PROJETO “ALBUM CHOROGRAPHICO MUNICIPAL DO ESTADO
DE MINAS GERAES (1927): ESTUDOS CRÍTICOS”
Project “Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Geraes (1927):
Critical Studies”
Maria Lúcia Prado Costa ¹
Maria de Lujan Seabra de Carvalho Costa²
Maria Aparecida Carvalho Cambraia³
¹ FUNDAMAR – Fundação 18 de Março.
[email protected]
² Bios Consultoria
[email protected]
³ Linha Projetos LTDA
[email protected]
RESUMO
Este texto apresenta o projeto lançado na web em 2012 da reedição de uma obra rara da cartografia de
Minas Gerais, Brasil, no início do século XX: o Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Geraes,
editado em 1927, pelo Serviço de Estatística da Secretaria de Agricultura do Estado. À reedição digital de
todo o Album, foram acrescidos estudos críticos de especialistas em História, Cartografia Histórica,
Planejamento Urbano e Toponímia – análises estas que ampliam as possibilidades de interpretação da
obra. O site traz ainda um texto onde é apresentado o contexto histórico de produção do Album, inserido em
um amplo e ambicioso projeto estatístico e cartográfico, organizado pelo governo de Minas Gerais em
comemoração ao primeiro centenário de independência do Brasil. No site, índices de acesso aos municípios
na configuração de 1911 (178 municípios) e no tempo presente (853 municípios), associados aos recursos
de ampliação e impressão das imagens, permitem ao internauta ampliar seu conhecimento sobre a história
dos municípios mineiros e, por conseguinte, sobre a história de Minas Gerais, nos primeiros anos da
República. Além da produção do site, o projeto realizou significativo trabalho de divulgação junto aos
municípios mineiros visando aproximar os gestores municipais e o cidadão comum deste bem de notável
valor patrimonial e científico. O projeto é uma iniciativa da Fundamar – Fundação 18 de Março e teve a
chancela do Centro de Referência em Cartografia Histórica da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG); do Instituto Histórico Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) e da empresa de serviços ambientais
Bios Consultoria.
Palavras chaves: Cartografia histórica, Patrimônio, Minas Gerais.
ABSTRACT
This text presents the project launched on the web in 2012 of the reissue of a rare work of cartography in
Minas Gerais, Brazil, in the early 20th century: Projeto: “Album Chorographico Municipal do Estado de Minas
Geraes”, published in 1927, by the Statistical Office of the Secretary of agriculture in the State. To republish
the entire digital Album, plus critical studies of specialists in history, Historical Cartography, urban planning
and street names-these analyses extend the possibilities of interpretation of the work. The site features a
text where the historical context of the production of the Album, inserted into a broad and ambitious
cartographic and statistical project, organized by the Government of Minas Gerais in commemoration of the
first Centenary of independence of Brazil. On the site, access to the municipalities in 1911 (178
municipalities) and in the present tense (853 municipalities), associated to the expansion and printing the
images allow the Internet enlarge your knowledge about the history of mining municipalities and, therefore,
about the history of Minas Gerais, in the early years of the Republic. Besides the production of the site, the
project has conducted significant outreach work
managers and ordinary people of this remarkable
Fundação 18 de Março and had the seal of the
Histórico e Geográfico de Minas Gerais
www.albumchorographico1927.com.br.
with Minas Gerais’s municipalities to bring municipal
book value and good. The project is an initiative of the
Centro de Referência Cartográfica da UFMG; Instituto
(IHGMG) and Bios Consultoria. The site is:
Keywords: Cartography, Historical Heritage, Minas Gerais
DESENVOLVIMENTO DO TEMA
O estudo sobre o Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Gerais (1927) evidenciou
que a obra contém várias temporalidades: a divisão político-administrativa é de 1911; os números
demográficos são do censo de 1920 e os dados sobre a rede de comunicação (estradas de rodagem,
estradas de ferro, hidrovias, linhas de telégrafo, telefone e correio) são de 1923, como esclareceu o prefácio
original de Teixeira de Freitas (1890-1956), responsável por todo o projeto estatístico-cartográfico de
comemoração do Centenário da Independência, em Minas Gerais.
O Album traz para cada município, além do mapa, tabelas com dados sobre a população e a área
dos distritos, incluindo a densidade demográfica; a composição político-administrativa e as coordenadas
geográficas de cada distrito. E ainda o mapa com a localização geográfica do município no estado.
O que o torna obra de singular beleza estética são o colorido dos mapas ricamente emoldurados e
os primorosos desenhos a bico de pena dos bens culturais e ambientais dos municípios ali representados. A
tentativa de sistematização dos desenhos apresentados nas pranchas dos 158 municípios (20 deles não
trazem desenho algum) indicou a hegemonia das cenas urbanas sobre as rurais, com destaque para o
patrimônio edificado. Entre os bens ambientais, se destacaram as cachoeiras e rios, e em especial o
potencial hidráulico da “ulha branca”. O ensaio crítico traz uma breve apreciação sobre o contexto histórico
referente aos bens ambientais e culturais de maior incidência de ilustrações. E traça um paralelo entre tais
bens e aqueles que vieram a ser objeto da política pública do patrimônio histórico federal e estadual
posteriormente.
Este estudo traz ainda uma análise sobre os núcleos coloniais identificados nos mapas municipais –
tema que ganha forma e localização cartográfica precisa a partir do Album.
O estudo das representações a que o Album se propunha, tanto nos mapas quanto nas ilustrações
das pranchas, é objeto do ensaio da historiadora Maria do Carmo Andrade Gomes, autora de tese de
doutorado sobre as políticas cartográficas do período. O estudo das propriedades cartográficas do Album,
das questões referentes à divisão administrativa e aos litígios por limites entre Minas Gerais e estados
vizinhos é objeto do estudo da geógrafa Márcia Maria Duarte Santos, do Centro de Referência em
Cartografia Histórica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em cartografia histórica
luso-brasileira e em toponímia histórica mineira. Reflexão sobre a importância do Album como instrumento
de planejamento urbano para Minas Gerais é tema do estudo crítico da arquiteta-urbanista Maria Aparecida
Seabra de Carvalho Cambraia. Estudo intitulado “Toponímia ou estudo dos nomes dos lugares” é assinado
por Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, do Centro de Estudos do Léxico da Faculdade de Letras da
UFMG. No link intitulado “Realizadores do Album” o site apresenta breve biografia dos políticos,
autoridades, cartógrafos, topógrafos, desenhistas e da editora, envolvidos na produção do Album.
Na análise da historiadora Maria do Carmo Andrade Gomes, a subordinação do mapeamento ao
plano mais amplo de construção de imagens que apelassem ao patriotismo e ao orgulho de ser mineiro e
brasileiro imprimiu ao Album, na forma como terminou por ser publicado, seu caráter marcadamente
monumental, concebido para revelar e perpetuar aquela determinada imagem do quadro territorial. Em
detrimento do caráter mais funcional com que fora concebido no programa original da Comissão Mineira do
Centenário, no Album Chorographico prevaleceram as funções retóricas de maravilhamento, convencimento
e sedução, conduzindo à contemplação e imediata identificação do observador com o território cartografado.
Ao provocar, no olhar e no sentimento do observador, confusão entre a beleza da carta e da paisagem
cartografada, o Album disseminava e perpetuava as ideias veiculadas por todo o programa oficial das
Comemorações do Centenário da Independência: as ideias de um país rico e unido, de um território coeso,
de uma sociedade no rumo do progresso e da civilização.
Sobre as propriedades científicas da cartografia apresentada no Album, a geógrafa Márcia Maria
Duarte dos Santos esclarece que análise realizada por ela permitiu apenas afirmar, sobre a questão da sua
fidedignidade, que a informação representada no Album deve ter sido ter sido levantada e tratada com o
rigor possível. Essa afirmação leva em conta tanto a época, como as condições que podem ser associadas
às operações apontadas anteriormente, bem como, e, principalmente, os organizadores dos projetos que
resultaram na elaboração, tanto do primeiro anuário estatístico de Minas Gerais, quanto da sua descrição
corográfica. O Album foi concebido para propiciar fundamentalmente a análise geográfica de município por
município, eventualmente ampliada, considerando suas divisas e a extensão da representação de
elementos dos componentes da informação que caracterizam os territórios do entorno.
Os sentidos do uso dos mapas do Album para o planejamento urbano são destacados pela
urbanista Maria Aparecida Seabra Cambraia quando afirma que o aspecto mais significativo dos mapas
analisados é que apresentam o território municipal em sua integralidade e permitem interpretar as
mudanças das linhas de força ocorridas na divisão político-administrativa e nas condições de uso e
ocupação do solo. Até mesmo o traçado de vias da sede, que alguns mapas apresentam, pode ser útil para
utilização em estudos de morfologia urbana, como indicadores da feição apresentada na época. Tendo
estes fatos em mente é possível, com um olhar crítico e atento, compreender o objetivo dos mapas
históricos para o planejamento territorial em geral e a importância deste Album Chorographico Municipal do
Estado de Minas Geraes – 1927, em particular.
O internauta ao passar o mouse sobre o nome de cada município pode vir a conhecer a toponímia
da localidade pesquisada. Os verbetes, assinados pela linguista Maria Cândida Trindade Costa de Seabra,
desvelam o potencial da toponímia para conhecimento da história do lugar. Ao desenvolver esta pesquisa
sobre a Toponímia dos municípios mineiros criados nos séculos XVIII, XIX e nas duas primeiras décadas do
século XX, a linguista considerou importante observar a cultura, a história e fatos que motivaram a variação
e a mudança dos nomes, já que a toponímia, conjugada com a história, indica ou precisa os movimentos
antigos dos povos, as migrações, as áreas de colonização, as regiões onde tal ou tal grupo linguístico
deixou seus traços.
Além do valor da reprodução digital de uma obra rara da cartografia de Minas Gerais, o projeto traz
contribuições valiosas desses especialistas que orientam o olhar do internauta sobre a primeira
representação cartográfica dos municípios mineiros no período republicano.
Este projeto não se esgota em sim mesmo, já que apresenta uma vasta gama de temas para
pesquisas futuras. Entre elas, destaca-se a possibilidade da recuperação cartográfica dos territórios
inundados pelas hidrelétricas instaladas posteriormente no território mineiro; o estudo do desenho dos
limites territoriais de Minas à época face aos litígios com os estados vizinhos; e a revisão da historiografia
sobre as colônias agrícolas; entre outros temas a serem indicados pelos internautas.
Para divulgação do site foram distribuídos 4.000 convites impressos para todas as 853 prefeituras;
respectivas secretarias de educação e bibliotecas públicas dos municípios mineiros; faculdades de história e
geografia públicas e privadas de Minas Gerais; principais casas de cultura e bibliotecas do país.
A divulgação junto à mídia já compreendeu notícia no Boletim Eletrônico da UFMG em 28 de maio
de 2012; reportagem na Rádio FM UFMG Educativa, em 30 de maio de 2012; notícia no jornal Estado de
Minas, de 06 de junho de 2012; gravação de reportagem no Programa “Terra de Minas” da Rede Globo, do
dia 23 de junho de 2012. Na edição de julho de 2012 da Revista de História da Biblioteca Nacional saiu
matéria sobre mapas antigos com referência ao projeto do Album Chorographico.
Para divulgação do projeto, a Fundação 18 de Março participou do 3º Encontro do Caminho Real,
em Conselheiro Lafaiete/MG (29/06/12); e do IV Simpósio Ibero-Americano de História da Cartografia
(4SIAHC), em Lisboa, Portugal entre 11 e 14 de setembro de 2012. As organizadoras do projeto receberam
moção de congratulação n. 1.200/12 da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
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GE&SECT2=THESOFF&SECT3=PLUROFF&SECT6=HITIMG&SECT7=LINKON&SECT8=DIRINJMG&SEC
T9=TODODOC&co1=E&co2=E&co3=E&co4=E&s1=&s2=&s3=1911&s4=divis%E3o+administrativa&s5=>
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