XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
DIETA NATURAL DE Geophagus proximus CASTELNAU, 1855
(PERCIFORMES: CICHLIDAE) DO RIO ARAGUARI,
FERREIRA GOMES, ESTADO DO AMAPÁ, BRASIL
Jackson Marinho Ferreira - Universidade Federal do Amapá. Laboratório de Ictiologia e Limnologia. E-mail:
[email protected]
Huann Carllo Gentil Vasconcelos - Universidade Federal do Amapá, Laboratório de Ictiologia e Limnologia.
Núcleo de Estudos em Pesca e Aquicultura.
Júlio César Sá de Oliveira - Universidade Federal do Amapá, Laboratório de Ictiologia e Limnologia. Núcleo de
Estudos em Pesca e Aquicultura.
Débora da Conceição Oliveira Salomão - Universidade Federal do Amapá. Estagiária, Laboratório de Ictiologia e
Limnologia.
INTRODUÇÃO
A compreensão das relações entre os mais variados componentes da rede alimentar fornece subsídios para
investigações mais aprofundadas sobre o fluxo de energia nos ecossistemas aquáticos, os quais ainda são
insipientes, uma vez que pouco se conhece sobre a biologia de grande parte da ictiofauna (Drenner et al. 1978).
Estudar a dieta natural de peixes é uma importante ferramenta para o entendimento da organização trófica de um
determinado ambiente. Esses estudos têm evidenciado uma importante versatilidade alimentar para a maioria dos
peixes teleósteos (Abelha et al. 2001).
A família Cichlidae é um importante grupo de vertebrados, com aproximadamente 1900 espécies descritas. A
espécie Geophagus proximus, conhecida popularmente por cará ou acaratinga, encontra-se distribuída em rios da
bacia do Amazonas (Reis et al. 2003). Esse ciclídeo é onívoro, alimentando-se principalmente de material vegetal,
moluscos, insetos e outros invertebrados aquáticos (Santos et al., 2004).
A bacia do rio Araguari tem grande relevância para o Amapá, pois abrange praticamente um terço da área do
Estado e abriga importantes empreendimentos hidrelétricos (Bárbara et al. 2010). Por outro lado, a biodiversidade
dessa região ainda é pouco conhecida, principalmente de ambientes aquáticos, bem como suas interações e
dinâmicas ecológicas.
OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo caracterizar o hábito alimentar de Geophagus proximus do rio Araguari,
Ferreira Gomes, Estado do Amapá, Brasil.
METODOLOGIA
Foram amostrados bimestralmente, entre os meses de maio de 2009 e março de 2010, seis pontos (p1:
0°56'39.02"N/51°14'55.42"O; p2: 0°56'23.04"N/51°15'10.71"O; p3: 0°56'10.49"N/51°15'42.72"O; p4:
0°55'10.55"N/51°16'24.87"O; p5: 0°55'6.92"N/51°16'3.72"O; p6: 0°54'48.50"N/51°16'21.41"O) de um trecho do
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rio Araguari, município de Ferreira Gomes, Amapá. Foram utilizadas em cada ponto redes de espera simples
(malhas 20, 30, 40, 50 e 60 mm entre nós opostos), permanecendo 24h na água e vistoriadas a cada 2h. De cada
exemplar foi tomado o comprimento total (cm). Os tratos digestórios foram fixados (formalina a 4%). Antes da
análise do conteúdo estomacal, foi observado o grau de repleção dos estômagos: vazio (sem nenhum item),
parcialmente cheio (25% a 75%) e cheio (>75%).
Para caracterizar o hábito alimentar, os conteúdos dos estômagos cheios e parcialmente cheios foram examinados
em estereomicroscópio e microscópio de luz, identificados até o nível taxonômico mais baixo possível. Foi
empregado o método volumétrico (Vi) (Hynes 1950) e de frequência de ocorrência (Fi) (Hyslop 1980), para
obtenção do índice alimentar (IAi) (Kawakami e Vazzoler 1980).
RESULTADOS
Durante o período de estudo, foram analisados 175 exemplares de G. proximus com comprimento total variando
entre 8,4 e 25,1 cm (15,8 ± 3,7 cm). O grau de repleção indicou predominância de indivíduos com estômago vazio
(56,6%), seguidos por indivíduos com estômago cheio (28%) e parcialmente cheios (15,4%). O item alimentar de
maior importância para G. proximus foi Hemiptera (IAi=0,2341), seguido de Sedimentos (IAi=0,1022) e Odonata
(IAi=0,0994). O item alimentar Hemiptera também apresentou maior volume (17,1%), seguido, porém, do item
Macrobrachium sp. (10,6%) e Ephemeroptera (9,1%).
DISCUSSÃO
Peixes onívoros são aqueles que se alimentam em mais de um nível trófico (Vadas-Júnior 1990). Neste estudo, G.
proximus apresentou característica alimentar onívora-insetívora, com espectro alimentar diversificado, consumindo
principalmente insetos, sedimentos, crustáceos, microcrustáceos, restos vegetais, algas e restos de peixe. Estudos da
dieta natural de peixes pertencentes ao gênero Geophagus mostram que insetos aquáticos e sedimentos são
componentes importantes dessa dieta (Velludo 2007; Magnoni e Carvalho 2009), o que foi constatado para G.
proximus do rio Araguari.
Organismos com estrutura corporal mole são digeridos mais facilmente do que organismos com estruturas
resistentes, assim sua importância pode ser subestimada (Vörös et al. 1997). Este fato pode ter favorecido a maior
abundância e importância de insetos, pois são mais quitinizados.
CONCLUSÃO
Neste estudo, a espécie Geophagus proximus apresentou importante plasticidade alimentar e o caráter oportunista,
apresentando dieta onívora-insetívora.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Hyslop, E.J. Stomach content analysis – a review of methods and their application. Journal of Fish Biology, 17:
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Volos, L.; Oidal, I.; Présing, M.; Balogh, K.V. Size-selective filtration and taxon-specific digestion of plankton
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