciplina de Libras foi
analisado paralelamente à análise dos demais instrumentos.
Buscando atender aos objetivos do trabalho, o roteiro da entrevista foi
organizado em três temas gerais: 1)Perfil do profissional que ministra a disciplina de
Libras; 2) Considerações acerca da Educação de surdos; e 3) Considerações acerca
da Disciplina de Libras.
O questionário aplicado aos graduandos foi subdividido em dois temas, sendo
o primeiro relacionado à disciplina de Libras e o segundo a concepção de surdez e a
inclusão dos alunos surdos no sistema regular de ensino.
Para realizar a adequação dos instrumentos, foi feito um estudo piloto, de
modo que os mesmos foram previamente testados. O questionário foi aplicado a três
alunas que cursaram a disciplina de Libras, sendo que uma cursou a disciplina na
mesma instituição, mas em outro curso, e duas do curso de Pedagogia que
cursaram a disciplina em outra instituição. O programa da disciplina Libras (ementa,
objetivos, conteúdos, carga horária e referências bibliográficas) foi analisado,
buscando identificar os conteúdos, os objetivos e as concepções presentes em
relação à surdez e o processo de inclusão dos alunos surdos no sistema regular de
ensino. Além disso, ambos instrumentos de coleta dos dados foram avaliados pelos
docentes e alunos da disciplina: seminários de pesquisa junto ao Programa de
Mestrado em Educação da UEL, os quais apresentaram sugestões que foram
acatadas.
5.7 TRATAMENTO DOS DADOS
Os dados coletados a partir das respostas das entrevistas e do questionário
foram organizados em categorias, com base na análise de conteúdo de Bardin
49
(2009), relacionados e confrontados com o referencial teórico da área.
Os temas e as categorias foram organizados a partir das respostas dos alunos ao
questionário e da professora à entrevista.
As categorias foram definidas buscando maior adequação e pertinência aos
objetivos do trabalho, de modo a facilitar a análise dos dados coletados. Para isso
foram analisadas por um grupo de “juízes”, participantes do grupo de pesquisa
“Educação para inclusão”, coordenado pela professora Dra. Célia Regina Vitaliano,
composto por 3 professoras doutoras e pesquisadoras da área de Educação
Especial, 2 alunas mestrandas, com pesquisas na área de inclusão e 2 alunas
graduandas do curso de pedagogia da UEL, que desenvolviam projeto de iniciação
científica.
Considerando as sugestões dos “juízes”, organizamos os dados coletados por
meio da aplicação do questionário dirigido aos alunos em temas, categorias e
subcategorias que serão apresentados nos resultados (vide apêndice G)
50
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando a sequência da coleta dos dados iniciamos a apresentação dos
resultados com as análises do programa da disciplina de Libras. Na sequência, as
análises das respostas dos alunos ao questionário e finalizamos com as análises
das respostas da professora de Libras a entrevista.
6.1 ANÁLISE DO PROGRAMA DA DISCIPLINA DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS
No Capítulo II, do Decreto 5626/05, o curso de pedagogia está inscrito entre
os cursos, nos quais a disciplina de Libras se faz obrigatória. De acordo com esse
Decreto, as Universidades devem cumprir os prazos estabelecidos, contratando
professores para ministrar essa disciplina. Os prazos estabelecidos foram de até três
anos, em vinte por cento dos cursos das instituições; em até cinco anos, em
sessenta por cento desses cursos; até sete anos, em oitenta por cento; e dez anos,
em cem por cento dos cursos da instituição, especificados no Decreto, ou seja, o
curso de Fonoaudiologia e demais cursos de formação de professores (Licenciaturas
e Pedagogia). Ressaltando que, o Decreto ainda estabelece que, o processo de
inclusão da disciplina de Libras “deve iniciar-se nos cursos de Educação Especial,
Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se progressivamente para as
demais licenciaturas” (Artigo 9º, parágrafo único).
Em atendimento ao Decreto 5626/05 a Universidade Estadual de Londrina,
incluiu a professora de Libras em seu quadro docente a partir de 2010, sendo a
mesma contratada pelo Centro de Educação Comunicação e Artes (CECA), no
Departamento de Educação, no início do ano letivo, embora a disciplina só tenha
sido ofertada no segundo semestre.
Uma das atividades que coube à professora nesse período foi elaborar o
Plano de Atividade Acadêmica, do qual foi feita uma breve análise.
A disciplina foi identificada pelo código 6EDU119, com o nome LIBRASLíngua Brasileira de Sinais A, com a carga horária de 68 horas.
Destacamos o nome e a carga horária porque o Decreto não especifica esses
detalhes, de modo que estes ficam a critério de cada Universidade. Entre as
principais nomenclaturas da disciplina no Estado do Paraná, destacadas nas
pesquisas de Vitaliano, Dall‟Acqua e Brochado (2010,p.9-10) estão:
51
Noções de Língua Brasileira de Sinais- Libras;
Língua brasileira de sinais;
Linguagem de sinais e educação da pessoa surda;
Fundamentos da Língua Brasileira de Sinais- Libras;
Introdução a Libras – Língua Brasileira de Sinais;
Comunicação em Língua brasileira de Sinais – Libras/Fundamentos
da educação bilíngue para surdos.
A nomenclatura adotada para a disciplina, tanto na universidade pesquisada
quanto em outras, em sua maioria, como vimos, sugere que terá como tema, apenas
os conhecimentos da Libras, enquanto língua. Conhecer os conteúdos trabalhados
nesta disciplina foi uma das preocupações deste estudo, visto que o referido decreto
determina a inclusão da disciplina sem mais esclarecimentos sobre os conteúdos a
serem trabalhados. Também surge a questão, o quanto a disciplina de Libras,
considerando que a carga horária era de 68 horas no contexto da universidade em
questão, poderia ser suficiente para favorecer aos alunos o domínio mínimo da
língua.
Identificamos que a ementa da disciplina 6EDU119 desenvolvida junto aos
alunos do curso de Pedagogia em 2010 abrangia assuntos educacionais e
linguísticos, como podemos verificar a seguir:
Aspectos clínicos e educacionais da surdez. A cultura das pessoas
surdas. Análise das tendências educacionais: segregação e inclusão
dos alunos surdos. Caracterização e desenvolvimento da Língua
Brasileira de Sinais (Libras): aspectos lógicos, morfológicos e
gramaticais (sintaxe). Experimentação da utilização da Libras:
desenvolvendo a expressão gestual-visual-espacial. Análise do
processo de tradução e interpretação: Libras/ Português, Português/
Libras.
Entre os assuntos contidos na ementa, aparentemente predominam
conteúdos práticos ou linguísticos em detrimento dos teóricos/ educacionais. Porém,
os assuntos referentes a aspectos educacionais parecem bastante abrangentes, de
modo que, o professor pode explorar diversos conteúdos dentro da temática.
Os objetivos apresentados na ementa, para o ano de 2010 foram:
- Analisar e comparar as culturas (ouvinte/ surda);
- Compreender o momento histórico que os indivíduos surdos
passaram e suas implicações no presente;
- Conhecer as diferenças entre a Libras e a Língua Portuguesa;
- Adquirir noção básica da Libras, apropriando-se de conceitos
específicos relacionados à estrutura gramatical da Libras;
- Analisar as dificuldades de leitura e escrita que os surdos possuem;
- Desmitificar concepções inadequadas em relação às línguas de
Sinais;
52
- Compreender como o processo de tradução e interpretação em
línguas de sinais ocorre;
- Analisar textos produzidos por surdos e critérios de avaliação da LP
como segunda língua.
Identificamos na pesquisa de Vitaliano, Dall‟Acqua e Brochado (2010), que a
ementa da disciplina de Libras do referente curso é uma das poucas no Paraná que
incluem conteúdos relacionados ao processo de tradução/interpretação da Libras, o
que está explícito também nesses objetivos.
Essa questão se torna fundamental devido aos conflitos que profissionais
tradutores/intérpretes de Libras- Tils enfrentam em sala de aula pela indefinição de
seu papel, que muitas vezes se confunde com o do professor (LACERDA E
POLETTI, 2002). É importante que se discutam os limites e possibilidades do
intérprete educacional a fim de que professores e intérpretes atuem em conjunto, de
modo que o aluno não fique isolado em sala de aula com o intérprete, além de
outras questões que carecem de maior reflexão.
A seguir, apresentamos o conteúdo programático da disciplina 6EDU119, que
se apresenta como item 3 do Plano de Atividade Acadêmica:
1O sujeito surdo. Cultura surda.
2Problematizando a normalidade.
3Linguística e gramática de Libras.
4Língua de sinais básica.
5O surdo e sua relação com a língua Portuguesa como segunda
língua.
6Como avaliar as produções escritas pelos surdos.
O conteúdo programático contempla aspectos educacionais e linguísticos,
dando à disciplina um caráter teórico-prático. Em relação às tendências
educacionais e ao processo de interpretação e tradução de Libras, como previsto na
ementa e nos objetivos, não encontramos nenhum tópico referente ou relacionado
ao assunto.
Nos Procedimentos de Ensino estão dispostos:
Leitura e análise das temáticas abordadas nos textos; uso de
recursos audiovisuais e tecnológicos para apresentações que
contribuam para a melhor compreensão do tema em questão; uso da
Libras em atividades para aquisição de noções básicas da língua;
Contatos com os surdos usuários da Libras para reconhecer as reais
necessidades discutidas em aula.
Pela descrição dos procedimentos de ensino, observamos que a teoria é
abordada por meio de textos e outros recursos visuais, enquanto o uso da Libras é
53
bastante explorado em sala de aula, bem como proporcionado o contato com
surdos, enriquecendo a aprendizagem da língua.
O cronograma se apresenta como o item 5 do Plano de Atividade Acadêmica
e consiste na divisão dos conteúdos especificados no programa, em dois bimestres,
como descrito a seguir:
Terceiro Bimestre: itens 3.1, 3.2, e 3.3
Quarto Bimestre: itens 3.4, 3.5, e 3.6.
Os itens do cronograma correspondem aos tópicos do conteúdo programático
(item 3) apresentado anteriormente.
Quanto às formas e critérios de avaliação temos:
- Avaliação contínua, processual, por meio de provas com e/ou sem
consulta e seminário, que levará em conta, aprofundamento teórico,
leitura e discussão dos textos.
- Produção escrita de trabalhos individuais e/ou em grupos.
Em relação aos critérios avaliativos, observa-se que são similares aos de
outras disciplinas teóricas, pois não contemplam a aprendizagem da Libras. Os
critérios estabelecidos, bem como os instrumentos avaliativos permitem avaliar o
conhecimento teórico, seja acerca do processo educacional ou de informações
relacionadas ao conteúdo linguístico; mas não possibilitam avaliar a fluência dos
alunos em Libras.
De acordo com os dados do Plano de Atividade Acadêmica, constatamos que
abrange conhecimentos básicos à atuação do profissional junto a alunos surdos,
contemplando conteúdos com características educacionais e lingusticos. Os dados
são semelhantes aos da pesquisa realizada por Vitaliano, Dall‟Acqua e Brochado
(2010,p.10), e sobre os quais as pesquisadoras concluem que::
[....] evidenciam que os formadores responsáveis pela elaboração
das ementas, em sua maioria consideram importante que o ensino
da Libras se dê atrelado ao conhecimento sobre a cultura surda, o
processo de interpretação Libras – Português – Português - Libras,
bem como sobre os múltiplos aspectos envolvidos no processo
educacional da pessoa surda, especialmente o bilinguismo e o
processo de inclusão (p.10).
Levando em conta a natureza da pesquisa, cabe, uma análise mais criteriosa
do processo formativo, visto que algumas questões são previstas apenas na ementa
e nos objetivos, e omitidas nos conteúdos. Resta, portanto confrontar esses dados
com o discurso dos participantes da pesquisa, ou seja, o relato dos alunos e da
54
professora de Libras, a fim de se identificar com mais clareza os conteúdos
trabalhados na disciplina em foco.
Portanto, esta questão será retomada nas
discussões referentes à avaliação da disciplina pelos estudantes, bem como nos
relatos da professora em relação a descrição da disciplina.
6.2 ANÁLISE DOS DADOS DO QUESTIONÁRIO APLICADO AOS GRADUANDOS
Considerando que os resultados obtidos foram divididos em 3 temas,
iniciaremos pela apresentação das concepções dos alunos participantes sobre a
Surdez e a Língua Brasileira de Sinais, seguida pela Avaliação dos Alunos acerca da
Disciplina
de
Libras
e
por
fim
as
Percepções
dos
alunos
acerca
da
Educação/Inclusão de alunos Surdos.
6.2.1 Tema 1: Concepções dos Alunos Participantes sobre a Surdez e a Língua
Brasileira de Sinais.
Neste tema buscamos verificar alguns conhecimentos que os alunos
participantes construíram durante a disciplina, acerca da surdez e da Língua de
Sinais, para isso investigamos também seus conhecimentos prévios, a fim de
identificar o que foi acrescentado por meio da disciplina de Libras.
6.2.1.1 Caracterização da surdez pelos alunos participantes
Dos alunos que responderam ao formulário, 70% caracterizam a surdez
dentro de uma perspectiva clínica, enfocando a condição fisiológica da surdez, 15%
não se manifestaram sobre essa questão. Apenas 5% fizeram considerações acerca
da surdez que se aproximam de uma concepção mais cultural. Outros 5% dos
alunos admitiram não conseguir caracterizar a surdez.
As considerações que se seguem mostram as concepções dos alunos, sob
uma perspectiva clínica da surdez:
Uma deficiência auditiva que tem como consequência o
comprometimento na comunicação (A4).
Algo que dificulta o desenvolvimento, mas é uma barreira que pode
ser derrubada (A17).
Uma dificuldade na audição, leve moderada ou severa (A23).
55
Pudemos perceber que os alunos participantes concebem a surdez como
deficiência sensorial, que pode ser classificada de acordo o nível de perda auditiva,
acrescida a análise da consequência que a surdez traz ao indivíduo, embora alguns
consigam perceber que é uma condição que gera dificuldades que possam ser
superadas.
Como se observa as respostas dos alunos estão carregadas de expressões
negativas, como “consequência”, “perda”, “limitações”, “dificuldade”, “barreira”,
“disfunção” e “deficiência”, no que diz respeito à surdez. O que demonstra uma
“concepção de surdez como marca depreciativa, por internalização de estigma e de
preconceito”. (BOTELHO, 1998, p. 23).
Poucos alunos participantes (5%) apresentaram concepções que representam
aspectos culturais da surdez, com as seguintes expressões:
Deficiência‟ auditiva, porém aspecto linguístico e cultural diferenciado
da cultura ouvinte; tem sua língua própria, cultura e capacidade
assim como o ouvinte (A14).
Uma característica existente em determinado grupo de pessoas.
(A39)
Ao colocar aspas para a expressão “Deficiência” o aluno “A14” demonstra
certo receio ou cuidado em não narrar a surdez como deficiência, utilizando em
seguida características que remetem a uma perspectiva cultural, o que demonstra
conhecimento por parte desse aluno acerca da abordagem socioantropológica.
Na resposta do aluno “A39”, ao se referir aos surdos, utiliza a palavra “grupo”
o que também denota uma concepção mais cultural do que clínica, visto que a
concepção socioantropológica entende que as pessoas surdas formam grupos
culturais e linguísticos (STROBEL, 2007; KARNOPP, 2006; SÁ, 2006; PADDEN;
HUMPHRIES, 2005; PERLIN, 2004; LANE; HOFFMEISTER; BAHAN,1996).
Verificamos que alguns alunos demonstraram dificuldades para caracterizar a
surdez, bem como insegurança em relação ao modo como deveriam se referir aos
surdos, visto que descreveram:
Não sei bem como caracterizar a surdez, se como aluno especial ou
aluno deficiente” (A3).
Tendo em vista que os objetivos da disciplina apontavam para uma
experiência mais relacionada a aspectos culturais e linguísticos dos alunos surdos
56
em detrimento de conceitos clínico-terapêuticos, os resultados não foram
satisfatórios e evidenciaram a necessidade de mais estudos sobre a questão, visto
que a compreensão antropológica da surdez ocorreu com menos freqüência
prevalecendo, entre os alunos, a visão clínica, de surdez enquanto deficiência.
Estes resultados nos motivaram a analisar as concepções dos participantes
sobre a Libras, a fim de perceber como compreendem o papel desta língua para as
pessoas surdas. A seguir apresentamos as concepções apresentadas pelos
participantes sobre a Libras..
6.2.1.2. Compreensão sobre a Língua Brasileira de Sinais pelos alunos participantes.
Em relação a compreensão dos participantes sobre a Libras identificamos que
52,5% dos alunos participantes referiram-se à Libras como língua e 30% como
Linguagem. Desses alunos, 5% descreveram a Libras como meio de comunicação,
5% consideraram-na como língua materna, 2,5% como Língua oficial, 5%
relacionaram a Língua de sinais à cultura surda e 2,5% associaram a Libras à
própria disciplina de Língua Brasileira de Sinais.
Língua de sinais, utilizada pelas pessoas mudas e surdas para se
comunicar (A30)
Linguagem de sinais que as pessoas surdas utilizam para se
comunicar. (A40)
Libras é a língua oficial para a comunicação entre e com os surdos
no Brasil.(A4)
É a língua utilizada pelos portadores de deficiência auditiva (A5)
Ao frisar que a Libras seja a língua utilizada pelos surdos no Brasil, o aluno
“A4” demonstra conhecimento de que a Libras não é uma língua universal, sendo
que a concepção de universalidade dessa língua se constitui como um dos principais
mitos apresentados por Quadros e Karnopp (2004).
Se por um lado temos o esclarecimento de alguns equívocos em relação à
Libras, de outro, não podemos ignorar as expressões “portadores de deficiência
(A5)” e “pessoas mudas e surdas” em relação aos surdos, bem como a visão
limitada de que é uma língua apenas para comunicação entre as pessoas surdas.
Nos chama a atenção o fato de que ao se referir as pessoas surdas alguns alunos
utilizem expressões inadequadas, visto que tiveram um semestre de formação na
referida disciplina com uma professora surda, além de outras disciplinas
57
relacionadas à educação especial, anteriores à disciplina de Libras em sua grade
curricular.
Observamos também que, enquanto alguns dos alunos participantes (%5)
perceberam a língua de sinais como meio de comunicação das pessoas surdas,
ainda que a tenham concebido como marca da comunidade de surdos, outros
alunos, ao se referirem à Libras demonstraram uma visão mais ampla, vendo-a
como instrumento de inclusão social, como nas seguintes considerações:
Uma língua de sinais utilizada para a comunicação com pessoas
surdas (A13).
Estreita os laços entre o ouvinte e aquele que não ouve8 (A28).
Tendo em vista a formação de sujeitos que irão atuar na educação de alunos
surdos, importa salientar que pensar a língua de sinais como meio de interação entre
surdos e ouvintes é o primeiro passo para uma atitude favorável que refletirá na
prática desse profissional dentro da escola, seja como gestor, com ações que
proporcionem a aprendizagem da Libras pelos demais membros da comunidade
escolar, seja como professor regente, propiciando momentos de aprendizagem
dessa língua em sala de aula. Entendemos a língua de sinais como algo que está
além da necessidade de comunicação e expressão das pessoas surdas, ou seja,
como meio de aproximação entre surdos e ouvintes.
O conhecimento da Libras entre as pessoas ouvintes, de modo geral, pode
contribuir para um contexto social menos excludente em relação à pessoa surda, a
exemplo do que aconteceu em Martha‟s Vineyard, citado por Sacks (1998).
Devido a uma mutação, um gene recessivo posto em ação pela
endogamia, uma forma de surdez hereditária vingou por 250 anos na
ilha de Martha´sVineyard, Massachusetts, a partir da chegada dos
primeiros colonizadores surdos na década de 1690. Em meados do
século XIX, quase não havia famílias na porção norte da ilha que não
fossem afetadas e, em alguns povoados (Chilmark, West Tisbury), a
incidência de surdez aumentara para uma em cada quatro pessoas.
Em resposta a essa situação, toda a comunidade aprendeu a
língua de sinais, havendo livre comunicação entre ouvintes e
surdos. De fato, estes quase nunca eram vistos como “surdos”,
e certamente não eram considerados de modo algum
“deficientes” [grifo nosso] (SACKS,1998, p.45).
O contato com a língua de sinais e a convivência com pessoas surdas na
escola e na sociedade pode favorecer uma experiência semelhante à de Martha‟s
8
A expressão “aquele que não ouve” reforça a análise dos equívocos dos alunos participantes ao se referirem
aos surdos. Nesse caso foi fácil para o aluno assimilar o termo ouvinte, mas o mesmo ainda não se sente à
vontade para utilizar o termo “surdo”, ainda soa como pejorativo.
58
Vineyard, não pelo aumento da população surda, mas pelo conhecimento que irá
resultar dessa experiência.
Entre as definições apresentadas pelos alunos em relação à língua de sinais
encontramos:
É a língua de sinais, língua materna da cultura surda (A23).
É uma linguagem transmitida através de gestos, que para os
surdos/mudos é a língua materna (A32).
Chama-nos a atenção o fato de que a Libras seja definida como língua
materna por 5% dos alunos, sendo que nem sempre ela se constitui na realidade
como primeira língua, visto que muitas pessoas surdas, filhas de pais ouvintes,
tiveram acesso, primeiramente, à língua oral e só mais tarde à língua de sinais.
Como ressalta Lima (2004):
[...] não se pode afirmar que a LS é a língua materna do surdo.
Diferentemente da criança ouvinte, o surdo não aprende a língua em
casa, com os pais e outros familiares. A criança surda aprende com
um desconhecido e não com um membro da família (p. 161).
Tavares e Carvalho (2011) assinalam que “essa língua é ou deve ser a língua
materna dos surdos do Brasil devido ao bloqueio que eles têm para adquirir a língua
de modalidade oral-auditiva que, no nosso país é o Português”. Pode-se afirmar,
então que embora a língua de sinais seja a língua natural das pessoas surdas nem
sempre será a língua materna9.
Pressupomos que algumas expressões atribuídas à língua de sinais, como
língua materna e primeira língua dos surdos, vêm sendo assim utilizadas como uma
tradição, visto que foram as primeiras formas de referência linguística para essa
língua no Brasil, no início das discussões sobre o bilinguismo para surdos. Essas
expressões foram utilizadas por Lucinda Ferreira Brito para a Língua Brasileira de
Sinais, em seu artigo “Bilinguismo e Surdez”, publicado em 1989, sendo esta uma
das primeiras autoras brasileiras a discutir tal questão. A respeito disso, Lima (2004.
p.40) faz alguns questionamentos e assinala que:
Se se leva em conta língua materna como sendo aquela que a
criança vai adquirir no meio familiar, novamente nos deparamos com
um entrave: cerca de 95% de surdos são filhos de pais ouvintes e
que não têm conhecimento da língua de sinais. Portanto, não se
9
De acordo com Pupp Spinassé (2006, p.5) “a caracterização de uma Língua Materna como tal só se dá se
combinarmos vários fatores e todos eles forem levados em consideração: a língua da mãe, a língua do pai, a
língua dos outros familiares, a língua da comunidade, a língua adquirida por primeiro, a língua com a qual se
estabelece uma relação efetiva, a língua do dia-a-dia, a língua predominante na sociedade, a de melhor status
para o indivíduo, a que ele melhor domina, língua com a qual ele se sente mais a vontade [...].
59
pode falar em aquisição de língua de sinais como primeira língua ou
língua materna.
Torna-se evidente que, tais conceitos continuam sendo reproduzidos sem uma
análise prévia, o que gera equívocos. Nesse caso, é necessário que esses conceitos
sejam esclarecidos na disciplina de Libras, tendo em vista que um dos objetivos
propostos pelo programa da disciplina foi “desmitificar concepções inadequadas em
relação às línguas de sinais”.
Entre as definições de Libras apresentadas pelos alunos participantes
identificamos algumas que sugere legalidade dessa língua, tendo em vista que
relataram:
É a língua oficial para a comunicação entre e com os surdos no
Brasil (A4).
É uma forma de comunicação e expressão (A27).
Ao fazer a definição “língua oficial”, o aluno “A4” demonstra conhecimento de
que a Libras já é uma língua reconhecida oficialmente no Brasil, assim como o aluno
“A27”, cuja definição coincide, exatamente, com o que traz a Lei de reconhecimento
da Língua Brasileira de Sinais, nos termos: “é reconhecida como meio legal de
comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos
de expressão a ela associados.” [grifo nosso] (Artigo 1º, da Lei 10.436, de 22 de abril
de 2002).
Alguns participantes (2,5%) associaram a Libras à própria disciplina de Língua
Brasileira de Sinais ao conceituarem Libras como “ensino de sinais”(A24), o que
supõe que este aluno entenda a sigla “Libras” como para referir-se apenas à
disciplina de língua de sinais e não à língua propriamente dita.
Outros alunos relacionaram língua e cultura, afirmando que a Libras é “uma
língua própria de uma cultura” (A39). Essa relação entre Libras e cultura surda
evidencia uma concepção mais cultural em relação à comunidade surda, coerente
com os pressupostos de alguns pesquisadores e surdos que defendem a existência
de comunidades exclusivas de pessoas surdas. A exemplo temos Strobel (2008,
p.44), que considera que “a língua de sinais é uma das principais marcas da
identidade de um povo surdo, pois é uma das peculiaridades da cultura surda[...]”.
Constatamos, pelas definições da maioria dos alunos (72,5%), a construção
ou assimilação de conceitos em relação à Libras bastante próximos de uma
abordagem cultural, considerando a reincidência dos termos: língua (ao invés de
60
linguagem), língua materna, língua oficial e cultura surda.
Por outro lado, ficou explícito que, em relação aos surdos, as considerações
dos alunos participantes ainda deixam clara uma visão mais condizente com a
perspectiva clínica, seja pela utilização de expressões negativas, como pontuamos,
seja pela insegurança acerca da nomenclatura adequada (surdo) para se referirem
às pessoas surdas, preferindo, em alguns casos utilizar a expressão “aquele que
não ouve” (A28 e A29).
De modo geral, o resultado que se destaca é que após a convivência com a
professora surda, durante um semestre, essa visão dos alunos em relação à surdez
ainda se apresente, e que ainda haja alunos (embora a minoria) que não se sintam
seguros em utilizar o termo “surdo” naturalmente.
Pressupomos que talvez esse contato não tenha sido suficiente e poderia ser
maior, se estendido a outros membros da comunidade de surdos.
6.2.1.3 Conhecimento prévio dos participantes a respeito da Língua Brasileira de
Sinais
Do total de alunos que participaram da pesquisa, 30% afirmaram possuir
conhecimentos prévios sobre a Libras, sendo que destes, 33,3% relataram ter
adquirido esses conhecimentos por meio do contato com pessoas surdas, enquanto
16,6% adquiriram por outros meios como livros e realização de cursos, como se
pode observar pelos relatos:
Tenho um primo de 18 anos que é surdo. Sempre tive muito contato
com eles (A4).
Tenho uma conhecida que é surda (A20).
Convivência com alguns surdos (A37).
Dos alunos participantes, 50% especificaram os tipos de conhecimento que
possuíam em relação à Libras, sendo que 33,3% dos alunos se referiram a
conhecimentos práticos da língua, 33,3% aos conhecimentos teóricos e 33,3% tanto
conhecimentos práticos quanto teóricos. Os outros 50%, embora tenham afirmado
possuir conhecimentos a respeito da Libras antes de cursarem a disciplina, não
especificaram o que conheciam.
Entre os conhecimentos que os alunos afirmaram ter adquirido antes do
curso, temos:
61
Apenas o alfabeto manual e alguns pontos sobre a educação dos
surdos e a conquista da oficialização da Libras como 1ª língua
desses sujeitos (A12).
Apenas que a Libras é uma língua de sinais usada para a
comunicação de surdos/mudos (A32).
Apenas as letras do meu nome no alfabeto manual (A18).
Alguns sinais (A39).
Os conhecimentos prévios apresentados pelos participantes, como pudemos
observar, eram mínimos, sendo que poucos afirmaram ter adquirido por meio do
contato com pessoas surdas, membros da família, conhecidos e outros. Esses
conhecimentos se restringiam ao alfabeto manual, em alguns casos apenas algumas
letras do alfabeto (A18) e em outros, apenas sinais isolados. Somente um aluno
afirmou ter feito um curso de Libras, o qual afirma:
Por não praticar guardei poucas coisas (A20).
6.2.2 TEMA 2: Avaliação dos Alunos acerca da Disciplina de Libras
Neste tema, buscamos resgatar as experiências dos alunos, adquiridas pela
disciplina de Libras e pelo contato com a professora surda, bem como
conhecimentos e contribuições para formação enquanto professor de salas de aula
inclusivas, além de outras considerações a respeito da disciplina.
6.2.2.1 Obrigatoriedade da disciplina de Libras no currículo do curso de Pedagogia
Ao questionar sobre a opinião dos alunos acerca da obrigatoriedade da
disciplina de Libras, nosso intuito foi observar a receptividade dessa determinação,
considerando que, aquilo que é imposto nem sempre é bem visto.
Verificamos que 97,5% dos alunos participantes concordavam que a disciplina
fosse obrigatória em seu curso enquanto apenas 2,5% discordavam dessa
obrigatoriedade, os quais não justificaram sua resposta.
Embora ainda haja resistências à aprendizagem da Libras, mesmo que por
uma minoria, consideramos que algumas medidas não podem ser tomadas por
consenso. Quadros e Campello (2010) colocam que será por meio de políticas
linguísticas que se dará o reconhecimento da Língua de Sinais, entre outras línguas
brasileiras.
62
6.2.2.2 Qual professor deve ministrar a disciplina de Libras: surdo ou ouvinte?
Considerando que, nesta pesquisa, as turmas analisadas tiveram uma
professora surda, interessou-nos investigar a receptividade e aceitabilidade desse
profissional no contexto acadêmico, visto que o Decreto 5626/05 prevê a inserção
desse profissional nas universidades brasileiras.
Em relação ao profissional que deve ministrar a disciplina de Libras, 45% dos
alunos participantes consideram que essa disciplina poderia ser ministrada tanto por
surdos quanto por ouvintes, 42,5% preferem professores surdos e 5% manifestam
preferência por professores ouvintes. Os outros 2,5%, não se posicionaram.
Entre os alunos que não levam em conta o fato de ser o professor surdo ou
ouvinte, encontramos os seguintes comentários:
Acho que independente, o importante é transmitir o conhecimento
(A2).
Independe, desde que a pessoa tenha experiência que comprove
conhecer a realidade de vida de um surdo (A17).
Por todos os que dominarem Libras. Por que quando se tem domínio
do conteúdo ensina-se melhor (A29).
.
Percebe-se que os alunos que se manifestaram indiferentes, quanto ao
professor ser surdo ou ouvinte, destacam a competência profissional relacionada ao
domínio de conteúdo ou conhecimento didático/metodológico; a importância da
comunicação, e a importância de se conhecer a realidade dos surdos.
Elencamos, a seguir, algumas das respostas mais significativas em relação à
outra parcela considerável de alunos que manifestaram preferência por professores
surdos:
Surdos, porque eles trazem a vivência, o que enriquece muito nosso
aprendizado (A8).
Não tive experiência dessa disciplina com professor ouvinte. Minha
professora é surda e a experiência foi riquíssima, visto que além do
conteúdo tivemos contato com os pontos de vista, dificuldades e
superações dela (A12).
Por professores surdos que têm grande domínio com a linguagem
dos sinais (A33).
Como pudemos verificar nas respostas elencadas, os participantes que
tinham preferência por professores surdos justificaram-na por considerar a
63
experiência ou vivência do professor.
Essa justificativa aparece também nas
análises de Rebouças (2009) entre os alunos que têm preferência por professores
surdos. Alguns ainda enfatizaram a cultura ou o conhecimento do professor surdo
sobre a Língua de Sinais.
Analisamos que o fato de a professora ser surda e de os alunos não terem
experienciado outra situação de aprendizagem na disciplina de Libras com
professores ouvintes (como declara o aluno “A12”) pode ter contribuído para tantas
posições favoráveis a que esse profissional atue como ministrante da disciplina em
questão. Este resultado, de certa forma, também indica que houve boa aceitação
desse profissional por parte dos alunos ouvintes que não tinham conhecimento
sobre surdos e sobre língua de sinais.
Nota-se, que os alunos participantes atribuem ao professor surdo a
importância para a experiência de vida, como representante da própria língua e
cultura, tal como argumenta Wilcox (2005, p.31) ao dizer que “a melhor maneira de
os alunos conhecerem a cultura Surda, e também a própria ASL10, é com um
professor que seja Surdo”; e o que Rebouças (2009, p.97) chama de “legitimidade
natural” do professor surdo.
Além dessa “legitimidade natural” do professor surdo, acreditamos que o
contato dos alunos com esse profissional, o conhecimento de suas experiências
como surdo, bem como das dificuldades que esse profissional enfrenta, seja pela
falta de acessibilidade ou pelo preconceito, possibilita uma sensibilização maior por
parte dos alunos e isso refletirá certamente em sua prática profissional com alunos
ou colegas surdos.
Alguns participantes (7,5%) também comentaram sobre a necessidade de que
a disciplina fosse ministrada pelo professor surdo com auxílio de intérprete:
Seria melhor ser ministrada por uma professora surda contando com
um intérprete (A4).
Por surdos, todavia um intérprete na sala auxiliaria muito no
processo de ensino/aprendizagem (A7).
Penso que o ideal seria se houvesse os dois. Pois é essencial que o
professor seja surdo para que possamos ter pleno conhecimento da
realidade deles, mas existem muitas coisas que precisam do apoio
de um ouvinte (A20).
As respostas desses participantes oferecem indícios de que o entendimento
dos conteúdos durante as aulas, talvez não tenha se dado plenamente, tendo em
10
ASL é a sigla para American Sign Language (Língua de Sinais Americana).
64
vista que comentaram “existem muitas coisas que precisam do apoio de um ouvinte
e “ um intérprete auxiliaria muito no processo de ensino/aprendizagem”. No entanto,
contratar outro profissional para acompanhar o professor de Libras torna-se inviável
para as instituições, que muitas vezes acabam optando por contratar um professor
ouvinte que domine língua de sinais, em alguns casos, sem a devida competência
lingüística (REBOUÇAS, 2009).
Uma das principais reivindicações das pessoas surdas, profissionais da
educação, tem sido a de terem prioridade no ensino da língua de sinais. Essa luta
por maior oportunidade de trabalho, no que se refere ao ensino de língua de sinais,
vem acontecendo há alguns anos no Brasil, juntamente com a luta pelo
reconhecimento da própria língua brasileira de sinais , evidenciando-se no discurso
de líderes surdos, em congressos, seminário, encontros e outros eventos
relacionados, principalmente, à educação de surdos, além de documentos que
manifestam essa reivindicação. A exemplo, temos o item 123 do “documento
elaborado pela comunidade surda a partir do pré-congresso ao V Congresso Latinoamericano de Educação Bilingue para Surdos, realizado em Porto Alegre/RS, no
salão de atos da reitoria da UFRGS nos dias 20 a 24 de abril de 1999”, intitulado “A
educação que nós surdos queremos” que reivindica “Garantir que a profissão do
Instrutor de Línguas de Sinais seja exclusiva dos surdos” (FENEIS,1999, p.19) e o
Artigo 7º do Decreto 5626/05 que traz como resultado das solicitações das
comunidades de surdos as seguintes determinações:
Art. 7º Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto,
caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação
em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação
superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem
pelo menos um dos seguintes perfis:
I - professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pósgraduação ou com formação superior e certificado de proficiência em
Libras, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da
Educação;
II - instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de
nível médio e com certificado obtido por meio de exame de
proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação;
III - professor ouvinte bilíngüe: Libras - Língua Portuguesa, com
pós-graduação ou formação superior e com certificado obtido por
meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério
da Educação.
§ 1o Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas
65
terão prioridade para ministrar a disciplina de Libras. [grifo
nosso]
Em relação aos alunos que manifestaram preferência por professores
ouvintes, temos as seguintes opiniões:
Ouvintes, porque a comunicação é mais fácil ( A11).
Ouvintes, porque facilitaria o entendimento dos conteúdos
(A38).
Novamente, a importância de que a comunicação seja efetiva entre
professores e alunos, fica evidente nas respostas dos que manifestam preferência
por professores ouvintes.
Na visão de alguns alunos, a presença do ouvinte (professor ou intérprete),
permitiria maior entendimento em sala de aula.
Quando se trata da competência profissional para ministrar os conteúdos,
todavia, não se enfatiza a condição cultural ou linguística desse profissional
especificamente (se surdo ou ouvinte), entendendo que tanto um quanto outro pode
ser docente da disciplina, desde que possua fluência na mesma. Quando os alunos
enfatizam que o professor de Libras deve ter domínio do conteúdo, não se referem
apenas ao conteúdo teórico, e sim do domínio da Libras, como podemos observar
nas considerações a seguir:
Por todos os que dominarem Libras. Por que quando se tem domínio
do conteúdo ensina-se melhor ( A29).
Rebouças (2009) também considera essencial o domínio da Libras, levando
em conta que “o professor, ouvinte ou surdo, deve ensinar esta disciplina de forma
comunicativa”.
Existe, no entanto um clima tenso em relação ao profissional que deve
ministrar a disciplina de Libras. O Decreto 5626/05 tenta induzir as Instituições de
Ensino Superior a contratarem professores surdos, dizendo que “as pessoas surdas
terão prioridade” para ministrar essa disciplina. Uma das razões, prováveis de se
priorizar as pessoas surdas para o ensino da Libras é a de oferecer-lhes
oportunidades no mercado de trabalho como forma de compensar a situação de
desvantagem social, política e econômica em relação aos ouvintes estabelecida ao
longo dos tempos, tal como ocorre com outras minorias.
66
Sabemos que o campo de trabalho para professores surdos ainda é restrito e
nesse sentido, consideramos importante que se priorize esse profissional para
ministrar a disciplina de Libras para que a sociedade possa vê-los sob outra ótica.
Além disso, o professor surdo, por utilizar constantemente a Libras, com mais
frequência do que os ouvintes, também são mais fluentes nessa língua. Quando
vamos aprender qualquer língua estrangeira admitimos que o professor falante
nativo da língua seja o melhor, no caso da Libras, é válido o mesmo princípio.
A preocupação com o espaço profissional do professor surdo também foi
apresentado no relato de um dos participantes:
Tem que dar oportunidades para professores surdos também,
mas se ele é surdo ou ouvinte não faz diferença, o importante é
saber passar conhecimento (A9). [grifo nosso]
Observamos neste relato uma preocupação com a condição de surdez do
professor aliada ao domínio do conhecimento.
Acreditamos ainda que, o preconceito pode ser minimizado quando as
posições se invertem, ou seja, aquele que está sempre em posição de inferioridade
passa a ocupar uma posição de destaque. A presença de um professor surdo na
universidade impacta na revisão de valores e conceitos, tanto dos alunos como dos
colegas de trabalho. Em sala de aula, na condução do processo de ensino
aprendizagem e na definição dos critérios avaliativos, o professor surdo é visto como
autoridade, o contrário do que comumente acontece.
Em relação ao contato com outros docentes, que formam seu grupo de
trabalho, se destaca a dificuldade de comunicação, especialmente nas reuniões de
Departamento se observa a necessidade premente de um intérprete para que esse
profissional não fique a margem das questões discutidas.
Enfim, o Decreto 5626/05 dispôs não apenas a disciplina de Libras nos
currículos dos cursos de licenciatura, mas também a necessidade de se incluir entre
o grupo dos professores universitários vinculados aos cursos de licenciatura,
professores surdos, e com certeza esta situação tem ocorrido por meio de um
processo de adaptação mutuo. Para os professores surdos a característica do
trabalho universitário é uma novidade com exigências de qualificação e realização e
participação em projetos de pesquisa, extensão e ensino, bem como comissões
diversas e para os demais professores ouvintes ocorre dificuldades para incluir os
professores
surdos
nesses
espaços,
especialmente
pela
dificuldade
de
67
comunicação.
Muller (2009, p. 30-31), na condição de docente surda em uma IES, expressa
essa realidade em sua fala:
Por experiência própria, vejo o quanto é isolada e solitária a profissão
de professor surdo em ensino superior (...), tendo em vista o quanto
ainda precisa ser discutido. Geralmente, as instituições de ensino
superior em que os professores surdos trabalham contratam apenas
um ou dois surdos, o que restringe a possibilidade de discussão e
troca, visto que a grande maioria dos professores ouvintes não
domina LIBRAS.
A autora considera, ainda, que o fato de o professor se sentir isolado, muitas
vezes, o desmotiva, e, além disso, o envolvimento do professor nas atividades
acadêmicas fica prejudicado devido à falta de informações e trocas com os demais
docentes (ouvintes) sobre eventos, pesquisas, entre outras.
Vale destacar, todavia, que a competência desse profissional é indispensável,
tal como sua formação, e na falta de professores surdos qualificados para exercer tal
função cabe à instituição selecionar criteriosamente um professor ouvinte, com pleno
domínio da Libras e devidamente certificado para assumir o cargo.
6.2.2.3 Dificuldades para aprender os conteúdos
Tendo em vista o objetivo de acompanhar o processo de implementação da
disciplina de Libras, interessou- nos detectar as principais dificuldades que os alunos
identificaram ao vivenciarem a disciplina.
Em relação às dificuldades que vivenciaram no decorrer da disciplina de
Libras, 52,5% dos participantes responderam que não tiveram dificuldades, 45%
afirmaram ter alguma dificuldade e 2,5% não se manifestaram.
Considerando o percentual de alunos participantes, que apresentaram
dificuldades identificamos que, 17,5% afirmaram ter dificuldades em função da
complexidade dos conteúdos, 15% se referiram à dificuldades relacionadas à
coordenação
motora ou
memorização; 10%
justificaram a
dificuldade de
aprendizagem devido à carga horária da disciplina; e 2,5% apontaram dificuldades
de comunicação, esta última justificada pela falta de intérpretes. Como podemos
observar nas respostas a seguir:
Falta de coordenação motora. Dificuldade em memorizar os sinais
(A5).
68
A linguagem de sinais é bastante complexa (A19).
Porque requer um estudo mais profundo em relação a Libras,
tivemos no último ano da faculdade e isso deixou a desejar muito
conteúdo para todas (A27).
Vale ressaltar que, alguns alunos, mesmo tendo afirmado não encontrar
dificuldades na disciplina, acabaram apontando-as na justificativa, como podemos
observar nos relatos a seguir:
Não. Mas os colegas sim, pois a apostila utilizada não dava conta de
me apoiar nos conteúdos ministrados em sala” (A14). [grifo nosso]
Não. Dificuldade não, porém é muita coisa para aprender em apenas
1 semestre (que foi o tempo que tivemos)” (A40).
O aluno “A14”, embora tenha negado dificuldades na disciplina, deixa explícito
que não conseguia acompanhar o conteúdo, mesmo tendo a apostila como apoio.
A maioria dos alunos que respondeu que não apresentou dificuldades na
disciplina, também não apresentou justificativa de sua resposta, tendo em vista que
a questão não exigia justificativa, no caso do participante assumir que não teve
dificuldades em realizar a disciplina.
Quadros e Campello (2010) ressaltam que a proposta da disciplina de Libras
no Curso de Pedagogia é de oferecer conhecimentos básicos dessa Língua.
Depreendemos que o nível de aquisição da língua de sinais esperado e trabalhado
na disciplina de Libras do curso analisado, tenha sido o básico, tendo em vista o
tempo da disciplina e os conteúdos teóricos abordados. Este, provavelmente tenha
sido o motivo pelo qual 52,5% dos participantes relataram não encontrar
dificuldades, pois a aprendizagem de qualquer língua é complexa. Pensar que a
língua de sinais seria diferente é banalizá-la. Além do mais não se pode ignorar que
boa parcela dos alunos, mesmo em relação aos conhecimentos básicos da língua de
sinais, admitiu encontrar dificuldades.
Reily (2008) comenta sobre o mito de que “é fácil aprender a língua de sinais”,
pois, assim como não é fácil para o surdo aprender a língua portuguesa, o inverso
também ocorre.
Em relação à aprendizagem da Língua de Sinais, além das questões
estruturais ou gramaticais, comuns a aprendizagem de outras línguas, são
necessárias habilidades motoras e expressivas, o que dificulta ainda mais a
aprendizagem dessa língua.
69
6.2.2.4 Conteúdos que seriam mais relevantes na disciplina de Libras
Solicitamos a opinião dos alunos sobre quais os conteúdos que os mesmos
consideravam mais relevantes para a disciplina de Libras. Identificamos que 20%
dos participantes referiram-se a conteúdos práticos, que envolviam a realização dos
sinais, outros 20% consideram relevantes, tanto os conteúdos práticos como teóricos
e 15% referem-se a conteúdos teóricos, 15% fizeram outras considerações.
Entre as principais considerações dos alunos em relação aos conteúdos
considerados mais relevantes estão:
A própria língua, o “como” se comunicar, “os sinais” (A8).
Tanto história, cultura como a parte prática da Libras são essenciais.
Pois vamos receber o aluno na sua totalidade (A12).
Metodologias, estratégias de ensino, adaptação curricular e
avaliação para surdo (A4).
Com relação aos conteúdos que os alunos participantes consideravam mais
relevantes na disciplina de Libras, encontramos em 25% das respostas referências a
conteúdos práticos envolvendo a aprendizagem da língua de sinais, em 7,5% ao
estudo da história e cultura dos surdos, em 5% à Metodologia/ estratégias de ensino,
outros 5% à Avaliação, 5% à Didática, 5% ao atendimento de alunos surdos em sala
de aula e 2,5% à Adaptação curricular. Esclarecemos que em uma mesma resposta,
em alguns casos, encontramos mais de um tipo de referência como, por exemplo,
nas respostas a seguir:
Conhecimento em Libras e cultura surda. (A37)
Saberes necessários para atender o aluno surdo, as metodologias
diferenciadas, os recursos necessários, se não souber sinais, é
necessário ter uma parceria como intérprete, além de outras coisas a
avaliação, etc ( A31).
De acordo com o que pudemos observar, a aprendizagem da língua de sinais
fez parte da expectativa de grande parte dos alunos. É compreensível que os alunos
esperem por aulas práticas de Libras, visto que o nome da disciplina é bastante
sugestivo nesse sentido.
Contudo os alunos também reconheceram a necessidade de aprender
conteúdos teóricos que possam contribuir para sua atuação com alunos surdos, ou
seja, relacionados ao processo de ensino-aprendizagem.
Haveria então, se fossem atendidas as expectativas dos alunos em relação
aos conteúdos da disciplina, um equilíbrio entre os saberes voltados às orientações
70
sobre práticas pedagógicas adequadas para se atender alunos surdos em contextos
escolares inclusivos e conhecimentos específicos da língua de sinais.
Identificamos que 20% dos participantes deixaram de responder à questão
referente aos conteúdos considerados mais relevantes na disciplina de Libras e 25%
não responderam o que foi solicitado, fazendo outras considerações.
6.2.2.5 Avaliação do atendimento das expectativas dos alunos em relação à
disciplina de Libras
Dos 40 alunos participantes, 70% afirmam que a disciplina de Libras atendeu
suas expectativas iniciais, 20% afirmam que suas expectativas não foram
contempladas ao término da disciplina e 2,5% afirmam terem contemplado
parcialmente. Os demais 7,5% não se manifestaram.
Considerando o total de alunos, apenas 22,5% destes comentaram suas
respostas em relação à questão sobre o atendimento de suas expectativas no
decorrer da disciplina, entre as quais destacamos:
Sim. Na verdade houve muitas descobertas, a começar pelo fato de
encontrar com a professora surda. É surpreendente descobrir outras
formas de comunicação, principalmente a Libras que favorece tanto a
educação dos surdos (A18).
Não contemplaram devido à baixa carga horária insuficiente para
contemplar todos os conteúdos necessários, e a falta de intérpretes
(A7).
Entre os comentários dos alunos, foi possível identificar expectativas
relacionadas aos conteúdos práticos da língua e outros relacionados ao contato com
a professora surda, tendo essa experiência como positiva.
No entanto, alguns enfatizaram a carga horária da disciplina como insuficiente
para o desenvolvimento do conteúdo proposto, mesmo tendo respondido que os
conteúdos contemplaram suas expectativas iniciais.
A questão da carga horária tem sido bastante questionada, tanto por alunos
como professores.
Sabemos que a aquisição de uma língua requer muito mais tempo do que um
semestre. A esse respeito Martins (2008, p.195) salienta que não se pode tornar
“superficial o ensino da língua de sinais, tomando uma única disciplina semestral,
como manual de inclusão dos surdos na escola e na sociedade”.
Consideramos, no entanto, que o objetivo da disciplina não deve se restringir
71
ao ensino da Libras, mas, tendo em vista o contexto educacional em que esses
pedagogos irão atuar, é imprescindível a abordagem de conteúdos relacionados à
educação de alunos surdos.
Não podemos negar que o tempo da disciplina é insuficiente para adquirir
fluência em Libras, porém, a formação de intérpretes de Libras exige um curso em
nível de graduação próprio, como o de Letras-Libras11, por exemplo. Além disso, há
questões que permeiam a educação de surdos, que não podem ser ignoradas na
formação de professores e pedagogos. A pesquisa de Pereira (2008), acerca da
implementação da disciplina de Libras no Ensino Superior, demonstra, a partir do
relato de coordenadores de alguns cursos de pedagogia, que a única disciplina que
aborda a temática da educação de surdos nos referidos cursos é a Libras. Desse
modo, é inegável o papel da disciplina de formar professores regentes que
conheçam a surdez e suas especificidades, que envolvem questões lingüísticas,
culturais, cognitivas e pedagógicas, além de conhecimentos básicos da língua,
considerando a importância de “professores com formação adequada para o
trabalho pedagógico, o qual possui como condição básica, a comunicação”
(TAVARES; CARVALHO 2010, p. 8).
Tendo em vista que o aumento da carga horária da disciplina impacta
consideravelmente a grade curricular, cabe aos docentes de Libras e coordenadores
dos cursos, a organização dos conteúdos relevantes que contemplem a
aprendizagem da língua e questões educacionais sobre o aluno surdo.
6.2.3 Tema 3: Percepções dos Alunos acerca da Formação Recebida para
Educação/Inclusão de Alunos Surdos.
Considerando o objetivo de analisar as contribuições da disciplina de Libras
para o processo de inclusão de alunos surdos nas classes comuns, esse tema
pretende avaliar as concepções de educação de surdos que os alunos construíram
ao longo do curso e que foram reforçados ou mesmo introduzidos nas discussões
durante a disciplina de Libras.
11
O curso de Letras-LIBRAS é uma graduação que visa formar professores e intérpretes de LIBRAS (sendo que
para cada função existe uma modalidade: a licenciatura para formar professores de LIBRAS e o bacharelado
para formar intérpretes de LIBRAS. A Instituição responsável pela formação da maioria desses profissionais com
o curso de Letras-LIBRAS é a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), principalmente na modalidade à
distância, com pólos espalhados por todo o território nacional.
72
6.2.3.1 Discussão em relação à inclusão dos alunos surdos nas classes comuns
Perguntamos aos alunos se a disciplina de Libras proporcionou espaços para
discutir a inclusão de alunos surdos nas classes comuns. De acordo com os
resultados, 62,5% dos graduandos afirmaram que houve momentos para discussão
a respeito dessa questão, 27% responderam que não e 10% não responderam.
Em relação às percepções dos participantes sobre as discussões que
envolvem o processo de inclusão de alunos surdos no ensino regular, 38% se
referiram à discussões acerca da realidade dos alunos surdos nas escolas
regulares, 27% destacam as discussões que envolvem a necessidade da Libras no
ambiente escolar, 22% comentam sobre discussões relacionadas a recursos ou
estratégias de ensino que favorecem a inclusão de alunos surdos e 11% dos alunos
se referiram à discussões acerca da legislação.
A respeito das discussões sobre a realidade em que vem ocorrendo a
educação inclusiva, obtivemos as seguintes considerações:
A inclusão não acontece de fato. Na sala de aula o aluno surdo
interage fora da mesma ele fica excluído (A19).
Se realmente o movimento que estamos presenciando pode ser
considerado inclusão (A21).
Falta de preparo dos professores para a inclusão do aluno surdo
(A23).
A importância de incluí-los no ensino regular, pois como foi visto
também nos seminários apresentados, a suficiência em si não
representa uma dificuldade como os empecilhos colocados aos
surdos para aprender (A29).
Em uma das aulas foi colocado pela professora sua opinião: Ela é
contra a inclusão, pois o aluno surdo fica excluído (A35).
Vimos pelas respostas dos alunos participantes, que as discussões que
envolvem as experiências de inserção de alunos surdos nas classes comuns,
refletem ou enfatizam os fracassos de muitas dessas experiências. Ao mesmo tempo
é interessante observar que há um olhar crítico por parte dos participantes quando
questionam se tais experiências podem ser consideradas inclusivas (A21).
Outra questão que se coloca é em relação à falta de preparo dos professores
(A23). Às vezes essa falta de preparo se coloca mais como justificativa contra a
educação inclusiva do que como problema que deve ser resolvido na formação dos
professores.
Em relação ao posicionamento da professora acerca da inclusão de alunos
73
surdos como pontuou um dos alunos (A35), nos parece que este foi fundamental
para encontrarmos estes resultados em relação ao processo de inclusão dos alunos
surdos, visto que, provavelmente a professora evidenciou para os alunos as
dificuldades desse processo.
Estes resultados merecem atenção e destaque, visto que para muitos
pesquisadores como já comentado, esta disciplina está disposta nos currículos dos
cursos de Licenciatura com a função de favorecer o processo de inclusão dos alunos
surdos, entretanto os professores surdos que, preferencialmente devem assumi-las,
em sua maioria são provenientes de escolas especiais e, até mesmo trabalham em
tais instituições, fato que vem colaborar para que tenham uma posição favorável a
manutenção da educação segregada para alunos surdos12.
Acresce-se que
observando a grade curricular do curso de Letras Libras (vide anexo C), oferecido
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que vem formando os
professores surdos da região para assumir a disciplina de Libras, verificamos que
este curso não contempla uma formação voltada ao processo de inclusão dos alunos
surdos no ensino regular, visto que, a maioria das disciplinas contempla conteúdos
referentes a aspectos lingüístico da Libras. Nesse sentido, vale indagar: é papel
doprofessor surdo preparar os graduandos para atuarem na educação de surdos no
ensino regular?
Existem algumas iniciativas em universidades brasileiras que dividem a
disciplina de Libras entre conteúdos linguísticos e teórico-educacionais, sendo o
primeiro ministrado por professores surdos e o segundo por professores ouvintes, da
área de educação inclusiva. Essa seria uma solução possível para atender as
expectativas das universidades de por em pauta a questão da inclusão escolar e, ao
mesmo tempo, considerar as especificidades do professor surdo e de sua formação,
atribuindo-lhe como função principal o ensino da Libras e de outros conteúdos
relacionados, como aspectos culturais do aluno surdo, por exemplo.
Desta forma é importante que os colegiados de cursos de licenciatura
discutam a função que atribuem a esta disciplina e junto com os professores de
Libras selecionem os conteúdos e o posicionamento a ser assumido e trabalhado
em relação aos conteúdos da disciplina de Libras.
12
Ver Documento elaborado pela comunidade surda a partir do pré-congresso ao V Congresso Latino Americano
de Educação bilingue para surdos, realizado em Porto Alegre/RS, no salão de atos da reitoria da UFRGS nos
dias 20 a 24 de abril de 1999 (http://www.feneis.org.br/arquivos/relatorio2006.pdf).
74
É imprescindível que a disciplina de Libras proporcione o conhecimento de
diferentes realidades educacionais de alunos surdos, incluindo a análise de
situações de inclusão, como as relatadas nos trabalhos de Lorenzetti (2003),
Meserlian (2008), Conceição Filho (2011) e outras que podem contribuir para uma
visão mais crítica em relação a educação de surdos. Desta forma será mais provável
que o futuro professor quando se deparar com um aluno surdo em sua sala de aula
ou em sua escola, assumindo a função de professor ou pedagogo, tenha
conhecimentos suficientes para atendê-lo e promover sua inclusão.
6.2.3.2 Avaliação dos participantes acerca de sua preparação para atuar em salas de
aulas inclusivas com alunos surdos.
Dos 40 alunos que participaram da pesquisa, respondendo ao formulário,
92,5% afirmam não estarem preparados para trabalhar com alunos surdos. Apenas
5% dos alunos consideraram que estão preparados para atender a essa clientela e
2,5% simplesmente não se manifestaram.
A maioria dos alunos não justificou suas respostas, de modo que somente
12,5% fizeram algumas considerações, entre as quais elencamos as seguintes:
Não. Preciso me aprofundar mais, pois o que tivemos no curso não é
o bastante (A13).
Não. Mas pretendo aprofundar os estudos nesta área de
conhecimento, a meu ver, fascinante (A30).
Não. É ruim saber que aproveitamos pouco acredito que a disciplina
necessita uma maior carga horária neste ultimo semestre estávamos
muito atarefados (A18).
Nas respostas dos participantes há considerações a respeito de que a
disciplina não foi suficiente para preparar os alunos para atuar em salas inclusivas
com alunos surdos, seja pelo conteúdo ou pela carga horária insuficiente.
Foi possível, também observar em algumas respostas, o interesse em buscar
uma formação continuada (A30), enquanto outros apenas lamentam não ter
aproveitado mais a disciplina, como se tivesse sido uma oportunidade única (A18).
Observamos pelos relatos dos participantes que a disciplina de Libras não foi
suficiente para preparar os graduandos para a educação de alunos surdos no ensino
regular. Porém, nos compatibilizamos com as considerações de Skliar (2006) de que
não há uma fórmula aceita por todos como ideal quando se pensa em educação
inclusiva, portanto, também não haverá para a formação do professor que terá a
75
função de efetivá-la.
De modo geral, as discussões que envolvem a formação de professores
atualmente, consideram que a sala de aula se constitui em um espaço complexo,
visto que abriga a diversidade de sujeitos, exigindo muito mais uma formação
humana do que simplesmente técnica, de modo que o que se busca do professor é:
[...] ser capaz de produzir o diálogo dentro da sala de aula para
permitir ao outro/aluno construir e dizer a sua palavra, em manter-se
inteiro e alimentado para participar do desgastante processo de
transformação da sociedade em direção a uma nova ordem social
em que seres humanos possam crescer sem ser esmagados
(SANTOS NETO, 2002, p.48).
6.2.3.3 Saberes necessários ao professor para a inclusão de alunos surdos no
ensino regular.
Nessa questão buscamos verificar quais os saberes que os participantes
consideravam necessários para atuar junto a alunos surdos nas classes comuns do
ensino regular.
O conhecimento da língua de sinais foi o mais indicado como habilidade
necessária para o trabalho educativo com alunos surdos, aparecendo em 27,5% das
respostas. Esse percentual se refere às respostas que colocam apenas esse
conhecimento linguístico como necessário.
Porém, 22,5% dos graduandos destacam saberes relacionados tanto à Libras
como à educação ou inclusão de alunos surdos, enquanto 17,5% consideram
necessários alguns saberes relacionados às condições pedagógicas para a inclusão
de alunos surdos.
Outros 17,5% dos participantes ressaltaram a importância de uma
especialização na área para aprofundar os conhecimentos relacionados ao trabalho
com alunos surdos.
Considerando as palavras de Vitaliano (2002), anteriormente citadas neste
corpus, que embora a formação de professores da Educação Especial atualmente
não seja mais focada no especialista, ou seja, não forme para atender uma clientela
específica e sim a diversidade de alunos com suas respectivas diferenças, a ideia do
especialista ainda está bastante arraigada na mente dos futuros professores.
Selecionamos a seguir algumas respostas que expressam a postura de que
para atuar com alunos surdos seria necessário especializar-se na área.
76
Anos de conhecimento na área (A5.)
Acredito que o professor deve ser especializado para trabalhar com
alunos surdos (A38).
Se essa atuação do futuro docente for pensada no sentido de tornar-se um
professor de apoio, de professor bilíngüe ou intérprete de Libras, concordamos que
a formação inicial seria insuficiente, necessitando de uma formação mais específica,
o que não parece ser o caso da maioria dos alunos participantes e nem mesmo o
objetivo da disciplina Libras é formar especialistas, embora possa servir de
motivação para isso.
Relacionada à ideia do professor especialista, pudemos perceber também que
alguns graduandos veem a possibilidade de atuação junto ao especialista, mesmo
não sendo eles especializados. Pensando no caso do aluno surdo, especificamente,
é citado nas respostas, o auxílio de intérpretes ou mesmo um auxiliar:
Básicos, esse aluno deve ter intérprete para auxiliar tanto o aluno,
colega e professores (A15).
Saber que precisa de um auxiliar (A34).
Ainda houve, em 7,5% das respostas dos alunos, referência à cultura surda,
ou algo relacionado, como a expressão “mundo dos surdos”, o que denota uma
visão mais cultural ou socioantropológica da surdez em detrimento da visão clínica
ou patológica:
Falar fluentemente libras e compreender o mundo dos surdos (A10).
A percepção da pessoa surda, enquanto deficiente, como alguém que
necessita de cuidados e de tratamento clínico ou terapêutico é percebida apenas na
resposta de um dos participantes:
A história curricular e vida do aluno. Como lidar com ele em sala de
aula e quais as precauções e cuidados que precisam ser tomados
(A32).
Observamos que a maioria dos participantes, com maior ou menor ênfase
conseguiu perceber que o trabalho com alunos surdos requer outros saberes, além
do domínio da língua, especialmente aqueles relacionados a aspectos pedagógicos.
Saberes culturais, linguísticos, metodológicos e o entendimento da
diversidade (A14).
A fluência em Libras é muito importante, mas sem didática,
adaptação do conteúdo e sensibilidade o trabalho não será completo
(A17).
77
Sensibilidade, língua de sinais, preparação para: planejamento e
organização da teoria e prática pesquisar assuntos referentes à
temática (A28).
Uma das ideias presentes nas respostas dos alunos participantes se refere
ao trabalho colaborativo entre professores e especialistas, (também comentado por
Dias et al (2007) neste trabalho), bem como a organização de atividades que
apresentem ações e propostas eficazes às necessidades de todos os alunos :
Acredito que a consciência de que cada aluno possui suas
necessidades próprias é de extrema importância para que o
professor possa elaborar estratégias, juntamente com profissionais
capacitados (A39).
É importante destacar que o aluno participante, (A39) além de entender que o
professor regente necessita de conhecimentos a respeito da diversidade de alunos
reconhece que seu trabalho não é isolado do contexto, visto que considera a
necessidade de outros profissionais capacitados para efetivação do processo
educacional inclusivo, particularmente em se tratando da busca de estratégias para
atender as especificidades dos educandos surdos.
Vitaliano e Manzini (2010, p.53) salientam que “quando falamos na formação
do professor para promover a inclusão, não podemos esquecer que sua ação se dá
no contexto escolar, no qual temos outros profissionais igualmente importantes no
processo.”
Glat e Blanco (2007, p. 33) também ponderam que
[...] o sucesso da política de Educação Inclusiva depende
diretamente da continuidade da existência dessa rede de suportes
especializados, incluindo-se a formação inicial e continuada de
professores especialistas nos diferentes tipos de necessidades
especiais e níveis de ensino. Pois, só o diálogo entre especialistas e
generalistas fará com que a escola construa as melhores respostas
educativas para todos os seus alunos.
Dos alunos que participaram da pesquisa, 7,5%, não se manifestaram em
relação aos saberes que consideram necessários para a atuação do professor com
alunos surdos.
6.2.3.4 Percepções dos alunos acerca do papel do intérprete na classe comum
Vimos em análises anteriores nesse texto, que o profissional interprete foi
78
citado por alguns participantes como alguém que colabora com o professor no que
diz respeito à educação de surdos.
Dos alunos que responderam ao formulário, 47,5% relacionaram a função do
intérprete à comunicação ou interação entre surdos e ouvintes. 32,5% focalizaram o
processo de aprendizagem, entendendo como fundamental a atuação do intérprete
nesse processo e 10% associaram a figura do intérprete à inclusão do aluno surdo
na escola regular, sendo sua função a de colaborar com o processo.
Observamos que ao falar do profissional intérprete, muitos visualizam a
interpretação do professor ouvinte para o aluno surdo, ou seja, apenas a
transmissão dos conteúdos. Não conseguem perceber uma atuação mais ampla que
envolve a interação do aluno surdo com colegas, a participação do aluno surdo
durante as aulas e outros contextos fora de sala de aula, por exemplo. Como
podemos observar nas considerações a seguir:
Somente interpretar. Falar em Libras o que o professor fala em
português. O aluno é de responsabilidade do professor regente (A4).
Interpretar o que o professor está passando (A26).
Há também outra questão que diferencia o intérprete educacional do
intérprete generalista, visto que, o que atua na educação não transmite
simplesmente a língua, mas intervém no processo de aprendizagem do aluno surdo,
buscando estratégias para que o conhecimento chegue de fato a este aluno.
Como assinala Lacerda (2006, p.174), “isso se faz com tradução, mas
também com sugestões, exemplos e muitas outras formas de interação inerentes ao
contato cotidiano com o aluno surdo em sala de aula”.
6.2.3.5 Opinião dos alunos acerca da inclusão de alunos surdos no ensino regular
Percebemos que a maioria dos participantes posicionou-se a favor da
inclusão de alunos surdos em classes comuns, pois constatamos que 75% dos
participantes concordaram com a inclusão, 5% se apresentaram contrários à
inclusão dos referidos alunos e 20% não se manifestaram.
Dos alunos que posicionaram favoráveis à inclusão de alunos surdos, 32,5%
concordavam com essa inclusão sem restrições, sendo que destes, 46%
enfatizaram a socialização dos alunos como benefício da educação inclusiva; 23%
consideraram a capacidade dos surdos de aprenderem junto aos demais alunos no
79
ensino regular; outros 23% justificaram sua posição favorável à inclusão por terem
consciência da tendência e da legitimação da educação inclusiva e 7,6%
perceberam a inclusão como favorável a aprendizagem do aluno surdo. Como
demonstram os relatos a seguir:
Juntos. Pois é preciso haver uma socialização entre surdos e
ouvintes.(A20)
Devem estar juntos, pois havendo interação com a turma os alunos
aprendem e ao mesmo tempo ensinam.(A3)
Junto porque são tão capazes quanto os outros precisam apenas de
adaptações para estarem na sala.(A11)
Alunos surdos junto aos alunos ouvintes, pois devemos incentivar a
inclusão.(A23)
Juntos afinal a inclusão é algo recente mas estatisticamente tem
provado melhora nas relações sociais (A37).
A outra parcela de alunos que se manifestou a favor da inclusão (42,5%),
citaram algumas restrições. Entre os principais condicionantes para a inclusão
desses alunos encontramos: a adaptação da escola (41%), o apoio de profissionais
ou serviços especializados (35,2%), o conhecimento prévio da Libras pelo aluno
(17,6%) e a preparação prévia do aluno (5,8%).
Sem estrutura é difícil mesmo que seja o surdo estar em sala, no
entanto se a estrutura escolar melhorasse acho que seria
interessante essa inclusão (A17).
Sim desde que haja a interpretação e suporte necessário (A1).
Penso que no inicio da educação escolar, é necessário primeiro o
contato com os sinais. Depois de ter aprendido a se comunicar por
sinais, é possível sua inserção na escola regular (A31).
Em escolas especiais até determinada idade, a partir da 5º serie
talvez sim (A5).
Os alunos que se posicionaram contra a inclusão escolar de surdos,
justificaram que os professores se encontram despreparados (2,5%) ou que o aluno
se desenvolveria melhor em escola especial (2,5%).
Pela realidade em que vivemos acho que seria melhor em escolas
especiais, pois a grande maioria dos professores não está preparada
para receber um aluno surdo (A13).
Em escola especial para que possa se desenvolver o Máximo de seu
potencial (A35).
A ênfase na socialização de alunos com NEE, ainda é evidente quando se
pensa na inclusão desses alunos, nesse caso, do aluno surdo. As respostas dos
alunos “A20” e “A37”, que se mostram favoráveis à inclusão de surdos nas classes
comuns, trazem essa ideia.
Percebe-se que, em relação à educação de alunos com NEE no ensino
80
regular, algumas vezes, mudam-se as propostas, as nomenclaturas, mas,
permanecem as concepções de Integração (e não de Inclusão), em que o aluno
deveria adequar-se ao sistema escolar para poder participar do processo
(WERNECK, 1997). Nesse contexto os deficientes eram encorajados a esconder
suas necessidades especiais e passar-se por “normais”, de modo que sua “condição
de excepcionalidade” não seria conhecida (OMOTE, 1999).
Fica evidente essa concepção quando se coloca a necessidade de o surdo
aprender a se comunicar primeiro em Língua de sinais, ou de ser preparado pela
escola especial para depois poder incluir-se nas classes comuns, como pudemos
observar nas considerações dos alunos
São discursos que se distanciam do que se entende por educação inclusiva.
Nas palavras de Marinho (2007, p.9)
[...] o caminhar para uma escola aberta à diferença, onde todos
possam fazer seu percurso de aprendizagem independentemente
das desvantagens de natureza biológica, sociocultural, psicológica e
educacional que possa apresentar [...].
Ao perguntarmos aos alunos se gostariam de receber alunos surdos em sua
sala de aula, obtivemos o seguinte resultado: 40% afirmaram que gostariam de
receber esses alunos em suas salas de aula, sendo as principais motivações
relatadas: vontade de vencer desafios; praticar os conhecimentos adquiridos; os
benefícios da inclusão escolar e a aprendizagem da Libras. Em contrapartida, 45%
afirmaram que não gostariam de receber alunos surdos, sendo que as principais
justificativas foram: a sua falta de preparo para atuar junto a alunos surdos; a falta de
adequação da escola pública para receber esses alunos e o pouco domínio da
Libras. Outra parcela de alunos, que corresponde a 7,5% manifestou o desejo de
receber alunos surdos em suas salas de aula, desde que houvesse algumas
condições, entre as quais estão sua preparação prévia (do professor) e o auxílio de
outro profissional. Outros 7,5% não justificaram suas respostas e 5% não
responderam à questão referente ao desejo de atuar junto a alunos surdos.
Entendemos que esse percentual de alunos que não se manifestaram em
relação a essa questão, indica que, provavelmente não se sentem preparados, e
talvez tenham tido receio de manifestar-se por algum motivo.
Os dados indicaram que, embora haja entendimento acerca da importância da
inclusão escolar dos alunos surdos nas classes comuns, considerando que 75% dos
81
alunos manifestaram-se a favor dessa inclusão, ainda existe grande resistência por
parte dos mesmos, no que se refere à própria disposição, para recebê-los em suas
salas de aula. Esse posicionamento dos participantes diferenciado frente à inclusão
dos alunos surdos e a possibilidade de efetivamente incluí-los se apresenta
contraditório e evidencia que consideram adequada a inclusão escolar dos alunos
surdos, porém não se sentem preparados para efetivá-la, bem como as escolas não
apresentam condições que favoreça este processo.
6.2.3.6 Conhecimento de estratégias que favorecem a inclusão do aluno surdo
Levando em conta que a falta de preparo do professor tem sido considerada o
grande entrave para uma atitude receptiva à entrada do aluno surdo na classe
comum, questionamos os participantes sobre quais contribuições a disciplina de
Libras proporcionou para o trabalho educacional junto aos referidos alunos. Desse
modo, buscamos sondar o conhecimento que os participantes desenvolveram
acerca de estratégias para o trabalho com alunos surdos.
Identificamos que 47,5% dos alunos afirmaram desconhecer estratégias que
favorecem a inclusão de alunos surdos em classes comuns, enquanto 30%
consideraram que possuem algum conhecimento a respeito e exemplificaram:
adaptações curriculares, recursos materiais e humanos específicos, bem como
estratégias ligadas à postura de pessoas envolvidas, seja em relação ao professor
ou ao aluno. Seguem as considerações dos alunos a respeito das estratégias
citadas:
Adaptações curriculares, adaptações/ flexibilização da avaliação,
disponibilizar de recursos visuais, para auxiliar o processo de
aprendizagem de aluno surdo, utilizar-se de sistemas de teoria etc.
(A7).
O ideal seria o professor ter domínio da língua de sinais, ou um
intérprete (A23).
Utilização de variados recursos visuais: Falar devagar, evitar
movimentar muito o rosto, posicionar-se em local iluminado, escrever
os comandos orais no quadro (A4)
Também verificamos que parte dos participantes (17,5%) não respondeu a
questão referente ao conhecimento de estratégias que podem ser utilizadas com
alunos surdos em salas de aula do ensino regular.
Apresentaremos a seguir a análise dos dados da entrevista com a docente da
disciplina de acordo com os objetivos propostos na presente pesquisa.
82
6.3 ANÁLISE DOS DADOS DA ENTREVISTA COM A DOCENTE DA DISCIPLINA DE LIBRAS
Levando-se em conta os objetivos da pesquisa - de conhecer o perfil do
profissional que ministra a disciplina de Libras, analisar o conteúdo, metodologia e
processos avaliativos desenvolvidos durante a disciplina, identificar os saberes
trabalhados na disciplina e as concepções dos alunos em relação à surdez, à língua
de sinais e à inclusão de alunos surdos - a entrevista com a docente da disciplina
seguiu uma sequência, que se iniciou com questões relacionadas ao perfil da
professora, como dados pessoais, formação acadêmica e experiência na docência,
especificando os níveis de atuação no ensino; seguidos por dados relacionados à
considerações da professora acerca da educação de surdos e finalizados por
questões que envolvem o trabalho com a disciplina de Libras, no que diz respeito às
experiências práticas e sua relação com os objetivos e encaminhamentos previstos
no programa da disciplina.
6.3.1 Tema 1: Perfil do Profissional que Ministra a Disciplina de Libras
“O professor é a pessoa; e uma parte da
pessoa é o professor”.
Antônio Nóvoa (1991 p.15)
A análise do trabalho docente deve considerar as experiências pessoais do
sujeito, ou seja, sua história de vida, sua visão de mundo e de educação, em
síntese, os aspectos humanos que envolvem a prática profissional. É nessa
perspectiva que buscamos traçar o perfil do profissional que ministra a disciplina de
Libras no curso de pedagogia, pois concordamos com Nóvoa (1995, p.7) que:
[...] não é possível separar o eu pessoal do eu profissional, sobretudo
numa profissão fortemente impregnada de valores e ideais e muito
exigente do ponto de vista do empenhamento e da relação humana.
Houve um tempo em que a possibilidade de estudar o ensino, para
além da subjetividade do professor, foi considerada um sucesso
científico e um passo essencial para uma ciência da educação. Mas
as utopias racionalistas não conseguiram por entre parênteses a
especificidade irredutível da ação de cada professor, numa óbvia
relação com as características pessoais e suas vivências
profissionais [...].
83
6.3.1.1 Perfil pessoal
A professora de Libras (PL) na época da coleta dos dados apresentava as
seguintes características: 44 anos de idade e atuava na instituição pesquisada há 1
ano e meio. Relatou que apresentou surdez profunda aos seis anos de idade, como
resultado de uma meningite. Passou a utilizar a Libras desde os 12 anos, sendo que
suas primeiras experiências com essa língua se deram no contato com os colegas
da escola de surdos, nessa época já era oralizada, como se pode observar até hoje,
visto que adquiriu a surdez após a aquisição da fala.
Os próprios alunos surdos me ensinaram Libras para eu me
comunicar com surdos. Alguns não eram oralizados, eu era, mas
aprendi Libras, devido ao contato com surdos. Então uso Libras
desde os doze anos de idade até agora (PL).13
Quanto ao conhecimento da Língua Portuguesa, a professora de Libras
afirma possuir fluência tanto na modalidade oral quanto na escrita.
6.3.1.2 Percurso acadêmico- profissional
A formação da professora de Libras compreende dois cursos de graduação e
uma especialização: a primeira graduação foi em Pedagogia, cuja conclusão se deu
em 2002 em uma universidade particular do município de Londrina. A segunda
graduação, diz respeito ao Curso de Licenciatura em Letras-Libras, cursado na
modalidade à distância, na Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC, o qual a
habilitou para a função de docente na disciplina de Libras.
Sua graduação em Letras-Libras foi concluída em 2010, sendo a primeira
turma formada pelo curso, que era ofertado em nove polos na época de seu ingresso
(QUADROS; CAMPELLO, 2010). Além da formação inicial nos dois cursos já
referidos, a professora participante também realizou um curso de pós-graduação em
psicopedagogia.
Sua atuação na educação de surdos iniciou-se em 1997, no Instituto
Londrinense de Educação de Surdos- ILES, atual Colégio Estadual do Instituto
Londrinense de Educação de Surdos, que compõe os demais Centros de Educação
13
DENTRO CASA^ESTUDAR SURD@ AMBIENTE I-L-E-S EU ESTUDAR ALUN@ SURD@ EL@ 3PENSINAR1S
LIBRAS COMUNICAR SURD@ EL@ NÃO FALAR EU FALAR MAS 3PENSINAR1P EU APRENDER LIBRAS
CONTATO SURD@ CONTATO IDADE COMEÇAR 12 ATÉ-AGORA.
84
Pública do Estado do Paraná, no município de Londrina. Atualmente, ainda atua
nessa mesma instituição tendo a função de Pedagoga.
No início essa atuação na referida escola se deu apenas na Educação Infantil
e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, sendo que era voltada ao ensino de
Libras como primeira língua (L1) e a carga horária maior era dedicada à Educação
Infantil, como esclarece a professora:
Tinha a professora regente e eu ministrava só a disciplina de Libras
porque as crianças precisavam adquirir a Libras como primeira
língua. No início focávamos as crianças menores porque antes não
havia esse ensino de Libras e eu fui a primeira professora a iniciar
esse trabalho que desde então vem sendo desenvolvido (PL).14
Pelo relato da professora e pela época em que se deu sua contratação,
constatamos que foi no momento de transição do ensino oralista para a implantação
do bilinguismo na escola, o que fica evidente quando afirma que foi a primeira
professora contratada para ensinar Libras às crianças.
No Estado do Paraná, assim como em outros estados, o final dos anos 90 foi
marcado por movimentos de reconhecimento da língua de sinais e de investimentos
da Secretaria de Educação (SEED) em Recursos Humanos, tanto pela formação de
Intérpretes de Libras como de Instrutores surdos buscando adequar a realidade
educacional do Estado às novas propostas de ensino para surdos, discutidas em
âmbito nacional (SILVA; SANTOS, 2011).
É importante pontuar que a professora de Libras participou desse processo de
transição, estando entre os primeiros profissionais capacitados pelo Estado do
Paraná para o ensino de Libras para alunos surdos, seu depoimento evidencia o seu
processo de preparação e o investimento do Estado nesse preparo:
Como eu comecei a trabalhar no ILES, precisei me aprofundar mais
para saber como ensinar crianças surdas. Então fiz um curso na
FENEIS, em Curitiba, oferecido em parceria com a SEED. Era um
curso para instrutores de Libras, surdos. Houve várias etapas,
inclusive em faxinal do céu, porque tem vários níveis, básico,
intermediário e avançado, então sempre íamos a esses cursos de
capacitação.15
14
TER PROFESSOR@ EL@ OUVINTE PRÓPRI@ SALA EU ENTRAR SÓ DISCIPLINA LIBRAS 1SENSINAR3P
PRECISAR EL@ PRIMEIR@ LÍNGUA SURD@. PASSADO COMEÇAR FOCO SÓ CRIANÇA SURD@
ENSINAR+ SURD@ PASSADO NÃO-TER APRENDER LIBRAS NOVO COMEÇAR EU PRIMEIR@
PROFESSOR@ ENSINAR SURD@ ENSINAR+ SURD@ APRENDER LIBRAS DESENVOLVER.
15
COMO EU COMEÇAR TRABALHAR I-L-E-S EU PRECISAR PORQUE PRECISAR APRENDER COMO
LIBRAS APROFUNDAR COMO ENSINAR CRIANÇA SURD@. EU IR CURSO FENEIS IR+ CURITIBA SEED
OFERECER CURSO LIBRAS INSTRUTOR@ SURD@ PASSADO+ INSTRUTOR@ SURD@ EU IR+ MUITASVEZES FAXINAL-DO-CÉU AVANÇAR CURSO SURD@ TER NÍVEL 1,2,3... APROFUNDAR PRIMEIRO
85
A atuação profissional da professora de Libras em Educação, na maior parte
do tempo, esteve voltada à educação de alunos surdos em “escola própria para
surdos” (forma utilizada pela professora para se referir à escola que costumamos
denominar especial). Destacamos essa expressão porque ao perguntarmos à
professora de Libras se sua experiência na Educação infantil teria se dado em
“escola especial”, tivemos a seguinte resposta:
Sim, em escola própria para surdos, só de surdos (PL).16
Quando a professora entrevistada utiliza a expressão “escola própria para
surdos” e reforça com “só de surdos”, percebemos que de algum modo tenta se opor
à expressão utilizada quando nos referimos à escola em que ela leciona como
“escola especial”. A expressão que utiliza demonstra uma concepção de surdez e de
educação de surdos embasada na abordagem cultural, visto que nesse modelo
busca-se narrar a surdez fora dos discursos da Educação Especial, entendendo que
desse modo haverá o afastamento da concepção clínica que considera o indivíduo
surdo como deficiente e que, portanto o inclui dentro do campo de atuação da
referida área. Podemos entender melhor esta questão por meio das análises de
Gesser (2009, p.294):
[...] é por meio de deslocamento de oposições conceituais da
Educação Especial para uma Educação para Surdos, e também das
nomeações deficiente auditivo (e todos os seus sinônimos) para
surdo- ou seja, através de mudanças nas representações e
narrações sobre o surdo e a surdez- que poderemos enxergar os
múltiplos e diversos recortes identitários dos surdos, e contribuir para
que se possa sair do discurso da deficiência para o da diferença [...].
Cabe abrir um pequeno espaço para refletirmos sobre o fato de que até
recentemente a atuação do professor surdo se dava exclusivamente em escolas de
surdos, foi a adoção de políticas educacionais inclusivas, que abriu outros campos
de atuação para esse profissional, tanto no ensino superior como em escolas
regulares, ministrando a disciplina de Libras como L1 e L2.
A proposta de Educação Inclusiva, na perspectiva bilíngue exige a
BÁSICO, INTERMEDIÁRIO, AVANÇADO JÁ IR+ SEED CURITIBA FAXINAL-DO-CÉU IR-EM-GRUPO SURD@
APRENDER.
16
SIM. ESCOLA PRÓPRI@ SURD@ SÓ SURD@.
86
contratação de professores surdos, que passam a ensinar Libras para alunos surdos
e ouvintes, bem como para os demais professores para favorecer a construção de
espaços escolares bilíngues, em escolas regulares de ensino fundamental.
Vimos esta condição bem descrita na pesquisa de Merselian (2010), na
escola regular em que desenvolveu seu estudo foi contratado um professor surdo
como professor de Libras para atuar no turno inverso no ensino da Libras para os
alunos surdos, e em horários a parte para os professores, bem como para dar apoio
ao ensino da Libras como disciplina regular instituída em todas as séries do 1º ao 5º
ano.
A abertura desses espaços para atuação de professores surdos contribui
para que estes verdadeiramente passem a ocupar uma posição de igualdade com
seus colegas ouvintes. Anteriormente, mesmo ocupando cargos de docência, nas
“escolas especiais” ocorria um desprestígio a sua atuação em decorrência,
provavelmente do status social que estas escolas ocupavam. Glat e Blanco (2007)
comentam que essas escolas sofreram ao longo dos anos um afastamento das
políticas gerais. Segundo Rocha (2010, p.36) “tanto no território físico quanto no
território das ideias” houve a formação de guetos e essas escolas foram
desprestigiadas pela sociedade, bem como os professores que nelas atuavam,
esses eram vistos mais como missionários ou pessoas caridosas do que como
educadores.
A professora de Libras complementa a descrição de seu percurso profissional
informando que também atuou nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino
Médio (nesses níveis atuou por quatro anos); na Educação Superior estava atuando
há três anos e meio, sendo que durante 2 anos exerceu a função de docente em IES
particulares e na Universidade Pública pesquisada estava atuando há um ano e
meio.
A professora explica que sua motivação em relação à profissionalização em
Libras ocorreu em função das exigências que vivenciou na prática junto aos seus
alunos, especialmente da Educação Infantil e atualmente junto à comunidade
ouvinte.
A busca constante pelo conhecimento se deve a própria prática, que, de
acordo com as novas experiências, surgem também outras necessidades e saberes
que possam ser aplicados à realidade atual. Como explica a professora acerca de
87
sua motivação em relação à profissionalização em Libras:
Primeiramente a preocupação com as crianças surdas. Esse era meu
foco: a aprendizagem da Libras pelas crianças surdas, visto que a
maioria das famílias de surdos são ouvintes e havia barreiras
comunicativas. A partir daí comecei a perceber que eu precisava
aprimorar meus conhecimentos em busca de oferecer um ensino de
qualidade aos alunos. Então comecei a estudar, pesquisar mais e
buscar recursos didáticos, além da minha própria qualificação
profissional. Agora meu alvo é a comunidade. Os ouvintes
necessitam de informação, de aprender a se comunicar com surdos
entre outras coisas. Então agora meu foco é o ensino de Libras para
ouvintes (PL).17
Em relação aos saberes que permeiam a prática profissional da professora de
Libras, buscamos sondar alguns possíveis conhecimentos que teriam sido
construídos em sua formação em nível superior, indagando acerca dos conteúdos
trabalhados no Curso de Letras-Libras, visto de que se trata de uma formação
específica voltada à disciplina que interessa à nossa pesquisa. Segundo a
professora de Libras, os conteúdos abrangem:
[...] Fundamentos, disciplinas de Libras, como gramática, Libras I, II,
III, IV, V e VI, contemplando os estudos fonológicos, morfológicos e
sintáticos da Libras. Também tivemos psicologia e língua portuguesa
também, para poder comparar as diferenças nas estruturas das duas
línguas. Estudamos sobre o português como segunda língua e
muitos outros conteúdos (PL).18
Quanto a conteúdos relacionados à educação de surdos, como tendências
atuais, e principalmente o que diz respeito à inclusão de alunos surdos, a professora
coloca que:
Tivemos sim. Tendências... inclusão... na verdade, inclusão não. O
foco era mais o surdo, a educação do surdo como era antigamente,
no início da educação com a língua de sinais, a história da educação
17
PRIMEIRO PREOCUPAR CRIANÇA SURD@ FOCO1SENSINAR3P LIBRAS IMPORTANTE PRECISAR
PORQUE FAMÍLIA OUVINTE FALTA BARREIRA-COMUNICATIVA EU PENSAR EU PRECISAR DESENVOLVER
PRECISAR EU MELHORAR AJUDAR SURD@ ALUN@. ENTÃO EU PROCURAR ESTUDAR MAIS DISCIPLINA
LIBRAS PESQUISAR MATERIAL EU LIBRAS ÓTIMO AGORA FOCO É ABRIR COMUNIDADE GERAL
OUVINTE FALTAR INFORMAÇÃO EL@ FALTAR COMUNICAR SURD@ FALTAR COISAS ENTÃO EU É
AGORA FOCO MAIS ENSINAR OUVINTE.
18
FUNDAMENTO TER DISCIPLINA LIBRAS, GRAMÁTICA TER 1,2,3 ATÉ 6 LIBRAS PRÓPRI@ ESTUDAR OQUE SINTAXE, FONOLOGIA, MORFOLOGIA PRÓPRI@ GRAMÁTICA LIBRAS TAMBÉM PSICOLOGIA TEM
PORTUGUÊS TAMBÉM DENTRO PORQUE COMPARAR PORTUGUÊS LIBRAS TER. ESTUDAR
PORTUGUÊS SEGUND@ LÍNGUA COMPARAR LIBRAS PRIMEIR@ TER DOIS-CAMINHOS TER DENTRO
CONTEÚDO DIVERS@.
88
de surdos, a cultura dos surdos, mas com o foco na Libras. [...]
Tivemos sobre a aquisição da linguagem pela criança surda e como
ela se desenvolve...tivemos muito conteúdos, sempre focados na
criança surda (PL).19
Ao observarmos a estrutura curricular do curso de Licenciatura em LetrasLibras, ofertado pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC, constatamos
que, de fato, este se volta mais aos estudos da Língua de Sinais, bem como
conteúdos de Língua Portuguesa, caracterizando-se como um curso bilíngue.
Poucas são as disciplinas que poderiam introduzir estudos ou discussões acerca da
educação inclusiva.
As concepções da professora acerca da Educação de Surdos foram
aprofundadas e serão exploradas no tema seguinte.
6.3.2 Tema 2: Considerações da Professora de Libras acerca da Educação de
Surdos.
Tendo em vista que objetivamos a busca de saberes, construídos ao longo da
disciplina de Libras, que poderão contribuir com a prática dos futuros pedagogos,
tanto como docentes quanto como gestores escolares, buscamos compreender as
concepções da professora de Libras em relação à Educação Inclusiva de alunos
surdos. Considerando que não há só a escola regular (classe comum) como
alternativa educacional, perguntamos à professora de Libras, qual o sistema mais
adequado à educação de alunos surdos, entre as modalidades: escola inclusiva
(classe comum) ou escolas de surdos. Seu posicionamento foi o seguinte
“As políticas de inclusão têm sido bastante discutidas de modo geral
pelo que tenho percebido. Mas falta o entendimento de que a
proposta inclusiva é boa, porém deve-se considerar que a criança
surda necessita estudar primeiro em uma escola de surdos para
adquirir a primeira língua e se for para uma escola inclusiva não vai
conseguir isso. A criança surda precisa formar sua identidade desde
cedo, adquirir a primeira língua, a língua materna, o que vai se dar no
contato com outros surdos, o que a escola regular não proporciona.
Na escola de surdos ele terá outros surdos, vai adquirir a cultura,
formar a sua identidade e irá se desenvolver. Em minha opinião, a
partir da 5ª série, quando o surdo já tiver constituido sua identidade,
sua cultura surda e tiver um bom conhecimento da língua
19
TER+ TENDÊNCIAS, INCLUSÃO... INCLUSÃO NÃO MAIS FOCO CERTO SURDO ENSINAR SURDO COMO
PASSADO COMEÇAR LIBRAS. HISTÓRIA LIBRAS FAZ-TEMPO+ COMO SURDO ESTUDAR, CULTURA
SURD@ ESTUDAR CULTURA SURD@ LIBRAS MAIS [..] ADQUIRIR LINGUAGEM CRIANÇA SURD@ SIM.
TER DESENVOLVER COMO ENSINAR CRIANÇA TER MUIT@ CONTEÚDO TER DIVERS@ MAIS FOCO
SURD@.
89
portuguesa, sua segunda língua... Porque os professores na escola
de surdos conhecem como ensinar a língua portuguesa como
segunda língua para surdos. Então quando este aluno estiver
preparado pode ir para uma escola regular, mas antes disso, se for
muito pequeno não. Em minha opinião, sou mais a favor que estude
em uma escola de surdos (PL).20
São poucas as pesquisas que relatam experiências ligadas à implementação
de propostas realmente inclusivas de alunos surdos, no entanto são muitas as que
relatam as dificuldades encontradas nesse processo. Na opinião de professores
surdos, quase sempre a inclusão é vista como entrave, tal como se pode observar
nas palavras de Rebouças (2009, p.64):
A proposta da inclusão de portadores de necessidades educativas
especiais em classes regulares é louvável, mas funciona como
exclusão linguística em muitos casos de alunos surdos incluídos sem
o apoio de intérpretes e sem o uso de recursos visuais. Sem os
apoios pedagógicos e tecnológicos necessários, os alunos surdos
acabam excluídos da plena comunicação e da real participação.
A perspectiva que atribui à escola de surdos a função de preparar o aluno
surdo para um contexto educacional e social mais complexo tem feito parte dos
discursos que circulam na esfera da educação de surdos. Dorziat (2011, p.3)
considera que:
A escola de surdos, desde cedo, é primordial. Nela, é possível criar
um ambiente linguístico que não se restrinja à comunicação surdointérprete ou surdo-professor, mas que dê oportunidade de uma
comunicação fluente, viva e natural, entre os colegas, o professor e
os surdos mais velhos. A partir daí, não só a veiculação de todos os
tipos de conteúdos curriculares se torna viável, como também a
consolidação de uma forma particular de ver o mundo, a partir das
informações visuais e da emergência de diferenças dentro da
diferença. Esse é o critério para uma educação de fato. Sem ele,
pode-se até vislumbrar alguma aquisição de informações, mas será
mais uma maneira alienante, dentre as várias existentes, que a
escola regular promove.
20
AGORA POLÍTICA INCLUSÃO FALAR+ GERAL MUIT@ EU VER+ MAS FALTAR ENTENDER INCLUSÃO
BO@ MAS SURD@ PRECISAR PRIMEIRO FOCO ESTUDAR PRÓPRI@ SURD@ PORQUE SURD@ FALTAR
ADQUIRIR PRIMEIR@ LÍNGUA SE INCLUSÃO, NÃO-ADIANTAR NÃO. PRECISAR SURD@ FORMAR
IDENTIDADE SURD@ PEQUEN@ PRECISAR CONHECER PRIMEIR@ LÍNGUA ME@ MATERN@ PRIMEIR@
LÍNGUA CONHECER CONTATO SURD@ IX INCLUSÃO NÃO-TER IX TER TUDO SURD@, TER CULTURA
TER FORMAR IDENTIDADE SURD@ DESENVOLVER. EU ACHAR, OPINIÃO ME@, 5ª-SÉRIE SURD@
PRONTO ADQUIRIR IDENTIDADE, CULTURA SURD@ EL@ SABER BEM PORTUGUÊS SEGUND@
ENSINAR JÁ PORQUE EL@ PROFESSOR@ CONHECER COMO ENSINAR SEGUND@ LÍNGUA SURD@
EL@ SURD@ TER PREPARAD@ EU PENSAR PRONT@ QUER, PODER INCLUSÃO, MAS ANTES
PEQUEN@ COLOCAR INCLUSÃO NÃO. EU OPINIÃO MAIS ESCOLA SURD@.
90
As considerações feitas pela professora de Libras coincidem com as opiniões
de alguns alunos já relatadas anteriormente e resgatadas neste contexto:
Acredito que o aluno deve aprender primeiro a comunicar-se em
sinais para depois ser inserido nas salas de aula regulares (A4).
Em escolas especiais até determinada idade, a partir da 5º série
talvez sim (A5).
Ao indagarmos sobre a possibilidade de que a aprendizagem da Língua de
Sinais aconteça dentro de uma escola de ensino regular, em classes comuns, a
professora considera não existir tal possibilidade, tendo em vista que:
[...] o surdo fica muito isolado. Só ele no meio de vários ouvintes,
como ele vai adquirir a língua de sinais se todos são ouvintes e não
há pares surdos, se não tiver contato com outros surdos? Ele vai
perceber que todo mundo é diferente dele e vai pensar: porque eu
sou diferente de todos? Não vai conseguir estabelecer um contato
efetivo. Eu acho que nas cidades de pequeno porte, onde não há
escolas para surdos, o que acontece muito, a inclusão é uma
alternativa, mas de qualquer forma o surdo ainda perde um pouco.
Ele cresce inseguro, parece que não tem uma base sólida. Não irá
dominar muito bem a língua de sinais, entre outras coisas (PL).21
A questão do isolamento do surdo em função de não conviver com outros
surdos na escola regular parece ser uma das principais preocupações quando se
pensa em incluir um aluno surdo em contextos educacionais inclusivos. Todavia, as
experiências que têm sido realizadas com bons resultados em termos de educação
inclusiva para alunos surdos se preocupam em colocar mais de um aluno surdo em
sala de aula entre os demais ouvintes.
Essas
experiências
parecem
ser
pouco
divulgadas,
prevalecendo
experiências de fracasso, de casos isolados de surdos inseridos no ensino regular
sem os recursos necessários.
Perguntamos, também à professora de Libras, se conhecia alguma
experiência de inclusão de alunos surdos em classes comuns e obtivemos a
seguinte resposta:
Não. Só que já vi alguns depoimentos de ex-alunos surdos que
21
[...] SURD@ ISOLAD@ <UM-NO-MEIO-DE TODOS>CL, COMO SURD@ APRENDER OUVINTES+ EL@ EU
IGUAL NÃO-TER EU IGUAL FALTAR IGUAL CONTATO SURD@ NÃO-TER. EU VER+ MUNDO DIFERENTE
PARECER PENSAR EU DIFERENTE POR QUÊ? CONTATO NEGATIVO. EU ACHAR CIDADE PEQUENA NÃO
TER ESCOLA NÃO-TER MUIT@ ENTÃO INCLUSÃO, MAS TER PERDER+ CRESCER INSEGURANÇA
FIRMEZA NÃO-TER CRESCER APRENDER LIBRAS MAIS-OU-MENOS PERDER MUIT@.
91
sempre estudaram em escolas regulares, mas que foram
prejudicadas, não obtiveram resultados positivos. Só alguns surdos
que têm algum resíduo auditivo (surdez moderada) conseguem
acompanhar porque sentam perto do professor, falam bem,
conhecem a língua portuguesa, nesse caso é possível, mas, surdos
profundos... Desconheço (PL)22.
Esse relato, aliado à vivência pessoal e à trajetória profissional da professora
de Libras, nos faz compreender sua posição em relação à inclusão de alunos surdos
nas classes comuns.
Outra consideração necessária é a contextualização. Na cidade de Londrina,
onde se passa toda a trajetória profissional da professora de Libras, há uma única
escola de surdos, existente há mais de 50 anos. De acordo com informações do
Núcleo Regional de Educação, atualmente a escola atende 99% dos alunos surdos
da cidade, sendo que há apenas um aluno em classe comum com apoio de
intérprete para um total de aproximadamente 100 alunos matriculados na referida
escola de surdos.
6.3.3 Tema 3: Considerações da Professora acerca da Disciplina de Libras.
A disciplina de Libras constitui-se em nosso principal objeto de estudo, de
modo que, nesse tema buscamos avaliar se os objetivos propostos foram
alcançados ao decorrer do semestre, bem como as circunstâncias ou contextos em
que foi ministrada a disciplina. Além disso, analisamos as relações ou interações que
se deram durante as aulas, com base nos relatos da Professora de Libras. Também
resgatamos algumas respostas de alunos participantes com o intuito de comparar os
dados anteriormente analisados.
Considerando o Decreto 5626/05 como principal responsável pela inclusão da
disciplina no curso de Pedagogia, nos interessou a avaliação da professora acerca
da obrigatoriedade dessa disciplina. Ela considerou:
Eu acho muito importante a lei porque se não fosse obrigatória os
alunos não se interessariam em cursá-la. Com alei as pessoas têm
que aprender. Antes, quando era optativa ninguém procurava, era
como se não tivesse valor. Com a obrigatoriedade, os alunos levam
22
NÃO. SÓ VER+ DEPOIMENTO SURD@ EX ESCOLA INCLUSÃO CRESCER PERDER+ TAMBÉM PORQUE
NÃO-TER CONSEGUIR RESULTADO POSITIVO EU OK NÃO SÓ CRIANÇA TER METADE OUVIR METADE
CAPAZ CONSEGUIR PORQUE OUVIR+ PERTO PROFESSOR@ OUVIR+ ORALIZAR BEM CONHECER
PORTUGUÊS BEM CAPAZ, MAS SURD@ PROFUND@ NÃO EU OBSERVAR NÃO-TER.
92
mais a sério, tanto no curso de Pedagogia como em outros, a
disciplina se tornou obrigatória e quando começam a ter contato com
a Libras, os alunos acabam gostando e isso é muito importante
porque com isso os surdos ganham, no sentido de que haverá
melhorias para a educação dos surdos (PL).23
Acerca dos objetivos do ensino da disciplina de Libras na formação do
Pedagogo temos a seguinte consideração:
Comecei ensinar a disciplina de Libras no curso de Pedagogia e no
curso de Biologia, mais com o objetivo de apresentar “o surdo”,
porque a maioria das pessoas não conhecem o surdo, não sabem
quem que é essa pessoa surda, seja alunos, crianças, adultos, como
é a vida dos surdos, o que é a Libras, a linguagem a comunicação.
Os ouvintes quando virem os surdos vão saber que é uma pessoa
que não ouve, que possui uma lingua própria e uma cultura diferente
então irão conhecer melhor essas pessoas, também ensinar Libras
para que, quando estiverem atuando como professores, ao receber
um aluno não vão sentir estranhamento porque já conhecem, assim
sentirão certo conforto e se quiserem se aprofundar na língua
poderão buscar outros cursos (PL).24
A escolha desses objetivos se justifica, de acordo com a professora:
Porque é importante que os alunos conheçam mais sobre os surdos,
visto que às vezes possuem concepções equivocadas em relação ao
surdo. Então, para que eles possam compreender e desmitificar
algumas concepções inadequadas (PL).25
Os objetivos comentados pela professora, são bem semelhantes aos objetivos
citados por (QUADROS; CAMPELLO, 2010, p.37) ao referir-se a disciplina de Libras
nos cursos de Letras e Pedagogia da UFSC. Nas palavras das autoras:
23
EU ACHAR EL@ IMPORTANTE PORQUE SE LEI NADA TOD@ DESINTERESSAR. NÃO-INTERESSAR
PENSAR LIBRAS PARECER POUCO. LEI PARECER AJUDAR SURD@ TAMBÉM, SURD@ GANHAR TEM.
EL@ OUVINTE EL@ PESSOA CURSO APRENDER FACULDADE PASSADO PARECER OPTATIVO. QUERER
NÃO-QUERER EU ACHAR PENSAR LIBRAS DIFÍCIL EU IR NÃO IGNORAR. AGORA LEI OBRIGAR, ALUN@
PEDAGOGIA TAMBÉM OUTR@ CURSO PARECER NÃO-TER-OPÇÃO, MAS COMEÇAR RUIM DEPOIS
SATISFEIT@ APRENDER UTILIZAR-LIBRAS MELHOR. EU ACHAR IMPORTANTE. TAMBÉM SURD@
GANHAR. LEI AJUDAR MELHORAR EDUCAÇÃO SURD@.
24
EU COMEÇAR ENSINAR DISCIPLINA LIBRAS CURSO PEDAGOGIA TAMBÉM PORQUE EU JÁ OUTRO
CURSO BIOLOGIA JÁ ENSINAR OBJETIVO LIBRAS O-QUÊ? INFORMAR QUE É SURD@ PORQUE MAIORIA
NÃO-CONHECER NÃO-SABER QUE SURD@ INDIVÍDUO NÃO-CONHECER S-U-R-D-O, SURD@ QUÊ
SUJEITO? CHAMAR NÃO-CONHECER. ENTÃO 1SAVISAR3P MOSTRAR TAMBÉM MOSTRAR <MINHAPESSOA> SURD@ MOSTRAR 3PVER1S SURD@ EU 1SAVISAR3P INDIVÍDUO QUALQUER CRIANÇA ALUN@
OU ADULT@ SURD@ EU MOSTRAR INDIVÍDUO VIDA COMO LIBRAS O-QUÊ, LIBRAS COMO COMUNICAR
COMO MOSTRAR ENSINAR LIBRAS TAMBÉM EL@ OUVINTE VER SURD@ É PESSOA NÃO OUVIR USAR
DIFERENTE LÍNGUA LIBRAS, SURD@ TER CULTURA DIFERENTE SURD@ PESSOA ASSUNTO INDIVÍDUO
EL@ CONHECER EU MOSTRAR. TAMBÉM APRENDER LIBRAS. FUTURO EL@ PROFESSOR@. FORMAR
PROFESSOR@ PODER...NÃO ASSUSTAR VER ALUN@ ASSUSTAR NÃO JÁ 3SENSINAR1S PRONTO
COMPREENDER ENCONTRAR SURD@ LEMBRAR PROFESSOR@ 3SENSINAR1S COMO INDÍVIDUO EU
TRANQUILIZAR CAPAZ EU LIBRAS POUC@ PROCURAR CURSO APRENDER LIBRAS MELHOR AJUDAR
SURD@ ALUN@.
25
PORQUE IMPORTANTE EL@ SABER QUEM SURD@ TER CONCEPÇÃO. PENSA SURDO SER <CONTAR
–NO-DEDO> LIBRAS É...NÃO, ACABAR TIRAR+ CLARO EXPLICAR+ OUVINTE ENTENDER.
93
A proposta da disciplina nesse curso tem o objetivo de oferecer
conhecimentos básicos de Libras, além de sinais específicos em
qualquer área. A disciplina também contempla a desconstrução de
mitos e estereótipos em relação ao surdo e à língua de sinais. Os
alunos terão a oportunidade de refletir sobre os olhares sobre os
surdos e assim construir uma nova experiência surda. A
comunicação básica em Libras e os conhecimentos construídos a
partir do curso possibilitarão uma relação entre professor e os alunos
surdos no contexto da educação regular.
Percebe-se claramente, tanto na fala da professora de Libras, como nas
considerações de Quadros e Campello (2010), que a disciplina tem como finalidade
a preparação do professor (pedagogo) para atuar na educação de alunos surdos.
Para isso entendem que esses profissionais precisam conhecer melhor acerca
desse sujeito com quem vão atuar, percebendo-o sob uma perspectiva cultural.
Nas considerações das referidas autoras o conhecimento da Língua de Sinais
está voltado à comunicação básica que possibilita a interação entre o professor e o
aluno surdo. A professora de Libras, também comentou sobre o nível de
conhecimento linguístico que se espera dos alunos, quando a questionamos acerca
das contribuições da disciplina para a formação do futuro pedagogo:
Os alunos de pedagogia, ou mesmo de outros cursos vão conhecer
Libras, o básico de Libras, porque são poucas horas, então não dá
pra ele se aprofundar em Libras. Mas, o mais importante é que eles
vão entender quem é o surdo, como é a vida de um surdo, o
processo de desenvolvimento de uma criança surda, vão conhecer
um pouco sobre a gramática da Libras, ter uma visão geral, o que vai
ser importante para sua formação. Vai ajudar ajudá-lo a se tornar um
profissional mais sensível, sem preconceitos em relação ao surdo,
ele irá se sentir mais preparado e informado sobre a cultura surda
(PL)26.
Na fala da professora de Libras encontramos a justificativa de que esse
conhecimento básico da Libras se deve à carga horária, o que os alunos tanto
questionaram em suas respostas.
Vitaliano, Dall‟Acqua e Brochado (2010, p. 2) ao analisarem o Decreto 5626
de 2005, que determina a inclusão da disciplina de Libras no curso de Pedagogia,
26
EL@ ALUN@ EL@ ESTUDAR PEDAGOGIA OU OUTR@ V-A-I CONHECER LIBRAS V-A-I CONHECER
PROFUND@ NÃO, CONHECER BÁSICO PORQUE TEMPO UMA-HORA CURT@, NÃO-DÁ QUASE TUDO
MAS MAIS IMPORTANTE V-A-I ENTENDER O-QUE SURD@ O-QUE VIDA SURD@ COMO SURD@ VIDA
CRESCER COMO PRÓPRIO DESENVOLVER. GRAMÁTICA LIBRAS POUCO APRENDER SINAIS MENTEABRIR AJUDAR TE@ FORMAÇÃO PROFISSIONAL FUTURO MAIS SENSIBILIDADE EVITAR PRECONCEITO
TAMBÉM EL@ SENTIR BEM INDIVÍDUO BOM AJUDAR CONHECER CULTURA SURD@.
94
destacam o artigo 5º deste Decreto, o qual dispõe que:
A formação de docentes para o ensino de Libras na educação
infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada
em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e
Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução,
viabilizando a formação bilíngue (BRASIL, 2005).
As autoras observam que de acordo com o artigo 5º, cabe ao curso de
Pedagogia a formação de professores para o ensino de Libras para crianças surdas,
porém, as mesmas consideram que a carga horária prevista em algumas ementas
não é suficiente, visto que:
Ao preverem conteúdos de diferentes naturezas, propiciam um
contato com a Libras propriamente dito de forma restrita, pois na
maioria dos cursos a referida disciplina tem em torno de 60 horas,
carga horária que podemos considerar reduzida, dado a quantidade
e diversidade de conteúdos que algumas ementas contemplam
(VITALIANO; DALL´ACQUA ; BROCHADO, 2010 p.10-11).
Desta forma a professora de Libras apresenta as contribuições da disciplina
de modo coerente com a carga horária que dispõe. Sabemos que a preparação para
o ensino da Libras,
seja para Educação Infantil ou para outros níveis são
necessários muitos anos de formação, assim como outras línguas, também
requerem.
A respeito desta preparação do pedagogo para atuar na educação infantil e
anos iniciais do Ensino Fundamental com a inclusão de alunos surdos, a professora
de Libras fez a seguinte consideração:
[...] A disciplina de Libras não é suficiente para preparar o
profissional, porque são poucas horas. E em minha opinião seria
importante que a Libras fosse inserida nos quatro anos ano da
faculdade porque há muitos conteúdos a aprender. Seria importante
que esse aluno fosse a campo para ter contato com surdos. Visitasse
escolas de surdos, associações de surdos, realizar estágio nesses
lugares então falta muitas coisas que ajudariam. Eu penso que
quando eles se formam ainda não possuem domínio da Libras .Na
minha aula eu trabalho Libras, ensino e no final do curso eu falo pra
eles procurarem outros cursos, escrevo no quadro onde eles podem
encontrar cursos de aprofundamento em que há profissionais surdos
atuando, porque certamente encontrarão barreiras comunicativas se
não se aprofundarem (PL).27
27
DISCIPLINA LIBRAS NÃO PREPARAR PRONTO PROFISSIONAL EL@ ALUN@ FUTURO PROFISSIONAL
NÃO PORQUE HORAS REDUZIR. PRECISAR EU OPINIÃO IMPORTANTE LIBRAS COMEÇAR PRIMEIROAO-QUARTO-ANO FACULDADE PORQUE TER MUIT@ COISAS APRENDER, MUIT@ COISAS. TAMBÉM
PRECISAR IR–VÁRIOS- LUGARES CONTATO SURD@ ASSOCIAÇÃO, CASA^ESTUDAR SURD@ ESTÁGIO
PRECISAR, FALTAR COISAS. EU ACHAR PESSOA FORMAR FACULDADE, LIBRAS PRONTO NÃO. EU
95
Uma das alternativas apontadas pela professora para maior aproveitamento
da disciplina seria a continuidade dos estudos, que é uma das recomendações feitas
por ela ao término da disciplina, indicando, inclusive, os caminhos para buscar o
aprimoramento contínuo. Um dos papeis da formação inicial, posto por alguns
autores seria incentivar a formação continuada e permanente dos professores.
Como observa Imbernón (2009, p. 66):
É necessário estabelecer uma formação inicial que proporcione um
conhecimento válido e gere uma atitude interativa e dialética que
conduza a valorizar a necessidade de uma atualização permanente
em função das mudanças que se produzem [...]
As considerações de Imbernón (2009, p.67) reforçam a importância desse
contato com a prática educativa nos diversos contextos. O autor assinala que:
Quando se relaciona o conhecimento profissional ao elemento
contexto educativo, as características daquele se enriquecem com
infinidades de matizes que não era possível antecipar em um
contexto ideal ou simulado. É num contexto específico que o
conhecimento profissional se converte em um conhecimento
experimentado por meio da prática [...]. E quando falamos de
quadros educativos e sociais referimo-nos tanto aos lugares
concretos (instituições educativas) como aos ambientes sociais e
profissionais em que se produz a educação (comunidade).
Como vimos no relato da professora de Libras, ela considerou fundamental
que os graduandos tenham o contato com a realidade educacional dos alunos
surdos e esta se daria por meio de visitas a escolas e estágio.
Outra questão é a que diz respeito à sensibilização do professor que irá atuar
com alunos surdos, a qual é colocada pela professora de Libras como uma das
contribuições a serem dadas pela disciplina. Essa percepção da disciplina de Libras
como “instrumento sensibilizador” é identificada também nas análises de Vitaliano,
Dall‟Acqua e Brochado (2010, p. 3). Essas autoras observam que:
Para muitos profissionais que lidam com alunos surdos há algum
tempo, o objetivo desta disciplina parece ser a sensibilização dos
professores às necessidades e dificuldades dos alunos surdos em
seu processo de aprendizagem.
SEMPRE AULA ENSINAR LIBRAS ENSINAR EU FINAL AVISAR EL@ IR PROCURAR CURSO. EU
ESCREVER-NO- QUADRO ONDE TER CURSO SURD@ ENSINAR. PRECISAR EL@ FUTURO CAPACIDADE.
SE EL@ NÃO PROCURAR NÃO PRONTO. V-A-I ENCONTRAR SURD@ BARREIRA-COMUNICATIVA V-A-I.
96
Vitaliano, Dall‟Acqua e Brochado (2010), também analisaram que de acordo
com o perfil do profissional que ministra a disciplina de Libras, pode-se enfatizar
mais a Língua ou questões ligadas aos aspectos educacionais, o que pode estar
relacionado à formação do professor, ou até mesmo ao departamento que o
contratou para a função. Nesse caso, se o professor tiver uma formação em
Educação irá priorizar questões educacionais, enquanto o que tiver formação em
Letras poderá priorizar questões linguísticas.
Considerando que a formação da professora de Libras contempla ambas as
áreas do conhecimento (Pedagogia e Letras-Libras), interessou-nos seu ponto de
vista acerca da disciplina, se deve preocupar-se com o ensino da Libras apenas ou
deve também se preocupar com a preparação do professor para inclusão de alunos
surdos. A professora de Libras colocou que:
Futuramente os alunos irão atuar em escolas inclusivas, isso é óbvio,
são poucos que vão para escolas de surdos, a grande maioria vai
atuar no ensino regular, mas quero reforçar que a disciplina de Libras
prepara o profissional no sentido de apresentar os surdos, como lidar
com o aluno surdo, quebrar preconceitos e aprender a atender as
especificidades do aluno surdo. Mas, para o conhecimento da língua
não é suficiente. De qualquer forma ele terá o básico para se
comunicar no dia a dia, como dizer “oi” e outros cumprimentos,
também. Estará mais sensível para interpretar expressões como
quando o aluno está aborrecido com alguma coisa e até mesmo
onde procurar informações sobre cursos e auxílio para o aluno, como
intérpretes de Libras entre outros procedimentos. No entanto, a parte
prática da língua foi pouco contemplada na disciplina (PL).28
Pelos argumentos utilizados pela professora, pudemos observar que a ênfase
maior se dá ao conhecimento, tanto do aluno quanto de sua língua, e que esses
conhecimentos são básicos; o suficiente para que o profissional aprenda a lidar com
questões corriqueiras do cotidiano escolar.
Quanto aos conteúdos trabalhados na disciplina, a professora de Libras
apresentou os seguintes:
Trabalho história da educação de surdos, porque as pessoas não
conhecem e precisam saber como era a LS antigamente até hoje.
28
PESSOA ALUN@ FACULDADE EL@ MAIORIA INSERIR INCLUSÃO C-L-A-R. POUC@ INSERIR
CASA^ESTUDAR PRÓPRI@ SURD@. POUC@ UM, DOIS...MAIORIA V-A-I INSERIR CASA^ESTUDAR
NORMAL INCLUSÃO. ENTÃO, ANTES EU EXPLICAR SÓ ME@ DISCIPLINA LIBRAS PREPARAR EL@
INDIVÍDUO PROFISSIONAL CONHECER SURD@ COMO L-I-D-A-R ALUN@ SURD@, EVITAR
PRECONCEITO EVITAR. TAMBÉM SABER COMO PROCEDER AJUDAR SURD@ MAS POR-OUTRO-LADO
LÍNGUA CONHECER LIBRAS NÃO. POUCO. MAS SABER INDIVÍDUO JÁ SABER QUEM SURD@ JÁ SABER.
SABER COMO OI! TUDO BEM? CAPAZ [email protected]ÉM VIDA EL@ IRRITAD@ OLHAR-PARA-MIM SABER
LIBRAS PROCURAR INFORMAR JÁ SABER ONDE LEMBRAR 3EXPLICAR1 PROCURAR INFORMAR CURSO
BUSCAR INTÉRPRETE COMO BUSCAR INTERPRETE SABER PROCEDIMENTO MAS POR-OUTRO-LADO
PRÁTICA LIBRAS NÃO. POUC@.
97
Trabalho tendências educacionais ao longo da história como
oralismo, bilinguismo, comunicação total, bem como os métodos de
ensino dessas filosofias educacionais. Apresento textos que falam
sobre inclusão para que eles tenham conhecimento dessa realidade.
Sobre o profissional intérprete, a relação entre professor, aluno e
intérprete nesse contexto. Trabalho com produção escrita de alunos
surdos para que futuramente ao depararem com um texto de um
aluno surdo não estranhem a estrutura desse texto; e como deve ser
traduzido para a língua portuguesa, porque a estrutura é bem
diferente do padrão. Também ensino a gramática de Libras e a
prática da língua de sinais, alguns sinais por grupo semântico como
“alimentos”, em outro momento “animais” e outros.29
Os conteúdos ministrados parecem voltar-se mais ao contexto educacional,
pela gama de assuntos que foram citados. No entanto, percebe-se que também
houve espaço para o ensino de sinais e da gramática de Libras.
De acordo com a professora de Libras, as aulas iniciam-se mais teóricas
antes de partir para a prática da Libras, mas, busca trabalhar ambos os conteúdos.
Penso que precisa haver um equilíbrio entre teoria e prática (PL).30
Acerca dos conteúdos referentes ao processo educacional dos alunos surdos,
segundo a professora, são abordados da seguinte forma:
Eu explico sobre meu próprio trabalho no ILES, já disse que sou
professora de surdos, eles me perguntam como são os métodos de
ensino e eu esclareço, eles querem saber sobre como é o ensino
para surdos. Inclusive convido os alunos a visitarem a escola onde
trabalho, digo que está aberta para eles conhecerem e verem o
trabalho de outros professores, pois há formas de ensino
diversificadas. Tem escolas inclusivas também como o Colégio Hugo
Simas em que há alunos surdos com implante coclear, com surdez
moderada, que usam aparelho auditivo (PL).31
29
EU TRABALHAR MAIS HISTÓRIA ENSINAR SURD@ PORQUE TOD@ NÃO-CONHECER EU EXPLICAR
COMEÇAR LINGUA-DE-SINAIS PASSAD@ COMO ANTIGUIDADE AOS-DIAS-ATUAIS. TAMBÉM TRABALHAR
TENDÊNCIA ENSINAR ORALISMO, BILINGUISMO, COMUNICAÇÃO-TOTAL MOSTRAR PASSADO COMO
METODOLOGIA ENSINAR LINGUA-DE-SINAIS ENSINAR. TAMBÉM MOSTRAR TEXTOS INCLUSÃO
MOSTRA+ EL@ CONHECER TER ALUN@ INSERIR+ TER COMO VIDA INTÉRPRETE TRAZER.
PROFESSOR@ ALUN@ RELACIONAR INTERPRETE MOSTRAR TAMBÉM. MOSTRAR TEXTO SURD@
TEXTO PORQUE EL@ FUTURO SURD@ ESCREVER MOSTRAR PROFESSOR@ ASSUSTAR NÃOCONHECER. MOSTRAR TEXTO SURD@ PRÓPRI@ COMO TRADUZIR PORTUGUÊS CERT@ PORQUE
SURD@ NÃO ESCREVER PERFEIT@ POUC@ ESCREVER DIFERENTE PRÓPRI@ JEITO MUDAR-AS
PALAVRAS-DE LUGAR LIBRAS TAMBÉM EU ENSINAR GRAMÁTICA LIBRAS, PRÁTICA LIBRAS ALGUNS
SINAIS TEMA POR-EXEMPLO ALIMENTO ENSINAR OUTRO DIA, ANIMAIS DIVERS@.
30
PENSAR PRECISAR TEORIA PRÁTICA EQUILÍBRIO.
31
EU EXPLICAR MEU TRABALHO I-L-E-S SEMPRE EU 1AVISAR3 OLHAR-PARA-MIM PROFESSOR@
SURD@ 3PERGUNTAR1 COMO METODOLOGIA EU EXPLICAR+ EL@ SABER COMO ENSINAR SURD@. EU
AVISAR PODER VISITAR I-L-E-S CASA^ESTUDAR ABERT@ TER PROFESSOR@ ENSINAR DIFERENTE
COMO METODOLOGIA DIFERENTE ME- VER ENSINAR PODER VISITAR CONHECER. TER
CASA^ESTUDAR. INCLUSÃO TER HUGO-SIMAS TER INCLUSÃO SURD@, IMPLANTE-COCLEAR SURD@
METADE OUVIR TER DIVERSOS, SURD@ PROFUNDO. EU EXPLICAR MOSTRAR OUVINTE
IMPRESSIONAR. TUDO IGUAL NÃO DIFERENTE TER.
98
Mais uma vez é enfatizada a necessidade de conhecer a prática no contexto
real. A professora também cita uma escola regular inclusiva, que os graduandos
poderiam visitar.
No entanto, faz-se necessário esclarecer que esses alunos que estudam
nessa escola “inclusiva” não foram considerados como surdos. Como a própria
professora esclarece e de acordo com informações do Núcleo Regional de
Educação, são alunos com perdas auditivas pouco significativas, em que a surdez é
corrigida pelo uso de próteses auditivas, e em outros casos são alunos com implante
coclear.
Na organização das aulas, a professora de Libras conta com o apoio de
recursos visuais e outros materiais didáticos de modo que facilitem sua comunicação
com os alunos, entre os quais destaca:
[...] os slides com bastante recursos visuais, depois explico o
conteúdo e atividades em Libras, algumas propostas estão nas
apostilas que eu entrego para eles, depois eles praticam em grupos a
partir de textos ou figuras.32
No ensino de Libras, tanto como primeira língua (L1) quanto como segunda
língua (L2), parece fundamental o uso de recursos visuais, visto que se trata de uma
língua visual. Como considera Damásio (2007, p.38) “a qualidade dos recursos
visuais é primordial para facilitar a compreensão do conteúdo curricular em Libras.”
O uso da apostila também parece indispensável quando se trata do ensino de
Libras, pois, como mostram as pesquisas de Gesser (2006, p. 146), existe uma
necessidade de registrar os sinais por parte dos alunos ouvintes, que sentem
dificuldade de memorizá-los depois se não houver um registro, o que os deixa
inseguros e o professor por outro lado se sente incomodado por não ter a atenção
dos mesmos. A autora comenta que:
A maioria dos alunos é unânime quanto à necessidade de
escrever durante as aulas de LIBRAS. Embora reconheçam
que o ato da escrita pode incomodar o professor – já que
mostra uma desatenção por parte delas –, além de estar em
jogo a questão de ele precisar do contato visual para ratificar e
ser ratificado na interação[...]
Outro apontamento feito por Gesser (2006) é que em alguns momentos das
32
PROJETOR MOSTRAR DESENHO MOSTRAR TEXTO EL@ OLHAR EU EXPLICAR. ATIVIDADE SINAIS
TER APOSTILA PALAVRAS EL@ LER EU DISPONIBILIZAR PRATICAR GRUPO TER TEXTO OU GRAVURA.
99
aulas de Libras (do curso pesquisado por essa autora), o professor surdo pede aos
alunos que parem de escrever e olhem para ele. Os alunos atendem ao pedido
naquele momento, mas em seguida um grupo de alunas volta a fazer anotações.
Podemos constatar que existe de fato a necessidade do registro dos sinais,
tendo em vista que entre as dificuldades apontadas pelos participantes de nossa
pesquisa está a de memorizar esses sinais, especialmente pela metodologia que a
professora utiliza ao introduzir a prática de Libras, ou seja, de sinais por grupo
semântico, como relatou ao citar os conteúdos trabalhados. Para evitar a tensão que
envolve a necessidade do registro por parte dos alunos e a condição de atenção que
a modalidade de língua exige para sua aprendizagem, o uso da apostila parece ser
um recurso considerável.
Esse recurso é enfatizado, entre outros, pela professora de Libras. Quando
indagamos se sente falta de algum apoio da Universidade em que trabalha, ela
destacou que:
Eu tenho todo o tipo de apoio didático, recursos de multimídias como
projetores e laptops que auxiliam nas aulas e são ótimos. Se não
tivesse esses recursos à disposição seria muito difícil. Mas,
normalmente tenho tudo isso disponível para as aulas. Bem como
impressões de materiais, xerox, sempre que deixo na pasta, são
providenciadas as cópias.33
A professora de Libras citou vários recursos que considera importantes para o
bom andamento das aulas e que a Universidade dispõe de muitos para o uso em
suas aulas. Percebemos que estes recursos são previstos desde a organização de
suas aulas, quando descreve que:
Primeiro organizo a parte teórica, os slides com bastante recursos
visuais, depois explico o conteúdo e atividades em Libras, algumas
propostas estão nas apostilas que eu entrego para eles, depois eles
praticam em grupos a partir de textos ou figuras” (PL).34
Embora tenha à disposição tantos recursos, a professora colocou a
necessidade de um intérprete em sala de aula. Em outro momento argumentou que
sente falta desse apoio durante as suas aulas “para atender as dúvidas dos alunos
que as vezes têm receio de perguntarem alguma coisa”.
33
TER APOIO PROJETOR, LAPTOP, MATERIAIS, M-U-L-T-I-M-I-D-I-A, TUDO ME-AJUDAR ÓTIMO, SE NÃOTER MAIS DIFÍCIL TER ME-ENTREGAR PROJETOR SEMPRE AULA DIRETO TER TUDO PERFEIT@
IMPRESSÃO, XEROX, PASTA ME-ENTREGAR XEROX TUDO CERTO.
34
MAIS É PRIMEIRO AULA ENSINAR PROJETOR MOSTRAR DESENHO MOSTRAR TEXTO EL@ <OLHARPARA-OS SLIDES> EU EXPLICAR. SEGUNDO ATIVIDADE LIBRAS TER APOSTILA LIBRAS FIGURA EL@
<OLHAR-PARA-AS-FIGURAS> 1SENTREGAR3P PRATICAR GRUPO TER TEXTO OU GRAVURA EU
1SENTREGAR3P ALUN@.
100
A utilização da língua oral, normalmente é requerida nas aulas mais teóricas.
Neste momento é que seria necessária a presença do intérprete. Mas, tudo depende
da forma como a universidade contempla a disciplina de Libras, se com função de
ensinar a língua ou contemplar questões educacionais entre os conteúdos da
disciplina, que é o caso da disciplina de Libras da universidade pesquisada. Como
mostra o programa, a disciplina contempla conteúdos práticos e teóricos, como em
muitas outras universidades.
Rebouças, (2009, p.44) considera que:
[...] as questões teóricas que permeiam a Educação dos Surdos
devem ser abordadas numa disciplina específica para esta temática,
ou seja, Libras e Educação de Surdos são conteúdos que devem ser
ensinados em disciplinas separadas.
Observamos que algumas instituições já vêm adotando essa medida,
deixando a parte teórica por conta de um professor ouvinte, de modo que a prática, o
ensino da Libras propriamente dito, fique a cargo do professor surdo.
Pela fala da professora, no entanto, parece que a dificuldade maior está na
insegurança dos alunos diante da necessidade de tirar dúvidas acerca dos
conteúdos durante as aulas, como coloca:
[...] então sinto falta desse profissional para que os alunos possam se
abrir mais, fazer perguntas, de modo que haja uma troca e uma
maior interação (PL).35
A professora de Libras, por sua vez não mencionou dificuldade em comunicarse com os alunos, ou passar o conteúdo. Consideramos que essa dificuldade não se
apresente pelo fato de a professora ser oralizada e possuir bom domínio da Língua
Portuguesa em suas modalidades oral e escrita, além dos diversos recursos citados.
Sobre o uso da Língua Portuguesa pela professora nas aulas, comentou:
Eu uso mais a oralidade para me comunicar. No início falo mais com
eles. Depois que eles já sabem um pouco de Libras aproveito para
utilizar os sinais que eles já conhecem como cumprimentar, “oi, tudo
bem? ”E eles tentam entender, então começo a introduzir mais a
Libras no diálogo com os alunos” (PL).36
Quanto à participação dos alunos nas aulas, a professora de Libras explica
que:
35
EU DESEJAR INTERPRETE EL@ PERGUNTAR <ME-TRANSMITIR-EM-LIBRAS> EL@ ABRIR
ESCLARECER INTERAGIR.
36
EU MAIS FALAR PORQUE EL@ NÃO-SABER LIBRAS. EU FALAR ORALIZAR INTERAGIR. COMEÇO
ORALIZAR DEPOIS COMEÇAR JÁ APRENDER EU APROVEITAR LIBRAS: OI, TUDO-BEM? EXPERIMENTAR.
101
[...] De manhã eles participam mais porque são turmas menores,
mais ou menos 20 a 25 alunos. Então, dá pra participar mais.
Perguntam, apresentam em grupo para a turma. Já a noite é mais
difícil, pois as turmas são mais numerosas, em torno de 40 a 43
alunos e além disso os alunos vêm mais cansados para as aulas
também, alguns sentam no fundo e não conseguem visualizar os
sinais, conversam bastante, assim fica mais difícil conseguir a
atenção dos alunos no período noturno. Só os alunos que sentam na
frente participam mais porque as turmas são lotadas, o ideal seria
dividir a turma em dois grupos, mas como não é assim, fica difícil
(PL).37
Outra questão que nos interessou foi o processo avaliativo da disciplina. De
modo que a professora nos deu o seguinte esclarecimento:
Primeiro eu ensino o conteúdo da disciplina. A prática, e os trabalhos
escritos são feitos em grupo. Às vezes passo algum filme e entrego
textos para eles fazerem análise, eles fazem apresentações em
Libras tanto em grupos como individuais. Antes eu passo nos grupos
e oriento os alunos para depois apresentarem. Trabalho com figuras
de configurações de mãos para eles usarem a criatividade e fazerem
apresentações.38
Pelos
relatos
da
professora,
verificamos
que
a
avaliação
prática,
normalmente, se deu em sala de aula, com apresentações em Libras, enquanto os
conteúdos teóricos eram entregues escritos, o que nos parece bastante estratégico,
tendo em vista que a professora é surda, e devido à dificuldade dos alunos em se
comunicarem de forma efetiva com a professora, tanto em Libras, por não
dominarem ainda a língua, como pela oralidade, considerando a insegurança dos
mesmos.
Por fim, perguntamos à professora de Libras se considerou a carga horária da
disciplina suficiente para trabalhar os conteúdos previstos e ela relatou que:
Os conteúdos que selecionei para minhas aulas consegui trabalhar
quase todos. Só faltaram algumas coisas que estavam previstos
mais para o final do ano, porque os alunos estavam muito ocupados
com TCC, teve também outros eventos da universidade como
Semana Pedagógica então alguns alunos acabavam perdendo
conteúdos que depois tentava repassar rapidamente para eles, mas
37
MANHÃ MAIS PARTICIPAR EL@ ÓTIMO PORQUE POUC@ ALUN@ 20, 25 MAIS-OU-MENOS.
CAPACIDADE PARTICIPAR MAIS PARTICIPAR+ EU CHAMAR GRUPO PRATICAR CAPACIDADE. NOITE
MAIS DIFÍCIL PORQUE AUMENTAR MUITO PESSOA 40, 43, ALGUNS NÃO-INTERESSAR CANSAD@
FUNDO <OLHAR-PARA-MIM> FRAC@ NÃO-VER EU CHAMAR-ATENÇÃO EL@ CONVERSAR+ DIFÍCIL
PARTICIPAR POUCO. SÓ FRENTE, ATRÁS MAIS-OU-MENOS. DIFÍCIL PORQUE NOITE NÃO-DÁ, PRECISAR
METADE, MAS NÃO-TER. MAIS DIFÍCIL NOITE.
38
PRIMEIRO EU ENSINAR LIBRAS DEPOIS AVALIAÇÃO TER TRABALHO GRUPO, EXEMPLO: FILME
ASSISTIR, LER TEXTO FAZER ANÁLISE INDIVIDUAL. SEGUNDO GRUPO LIBRAS CONFIGURAÇÃO-DEMÃOS EU ENTREGAR EL@ INVENTAR. TAMBÉM DIÁLOGO DUPLA APRESENTAR LIBRAS. ANTES EU
ENSINAR PRATICAR+ MUITO EU 1SAJUDAR3P DEPOIS DUPLA APRESENTAR, BO@ EU OLHAR ERRAR EU
AJUDAR.
102
faltou bem pouco, um ou outro conteúdo, mas de modo geral
consegui sim (PL).39
Quanto aos prejuízos relacionados à perda de conteúdo, podem ter
acontecido em casos isolados. E com relação a alguns contratempos devido ao
excesso de atividades desenvolvidas pelos alunos no último semestre do curso,
vimos, anteriormente, que estas dificuldades também foram mencionadas pelos
próprios alunos.
É importante destacar, todavia, que, de modo geral, as disciplinas que estão
contempladas apenas no último semestre do curso passam pela mesma situação e
não há como privilegiar uma em detrimento de outras. Além do mais, no último
semestre do curso estão previstas algumas disciplinas que poderiam ser
consideradas de caráter emergencial, que são as disciplinas de didática, as quais
servem de suporte à prática pedagógica do aluno ao cumprir a carga horária na
disciplina de Estágio Supervisionado, com intervenção nas séries iniciais do Ensino
Fundamental.
A disciplina de Libras divide espaço na matriz curricular do 4º ano do curso de
Pedagogia com essas disciplinas; com a disciplina de Trabalho de Conclusão de
Curso II, entre outras.
39
ME@ AULA EU CONSEGUIR ÓTIMO. SÓ FALTAR ALGUM@ COISA FINAL ANO PORQUE ALUN@ TER TCC
OCUPAD@ AQUI TER EXEMPLO SEMANA PEDAGOGIA PRÓPRI@ AQUI FACULDADE NORMAL. EU PERDER
EL@ OCUPAD@. OUTRO DIA RÁPIDO ENSINAR RESUMIR...FALTAR POUC@ SÓ.
103
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o intuito de investigar a implementação da disciplina de Libras
no curso de Pedagogia da UEL e seus efeitos junto aos graduandos, bem como a
percepção da professora sobre a organização e objetivos da referida disciplina,
consideramos que o objetivo foi alcançado, levando em conta que a previsão da
coleta dos dados foi ao término da disciplina. Muito embora se saiba que as reais
contribuições da disciplina possam ser mais bem analisadas, quando o professor
vivenciar o atendimento a alunos surdos em sua sala de aula.
Consideramos que este estudo ofereceu pistas sobre aspectos relevantes a
serem observados na implementação da disciplina em foco e subsídios para o
aprimoramento de tal processo.
O desenvolvimento deste trabalho se deu em momento oportuno, visto que
contemplou o início do processo de implementação da disciplina de Libras no curso
de Pedagogia da instituição analisada, sendo realizado com as primeiras turmas que
vivenciaram a disciplina na matriz curricular.
A análise do programa da disciplina de Libras foi essencial para identificar o
enfoque da mesma. Verificamos que alguns tópicos previstos na ementa da
disciplina se destacaram, como a análise do processo de tradução e interpretação:
Libras/ Português, Português/ Libras, pois acreditamos que o trabalho do intérprete
deve fazer parte das discussões essenciais da disciplina, seja em relação ao
trabalho pedagógico, discutindo sua função no processo educativo de alunos surdos,
seja no contexto da interpretação, destacando a importância de aspectos éticos e
linguísticos.
Entre as principais dificuldades encontradas no decorrer da disciplina,
destacaram-se: a carga horária da disciplina; a quantidade de alunos por turma no
período noturno e a consequente dispersão dos alunos; a falta de um intérprete
como apoio durante as aulas; o excesso de atividades paralelas pelos alunos; a
ausência de referências práticas, que seria proporcionada pelas visitas e/ou estágios
em Instituições de Ensino ou outras; e dificuldades relacionadas à aprendizagem da
Libras pelos alunos devido à habilidades específicas.
No que diz respeito à insatisfação dos alunos e da professora sobre a carga
horária da disciplina, sugerimos que se coloque inicialmente o objetivo da disciplina
aos graduandos para que não criem expectativas com relação ao domínio da língua,
104
mas que haja sim incentivo por parte de docentes da disciplina para que os alunos
busquem uma formação continuada, tal como procedeu a professora de Libras,
indicando meios para que os alunos aprofundem os conhecimentos na área.
Quanto à quantidade de alunos por turma há que se reorganizar junto à
coordenação do referido curso o modo de atendimento aos alunos, dividindo a
turma, se possível para que haja melhor aproveitamento desses alunos,
principalmente em relação à prática da língua de sinais. Desse modo, outras
dificuldades também poderiam ser sanadas, como a necessidade de intérpretes
durante as aulas, tendo em vista que a comunicação fica prejudicada quando se tem
muitos alunos em sala, especialmente em se tratando da Libras que é de natureza
visual. Nesse caso há restrição à visualização da língua de sinais e as orientações
apresentadas pela professora, bem como as oportunidades de interação professor
aluno, mesmo que a professora seja oralizada, sua fala fica indistinguível em meio à
fala dos alunos.
Consideramos, contudo que a contratação de um intérprete, devidamente
qualificado pela instituição, seja necessária para que os professores surdos possam
participar de todas as atividades acadêmicas, como reuniões de colegiado, grupos
de pesquisa e outras atividades, bem como para que esse docente tenha plena
autonomia na universidade, facilitando o cumprimento de seus deveres para com a
instituição.
Outro apontamento feito pela professora e que deve ser considerado é em
relação ao estágio para conhecimento do trabalho que é realizado na prática com os
alunos surdos. Entretanto, tendo em vista o enfoque do curso e das concepções
educacionais que regem o curso de Pedagogia da UEL, há que se pensar na
possibilidade de que estes graduandos conheçam e avaliem práticas inclusivas com
alunos surdos em classes comuns, realizando intervenções nas mesmas, com a
orientação da professora. Essa atividade poderia ser desenvolvida junto a disciplina
de estágio, pois esta deveria oferecer formação para atuação em salas de aulas
inclusivas em relação a todo grupo de alunos que apresentam NEE.
Destacamos, também, alguns aspectos que favoreceram o processo de
implementação da disciplina, entre os quais, a oportunidade que os graduandos
tiveram de contato com a professora surda, a qual proporcionou maior conhecimento
da cultura dos surdos e possibilitou a prática da língua de sinais a qualquer
momento da aula; a diversidade de recursos didáticos disponibilizados durante as
105
aulas, facilitando o trabalho da professora; as estratégias de avaliação, utilizadas
pela professora; e a boa receptividade à disciplina de Libras pelos alunos
participantes em seu curso.
Quanto ao trabalho realizado pela professora de Libras, consideramos que
proporcionou em suas aulas uma gama de conteúdos e discussões relacionadas à
educação de desses alunos bem como o ensino da língua de sinais.
Reconhecendo que seus alunos irão atuar em contextos diversos com alunos
surdos, a professora de Libras preocupou-se em apresentar as principais
características culturais e linguísticas desse sujeito, de modo que, provavelmente os
futuros professores e pedagogos ao se depararem com esses alunos durante a
trajetória profissional, não se sentirão totalmente inseguros, e saberão proceder
favoravelmente nessas ocasiões, mesmo que não se lembrem dos sinais, saberão
onde buscar recursos. Além disso, atuando como gestores poderão orientar seus
professores e dar suporte adequado ao trabalho inclusivo na escola.
Levando em conta a importância de que as discussões acerca da inclusão de
alunos surdos estejam mais presentes na formação do pedagogo e possibilite maior
reflexão por parte dos graduandos sobre a realidade em que a escolarização de
alunos surdos vem ocorrendo a partir da análise de diferentes contextos, reforçamos
a proposta de que haja um espaço apropriado para tal discussão dentro da disciplina
junto a um profissional da área.
Avaliamos que sendo a disciplina de Libras um espaço garantido por lei que
privilegia, especialmente o ensino da Libras, língua majoritariamente utilizada pelos
surdos brasileiros, nos currículos dos cursos de licenciatura, estes conhecimentos
devem ser vinculados à discussão sobre a educação dessa população, que de
acordo com as políticas educacionais atuais é inclusiva. Esta indicação decorre
particularmente, devido ao fato de que o processo de inclusão dos alunos com NEE,
ainda não tem espaço garantido nos currículos dos cursos de licenciatura.
Considerando que uma das questões mais evidentes nas pesquisas
educacionais na atualidade é o despreparo do professor para efetivar as políticas
inclusivas, ao analisarmos a contribuição da disciplina em relação a esta questão,
buscamos destacar sua importância no processo de formação de professores, com
vistas a desconstruir a concepção de que é simplesmente uma disciplina imposta por
lei.
Tomando como base os resultados encontrados, avaliamos que esta questão
106
pode ser melhor dimensionada no programa da disciplina, assim como contar com
análises mais amplas, contemplando uma visão crítica aliada a conhecimentos
teóricos e resultados de experiências bem e mal sucedidas.
Destacamos que estes resultados nos mostram que é necessário rever esta
questão e organizar condições para que este objetivo seja contemplando no
programa da disciplina assim como na sua efetivação.
Consideramos que é provável que o contexto identificado nesta pesquisa
esteja presente em outras realidades, pois como vimos na análise no primeiro
capítulo, referente ao levantamento bibliográfico, o processo de inclusão dos alunos
surdos é uma questão polêmica, temos na atualidade grupos com posicionamentos
distintos, favoráveis e contrários ao referido processo, e estes posicionamentos com
certeza irão permear os conteúdos trabalhados nesta disciplina.
Esperamos que os dados analisados possam ter mostrado as contribuições
que esta disciplina trouxe a formação dos graduandos do curso de Pedagogia, assim
como tenha instigado a discussão e atenção aos seus objetivos e a direção dos
conteúdos trabalhados.
A experiência de realizar esta pesquisa também possibilitou o interesse em
realizar e/ou sugerir novas pesquisas, visando esclarecer alguns aspectos que não
pudemos ter acesso por meio da metodologia utilizada, por exemplo: o
desenvolvimento da aula de Libras, a participação dos alunos, seu nível de
compreensão, considerando o fato de não se ter intérprete e outras questões. Outro
interesse foi buscar aprofundar conhecimentos a respeito do processo de formação
dos professores que vem assumindo a disciplina de Libras, com objetivo de verificar
como está se dando esta preparação, quais os objetivos presentes nesses cursos.
Consideramos, ainda, que a presente pesquisa poderá ser reaplicada em
outros contextos com objetivo de identificar se há variações com relação aos
objetivos e conteúdos trabalhados, e as dificuldades encontradas, enfim para que
possamos ter mais conhecimento sobre o processo de implementação desta
disciplina.
Consideramos, por fim, que, embora os alunos afirmem não estar preparados
para receber alunos surdos em sua sala de aula, pressupomos que essa
insegurança seja comum aos alunos, enquanto não tiveram contato com a prática,
pois como afirma Imbernón (2009,p.16-17):
A aquisição de conhecimentos por parte do professor é um processo
107
complexo, adaptativo e experiencial [...] quanto maior sua
capacidade de adaptação mais facilmente ela será posta em prática
em sala de aula ou na escola e será incorporada às práticas
profissionais habituais.
108
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114
APÊNDICES
115
APÊNDICE A:
Questionário aplicado aos alunos de acordo com os objetivos da pesquisa
Objetivos Específicos
Questões
- Traçar o perfil dos alunos
- Atuação no magistério
[] sim []não Tempo______
Tema 1- Disciplina de Libras
- Conhecer as concepções em relação à

Você concorda que a disciplina de
disciplina Libras, a Surdez e a Inclusão,
Libras
após concluírem a disciplina curricular.
curso?
seja
obrigatória
em
seu
( ) sim( ) não

O que você entende por Libras?

Você
tinha
algum
conhecimento
(prévio) de Libras antes de cursar a
disciplina? Qual?

Você considera que a disciplina
Libras
deve
ser
ministrada
por
professores surdos ou ouvintes ?
Por quê?

Você
sentiu
dificuldades
para
aprender os conteúdos propostos? (
)sim ( )não Se sim, quais?
- Quais conteúdos você considera mais
relevantes nesta disciplina?
Os conteúdos, na disciplina de Libras,
contemplaram suas expectativas?
- Houve momentos de discussão em
relação à inclusão dos alunos surdos no
ensino regular?
[] sim []não O que foi estudado a este
respeito?
- Você se sente apto a atuar num contexto
116
educacional inclusivo? Sim (
) Não (
)
Justifique
-
Na
sua
opinião
quais
os
saberes
necessários ao professor no atual contexto
educacional para promover a inclusão de
alunos surdos?
Tema 2 – Concepção de surdez e
inclusão
- Como você caracteriza a surdez?
- Você gostaria de receber alunos surdos
em sua sala de aula? ( )Sim ( ) Não Por
quê?
- Qual o papel de um intérprete de Libras
na sala de aula do ensino regular?
- Na sua opinião os alunos surdos devem
estudar junto aos alunos ouvintes no ensino
regular ou devem estudar em escolas
especiais para alunos surdos? Justifique
sua resposta.
-Você conhece estratégias de ensino que
favorecem a inclusão de alunos surdos? Se
sim, exemplifique.
117
APÊNDICE B:
Roteiro de entrevista semiestruturada para a docente da disciplina de Libras
de acordo com os objetivos.
Objetivos Específicos
Questões
- Identificação
1-Nome
2- Idade
-Identificar o perfil do profissional que 3. Qual sua formação na graduação?
ministra a disciplina.
4.
Tem
especialização?
Que
curso?
________________________
5. Quanto a sua experiência no Magistério:
Já atuou na Educação Infantil? Especial ou
regular?Quanto tempo?_______
Já atuou no Ensino Fundamental?Especial
ou regular? Quanto tempo?_______
Já atuou no Ensino Médio? Especial ou
regular? Quanto tempo?_______
Há quanto tempo atua no Ensino Superior?
_______
6. Desde quando possui a surdez?
7. Há quanto tempo utiliza a Libras para se
comunicar?
8.
Quanto
ao
domínio
da
língua
Portuguesa:
( )fala bem ( ) fala razoavelmente ( ) não
fala
( )entende bem ( )entende razoavelmente
( ) não entende
( )escreve bem ( ) escreve razoavelmente
118
( ) não escreve
9. Como se deu sua formação em Libras?
10.
O
que
o
motivou
a
buscar
a
profissionalização em Libras?
11. Na sua formação você teve conteúdos
referentes ao processo educacional de
alunos surdos?
12. Em relação às tendências educacionais
para surdos na atualidade, tendo em vista
os modelos inclusivos e segregacionistas,
qual o modelo mais adequado para a
educação de surdos em sua opinião?
12. Você já ministrou cursos de Libras?
Quando? Onde? Quanto tempo? Para
quem?
- Investigar os objetivos do ensino da 13. Qual o objetivo da disciplina de Libras
disciplina
Libras
na
formação
de no curso de formação de professores?
professores.
14. Por que escolheu esses objetivos?
15. Como você avalia a lei que determina a
inclusão da
Libras nos currículos
de
formação de professores
16. Quais as contribuições da disciplina
para a formação do pedagogo?
-
Identificar
métodos,
os
caminhos
avaliações)
pelos
(conteúdos,
quais
pretende atingir os objetivos desejados?
se 17. Quais conteúdos você trabalha na
disciplina de Libras?
119
18.
Por que escolheu esses conteúdos?
19.
Como você organiza suas aulas?
Que atividades desenvolve?
19.
Os alunos se mostram participativos
nas suas aulas?
20.
Como ocorre sua interação com
eles?
21. Como são feitas as avaliações da
disciplina?
22. A faculdade \universidade te dá suporte
para o trabalho pedagógico? Quais?
23. Você sente falta de algum apoio?
Quais?
24. Você considera a carga horária da
disciplina
suficiente
para
trabalhar
os
conteúdos previstos?
( ) sim
(
) não. Por quê?
25. Você trabalha conteúdos referentes ao
processo educacional de alunos surdos?
(sim ou não) Se sim, como você aborda
essa questão?
120
APÊNDICE C:
Tradução da entrevista feita com a docente da disciplina de Libras
TEMA 1: PERFIL DO PROFISSIONAL QUE MINISTRA A DISCIPLINA DE Libras
QUAL SUA FORMAÇÃO?
ME FORMEI PRIMEIRO EM PEDAGOGIA E DEPOIS EM LETRAS- Libras
VOCÊ TEM PÓS –GRADUAÇÃO?
SIM EM PSICOPEDAGOGIA
QUAL CURSO?
PSICOPEDAGOGIA.
QUAL SUA EXPERIÊNCIA NO MAGISTÉRIO?
COMECEI A TRABALHAR COM SURDOS EM 1997. NO INÍCIO COM SÓ COM
EDUCAÇÃO INFANTIL E DEPOIS PRIMEIRA A 4ª SÉRIE TAMBÉM.
QUANTO TEMPO VOCÊ TEM DE EXPERIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL?
SÓ COM EDUCAÇÃO INFANTIL, ATUEI MAIS OU MENOS DURANTE UNS 6 ANOS. SÓ
COM A DISCIPLINA DE Libras. TINHA A PROFESSORA REGENTE E EU MINISTRAVA
SÓ A DISCIPLINA DE Libras PORQUE AS CRIANÇAS PRECISAVAM ADQUIRIR A Libras
COMO PRIMEIRA LÍNGUA. NO INÍCIO FOCAVAMOS AS CRIANÇAS MENORES
PORQUE ANTES NÃO HAVIA ESSE ENSINO DE Libras E EU FUI A PRIMEIRA
PROFESSORA A INICIAR ESSE TRABALHO QUE DESDE ENTÃO VEM SENDO
DESENVOLVIDO.
ESSA EXPERIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL SE DEU EM ESCOLA ESPECIAL?
SIM, EM ESCOLA PRÓPRIA PARA SURDOS, SÓ DE SURDOS.
QUANTO TEMPO VOCÊ TEM DE EXPERIÊNCIA COM 1ª A 4ª SÉRIE DO ENSINO
FUNDAMENTAL?
PRIMEIRO EU INICIEI COM A EDUCAÇÃO INFANTIL, MAS AO MESMO TEMPO EU
TRABALHEI COM AS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL, DIVIDIA O TEMPO
ENTRE ESSES DOIS NÍVEIS, MAS A CARGA HORÁRIA MAIOR ERA DEDICADA À
EDUCAÇÃO INFANTIL, QUANDO SOBRAVA TEMPO EU ATENDIA AS DEMAIS TURMAS
DE 1ª A 4ª SÉRIE. IA UM POUCO EM CADA SALA. AS AULAS TINHAM 50 MINUTOS DE
DURAÇÃO NESSAS TURMAS E EU AUXILIAVA A PROFESSORA.
E QUANTO AS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E O ENSINO MÉDIO, VOCÊ
TEM ALGUMA EXPERIÊNCIA?
121
TENHO EXPERIÊNCIA TANTO DE 5ª A 8ª SÉRIES COMO NO ENSINO MÉDIO COM A
DISCIPLINA DE Libras. JÁ ATUEI COM OS ALUNOS MAIORES JÁ.
QUANTO TEMPO DE EXPERIÊNCIA?
UNS 4 ANOS.
5ª A 8ª SÉRIE TAMBÉM?
SIM É O MESMO TEMPO. TANTO DE 5ª A 8ª QUANTO NO ENSINO MÉDIO ATUEI POR 4
ANOS.
E NO ENSINO SUPERIOR, HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ ATUA?
HÁ UM ANO E MEIO. DESCULPE, NA REALIDADE FAZ MAIS TEMPO PORQUE NA
UNIFIL EU COMECEI...(PENSANDO) JÁ FAZ TRÊS ANOS E MEIO, PORQUE EU ATUEI
POR DOIS ANOS NA IES PARTICULAR, NA UNIFIL, E AQUI NA UEL EU ESTOU HÁ UM
ANO E MEIO, SOMANDO FAZ TRÊS ANOS E MEIO. ENSINO A DISCIPLINA DE Libras
PARA OUVINTES.
VOCÊ É SURDA DE NASCENÇA?
EU SOU SURDA, MAS NÃO NASCI SURDA. NASCI OUVINTE. AOS 6 ANOS DE IDADE
TIVE MENINGITE E PERDI A AUDIÇÃO. AGORA SOU SURDA PROFUNDA.
HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ USA A Libras PARA SE COMUNICAR?
COMECEI A APRENDER Libras AOS 12 ANOS DENTRO DA ESCOLA DE SURDOS, NO
ILES. OS PRÓPRIOS ALUNOS SURDOS ME ENSINARAM Libras PARA EU ME
COMUNICAR COM SURDOS. ALGUNS NÃO ERAM ORALIZADOS, EU ERA, MAS
APRENDI Libras DEVIDO AO CONTATO COM SURDOS. ENTÃO U SO Libras DESDE OS
DOZE ANOS DE IDADE ATÉ AGORA.
QUANTO AO DOMÍNIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, VOCÊ FALA BEM, MAIS OU
MENOS...?
EU ESCREVO BEM E FALO BEM TAMBÉM O PORTUGUÊS.
COMO SE DEU SUA FORMAÇÃO EM Libras?
COMO EU COMECEI A TRABALHAR NO ILES, PRECISEI ME APROFUNDAR MAIS PARA
SABER COMO ENSINAR CRIANÇAS SURDAS. ENTÃO FIZ UM CURSO NA FENEIS, EM
CURITIBA, OFERECIDO EM PARCERIA COM A SEED. ERA UM CURSO PARA
INSTRUTORES DE Libras, SURDOS. HOUVE VÁRIAS ETAPAS , INCLUSIVE EM
FAXINAL DO CÉU, PORQE TEM VÁRIOS NÍVEIS, BÁSICO, INTERMEDIÁRIO E
AVANÇADO, ENTÃO SEMPRE ÍAMOS A ESSES CURSOS DE CAPACITAÇÃO.
E VOCÊ TAMBÉM SE GRADUOU NA ÁREA, NÃO É?
SIM. ANTES SÓ TINHA CURSOS PARA INSTRUTORA. FORAM MUITO BONS, MAS NÃO
O SUFICIENTE. ENTÃO, EM 2006 FIZ O PROLibras PARA OBTER CERTIFICAÇÃO DE
PROFICIÊNCIA EM Libras E PASSEI. LOGO EM SEGUIDA ABRIU O CURSO DE LETRASLibras, NA UFSC, EM FLORIANÓPOLIS. EU PARTICIPEI DO VESTIBULAR DE 2006 E
122
PASSEI E ESTUDEI 4 ANOS LETRAS-Libras NO POLO DE FLORIANÓPOLIS E ME
FORMEI A POUCO TEMPO. O CURSO DE LETRAS-Libras ME AJUDOU MUITO,
PORQUE ANTES EU SÓ CONHECIA O SUPERFICIAL E COM A GRADUAÇÃO PUDE ME
APROFUNDAR EM CONHECIMENTOS ESSENCIAIS PARA A DISCIPLINA DE Libras.
O QUE A MOTIVOU A BUSCAR A PROFISSIONALIZAÇÃO EM Libras?
PRIMEIRAMENTE A PREOCUPAÇÃO COM AS CRIANÇAS SURDAS, ESSE ERA MEU
FOCO: A APRENDIZAGEM DA Libras PELAS CRIANÇAS SURDAS, VISTO QUE A
MAIORIA DAS FAMÍLIAS DE SURDOS SÃO OUVINTES E HAVIA BARREIRAS
COMUNICATIVAS. A PARTIR DAÍ COMECEI A PERCEBER QUE EU PRECISAVA
APRIMORAR MEUS CONHECIMENTOS EM BUSCA DE OFERECER UM ENSINO DE
QUALIDADE AOS ALUNOS. ENTÃO COMECEI A ESTUDAR, PESQUISAR MAIS E
BUSCAR RECURSOS DIDÁTICOS, ALÉM DA MINHA PRÓPRIA QUALIFICAÇÃO
PROFISSIONAL. AGORA MEU ALVO É A COMUNIDADE. OS OUVINTES NECESSITAM
DE INFORMAÇÃO, DE APRENDER A SE COMUNICAR COM SURDOS ENTRE OUTRAS
COISAS. ENTÃO AGORA MEU FOCO É O ENSINO DE Libras PARA OUVINTES.
NA SUA FORMAÇÃO, VOCÊ TEVE CONTEÚDOS REFERENTES AO PROCESSO
EDUCACIONAL DE ALUNOS SURDOS?
NO CURSO DE LETRAS Libras?
SIM
SIM, VÁRIOS. TIVEMOS FUNDAMENTOS, DISCIPLINAS DE Libras, COMO GRAMÁTICA,
Libras I,II,II,IV,V E VI, CONTEMPLANDO OS ESTUDOS FONOLÓGICOS,
MORFOLÓGICOS E SINTÁTICOS DA Libras. TAMBÉM TIVEMOS PSICOLOGIA E LINGUA
PORTUGUESA TAMBÉM, PARA PODER COMPARAR AS DIFERENÇAS NAS
ESTRUTURAS DAS DUAS LÍNGUAS. ESTUDAMOS SOBRE O PORTUGUES COMO
SEGUNDA LÍNGUA E MUITOS OUTROS CONTEÚDOS.
E QUANTO À OUTROS CONTEÚDOS REFERENTES A EDUCAÇÃO DE SURDOS COMO
BILINGUISMO, ORALISMO, INCLUSÃO...
TIVEMOS SIM. TENDÊNCIAS, INCLUSÃO...NA VERDADE INCLUSÃO NÃO. O FOCO ERA
MAIS O SURDO, A EDUCAÇÃO DO SURDO COMO ERA ANTIGAMENTE, NO INÍCIO DA
EDUCAÇÃO COM A LÍNGUA DE SINAIS, A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS, A
CULTURA DOS SURDOS, MAS COM O FOCO NA Libras.
E SOBRE A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM PELA CRIANÇA SURDA?
SIM, TIVEMOS SOBRE A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM PELA CRIANÇA SURDA E COMO
ELA SE DESENVOLVE...TIVEMOS MUITO CONTEÚDOS, SEMPRE FOCADOS NA
CRIANÇA SURDA.
TEMA 2: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
123
EM RELAÇÃO ÀS ATUAIS TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS PARA SURDOS, TEMOS O
MODELO INCLUSIVO E ESCOLAS DE SURDOS. EM SUA OPINIÃO QUAL O MODELO
MAIS ADEQUADO PARA A CRIANÇA SURDA?
NA MINHA OPINIÃO AS POLÍTICAS DE INCLUSÃO TÊM SIDO BASTANTE DISCUTIDAS
DE MODO GERAL PELO QUE TENHO PERCEBIDO. MAS FALTA O ENTENDIMENTO DE
QUE A PROPOSTA INCLUSIVA É BOA, PORÉM DEVE-SE CONSIDERAR QUE A
CRIANÇA SURDA NECESSITA ESTUDAR PRIMEIRO EM UMA ESCOLA DE SURDOS
PARA ADQUIRIR A PRIMEIRA LÍNGUA E SE FOR PARA UMA ESCOLA INCLUSIVA NÃO
VAI CONSEGUIR ISSO. A CRIANÇA SURDA PRECISA FORMAR SUA IDENTIDADE
DESDE CEDO, ADQUIRIR A PRIMEIRA LÍNGUA, A LÍNGUA MATERNA, O QUE VAI SE
DAR NO CONTATO COM OUTROS SURDOS, O QUE A ESCOLA REGULAR NÃO
PROPORCIONA. NA ESCOLA DE SURDOS ELE TERÁ OUTROS SURDOS, VAI
ADQUIRIR A CULTURA, FORMAR A SUA IDENTIDADE E IRÁ SE DESENVOLVER. EM
MINHA OPINIÃO, A PARTIR DA 5ª SÉRIE, QUANDO O SURDO JÁ TIVER CONSTITUIDO
SUA IDENTIDADE, SUA CULTURA SURDA E TIVER UM BOM CONHECIMENTO DA
LÍNGUA PORTUGUESA, SUA SEGUNDA LÍNGUA... PORQUE OS PROFESSORES NA
ESCOLA DE SURDOS CONHECEM COMO ENSINAR A LÍNGUA PORTUGUESA COMO
SEGUNDA LÍNGUA PARA SURDOS. ENTÃO QUANDO ESTE ALUNO ESTIVER
PREPARADO PODE IR PARA UMA ESCOLA REGULAR, MAS ANTES DISSO, SE FOR
MUITO PEQUENO NÃO. EM MINHA OPINIÃO, SOU MAIS A FAVOR QUE ESTUDE EM
UMA ESCOLA DE SURDOS.
VOCÊ ACREDITA NA POSSIBILIDADE DE UM SURDO ADQUIRIR ESSA PRIMEIRA
LÍNGUA DENTRO DE UMA ESCOLA REGULAR?
NÃO, PORQUE O SURDO FICA MUITO ISOLADO. SÓ ELE NO MEIO DE VÁRIOS
OUVINTES, COMO ELE VAI ADQUIRIR A LÍNGUA DE SINAIS SE TODOS SÃO
OUVINTES E NÃO HÁ PARES SURDOS, SE NÃO TIVER CONTATO COM OUTROS
SURDOS? ELE VAI PERCEBER QUE TODO MUNDO É DIFERENTE DELE E VAI
PENSAR: PORQUE EU SOU DIFERENTE DE TODOS? NÃO VAI CONSEGUIR
ESTABELECER UM CONTATO EFETIVO. EU ACHO QUE NAS CIDADES DE PEQUENO
PORTE, ONDE NÃO HÁ ESCOLAS PARA SURDOS, O QUE ACONTECE MUITO, A
INCLUSÃO É UMA ALTERNATIVA, MAS DE QUALQUER FORMA O SURDO AINDA
PERDE UM POUCO. ELE CRESCE INSEGURO, PARECE QUE NÃO TEM UMA BASE
SÓLIDA. NÃO IRÁ DOMINAR MUITO BEM A LÍNGUA DE SINAIS, ENTRE OUTRAS
COISAS.
VOCÊ TEM CONHECIMENTO DE EXPERIÊNCIAS DE INCLUSÃO DE CRIANÇAS
SURDAS EM ESCOLAS REGULARES DE ENSINO NO BRASIL?
NÃO. SÓ QUE JÁ VI ALGUNS DEPOIMENTOS DE EX-ALUNOS SURDOS QUE SEMPRE
ESTUDARAM EM ESCOLAS REGULARES, MAS QUE FORAM PREJUDICADAS, NÃO
OBTIVERAM RESULTADOS POSITIVOS. SÓ ALGUNS SURDOS QUE TÊM ALGUM
RESÍDUO AUDITIVO (SURDEZ MODERADA) CONSEGUEM ACOMPANHAR PORQUE
SENTAM PERTO DO PROFESSOR, FALAM BEM, CONHECEM A LÍNGUA
PORTUGUESA, NESSE CASO É POSSÍVEL, MAS, SURDOS PROFUNDOS...
DESCONHEÇO.
VOCÊ JÁ MINISTROU CURSOS DE Libras?
124
CURSOS DE Libras, JÁ. MUITOS. EU MINISTREI MAIS CURSOS DE Libras PARA
FAMILIARES DE SURDOS. NO INÍCIO OFERECIA MAIS CURSOS PARA AS FAMÍLIAS
DEVIDO À NECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO DOS PAIS COM OS FILHOS SURDOS.
EM SEGUNDO LUGAR, MINISTREI CURSOS EM EMPRESAS, PORQUE OS SURDOS
ERAM ADMITIDOS NESSAS EMPRESAS E A GERÊNCIA OU OUTROS
ENCARREGADOS NÃO CONSEGUIAM SE COMUNICAR COM OS FUNCIONÁRIOS
ENTÃO FAZIAM CURSOS.
ENTÃO A MAIORIA DOS CURSOS, VOCÊ OFERECEU À FAMÍLIA?
SIM, MAIS PARA A FAMÍLIA E EM SEGUNDO LUGAR PARA AS EMPRESAS.
OS CURSOS ACONTECIAM MAIS DENTRO DAS EMPRESAS ENTÃO? E OS CURSOS
PARA AS FAMÍLIAS, ONDE ERAM OFERTADOS, EM CASA?
NÃO. OS CURSOS ERAM OFERTADOS NA ESCOLA DE SURDOS. MINHA CARGA
HORÁRIA DE TRABALHO ERA DIVIDIDA ENTRE MOMENTOS DE ATENDIMENTO AOS
ALUNOS E OUTROS MOMENTOS AOS FAMILIARES COM AULAS DE Libras. MAS,
CURSOS PARTICULARES EU MINISTRAVA EM EMPRESAS.
TEMA 3: DISCIPLINA DE Libras
QUAL O OBJETIVO DA DISCIPLINA DE Libras NA FORMAÇÃO DO FUTURO
PEDAGOGO?
COMECEI ENSINAR A DISCIPLINA DE Libras NO CURSO DE PEDAGOGIA E EM
OUTROS CURSOS, MAIS COM O OBJETIVO DE APRESENTAR “O SURDO”, PORQUE A
MAIORIA DAS PESSOAS NÃO CONHECEM O SURDO, NÃO SABEM QUEM QUE É ESSA
PESSOA SURDA, SEJA ALUNOS, CRIANÇAS, ADULTOS, COMO É A VIDA DOS
SURDOS, O QUE É A Libras, A LINGUAGEM A COMUNICAÇÃO. OS OUVINTES
QUANDO VIREM OS SURDOS VÃO SABER QUE É UMA PESSOA QUE NÃO HOUVE
QUE POSSUI UMA LINGUA PRÓPRIA E UMA CULTURA DIFERENTE ENTÃO IRÃO
CONHECER MELHOR ESSAS PESSOAS, TAMBÉM ENSINAR Libras PARA QUE,
QUANDO ESTIVEREM ATUANDO COMO PROFESSORES, AO RECEBER UM ALUNO
NÃO VÃO SENTIR ESTRANHAMENTO PORQUE JÁ CONHECEM, ASSIM SENTIRÃO
CERTO CONFORTO E SE QUISEREM SE APROFUNDAR NA LÍNGUA PODERÃO
BUSCAR OUTROS CURSOS.
POR QUE ESCOLHEU ESSES OBJETIVOS?
PORQUE É IMPORTANTE QUE OS ALUNOS CONHEÇAM MAIS SOBRE OS SURDOS,
VISTO QUE AS VEZES POSSUEM CONCEPÇÕES EQUIVOCADAS EM RELAÇÃO AO
SURDO. ENTÃO, PARA QUE ELES POSSAM COMPREENDER E DESMITIFICAR
ALGUMAS CONCEPÇÕES INADEQUADAS.
COMO VOCÊ AVALIA A LEI QUE COLOCA A DISCIPLINA DE Libras COMO
OBRIGATÓRIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES?
O DECRETO 5626?
SIM.
125
EU ACHO MUITO IMPORTANTE A LEI PORQUE SE NÃO FOSSE OBRIGATÓRIA OS
ALUNOS NÃO SE INTERESSARIAM EM CURSÁ-LA. COM ALEI AS PESSOAS TÊM QUE
APRENDER. ANTES, QUANDO ERA OPTATIVA NINGUÉM PROCURAVA, ERA COMO SE
NÃO TIVESSE VALOR. COM A OBRIGATORIEDADE, OS ALUNO LEVAM MAIS A SÉRIO,
TANTO NO CURSO DE PADAGOGIA COMO OUTROS A DISCIPLINA SE TORNOU
OBRIGATÓRIA E QUANDO COMEÇAM A TER CONTATO COM A Libras, OS ALUNOS
ACABAM GOSTANDO E ISSO É MUITO IMPORTANTE PORQUE COM ISSO OS
SURDOS GANHAM, NO SENTIDO DE QUE HAVERÁ MELHORIAS PARA A EDUCAÇÃO
DOS SURDOS.
QUAIS A S CONTRIBUIÇÕES DA DISCIPLINA DE Libras PARA A FORMAÇÃO DO
FUTURO PEDAGOGO?
OS ALUNOS DE PEDAGOGIA, OU MESMO DE OUTROS CURSOS VÃO CONHECER
Libras, O BÁSICO DE Libras, PORQUE SÃO POUCAS HORAS, ENTÃO NÃO DÁ PRA ELE
SE APROFUNDAR EM Libras. MAS, O MAIS IMPORTANTE É QUE ELES VÃO
ENTENDER QUEM É O SURDO, COMO É A VIDA DE UM SURDO, O PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO DE UMA CRIANÇA SURDA, VÃO CONHECER UM POUCO SOBRE
A GRAMÁTICA DA Libras, TER UMA VISÃO GERAL, O QUE VAI SER IMPORTANTE
PARA SUA FORMAÇÃO. VAI AJUDAR AJUDÁ-LO A SE TORNAR UM PROFISSIONAL
MAIS SENSÍVEL, SEM PRECONCEITOS EM RELAÇÃO AO SURDO, ELE IRÁ SE SENTIR
MAIS PREPARADO E INFORMADO SOBRE A CULTURA SURDA.
NA SUA OPINIÃO, A DISCIPLINA PREPARA O PEDAGOGO ENQUANTO PROFESSOR
DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS PARA INCLUIR ALUNOS SURDOS? SE SIM
OU NÃO, POR QUÊ?
NÃO, COMO EU JÁ EXPLIQUEI, A DISCIPLINA DE Libras NÃO É SUFICIENTE PARA
PREPARAR O PROFISSIONAL, PORQUE SÃO POUCAS HORAS. E EM MINHA OPINIÃO
SERIA IMPORTANTE QUE A Libras FOSSE INSERIDA NOS QUATRO ANOS ANO DA
FACULDADE PORQUE HÁ MUITOS CONTEÚDOS A APRENDER. SERIA IMPORTANTE
QUE ESSE ALUNO FOSSE A CAMPO PARA TER CONTATO COM SURDOS. VISITASSE
ESCOLAS DE SURDOS, ASSOCIAÇÕES DE SURDOS, REALIZAR ESTÁGIO NESSES
LUGARES ENTÃO FALTA MUITAS COISAS QUE AJUDARIAM. EU PENSO QUE
QUANDO ELES SE FORMAM AINDA NÃO POSSUEM DOMÍNIO DA Libras . NA MINHA
AULA EU TRABALHO Libras, ENSINO E NO FINLA DO CURSO EU FALO PRA ELES
PROCURAREM OUTROS CURSO, ESCREVO NO QUADRO ONDE ELES PODEM
ENCONTRAR CURSOS DE APROFUNDAMENTO EM QUE HÁ PROFISSIONAIS SURDOS
ATUANDO, PORQUE CERTAMENTE ENCONTRARÃO BARREIRAS COMUNICATIVAS
SE NÃO SE APROFUNDAREM.
VOCÊ AVALIA QUE A DISCIPLINA DE Libras DEVE SE PREOCUPAR COM O ENSINO DA
Libras APENAS OU DEVE TAMBÉM SE PREOCUPAR COM A PREPARAÇÃO DO
PROFESSOR PARA INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS?
FUTURAMENTE OS ALUNOS IRÃO ATUAR EM ESCOLAS INCLUSIVAS, ISSO É ÓBVIO,
SÃO POUCOS QUE VÃO PARA ESCOLAS DE SURDOS, A GRANDE MAIORIA VAI
ATUAR NO ENSINO REGULAR, MAS QUERO REFORÇAR QUE A DISCIPLINA DE Libras
PREPARA O PROFISSIONAL NO SENTIDO DE APRESENTAR OS SURDOS, COMO
LIDAR COM O ALUNO SURDO, QUEBRAR PRECONCEITOS E APRENDER A ATENDER
126
AS ESPECIFICIDADES DO ALUNO SURDO. MAS, PARA O CONHECIMENTO DA
LÍNGUA NÃO É SUFICIENTE. DE QUALQUER FORMA ELE TERÁ O BÁSICO PARA SE
COMUNICAR NO DIA A DIA, COMO DIZER “OI” E OUTROS CUMPRIMENTOS, TAMBÉM.
ESTARÁ MAIS SENSÍVEL PARA INTERPRETAR EXPRESSÕES COMO QUANDO O
ALUNO ESTÁ ABORRECIDO COM ALGUMA COISA E ATÉ MESMO ONDE PROCURAR
INFORMAÇÕES SOBRE CURSOS E AUXÍLIO PARA O ALUNO, COMO INTÉRPRETES
DE Libras ENTRE OUTROS PROCEDIMENTOS. NO ENTANTO, A PARTE PRÁTICA DA
LÍNGUA FOI POUCO CONTEMPLADA NA DISCIPLINA.
QUAIS CONTEÚDOS VOCÊ TRABALHA NA DISCIPLINA DE Libras?
TRABALHO HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS, PORQUE AS PESSOAS NÃO
CONHECEM E PRECISAM SABER COMO ERA A LS ANTIGAMENTE ATÉ HOJE.
TRABALHO TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS AO LONGO DA HISTÓRIA COMO
ORALISMO, BILINGUISMO, COMUNICAÇÃO TOTAL, BEM COMO OS MÉTODOS DE
ENSINO DESSAS FILOSOFIAS EDUCACIONAIS. APRESENTOTEXTOS QUE FALAM
SOBRE INCLUSÃO PARA QUE ELES TENHAM CONHECIMENTO DESSA REALIDADE.
SOBRE O PROFISSIONAL INTERPRETE, A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR, ALUNO E
INTÉRPRETE NESSE CONTEXTO. TRABALHO COM PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS
SURDOS PARA QUE FUTURAMENTE AO DEPARAREM COM UM TEXTO DE UM ALUNO
SURDO NÃO ESTRANHEM A ESTRUTURA DESSE TEXTO; E COMO DEVE SER
TRADUZIDO PARA A LÍNGUA PORTUGUESA, PORQUE A ESTRUTURA É BEM
DIFERENTE DO PADRÃO. TAMBÉM ENSINO A GRAMÁTICA DE Libras E A PRÁTICA DA
LÍNGUA DE SINAIS, ALGUNS SINAIS POR GRUPO SEMÂNTICO COMO “ALIMENTOS”,
EM OUTRO MOMENTO “ANIMAIS” E OUTROS.
POR QUE ESCOLHEU ESSES CONTEÚDOS?
ESCOLHI ESSES CONTEÚDOS PORQUE SÃO OS MAIS ADEQUADOS . PRIMEIRO
INICIO COM A TEORIA, MOSTRO OS SLIDES NO DATASHOW, ELES LEEM E DEPOIS A
GENTE DISCUTE A RESPEITO PARA QUE ELES TENHAM UMA VISÃO GERAL E
TAMBÉM UM POUCO DA LÍNGUA. NÃO ADIANTA IR DIRETO PARA A PRÁTICA, ELES
NECESSITAM CONHECER A PARTE TEÓRICA E DEPOIS VAMOS PARA A PRÁTICA.
PENSO QUE PRECISA HAVER UM EQUILÍBRIO ENTRE TEORIA E PRÁTICA.
COMO VOCÊ ORGANIZA SUAS AULAS? QUE ATIVIDADES DESENVOLVE?
PRIMEIRO ORGANIZO A PARTE TEÓRICA, OS SLIDES COM BASTANTE RECURSOS
VISUAIS, DEPOIS EXPLICO O CONTEÚDO E ATIVIDADES EM Libras, ALGUMAS
PROPOSTAS ESTÃO NAS APOSTILAS QUE EU ENTREGO PARA ELES, DEPOIS ELES
PRATICAM EM GRUPOS A PARTIR DE TEXTOS OU FIGURAS.
OS ALUNOS SE MOSTRAM PARTICIPATIVOS NAS SUAS AULAS?
DEPENDE, DE MANHÃ ELES PARTICIPAM MAIS PORQUE SÃO TURMAS MENORES,
MAIS OU MENOS 20 A 25 ALUNOS ENTÃO DÁ PRA PARTICIPAR MAIS, PERGUNTAM,
APRESENTAM EM GRUPO PARA A TURMA. JÁ A NOITE É MAIS DIFÍCIL, POIS AS
TURMAS SÃO MAIS NUMEROSAS, EM TORNO DE 40 A 43 ALUNOS E ALÉM DISSO OS
ALUNOS VÊM MAIS CANSADOS PARA AS AULAS TAMBÉM, ALGUNS SENTAM NO
FUNDO E NÃO CONSEGUEM VISUALIZAR OS SINAIS, CONVERSAM BASTANTE,
127
ASSIM FICA MAIS DIFÍCIL CONSEGUIR A ATENÇÃO DOS ALUNOS NO PERÍODO
NOTURNO. SÓ OS ALUNOS QUE SENTAM NA FRENTE PARTICIPAM MAIS PORQUE
AS TURMAS SÃO LOTADAS, O IDEAL SERIA DIVIDIR A TURMA EM DOIS GRUPOS,
MAS COMO NÃO É ASSIM, FICA DIFÍCIL.
COMO OCORRE SUA INTERAÇÃO COM OS ALUNOS?
EU USO MAIS A ORALIDADE PARA ME COMUNICAR. NO INICIO FALO MAIS COM
ELES. DEPOIS QUE ELES JÁ SABEM UM POUCO DE Libras APROVEITO PARA
UTILIZAR OS SINAIS QUE ELES JÁ CONHECEM COMO CUMPRIMENTAR, “OI, TUDO
BEM?” E ELES TENTAM ENTENDER, ENTÃO COMEÇO A INTRODUZIR MAIS A Libras
NO DIÁLOGO COM OS ALUNOS.
COMO SÃO FEITAS AS AVALIAÇÕES DA DISCIPLINA?
PRIMEIRO EU ENSINO O CONTEÚDO DA DISCIPLINA, A PRÁTICA, E OS TRABALHOS
ESCRITOS SÃO FEITOS EM GRUPO. AS VEZES PASSO ALGUM FILME E ENTREGO
TEXTOS PARA ELES FAZEREM ANÁLISE, ELES FAZEM APRESENTAÇÕES EM Libras
TANTO EM GRUPOS COMO INDIVIDUAIS. ANTES EU PASSO NOS GRUPOS E
ORIENTO OS ALUNOS PARA DEPOIS APRESENTAREM. TRABALHO COM FIGURAS DE
CONFIGURAÇÕES DE MÃOS PARA ELES USAREM A CRIATIVIDADE E FAZEREM
APRESENTAÇÕES.
A UNIVERSIDADE TE DÁ SUPORTE PARA O TRABALHO PEDAGÓGICO? QUAIS
SIM A UEL ESTÁ SEMPRE PREOCUPADA COM MEU TRABALHO, ME PERGUNTANDO
SE NECESSITO DE ALGUMA COISA PARA AS AULAS, MAS EU SINTO FALTE DE
INTÉRPRETES DURANTE AS AULAS PARA ATENDER AS DÚVIDAS DOS ALUNOS QUE
AS VEZES TEM RECEIO DE PERGUNTAR ALGUMA COISA. ENTÃO SINTO FALTA
DESSE PROFISSIONAL PARA QUE OS ALUNOS POSSAM SE ABRIR MAIS, FAZER
PREGUNTAS, DE MODO QUE HAJA UMA TROCA E UMA MAIOR INTERAÇÃO.
VOCÊ SENTE FALTA DE ALGUM APOIO? QUAIS?
NÃO. EU TENHO TODO O TIPO DE APOIO DIDÁTICO, RECURSOS DE MULTIMÍDIAS
COMO PROJETORES E LAPTOPS QUE AUXILIAM NAS AULAS E SÃO ÓTIMOS. SE NÃO
TIVESSE ESSES RECURSOS À DISPOSIÇÃO SERIA MUITO DIFÍCIL. MAS,
NORMALMENTE TENHO TUDO ISSO DISPONÍVEL PARA AS AULAS. BEM COMO
IMPRESSÕES DE MATERIAIS, XEROX, SEMPRE QUE DEIXO NA PASTA, SÃO
PROVIDENCIADAS AS CÓPIAS. A ÚNICA COISA QUE FALTA REALMENTE É O
INTÉRPRETE.
VOCÊ CONSIDERA A CARGA HORÁRIA
TRABALHAR OS CONTEÚDOS PREVISTOS?
DA DISCIPLINA SUFICIENTE PARA
BEM OS CONTEÚDOS QUE SELECIONEI PARA MINHAS AULAS CONSEGUI
TRABALHAR QUASE TODOS. SÓ FALTARAM ALGUMAS COISAS QUE ESTAVAM
PREVISTOS MAIS PARA O FINAL DO ANO, PORQUE OS ALUNOS ESTAVAM MUITO
OCUPADOS COM TCC, TEVE TAMBÉM OUTROS EVENTOS DA UNIVERSIDADE COMO
SEMANA PEDAGÓGICA ENTÃO ALGUNS ALUNOS ACABAVAM PERDENDO
CONTEÚDOS QUE DEPOIS TENTAVA REPASSAR RAPIDAMENTE PARA ELES, MAS
128
FALTOU BEM POUCO, UM OU OUTRO CONTEÚDO, MAS DE MODO GERAL CONSEGUI
SIM.
VOCÊ TRABALHA CONTEÚDOS REFERENTES AO PROCESSO EDUCACIONAL DE
ALUNOS SURDOS? SE SIM, COMO VOCÊ ABORDA ESSA QUESTÃO?
SIM, EU EXPLICO SOBRE MEU PRÓPRIO TRABALHO NO ILES, JÁ DISSE QUE SOU
PROFESSORA DE SURDOS, ELES ME PERGUNTAM COMO SÃO OS MÉTODOS DE
ENSINO E EU ESCLAREÇO, ELES QUEREM SABER SOBRE COMO É O ENSINO PARA
SURDOS. INCLUSIVE CONVIDO OS ALUNOS A VISITAREM A ESCOLA ONDE
TRABALHO, DIGO QUE ESTÁ ABERTA PARA ELES CONHECEREM E VEREM O
TRABALHO DE OUTROS PROFESSORES, POIS HÁ FORMAS DE ENSINO
DIVERSIFICADAS. TEM ESCOLAS INCLUSIVAS TAMBÉM COMO O COLÉGIO HUGO
SIMAS EM QUE HÁ ALUNOS SURDOS COM IMPLANTE COCLEAR, COM SURDEZ
MODERADA, QUE USAM AMPLIFICADORES SONOROS, SURDOS PROFUNDOS. OS
ALUNOS FICAM IMPRESSIONADOS COM ESSAS INFORMAÇÕES. MAS ELES
PRECISAM SABER QUE OS SURDOSNÃO SÃO TODOS IGUAIS.
OBRIGADA PELA ENTREVISTA
129
APÊNDICE D:
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os alunos participantes.
Titulo da pesquisa:
“Libras NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: Saberes necessários à Inclusão de
alunos surdos”
Prezados Alunos,
Gostaríamos
de
convidá-los
a
participar
da
pesquisa
“Libras
NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES: Saberes necessários à Inclusão de alunos
surdos”, realizada na “Universidade Estadual de Londrina”.
Os objetivos da pesquisa são:
 Analisar o processo de inclusão e implementação da disciplina de Língua
Brasileira de Sinais- Libras no curso de Pedagogia, conforme estabelecido no
Capítulo II do Decreto nº 5626/05, a partir da experiência de uma Instituição
de Ensino Superior de Londrina.
 “Traçar o perfil do profissional que ministra a disciplina de Libras;
 Analisar o conteúdo, metodologia e o processo de avaliação desenvolvido
durante a disciplina;
 Identificar quais os saberes trabalhados na disciplina;
 Identificar as concepções dos alunos em relação à surdez, à língua de sinais
e a inclusão de alunos surdos, após a concluírem a disciplina curricular”.
A sua participação é muito importante e ela se daria da seguinte forma:
Você responderia a um formulário composto por 15 questões relacionadas à
disciplina de Libras, as quais serão analisadas e relacionadas com o referencial
teórico da área.
Gostaríamos de esclarecer que sua participação é totalmente voluntária,
podendo você: recusar-se a participar, ou mesmo desistir a qualquer momento sem
que isto acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. Informamos ainda que as
informações serão utilizadas somente para os fins desta pesquisa e serão tratadas
com o mais absoluto sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a sua
identidade.
Os benefícios esperados são: contribuir com a melhor qualidade na formação
dos professores para atuarem em contextos educacionais inclusivos.
130
Informamos que o senhor não pagará nem será remunerado por sua
participação. Garantimos, no entanto, que todas as despesas decorrentes da
pesquisa serão ressarcidas, quando devidas e decorrentes especificamente de sua
participação na pesquisa.
Caso você tenha dúvidas ou necessite de maiores esclarecimentos pode nos
contactar (cel. 43-99513009; e-mail [email protected]; [email protected])
ou procurar o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da
Universidade Estadual de Londrina, na Avenida Robert Kock, nº 60, ou no telefone
3371 – 2490. Este termo deverá ser preenchido em duas vias de igual teor, sendo
uma delas, devidamente preenchida e assinada entregue a você.
Londrina, ___ de ________de 2011.
Josiane Junia Facundo de Almeida
RG:7.289.975-0__________________________
Eu,_____________________________________,tendo
sido
devidamente
esclarecido sobre os procedimentos da pesquisa, concordo em participar
voluntariamente da pesquisa descrita acima.
Assinatura (ou impressão dactiloscópica):____________________________
Data:___________________
131
APÊNDICE E:
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a docente da disciplina de
Libras
Titulo da pesquisa: “Libras NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: Saberes
necessários à Inclusão de alunos surdos”
Prezada Professora,
Gostaríamos de convidá-la a participar da pesquisa “Libras NA FORMAÇÃO
DE PROFESSORES: Saberes necessários à Inclusão de alunos surdos”, realizada
na “Universidade Estadual de Londrina”.
Os objetivos da pesquisa são:
 Analisar o processo de inclusão e implementação da disciplina de Língua
Brasileira de Sinais- Libras no curso de Pedagogia, conforme estabelecido no
Capítulo II do Decreto nº 5626/05, a partir da experiência de uma Instituição
de Ensino Superior de Londrina.
 “Traçar o perfil do profissional que ministra a disciplina de Libras;
 Analisar o conteúdo, metodologia e o processo de avaliação desenvolvido
durante a disciplina;
 Identificar quais os saberes trabalhados na disciplina;
 Identificar as concepções dos alunos em relação à surdez, à língua de sinais
e a inclusão de alunos surdos, após a concluírem a disciplina curricular”.
A sua participação é muito importante e ela se daria da seguinte forma:
Você participaria de uma entrevista semi-estruturada composta por 19
questões referentes à disciplina de Libras, as quais serão, filmadas, transcritas para
a língua portuguesa, analisadas e relacionadas com o referencial teórico da área. A
transcrição para a Libras e a tradução para a Língua Portuguesa serão conferidas
por você e por mais um profissional intérprete de Libras para garantir a fidedignidade
da tradução e veracidade dos dados. O vídeo das filmagens será devidamente
destruído após a análise.
Gostaríamos de esclarecer que sua participação é totalmente voluntária,
podendo você: recusar-se a participar, ou mesmo desistir a qualquer momento sem
que isto acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. Informamos ainda que as
informações serão utilizadas somente para os fins desta pesquisa e serão tratadas
132
com o mais absoluto sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a sua
identidade.
Os benefícios esperados são: contribuir com a melhor qualidade na formação
dos professores para atuarem em relação à Libras.
Informamos que você não pagará nem será remunerado por sua participação.
Garantimos, no entanto, que todas as despesas decorrentes da pesquisa
serão ressarcidas, quando devidas e decorrentes especificamente de sua
participação na pesquisa.
Caso você tenha dúvidas ou necessite de maiores esclarecimentos pode nos
contactar (cel. 43-99513009; e-mail [email protected]; [email protected])
ou procurar o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da
Universidade Estadual de Londrina, na Avenida Robert Kock, nº 60, ou no telefone
3371 – 2490. Este termo deverá ser preenchido em duas vias de igual teor, sendo
uma delas, devidamente preenchida e assinada entregue a você.
Londrina, ___ de ________de 2011.
Josiane Junia Facundo de Almeida
RG:7.289.975-0__________________________
Eu,_____________________________________,tendo
sido
devidamente
esclarecido sobre os procedimentos da pesquisa, concordo em participar
voluntariamente da pesquisa descrita acima.
Assinatura (ou impressão dactiloscópica):____________________________
Data:____________________
133
APÊNDICE F:
Sistema de Transcrição para a Libras
1. Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificação, serão representados por itens
lexicais da Língua Portuguesa (LP) em letras maiúsculas. Exemplos:CASA,
ESTUDAR, CRIANÇA, etc;
2. um sinal, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua portuguesa, será
representado pelas palavras correspondentes separadas por hífen. Exemplos:
CORTAR-COM-FACA, QUERER-NÃO "não querer", MEIO-DIA, AINDA-NÃO,
etc;
3. um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será representado por duas
ou mais palavras, mas com a idéia de uma única coisa,serão separados pelo símbolo ^ .
Exemplos: CAVALO^LISTRA “zebra”;
4. A datilologia ( alfabeto manual), que é usada para expressar nome de pessoas, de
localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está representada pela palavra
separada, letra por letra por hífen. Exemplos:
J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A;
5. O sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por empréstimo,
passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto manual com uma
incorporação de movimento próprio desta língua, está sendo representado pela
datilologia do sinal em itálico. Exemplos:
R-S “reais”, A-C-H-O, QUM “quem”, N-U-N-C-A, etc;
6. Na LIBRAS não há desinências para gêneros (masculino e feminino) e número
(plural), o sinal, representado por palavra da língua portuguesa que possui estas
marcas, está terminado com o símbolo @ para reforçar a idéia de ausência e não haver
confusão. Exemplos: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)” ,FRI@ “fria(s) e frio(s)”,
MUIT@ “muita(s) e muito(s)”, TOD@, “toda(s) e todo(s)”, EL@ “ela(s), ele(s)”,
ME@ “minha(s) e meu(s)” etc;
7. Os traços não-manuais: expressões facial e corporal, que são feitos simultaneamente
com um sinal, estão representados acima do sinal ao qual está acrescentando alguma
idéia, que pode ser em relação ao:
a) tipo de frase ou advérbio de modo: interrogativa ou... i ..., negativa ou ...neg...,etc.
Para simplificação, serão utilizados, para a representação de frases nas formas
exclamativas e interrogativas, os sinais de pontuação utilizados na escrita das línguas
orais-auditivas, ou seja: !, ? e ?!
b) advérbio de modo ou um intensificador: muito rapidamente exp.f "espantado"etc;
interrogativa
Exemplos:
NOME
exclamativo
ADMIRAR
muito
LONGE
8. Os verbos que possuem concordância de gênero (pessoa, coisa, animal),através de
134
classificadores, estão representados tipo de classificador em subscrito. Exemplos: pessoa
ANDAR, veículo ANDAR, coisa-arredondada COLOCAR, etc;
9. Os verbos que possuem concordância de lugar ou número-pessoal, através do
movimento direcionado, estão representados pela palavra correspondente com uma
letra em subscrito que indicará:
a) a variável para o lugar: i = ponto próximo à 1a pessoa,
j = ponto próximo à 2a pessoa,
k = pontos próximos à 3a pessoas,
e = esquerda,
d = direita;
b) as pessoas gramaticais: 1s, 2s, 3s = 1a, 2ª e 3ª pessoas do singular;
1d, 2d, 3d = 1ª, 2ª e 3ª pessoas do dual;
1p, 2p, 3p = 1ª, 2ª e 3ª pessoas do plural;
Exemplos: 1s DAR 2s "eu dou para "você",
2s PERGUNTAR 3p "você pergunta para eles/elas",
k d ANDAR k,e "andar da direita (d) para à esquerda (e).
10. Às vezes há uma marca de plural pela repetição do sinal. Esta marca será
representada por uma cruz no lado direto acima do sinal que está sendo repetido:
Exemplo: GAROTA +
11. Quando um sinal, que geralmente é feito somente com uma das mãos,ou dois sinais
estão sendo feitos pelas duas mãos simultaneamente, serãorepresentados um abaixo do
outro com indicação das mãos: direita (md) e esquerda (me).
Exemplos: IGUAL (md)
IGUAL (me)
PESSO@-MUIT@ ANDAR
(me)
PESSOA EM-PÉ (md)
(FONTE: http://pt.scribd.com/doc/22653284/A-Gramatica-de-Libras-LUCINDAFERREIRA-BRITO) p.6-8
135
APÊNDICE G:
Organização dos dados do questionário aplicado aos alunos participantes em temas,
categorias e subcategorias.
TEMA 1: Concepções dos alunos participantes sobre a Surdez e a Língua Brasileira
de Sinais.
1.1 CATEGORIA 1: Caracterização da surdez pelos alunos participantes.
1.1.1 Perspectiva clínica.
1.1.2 Perspectiva cultural.
1.1.3 Outras.
1.2 CATEGORIA 2: Compreensão sobre a Língua Brasileira de Sinais pelos alunos
participantes.
1.2.1 Libras como meio de comunicação
1.2.2Libras como língua materna e cultura surda
1.2.3Libras e Ensino
CATEGORIA 3: Conhecimento prévio dos participantes sobre Libras
1.3.1 Contato com pessoas surdas, livros e realização de cursos.
1.3.2 Conhecimentos adquiridos.
TEMA 2: Avaliação dos Alunos acerca da Disciplina de Libras
2.1 CATEGORIA 1: Obrigatoriedade da Disciplina Libras
2.2 CATEGORIA 2: Professor que deve ministrar a disciplina.
2.2.1 Preferência por surdos.
2.2.2 Preferência por ouvintes.
2.2.3 Tanto surdos como ouvintes.
2.3 CATEGORIA 3: Dificuldades para aprender os conteúdos.
2.3.1 Dificuldades relacionadas à coordenação motora e memorização.
2.3.2 Dificuldades relacionadas ao tempo da disciplina.
2.3.3 Dificuldades relacionadas à complexidade dos conteúdos (da língua).
136
2.3.4 Dificuldades relacionadas à comunicação.
2.4 CATEGORIA 4: Conteúdos considerados mais relevantes na disciplina.
2.4.1 Conteúdos práticos.
2.4.2 Conteúdos teóricos.
2.4.3 Conteúdos práticos e teóricos.
2.5 CATEGORIA 5: Atendimento das expectativas dos alunos em relação à disciplina
Libras.
2.5.1 Os conteúdos contemplaram as expectativas iniciais.
2.5.2 Os conteúdos não contemplaram às expectativas iniciais.
TEMA 3: Percepções dos alunos acerca da Educação/Inclusão de alunos Surdos.
3.1 CATEGORIA 1: Discussão em relação à inclusão dos alunos surdos nas classes
comuns.
3.1.1 Discussões acerca da realidade escolar nas classes comuns.
3.1.2 Discussões acerca da necessidade da Libras no ambiente escolar.
3.1.3 Discussões acerca dos recursos e estratégias para promover a inclusão.
3.1.4 Discussões acerca da legislação.
3.2 CATEGORIA 2: Saberes necessários para o professor atuar na inclusão de
alunos surdos no ensino regular.
3.2.1 Saberes relacionados à Língua de Sinais.
3.2.2 Saberes relacionados à Língua de Sinais e à educação/ inclusão escolar de
surdos.
3.2.3 Saberes relacionados às condições pedagógicas para a inclusão de alunos
surdos.
3.2.4 Saberes relacionados à Língua de Sinais e à Cultura do Surdo.
3.2.5 Outras considerações.
3.3 CATEGORIA 3: Percepções dos alunos acerca do papel do intérprete na classe
comum.
137
3.3.1 Intérprete como mediador da comunicação/interação entre surdos e ouvintes.
3.3.2 intérprete como mediador do processo de inclusão.
3.4 CATEGORIA 4: Avaliação dos participantes acerca de sua preparação para atuar
em salas de aulas inclusivas com alunos surdos.
3.5 CATEGORIA 5: Opinião dos alunos acerca da inclusão de alunos surdos no
ensino regular.
3.5.1 Concordam com a inclusão, com restrições.
3.5.2 Concordam com a inclusão, sem restrições.
3.5.3 Não concordam com a inclusão.
3.6 CATEGORIA 6: Considerações dos graduandos sobre receber alunos surdos em
sua sala de aula
3.6.1 Gostaria de receber.
3.6.2 Gostaria de receber, mas com algumas condições.
3.6.3 não gostaria de receber alunos surdos.
3.7 CATEGORIA 7: Conhecimento de estratégias que favorecem a inclusão do aluno
surdo.
138
ANEXOS
139
ANEXO A:
Programa da Disciplina de Libras
CAMPUS UNIVERSITÁRIO
FONE: (043)371-4000 PABX
FAX: (043)371-4639
CEP 86055-900
LONDRINA - PARANÁ
(Reconhecida pelo Decreto Federal nº 69.324 de 07/10/71)
PROGRAMA DE DISCIPLINA
ANO
Centro: CECA
LETIVO
2010
Departamento: EDUCAÇÃO
CÓDIGO
6EDU119
PLANO DE CURSO
NOME
LIBRAS
CURSO
Pedagogia
CARGA HORÁRIA
T
P
TOTAL
68
SÉRIE
a
4.
SEM. DE OFERTA
TURMA
1000 2000 3000 4000
HABILITAÇÃO(ÕES)
ANUAL
1º ( )
2º (X)
68
X SEMESTRAL
1 – EMENTA:
Aspectos clínicos e educacionais da surdez. A cultura das pessoas surdas. Análise das
tendências educacionais: segregação e inclusão de alunos surdos. Caracterização e
desenvolvimento da Língua Brasileira de Sinais – (LIBRAS): aspectos lógicos, morfológicos e
gramaticais (sintaxe). Experimentação da utilização da Libras: desenvolvendo a expressão
gestual-visual-especial. Análise do processo de tradução e interpretação: Libras/Português –
Português/Libras.
2 – OBJETIVO(S)
- Analisar e comparar as culturas (ouvinte/ surda);
- Compreender o momento histórico que os indivíduos surdos passaram e suas implicações no
presente;
- Conhecer as diferenças entre a LIBRAS e a Língua Portuguesa;
- Adquirir noção básica da LIBRAS, apropriando-se de conceitos específicos relacionados à estrutura
gramatical da LIBRAS;
- Analisar as dificuldades de leitura e escrita que os surdos possuem;
- Desmitificar concepções inadequadas em relação às línguas de Sinais;
- Compreender como o processo de tradução e interpretação em línguas de sinais ocorre;
- Analisar textos produzidos por surdos e critérios de avaliação da LP como segunda língua.
3 – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1- O sujeito surdo. Cultura surda.
2- Problematizando a normalidade.
140
3456-
Linguística e gramática de Libras.
Língua de sinais básica.
O surdo e sua relação com a língua Portuguesa como segunda língua.
Como avaliar as produções escritas pelos surdos.
4 - PROCEDIMENTOS DE ENSINO
Leitura e análise das temáticas abordadas nos textos; uso de recursos audiovisuais e tecnológicos
para apresentações que contribuam para a melhor compreensão do tema em questão; uso da
LIBRAS em atividades para aquisição de noções básicas da língua; Contatos com os surdos usuários
da LIBRAS para reconhecer as reais necessidades discutidas em aula.
5 – CRONOGRAMA
Terceiro Bimestre: itens 3.1, 3.2, e 3.3
Quarto Bimestre: itens 3.4, 3.5, e 3.6.
6 - FORMAS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
- Avaliação contínua, processual, por meio de provas com e/ou sem consulta e seminário, que levará
em conta, aprofundamento teórico, leitura e discussão dos textos.
- Produção escrita de trabalhos individuais e/ou em grupos
7 - BIBLIOGRAFIA BÁSICA
8 - BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
Professora responsável pelo programa:
Profa. Cleusa Camargo de Oliveira Souza
Aprovado pelo Depto. em ___/___/___ Aprovado pelo Colegiado em ___/___/___
______________________________
Assinatura do Chefe do Departamento
______________________________
Assinatura do Coord. do Colegiado
141
ANEXO B:
Parecer do Comitê de Ética
142
ANEXO C:
Matriz Curricular do Curso de Licenciatura em Letras-Libras da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC)
143
144
145
146
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libras na formação de professores